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    INTRODUO GERAL

    A Sagrada Escritura o conjunto dos livros escritos por inspirao divina, nos quais Deus se revela a si mesmo enos d a conhecer o mistrio da sua vontade. Divide-se em duas grandes seces: ANTIGO TESTAMENTO, quecontm a revelao feita por Deus antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo; NOVO TESTAMENTO,que contm a revelao feita directamente por Jesus Cristo e transmitida pelos Apstolos e outros autoressagrados.

    A SAGRADA ESCRITURA, PALAVRA DE DEUS AOS HOMENSDeus falou aos homens atravs de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas sobretudo por meio de

    seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2). Desse modo, a Palavra de Deus tornou-se linguagem humana sem deixar deser Palavra de Deus, assim como o Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se, tal comoEle, s limitaes e condicionamentos da palavra humana, excepto no erro formal. Tais condicionamentos so:

    Condicionamentos de tempo Os livros da Bblia so fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos entender amensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstncias histricas em que foi escrito cada um deles.Condicionamentos de espao Os livros da Bblia nasceram em vrios lugares geogrficos, cada qual com o seuambiente prprio: uns na Palestina, outros no mundo helnico e outros no Imprio Romano. E um livro tambm filho do meio em que nasceu.Condicionamentos de raa Os livros da Bblia procedem quase todos do povo semita, mais concretamente dopovo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do nosso. preciso conhec-lo, paraentender a Palavra de Deus.Condicionamentos de cultura Os livros da Bblia so obra de muitos autores com mentalidade e cultura

    diferentes, s vezes distanciados entre si por vrios sculos. Tudo isso marcou a Bblia e deve ser tido em conta,pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspirao de Deus, no foram privados da suapersonalidade.

    TRANSMISSO DA PALAVRA DE DEUS A Palavra de Deus, no Antigo Testamento, revelou-se atravs daTradio e da Sagrada Escritura. Com Cristo, Palavra em pessoa, comea uma nova Revelao: o Evangelho. Ostransmissores desta nova Palavra so os Apstolos, que do origem Tradio Apostlica. Os Evangelistas, maistarde, inspirados pelo Esprito Santo, recolhem e fixam essa Tradio por escrito, dando assim origem SagradaEscritura do Novo Testamento.Por isso, diz o conclio Vaticano II: "A Sagrada Tradio e a Sagrada Escritura esto intimamente unidas ecompenetradas entre si. Com efeito, derivando elas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa s etendem ao mesmo fim." (Dei Verbum, 9)

    INSPIRAO DA SAGRADA ESCRITURA A Inspirao o que caracteriza e essencialmente distingue a Bblia

    de todos os outros livros humanos. Acreditar na Inspirao da Sagrada Escritura foi sempre um dogma de fpara os Judeus e para a Igreja. Os Judeus dividiam a Bblia em trs partes: a Lei (Tor), que era considerada aPalavra de Deus por excelncia; os Profetas (Nebi'm), que falaram em nome de Deus; e os Escritos (Ketubm),formando todos juntos os "Livros santos" (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os Apstolos citaram-nos como Palavra deDeus (Act 1,16; 4,25). Mas So Paulo e So Pedro que nos transmitem os dois textos clssicos sobre estaverdade. Paulo diz: "Toda a Escritura divinamente inspirada" (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma:"Mas sabei, antes de mais, que nenhuma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo EspritoSanto, que os homens santos falaram em nome de Deus." (2 Pe 1,21)Os Santos Padres tambm so unnimes em afirmar que Deus o autor da Sagrada Escritura e que o hagigrafo instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua f nesta verdade em vrios conclios e documentos. O ltimoe o mais expressivo a constituio dogmtica Dei Verbum (DV), do conclio Vaticano II, que diz: "As coisasreveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram consignadas por inspirao do EspritoSanto." E mais adiante, falando da natureza desta inspirao, acrescenta: "porque escritos por inspirao doEsprito Santo, tm a Deus por autor e, como tais, foram confiados Igreja. Todavia, para escrever os livrossagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades para que, agindoDeus neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e s aquilo que Ele queria."(n. 11) Portanto, segundo a constituio Dei Verbum, os livros sagrados so produto da aco transcendente deDeus que suscita, dirige e envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenao com ela.Esta aco divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para a produo doslivros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os gneros literrios que neles se encontram. Noentanto, longe de tornar o hagigrafo passivo, tal aco favorece a sua livre espontaneidade; porque o homem tanto mais livre e activo quanto mais o Esprito Santo o acompanha. Deus, quando actua no homem, f-losempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as epotenciando-as. A Bblia no , pois, fruto de um ditado mecnico, mas uma obra em que Deus e o homemintervm: Deus com as suas perfeies infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme a suacapacidade. Por isso, os dois so verdadeiros autores dos livros sagrados.

    A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA Diz tambm a Dei Verbum: "E assim como tudo quanto afirmam osautores inspirados ou hagigrafos deve ser tido como afirmado pelo Esprito Santo, por isso mesmo se deveaceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa danossa salvao, quis que fosse consignada nas Sagradas Letras." (DV, 11)A verdade da Bblia a consequncia imediata da Inspirao. Com efeito, se Deus o autor da Bblia, se toda ela obra do Esprito Santo, no pode conter qualquer afirmao que v contra a verdade e a santidade do mesmo

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    Deus. No entanto, no podemos buscar na Bblia qualquer verdade, mas s a que interessa salvao dohomem, ou seja, a verdade religiosa, e s aquela que Deus, causa da nossa salvao, quis que fosse registadanas Escrituras. Trata-se de uma verdade no puramente especulativa, mas concreta, que no se dirige apenas inteligncia, mas ao homem todo; uma verdade que preciso descobrir atravs dos muitos e variados gnerosliterrios; uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo pedagogia de Deus em relao aoshomens; uma verdade que est em toda a Bblia e no apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, averdade dos textos sagrados s resulta da totalidade da Bblia, como a santidade da Igreja resulta do conjuntodos baptizados e no de cada um individualmente.

    A INTERPRETAO DA SAGRADA ESCRITURA "Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens

    e maneira humana, o intrprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deveinvestigar com ateno o que os hagigrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestarpor meio das suas palavras." (DV, 12)Para esse fim, o Vaticano II lembra que preciso ter em conta os gneros literrios, os sentidos bblicos e certasregras teolgicas de interpretao.

    Os gneros literrios. A verdade proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se trate de gneroshistricos, profticos, poticos, etc. Estes gneros devem ser entendidos como os entenderam os povos semitasou helenistas, no tempo em que foi escrito cada um dos livros (DV, 12).

    Os sentidos bblicos. Tradicionalmente, tm-se distinguido na Bblia os sentidos seguintes: literal, pleno, tpicoe acomodatcio.

    O Sentido literal aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser prprio e imprprio, figurado ou metafrico.O prprio aquele em que as palavras so tomadas no seu significado corrente; o imprprio aquele em que aspalavras so tomadas no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: "Vs sois o sal da terra." (Mt 5,13)O Sentido pleno o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido pelo autor divino, s sedescobre luz de uma revelao posterior, especialmente luz do Novo Testamento. Este sentido resulta dofacto de a Bblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro presente, e que, ao inspirar um determinado texto,j conhece toda a revelao posterior nele implcita; e o hagigrafo ou autor humano, que apenas conhece e tempresente o mistrio que Deus quer revelar nesse determinado momento histrico da escrita. Exemplo claro distoso as profecias messinicas do Antigo Testamento: para ns so claras, porque o Messias j veio; mas osignificado que hoje lhes atribumos no foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e s Deus o teve presentedesde o princpio.O Sentido tpico d-se quando certos acontecimentos, instituies, pessoas, etc., por vontade de Deus,representam e prefiguram acontecimentos, instituies e pessoas de ordem superior. Assim, a serpente debronze erguida por Moiss (Nm 21,8-9) figura de Cristo crucificado (ver Jo 3,14); a passagem do Mar Vermelho

    (Ex 14,22) figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o man (Ex 16,14) figura da Eucaristia (Jo 6).O Sentido acomodatcio consiste em dar s palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente daquele que oautor lhes quis dar, devido a uma certa semelhana entre a passagem bblica e a sua aplicao. Este sentido muito usado na liturgia e na pregao. Temos um exemplo claro nas festas de Nossa Senhora, em que a Liturgiarelaciona com a Virgem Maria textos que se referem sabedoria divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16).

    Regras teolgicas de interpretao. Alm do j aduzido, o Conclio aponta estes princpios que devem reger ainterpretao da Sagrada Escritura: "A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Esprito comque foi escrita" (DV,12); ou seja: o mesmo Esprito que inspirou os livros santos deve iluminar os telogos que,docilmente e com esprito de f, se dedicam a interpret-los. Cabe aos exegetas, "de harmonia com estas regras,esforar-se por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, merc deste estudopreparatrio, v amadurecendo o juzo da Igreja." A funo dos exegetas preparar e no substituir o juzoltimo da Igreja, pois s esta "goza do divino mandato e do ministrio de guardar e interpretar a Palavra deDeus" (DV,12).

    OS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA Os livros da Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do NovoTestamento, agrupam-se em trs conjuntos: histricos, sapienciais e profticos, conforme o gnero literrio queneles predomina (Ver p. 2135-2136).Nesta obra, cada conjunto e cada livro so precedidos de uma Introduo. Nela so dadas todas as informaesnecessrias para enquadrar o texto no seu contexto histrico, geogrfico e literrio e se apontam os seusobjectivos e a sua mensagem teolgica.

