Saga e persistência - scientiaconsultoria.com.br · sobre o tema da arqueologia, com o atendimento...

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Saga e persistência: A histórica formação do sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos Daniel Cruz Lílian Panaachuk PROGRAMA DE EDUCAçãO PATRIMONIAL DO PROJETO DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NA áREA DE INTERVENçãO DAS OPERAçõES DE NíQUEL ONçA PUMA E LINHA DE TRANSMISSãO ASSOCIADA, SUDESTE DO PARá

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Saga e persistência:A histórica formação do sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos

Daniel CruzLílian Panaachuk

ProgrAmA De eDuCAção PAtrimoniAL Do Projeto De ArqueoLogiA PreventivA nA áreA De intervenção DAs oPerAções De níqueL onçA PumA e LinhA De trAnsmissão AssoCiADA, suDeste Do PArá

OrganizaçãoDaniel CruzLílian Panachuk

Consultoriaeneida malerbisolange Caldarelli

Revisão Ortográficatatiane Lima Ferreira

PatrocínioCompanhia vale do rio Doce

Realizaçãoscientia Consultoria Científica

Diagramação, edição e capaestúdio Zebra serviços editoriais

Ficha catalográfica elaborada por Wagner de Araújo silva – CrB 8/ 8960c

saga e persistência: A histórica formação do sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos

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APReSentAçãO .............................................................................................................................7

IntRODuçãO .................................................................................................................................11

Bandeirantes nos sertões da Amazônia ................................................................................13

CAPítulO 1 HIStóRIAS COlOnIAIS nO SuDeSte DO PARá .............................................................................13

Amazônia internacional ...........................................................................................................16

A reação portuguesa na Amazônia .........................................................................................18

A ação missionária ...................................................................................................................20

As reformas pombalinas e a Amazônia ..................................................................................27

Conclusões ................................................................................................................................28

Frentes de expansão agrícola .................................................................................................33

CAPítulO 2 A FORmAçãO DO POvO BRASIleIRO nO SuDeSte DO PARá .....................................................33

os indígenas no sudeste do Pará ............................................................................................38

o desenvolvimentismo na Amazônia .....................................................................................46

As estradas ...............................................................................................................................49

o minério .................................................................................................................................51

A barragem ..............................................................................................................................52

Conclusões ................................................................................................................................53

As fontes de pesquisa .............................................................................................................55

CAPítulO 3 BReve HIStóRICO DA FORmAçãO DOS munICíPIOS ..................................................................55

Xinguara ...................................................................................................................................56

tucumã .....................................................................................................................................58

ourilândia do norte .................................................................................................................62

são Félix do Xingu ...................................................................................................................65

água Azul do norte .................................................................................................................70

Sumário

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CAPítulO 4 ARqueOlOgIA nO SuDeSte DO PARá .........................................................................................75

Alguns conceitos arqueológicos ..............................................................................................76

o que é sítio arqueológico? .....................................................................................................77

Como se faz uma datação? .....................................................................................................79

o que é tradição Arqueológica? ..............................................................................................86

quais as sociedades são estudadas pela arqueologia? .........................................................86

Periodização da história pré-colonial brasileira .....................................................................87

histórico das pesquisas arqueológicas na região ...................................................................88

o que mudou desde as primeiras pesquisas até a contemporaneidade? ............................90

Contexto arqueológico geral: panorama amazônico .............................................................91

Contexto arqueológico regional e local: área de pesquisa ....................................................107

Conclusões ................................................................................................................................122

CAPítulO 5 SugeStõeS De AtIvIDADeS PARA O COntextO eSCOlAR ...........................................................125

inserção do tema patrimônio cultural no cotidiano escolar ..................................................126

1: reConheCimento De um oBjeto ........................................................................................127

2: museu DA FAmíLiA ..............................................................................................................128

3: umA DesCrição Do Xingu no sÉCuLo Xvii .......................................................................129

4: memÓriAs De FAmíLiA ........................................................................................................130

5: meu PAtrimÔnio .................................................................................................................131

6: o tuPi que FALAmos ...........................................................................................................132

7: ArqueoLogiA LÓgiCA ..........................................................................................................133

8: A ArqueoLogiA que eu vejo ..............................................................................................136

9: PinDorAmA .........................................................................................................................138

10: A LouçA queBrADA...........................................................................................................139

11: o ArqueÓLogo Do Futuro ..............................................................................................140

12: CADerno De AtiviDADes PArA ALunos e seus FAmiLiAres ...........................................144

vídeo “A Fertilidade da terra” ................................................................................................148

Atividade 1: os ofícios do lugar ..............................................................................................148

5

Atividade 2: o valor da história de cada um ..........................................................................150

Atividade 3: Arqueologia, a história das pessoas através das coisas ...................................152

Atividade 4: oficinas em educação Patrimonial .....................................................................155

Produção local: os planos de aula feitos pelos educadores do sudeste do Pará .................156

Atividade 1: “o patrimônio cultural” .....................................................................................156

Atividade 2: “o investigação dos povos maia” ....................................................................156

Atividade 3: “memorial de ourilândia do norte-PA” ...........................................................157

Atividade 4: “Patrimônio Cultural Local” ..............................................................................158

Atividade 5: “Arte indígena” ..................................................................................................159

Atividade 6: “As Aldeias indígenas” ......................................................................................159

Atividade 7: “Patrimônio Cultural de tucumã (material e imaterial)” ................................160

Atividade 8: “As Brincadeiras Antigas” ................................................................................161

Atividade 9: “Construindo minha linha do tempo” ..............................................................161

Atividade 10: “o surgimento de tucumã” ............................................................................162

Atividade 11: “A história de tucumã” ...................................................................................163

Atividade 12: “Patrimônio Cultural” ......................................................................................163

Atividade 13: “A valorização do Patrimônio Cultural” ..........................................................164

Atividade 14: “história de tucumã” ......................................................................................165

Atividade 15: “Cultura indígena Kayapó” ..............................................................................165

Atividade 16: “Cultura indígena: Danças e Costumes” .........................................................166

Atividade 17: “os projetos de integração na Amazônia” .....................................................167

Atividade 18: “Arqueologia em ourilândia do norte” ..........................................................168

Atividade 20: “ourilândia, nossa história” ............................................................................168

SIglAS utIlIzADAS nO lIvRO ......................................................................................................169

ReFeRênCIAS .................................................................................................................................171

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Ao serem construídas, as gran-des obras causam profundas modificações nos locais onde

são instaladas: alteram a paisagem, re-volvem o solo, trazem novos morado-res... Para que essas modificações sejam conduzidas de modo planejado e os danos ao meio ambiente sejam reduzi-dos, o governo exige, das empresas res-ponsáveis pelas obras, o Licenciamento Ambiental – isto é, um grande estudo realizado antes do início das obras, por profissionais de várias áreas de pesqui-sa, inclusive os profissionais da Arque-ologia. Os objetivos do licenciamento ambiental são conhecer as plantas, os animais, o ambiente, as pessoas da re-gião e sua história; saber quais modifi-cações serão causadas pela construção e os cuidados necessários para que não se percam conhecimentos importantes. A empresa responsável deve pagar toda a pesquisa necessária1.

O profissional em Arqueologia estu-da as populações humanas que viveram no passado mais recente ou mais antigo,

1 ARAÚJO COSTA, 2008.

por meio dos vestígios que elas deixa-ram, que resistiram às intempéries e, de modo geral, são encontrados no solo; eles podem ser de tipos variados – uten-sílios, ferramentas, armas, remanescen-tes de moradias ou de locais de traba-lho, desenhos pintados ou gravados em paredes de pedra – e frequentemente se encontram quebrados ou em estado de grande fragilidade. Cada local onde se encontram esses vestígios constitui um sítio arqueológico2.

Na área de influência da Mineração Onça Puma, dezenas de sítios arque-ológicos foram identificados e muitos deles estudados. Alguns dos resulta-dos dessas pesquisas foram apresenta-dos aos profissionais da empresa e às populações de Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e Agro-vila Minerasul (São Félix do Xingu), entre 2007 e 20093.

2 Idem, ibidem.3 Municípios que integram a área afetada pelo empreendimento Mineração Onça Puma para estudos de arqueologia preventiva.

Apresentação

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Professora, professor,

se você participou das ações de educação Patrimonial realizadas em água Azul do norte, ouri-

lândia do norte, tucumã e Agrovila minerasul (são Félix do Xingu), entre 2007 e 2009, certamente

relembrará de que, além das palestras para profissionais da mineração onça Puma, ocorreram ofici-

nas com 87 professores e 713 alunos, no âmbito escolar; e também a semana do Patrimônio Cultu-

ral envolvendo segmentos das populações municipais nas oficinas de audiovisual, argila, bordado e

xilogravura, num total de 1.157 participantes. todas essas ações ressaltaram as referências culturais

regionais e locais, muitas vezes, a partir das vozes dos próprios moradores. Caso você não tenha

participado diretamente daquelas atividades, o contato com seus colegas permitirá contatar essa

memória. mais recentemente, em 2013 e 2014, os educadores receberam novas ações de formação

sobre o tema da arqueologia, com o atendimento de mais de 200 participantes em nossos cursos

de formação; além de cerca de 250 visitas feitas pela comunidade à exposição de arqueologia apre-

sentada em ourilândia do norte.

os textos de apoio e as sugestões de atividades formam um conjunto com o documentário

A fertilidade da terra – uma experiência de educação patrimonial no sudeste do Pará. Foram

pensados e realizados para serem instrumentos de sua prática profissional. esse conjunto de ma-

teriais pretende mostrar que, embora municípios de origem recente, os territórios de água Azul do

norte, ourilândia do norte, tucumã e são Félix do Xingu (especificamente a Agrovila minerasul)

possuem, no presente, importante conjunto de bens culturais, que não pode ser separado do igual-

mente rico, embora ainda pouco conhecido, patrimônio cultural do passado. esses bens culturais do

passado, em inúmeros casos, somente foram revelados pela pesquisa arqueológica.

ora, se não conhecemos nem valorizamos nosso modo de vida, nossas paisagens naturais e

culturais, nossas edificações, nossos saberes, nossas festas, não saberemos proteger nem conservar

esses bens. Da mesma forma, se não soubermos inserir esse modo de vida presente no contexto

do passado, se não conhecermos o significado dos fragmentos cerâmicos, dos objetos de pedra, dos

sepultamentos, das terras pretas e de outros vestígios de antigas ocupações humanas que frequen-

temente ocorrem na região, não saberemos conferir a eles seu imenso valor, nem proteger essa

riqueza histórica e cultural.

então, existe um conjunto de bens, isto é, um patrimônio cultural, que é preciso conhecer,

valorizar e proteger. incluir essa missão no cotidiano escolar, propiciar esse conhecimento e essa

prática aos estudantes, pode levar ao fortalecimento da identidade local e, certamente, constitui

importante exercício de cidadania.

A equipe de educação Patrimonial da scientia Consultoria espera que você realize um bom trabalho!

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Este livro foi escrito com o ob-jetivo de contar um pouco da história da região sudeste do

Pará, mais especificamente dos municí-pios que são atendidos pelo Programa de Educação Patrimonial desenvolvido dentro da área de intervenção das ope-rações de níquel Onça Puma, da Vale, e executado pela Scientia Consultoria Científica desde o ano de 2006.

Para entendermos os processos que resultaram na recente ocupação da re-gião é necessário retornar no tempo e compreender o processo de ocupação do espaço Amazônico de maneira mais abrangente. Para isso, dividimos o livro em dois blocos: o primeiro conta a histó-ria a partir do contato com o europeu na região, por intermédio do que chamamos de fontes secundárias, que consistem nos livros sobre os temas investigados, arti-gos, matérias em revistas e sites da Inter-net e documentos públicos; o segundo bloco conta a história antes do contato

com os europeus e tem como fonte prin-cipal as pesquisas arqueológicas realiza-das no âmbito do projeto Onça Puma, além dos livros, artigos e dissertações disponíveis sobre o tema.

Com o objetivo de difundir as infor-mações aqui contidas, inserimos neste livro uma série de sugestões de ativida-des pedagógicas que foram elaboradas especialmente para tratar os resultados desta pesquisa. Existem atividades ela-boradas para idades e disciplinas dife-rentes, com diversos recursos didáticos, incluindo o vídeo “A fertilidade da ter-ra”. O material compõe o conjunto de subsídios didáticos preparado especial-mente para o trabalho docente.

A área de estudo tem um históri-co bastante recente, com seus municí-pios formados na segunda metade do século XX. No entanto, a região era conhecida pelos portugueses desde o século XVI e foi visitada pelos france-

Introdução

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ses e explorada pelos jesuítas no século seguinte. Além disso, antes da chegada do colonizador, o território era ocupa-do por um grande número de etnias in-dígenas, como descrevem os primeiros viajantes, dados também corroborados pela pesquisa arqueológica.

Pretendemos, então, mostrar um pouco da história da Amazônia a partir do ponto de vista do sudeste paraense, ou seja, como a dinâmica da sociedade brasileira afetou essa região de alguma maneira em cada século, desde a sua descoberta pelo colonizador europeu.

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Neste capítulo, interessa deba-ter sobre os processos colo-niais impetrados no sudeste

do Pará, avaliando as consequências para a contemporaneidade. O período tratado corresponde à chegada à Amazônia dos colonizadores e a ocupação de seu terri-tório. Abordaremos desde os primeiros contatos entre os nativos e os colonos até as reformas de Marquês de Pombal, na se-gunda metade do século XVIII.

Bandeirantes nos sertões da Amazônia

A região Norte não teve um papel prioritário no plano de colonização dos portugueses, que haviam chegado ao território brasileiro em 1500. Durante o primeiro século (1500-1600), nenhum plano de ocupação da área foi elabo-rado. As primeiras cidades foram fun-dadas no litoral do nordeste e sudeste,

onde era possível extrair rapidamente os recursos que a nova colônia oferecia, como o pau-brasil. Não havia colonos suficientes para ocupar a vasta área, ain-da desconhecida, e a maior parte do ter-ritório da região Norte estava em terras consideradas espanholas pelo Tratado de Tordesilhas (figura 1).

Capítulo 1Histórias Coloniais no Sudeste do Pará

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Se não havia um projeto de colo-nização, o processo de exploração do território foi intenso. Os portugueses organizavam expedições com as mais diversas finalidades para a exploração do “sertão”. Essas viagens conhecidas na historiografia como “bandeiras”, ti-nham como principal ponto de partida o estado de São Paulo. Em sua maioria, eram viagens patrocinadas pela inicia-tiva privada. A principal finalidade era a procura por fontes de minerais pre-ciosos, mas na ausência destas (muito comum), a fonte de renda era o apresa-mento dos nativos, que eram vendidos como escravos. Ocorreram mais fre-quentemente entre 1580 e 1730 (FER-REIRA, 1977, p. 168).

Figura 1: traçado do tratado de tordesilhas e ocupação inicial do território brasileiro.

Disponível em: http://www.trabalhosescolares.net/img/tratado_de_tordesilhas_tratado_de_saragoza.jpg

Neste contexto de exploração de um continente ainda desconhecido difundiu-se, entre outras histórias fan-tásticas, o mito da Paraupava (FER-REIRA, 1977, p. 169). Ferreira narrou à existência de uma grande lagoa no sertão, com uma infinidade de riquezas e que originaria diversos rios, inclusive em direção ao Amazonas e teve farta representação cartográfica (figura 2).

Em busca dessa terra prometida, os primeiros bandeirantes paulistas chegaram aos rios Araguaia e Tocan-tins, com as bandeiras de Domingos Rodrigues (entre 1596 e 1600) e André Fernandes (entre 1613 e 1615). Entre 1590 e 1720, mais de uma dezena de bandeiras partiu de São Paulo rumo

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America meridionalis - mercator - hondius, 1630.

Antique map of south America by g. mercator & j. hondius, with an inset view of Cusco.

Disponível em: http://digital.library.yale.edu/cdm/ref/collection/1026_1/id/2124

Figura 2: mapa com destaque da área de Paraupava.

aos sertões, que possivelmente atingiu os cursos dos rios Tocantins e Ara-guaia (FLORES, 2006, p. 51).

Assim, possivelmente os primeiros “homens brancos” a andarem pela re-gião atual do sudeste paraense foram os paulistas, no final do século XVI (figu-ra 3). No entanto, essas expedições não deixaram vestígios, pois os bandeirantes não se fixavam ou fundavam vilas. Pelo contrário, em suas expedições atacavam

e escravizavam as populações indígenas que encontravam pela frente, removen-do-as de seus locais de origem ou ainda as exterminavam.

