Romantismo

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Características – Afrânio Coutinho

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Características – Afrânio Coutinho

A atitude romântica é pessoal e íntima. É o mundo visto

através da personalidade do artista. O que revela é atitude

pessoal, o mundo interior, o estado de alma provocado

pela realidade exterior. Romantismo é subjetivismo, é a

libertação do mundo interior, do inconsciente; é o

primado exuberante da emoção, imaginação, paixão,

intuição, liberdade pessoal interior. Romantismo é

liberdade do indivíduo.

Não lógica na atitude romântica, e a regra é a

oscilação entre pólos opostos de alegria e

melancolia, entusiasmo e tristeza.

O espírito romântico é atraído pelo mistério da

existência, que lhe aparece envolvida de sobrenatural e

terror. Individualista e pessoal, o romântico encara o

mundo com espanto permanente, pois tudo – a beleza, a

melancolia, a própria vida – lhe parece sempre novo, e

sempre despertando reações originais em cada qual,

independente de convenções e tradições.

É o desejo romântico de fugir da realidade para um mundo

idealizado, criado, de novo, à sua imagem, à imagem de

suas emoções e desejos,e mediante a imaginação. Nem

fatos nem tradições despertam o respeito do romântico,

como acontece com a realista ou o classicista. Pela

liberdade, revolta, fé e natureza, em comunhão com o

passado ou aspiração pelo futuro, esse escapismo

romântico constrói o mundo novo à base do sonho.

Essa busca de um mundo novo é responsável pelo

sentimento revolucionário, ligado aos

movimentos democráticos e libertários que

encheram a época, e à devoção a grandes

personalidades militares e políticas.

Também é responsável o desejo de um

mundo novo pelo aspecto sonhador do

temperamento romântico. Em lugar do

mundo conhecido, a terra incógnita do

sonho, muitas vezes representada em

símbolos e mitos.

Em vez de razão, é a fé que comanda o espírito

romântico. Não é o pão somente que satisfaz o

romântico; idealista, aspirando a outro mundo,

acredita no espírito e na sua capacidade de

reformar o mundo. Valoriza a faculdade mística

e a intuição.

Supervalorizada pelo Romantismo, a Natureza era lugar de

refúgio, puro, não contaminado pela sociedade, lugar de cura

física e espiritual. A natureza era fonte era fonte de

inspiração, guia, proteção amiga. Relacionada com esse culto,

que teve tão avassalador domínio em todo o Romantismo, foi

a idéia do “bom selvagem”, do homem simples e bom em

estado de natureza, que Rousseau exprimiu; foi também a

voga da ilha deserta, e da “paisagem” na pintura e na

literatura, paisagens exóticas e incomuns (exotismo).

O escapismo romântico traduziu-se em fuga para a

natureza e em volta ao passado, idealizando uma

civilização diferente da presente. Épocas antigas,

envoltas em mistério, a Idade Média, o passado

nacional, forneciam o ambiente, os tipos e

argumentos para a literatura romântica. A história

era valorizada e estudada (historicismo).

Não somente a remotidão no tempo, mas também no espaço

atraía o romântico. É o gosto das florestas, das longes terras,

selvagens, orientais, ricas de pitoresco, ou simplesmente de

diferentes fisionomias e costumes. É a melancolia comunicada

pelos lugares estranhos, geradora da saudade e da dor de

ausência, tão características do Romantismo. O pitoresco e a

cor local tornaram-se um meio de expressão lírica e

sentimental, e, por fim, de excitação de sensações. É o

caminho para o realismo.

Na sua busca de perfeição o romântico foge

para um mundo em que coloca tudo o que

imagina de bom, bravo, amoroso, puro,

situado no passado, no futuro, ou em lugar

distante, um mundo de perfeição e sonho.

Coutinho, Afrânio. A Literatura no Brasil. Era Romântica. J.O. R.J. 1986, pp 9 -10.