    UNIO DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO O Antigo Testamento a histria da revelao de Deus aopovo de Israel, narrada e explicada pelos autores sagrados e escrita nos livros da Antiga Aliana, comoverdadeira Palavra de Deus. Estava orientado, "sobretudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a significarcom vrias figuras a vinda de Cristo, Redentor universal, e a do Reino messinico" (DV,15). Embora a sua missofosse preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantm esse mesmo sentido para os homens de hoje. "A

    Lei (AT) foi nosso pedagogo para nos conduzir a Cristo" (Gl 3,24). A experincia do povo de Israel til tambmpara quem continua procura de Cristo. Todos temos necessidade de nos preparar para os novos adventos deCristo, que se realizam na Liturgia e na vida crist, rumo Parusia do Senhor.O Antigo Testamento d-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se relaciona com o homem ea mulher. Porque esse conhecimento est adaptado s pessoas a quem se dirige, no Antigo Testamentoencontram-

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    -se "imperfeies e coisas restritas a um tempo determinado." Realmente, Deus tolerou modos imperfeitos deobservar a lei moral: poligamia, divrcio, vingana, etc. Mas isso manifesta a pedagogia divina, que vaiconduzindo o povo do imperfeito ao mais perfeito. Por isso, o Antigo Testamento conduz perfeio do NovoTestamento.Para alm disso, o Antigo Testamento j exprime um vivo sentido de Deus, contm doutrinas preciosas sobreDeus e a sua transcendncia, sobre a criao, sobre o ser humano enquanto imagem de Deus, sobre aProvidncia, etc.; e oferece-nos um tesouro admirvel de oraes. Por isso, "os cristos devem aceitardevotamente esses mesmos livros", como raiz do Novo Testamento e do Cristianismo (DV,15).

    A SAGRADA ESCRITURA NA IGREJA A constituio Dei Verbum diz que "a Igreja sempre venerou as divinas

    Escrituras a par com o prprio Corpo de Cristo"; que sempre as considerou e continua a considerar, juntamentecom a Sagrada Tradio, como regra suprema da sua f; e, por ltimo, chama-lhes "a fonte pura e perene davida espiritual" (n. 21).Mas, para ser realmente a fonte da vida espiritual, preciso que a Bblia volte a ser "a alma da teologia", dapregao, da pastoral, da catequese e de toda a instruo crist (DV, 24). Que todos, sacerdotes, religiosos efiis mantenham um contacto ntimo e constante com os Livros sagrados atravs da leitura assdua, do estudo eda meditao. "Porque desconhecer as Escrituras desconhecer a Cristo" (So Jernimo). Para isso, so precisastradues acompanhadas das notas explicativas correspondentes, em todas as lnguas vivas, para que cada umas possa ler na sua lngua materna (DV, 25).Para estar cada vez mais em consonncia com esta doutrina da Igreja, e porque as cincias bblicas e dalinguagem evoluem, que a DIFUSORA BBLICA meteu ombros a esta edio da Bblia Sagrada, profundamenterevista e actualizada tanto na verso do texto como nas introdues e notas.

    COMO UTILIZAR ESTA BBLIA Seguem-se algumas sugestes que ajudam os leitores a tirarem o mximoproveito dos vrios subsdios includos nesta edio da Bblia Sagrada.

    Diviso da Bblia. Tanto o Antigo como o Novo Testamento dividem-se em livros e estes, em captulos; mas,para encontrar uma simples frase na Bblia, os captulos esto divididos em versculos (v.), muitas vezesformados apenas por uma frase. O captulo aparece destacado, em algarismos maiores, no incio do texto; anumerao dos versculos encontra-se, em algarismos mais reduzidos, no interior do texto. Na cabea da pginaest indicado ao centro, o nome do livro por extenso; no ngulo exterior, esse nome em abreviatura e o nmerodo captulo ou captulos correspondentes a essa pgina, por exemplo: Dt 3, correspondente ao captulo 3 do livrodo Deuteronmio.

    Introdues. Alm desta Introduo Geral, a presente edio tambm inclui introdues ao Antigo Testamentoe ao Novo Testamento, aos grandes conjuntos de livros (Pentateuco, Histricos, Sapienciais, Profticos,Evangelhos e Actos, Cartas de So Paulo e Cartas Catlicas) e a cada livro, a fim de o situar no seu tempo e

    gnero literrio e melhor se entender a sua mensagem.

    Os ttulos. Aparecem ao longo de toda a Bblia, em caracteres negros, em maiscula ou minscula. So daresponsabilidade dos tradutores e procuram adiantar ao leitor uma ideia geral do texto que vai ler. Como no soPalavra de Deus, no devem ser lidos ao proclamar a Palavra em pblico.

    Notas explicativas. Encontram-se ao fundo da pgina e so importantes para entender o sentido e o contextohistrico-literrio ou religioso de um captulo ou versculo. Muitas referem-se a um texto maior; outras, a umasimples frase ou palavra.

    O asterisco. Sempre que este sinal (*) aparece junto de um versculo, dentro do texto, remete para uma notaexplicativa ou uma referncia a outros textos bblicos ("lugares paralelos" ou textos que tm a mesma ideia), nofundo da pgina.

    Citaes em itlico. Quando dentro de um texto do Novo Testamento feita uma citao do Antigo, estaaparece escrita em itlico.

    Suplementos. No final desta Bblia encontram-se vrios Suplementos, que proporcionam ao leitor umconhecimento global de certos temas ou explicam melhor alguns termos tcnicos ou de matrias concretas quepara l so remetidos pelas notas de rodap.

    ndice de Notas. A presente edio est valorizada por um ndice com os principais temas desenvolvidos nasnotas desta Bblia. Procurando o lugar citado frente de cada termo encontrar uma nota explicativa.

    ndice Bblico-Pastoral. Oferece temas variados para utilizao pastoral em grupos de estudo e orao ou parasimples cultura bblica. A partir da leitura e do estudo das vrias referncias feitas em cada chamada, pode-sedesenvolver um desses temas a vrios nveis ou ficar com uma ideia global da sua revelao em toda a Bblia,

    mediante uma analogia da f.

    Leccionrio. Tambm oferecemos, no final, um Leccionrio Dominical e Festivo que indica as Leituras bblicas afazer nos Domingos e Festas, ao longo de cada um dos trs ciclos do Ano Litrgico.

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    Para entender uma citao bblica

    A ordem dos elementos : o nome do livro em abreviatura, o nmero do captulo e onmero do versculo. Assim, Mt 5,12 corresponde ao Evangelho segundo So Mateus,captulo 5, versculo 12. Se o livro s tiver um captulo, aparece apenas o livro e oversculo. Assim, 2 Jo 12 para indicar 2. Carta de Joo, versculo 12. Quando socitados vrios versculos ou captulos seguidos, esto unidos por um hfen: Mt 5,12-17(Mateus, captulo 5, versculos 12 a 17); Mt 5-6 (Mateus, captulos 5 e 6); Mt 5,20-6,13

    (Mateus do captulo 5, versculo 20 ao captulo 6, versculo 13, sem qualquerinterrupo). Quando so citados vrios versculos do mesmo captulo, mas no todosseguidos, ficam separados por um ponto: Mt 5,12.14-17 (a citao pra no v.12 econtinua do v.14 ao 17 inclusive, no incluindo o versculo 13). Se forem citadosdiferentes captulos do mesmo livro, tais captulos vo separados por um ponto e vrgulamas no repetido o nome do livro: Mt 5,12.21-23; 6,1-8 (Mateus, captulo 5,versculo 12 e tambm do v. 21 a 23 inclusive; e ainda o captulo 6, do versculo 1 a 8inclusive). Como se pode ver, a vrgula vai sempre depois do captulo, a separ-lo dosversculos.

    ABREVIATURAS DOS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA

    Abd-Profeta Abdias

    Act-Actos dos ApstolosAg-Profeta AgeuAm-Profeta AmsAp-Apocalipse de JooBr-Profeta BarucCl-Carta aos ColossensesCt-Cntico dos Cnticos

    1 Cor-1. Carta aos Corntios2 Cor-2. Carta aos Corntios

    1 Cr-1. Livro das Crnicas2 Cr-2. Livro das Crnicas

    Dn-Profeta DanielDt-DeuteronmioEcl-Eclesiastes (ou Qohlet)Ef-Carta aos Efsios

    Esd-EsdrasEst-EsterEx-xodoEz-Profeta EzequielFl-Carta aos Filipenses

    Flm-Carta a FilmonGl-Carta aos Glatas

    Gn-GnesisHab-Profeta HabacucHeb-Carta aos Hebreus

    Is-Profeta IsaasJb-Job

    Jd-Carta de JudasJdt-JuditeJl-Profeta Joel

    Jn-Profeta JonasJo-Evangelho de S. Joo

    1 Jo-1. Carta de S. Joo2 Jo-2. Carta de S. Joo3 Jo-3. Carta de S. Joo

    Jr-Profeta Jeremias

    Js- Josu

    Jz- JuzesLc- Evangelho de S. LucasLm- LamentaesLv- Levtico

    1 Mac- 1. Livro dos Macabeus2 Mac- 2. Livro dos Macabeus

    Mc- Evangelho de S. MarcosMl- Profeta Malaquias

    Mq- Profeta MiqueiasMt- Evangelho de S. MateusNa- Profeta NaumNe- Neemias

    Nm- NmerosOs- Profeta Oseias

    1 Pe- 1. Carta de S. Pedro2 Pe- 2. Carta de S. Pedro

    Pr- ProvrbiosRm- Carta aos Romanos

    1 Rs- 1. Livro dos Reis2 Rs- 2. Livro dos Reis

    Rt- RuteSb- SabedoriaSf- Profeta Sofonias

    Sir- Ben Sira(antigo Eclesistico)

    Sl- Salmos1 Sm- 1. Livro de Samuel

    2 Sm- 2. Livro de SamuelTb- TobiteTg- Carta de S. Tiago

    1 Tm- 1. Carta a Timteo2 Tm- 2. Carta a Timteo1 Ts- 1. Carta aos Tessalonicenses2 Ts- 2. Carta aos Tessalonicenses

    Tt- Carta a TitoZc- Profeta Zacarias

    Antigo Testamento

    A formao da Sagrada Escritura foi lenta e muito complicada. A maior parte dos seus livros so obra de muitasmos e a composio de alguns deles durou sculos. Assim, o Pentateuco, marcado pelo cunho de Moiss, s

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    conheceu a forma definitiva muitos sculos depois da sua morte (sc. V a.C.); a literatura proftica, iniciada comAms e Oseias (sc. VIII a.C.), terminou com Joel e Zacarias (sc. IV a.C.); os livros histricos, embora contendotradies do sc. XIII a.C., foram escritos aproximadamente entre os sc. V e I a.C.; e a literatura sapiencial,iniciada com Salomo (sc. X a.C.), s a partir do sc. V a.C. recebeu a sua forma definitiva e alguns livros so dolimiar do Novo Testamento.Portanto, a ordem dos livros que a Bblia apresenta no histrica, mas lgica; e a atribuio do Pentateuco aMoiss, dos Salmos a David, dos livros sapienciais a Salomo e dos 66 captulos do Livro de Isaas a este profetano corresponde realidade, mas uma simplificao da Histria. Se quisermos captar o verdadeiro sentido dostextos, no podemos contentar-nos com esta simplificao, pois cada um deles tem o seu contexto vivo, do qualno pode ser separado. Por isso, antes de passarmos a outros problemas, vamos tentar resumir a histria da

    formao dos livros sagrados.