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Amazônia internacional

Apesar da exploração intensa dos sertões4, a colonização portuguesa es-tava concentrada na costa atlântica, entre o litoral do Rio de Janeiro e Per-nambuco. O contexto econômico, de modelo mercantilista, favorecia o co-mércio e para o desenvolvimento deste era necessário buscar novos produtos. O contexto político e econômico eu-ropeu no final do século XVI era di-ferente de quando Portugal e Espanha

4 Sertão atualmente costuma ser associado à região Nordeste, mas no período colonial designa uma região afastada dos centros urbanos, geralmente o interior do país.

haviam assinado o Tratado de Tordesi-lhas. Diversos estados haviam promo-vido à unificação e o fortalecimento econômico.

A França não reconhecia a legiti-midade do acordo ibérico e tentou por duas vezes instalar colônias em territó-rio brasileiro: França Antártica, no lito-ral do Rio de Janeiro, entre 1555 e 1560; e França Equinocial, no Maranhão en-tre 1594 e 1615 (THEVÉT, 1944, SAL-VADOR, 2011, ABBEVILLE, 2002). Os holandeses, mesmo em guerra con-tra os espanhóis, fundaram em 1602 a Companhia das Índias Orientais, ins-tituição privada de financiamento ao comércio e colonização. Por meio dela, estabeleceram tentativas de ocupação da foz Amazônica no litoral do Ama-pá (1600-1625) e no litoral do nordeste (1624 e 1654) por um longo período, até a expulsão pelos portugueses. Os in-gleses organizaram uma companhia no mesmo modelo da holandesa, em 1600, e estabeleceram feitorias e fortificações na foz do Amazonas e na região da atu-al cidade de Macapá, de onde foram ex-pulsos por volta de 1630.

O objetivo dessas feitorias e fortifi-cações era a coleta, armazenamento e comércio das drogas do sertão. Havia plantações de tabaco, urucum e algodão, além do escambo desses produtos com as populações locais. Não foi empregado

Figura 3: Percurso das bandeiras do século Xvi e Xvii.

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trabalho escravo neste e as redes de tro-ca existentes nas comunidades nativas da Guiana foram aproveitadas pelos comer-ciantes, que rapidamente dominaram as línguas locais (HULSMAN, 2012).

Essas nações, excluídas do Trata-do de Tordesilhas, procuravam ao seu modo tirar proveito do continente ain-da desconhecido. Estabeleceram redes de troca com os nativos, aprenderam a língua local e mantiveram relações amistosas. As tropas das fortalezas e feitorias eram constituídas principal-mente por nativos, convencidos a alia-rem-se. Não foram os portugueses os primeiros europeus a navegar pelas

águas do rio Tocantins e provavelmen-te do rio Xingu. O francês Monsenhor de La Blanjartier, em uma expedição de 1610 que partiu do Maranhão, foi apontado como o primeiro navegador das águas do Tocantins e Daniel de La Touche e La Planque, em 1613, foram os primeiros a navegar acima das ca-choeiras de Itaboca (LEITE, 1943, p. 313-315).

Para melhor entender a localização dos fortes na região durante o Período Colonial, foi feito um mapa para deli-mitar as áreas de ocupação holandesa, portuguesa e inglesa na Amazônia do século XVII (figura 4).

Figura 4: Fortificações estrangeiras na Amazônia brasileira em 1610.

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A reação portuguesa na Amazônia

A reação portuguesa aos invasores europeus ocorreu somente após a unifi-cação das Coroas Ibéricas, período en-tre 1580 e 1640, quando o rei Espanhol Felipe I governou a Espanha e Portu-gal. A Paraíba foi conquistada em 1584 e São Luís, no Maranhão, em 1615, de-cretando o fim da França Equinocial.

Os portugueses estavam mais pró-ximos do que nunca da Amazônia e o cenário internacional da União Ibérica, que eliminou as fronteiras do Tratado de Tordesilhas possibilitava a expansão da colonização para o oeste. De São Luís, no ano de 1615, partiu uma expedição comandada por Francisco Caldeira Cas-telo Branco, com o objetivo de conquis-tar a foz do Amazonas. Em 1616, foi fundada a fortaleza que deu origem à cidade de Belém chamada então de For-te do Presépio, na localidade nomeada cidade do Pará ou Santa Maria do Grão Pará (AMARAL, 2004, p. 54-55).

O início da nova colônia foi confli-tuoso, tanto na disputa interna pelo po-der quanto na relação externa, com as populações autóctones. Castelo Branco não teve um bom relacionamento com os Tupinambás, etnia indígena local que ocupava a região antes da chegada dos portugueses, e uma série de disputas pelo território teve início. Os inciden-

tes foram violentamente punidos, o que acarretou numa rebelião indígena e uma tentativa de invasão do Forte do Presé-pio pelos indígenas das aldeias locais, em 1618. A investida foi malsucedida e a represália severa só piorou a situação da colônia. Os primeiros anos de exis-tência da cidade serviram apenas para tomar posse e assegurar a região.

Após o estabelecimento do novo núcleo de colonização, os portugueses passaram a combater o que julgavam serem invasores internacionais. Pos-sivelmente, havia mais de uma dezena de fortificações e feitorias estrangeiras. A conquista destas localidades ocorreu por campanhas militares, com tropas formadas por colonizadores e nativos, aliados ou escravizados.

Entre os conquistadores, dois por-tugueses se destacaram: Bento Maciel Parente e Pedro Teixeira. O primeiro participou da campanha de Alexandre de Moura, que expulsou os franceses de São Luís em 1615 e construiu um for-te na foz do rio Erepecuru, em 1620. Foi nomeado capitão-mor do Grão Pará em 1621, quando reforçou a fortificação e ordenou a expulsão dos ingleses e holan-deses instalados na Amazônia. Até 1625, Parente auxiliou na conquista dos fortes de Nassau, Orange, Mariocai e Santo Antônio do Gurupá, além de fundar no-vas colônias nos locais, algumas das quais

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permaneceram até hoje, como Gurupá. Em reconhecimento aos seus feitos, re-cebeu a Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, doada por Filipe III, de Portugal. Também ficou conhecido como “o flagelo dos Tupinambás”, pela sua ação contra essa etnia no Maranhão (GADELHA, 2002).

Pedro Teixeira chegou a Belém na expedição de Castelo Branco, em 1616, e participou de ataques aos for-tes holandeses ao lado de Maciel Pa-rente, em 1625. Até o ano de 1637, os portugueses expulsaram a maior parte daqueles que consideravam in-vasores, em geral outros europeus, da foz do Amazonas. Mas o principal fei-to de Pedro Teixeira foi a viagem que realizou entre 1637 e 1639, que tinha como objetivo “reconhecer minuciosamen-te o rio até Quito, verificar os melhores luga-res em que o rio pudesse ser fortificado (...), e finalmente fundar (...), uma povoação que marcasse os limites no Amazonas da sobe-rania portuguesa.” (CORTESÃO, 1965, p. 405 apud REZENDE, 2006, p. 72).

A viagem teve início em Gurupá (outubro de 1637) e atingiu Quito, no Peru, em outubro de 1638. Em agosto de 1639, Teixeira já havia retornado para Belém. Nesta viagem de retorno, fundou o povoado de Franciscana, às margens do Rio Napo, atual Equador, com o ob-jetivo de demarcar a fronteira do terri-

tório português. A viagem exploratória reconheceu locais com posição geográ-fica estratégica, onde diversas missões e fortalezas seriam instaladas anos mais tarde. Também abriu uma tentativa de rota comercial entre as terras altas andi-nas e a Amazônia brasileira, reconheceu e demarcou o território de domínio por-tuguês, ultrapassando em mais de 1.500 km o limite do Tratado de Tordesilhas.

Outro ponto importante para a ex-pansão portuguesa na Amazônia foi a criação da unidade administrativa do Es-tado do Maranhão, do qual faziam parte as Capitanias do Maranhão, Pará, Piauí e Ceará, pelo rei espanhol Felipe II, em 1621, período da União Ibérica. A unida-de administrativa separava a região norte, o Estado do Maranhão, das demais regi-ões da Colônia, unidas sob o nome de Estado do Brasil. A então Santa Maria do Grão Pará, conhecida hoje como Be-lém, localizava-se geograficamente mais próxima de Portugal do que o Rio de Janeiro e essa proximidade possibilitaria uma supervisão mais próxima e estimu-laria o crescimento econômico regional.

Assim, podemos caracterizar o pe-ríodo da conquista do Maranhão até a viagem de Pedro Teixeira como uma fase de implantação da empresa colo-nial e expulsão pelos portugueses dos demais europeus que consideravam in-vasores estrangeiros.

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A ação missionária

Para assegurar o vasto território conquistado e demarcado era necessá-rio ocupá-lo, física e ideologicamente. A existência da população indígena era bem conhecida por intermédio dos re-latos das viagens e havia grande densi-dade populacional na margem dos gran-des rios, como foi narrado por Raposo Tavares. A sua expedição, que partiu de São Paulo, em 1647, e atingiu o alto cur-so do rio Madeira dois anos depois, foi descrita pelo Padre Antônio Vieira:

Quinze dias depois de começar a viagem

pelo rio, começaram a ver povoações e, desde

então não houve um dia em que não vissem

algumas, e geralmente viam muitas todos os

dias. Eles viram cidades com 300 cabanas [...]

com muitas famílias vivendo em cada uma

delas [...] Calcularam que [uma nação] con-

tinha 150 mil almas. (ANTÔNIO VIEIRA,

ao jesuíta provinciano no Brasil, c. janeiro de

1654, apud HEMMING, 2009, pg. 90).

Essa população não foi encarada como legítima e os seus direitos foram suprimi-dos. Os colonizadores enxergaram nela, em um primeiro momento, uma opor-tunidade financeira pelo uso do trabalho compulsório dos indígenas, equivalente à sua escravização. Mesmo sendo uma prá-tica tecnicamente ilegal, com diversas leis portuguesas sobre o tema, havia grande pressão dos proprietários de terra. Assim, os habitantes locais eram obrigados a tra-balhar para os colonos de duas maneiras:

voluntariamente, saindo de suas áreas tra-dicionais e ficando perto das cidades ou das missões; involuntariamente, através da escravidão legal.

A primeira opção consistia em tra-balho obrigatório de ambos os sexos, por diversos meses do ano e no restan-te do tempo, poderiam produzir para o sustento próprio. Também havia um pagamento irrisório, em algodão, ou bens afins. A segunda opção era ainda mais violenta: os povos que resistissem ao domínio português ou à conversão ao cristianismo, poderiam ser legalmen-te escravizados (HOORNAERT, 1979).

Muitas etnias resistiram e a maioria foi dizimada por ataques portugueses. Grande parte da população preferiu submeter-se às missões religiosas, que dentre as possibilidades de existência, era a menos cruel. O relato feito pelo je-suíta Cristóbal de Acuña, enviado pelos espanhóis de Quito, para acompanhar Pedro Teixeira na sua viagem de retor-no à Belém é uma excelente obra, que descreve o ambiente do rio Amazonas e também as populações nativas, suas diversas etnias, hábitos alimentares, tec-nologias, mas também mostra como era feita a escravização indígena.

Próximo à aldeia do Tapajós – atual re-gião de Santarém no Pará – onde a expe-dição de Pedro Teixeira foi acolhida pelas

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populações autóctones, o filho de Bento Maciel, homônimo do pai, fez uma investi-da na qual capturou 200 escravos, prende-ram os guerreiros da aldeia e violentaram suas mulheres e filhas. Esses relatos seriam importantes na argumentação dos jesuítas para a necessidade de outro tratamento com a população nativa (LEITE, 1943).

Portanto, a política indigenista con-sistiu de parte chave da política do Esta-do para a região Amazônica nesta épo-ca. Por intermédio da ação missionária, a Coroa Portuguesa garantiu a ocupa-ção territorial e a expansão de seus do-mínios. Desta maneira, foi estabelecida a implantação de um modelo cristão e católico a serviço do estado.

O modelo de aldeamento foi fruto da experiência do Padre Manoel da Nóbrega, em Salvador, em meados do século XVI e foi utilizado por mais de dois séculos como metodologia para a aproximação das populações nativas. Consistia em três aspectos fundamentais: a instalação do al-deamento, com a construção da igreja e da residência do missionário em um local já existente (aldeia), ou em um novo; a ca-tequese, conversão espiritual e batismo e ainda os “descimentos”, ou seja, o deslo-camento de novos grupos indígenas para os aldeamentos já estabelecidos, visando concentrar a catequese naqueles espaços e compensar os decréscimos populacionais causados por fugas, deserções e mortes.

Segundo Serafim Leite (1943), exis-tiam três tipos de aldeamentos: aldea-mentos a serviço dos religiosos, que ser-viam exclusivamente a eles; aldeamentos do serviço real, que atendia aos serviços públicos, como salinas e pesqueiros; e os aldeamentos distantes da vilas e cidades, destinados à catequese dos índios e sem os encargos das outras citadas, que tam-bém pode ser denominado missão.

O objetivo dessas ocupações era a evangelização das populações indígenas. No entanto, essa evangelização não con-sistiu apenas em disseminar uma nova crença, mas impor um sistema cultural distinto, com diferentes valores morais, políticos, religiosos e econômicos.

... na Amazônia, as missões religiosas foram

extremamente importantes para a ocupação

territorial e consequente expansão dos domí-

nios coloniais portugueses. As missões con-

tribuíram para fixar os marcos de penetração

ao longo da extensa rede fluvial amazônica e

foram utilizadas sistematicamente pela coroa

para a realização de uma política expansionis-

ta, seja na aculturação dos gentios america-

nos, seja na implantação de um modelo cris-

tão e católico a serviço do estado português.

(REZENDE, 2006, p. 102).

Os aldeamentos, além de criar uma reserva de mão de obra desejada pelos colonos, propiciou um trabalho coti-diano de catequese. Os jesuítas tinham como objetivo o abandono de aspectos fundamentais da vida cultural das so-

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ciedades indígenas, como a antropofa-gia (canibalismo), nomadismo, poliga-mia, entre outros, para que pudessem ser considerados cristãos verdadeiros. Assim, foi fundamental a sujeição dos indígenas aos jesuítas, deixando de pra-ticar o que contradizia ou impedia a aceitação do cristianismo.

O aldeamento em si, a disposição das casas,

a posição central assumida pela igreja (nor-

malmente, tendo à frente um cruzeiro e uma

enorme praça), a divisão da rotina entre as

atividades produtivas e de aprendizado, tudo

isso, para além dos conteúdos doutrinais e

culturais transmitidos pelos missionários,

contribuía para introduzir novos hábitos, no-

vas concepções de tempo, espaço, moradia,

família, trabalho, produção e sobrevivência,

transformando a aldeia em um “grande pro-

jeto pedagógico total (NEVES, 1978:162).

Na então Santa Maria do Grão Pará, conhecida hoje como Belém, diversas ordens religiosas instalaram-se com o objetivo de promover a catequização. Os Capuchos da Província de Santo Antônio, Franciscanos, foram os pri-meiros a chegar, em 1617, seguidos pe-los Carmelitas (1626), Jesuítas (1636) e Mercedários (1639). O início da cate-quese e os primeiros aldeamentos foram conduzidos pelos Franciscanos. Após a chegada do Padre Luís Figueira, jesuíta vindo do Maranhão, teve início a ação missionária da Companhia de Jesus na Amazônia portuguesa. Os Carmelitas e os Frades da Piedade encarregavam-se

da moralização interna das conquistas (HOORNAERT, 1990).

O primeiro aldeamento missionário foi fundado por Frei Cristóvão de São José, capuchinho da Ordem de San-to Antônio, na margem esquerda do rio Tocantins, para a catequização dos índios Camutás, no ano de 1617. Esse aldeamento deu origem ao município de Cametá. Em 1625, frei Cristóvão de Lisboa ultrapassou as cachoeiras do Ita-boca e fundou uma missão franciscana no alto rio Tocantins, no extremo nor-te do estado de Goiás, para a qual não existem muitas informações.

Mas é a partir da ação dos missioná-rios da Companhia de Jesus, iniciada em 1636, que os aldeamentos seriam ampla-mente difundidos no vale amazônico. A ação dos jesuítas teve início com a via-gem de Luís Figueira pelo Tocantins, Pa-cajá e Baixo Xingu. Ele visitou diversas aldeias, o que lhe proporcionou um bom conhecimento da região e da situação da população nativa. Assim que retornou dessa viagem, foi chamado a Portugal, onde publicou o livro Memorial sobre as terras e gentes do Maranhão, Grão-Pará e o rio Amazonas, no qual também apontou as prioridades missionárias: organizar e moralizar os colonos, amparar e conver-ter os índios e criar um bispado no Esta-do do Maranhão, subordinado a Lisboa (LOUREIRO, 1978).

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Esse relato é seguido por uma mu-dança política importante, o término da união das Coroas Ibéricas, com o res-tauro da monarquia portuguesa com o Rei Dom João VI. O apoio da Compa-nhia de Jesus na restauração e o relato de Figueira propiciaram a exclusividade dos cuidados do projeto missionário aos jesuítas, substituta da Ordem dos Franciscanos, a partir de 1640.

O crescimento da Companhia de Jesus fez com que 14 sacerdotes dei-xassem Portugal, rumo à Belém. A em-barcação naufragou próxima à ilha de Marajó e 11 sacerdotes foram mortos pela população nativa. Entre as víti-mas estava o Padre Luís Figueira. Esse acontecimento atrasou a ação missio-nária por mais alguns anos. Deste pe-ríodo, datam ainda a fundação de dois aldeamentos: Arucará ou Aricará, dos jesuítas, na margem direita do rio Xin-gu, fundado em 1639 e que deu origem à cidade de Souzel, atual Senador José Porfírio; Aldeamento Muturu, dos ca-puchos de São José, de 1635, que deu origem à cidade de Porto de Moz, tam-bém no rio Xingu.

A instalação efetiva da Companhia ocorreu na década de 1650, a partir da chegada de novos religiosos, com es-pecial destaque para o Padre Antônio Vieira, em 1653. Este período, que se estende até 1686, é caracterizado como

a segunda fase da atuação dos jesuítas na Amazônia, quando os conflitos entre os colonos e missionários sobre a mão de obra indígena são a principal marca.

Os colonos exigiram o direito de es-cravizar os indígenas e os missionários de evangelizá-los. As leis, hora cederam aos interesses dos colonos, hora aos re-ligiosos. Os jesuítas foram expulsos pela primeira vez do Maranhão em 1661 e novamente em 1684. Apesar das der-rotas, a Companhia cresceu e instalou dezenas de missões, nos atuais estados do Amazonas e do Pará.

Na área do Tocantins existiram al-deamentos no seu alto curso, região de Goiás e também na sua foz, em Cametá. É possível que tenha existido um aldea-mento fundado por Luís Figueira, logo após a fundação de Belém, na região de encontro dos rios Tocantins e Ara-guaia, mas existem poucas e divergentes informações acerca da localização da mesma. Mas mesmo sem a fundação de aldeamentos, muitos jesuítas subiram os rios Tocantins e Araguaia para realizar a catequização. Essas viagens foram mais frequentes a partir da década de 1650, quando até o próprio Padre Antônio Vieira realizou uma viagem pelo Tocan-tins (1656).

O Padre José Tomé, em 1655, foi o primeiro jesuíta a ter contato com os Ca-

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rajá, no Alto Tocantins, de onde trouxe mais de mil índios. Francisco Velloso, em 1658, desceu outros mil Tupinambás desta região. Manuel Nunes, em 1659, trouxe mais de 1.500 indígenas da região da ilha do Bananal. Outros missionários fizeram este trajeto até o final do sécu-lo e trouxeram milhares de indígenas, pertencentes a diferentes etnias para as missões do Baixo Tocantins, na área de Cametá (LEITE, 1943). Os descimentos eram realizados com o objetivo de ob-ter indígenas para os aldeamentos, tendo como consequências os deslocamentos populacionais, relação forçada entre di-ferentes etnias e, sobretudo, aculturação dos grupos indígenas.

O final deste período foi marcado pela violenta expulsão dos jesuítas do Maranhão, em 1684. O Padre Antônio Vieira havia inspirado a lei de liberdade indígena, em 1680, que proibiu todo o tipo de cativeiro indígena no Estado do Maranhão. A nova legislação não agra-dou aos colonos e culminou na expulsão dos religiosos pela população em ou-tubro de 1684, no episódio conhecido como a “Revolta de Beckman”, nome de família dos líderes do movimento.

A Coroa Portuguesa tentou proteger o território amazônico com o auxílio das forças armadas, na construção de fortes e fortalezas e também com o auxílio de religiosos nas missões e aldeamentos.

Por isso muitos autores chamam a ocu-pação de “espada e cruz”, pois havia a articulação destas duas frentes: a mili-tarização e a religiosidade. Para mostrar como essas estruturas se articulavam no território, foi sintetizada a representa-ção cartográfica sequente (figura 5) que mostra a organização do espaço do tipo “espada e cruz”, próprio do processo colonial português na Amazônia.

No ano de 1686, D. Pedro II (de Portugal), instaurou o Regimento das Missões. O documento marcou o re-torno dos religiosos da Companhia de Jesus para o Maranhão, de onde foram expulsos dois anos antes e deu início ao terceiro período de ação dos jesuí-tas, que durou até 1760, quando foram expulsos definitivamente do país. Além da ocupação do território, a Compa-nhia neste período se transformou em um dos maiores e mais bem-sucedido poder privado da Colônia.

O Regimento entregou aos religiosos o controle temporal e espiritual dos índios aldeados, proibiu manter indígenas em cativeiro e também a moradia de homens brancos e mestiços nos aldeamentos, in-cumbiu novos descimentos, entre outras medidas. O regimento vigorou até 1757, quando foi substituído pelo Diretório dos Índios. Em 1688, foi promulgada nova lei, que permitiu a escravização e foi revogada no ano de 1705 (HOORNAERT, 1990).

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No final do século XVII, todo o Vale Amazônico esteve sob o domínio dos je-suítas, cujas fazendas e feitorias haviam se transformado em empreendimentos eco-nômicos promissores, mas a Companhia de Jesus não conseguiu alcançar de ma-neira satisfatória o número de aldeamen-tos e fazendas que se dispôs a fundar, fi-cando a catequese em segundo plano. Por pressão das outras ordens religiosas, então instaladas no Estado do Maranhão, uma Carta Régia de 1693 determinou a divisão das missões da Amazônia entre as ordens religiosas já instaladas no norte. A Com-panhia de Jesus ficou com as missões da margem direita do Amazonas e margem

esquerda do rio Negro e Iça, os capuchos de Santo Antônio com o Cabo Norte até o rio Jari e Paru e os capuchos da Pieda-de o Gurupá, Urubú e Trombetas (figura 6). Em 1694, uma nova decisão cedeu aos Mercedários às missões do Urubú e aos Carmelitas, o rio Negro e Solimões (HO-ORNAERT, 1990).

A ação dessas ordens foi fundamental para a ocupação do território e expansão das fronteiras portuguesas em milhares de quilômetros com relação ao Tratado de Tordesilhas. Por volta de 1740, havia mais de 60 missões religiosas, com popu-lação superior a 50.000 habitantes (RE-

Figura 5: Fortificações portuguesas e missões religiosas na Amazônia em 1690.

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ZENDE, 2006, p. 115). O processo de conquista da Amazônia podia então ser considerado bem-sucedido.

Assim, em menos de dois sécu-los, houve uma transformação radical no cenário amazônico. Até o início do século XVI, pouca coisa tinha muda-do desde o descobrimento. Em pouco tempo, deslocaram-se para a região os franceses, holandeses, ingleses, portu-gueses e espanhóis. A primeira metade do século XVI consolidou a ocupação portuguesa, com a expulsão dos estran-geiros e instalação das missões religio-

sas. As bandeiras reconheceram a geo-grafia nacional e fizeram os primeiros e mais violentos contatos com as popula-ções indígenas nativas.

As margens dos rios amazônicos eram densamente povoadas, como foi narrado por diversos viajantes. Neste primeiro século de ações europeias, as populações nativas foram escravizadas, perseguidas e assassinadas, e por fim, reduzidas em missões religiosas. No século seguinte, as mesmas margens já estavam completamente abandonadas. As etnias que resistiram foram obriga-

Figura 6: As missões religiosas na Amazônia.

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das a subir os tributários do Amazo-nas, em busca da terra firme, longe das ações da empresa colonial.

Esse processo foi o responsável pela migração e extermínio de boa par-te das etnias do sudeste do Pará. Mes-mo sem haver aldeamentos no médio curso do Tocantins, este serviu como caminho para os descimentos, deslo-cando as etnias para a região de Belém, ou as exterminando com doenças e ex-pedições de apresamento.

As reformas pombalinas e a Amazônia

Do ponto de vista da Metrópole, até a segunda metade do século XVIII, o projeto missionário estava bem en-caminhado, mas as finanças do Es-tado Português estavam decadentes, comprometidas com acordos mer-cantis feitos com a Inglaterra. Neste contexto, Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal, foi instituí-do pelo rei Dom José I (1750-1777) como ministro de Estado. A partir de conceitos iluministas, o ministro pro-pôs uma série de reformas adminis-trativas com o objetivo de melhorar a administração do Império Português e aumentar as rendas obtidas por ex-ploração colonial (SOUZA, 2009).

Francisco Xavier de Mendonça Furta-do, irmão do ministro, foi nomeado go-vernador do Maranhão e Grão-Pará no período de 1751 a 1759, quando o Esta-do ainda estava submetido diretamente à Coroa Portuguesa. O administrador teve como objetivo implantar as reformas co-loniais no território do Norte. Pela quarta vez, a capital da província foi transferida de São Luís para a cidade de Santa Maria do Grão Pará (HOORNAERT, 1990).

Marquês de Pombal viu na região Norte um potencial de exploração e comércio de produtos e acreditou que o regime missionário desfavorecia o rendimento do trabalho indígena. As medidas imediatas adotadas por Men-donça Furtado foram a cassação dos poderes doados aos religiosos por meio do Regimento das Missões, a promoção das aldeias a lugares ou vi-las, sendo que somente as últimas tive-ram certa autonomia administrativa e a substituição das línguas indígenas pela língua portuguesa.

Duas leis, criadas em 1757, implan-taram essas práticas, a primeira, procla-mou a liberdade definitiva dos indígenas, com o fim dos aldeamentos; a segunda derrubou o Regimento e implantou o Diretório, outro instrumento para a co-ordenação das populações indígenas. Essas medidas acentuaram os conflitos

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entre as ordens religiosas e o restante da sociedade colonial, principalmente com a Companhia de Jesus que tiveram como consequência a expulsão definiti-va da ordem em 1759.

Esse período também foi marcado pela criação da Capitania do Rio Ne-gro, que deu origem ao atual Estado do Amazonas e pela inserção de um novo componente humano, os afri-canos escravizados, que entre 1757 e 1782 somaram mais de 20.000 (BRU-NO, 1967, p. 86).

Houve uma grande migração das vilas recém-fundadas, quando muitas etnias indígenas fugiram para a flores-ta. Poucas cidades no Norte, na época, possuíam mais de 2.000 habitantes e em algumas vilas, a população não passava de uma dezena de famílias.

O contexto internacional, com a Guerra da Independência dos Esta-dos Unidos (1775-1783) e as Guerras Napoleônicas (1803-1815) ocasiona-ram pequenos surtos de desenvolvi-mento econômico em diferentes ati-vidades (como açúcar e algodão), mas que não acarretaram muitas mudanças para a região.

A descoberta das minas auríferas em Goiás, por volta de 1730, gerou certa especulação e iniciou um fluxo

migratório para a região do Alto To-cantins e Araguaia. Os bandeirantes já haviam confirmado a ligação fluvial entre o Sudeste e o Norte através des-tes rios, no entanto, a navegação não foi incentivada. Primeiramente, pelas características dos dois rios, com gran-de número de cachoeiras e corredei-ras, empecilho à navegação comercial e num segundo momento pela proibi-ção feita pelo Governo Colonial. Com o objetivo de evitar o contrabando de minerais de Goiás, apenas as rotas ofi-ciais puderam ser utilizadas. A navega-ção do Tocantins-Araguaia foi proibi-da em 1737 e só foi revogada em 1782 (FLORES, 2006). Essa proibição foi vista como empecilho ao desenvolvi-mento econômico local, que dependia do rio para escoar a produção e se co-municar com o restante da colônia.

Conclusões

O estabelecimento do empreendi-mento colonial português nas terras do norte do Brasil foi um processo tardio e lento, que ocorreu apenas no final do século XVI. As primeiras dé-cadas, após a fundação de Santa Ma-ria do Grão Pará, que marcou o início da colonização portuguesa na região Norte em 1616, foram utilizadas no reconhecimento e exploração do ter-ritório. Para que os portugueses se es-

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tabelecessem foi necessário expulsar os representantes europeus de outros modelos coloniais, conhecer os rios e os nativos, bem como as mercadorias de interesse comercial. Após o estabe-lecimento, com a necessidade de ocu-par a área para garantir a posse, foram instaladas as missões religiosas, com a fundação de aldeamentos em diver-sas regiões, um sistema que perdurou durante mais de um século. Por fim, os poderes das ordens religiosas fo-ram revogados e a liberdade indígena legalizada, com a reforma pombalina na segunda metade do século XVIII, o que acarretou a transformação das aldeias em lugares ou vilas, com auto-nomia própria.

A região do Tocantins-Araguaia es-teve à margem destes processos, mas suas consequências para os indígenas foram as mesmas das regiões com o impacto teoricamente mais direto. Os colonizadores, geograficamente, esta-vam ocupando as margens do Ama-zonas. Não existiam fortificações in-glesas, holandesas e francesas subindo o Tocantins-Araguaia (é possível que tenha existido uma feitoria francesa antes da fundação de Santa Maria do Grão Pará, na área do Baixo Tocantins, cujos registros são imprecisos), por-tanto, as expedições militares tomaram o rumo oeste, principalmente na foz do Amazonas e Xingu.

Os missionários religiosos funda-ram apenas um aldeamento na bacia do Tocantins, já na sua foz, na região de Cametá, que logo foi transformado em vila. Assim, quando a reforma pom-balina propiciou o surgimento de vilas e lugares, houve pouca mudança na re-gião. A cidade de Baião, segunda a ser fundada no Tocantins, teve início com uma sesmaria do final do século XVII, cujo povoado só foi organizado em 1779. Alcobaça, atual Tucuruí, terceira ocupação mais antiga do Baixo Tocan-tins, teve início a partir de uma missão religiosa do Padre Marcos Armulfini, em 1724, em local próximo à atual sede, onde foi construída a fortificação de Nossa Senhora de Nazaré no ano de 1782 (LARAIA e DA MATTA, 1978, p. 66). A estrutura foi destruída pelos indígenas no século XIX.

A proibição da navegação nos rios da região foi um obstáculo ao desen-volvimento econômico regional e ape-nas com o seu fim em 1782, que em-preendimentos de finalidade comercial se tornaram viáveis no sudeste do Pará. Mas no final do século XVIII, a ativida-de mineradora em todo Brasil colônia foi atingida por uma grave crise, criando uma estagnação da atividade comercial no Tocantins-Araguaia.

Mesmo sem uma presença cons-tante dos colonizadores, a região foi

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bem explorada. Os franceses foram os primeiros navegadores destas águas, mas possivelmente os bandei-rantes vindos de São Paulo foram os primeiros colonos a caminhar pela região, ainda no final do século XVI. Os bandeirantes travavam conflitos violentos com as comunidades in-dígenas e faziam dos seus derrota-dos, escravos. Os primeiros conflitos com indígenas da região datam des-se período, mas é a partir das ações dos missionários, principalmente da Companhia de Jesus, que as águas do Tocantins e Araguaia foram explora-das e seus habitantes submetidos ao sistema colonial pela cruz. Os gru-pos indígenas que negavam a auto-ridade dos religiosos e optavam em não viver sob a tutela da Igreja eram escravizados e brutalmente persegui-dos. Foi durante o século XVII que essa ação foi mais intensa e bem rela-tada. Milhares de indígenas desceram os rios Tocantins e Araguaia para se juntarem aos missionários em Came-tá, Santa Maria do Grão Pará, ou ou-tras fazendas e missões do entorno.