    HISTRIA LITERRIA DO ANTIGO TESTAMENTO A revelao de Deus humanidade transmitiu-se, durantemuitos sculos, atravs da tradio oral. A Escritura s comea a ganhar corpo a partir de David. J antes deDavid existiam documentos orais ou escritos, como o Cdigo da Aliana (Ex 20,22-23,33), o Declogo (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21), o poema de Dbora (Jz 5,1-31), o cntico de Moiss (Ex 15,1-18). tambm a partir do reinado de David-Salomo que se escreve uma das quatro "fontes" que se integrou noPentateuco (a Javista), se inicia o Saltrio por meio de David e a literatura sapiencial recebe o seu primeiroimpulso.Com a morte de Salomo, o reino divide-se em Israel, ou Reino do Norte, e Jud, ou Reino do Sul. A histriadestes dois reinos encontra-se nos livros dos Reis. Em Israel aparecem os profetas Elias e Eliseu, defensores doculto a Jav; no tempo de Jeroboo II (783-743 a.C.), Ams e Oseias e a tradio "Elosta" do Pentateuco. EmJud, pouco depois de Ams e Oseias, surgem Isaas e Miqueias (ao profeta Isaas pertence s a primeira parte do

    Livro de Isaas: cap.1-39).Em 722 a.C., o Reino do Norte cai sob o poder da Assria e muitos habitantes fogem para Jud, levando consigoescritos e tradies sagradas; deste modo, unem-se duas das tradies do Pentateuco: a Javista e a Elosta(Jeovista).No tempo do rei Josias (640-609 a.C.), restaura-se o templo e procede-se a uma reforma religiosa: o Reino doNorte tinha desaparecido e o do Sul estava a ser castigado, porque tinham sido infiis a Jav. neste perodo ecom esta perspectiva que aparecem os livros dos Juzes, Samuel e Reis.Em 587 a.C., Nabucodonosor avana sobre Jerusalm, toma a cidade e leva para Babilnia, como refns, muitosdos seus habitantes. um momento importante na Histria do povo de Deus. Os sacerdotes, longe do templo,voltam s tradies antigas, dando-lhes um cunho litrgico e cultual. So ainda eles que, depois do Deuteronmio,do ao Pentateuco a sua forma definitiva.Os judeus que tinham ficado na Palestina vm chorar sobre as runas do templo e assim nascem as Lamentaes,que a Vulgata, indevidamente, atribuiu a Jeremias. Ao mesmo tempo, um profeta annimo, discpulo de Isaas(Segundo Isaas), conforta os desterrados na Babilnia (Is 40-55). Depois do regresso da Babilnia, so

    compostos os captulos 56-66 de Isaas (Terceiro Isaas) e, no sc. V a.C., completa-se a obra com os captulos24-27 e 34-35 (Apocalipse de Isaas).Em 538 a.C., de novo em Jerusalm, o Deuteronmio separa-se dos livros histricos e une-se ao Pentateuco;aparece Rute e os profetas Ageu e Zacarias. tambm neste sculo que floresce a literatura sapiencial, editando-se o livro dos Provrbios e, pouco depois, o Livro de Job. Com a reconstruo do templo, nascem novos salmos eadaptam-se os antigos nova liturgia.No sc. IV a.C., j deveria estar completo o Saltrio; nasce o Cntico dos Cnticos; escreve-se Jonas, que canta aprovidncia e a salvao universal de Deus, e Tobias, que exalta a providncia de cada dia. A historiografia destesculo est representada por 4 livros: 1 e 2 das Crnicas (ou Paralipmenos), Esdras e Neemias, que so obra deum s autor, chamado Cronista.No ano 333 a.C., com a conquista da Palestina por Alexandre Magno, comea, na literatura bblica, o perodohelenista. Como reaco, nasce um novo gnero literrio tipicamente hebreu: o midrache bblico. Pertencem aeste perodo o Eclesiastes (ou Qohlet) e Ben Sira (ou Eclesistico).Em 175 a.C., Antoco IV obriga todos os seus sbditos a adoptar a vida e a religio dos gregos. Esta medidaprovoca a revolta dos Macabeus. neste ambiente que Daniel publica um livro apocalptico, para animar os seuscompatriotas na luta. Anos depois (100 a.C.), aparece o livro de Ester, 1. e 2. dos Macabeus e o livro de Judite.Enquanto os judeus da Palestina resistiam helenizao, alguns judeus de Alexandria procuraram assimilar opensamento grego, sem sacrificar os seus valores prprios. Esta atitude exprime-se no livro da Sabedoria.

    CNON DO ANTIGO TESTAMENTO O Antigo Testamento a parte mais longa da Bblia. Constitui a lista oficialou cnon de livros aceites como inspirados e referentes ao tempo da religio hebraica anterior ao cristianismo.Mas esta lista ou Cnon da Sagrada Escritura conheceu algumas divergncias, j desde os tempos antigos. Taisdivergncias nascem das prprias vicissitudes da formao da Bblia entre os antigos hebreus.A Bblia que tem a lista mais longa de livros, chamada dosSetenta, , na verdade, a maisantiga e provm do judasmo de Alexandria. Apresenta uma traduo dos textos bblicos para o grego, feita nostrs sculos imediatamente anteriores ao cristianismo.

    Curiosamente, a lista mais recente aquela que nos prope apenas o texto original hebraico; a lista final doslivros desta Bblia Hebraica foi fixada por uma assembleia de rabinos em Jmnia, s pelos finais do sc. I a.C., eos critrios a seguidos levaram a diminuir a lista de livros at ento reconhecidos como pertencendo Bblia.Ficaram assim de fora, no todo ou em parte, alguns livros includos h sculos na Bblia do judasmo deAlexandria.Por vrias circunstncias, nomeadamente pelo facto de estar na lngua grega de uso internacional no Mediterrneo

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    factos de Jesus de Nazar, mas j iluminados pelo Cristo ressuscitado, presente na sua Igreja ao longo de muitosanos.A Constituio Dei Verbum (n. 19) diz que os Evangelhos no so Histria escrita maneira do nosso tempo. Osevangelistas fazem uma Histria em funo da f, da teologia: resumem, interpretam, explicam e redigem factosda vida de Jesus para apresentar uma determinada ideia teolgica a uma determinada classe de ouvintes.

    AMBIENTE POLTICO-RELIGIOSO DO NOVO TESTAMENTO Genericamente falando, o ambiente histrico-geogrfico do Novo Testamento greco-romano. A Palestina cai sob o domnio dos Csares de Roma em 63 a.C.e, com o Imprio, entra no povo da Bblia a cultura helenista, que se tornara a cultura mais importante do ImprioRomano (ver Lc 3,1-2). De facto, um Imprio geograficamente enorme e com uns cinquenta milhes de

    habitantes albergava no seu seio multides de povos, religies e culturas diferentes (ver Mapas). No entanto, estepluralismo cultural e religioso facilitou, de certo modo, a expanso do Cristianismo, que no tardou em adaptar assuas origens semitas cultura dominante. Neste campo, deve ser concedido um especial relevo a Paulo (ver Act15). A Palestina, sobretudo pela mo de Herodes, o Grande (que reinou entre 40 a.C. e 4 a.C.; ver Mt 2,1 nota),entrou tambm no caminho da civilizao helenista, pelas grandes obras, jogos e espectculos copiados doshelenistas.

    Politicamente, as autoridades da Palestina - reis ou procuradores romanos - dependem do Imperador de Roma.Pilatos foi o procurador mais famoso (entre 27 e 37 d.C.), por ter participado activamente no processo e na mortede Jesus. A partir de 66 d.C., comeou a revolta contra o poder romano, que foi severamente punida com adestruio de Jerusalm e do Templo, inaugurado poucos anos antes. Com a destruio do Templo, desaparece aclasse politicamente mais forte, a classe sacerdotal ou dos Saduceus. Na fuga geral, tambm a pequenacomunidade crist de Jerusalm, segundo algumas tradies, se refugiou em Pla, na Decpole e noutros locais

    prximos. A partir de 70 d.C. desaparecem todos os principados da Palestina e o territrio governado poradministrao directa de Roma.

    Economicamente, a Palestina, pequeno territrio junto do deserto, contava pouco na economia do Imprio.Interessa, no entanto, saber como nela se vivia para compreender a linguagem utilizada por Jesus nosEvangelhos, sobretudo nas parbolas. Trata-se de um territrio de agricultura mediterrnica (trigo, cevada,figueira, oliveira, videira) e de pastoreio de gado mido (ovelhas e cabras). A pequena indstria e o comrciotambm ocupam um lugar de destaque na vida quotidiana do povo.