Diversas etnias foram descritas pelos missionários, cronistas e viajan-tes durante os séculos XVII e XVIII, como os Tupinambá, que sempre es-tiveram em contato com os portugue-ses, desde a fundação da cidade co-nhecida hoje como Belém. Os índios

Tocantins, na região da cachoeira de Itaboca, descritos por Cristóvão de Lisboa, em 1625; os Pacajás, também na região de Itaboca, encontrados na entrada de Pedro da Costa Favella, em 1627; os Potis e Inheyguarás, nas narrativas de Antônio Vieira em 1658; os Aruaquizes (de língua geral), Ca-atingas e Naimiguaras, aldeados no Araguaia, em 1671; os Guarajus, em 1674, no Araguaia e cabeceiras do Tocantins, descritos por Antônio Ra-poso Tavares; os Tacayúna e Jaguaris, encontrados na bacia do rio Itacaiú-nas, na última expedição missionária na região em 1721; os Apinayé, na viagem de Antônio Luiz Tavares, na região da cachoeira de Três Barras, em 1774; entre outros relatos menos precisos (NIMUENDAJÚ, 1982, DA MATA e LARAIA, 1978, FAUSTO, 2001, RODRIGUES, 1977).

Por essas informações, fica evi-dente que a região do Tocantins-Ara-guaia era densamente povoada por di-versos grupos indígenas no momento anterior à chegada dos colonizadores. No entanto, em dois séculos de con-tato, quase toda essa população foi dizimada pelos aldeamentos dos in-dígenas, apresamentos, martirizações e também por guerras e contamina-ções de doenças. Também não hou-ve o processo de fundação de aldeias e fazendas pelos missionários, como

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ocorreu em outras áreas da Amazônia no mesmo período. Assim, as Refor-mas Pombalinas trouxeram poucas mudanças para realidade da região, na qual a situação já era degradante.

O processo de extermínio das po-pulações nativas preparou o contexto para a nova frente agrícola que che-gava do leste, vinda da região Nor-deste e que encontrou as margens dos rios Araguaia e Tocantins prati-camente despovoadas no início do século XIX.

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Neste capítulo exploraremos os processos envolvidos na colonização da bacia do To-

cantins-Araguaia, desde a chegada da frente agropastoril nordestina no século XVIII até a formação dos municípios atuais do sudeste do Pará.

Frentes de expansão agrícola

Até o final do século XVIII, a ocu-pação da sociedade neobrasileira5 ti-nha atingido apenas o baixo curso do rio Tocantins e as suas cabeceiras, em Goiás. A região sudeste do Pará, nosso objeto de interesse, permaneceu estag-nada. As reformas pombalinas e a libe-ração da navegação pelo Tocantins-Ara-guaia, devido à crise da mineração, não surtiram efeito para o desenvolvimento

5 Sociedade neobrasileira refere-se a nova sociedade formada a partir da chegada dos conquistadores e agrupava portugueses, espanhóis, negros e índios, além de outros grupos étnicos.

econômico da região. Somente no início do século XIX a situação começaria a mudar, com o advento da frente de ex-pansão agrícola nordestina.

A criação de gado no Nordeste es-tava associada à atividade açucareira, em um modelo de consórcio importado de Cabo Verde. As terras mais férteis foram empregadas no cultivo da cana-de-açúcar e as de baixa produtividade reservadas à criação de gado. Salvador e Olinda torna-ram-se os principais centros de dispersão desse modelo (VELHO, 1972, p. 17). A atividade exigia pouca mão de obra e de-pendia da abundância de terras, disponí-veis no interior. Em duzentos anos, entre a segunda metade do século XVI e XVIII, a pecuária povoou todo o nordeste do país, desde a bacia do rio São Francisco, na Bahia, até o Maranhão ocidental.

Após a expulsão dos holandeses do litoral nordestino, em 1654, a pecuária

Capítulo 2A Formação do Povo Brasileiro no Sudeste do Pará

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foi introduzida na região e primeiro se desenvolveu no entorno da cidade de Salvador. Com a conquista de Sergipe, se estendeu até a margem direita do São Francisco. Logo, a frente expansionis-ta atingiu as bacias dos rios Itapicuru e Vasabarris. Os atuais estados do Ceará, Piauí, Paraíba aos poucos foram ocupa-dos por essa nova cultura, mas os sertões preteridos pela sociedade colonial não eram terras desocupadas. O interior nor-destino, assim como o litoral, era densa-mente povoado por nativos e formavam dezenas de etnias distintas. Os grupos que habitavam os sertões eram generi-camente denominados “tapuios”, índios não falantes de línguas Tupi-Guarani.

Na medida em que a frente avan-çava, os conflitos entre colonos e indí-genas cresciam. Etnias como os Janduí foram aliados dos holandeses contra os portugueses, resistiram ferozmente às invasões em seus territórios, matando todo gado em qualquer oportunidade. Em 1655, o Governador-geral João Fer-nandes Vieira já havia ordenado a guer-ra contra a nação Janduí. A resistência indígena ficou conhecida como a Con-federação dos Cariris, a partir de 1683. Em 1692, foi assinado um tratado de paz entre a sociedade colonial e os con-federados, no entanto, até meados do século XVIII é possível encontrar do-cumentação sobre a permanência dos conflitos na região. Entre as etnias con-

federadas estavam os Inhamuns, Cariús, Crateús e Cariris, entre outros. Algumas delas foram completamente dizimadas (HOORNAERT, 1992).

A crise na atividade açucareira, no século XVII, ocasionou uma alteração na ordem econômica, com a pecuária se estabelecendo como uma atividade de subsistência, cada vez mais afastada das fazendas de açúcar e penetrando nos pastos do interior. Com uma vocação autossuficiente e ocupando um território enorme, a atividade da criação de gado não participava de forma mais íntima do comércio e das fontes de riqueza da colô-nia e por isso desenvolveu um sistema de economia fechada, quando as trocas em espécie se avultam em importância so-bre a circulação da moeda (MOREIRA NETO, 1960, p. 6). A atividade agrícola era de subsistência, praticada nas matas ciliares ou vazantes dos cursos d’água e forneciam apenas os produtos indispen-sáveis ao sertanejo. Esse modo de vida ficou conhecido como “civilização do couro” devido à importância do gado e de seus subprodutos.

Na segunda metade do século XVIII, os sesmeiros da Casa da Torre, empre-sa de expansão pastoril que ocupou o sertão do Piauí afugentando e aprisio-nando índios para alargar as áreas de criação de gado, fundaram um povoado na margem esquerda do rio Paranaíba,

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dando início ao processo de povoamen-to do sul do Maranhão (FRANKLIN, 2005, p. 12). Os ocupantes denomina-ram a região de “pastos bons” devido à exuberância e esplendor do mesmo. Além disso, “Pastos Bons” foi uma ex-pressão geográfica, uma denominação regional geral, dada pelos ocupantes à extensão de campos para o Ocidente (CARVALHO, 2006, p. 97).

Nessa região, antes da chegada da pecuária, moravam os índios Amanajós. Esses receberam os estrangeiros e aju-daram a fazer a instalação, além de for-necerem mandioca, farinha, milho, inha-me, batatas entre outras produções para a subsistência dos colonos. Em pouco tempo, a etnia foi escravizada e dizima-da. Além dos Amanajós, diversas etnias indígenas habitavam os pastos bons.

Na metade do século XVIII, a re-gião contava com dezenas de fazendas de gado (CAPISTRANO DE ABREU, 1998, p. 131). A partir de 1806, diversas expedições, tanto de aprisionamento in-dígena quanto de colonização, partiram dos pastos bons em direção ao Tocantins. Essas expedições são a origem de diver-sos municípios, como Riachão (1808), Porto da Chapada atual Grajaú (1811), Carolina (primeira ocupação oriunda da frente de expansão nordestina a ser fun-dada nas margens do rio Tocantins, em 1810), Boa Vista atual Tocantinópolis

(1825), Barra do Corda (1840) e São Vi-cente atual Araguatins (1868).

Até meados do século XIX, o To-cantins foi a fronteira mais ocidental da frente pastoril nordestina. O estabe-lecimento das cidades nos sertões ma-ranhenses dura aproximadamente um século, em um processo lento, princi-palmente pela resistência da população nativa que habitava a região. Assim:

a região abaixo do Farinha, onde dominavam

os Canelas, a do alto Grajaú e Pindaré, habi-

tada pelos Gaviões, e as margens do Tocan-

tins, até a foz com o Araguaia, onde viviam os

Krikati e haviam outras aldeias dos Gaviões,

constituíram- se em território de alto risco

para os colonizadores e viajantes do Tocantins

até a fundação de Santa Teresa, atual cidade

de Imperatriz. (FRANKLIN, 2005, p. 16-17).

Relatos de outros estudiosos e via-jantes apontam que o sudoeste mara-nhense, a partir da barra do rio Farinha até as matas do Gurupi e das margens do Tocantins até o Grajaú, era ocupa-do pelos índios Timbira, com destaque para os gaviões, poncatgês (designados também caracatigês e caracatis, depois krikatis) e canelas. Também foram des-critas outras etnias, como os angetgês, apinajés, augutgês, canaquetgês, capie-crãs, gamelas, guajajaras, macamecrãs, norocoagês, ponecras, purecamecrãs, sacamecrãs, tacamedus, xavantes e xe-rentes (MOREIRA NETO, 1960).

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A região da confluência do Tocan-tins-Araguaia foi ocupada no final do século XIX, até a margem esquerda deste último rio, na altura dos campos do Pau D’Arco e Arraias. Em 1892, um grupo de criadores de gado fun-dou a vila de Santana da Barreira, às margens do Araguaia, na região dos campos do Pau D’Arco. A instalação da colônia foi facilitada pelos índios Irã’ãmranhre, que haviam estabeleci-do contato pacífico com os missioná-rios dominicanos desde 1859, com a fundação da Missão de Santa Maria Nova. As trilhas indígenas foram utili-zadas como estradas e algumas aldeias serviram de base de fixação nos cam-pos do interior e fontes de suprimen-tos (GORDON, 2006).

A área do Médio Tocantins-Ara-guaia foi alvo de disputa territorial entre os Estados do Pará, Maranhão e Goiás e a fundação de alguns municípios este-ve relacionada às tentativas de assegurar a posse da região. Há divergência entre diversos autores sobre a origem de al-guns dos municípios, como São João das Duas Barras e São João do Ara-guaia (BAENA, 1969, VELHO, 1972, NIMUENDAJÚ, 1983). Mas de fato, em 1809, o príncipe regente D. João de-cretou a criação da Comarca do Norte, ao norte de Goiás e que uma nova sede administrativa deveria ser construída, na confluência do rio Itacaiúnas com

o Tocantins, onde atualmente se loca-liza Marabá. Essa cidade seria São João das Duas Barras, que devido à distância das demais cidades, foi transferida para a Vila de Palma, atual Paranã. Alguns autores ainda acreditam que São João do Araguaia teria origem na localização original de São João das Duas Barras.

A “marcha para oeste” do sistema pe-cuário nordestino no final do século XIX havia alcançado seus limites máximos. Foi barrada primeiramente pela floresta tro-pical. As pastagens naturais foram todas ocupadas: “toda a área tribal ocupada pelos Irã-Amráire Kayapó foi convertida em pastagens. Suas roças usuais nas matas ciliares dos rios Ar-raias e Pau D’Arco foram ampliadas e postas a serviço da frente expansionista” (MOREIRA NETO, 1960, p. 12). Não havia tecnolo-gia que permitisse que a cultura sertaneja desbravasse a floresta tropical.

O isolamento dos fazendeiros do Baixo Pau D’Arco, embora tenha in-flado o crescimento do número de bovinos, começou a contribuir para a inviabilidade da fixação dos criadores no local. O gado no lado paraense do Araguaia encontrava sérias dificulda-des de comercialização devido a não existência de uma tecnologia adequa-da que possibilitasse a travessia dos rios Araguaia e Tocantins, sem dimi-nuir ou inutilizar o rebanho negocia-do (SILVA, 2007, p. 11).

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Somente o advento da extração do caucho, no século XX, permitiu um de-senvolvimento para a atividade pastoril para os habitantes do Tocantins-Ara-guaia. A borracha, utilizada como ma-téria-prima industrial era encontrada nas matas contíguas aos pastos, o que possibilitou a formação de um mercado local para a produção pecuária (SILVA, 2007, p. 12).

Para sintetizar os dados, foram fei-tos mapas com as expansões territoriais por período e assim melhor apresentar o padrão de deslocamento e seu fluxo (figura 7).

Figura 7: As frentes de expansão agrícolas.

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Os indígenas no sudeste do Pará

Os novos territórios alcançados pela frente de expansão não estavam desocupados. Na região dos Pastos Bons, a pressão territorial atingiu prin-cipalmente a área ocupada pelos índios Timbiras, que foram englobados pela fronteira econômica, por vezes como aliados para as guerras de conquista e apresamento, e em outras, vítimas do mesmo movimento (HEMMING, 1987b). As ações bélicas, assim como

ocorreu em outros contextos, vieram acompanhadas por epidemias, o que acarretou no mesmo movimento de alta mortalidade dos indígenas, como ocorrido nas margens do Tocantins no século anterior.

Quando a frente agrícola alcançou as margens do Tocantins, o contexto etnográfico era predominantemente composto por alguns grupos Tupi-gua-rani que sobreviveram ao período das missões, como os Jundiaís, abaixo de

Figura 8: Detalhe: etnias indígenas do sudeste do Pará segundo nimuendajú (1981).

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Itaboca (Villa Real, 1793, apud Faus-to, 2001, p. 51) e Anambés, na região de Alcobaça (1842), como é possível observar no mapa etnográfico de Curt Nimuendajú (1981), destacado na figura sequente (figura 8).

Foi no início do século XIX que as etnias indígenas de origem Macro-Jê fizeram sua entrada no território Ama-zônico. Esses grupos são típicos do Planalto Central Brasileiro e ocupavam desde a região do Alto Tocantins-Ara-guaia, no estado de Goiás, até o sul do país, na região dos campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul.

O mesmo movimento agrícola, oriundo do Nordeste, atingiu a região de Goiás no final do século XVIII, após a crise do ouro. A pressão territo-rial ocorreu principalmente sobre a área Apinayé, grupo Jê, que ocupava o Alto Tocantins. Fugindo dos apresamentos e guerras, os Apinayé se instalaram na re-gião do Pau D’Arco, provavelmente no início do século XIX. Após uma divisão interna, um grupo permaneceu ocu-pando a região do Pau D’Arco e o gru-po ancestral dos Xikrin, os Pore-Kru, migraram rumo ao norte, para os rios Parauapebas e Itacaiúnas, já no final do século XIX.

Os Apinayé da região do Pau D’Ar-co novamente dividiram-se, nos quais

os dissidentes deram origem a diver-sos grupos Kayapó, como os Gorotire e Kararaô. Já os Pore-Kru novamente cindiram-se, o que resultou na origem dos Kokorekré, que permaneceram no Parauapebas e dos Put-Karot, que ru-maram para o Cateté.

Em nova cisão interna, os Kokorekré deram origem aos Djoré, que sofreram intenso processo depopulacional na sua trajetória. Já os Put-Karot, após o tempo no Cateté rumaram para o Bacajá, com a finalidade de união com os Kokorekré, que em 1910 haviam sido vitimados por epidemias e expedições punitivas regio-nais. Porém, parte do grupo não satisfei-ta com o novo lugar de morada, decide viajar para o sul, voltando para o Cateté. Os remanescentes no Bacajá são os Xi-krin do Bacajá, enquanto os dissidentes são os Xikrin do Cateté (figura 9).

Atualmente, duas áreas indígenas fazem fronteira com a região objeto de estudo deste livro: a Terra Indígena Xi-krin do Cateté, ao norte, com aproxi-madamente 439.000 hectares e a Terra Indígena Kayapó, ao sul, com aproxi-madamente 3.200.000 hectares de área. Todavia, antes da demarcação das terras indígenas, desde que adentraram o terri-tório do sudeste paraense, esses grupos de origem Jê, circularam entre o Tocan-tins, Araguaia e Xingu, sempre à mar-gem da sociedade tradicional “branca”.

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Eles não se mantiveram isolados da so-ciedade neobrasileira, que vinha do sul e leste, à procura de pastos para a cria-ção de gado e dos extrativistas, ora atrás da borracha, ora em busca da castanha, mas conseguiram controlar o grau de interação (INDRIUNAS, 2004, p. 72).

Além dos novos colonizadores os Kayapó se depararam com outros gru-pos indígenas, os Parakanã e Asurini. Seja na relação dentro do grupo, com

outras sociedades indígenas, ou ainda com a sociedade tradicional, os confli-tos variavam de acordo com os interes-ses particulares do grupo, sendo por ve-zes amistoso, ou mais frequentemente, violentos, mas os anos de interação com os brancos fez com que essas etnias se organizassem mais rápido e eficazmen-te do que outros grupos indígenas.

O contato com os novos coloniza-dores se intensificou principalmente na

Figura 9: Processos migratórios das populações indígenas no sudeste do Pará.