    Religiosamente, fervilhavam pelo imprio muitas religies e cultos pagos, que gozavam de uma relativaliberdade de culto e de proselitismo. Na Palestina, o templo de Jerusalm concentrava as principais instituiesjudaicas. Era o centro religioso, o lugar de Deus, do sacerdcio, das festas nacionais; mas tambm onde aspessoas ligadas ao culto exerciam o poder poltico. Todo o varo judeu adulto pagava uma didracma por ano deimposto ao Templo. Isso transformava o Templo no centro econmico do povo de Deus.

    O primeiro Templo tinha sido construdo por Salomo no sc. X e destrudo pelos Babilnios em 587 a.C.. Osegundo, mais modesto, foi construdo em 515, depois do exlio da Babilnia. Um terceiro Templo foi construdopor Herodes, o Grande; inaugurado no ano 60 d.C., foi destrudo pelos Romanos no ano 70. Em forma de cubo deuns cinquenta metros e rodeado de vrios trios e portas, era uma obra digna da admirao de qualquer visitante(ver Mt 24,1; Mc 13,1; Jo 2,20). No tempo de Jesus estava na fase de acabamento.A Sinagoga era a instituio religiosa mais importante depois do Templo, aonde todo o bom judeu acudia, cadasbado. O prprio Jesus frequentava a Sinagoga (Lc 4,16-38). Era o lugar onde se proclamava e comentava aPalavra de Deus e se fazia a orao da comunidade; tambm servia de escola e centro de cultura. Teve especialimportncia sobretudo na Dispora. Era chefiada pelos Doutores da Lei e fariseus; e, como no havia sacrifcios,os sacerdotes no tinham nela importncia de maior.Interessa aqui referir, com particular relevo, os grupos religiosos de ento:Os Fariseus. Pessoas da classe mdia e baixa, eram especialmente devotos e cumpridores de todas as normas daLei de Moiss. A sua origem, sendo embora duvidosa, deve remontar revoluo de Judas Macabeu (sc. II a.C.:1 Mac 2,42). Considerando Deus como o nico Rei de Israel, opunham-se ao poder poltico instalado: os Romanose a dinastia de Herodes. Como dominavam na Sinagoga, mediante a sua pregao, levavam o povo a pensar domesmo modo. Por isso, constituam o grupo mais numeroso de todos. Jesus denunciou muitas vezes a sua rigidezlegalista, que no respeitava o mais importante - o amor - e juntava muitas outras tradies - a chamada Lei oralou "tradio dos antigos" - s prescries escritas na Bblia. Admitiam como cannicos todos os livros da actualBblia Hebraica, ou seja, a Lei, os Profetas e outros Escritos (os do AT que esto nas Bblias catlicas, excepto osDutero-cannicos). Sendo rgidos na observncia da Lei, eram progressistas nas ideias religiosas, pois admitiam,ao contrrio dos Saduceus, a ressurreio final e a existncia de anjos. Destrudo o Templo, no ano 70, com eledesapareceu tambm a sua organizao cultual: os sacerdotes e os sacrifcios. Restava a Lei, a Palavra de Deusque estava na mo dos Fariseus da Sinagoga. E foi a Sinagoga que perpetuou o judasmo at aos nossos dias.Os Doutores da Lei ou Escribas. Eram o grupo mais ligado ao dos Fariseus. O Novo Testamento referefrequentemente estes rabinos copistas que se tornaram tambm intrpretes da Lei. Eram os "telogos" dofarisasmo, embora tambm houvesse Doutores da Lei entre os Saduceus.Os Saduceus (nome que deriva do Sumo Sacerdote Sadoc) existiam, como partido poltico, desde o sc. II a.C..

    Eram a classe mais ligada ao Templo, por constiturem a classe sacerdotal. Alm do sacerdcio, detinham aindagrande parte do poder poltico, pois, ao contrrio dos fariseus, presidiam ao Sindrio, mediante o Sumo Sacerdote.Politicamente abertos autoridade romana, eram conservadores em religio, pois, ao contrrio dos fariseus,admitiam como cannicos apenas os cinco primeiros livros da Bblia (Pentateuco) e negavam a existncia dosanjos e a ressurreio. Esta classe sacerdotal, no exerccio das suas funes, era assistida pelos Levitas, quetinham especial misso no canto litrgico e nos sacrifcios.

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    Os Samaritanos. Como o nome indica, eram os habitantes da Samaria, descendentes da populao mista -israelita e pag - que ocupou aquele territrio depois do exlio dos Samaritanos para Nnive (711 a.C.). Comolivros cannicos, s admitiam o Pentateuco (tal como os Saduceus) e tinham um templo no monte Garizim (2 Rs17,24-28; Esd 4,1-4). Por este motivo, os Judeus (habitantes da Judeia, ao sul) rejeitavam-nos, como se fossempagos (Lc 10,25-37; Jo 4,19-22).Os Zelotas. Como o prprio nome indica, zelavam pela independncia nacional de Israel contra o poder polticoestrangeiro. Mas a sua luta era violenta, provocando sucessivos confrontos e atentados contra o exrcitoocupante.Os Herodianos. Eram os partidrios da dinastia de Herodes, o Grande, que governou os diversos territrios daPalestina a partir do ano 37 a.C. sob a suprema autoridade dos Imperadores de Roma (ver Lc 13,31-32).

    ESCRITOS E COLECES DO NOVO TESTAMENTO O Novo Testamento est integrado por 27 livros, divididosem vrios grupos ou coleces de escritos: Quatro Evangelhos e Actos dos Apstolos, Cartas de Paulo,Carta aos Hebreus, Cartas Catlicas (Tiago, 1 e 2 de Pedro, 1, 2 e 3 de Joo, Judas) e Apocalipse de Joo.Trata-se de uma grande quantidade de livros, e de diferentes gneros literrios, o que torna mais difcil a suacompreenso. Por isso feita uma breve Introduo a cada uma destas coleces.A ordem acima referida temtica e pouco tem a ver com a cronologia. De facto, o escrito mais antigo do NovoTestamento a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses; e o Evangelho de Joo foi um dos ltimos escritos aaparecer. Tais coleces, portanto, esto organizadas segundo a temtica e o gnero literrio (ver p. 2136).A TBUA CRONOLGICA seguinte pode ajudar-nos a situar melhor os diferentes textos sagrados do NovoTestamento nas suas circunstncias histricas:Ano Imperadores

    romanosHerodianos e Procuradores

    romanosVidas de Jesus e Paulo Livros do Novo

    Testamento

    10 Augusto Herodes o Grande (37-4 a.C.) Nascimento de Jesus (pelo ano 6antes daera actual)

    d.C.

    1 Arquelau (at6 d.C.) Filipe (atao34) Herodes Antipas

    10 Tibrio (1-37) (at ao ano39)

    20 Baptismo de Jesus(28)

    Pilatos (26-36) Morte e Ressurreio de Jesus (30)

    Converso dePaulo

    Calgula Herodes Agripa(37-44) (ano 34)

    (37-41)

    40 Cludio (41-54) 1 Viagemmissionria de Paulo (47)Flix (52-60)

    2 Viagemmissionria 1 e 2 Ts (ano 50)

    50 Nero (54-68) 3 Viagemmissionria Gl; 1 e 2 Cor;

    Fl; Rm (anos 54-58)

    60 Festo (60-62) Cl; Flm; Fl;

    4 Viagem, paraRoma 1 e 2 Tm; Tt (61-67)

    (60-61)

    Vespasiano Morte de Paulo (67)

    (69-79)1 Pe; Mc; Mt; Heb;

    70 Tito (79-81) Lc; Act;

    Cartas Catlicas

    80 Domiciano

    (81-96)

    90 Jo, 1,2 e 3 Jo, 2 Pe

    Nerva (96-98) e Ap

    100 Trajano

    (98-117)

    COMO E QUANDO SE FORMARAM ESTAS COLECES? Como dissemos, os discpulos de Jesus s bastantetarde resolveram escrever a sua mensagem. Primeiro, porque o Mestre no lhes apareceu como um escritor, mascomo um mensageiro de Deus (Mt 28,16-20). Alm disso, a primeira gerao crist vivia num ambienteescatolgico, pensando que Jesus estava para vir, glorioso, "sobre as nuvens do cu", conforme a profecia deDaniel (Dn 7,13; Mt 26,64; Mc 14,62; 1 Cor 16,22; 1 Ts 4,17; Ap 22,20). No admira, pois, que os primeiros

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    escritos do Cristianismo sejam Cartas, destinadas a resolver problemas concretos de um determinado momentohistrico das comunidades (1 Ts 4,13-18).A necessidade de escrever a mensagem de Jesus veio do afastamento cada vez maior da sua fonte - o prprioJesus de Nazar (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). A meados da dcada de 70, j no viveria a quase totalidade das"testemunhas oculares" que tinham visto o Senhor ressuscitado (Lc 1,2; 1 Cor 15,3-8). Esse distanciamentocronolgico entre Jesus e as comunidades s poderia ser vencido pela palavra escrita. E assim se formaram asduas grandes coleces ou "corpus" das Cartas de So Paulo e dos Evangelhos.Para a escrita da mensagem de Jesus e para a formao destas coleces muito contribuiu a autoridade dosApstolos, em nome dos quais esses textos foram escritos. Grande parte dos livros da Bblia so pseudnimos,isto , atribudos a um personagem importante, para terem melhor aceitao perante o pblico. Nesse tempo noexistia o direito de autor. Sobressai o caso do Apocalipse, de um profeta chamado Joo, que foi associado aoApstolo Joo. De outro modo, este livro teria tido ainda maiores dificuldades em entrar no Cnon dos livrosinspirados.No podemos esquecer a relao entre o Antigo e o Novo Testamento, pois "Deus, inspirador e autor dos livros deambos os Testamentos, disps sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo, e o Antigo setornasse claro no Novo (). Os livros do Antigo Testamento, integralmente assumidos na pregao evanglica,

    adquirem e manifestam a sua significao completa no Novo Testamento, ao mesmo tempo que o iluminam eexplicam" (DV 16). Por isso, nesta Bblia, as citaes do AT no NT vo em itlico.

    Evangelhos e Actos

    Chamamos "Evangelho" a um gnero literrio de escritos do Novo Testamento que tem apenas quatro exemplaresna literatura universal: os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e Joo. Este gnero de escritos apareceudepois das Cartas autnticas de Paulo e props-se transmitir factos e palavras da vida de Jesus de Nazar, que asCartas no tinham ainda referido. Os Evangelhos transmitem-nos factos histricos (Dv 19), mas no de maneira"fria" e "isenta", maneira da historiografia moderna; os factos e as palavras de Jesus so coloridos pelaexperincia das comunidades da primeira gerao crist, que vai dos anos 30 a 70.

    QUATRO EVANGELHOS esta experincia das comunidades crists que vai influir na tonalidade prpria de cadaum dos quatro Evangelhos. Por detrs da autoria individual dos Evangelhos - a qual vem da Tradio do sc. II eno se encontra no texto dos Evangelhos - est tambm uma ou vrias comunidades crists. A Constituio Dei

    Verbum no declara que determinado Evangelho pertence a determinado evangelista como seu autor. Afirmaapenas "a origem apostlica dos quatro Evangelhos (...) segundo Mateus, Marcos, Lucas e Joo" (n. 18); isto ,so-lhes atribudos. A Tradio ligava os Evangelhos de Mateus e de Joo aos respectivos Apstolos; o de Lucas aLucas, companheiro de Paulo; o de Marcos, a um companheiro de Pedro com esse nome. Com isso, pretendia-seligar estes escritos sua fonte, que Cristo, e s suas testemunhas oculares. De facto, os Quatro Evangelhosrepresentam o ltimo estdio da tradio acerca das obras e das palavras de Jesus.O 1. perodo constitudo pelo prprio Jesus, de 6 a.C. a 30 d.C.. Jesus no escreveu; apenas anunciouoralmente a mensagem, atravs dos caminhos da Galileia, da Samaria e da Judeia, reunindo sua volta umpequeno grupo de discpulos a quem iniciou nos mistrios do Reino dos cus (Mt 13,11).O 2. perodo tem o seu incio depois da morte e ressurreio de Jesus. Depois da desiluso (Lc 24,18-21) e domedo (Jo 20,19-23), os Apstolos, com a fora do Esprito do Pentecostes (Act 2,1-13), lanaram-se no anncioda mensagem do Mestre, no se preocupando muito com a escrita mas com a urgncia do anncio do Reino.

    Rapidamente se formaram muitas comunidades crists, tanto na Palestina como nas cidades do Imprio. Este 2.perodo, ou primeira gerao crist, vai dos anos 30 a 70.O 3. perodo constitudo pela segunda gerao crist, ou seja, pelos discpulos dos Apstolos e de outrastestemunhas oculares de Jesus. Cada um deles tinha deixado mais marcada alguma tradio acerca de Jesus;agora, juntam-se as diferentes "tradies" para no se perder a memria do Senhor. Este perodo vai dos anos 60a 100. neste perodo que aparece a redaco definitiva dos Quatro Evangelhos.A tonalidade prpria de cada um desses Evangelhos, a nvel literrio e teolgico, faz com que eles sejamsemelhantes, mas tambm diferentes entre si. Essa tonalidade tem origem no estilo de cada evangelista e nainteno teolgica de responder s necessidades especficas da comunidade a quem dirige o seu Evangelho.

    EVANGELHOS SINPTICOS Por seguirem o mesmo esquema fundamental de Marcos, chamamos a Marcos,Mateus e Lucas "Evangelhos Sinpticos"; porque, se os dispusermos em colunas paralelas e fizermos deles umaleitura de conjunto, deparamos com semelhanas fundamentais e com diferenas de pormenor.Diferente dos "Evangelhos Sinpticos" o Evangelho segundo So Joo, escrito entre os anos 90-100. EsteEvangelho no segue o esquema histrico-geogrfico de Mt, Mc e Lc (que tem origem em Mc) e mais abundanteem discursos de Jesus, com base nos factos da sua vida. Aparece, por isso, como o Evangelho teolgico porexcelncia. O ambiente onde nasceu o Evangelho segundo So Joo e a sua relao com os Sinpticos continua a

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    ser objecto de estudo por parte dos especialistas na matria.

    PORQU QUATRO EVANGELHOS? A Igreja aceitou apenas os Quatro Evangelhos, escritos entre os anos 60 e100. Porqu apenas quatro?Parece que desde o princpio da Igreja houve uma certa propenso para o uso de um nico Evangelho. Isso nosignifica que se negasse a autoridade dos outros. Naturalmente, os cristos vindos do Judasmo preferiam oEvangelho de Mateus, escrito sobretudo para lhes falar da relao de Cristo com a Lei de Moiss (Mt 5,17-7,29).Talvez tenham utilizado este Evangelho em discusses com os outros cristos vindos da civilizao helenista, quesustentavam no ser necessria a observncia da Lei de Moiss (AT).Marcio tambm um caso especial a este respeito: usa o Evangelho de Lucas por lhe parecer o Evangelho quefala do amor de Deus, presente entre os homens em Jesus Cristo; mesmo assim, elimina algumas partes ondeesse amor no lhe parece evidente ou onde se fala do Antigo Testamento, que ele rejeitou em bloco.O movimento gnstico utilizou e manipulou sobretudo o Evangelho de Joo (ver Jo 14,2-3; 17,16).Tassiano pretendia um compromisso entre as duas tendncias (o uso de um nico Evangelho e os quatro),harmonizando-os num s (o Diatesseron). Esta harmonizao foi largamente seguida nas igrejas siracas doOriente, mas praticamente rejeitada nas igrejas ocidentais de lngua grega e latina. De facto, fazendo dos QuatroEvangelhos apenas um s, destruam-se as quatro teologias sobre Jesus, ficando apenas uma "Histria de Jesus".Ora os Evangelhos so muito mais do que a Histria de Jesus.

    EVANGELHOS APCRIFOS E FORMAO DO CNON Muitos outros "evangelhos" apcrifos - isto , falsos -

    conheceram uma certa celebridade, a partir do sc. II. Os mais conhecidos foram: "Evangelho dos Hebreus","Evangelho dos Ebionitas", "Evangelho de Pedro", "Evangelho de Tom" e Proto-Evangelho de Tiago. De algunsrestam apenas fragmentos e breves notcias. Eram histrias populares mais ou menos edificantes sobre factos davida de Jesus ou simples coleces de algumas palavras a Ele atribudas.A Igreja soube sempre separar o trigo do joio, a partir de trs critrios necessrios para um Evangelho serautntico: 1) ter uma ligao directa com o grupo dos Apstolos; nasce daqui a atribuio de cada um deles a umnome importante, se possvel, testemunha ocular de Jesus: Evangelho segundo Mateus, segundo Marcos, segundoLucas e segundo Joo (critrio apostlico); 2) incluir palavras e factos histricos da vida de Jesus, e no apenasum destes contedos (critrio literrio); 3) ser utilizado na pregao e na liturgia da Igreja universal (critriolitrgico).A partir destas exigncias, muito cedo foram excludas da Igreja essas histrias que se apresentavam como"evangelhos". A luta contra os hereges, sobretudo contra Marcio, na segunda metade do sc. II, forneceu

    Igreja uma motivao mais para encontrar e colocar ao alcance dos cristos a coleco ou Cnon dos livrosseguramente inspirados pelo Esprito Santo.De qualquer modo, o Cnon s progressivamente, e a partir dos princpios j referidos, se foi formando, entre osc. II e IV. Assim, as igrejas de lngua siraca utilizavam, por vezes, o Diatesseron em vez dos Quatro Evangelhose no incluam as Cartas Catlicas mais pequenas (2 e 3 Jo, Jd, 2 Pe), tal como o Apocalipse. Alis, o ltimo livroda Bblia foi tambm o ltimo a entrar no Cnon, devido desconfiana da Igreja acerca deste gnero deliteratura, que se prestava a muitas manipulaes da Palavra de Deus, como acontece ainda hoje. Neste sentido, a Igreja que, pelo seu sentido da f, aceita no seu seio os livros inspirados por Deus; mas tambm a Igrejaquem reconhece oficialmente, para utilidade dos fiis, o Cnon (norma) dos livros inspirados pelo Esprito Santo.

    ACTOS DOS APSTOLOS Uns 30 ou 40 anos depois das Cartas autnticas de Paulo, escreveu Lucas o livro dosACTOS DOS APSTOLOS (entre os anos 80-90). Trata-se de um escrito que, quanto ao gnero literrio, se

    encontra entre a Teologia e a Histria; ou melhor, o seu autor quis fazer Histria e Teologia ao mesmo tempo.Veja-se a grande quantidade de discursos (uns 24), que tm mais a ver com a eclesiologia do que com a Histriapropriamente dita das comunidades da segunda gerao crist.Os personagens centrais do livro so primeiramente Pedro, ao longo dos 12 primeiros captulos, em perfeitacontinuidade com o seu papel nos Evangelhos; e Paulo, do captulo 13 em diante.Tudo indica que esta obra pertence ao mesmo autor do terceiro Evangelho (Lucas). Este comea e termina emJerusalm; os ACTOS comeam em Jerusalm, com os Doze, e terminam em Roma com Paulo, como que a dizerque se realizou, pelo menos parcialmente, o programa de Jesus, no meio dos pagos (Act 28,25-28).Deste modo se cumpre o programa de Jesus, proposto no incio do livro dos Actos: "Sereis minhas testemunhasem Jerusalm, por toda a Judeia e Samaria e at aos confins do mundo." (Act 1,8)Esta obra apresenta-se, pois, como um segundo volume da obra de Lucas, numa continuidade natural dosEvangelhos e como que registando o seu cumprimento. E sendo Paulo a personagem central da segunda parte,

    este livro coloca-se, naturalmente, entre os Evangelhos e as Cartas de Paulo.O autor dos ACTOS no nos apresenta, no entanto, Paulo como um Apstolo e com os mesmos direitos dosApstolos, apesar de Paulo reivindicar este ttulo (Gl 1,17). Para Lucas, o direito ao "apostolado" est ligado aogrupo dos Doze e ao testemunho directo e ocular de Jesus (Lc 1,2; Act 1,13.17.21-22). Depois da viso deDamasco, Paulo introduzido no grupo dos Doze pela mo de Barnab.