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década de 1930, com o crescimento da economia castanheira no Médio Xingu e fez com que os extrativistas se aproxi-massem dos territórios tradicionalmente ocupados pelos Kayapó. Data deste pe-ríodo, o início das missões religiosas para com esses grupos, além de uma atuação mais firme do estado pela instalação de um escritório do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Esse foi o início do processo de “pacificação” destas sociedades, mas que foi finalizado apenas em 1966 (SCH-MINK & WOOD, 2012).

As primeiras tentativas de delimita-ção das terras indígenas Kayapó datam da década de 1950, por intermédio da Superintendência do Plano de Valoriza-ção Econômica da Amazônia (SPVEA), mas que nunca foi executada. Outras tentativas ocorreram nas décadas se-guintes, porém sem sucesso. Somente na metade da década de 1980, as áreas indígenas foram demarcadas, após uma série de confrontos envolvendo garim-peiros e Kayapó. Em 1978, as primeiras fontes de ouro foram descobertas, na re-gião do Rio Branco. Nos anos seguintes, outros afloramentos também foram des-cobertos, em diversas áreas do território reivindicado pelas etnias Kayapó. Além dos garimpeiros, os militares passaram a controlar áreas de exploração mineral.

O grau de interação das diversas al-deias Kayapó com os garimpeiros foi

distinto. Algumas aldeias concordaram em receber percentuais do minério ex-plorado, enquanto outras foram com-pletamente contra este tipo de relação. O diferente posicionamento dos gru-pos fez com que o número de conflitos aumentasse com diversos ataques aos garimpeiros. Foi essa situação que pres-sionou a demarcação das terras indíge-nas e a regulamentação das atividades permitidas dentro do território indígena (SCHMINK & WOOD, 2012).

A situação do garimpo foi contro-lada, mas as demarcações de terra não foram homologadas. Durante esse pro-cesso, os conflitos agrários passaram a fazer parte do contexto das duas áreas indígenas. Houve uma grande pressão, principalmente nas áreas limítrofes. A homologação de ambas as áreas indíge-nas ocorreu apenas em 1991. A partir de então, o controle da área passou de-finitivamente para seus habitantes. As fontes de renda se diversificaram, com o extrativismo da madeira e compen-sações por danos ambientais causados por grandes empreendimentos em áreas próximas às reservas.

Os ciclos econômicos de exploração dos recursos naturais: o caucho, a casta-nha e o minério

No final do século XIX, na cidade de Boa Vista do Tocantins, atual To-

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cantinópolis, ocorreu uma guerrilha denominada Primeira Revolta de Boa Vista. Carlos Gomes Leitão, um ma-ranhense nascido em Caxias, numa fa-mília influente e latifundiária, teve sua ascensão política com a Proclamação da República e foi eleito deputado estadu-al pela província de Goyaz no ano de 1890. Insatisfeito com o rumo da justiça e política de Boa Vista, investiu contra a cidade com um exército particular por diversas vezes entre 1892 e 1894, todas sem sucesso. Neste mesmo período, também tentou emancipar uma pro-víncia autônoma de Boa Vista, mas não contava com suporte político para obter

êxito. Após os consecutivos fracassos, o grupo liderado pelo Coronel Leitão foi expulso de Boa Vista e seguiu rumo ao norte (MONTARROYOS, 2013).

Sem mandado político e patrimo-nialmente comprometido, Carlos Lei-tão procurou o apoio do governador do Grão-Pará, Lauro Sodré, que em 1895 outorgou um contrato de concessão de uma Colônia Agrícola a ser instalada na margem esquerda do Tocantins, na foz do rio Itacaiúnas. Essa concessão foi o primeiro núcleo de colonização plane-jado no sudeste do estado, denomina-do Burgo Agrícola do Itacaiúnas e foi a origem da cidade de Marabá (figura 10).

Figura 10: Burgo agrícola do itacaiúnas (CouDreAu, 1897, p. 63).

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O valor do contrato da colônia foi dividido em parcelas que seriam pagas com o cumprimento de cláusulas que previam o desenvolvimento da região. O burgo havia sido planejado para a atividade agrícola. No entanto, a des-coberta do caucho ocasionou uma mu-dança das atividades primárias e a colô-nia fracassou, sendo apenas a primeira parcela da concessão pública paga ao Coronel Leitão. Aos poucos, o burgo desapareceu (VELHO, 1972, p. 28).

No entanto, a colônia já havia atraído para a área diversos migrantes, oriundos principalmente do Maranhão e Goiás. Entre eles, estava o maranhense Fran-cisco Coelho da Silva, que se instalou a poucos quilômetros rio acima da colônia agrícola, na área do “Pontal”, confluên-cia dos rios Tocantins e Itacaiúnas. O co-merciante fundou um barracão, chama-do Casa Marabá, em alusão ao poema de Gonçalves Dias, no qual comercializava os itens necessários para a exploração do caucho, além de bebidas, carne e tam-bém mantinha um prostíbulo.

A área no entorno do barracão pros-perou, tornando o povoado ponto de passagem obrigatória para quem subia ou descia os rios Tocantins e Itacaiúnas, envolvidos principalmente na atividade de extração do látex e do caucho. Em 1904, a Subprefeitura do burgo foi trans-ferida para o Pontal, com o nome de Ma-

rabá e foi elevada a município em 1913, quando já contava com, pelo menos, 500 habitantes residentes e 1.500 forasteiros, em épocas de maior movimento.

O ciclo da borracha, que impulsio-nou Marabá para o centro polarizador de uma vasta área, articulando o comér-cio de diversas cidades da região, teve seu declínio a partir de 1912, com o início da queda do preço da borracha e culminou com o fim da Primeira Guer-ra Mundial, em 1919. A partir de então, os habitantes, que sempre foram predo-minantemente flutuantes e aventurei-ros, partiram para áreas mais prósperas, ocasionando um processo de despovoa-mento que duraria até a década de 1940 (PREFEITURA NO MUNICÍPIO DE MARABÁ, 1984).

A estrutura montada para a extra-ção da borracha foi transferida para a castanha, atividade fundamentalmen-te do mesmo tipo e que se tornaria a nova frente extrativista. Durante a dé-cada de 1920, Marabá aumentou sua produção de castanha e atingiu a li-derança produtiva no Estado do Pará em 1927, superando Alenquer e Óbi-dos. Assim, a cidade ficou conhecida como “terra dos castanhais” durante várias décadas, em função da produ-ção elevada e também pela formação de grupos locais de poder político e econômico associados à economia ex-

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trativista, chamada Oligarquia Casta-nheira (EMMI, 1999, 2006).

O início da produção da castanha ocorria, assim como na extração do caucho, de maneira “livre”, ou seja, sem restrição ao acesso aos castanhais. Mas à medida que a atividade cresceu em volu-me e importância econômica, a elite local que já monopolizava o comércio da cas-tanha, passou também a controlar as áre-as dos castanhais, colocando em prática o arrendamento, uma espécie de aluguel por safra a partir de 1925 (EMMI, 1999).

Apesar do predomínio da práti-ca do arrendamento, ainda havia os castanhais públicos, inarrendáveis, mas de qualquer maneira, a oligarquia exercia o seu domínio por meio do monopólio comercial, inicialmente, e logo foram dominados pelos arrenda-tários, agricultores e pecuaristas (VE-LHO, 1972, p. 54). A agropecuária foi uma atividade secundária, voltada principalmente para o abastecimento do mercado interno, que cresceu prin-cipalmente a partir da década de 1930 (idem, op. cit. p. 62).

título: garimpo de diamantes, Poço da Bagagem, marabá (PA). Local: Pará. Ano: 1949.

Descrição física: 1 fot.: neg., p&b. série: Acervo dos municípios Brasileiros.. notas: sem negativo.

Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/2800.jpg

Figura 11: garimpo de diamante

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Nesta época, outra frente de expansão atingiu o sudeste do Pará, vinda do nor-te de Goiás, trazida pela decadência das minas do Centro-Sul ainda no período do Brasil Colônia, dando início à atividade garimpeira na região. Os primeiros dia-mantes foram encontrados em Marabá em 1939-40, mas o garimpo não excluiu a coleta da castanha, que era sazonal. A mineração, no entanto, não consistiu em uma atividade primária e sim complemen-tar paralela à agropecuária.

O advento da Segunda Guerra Mun-dial impulsionou também a mineração do cristal de rocha, a partir de 1940. Os postos de mineração, também chama-dos corrutelas, promoveram a ascensão de novos aglomerados populacionais, na emergência de suprir a demanda do abastecimento destes locais, ou impul-sionaram localidades estagnadas há mais tempo, como São João do Araguaia.

Ainda houve um último surto econô-mico da borracha durante esse período, com os “Acordos de Washington”, fei-tos entre o governo brasileiro e o nor-te-americano, porém com um impacto econômico muito menor. Em 1946, foi comercializada a última carga de borra-cha da região.

Ao final da Segunda Guerra, a eco-nomia do sul do Pará era diversificada o suficiente para sustentar o crescente nú-

mero de habitantes. Gradualmente, no final dos anos 40 e início dos anos 50, a população do sul do Pará cresceu, o que deu início a um mercado para a carne produzida na região. Marabá tornou-se assim, um centro de engorda do gado goiano e maranhense, aspecto econô-mico bastante significativo (SCHMINK & WOOD, 2012, p. 201).

De maneira lenta e gradual, núcleos agrícolas avançaram em direção ao inte-rior, iniciando a agricultura de terra fir-me, que substituiu a tradicional pequena agricultura de várzea. Havia a crença de que os terrenos melhoravam na medida em que se afastavam do grande rio (To-cantins) e de fato eram essas as terras devolutas que eram passíveis de serem ocupadas. Assim, criou-se um fluxo no sentido oeste e sudoeste, bastante signi-ficativo em São João do Araguaia.

Esse fluxo consistiu no avanço de pequenos núcleos familiares na mata, fi-xando-se geralmente próximos a igarapés ou lagos, onde houvesse solo adequado à agricultura e pecuária e também forne-cesse matéria-prima para a construção de casas. As famílias se estabeleceram, utili-zando a coivara como técnica de agrícola.

A ocupação da terra firme tem ca-racterísticas bastante distintas das ocu-pações das margens, mais antigas. Com isso, criou-se a categoria de centro, onde

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se encontra a roça de um ou mais lavra-dores e a categoria de beira (do rio), o lugar onde se situam os maiores e mais antigos aglomerados urbanos (VELHO, 1972, p. 95).

Essa nova dinâmica de ocupação do ambiente trouxe novas caracterís-ticas às relações sociais já conflituosas existentes na região. O embate entre agricultores e castanheiros, como o ocorrido em São Domingos das Latas

(atual São Domingos do Araguaia) foi bastante violento, acusando uma das novas características das relações so-ciais (VELHO, 1972, p. 97). Portan-to, mesmo antes das ações estatais do regime militar para “integrar” a Ama-zônia, havia na região um processo de crescimento demográfico e econô-mico baseados no desenvolvimento agropecuário.

quadro com as características dos dois modos de ocupação segundo otávio guilherme velho (1972, p. 96).

O desenvolvimentismo na Amazônia

A Constituição Federal, de 1946, ha-via criado o Plano de Valorização Eco-nômica da Amazônia (PVEA), como

um sistema de medidas, serviços, empreen-

dimentos e obras, destinados a incrementar

o desenvolvimento da produção extrativa e

agrícola pecuária, mineral, industrial e o das

relações de troca, no sentido de melhores pa-

drões sociais de vida e bem-estar econômico

das populações da região e da expansão da ri-

queza do país (BRASIL. Lei nº 1.806, de 6 de

janeiro de 1953).

Mas o plano só foi efetivado a partir do segundo governo de Getúlio Vargas, com a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953, órgão executor dos projetos federais.

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Uma das ações mais marcantes desenvolvidas dentro da Superin-tendência ocorreu durante o man-dato de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a construção da rodovia Belém-Brasília (figura 12). As obras da estrada tiveram início em 1956, contudo, atingiram o sul do Pará apenas em 1960. A rodovia propor-cionou a primeira via terrestre de conexão da região com o restante do país (SCHMINK & WOOD, op. cit. p. 202).

Umas das primeiras consequências da construção da estrada foi o aumen-to do interesse pelas terras próximas à rodovia, caracterizadas como “terras devolutas” (PETIT, 2003, p. 73). Essas áreas foram utilizadas como objetos de trocas de favores, entre as elites estadu-ais do Pará e as elites locais. Essas rela-ções estavam embasadas no poder esta-dual da concessão de uso ou venda de títulos de terras devolutas a particulares. Pequenos agricultores, que tradicional-mente ocupavam a região, porém sem

http://www2.transportes.gov.br/bit/02-rodo/3-loc-rodo/loc-rodo/010.htm (adaptado)

Figura 12: Acessos terrestres.

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os títulos de propriedade da terra, foram empurrados pelos grandes investidores, que gradualmente monopolizaram as propriedades às margens da rodovia.

No período de 1959 a 1963, foram concedidos 1.575 títulos de grandes propriedades, que somaram 5.646.375 hectares, enquanto no período de 1960 a 1963, os títulos de pequenas proprieda-des somaram um total de 3.753, distribu-ídos em 81.171 hectares (PETIT, 2003, p. 74). O início da década de 1960, por-tanto, foi o período de maior distribuição

de títulos de grandes propriedades no sul do Pará na história, também marcado pela violência na relação entre os grandes e pequenos proprietários de terra.

Com o golpe de estado militar, em 1964, o papel da SPVEA foi revisto. Por meio de relatórios técnicos, foram apontadas diversas falhas no programa e a sua extinção decretada. Em substi-tuição ao órgão, foi criada a Superinten-dência de Desenvolvimento Econômico da Amazônia (SUDAM), cujo território de atuação seria o mesmo do antigo ór-

tipo de material: CD-rom. Autor: rubens moreno mazzolatítulo: relevo com tabuleiro baixo na Br-14 (PA) Local: Br-14 Ano: [195-?]

Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. série: Acervo dos trabalhos geográficos de Campo notas: negativo 13367.Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/PA8918.jpg

Figura 13: Br-14 na década de 1950.

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gão e estava subordinada ao Ministério do Interior. Um mês antes da SUDAM, já havia sido criado o Banco da Ama-zônia S.A. (BASA), que foi o principal instrumento para o financiamento para as ações do órgão.

As políticas da SUDAM podem ser divididas em três etapas. A primeira, no final da década de 1960, tinha como ob-jetivo o incentivo agrícola, destinado ao mercado regional, nacional e internacio-nal, visando diminuir a importância das atividades extrativistas e da agricultura de subsistência, características criticadas na ação do SPVEA. A segunda fase, en-tre 1969 a 1974, durante o mandato do general Médici, foi caracterizada pelos projetos de colonização da Transamazô-nica, ampliação da rede viária terrestre e projetos energéticos. Na terceira fase, em meados da década de 1970, a SUDAM orientou a política econômica baseada no modelo de vantagens comparativas. Esse modelo defende que cada país deve se especializar na produção de merca-dorias mais eficientes (ou com o custo menor) para exportação e importar as mercadorias com a produção menos efi-ciente (PETIT, 2003 p. 81-84).

As estradas

A partir da construção da Belém-Brasília, diversos núcleos urbanos fo-

ram estabelecidos às margens das estra-das, resultando em uma nova maneira de ocupar o espaço, nas chamadas cida-des de “beira de estrada” (SCHMINK & WOOD, op. cit. pág. 206). A cons-trução da rodovia Transamazônica, pla-nejada no governo Médici e inaugurada em 1972, acarretou em mais transfor-mações sociais, principalmente na re-gião de Marabá.

O projeto da SUDAM para a coloni-zação da Transamazônica fazia parte do PIN – Programa de Integração Nacio-nal, instrumento de cunho geopolítico criado pelo governo militar brasileiro através do Decreto-Lei nº 1106, de 16 de julho de 1970, assinado pelo Presi-dente Médici. Abaixo, a transcrição de alguns trechos do objetivo do projeto.

1) Deslocar a fronteira econômica, e, notada-

mente, a fronteira agrícola, para as margens

do rio Amazonas [...]; 2) Integrar a estraté-

gia de ocupação econômica da Amazônia e

a estratégia de desenvolvimento do Nordeste

[...]; 3) Criar as condições para a incorpora-

ção à economia de mercado [...] de amplas

faixas de população antes dissolvidas na eco-

nomia de subsistência [...]; 4) Estabelecer as

bases para a efetiva transformação da agri-

cultura da região semiárida do Nordeste; 5)

Reorientar as emigrações de mão-de-obra

do Nordeste, em direção aos vales úmidos

da própria região e à nova fronteira agríco-

la; 6) Assegurar o apoio do Governo Federal

ao Nordeste, para garantir um processo de

industrialização tendente à auto sustentação

[...]. (BRASIL, 1970, p. 31).