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    Nesta perspectiva, Paulo no Apstolo pela relao directa com o Ressuscitado, mas pela legitimao que recebedas "testemunhas oculares" de Jesus (Lc 1,2).H diferenas sensveis entre o Paulo que nos apresentado pelo autor dos ACTOS e o Paulo que se apresenta nassuas Cartas. Segundo os ACTOS, Paulo um rabino que continua fiel Lei de Moiss; segundo as Cartas, Paulo um judeu convertido que relativiza a Lei para fazer de Cristo o Senhor da sua vida: "J no sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).

    Cartas de Paulo

    O nome de Paulo aparece como autor de 13 Cartas do Novo Testamento, escritas a diferentes comunidades, aolongo de uns cinquenta anos. No sabemos ao certo quem e como se fez a coleco do chamado "Corpus Paulino".Esta coleco contm as Cartas "proto-paulinas" - ou seja, as autnticas, as que ele prprio escreveu - e asdutero-paulinas, escritas talvez pelos seus discpulos. So proto-paulinas: Romanos, Glatas, 1 Tessalonicenses,1 e 2 Corntios, Filipenses e Filmon; as dutero-paulinas - escritas entre 70 e 100 - so as "Cartas Pastorais" - 1e 2 Timteo, Tito - e as restantes: Efsios, Colossenses, 2 Tessalonicenses. Ao todo, treze Cartas. No fim do sc.II, a coleco das treze "Cartas de Paulo" (lista que inclua frequentemente Hebreus) estava feita e era aceite emtoda a Igreja como Palavra de Deus (ver 2 Pe 3,15-16).

    PAULO ESCRITOR? Paulo no foi primariamente um escritor, mas um rabino convertido na clebre "Viso de

    Damasco" (Act 9,1-19; 22,4-21; 26,9-18) que percorreu muitos milhares de quilmetros (ver as suas viagens nosMapas, p. 2141-2142), anunciando de cidade em cidade o "Evangelho" da morte e ressurreio de Jesus. No lheinteressou narrar a vida de Jesus nem sequer os seus milagres. As Cartas eram o nico meio ao seu alcance paracomunicar com as comunidades recentemente formadas. Entre as Cartas autnticas de Paulo esto, assim, osprimeiros escritos cristos que chegaram at ns.H, pois, uma ntima relao entre as Cartas e a geografia das primeiras comunidades crists dos anos 50-60. OsDoze, que viviam em Jerusalm e viajaram muito pouco, na sua maioria no sentiram a necessidade de escreverCartas. Podiam responder oralmente s pessoas e comunidade. Da o carcter geralmente circunstancial destesescritos, que no tinham propsitos propriamente teolgicos. Paulo era, antes de mais, um missionrio: "Ai demim, se eu no evangelizar!" (1 Cor 9,16). A Carta aos Romanos a excepo mais evidente a este respeito; eColossenses e Efsios preocupam-se mais com a teologia da Igreja do que com os problemas das igrejas.Tudo isto nos manifesta quais eram os problemas e as necessidades das primeiras comunidades crists, tanto

    judaicas como helenistas, s quais Paulo respondeu a partir do Evangelho. Um exemplo de tudo isto o facto dePaulo falar apenas uma vez da Eucaristia (1 Cor 11,17-34), para responder aos abusos que havia na comunidadede Corinto.

    GNEROS LITERRIOS E ESTRUTURA Por tudo o que acabamos de referir, as Cartas de Paulo encerramgneros literrios bem diferentes: desde o tratado teolgico sobre a f, da Carta aos Romanos, at ao simplesbilhete a Filmon, passando pela multiplicidade temtica de 1 e 2 Corntios.Estes gneros literrios devem-se sobretudo ao circunstancialismo das suas Cartas, mas tambm aotemperamento arrebatado de Paulo, unido sua espiritualidade de convertido. No podemos ainda esquecer osmtodos da exegese rabnica em que Paulo era mestre, por ter frequentado a escola de Gamaliel, assim como alinguagem prpria de um semita. Por tudo isto, utiliza frequentemente a linguagem da diatribe cnico-estica e daanttese e do exagero semita (ver Gl 3,19; 1 Cor 2,2). As grandes antteses de contedo teolgico de Paulo so:

    Vida-Morte, Carne-Esprito, Luz-Trevas, Sono-Viglia, Sabedoria-Loucura da Cruz, Letra-Esprito, Lei-Graa (2 Cor3,1-16).As Cartas de Paulo tm uma estrutura prpria deste gnero literrio:Saudao. Paulo dirige-se a determinada comunidade crist e sada-a, por vezes longamente, desejando-lhe osbens cristos em que aparece, com frequncia, a frmula trinitria. Nesta saudao encontra-se j um resumo daf crist.Corpo da Carta. Aqui desenvolve a sua doutrina, faz as suas exortaes e responde aos problemas e questes dacomunidade. Esta parte constitui a quase totalidade da Carta e mostra-nos qual o seu objectivo.Concluso. Por vezes, bastante extensa e contm vrias saudaes e aces de graas de origem litrgica (verFl 4,2-23).

    ESTRUTURA DAS IGREJAS Uma estruturao - ainda que incipiente - da Igreja, mediante os bispos, presbterose diconos, presente sobretudo nas Cartas Pastorais, mostra a necessidade que a Igreja tinha de sobreviver stempestades, de ultrapassar a idade da infncia, em que se sentia a proteco e o acompanhamento dos "pais"fundadores das comunidades.Esta estruturao das igrejas cresce na medida em que diminui a tenso volta do tema da Vinda do Senhor, nostempos escatolgicos, e na medida em que ultrapassada a poca do Kerigma e chega ao seu fim o tempo do

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    carisma dos primeiros evangelizadores. Por isso, 2 Tessalonicenses recrimina os que propalam uma vinda imediatado Senhor (2 Ts 2,1-12).

    TEOLOGIA O contedo teolgico das Cartas de Paulo variado: escatolgico, ou seja, a doutrina que se refereaos ltimos acontecimentos da Histria da Salvao; soteriolgico, sobre o papel de Deus e do crente nasalvao, por meio de Cristo; cristolgico, o lugar central de Cristo na realizao do plano salvador de Deus;eclesiolgico, o papel que Deus confiou Igreja, por meio de Cristo, para a realizao do seu plano de salvaointegral da humanidade.Paulo elabora ainda a Tradio ("pardosis"), a partir de temas tradicionais do judeo-cristianismo ou dohelenismo. Recolhe hinos, por exemplo, imprimindo-lhes um cunho pessoal. A sua teologia est em contnuaelaborao. Por isso, no podemos esperar dele uma teologia plenamente estruturada, nem no seu conjunto nemacerca de qualquer tema especial.O modo como Paulo utiliza o Antigo Testamento ressente-se da sua formao rabnica. Nas 13 Cartas encontramos76 citaes formais introduzidas com as frmulas prprias: "Como diz a Escritura", "Como est escrito". Algumascitaes do AT so feitas com grande liberdade (Rm 10,18: Sl 19,5; Ef 4,8: Sl 68,19), como acontece, por vezes,no Evangelho de Mateus. Um dos processos de argumentao mais utilizados por Paulo corresponde s sete regrasde Hillel. Outro processo de interpretao partir retrospectivamente de Cristo para o AT, fazendo umainterpretao de Cristo como novo Ado (Rm 15,12) ou novo Moiss (1 Cor 10,2). Neste caso, o AntigoTestamento est repleto de figuras e profecias do Novo. Isto coloca-nos uma questo:

    COMO CONHECEU PAULO CRISTO E O CRISTIANISMO? Depois da sua converso, Paulo viveu certamentenalguma ou em vrias comunidades crists, de Damasco ou da "Arbia" e viveu com os Apstolos (Gl 1,15-24). Arecebeu oralmente as instrues necessrias e conheceu coleces escritas ou orais de "Palavras do Senhor". Porisso, na sua argumentao, Paulo distingue as palavras do Senhor das suas prprias palavras ou opinies acercada indissolubilidade do matrimnio, da virgindade (1 Cor 7,10.25) e da retribuio dos ministros do Evangelho (1Cor 9,14; ver 1 Tm 5,18). Outras vezes transmite quase textualmente a doutrina dos Evangelhos que, nessaaltura, ainda no circulavam por escrito (1 Cor 11,23-25) e textos dos Sinpticos sobre a instituio da Eucaristia:Rm 12,14-18 e Mt 5,38-39; 1 Cor 6,7 e Mt 5,39-42; Rm 13,1-7 e Mt 22,15-22; Mc 12,13-17; Lc 20,20-26.A grande preocupao de Paulo consiste em levar o Evangelho, pregado no ambiente da Palestina, para o mundogreco-romano. Por isso, as suas Cartas representam o primeiro e o maior esforo de "inculturao do Evangelho".A passagem da cultura semita para a cultura helenista deve-se sobretudo a Paulo, que levou o Evangelhoanunciado por Jesus de Nazar at s mais remotas regies do Imprio Romano. Isto no quer dizer que Paulo

    tivesse em menor considerao a igreja de Jerusalm e a doutrina da Tradio por ela veiculada (ver Gl 2,2). Asua "viso de Damasco", no se opondo doutrina tradicional, apenas justifica o seu "Evangelho", isto , o novosistema de justia fundado sobre a f e no sobre as obras da Lei, interpretadas no sistema farisaico, que era oseu, quando era rabino (Gl 3,23-24).Teologicamente falando, os escritos de Paulo s se compreendem por esta sua mudana de campo: assimilou osistema teolgico dos cristos de origem helenista, que antes perseguia, e comeou a pregao contra o sistemajudaico, que antes seguia com rigor de fariseu. Os prprios judeo-cristos de Jerusalm foram certamentepoupados na sua "perseguio" ao Cristianismo nascente, porque salvavam a relao umbilical entre Cristo eMoiss e no pareciam a Paulo mais do que um "desvio" farisaico.Esta inculturao do Evangelho na cultura helenista - tipicamente citadina - levou Paulo, homem da cidade, autilizar uma linguagem mais teolgica e abstracta, prpria do ambiente evoludo em que pregou o Evangelho, emcontraposio com a linguagem campestre utilizada por Jesus no ambiente agrcola e pastoril da Palestina.