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Para a efetivação dos planos foram construídos programas de irrigação e colonização do nordeste, a constru-ção das rodovias Transamazônicas e Cuiabá-Santarém e os programas de colonização associados às rodovias. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA foi o ór-gão responsável pela implementação dos programas de colonização utili-zando um modelo de baixa densidade. Os núcleos de colonização deveriam dispor de escola primária, posto de saúde, igreja, escritório do Banco do Brasil, posto de comunicações e posto do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1970, p. 32). No entanto, pouca dessa infraestrutura prometida foi construí-da (SMITH, 1982, p. 15-19).

Os lotes possuíam 100 hectares de área e haveria três tipos de núcleos ur-banos: os núcleos menores, ou agro-vilas, entre 38 e 48 casas, os núcleos intermediários ou agrópolis, com 600 famílias e as rurópolis, com até 20 mil habitantes. Na prática, apenas uma ru-rópolis foi construída e algumas agró-polis. O projeto de colonização diri-gida, iniciado em 1971, durou apenas até 1974, sem alcançar grandes êxitos. Mas a propaganda oficial, mesmo sem o cumprimento das promessas, acabou por atrair milhares de migrantes, que acabaram ocupando, como posseiros, milhares de hectares na Amazônia,

principalmente no sudeste do Pará (PETIT, op. cit. p. 88). As colônias agrícolas, sem condições de receber o grande volume de colonos, acarreta-ram em um deslocamento destes co-lonos para as áreas possíveis de serem acessadas, nas margens das estradas.

Esse novo modelo de colonização e as atividades resultantes acabaram por romper com a antiga oligarquia cas-tanheira. O desmatamento acarretou no declínio da produtividade dos cas-tanhais e a mão de obra voltou-se às outras atividades. Para se ter uma ideia da mudança na distribuição de terras na região de Marabá: 44% das terras pertenciam às oligarquias em 1972 e esse percentual cai para apenas 14% em 1981.

Além da Transamazônica, data do final da década de 1960 o começo da construção da PA-150, inicialmente pla-nejada para ligar a rodovia Belém-Bra-sília à periferia de Marabá. A estrada ficou pronta apenas em 1972, mas deu origem a diversos novos assentamen-tos, como Bom Jesus, Abel Figueiredo e Morada Nova.

A PA-150 também deu acesso a ricas concentrações de mogno, que ocasionou um rápido, porém lucra-tivo ciclo econômico. Serrarias do Sudeste e Sul, principalmente do es-

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tado do Paraná, foram atraídas pelos incentivos fiscais da SUDAM. Na dé-cada de 1970, a produção de mogno do Pará cresceu 4.000%, detendo 60% da indústria madeireira da Amazônia (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 214). Esse ciclo originou municípios como Pau D’Arco (nome de uma ser-raria instalada na região em 1972), e Rio Maria (1973). A produção do mogno estendeu-se até 1981, com o fim das reservas mais acessíveis em Redenção, Rio Maria e Xinguara.

O minério

As pesquisas minerais no sudeste do Pará iniciaram na década de 1960, com levantamentos geológicos re-alizados por empresas nacionais e estrangeiras, a partir de diversos lo-cais, como Marabá, São Félix e Alta-mira. No início da década, na região de Carajás, foi descoberta o que vi-ria a ser a maior mina de ferro com alto teor de concentração do plane-ta. A área havia sido pesquisada por uma empresa americana, a United States Steel Corporation (USSCo), que operou no Brasil como Companhia de Mineração Meridional (CMM) e também por geólogos da Com-panhia Vale do Rio Doce (CVRD) (BEISIEGEL, 2006).

Em 1970, as duas empresas passa-ram a atuar em conjunto em Carajás, com apenas 30% da mina sob o con-trole da empresa brasileira, sob o nome de Amazônia Mineração S.A. (AMZA). O governo tinha um posicionamento dúbio sobre a ação de companhias es-trangeiras em atividades de mineração em território nacional e a CMM não ti-nha o mesmo objetivo de investimento na infraestrutura do projeto. Enquanto a CVRD e o Estado Nacional viam o Projeto Grande Carajás como uma sa-ída para a crise financeira que o país vinha enfrentando, os investimentos da CMM não tinham o mesmo objetivo.

No final da década, os conflitos tornaram-se insuperáveis e a CMM deixou o projeto. A AMZA se dissol-veu em 1977, a CMM foi indenizada pela CVRD, que assumiu inteiramente o projeto. A empresa, em função das novas perspectivas, elaborou uma pro-posta contida no relatório “Amazônia Oriental – Plano Preliminar de Desen-volvimento”, que propunha não so-mente a exploração mineral de Carajás, mas também a exploração global dos recursos naturais existentes na região, centrada nos recursos minerais. Tam-bém foram apresentadas as alternativas de transporte e logística, como o termi-nal portuário em São Luís/MA e a es-trada de ferro que interliga a área de mi-neração ao porto, denominada Ramal

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Ferroviário do Sudeste do Pará (RFSP) ou Estrada de Ferro Carajás (EFC).

Este conjunto de medidas consistiu no Programa Grande Carajás (PGC), que foi apresentado oficialmente no final de 1980. Como consequência, assim como outros grandes projetos, trouxe o inchaço populacional. Para a acomodação desta população emergiram novos centros ur-banos, geralmente sem a menor infraes-trutura necessária para funcionamento. Os interesses estatais eram atendidos, pois havia mobilização da mão de obra para a construção das estradas, ferrovias e de-mais instalações, mas os migrantes tinham os seus interesses deixados em último plano. Essas grandes obras, ao mesmo tempo em que empregavam um grande contingente de trabalhadores, após o seu término, deixava um rastro de miséria e desemprego quando eram finalizadas.

Além dos conflitos sociais gerados pela desigualdade de condições socioe-conômicas promovidas pelo projeto, a área do projeto estava dentro de uma área indígena demarcada, a Área Indí-gena Xikrin do Cateté. A vinda de um grande contingente populacional para o entorno da terra indígena, já traria algum tipo de conflito entre estas so-ciedades, certamente. Os primeiros estudos de viabilidade realizados para o empreendimento não previam ne-nhuma política para as etnias indígenas

afetadas pelo projeto. Somente após a pressão de organizações não governa-mentais, pesquisadores e antropólogos, brasileiros e estrangeiros, envolvidos com as sociedades indígenas, a questão foi mediada e resolvida (SCHMINK & WOOD, op. Cit., p. 329).

As primeiras medidas para compen-sar os danos causados a essas etnias da-tam de meados dos anos de 1980. Ao longo do desenvolvimento do projeto, o diálogo e a intervenção federal aumen-taram nesta relação entre sociedades indígenas e a mineradora. Os conflitos ainda existem, mas são bem menores do que os ocorridos no início do projeto.

A barragem

Na década de 1950, tiveram início os estudos sobre o potencial hidrelétrico do rio Tocantins, bem como sobre sua navegabilidade. Mas somente na déca-da seguinte, com o fomento dos proje-tos federais para o desenvolvimento da região norte do país, que a construção de uma hidrelétrica foi levada adiante. Com as descobertas minerais da década de 1960 e 1970, não só do sudeste do Pará, como as reservas de bauxita em Oriximiná entre outras, era necessário aumentar o potencial elétrico do país para atender os novos empreendimen-tos (PINTO, 2010).

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Em 1974, foi iniciada a construção da hidrelétrica de Tucuruí, que só foi encerrada em 1985. A obra é a quarta maior do mundo e abastece principal-mente os estados do Pará, Maranhão e Tocantins, além disso, compõe o Sistema Integrado Nacional de distri-buição de energia. Possui uma área de reservatório de 2.850 km² e está loca-lizada próximo à Marabá, no municí-pio de Tucuruí.

Assim como outras grandes obras na Amazônia dos anos 1970-80, a bar-ragem trouxe uma série de transfor-mações socioeconômicas irreversíveis para a região. Atração de grande con-tingente populacional, formação de no-vos aglomerados urbanos, tensões com movimentos de luta pela terra e com indígenas. Além das consequências so-cioeconômicas, essa obra afetou o meio ambiente, principalmente com a inun-dação da área da represa. Boa parte do patrimônio material, imaterial, cultural e ambiental ficou sob as águas e as suas consequências podem ser vistas até a contemporaneidade.

Conclusões

A Amazônia, a partir das grandes obras elaboradas no regime militar, foi modificada de maneira irreversível. As ações tinham como objetivo o desenvol-

vimento regional e a integração nacio-nal. De fato, muitas áreas inacessíveis, isoladas, foram ocupadas. As cidades se multiplicaram e as riquezas naturais, como os minérios e a madeira, foram rapidamente exploradas, movimentan-do a economia, mas não houve plane-jamento para a execução destas obras e as consequências foram negativas, seja nos projetos de mineração, construção de estradas ou colonização.

O desenvolvimento foi bastante he-terogêneo, com uma desigualdade muito grande entre as partes envolvidas. Essa falta de planejamento resultou em nú-cleos populacionais sem a menor infra-estrutura, como água, esgoto, hospitais, escolas e segurança. Os ciclos de explo-ração foram breves, acompanhados de fartura no início (como o garimpo e a madeira), mas com um final decaden-te e miserável. Os projetos de reforma agrária nunca se concretizaram e a luta pela terra é constante desde o início dessas obras até os dias de hoje.

O golpe de Estado, que levou os militares ao poder, teve seu final em 1985, deixando para trás uma estru-tura estatal precária e a economia em uma crise profunda, além dos confli-tos sociais que tiveram impacto deci-sivo para o recuo do regime. Na déca-da seguinte, o investimento federal na região diminuiu consideravelmente e

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os grandes projetos retornaram ape-nas no século XXI, com um novo pe-ríodo de prosperidade econômica.

Neste período, a região do sudes-te do Pará passou por um novo ciclo, desta vez de estabilidade e desenvol-vimento econômico regional. A infra-estrutura das cidades de maneira geral melhorou, apesar de alguns problemas persistirem, como a instabilidade no fornecimento de energia elétrica e o

saneamento básico. A estrutura viária permanece instável, com algumas es-tradas em péssimo estado, principal-mente durante os períodos de chuva. A agropecuária tornou-se a principal ati-vidade em diversos municípios e o co-mércio local se fortaleceu. Novos pro-jetos de mineração tiveram início nos anos 2000 e trouxeram novo desen-volvimento econômico, com impactos socioeconômicos menores devido ao planejamento, mas ainda significativos.

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Neste capítulo, o foco de interes-se foram as histórias de forma-ção dos municípios envolvidos

nesta pesquisa, desde a década de 1970. Essas narrativas estão na memória de muitos residentes, que são um patrimônio vivo das cidades e precisam ser lembrados para que as futuras gerações saibam con-tar as histórias de sua terra.

As fontes de pesquisa

Os quatro municípios envolvidos no projeto de arqueologia preventiva compartilham um contexto histórico de formação bastante semelhante. Muitas características são comuns, mas todas as cidades têm suas particularidades, que as tornam diferentes em muitos outros pontos. Infelizmente, dispomos de poucas fontes de informação para pesquisar sobre a história da região e a bibliografia encontrada para cada muni-

cípio é bastante restrita. O histórico dos municípios foi escrito com as fontes de pesquisa descritas a seguir.

Os municípios de Xinguara, Tucumã e Ourilândia do Norte foram objeto de estudo de dois pesquisadores norte-a-mericanos, Marianne Schmink e Char-les Wood, que durante a década de 1980 fizeram algumas viagens pela região, que resultaram na publicação do livro Contested Frontier in Amazônia, publicado em 1992, mas que chegou traduzido ao Brasil em 2012, com o título de Confli-tos Sociais e a Formação da Amazônia.

Sobre Tucumã, ainda existem duas obras acadêmicas: uma dissertação de mestrado escrita por um aluno de Sch-mink e Wood que participou de algumas viagens, cujo título é Land, Gold and Far-mers: Agricultural Colonization and Frontier Expansion in the Brazilian Amazon (tradução livre: Terra, ouro e fazendeiros: colonização agrí-

Capítulo 3Breve Histórico da Formação dos municípios

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cola e expansão das fronteiras na Amazônia bra-sileira), escrita em 1995, na Universidade da Flórida e uma monografia de conclu-são do curso de História da Universidade Federal do Pará, escrita por Eleildo Vir-golino da Silva, em 2003, com o título de Dois Pesos, Duas Medidas: A violência pensada como elemento de convivência na sociedade tucu-maense. Legal ou ilegal? Os desdobramentos da violência do fim da década de 70 aos dias atuais.

Ourilândia teve sua história narrada em um livro dedicado à cidade, de au-toria de Antônia Alencar e Willian Gaia Farias, intitulado Ourilândia do Norte: Grandes Projetos, garimpos e experiências so-ciais na construção do município, publicado no ano de 2008.

Sobre São Félix do Xingu foi con-sultado um relatório do Centro de De-senvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), de autoria de Roberto Luís Monte-Mór, intitulado São Félix do Xingu: O Avanço da Fronteira Amazônica e um Novo Espaço em Formação, de 1984.

Sobre o município de Água Azul do Norte a literatura é menor e foi identi-ficado apenas um documento, dispo-nibilizado no Website da Prefeitura, cuja autoria e ano de edição não estão identi-ficados. O texto conta em 30 páginas um pouco das origens do município e das administrações públicas e provavelmente foi escrito entre os anos de 2001 e 2004.

Além destes títulos, as principais fontes de pesquisa sobre a história dos municí-pios são os jornais, tanto locais, quanto de abrangência estadual ou nacional.

xinguara

Ainda na década de 1970, entre as diversas estradas construídas no Pará, uma tem influência direta na área estu-dada. A Rodovia PA-279, que liga o mu-nicípio de Xinguara a São Félix do Xin-gu, era uma reivindicação local antiga, da década de 1950. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) anunciou em 1966 uma rodovia que ligaria Con-ceição do Araguaia a Redenção e, pos-sivelmente, a Gorotire (reserva indígena Kayapó), no rio Xingu, mas devido à experiência da PA-150, que atravessou o território dos índios Gavião e oca-sionou diversos incidentes violentos, a proposta foi abandonada.

Em 1973, uma nova proposta foi apresentada pelo DER, mas o traçado não era o definitivo, esbarrando ainda na questão indígena. Mesmo sem o traçado final definido, a abertura da estrada foi iniciada em 1976 e em 1978 já haviam sido construídos 130 km de rodovia, atingindo a área próxima da proprieda-de da empresa Andrade Gutierrez, que futuramente sediaria o projeto Tucumã. A questão indígena foi resolvida com a demarcação da reserva Xikrin em 1978,

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mas a estrada só foi concluída em 1983 (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223).

O primeiro município associado à rodovia PA-279 foi Xinguara, surgido a partir de um acampamento de turmas para a obra da estrada. O povoado pros-perou rapidamente e um ano após a sua fundação, já havia pelo menos 1.360 re-sidências. Outros atrativos, como uma colônia agrícola, que distribuiria terras, nunca foram efetivados, o que não di-minuiu o fluxo migratório para a região.

O projeto de colonização em Xin-guara era parte da campanha política de Ulysses Vieira, na disputa com Giovan-ni Queiroz, pela prefeitura de Concei-ção do Araguaia. A distribuição ordena-da de lotes tinha como objetivo acabar com os confrontos entre fazendeiros e agricultores, que havia se espalhado por todo o estado, mas o resultado foi exa-tamente o contrário. Um número muito superior ao esperado de famílias procu-rou o programa e outras tantas migra-ram para a região à procura de oportuni-dade. As tensões sociais se acumularam e eclodiram de forma violenta. Xingua-ra tornou-se conhecida pelos tiroteios e impunidade aos pistoleiros.

O problema da violência primeira-mente foi tratado dentro da esfera esta-dual, por ação de órgãos como Instituto de Terras do Estado do Pará (ITERPA,

de 1975) e a Secretaria Estadual de Agri-cultura (SAGRI), que não encontraram uma solução. O INCRA então passou a ser pressionado para a resolução dos problemas e reagiu por meio da criação da Coordenadoria Especial do Araguaia-Tocantins (CEAT). A CEAT estabeleceu um escritório em Xinguara em 1977, mas na pressa de assentar os colonos, acabou ocasionando novos conflitos (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223).

Eventos ocorridos em Xinguara e demais regiões levaram o governo mi-litar a procurar uma solução para re-solver os conflitos de terra na fronteira Amazônica. O Conselho Nacional de Segurança visitou o município em 1979, tendo como resultado imediato à cria-ção do Grupo Executivo de Terras To-cantins-Araguaia (GETAT). O novo ór-gão se apossou dos recursos do CEAT e INCRA na região e ficou sediado em Marabá, mas dividido em seis escritó-rios regionais. O GETAT estendeu sua função não apenas aos assentamentos, mas a qualquer outra necessidade que considerasse necessária à manutenção da “ordem”. Através do seu relativo poder, o grupo procurou construir uma base de apoio numa área onde as rela-ções sociais acarretavam constante opo-sição ao regime militar.

A concentração fundiária foi intensi-ficada pelas políticas de títulos do GE-

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TAT. Quando um fazendeiro tinha sua propriedade invadida, recebia um título ainda mais extenso em outra área. A consequência foi o incentivo de inva-sões pelos próprios fazendeiros, pro-prietários. A violência dos conflitos aumentou a cada ano do final do regi-me militar e o número de pistoleiros de aluguel proliferou.

A intenção da reforma agrária, anunciada pelo Presidente Sarney, em 1985, primeiro após o fim do gover-no militar, intensificou ainda mais as ameaças de morte, espancamentos, torturas e assassinatos em municípios como Conceição do Araguaia, Xingua-ra, Redenção e Marabá. Dentro deste plano de reforma agrária estavam in-seridos projetos privados de coloniza-ção, como o Projeto Tucumã, que será abordado adiante.

O GETAT estava desacreditado desde o início da década de 1980 e foi oficialmente extinto em 1987. O fim do GETAT significou a renúncia federal do controle sobre terras Amazônicas designadas como áreas de segurança nacional, que voltaram a ser do contro-le do estado do Pará.

O projeto Grande Carajás, que também será abordado a seguir, pro-moveu a pavimentação da PA-150 até Rio Maria e a eletricidade gerada pela

hidrelétrica de Tucuruí também chegou a Xinguara no final da década de 1980, promovendo o desenvolvimento co-mercial significativo. A partir de então, os conflitos ficaram menos violentos, mas até hoje não foram completamen-te resolvidos.

tucumã

Dentro dos programas de coloniza-ção da Amazônia datados do final dos anos de 1970, um dos mais importante foi o Projeto Tucumã. Está na origem de dois municípios que fazem parte do programa de educação patrimonial: Tu-cumã e Ourilândia do Norte.

A característica peculiar do empre-endimento é a forma de execução da colônia agrícola. Na metade dos anos de 1970, a SUDAM havia feito um pla-no de colonização de uma área, chama-da Gleba Carapanã, no município de São Félix do Xingu, uma área rica em terras roxas. A proposta nunca se efeti-vou, devido aos conflitos de interesses entre ITERPA e INCRA. A partir da construção da BR-158 e da legislação de terras, a gleba passou para o domí-nio federal, sob jurisdição do INCRA, que optou por uma licitação pública para companhias privadas de coloniza-ção, em 1978 (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223).

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A vencedora da licitação foi a Construtora Andrade Gutierrez (CONSAG), registrada como empresa colonizadora dois anos antes, com o Projeto Tucumã. A aprovação ocorreu em 1979, mas a venda dos lotes teve início apenas em 1982, devido à buro-cracia envolvida no processo.

A CONSAG já havia tentado uma empreitada semelhante através da Su-perintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no Maranhão, mas o projeto não fora aprovado pela superintendência. Na época, a Andrade Gutierrez era uma das maiores empresas totalmente nacional do país. Atuava prin-cipalmente em obras de infraestrutura es-tatais, como estradas, portos e até mesmo a represa de Itaipu, mas este era o primei-ro projeto agrícola da companhia.

O Projeto Tucumã consistia em uma área de 400.000 hectares, dividida em três seções, somando quase três mil lotes de terra. O tamanho e preço dos lotes variavam de acordo com o uso do lugar, localização e qualidade do solo. Havia 650 lotes pequenos (de 15 a 55 hectares), mais próximos dos centros urbanos, para o plantio de hortaliças. As áreas além do perímetro urbano eram lotes agrícolas maiores (55 a 280 hectares) e havia plano para lotes acima de 300 hectares, para a criação de gado (BUTLER, 1985).

A empresa planejou construir 1.000 km de estrada, três centros urbanos e 60 comunidades rurais, assim como escolas, hospitais, prédios administrati-vos, armazéns, aeroporto, terminal ro-doviário e fornecimento de água e ele-tricidade (SCHMINK & WOOD, op. Cit., p. 266).

A sede urbana de Tucumã foi pla-nejada e dividida em zonas comer-cias e residenciais. A hierarquia so-cial também estava representada no planejamento urbano. Os dirigentes da CONSAG ocupavam domicílios maiores, localizados no alto de uma colina, com vista panorâmica da cida-de. Os chefes e burocratas ocupavam casas mais modestas, localizadas pró-ximas ao centro da cidade. Os ope-rários habitavam as vizinhanças das zonas comercias, em bairros sem ele-tricidade e sem água encanada.

O início do projeto foi custoso, com poucas famílias assentadas, excesso de chuvas e a crise econômica de 1983. Os anos seguintes foram melhores e até 1985, a empresa já havia vendido 750 lotes e assentado 184 famílias em Tu-cumã. Neste momento, também já era parte oficial do Projeto Grande Carajás.

Por meio do sistema de venda de lotes controlado, a construtora pre-tendia evitar a violência e desgaste que

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outros projetos de colonização haviam enfrentado, como em Xinguara. A lo-calização do projeto também foi es-tratégica, situado entre duas reservas indígenas, Xikrin ao sul e Kayapó ao norte, o que impediria invasões nas áreas do entorno. Além disso, a An-drade Gutierrez obteve o contrato es-tadual para a construção da rodovia PA-279, que ligaria Xinguara a São Félix do Xingu, garantindo assim a su-pervisão do acesso ao projeto.

Mesmo com a tentativa de colo-nização organizada, a empresa não contava com as consequências que a descoberta de ouro no final dos anos 70 no sul do Pará traria para o projeto. O garimpo do Cuca, por exemplo, que estava localizado dentro dos limites do projeto, já era ativo antes da constru-ção da cidade de Tucumã.

Em 1981, ocorreu a primeira inva-são planejada do projeto. Garimpei-ros haviam descoberto ouro na Gro-ta da Taca, mas foram expulsos pela segurança da construtora. Após noti-ciarem a descoberta do local, atraíram outros garimpeiros, que reunidos em grande número invadiram a área sem resistência da segurança. A grota não gerou os lucros esperados, mas serviu como incentivo à invasão de outras áreas em Tucumã.

Assim, a atividade mineradora se consistiu no principal suporte econô-mico nos primeiros anos do projeto. Em 1984, menos de 10% dos habitan-tes eram agricultores em tempo inte-gral (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 272). Negativamente, o garimpo trouxe a escassez de mão de obra para a agri-cultura (que pagava pouco) e epidemias de malária. Positivamente, a economia foi beneficiada pela renda extra, útil nos primeiros anos de quem chegava, para arcar com os custos iniciais da produção agrícola.

No ano seguinte, intensificaram-se as invasões ao projeto por posseiros que ocupavam a área da Gurita, atu-al município de Ourilândia do Norte. Para resolver o problema das invasões, a CONSAG deu início à distribuição gratuita de cerca de 70 lotes. A notícia da distribuição dos lotes atraiu ainda mais famílias para a área, o que estimu-lou novas invasões e começava a ame-açar as propriedades dos colonos que haviam comprado os lotes da empresa.

Mesmo com as tensões acumulan-do-se, a CONSAG publicou o primeiro relatório do projeto em 1985 e apresen-tou um requerimento ao GETAT para liberar 125.544 hectares da Gleba II. No entanto, a mudança política em âm-bito nacional, com o final do governo militar em 1984, acarretou mudanças

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nos planos de distribuição de terras. O compromisso firmado pelo Governo Federal da realização da reforma agrá-ria ativou uma onda de invasões de ter-ra em todo o território nacional. Essas invasões foram aceleradas a partir de 1985 e a situação do projeto já estava fora de controle. Até metade do ano, já havia mais de 3.000 pessoas em Tu-cumã oriundas do processo de invasão. Este foi o fim do projeto como havia sido concebido.

Jader Barbalho, primeiro governa-dor do Pará após a redemocratização, apresentou uma proposta para repas-se da administração da área do projeto para a esfera estadual, junto ao novo Ministério da Reforma e do Desenvol-vimento Agrário (MIRAD). Foi criado o Conselho de Desenvolvimento Co-munitário Independente (CODETUC), com a finalidade de facilitar a mudança administrativa, mas acabou por ficar praticamente sozinho na tarefa de ad-ministrar o local.

A partir de 1985, a negociação de valores foi iniciada. A avaliação inicial da Andrade Gutierrez chegou ao mon-tante de U$ 31 milhões. O GETAT, em outra avaliação chegou ao valor de U$ 29 milhões, valor prontamente aceito pela construtora. Assim, o GETAT concluiu que a empresa colonizadora havia cumprido as suas obrigações con-

tratuais e a empresa deveria ser reem-bolsada pelos seus gastos.

No entanto, uma comissão do MI-RAD contestou os valores e refez os cálculos, chegando a um montante bem inferior ao inicial: U$ 10 milhões. Esse valor foi rejeitado pela CONSAG. A empresa alegou que o custo de assen-tamento no projeto era bem inferior ao custo médio dos projetos de reforma agrária que estavam em execução no país naquele momento. Em 1986, o MI-RAD autorizou a contratação de uma consultoria externa por meio de licita-ção pública, para uma nova avaliação. A empresa vencedora foi a Sondotécnica, que em 1987 realizou um relatório de-talhado, no qual avaliou o projeto em U$ 25 milhões, valor mais próximo ao desejado pela empresa colonizadora.

A crítica que se faz à negociação é que as extravagâncias cometidas na ad-ministração da Andrade Gutierrez, que não tinha experiência em projetos de colonização, tiveram seus custos im-putados ao Estado, que foi obrigado a arcar com as despesas.

Em 1988, ocorreu o pagamento dos valores e a administração de Tucumã passou para os funcionários locais re-cém-eleitos, que herdaram uma estru-tura física muito melhor do que a de cidades espontâneas que surgiram na mesma época.

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Ourilândia do norte

O município de Ourilândia do Nor-te tem sua história intrinsecamente as-sociada ao seu vizinho, Tucumã. A área administrada pela CONSAG atraiu uma grande população para a região, fluxo demográfico não suportado pelo projeto. As famílias, oriundas de diver-sas regiões do país, mas principalmente do Sul e Nordeste, na impossibilidade de adquirir um lote de terra na área do projeto e sem recursos para retornar, acabaram formando um acampamen-to no portão de acesso do empreendi-mento, em frente a uma guarita de vi-gilância. Em 1981, as primeiras famílias se instalaram no povoado que ficou conhecido como Gurita (ALENCAR e FARIAS, 2008).

A área de Tucumã era isolada e o acesso controlado pela empresa. Na guarita havia uma corrente que impe-dia o acesso, cujo significado simbólico permanece até hoje no imaginário da população mais antiga de Ourilândia.

A CONSAG não acreditava que o povoado resistiria sem infraestrutura e no primeiro momento, a única preocu-pação era a proteção do projeto contra invasores. A descoberta do ouro atraiu ainda mais habitantes para o povoado e fomentou um pequeno desenvolvi-mento local, com pequenos comércios

relacionados à atividade garimpeira. Ainda assim, nenhuma política foi adotada para o povoado que crescia cada vez mais, pois a expectativa era de que o fim do garimpo também dis-siparia a população (ALENCAR e FA-RIAS, 2008).

Com a intensificação das tentativas de invasões ao projeto e a falha das previsões quanto ao fim da Gurita, a empresa precisou adotar algum posi-cionamento. A primeira tentativa ocor-reu entre 1983 e 1984, quando a filha do dono da CONSAG, Marília Andra-de, viajou a região e propôs um acordo com os moradores do acampamento. A ideia era integrar as populações, com a concessão de lotes dentro de Tucumã para as famílias que abandonassem a Gurita. O acordo foi prontamente re-jeitado. Os loteamentos localizavam-se longe do núcleo urbano e não conta-vam com a infraestrutura dos outros lotes do empreendimento.

Os conflitos envolvendo grandes empreendimentos não eram exclusi-vidade do projeto da CONSAG. Em outras áreas do Projeto Grande Ca-rajás ocorreu situação análoga, com marginalização da população atraída para as novas frentes de colonização. Em resposta aos conflitos, foi criado o GETAT, no ano de 1979 e no ano de 1983 foi criado um escritório do órgão

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em Ourilândia. Os loteamentos dis-tribuídos pelo órgão deram origem às localidades denominadas Calça Ama-rela, Quatro Barracos e Águas Claras. No entanto, as medidas adotadas pelo GETAT, em vez de promover a reso-lução dos conflitos, os acentuou ainda mais, na medida em que a possibilidade de receber títulos de lotes de terra le-galmente acabou por atrair ainda mais colonos para a região (ALENCAR e FARIAS, 2008).

No mesmo ano ocorreu ainda o alargamento da PA-279. A ocupação da Gurita era às margens da estrada e a sua organização urbana se desenvolveu em torno dela. No entanto, a CON-SAG solicitou o alargamento da pista, de 12 para 30 metros, o que acarretaria a retirada de muitos moradores da área mais valorizada da vila. O processo foi violento, com o uso de força policial e a estrada foi construída. Os moradores associaram a obra da estrada com a ten-tativa dos loteamentos dentro do proje-to proposto pelo empreendedor, o que gerou uma insatisfação ainda maior, mas a Gurita permaneceu.

O ano seguinte foi ainda pior para os moradores da localidade conhecida então como Gurita, de onde floresceria o município de Ourilândia do Norte. O inverno de 1985 marcou profundamen-te a história da região, devido ao iso-

lamento ocasionado pelas chuvas, que impediam o tráfego de veículos pela PA-279. Apesar de haver abundância de dinheiro do garimpo, que estava no seu auge, não havia produtos para comprar. Os comércios ficaram completamente desabastecidos e a troca era a principal alternativa para obter os produtos ne-cessários para a sobrevivência. Foi ne-cessária a intervenção federal, por meio da Força Aérea Brasileira, para o abas-tecimento da região.

Ainda em 1985, outro fato impor-tante marcou a luta pela terra do local conhecido hoje como Ourilândia. Um segurança da CONSAG conhecido pela violência e humilhação à qual submetia os colonos invasores, foi linchado em meio a uma discussão no GETAT. O revide também violento dos colonos marcou um posicionamento contra a empresa administradora do projeto. O simples uso da força não era mais sufi-ciente para intimidar os invasores e dar segurança à área.

Neste período, a CONSAG admi-tiu o fracasso do projeto e começou a negociar valores para repassar o em-preendimento ao governo estadual. A indenização deveria cobrir os gastos e extravagâncias realizadas pela adminis-tração da empresa. O processo foi con-cluído em 1988, no governo de Jader Barbalho, quando a administração foi

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transferida para funcionários munici-pais recém-eleitos em Tucumã (ALEN-CAR e FARIAS, 2008).

As tentativas de acabar com o po-voado da Gurita haviam falhado, no entanto, a área permanecia sem a in-fraestrutura necessária, sem políticas públicas. A área pertencia ao município de São Félix do Xingu, cuja sede ad-ministrativa é distante cerca de 100 km e a estrada possuía péssimas condições de trafegabilidade. No entanto, não ha-via presença da administração munici-pal no local, um exemplo disso é que as vias públicas não foram abertas pelo governo municipal, mas pelos próprios moradores em regime de mutirão.

A partir de 1986, os moradores de Ourilândia, organizados, exigiram que o povoado fosse elevado à categoria de distrito, com uma subprefeitura para a representação do município na localidade. Com a elevação do povo-ado a distrito houve a necessidade de dar nome à localidade, uma vez que a denominação Gurita não agradava as autoridades locais. As propostas mais populares foram dos nomes Ourici-lândia, em homenagem ao ouriço da castanha, e pelo ouro, Ourilândia, que simbolizava a origem do povoado na extração do ouro. O segundo nome venceu a escolha popular (ALENCAR e FARIAS, 2008).