    PAULO, POR ELE PRPRIO

    Sou Israelita, da descendncia de Abrao, da tribo de Benjamim. (Rm 11,1)

    "Fao-vos saber, irmos, que o Evangelho por mim anunciado, no o conheci maneira humana; pois eu no orecebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelao de Jesus Cristo.Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judasmo: com que excesso perseguia a igreja de Deus eprocurava devast-la; e no judasmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, to zeloso eu eradas tradies dos meus pais.Mas, quando aprouve a Deus - que me escolheu desde o seio de minha me e me chamou pela sua graa - revelaro seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, no fui logo consultar criatura humana

    alguma, nem subi a Jerusalm para ir ter com os que se tornaram Apstolos antes de mim. Parti, sim, para aArbia e voltei outra vez a Damasco.A seguir, passados trs anos, subi a Jerusalm, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. Masno vi nenhum outro Apstolo, a no ser Tiago, o irmo do Senhor. O que vos escrevo, digo-o diante de Deus:no estou a mentir.

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    Seguidamente, fui para as regies da Sria e da Cilcia. Mas no era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristoque esto na Judeia. Apenas tinham ouvido dizer: "Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, comoEvangelho, a f que ento devastava." E, por causa de mim, glorificavam a Deus" (Gl 1,11-24).

    "So hebreus? Tambm eu. So israelitas? Tambm eu. So descendentes de Abrao? Tambm eu. Soministros de Cristo? - Falo a delirar - eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prises,imensamente mais pelos aoites, muitas vezes em perigo de morte.Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta aoites menos um. Trs vezes fui flagelado com vergastadas, uma vezapedrejado, trs vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar.Viagens a p sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmos de raa,perigos da parte dos pagos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsosirmos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez!Alm de outras coisas, a minha preocupao quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem fraco, sem queeu o seja tambm? Quem tropea, sem que eu me sinta queimar de dor?Se mesmo preciso gloriar-se, da minha fraqueza que me gloriarei. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que bendito para sempre, sabe que no minto" (2 Cor 11,22-31).

    Carta aos Hebreus

    Apesar de ser habitualmente conhecido como "Carta", este escrito do Novo Testamento no apresenta um inciode carcter epistolar, mais parecendo o exrdio de um sermo (1,1-4). Tem um tom oratrio, e o autor nuncaaparece a dizer que escreve, mas sempre a dizer que fala (2,5; 5,11; 6,9; 8,1; 9,5; 11,32). S nos ltimosversculos (13,22-25) que temos um final de Carta precedido por uma frase solene (13,20-21), que funcionacomo perorao. Considera-se, por isso, que estamos diante de um sermo destinado a ser pronunciadooralmente (1,1-13,21) e de um pequeno bilhete (13,22-25), que lhe foi acrescentado. Trata-se, ento, mais deum discurso do que de uma Carta em sentido prprio.

    DESTINATRIOS No encontramos no texto nenhuma referncia aos Hebreus como destinatrios, e nada indicaque o grego em que est escrito seja uma traduo do hebraico. , portanto, difcil dizer quais os seusdestinatrios, embora o ttulo "aos Hebreus" seja muito antigo (sc. II).Pode facilmente admitir-se que fosse dirigida a judeo-cristos, saudosos do culto judaico que antes praticavam. O

    ttulo parece justificar-se ainda mais, se tivermos em conta o contedo da Carta, pois ela pressupe leitores bemconhecedores do culto e da liturgia judaica.

    AUTOR, LOCAL E DATA So igualmente imprecisos o autor, o local e a data da sua composio. As Igrejas doOriente consideraram-na sempre como uma Carta paulina, apesar de muitos reconhecerem as suas diferenas emrelao s outras Cartas de Paulo, sobretudo no que se refere forma literria, linguagem e estilo, maneira decitar o AT e mesmo quanto doutrina. A Igreja do Ocidente negou-lhe a autoria paulina at ao sc. IV e ps, porvezes, em questo a sua condio de escrito inspirado e cannico.A questo continuou controversa ao longo da histria da exegese catlica e protestante, mas actualmente quaseunnime a negao da autenticidade paulina. No entanto, admite-se que a CARTA AOS HEBREUS tenha tidoorigem num companheiro ou discpulo de Paulo, pois h vrios pontos de convergncia entre ela e a doutrina doApstolo: a paixo de Cristo como obedincia voluntria, a ineficcia da Lei antiga, a dimenso sacrificial e

    sacerdotal da redeno e alguns aspectos da cristologia. Trata-se, sem dvida, de um sermo cristo, cuja origemremonta Igreja Apostlica, e constitui, por isso, parte integrante da Palavra de Deus.H apenas um dado que pode apontar-nos para o lugar de composio. Trata-se de 13,24: "Os da Itlia sadam-vos." Mas trata-se de uma expresso que nada ajuda, por ser muito vaga e se prestar a vrias localizaes.Quanto data de composio, no pode aceitar-se uma poca muito tardia, pois Clemente de Roma cita-a porvolta do ano 95. Por outro lado, a relativa afinidade entre a sua teologia e a das Cartas do cativeiro (Ef, Cl, Flm),aponta para uma data prxima do martrio de Paulo, situado pelo ano 67. Uma vez que o autor se refere liturgiado templo de Jerusalm como uma realidade ainda actual, tudo parece convergir para que os ltimos anos antesda destruio de Jerusalm e do Templo, ocorrida no ano 70, sejam a data mais provvel da sua composio.

    ESTRUTURA E CONTEDO No fcil encontrar uma nica estrutura para este livro. No entanto, propomos aseguinte:Prlogo (1,1-4).I. O Filho de Deus superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturstica (1,5-14); exortao (2,1-4); Cristo,irmo dos homens (2,5-18).II. Jesus, Sumo Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moiss e fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela f (3,7-4,13); Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).

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    III. Sacerdcio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida crist (5,11-6,12); promessa e juramento deDeus (6,13-20).1. Cristo superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10); sacerdote segundo a ordem deMelquisedec (7,11-28).2. Sumo Sacerdote de uma nova aliana (8,1-9,28): o novo santurio e a nova aliana (8,1-13); insuficincia doculto antigo (9,1-10); o sacrifcio de Cristo definitivo (9,11-14); Cristo, o mediador da nova aliana pelo seusangue (9,15-22); o perdo dos pecados pelo sacrifcio de Cristo (9,23-28).3. Recapitulao: sacrifcio de Cristo superior ao de Moiss (10,1-18): ineficcia dos sacrifcios antigos (10,1-10);eficcia do sacrifcio de Cristo (10,11-18).IV. A f perseverante (10,19-12,29): apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a f exemplar dos antepassados(11,1-40); o exemplo de Jesus (12,1-13); fidelidade vocao crist (12,14-29).Apndice (13,1-25): ltimas recomendaes (13,1-19); bno e saudao final (13,20-25).

    TEOLOGIA Este escrito estabelece uma relao entre o Antigo e o Novo Testamento numa perspectivacristolgica. O tema central o sacerdcio de Cristo e o culto cristo. A novidade grande: uma pessoa, JesusCristo, Filho de Deus e irmo dos homens, o Sumo Sacerdote superior a Moiss e comparvel figura misteriosade Melquisedec. Pela sua morte e glorificao, Ele o mediador entre Deus e os homens; o seu sacrifcio substituitodos os sacrifcios antigos, que j no tm capacidade para elevar o homem at Deus. Pela sua morte, Cristorealiza o perdo dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliana nova e eterna com a humanidade einaugura um novo culto, imagem do culto celeste.

    A Carta apresenta vrias vezes a Igreja como povo de Deus a caminho, e os cristos, como algum que partilha odestino de Cristo e convidado a entrar no seu repouso. H um itinerrio cristo a percorrer, que passa pelaconverso, pela f perseverante, pela aprendizagem da Palavra de Deus e por uma vivncia da caridade fraterna.O cristo aquele que se une a Cristo atravs da sua prpria existncia e no deve separar o culto da vida.Atravs de Cristo, o cristo oferece continuamente a Deus um sacrifcio de louvor, no qual inclui toda a sua vida eparticularmente o seu servio aos outros e a sua caridade. Precisa de manter-se integrado na comunidade crist,de escutar a Palavra e de se manter em comunho com os responsveis, pois no pode chegar a Deus sem estarunido a Cristo e aos irmos.A oferta de Cristo ao Pai "uma vez para sempre" (10,10.14; ver 9,26.28) constitui o grande acontecimentoescatolgico. Por meio deste gesto histrico cumpriu-se o plano salvfico de Deus, embora continue a caminhadahistrica da humanidade at sua entrada na glria. Quando todos os inimigos forem submetidos a Cristo e forvencida a morte e todas as foras histricas, teremos ento a realizao do ltimo acto da Histria salvfica

    Cartas Catlicas

    H um grupo de sete escritos do Novo Testamento que tem este ttulo muito antigo: CARTAS CATLICAS. A partirdo sc. IV, esta designao genrica foi reservada para as sete Cartas cannicas: Tiago, 1. e 2. de Pedro, 1.,2. e 3. de Joo e Judas."Catlico" significa universal, e tal deve ser a origem do nome destas Cartas: eram dirigidas a toda a Igreja, e noa comunidades ou pessoas concretas (excepto 2 e 3 Jo, anexas a 1 Jo). Mas nem todas estas Cartas foram, desdeos primeiros tempos, universalmente reconhecidas como escritos inspirados; por isso, o historiador Eusbiocolocou as Cartas de Tiago, 2. de Pedro, 2. e 3. de Joo e Judas (assim como o Apocalipse) entre os "livrosdiscutidos, embora admitidos pela maioria", aos quais chamamos Deuterocannicos.

    O acordo universal s se deu no Ocidente pelos fins do sc. IV e no Oriente nos sc. VI-VII.Nem os autores, nem os destinatrios, nem os temas tratados ou a sua forma literria justificam que estas Cartasformem um conjunto. Agruparam-se pelo simples facto de no serem escritos paulinos. Mas no tm umdestinatrio concreto, como acontece com as Cartas de Paulo.Nos manuscritos antigos do Oriente apareciam depois de Actos e antes das Cartas de Paulo, pela ordem em quehoje as temos, o que deixa ver o grande valor em que j eram tidas; nos cdices, liam-se no lugar que agoraocupam no conjunto dos livros do Novo Testamento, depois da Carta aos Hebreus e antes do Apocalipse de Joo.

    CONTEDO O que estas Cartas tm de comum a temtica:1. Cuidados a ter com os falsos mestres: 2 Pe 2,1-3.10-22; 3,3-4.16-17; 1 Jo 2,18-23.26; 4,1-6; 2 Jo 7-11;Jd 4-19.2. Necessidade de guardar a integridade da f: Tg 2,14-26; 3,13; 4,3-12; 5,7-11; 1 Pe 2,11-12.13-17; 4,1-4; 2 Pe 3,1-7.14-18; 1 Jo 2,18-29; 4,1-6; 2 Jo 7-11.3. Exortao fidelidade na perseguio: Tg 1,2-4.12; 4,7; 1 Pe 1,6-7; 2,11-17; 3,13-17; 4,12-19; 5,6-10; 1Jo 2,24-28.4. Proximidade do fim dos tempos: Tg 5,3.7-9; 1 Pe 1,5; 4,7; 2 Pe 3,3-4.8-10; 1 Jo 2,18-19; Jd 18.Tal temtica denuncia uma poca relativamente tardia, em que esses problemas eram os mais prementes, devido

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    ao aparecimento das primeiras heresias cristolgicas e a algumas perseguies. Mas estas podem ter vindo dopoder poltico exterior ou do interior da prpria comunidade - ou seja, dos falsos mestres.

    Apocalipse

    Apocalipse um termo grego que significa "revelao". "Revelao" , na verdade, o ttulo com que o ltimo livroda Bblia aparece em algumas edies. O estilo deste livro estranho para a cultura ocidental, mas enquadra-se

    perfeitamente na mentalidade semita.As razes desta literatura encontram-se no Antigo Testamento (Isaas, Zacarias, Ezequiel e sobretudo Daniel), mastambm em vrios livros judeus que no entraram na Bblia: Henoc, 2 Esdras e 2 Baruc. Estes ltimos j foramescritos depois da destruio do Templo. Foi principalmente nestes livros que se inspirou o autor do APOCALIPSEDE JOO.

    GNERO LITERRIO uma literatura prpria das pocas de crise e de perseguio, em que se procura "revelar"os caminhos de Deus sobre o futuro, para consolar e encorajar os justos perseguidos, dando-lhes a certeza davitria final. Era muito comum no fim do AT e mesmo no tempo em que foi escrito o NT, pois vivia-se umambiente apocalptico.Estava-se no "fim dos tempos", isto , adivinhava-se uma revoluo global, com uma radical mudana no modo deser e de viver. Para isso, muito contribuiu a decadncia do Imprio Romano e as guerras da Palestina, que

    levaram destruio do Templo e de Jerusalm, no ano 70. Da os trs textos apocalpticos dos EvangelhosSinpticos, directa ou indirectamente ligados destruio de Jerusalm: Mt 24-25; Mc 13; Lc 21.

    LIVRO Caracteriza-se por imagens grandiosas e simblicas, constitudas por elementos da natureza, apresentadasem forma de vises e "explicadas" ao vidente por um anjo. Tais imagens so tiradas do AT, dos apocalipsesjudaicos, dos mitos e lendas antigas. Assim, o papel dos anjos (7,1-3); o livro selado (5,1); o livro para comer(10,1-11); as trombetas (8,2); as taas (15,7); os relmpagos e troves (4,5; 10,3).Estas imagens sugerem mais do que descrevem, e grande parte delas nada tem a ver com a realidade. Trata-sede puros smbolos (1,16; 5,6; 21,16), que podem referir-se a pessoas, animais, nmeros e cores, deixando aoleitor um espao para alguma criatividade e "inteligncia" (13,18; 17,9).As vises simblicas so projectadas no Cu, para dizer que pertencem ao mundo espiritual, da f e o que nelasse revela acontece tambm na terra. Duas foras antagnicas esto em luta permanente: o Drago - a possvel

    personificao do imprio romano, no tempo de Domiciano (81-96 d.C.) - e o Cordeiro: Cristo, Cordeiro pascal, o vencedor de todas as foras do Mal.

    OCASIO, FINALIDADE E AUTORA perseguio a que se refere o APOCALIPSE poderia ser a que aoitou asigrejas da sia no tempo do imperador Domiciano, por volta do ano 95. Tambm havia as perseguies internas,isto , as heresias, sobretudo os nicolatas (2,6.15), os marcionitas e os que prestavam culto ao imperador.O livro pretende responder questo: "Quem manda no mundo? Os tiranos, os senhores da Terra, ou o Senhor doCu?" Este paralelismo entre o Cu e a Terra assegura aos crentes que Deus os acompanha a partir do Cu, e aHistria segue o seu curso na Terra sob o controlo de Deus e no sob o controlo dos poderes maus. O "vidente"vive na terra mas v o que se passa no Cu e transmite aos seus irmos sofredores a certeza de que Jesus estcom eles e a sua vitria est para breve.O simbolismo, por vezes irracional, de que o autor se serve para transmitir esta esperana aos perseguidos,

    assegura aos cristos que o Reino de Deus ultrapassa a Histria que eles esto a viver, e ao mesmo tempo umalinguagem secreta para os perseguidores.O autor apresenta-se a si mesmo como Joo e escreve em Patmos - pequena ilha do Mar Egeu - onde se encontradesterrado por causa da f (1,9). A tradio identificou este Joo com o Apstolo Joo, mas no existemargumentos suficientes para o comprovar (Mt 4,21; Jo 21,1-14).

    ESTRUTURA E CONTEDO O APOCALIPSE apresenta diversas hipteses de estrutura. Propomos uma diviso emduas partes, depois de uma Introduo (1,1-20):Introduo (1,1-20):Introduo e saudao: 1,1-8;Viso do Ressuscitado: 1,9-20.I. Cartas s Sete Igrejas (2,1-3,22):Sete cartas s igrejas: feso, Prgamo,Tiatira, Sardes, Filadlfia e Laodiceia.II. Revelao do sentido da Histria (4,1-22,5):O trono de Deus: 4,1-11;Sete selos: 5,1-8,5;

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    Sete trombetas: 8,6-11,19;Sete sinais: 12,1-15,4;Sete taas: 15,5-16,21;Queda da Babilnia: 17,1-19,4;Triunfo de Cristo. Nova Jerusalm: 19,5-22,5.Eplogo (22,6-21).

    TEOLOGIA O APOCALIPSE exprime a f da Igreja da "segunda gerao crist", isto , do tempo dos discpulosdos Apstolos. A doutrina do Corpo Mstico (Jo 15,1-8; 1 Cor 12,12-27) recebe aqui nova dimenso: Cristo est nomeio dos sete candelabros (1,13) e tem na mo direita as sete estrelas (1,16), smbolos das sete igrejas, quepersonificam a Igreja universal; Ele apresentado no mesmo plano que Jav e com os mesmos atributos: "oSenhor dos senhores e Rei dos reis" (17,14; 19,16), aquele que tem um "nome que ningum conhece" (2,17; ver1,8.18; 2,27; 3,12; 14,1; 15,4; 19,16).Deus o nico Senhor da Histria, apesar das foras conjugadas de todos os senhores deste mundo; por isso,acontecimentos do AT, como o xodo, as pragas do Egipto, teofanias, destruies... servem de pano de fundo dasnovas intervenes de Deus na Histria do presente.No meio desta Histria, a Igreja aparece como espao litrgico onde o Cordeiro tem presena permanente,fazendo da comunidade "o cu" na terra. Isso no impede que as foras do Mal estejam em luta constante com ela(e com o Cordeiro: 2,3.9.10.13; 3,10; 6,9-11; 7,14).Por isso, o APOCALIPSE no pretende predizer nem "revelar" pormenores sobre o futuro da Igreja e da

    Humanidade, mas conferir a certeza absoluta na bondade de Deus, que se manifestou em Cristo. Tambm no"fecha" a Bblia; mas abre diante do leitor crente um caminho de esperana sem fim: "Eu renovo todas as coisas."(21,5) "Eu venho em breve (...). Vem, Senhor Jesus!" (22,7.20).