Neste mesmo ano, foi realizado o primeiro abaixo-assinado pela emanci-pação da localidade, promessa de cam-panha assumida pelo candidato a de-putado estadual Giovanni Queiroz. O candidato eleito apresentou o projeto de emancipação à Câmara dos Deputa-dos em abril de 1987, e entre a aprova-ção do projeto e consulta à população por plebiscito, a emancipação foi efe-tivada em maio de 1988, com o nome de Ourilândia do Norte, pois já havia um município chamado Ourilândia no Paraná (ALENCAR e FARIAS, 2008).

Ourilândia e Tucumã se emanci-param na mesma data e a organização social promovida pela necessidade de sanar seus problemas fez com que a comunidade de Ourilândia conseguis-se algumas vitórias durante o processo, como a instalação de um hospital pú-blico. No mesmo ano da emancipação houve eleição municipal, na qual foram escolhidos o primeiro prefeito e verea-dores e a administração pública come-çou a ser organizada.

Após a emancipação de Ourilân-dia, três povoados ficaram submetidos à administração municipal: Bannach, Cumaru do Norte e Brilhante. Essa es-colha se deu por questões meramente geográficas, pois ficavam mais próxi-mos à sede de Ourilândia do que de São Félix do Xingu. No entanto, nenhum

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deles estava relacionado socioeconomi-camente com o município de Ourilân-dia. Bannach foi emancipado em 1993 e Cumaru do Norte em 1991. Brilhan-te foi integrado à última e permanece como distrito de Camuru do Norte.

São Félix do xingu

O município de São Félix do Xingu localiza-se na margem direita do mé-dio curso do rio Xingu, onde este se encontra com o rio Fresco. Diferente de Ourilândia e Tucumã, São Félix não é uma cidade de “beira de estrada”, apesar de situar-se no final da PA-279. Mas como cidade da “beira”, não é an-tiga como outras localizadas próximas à foz do rio Xingu.

Assim como os rios Tocantins e Araguaia, o rio Xingu não foi coloni-zado durante muito tempo, mas suas margens, suas áreas. Os únicos muni-cípios foram fundados por portugue-ses e jesuítas, como Altamira, Porto de Moz e Senador José Porfírio estão localizados na foz do grande rio, pró-ximos ao Amazonas.

Essa região despertou o interesse do Estado brasileiro após a descoberta da borracha, no início do século XX. Até então, as terras eram ocupadas por etnias Kayapó, estabelecidas na área

desde o século XVIII, após a fuga do Planalto Central Brasileiro, seu local de origem. A invasão dos seringueiros nas terras indígenas iniciou um proces-so social conflituoso que se estendeu durante décadas. Ataques de surpresa, sequestros e assassinatos passaram a fazer parte da realidade local. É neste contexto da descoberta da borracha no Médio Xingu que o município de São Félix tem origem.

O comércio da borracha na foz do rio Xingu, no final do século XIX, era dominado por um ex-coronel da Guar-da Nacional, José Porfírio de Miranda. Com o objetivo de aumentar os seus lucros, contratou outro ex-coronel, Tancredo Martins Jorge, para contro-lar um posto comercial de borracha na ilha de Ilhota, próxima à atual São Fé-lix. O barracão foi inundado em 1914 e posteriormente transferido para a atual localização do município. O nome da cidade está associado a uma imagem de São Félix, trazida por Tancredo para o novo barracão (SCHMINK & WOOD, op. cit.).

Durante mais de uma década Tan-credo prosperou, mas na medida em que a borracha perdeu importância, sua influência também diminuiu. A rota co-mercial estabelecida por terra entre São Félix e Conceição do Araguaia, tam-bém foi um fator importante, possibi-

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litando a migração e entrada de outros produtos na vila. Como um tradicional coronel, o uso da violência é comum nos relatos sobre o seu comportamen-to. E em 1920, já sem a mesma influ-ência e após um desentendimento com o seu principal apoiador, José Porfírio, foi assassinado por um antigo desafeto, em situação de pobreza total.

Após o declínio da borracha, as ati-vidades na vila de São Félix se diver-sificaram na medida do possível. No final da década de 1920, a economia girava em torno do comércio da casta-nha. A população não indígena havia sido reduzida a algumas centenas de pessoas, envolvidas nas atividades de extração. Nesta época, o contato com os grupos Kayapó que habitavam a re-gião se intensificou, geralmente com ações violentas tanto do lado indíge-na, quando dos extrativistas. Como resposta, houve uma maior atenção do Estado para região, com a intensi-ficação da sua ação por meio do Ser-viço de Proteção ao Índio (SPI), com a construção do Posto Indígena Go-rotire. No mesmo período, também se intensificou a ação missionária, que se estendeu pelas décadas seguintes.

Durante as décadas de 1930 e 1940, com a II Guerra Mundial, houve novo incentivo à produção da borracha e a população do Xingu voltou a crescer,

principalmente com o recrutamento dos “soldados da borracha”. O aden-samento populacional fez com que os conflitos já existentes ficassem ainda mais graves. Os grupos indígenas já es-tavam habituados ao contato e haviam aprendido a utilizar armas de fogo. O SPI era acusado de fornecer armas aos indígenas e os comerciantes da borra-cha iniciaram uma campanha contra o órgão. A instituição argumentava que a defesa indígena era uma resposta à violência dos colonos e seringalistas (SCHMINK & WOOD, op. cit.).

O final da II Grande Guerra Mun-dial e o declínio da borracha não fez com que as animosidades diminuíssem. Na década de 1950, o Governo Fede-ral procurou alternativas para a solução dos conflitos, principalmente depois a criação do SPVEA, com as propostas do antropólogo Darcy Ribeiro. Foram criadas pista de pouso e instalações de rádio e telégrafo. No entanto, o SPI foi incorporado pelo Ministério da Agri-cultura, na metade da década e o seu quadro administrativo foi completa-mente modificado. Essa ação fez com que os defensores dos direitos indíge-nas, como Darcy Ribeiro, deixassem o órgão, que foi extinto na década de 1960 e substituído pela Fundação Na-cional do Índio (FUNAI). Durante as décadas de 1940 e 1950, mais da metade dos índios contatados morreu. A “paci-

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ficação” de todos os grupos Kayapó só ocorreu a partir de 1966, quando o de-clínio populacional se estabilizou.

A queda do preço da borracha após a guerra implicou no colapso nos arran-jos de mão de obra e crédito na região de São Félix. O Governo Federal mu-dou o foco da exploração da Amazônia ainda na década de 1960, substituindo os incentivos e créditos das ativida-des de exploração, como a castanha e borracha, pelas atividades industriais e agrárias modernas.

Uma das alternativas mais rentáveis encontradas pelos seringueiros foi a procura por peles de animais, como a lontra gigante e onça pintada, atividade também baseada no sistema de avia-mento no qual o comerciante ou avia-dor adianta bens de consumo e alguns instrumentos de trabalho ao produtor, e este restitui a dívida contraída com produtos extrativos e agrícolas. Apesar de bastante lucrativa, principalmente na década de 1960, a atividade foi conside-rada ilegal a partir de 1971 (SCHMINK & WOOD, op. cit.).

O fim das atividades de extrativis-mo acarretou uma maior urbanização de São Félix e a cidade foi emancipa-da de Altamira em 1961, tornando-se o terceiro maior município do país. O fim do aviamento enquanto sistema

tornou o serviço público um forte atra-tivo, com disputas por cargos públicos assolados por corrupção. As receitas públicas permitiram algum desenvolvi-mento da infraestrutura do município, como uma pista de pouso e uma estra-da rumo a Gorotire, mas a situação das escolas, hospitais e saneamento básico urbano eram graves.

No decorrer da década de 1960, ti-veram início as atividades de pesquisa mineral, quando foram descobertos depósitos de ouro, prata, chumbo, zinco, diamante, cobre, manganês, níquel, volframita e cassiterita. Na década seguinte, várias empresas na-cionais e multinacionais se instalaram na região e centenas de licenças para pesquisas minerais foram solicitadas ao Departamento Nacional de Pro-dução Mineral (DNPM).

A maior parte dos depósitos foi considerada economicamente inviável, no entanto, algumas mineradoras se instalaram em São Félix no início da década de 1970. A Mineração Serras do Sul explorou um território próximo ao rio Cateté entre 1973 e 1978, com autorização da FUNAI e a Produtora de Minério Xingu S.A. (PROMIX), que em 1972 obteve o direito de minerar ao longo do rio Branco, foi invadida no final da década por garimpeiros que descobriram ouro na área da empresa.

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Esse garimpo deu origem à atual agro-vila do Cuca, em Tucumã, em um con-flito que só terminou em 1984.

Durante a década de 1970, as ativi-dades de mineração cresceram. A ur-banização da cidade inverteu-se nova-mente e a maior parte dos habitantes de São Félix passou a ser residente em áreas de garimpo. A atividade principal era a extração do estanho, em áreas le-gais ou ilegais. Em 1986, São Félix era o município que possuía maior número de concessões para mineração no esta-do, quase todas para o estanho.

A partir de 1974, São Félix passou a fazer parte dos programas nacionais para o desenvolvimento da região Nor-te. As imagens de satélite do programa Radam6 publicadas no início da década de 1970, identificaram áreas de terra roxa em pelo menos 10% do território do município. Ao todo, mais de 700 mil hectares eram aptos à produção agríco-la, e outros 200 mil poderiam ser utili-zados para pastagem ou reflorestamen-to. Até 1973, duas mil requisições por títulos de terra haviam sido protocola-das nas agências estaduais para a região do Médio Xingu.

6 Projeto de levantamento e mapeamento de recursos naturais do Brasil (solo, geomorfologia, geologia, vegetação e uso da terra) utilizando como base imagens gerados por radar. Conhecido também como Projeto RADAM.

As verbas do Governo Federal alcançaram São Félix por meio do Programa de Pólos Agropecuários e Agromineral da Amazônia (POLAMA-ZÔNIA) (1974-1980). As estratégias de ação do programa estavam baseadas no conceito de polos de crescimento, descritos no Segundo Plano de Desen-volvimento Nacional (1975-79). Fo-ram delimitadas 15 áreas prioritárias na Amazônia, ou pólos de desenvolvimen-to, focados em pontos setoriais, como extração de recursos minerais ou áreas de criação de gado. São Félix não con-sistia em nenhum polo específico para a Amazônia, mas os limites do polo de Carajás foram estendidos para abranger o município. O programa investiu mais de U$ 20 milhões em projetos para São Félix, entre eles a construção da PA-279, um plano de desenvolvimento ur-bano, a demarcação de terra, um novo aeroporto, sistema de abastecimento de água e expansão de escolas.

O projeto Tucumã foi elaborado nessa época. Munidos do conhecimen-to gerado pelas imagens de satélite e a identificação de grandes áreas de terra roxa, alguns membros da diretoria da CONSAG em 1975, decidiram diversi-ficar os investimentos por meio da exe-cução de projetos de colonização. Até então, a empresa esteve envolvida na construção de diversas obras de enge-nharia de caráter público, com conces-

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sões de trechos da Belém-Brasília e BR-319. Em 1976, foi construída a fazenda Krimet, em São Félix, às margens do rio Fresco. A propriedade tinha como objetivo ser uma fazenda experimental, com o teste de plantas para o futuro uso nas colônias agrícolas da empresa, além de servir como propaganda para o projeto. Com a construção de Tu-cumã, a fazenda declinou e foi extinta (BUTLER, op. cit.).

Ainda em 1976, teve início a cons-trução da PA-279, que só alcançou São Félix em 1983. A CONSAG também venceu a concorrência para a rodovia e em 1977 deu início aos estudos de via-bilidade do projeto Tucumã, em uma área demarcada pelos órgãos fundiá-rios estaduais, denominada Gleba Ca-rapanã, com 400.000 hectares. No ano seguinte, um contrato privado garantiu à empresa colonizadora o direito à co-lonização da Gleba Carapanã, subsidia-da pelos projetos de desenvolvimento da Amazônia.

A estrada alcançou Tucumã em 1981, quando o projeto já estava em execução, mas ainda eram necessários mais 95 km de construção para a obra alcançar São Félix. Quando a estrada atingiu o projeto, as verbas estaduais pararam de ser repassadas e o interesse da construtora diminuiu. Por meio da pressão pública, a construção da estra-

da foi finalizada em 1983, após protes-tos e pedidos de investigação por parte das autoridades de São Félix (SCH-MINK & WOOD, op. cit.).

A finalização da estrada marcou a história de São Félix, com efeitos irre-versíveis. Antes mesmo do término da obra, muitos migrantes já haviam che-gado ao município em busca de terras para cultivar. Foi o início dos confli-tos pela terra no município. Quando os migrantes chegaram, a maior parte das terras do município já havia sido reivindicada. Milhares de lotes, deno-minados glebas, foram demarcados e leiloados pelo ITERPA e GETAT. Houve farta distribuição de títulos de terras entre o final dos anos de 1970 e metade da década de 1980. Com a proliferação dos títulos foi a ocupação do território que garantiu o uso da ter-ra. A ação violenta dos posseiros ou titulares para com os pequenos produ-tores rurais foi o mecanismo de ação para a garantia esta posse.

O fluxo de migrantes, principalmen-te vindos do Nordeste e Centro-Oeste transformou a cidade demográfica e socioeconomicamente. Durante a dé-cada de 1980, São Félix do Xingu dei-xou de ser uma pequena cidade ribei-rinha. O centro se tornou um distrito comercial e novos bairros residenciais foram construídos, muitos comércios

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cresceram às margens da nova estrada. A qualidade das habitações melhorou, mas os serviços básicos, como água e eletricidade eram precários. A agricul-tura e extração permaneceram como setores importantes da economia, mas o trabalho assalariado passou a domi-nar como fonte de renda.

água Azul do norte

A região de Água Azul do Norte pertencia ao município de Marabá e era conhecida também como Rio Branco. O primeiro núcleo populacional se as-sentou na área em 1977 e era consti-tuído por madeireiros e garimpeiros à procura de novas praças, mas a madeira foi a principal atividade desde o princí-pio da localidade. O povoado assentou-se às margens da nascente do rio Itacai-únas, cuja cor das águas deu origem ao nome do município.

Em 1978, quatro madeireiras se ins-talaram na localidade, o que atraiu um contingente populacional e também de-senvolveu o comércio local. Em 1979, foi nomeado o primeiro administrador do povoado. Até então, o único acesso à área ocorria por uma picada que al-cançava a localidade de Xinguara. Nes-te mesmo ano, teve início a construção da PA-279, que interligaria Xinguara a São Félix do Xingu, passando por Água

Azul do Norte, Ourilândia do Norte e Tucumã.

Um grande número de madeireiras e migrantes foi atraído com a chegada da estrada, todos em busca de novas oportunidades. Entre 1980 e 1984, ocorreu o auge da atividade madei-reira. A exploração ocorreu de forma indiscriminada, o que acarretou em dizimação da flora e da fauna locais, com isso as áreas degradadas deram origem a pastagens e transformaram-se em grandes fazendas. Apesar de o seu impacto econômico ser reduzido em comparação a outros municípios vizinhos, foi o suficiente para causar a destruição de mananciais e poluição dos rios, alterando completamente a paisagem local em um curto espaço de tempo. Além da atividade madei-reira, o garimpo do ouro também teve a sua importância.

A ocupação desordenada e rápida costuma trazer um padrão de conse-quências já conhecido, e com o povo-ado de Água Azul não foi diferente. O período da exploração da madeira e do garimpo foi marcado por conflitos violentos, nos quais a força imperou nas relações sociais e econômicas da região. Mesmo havendo um destaca-mento policial no povoado, este era insuficiente e inoperante.

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Em 1985, a matéria-prima das ma-deireiras havia se esgotado. A nova es-trada deu acesso a novos recursos. Tu-cumã, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu tornaram-se polos mais atra-tivos para as indústrias de Água Azul, o que deflagrou a maior crise econômi-ca e demográfica da localidade. Com a principal fonte de renda comprometi-da, muitas famílias também abandona-ram a cidade, atrás de oportunidades, que como vimos anteriormente, geral-mente foram frustradas.

Durante o restante da década, ape-nas algumas obras de infraestrutura bá-sica foram desenvolvidas na vila. Havia algumas escolas, posto de saúde, uma subprefeitura, além de alguns serviços. Neste período, a atividade agrícola pas-sou a dominar as relações econômicas, o que se consolidaria na década seguinte.

A partir de 1988, com a emanci-pação de Parauapebas, o território de Água Azul passou a fazer parte deste. Em 1990, a vila passou à condição de distrito, mas as mudanças na estrutura administrativa não implicaram em mu-danças na situação do então distrito. Devido à própria distância, de mais de 270 km da sede municipal de Parauape-bas, a chegada dos serviços públicos municipais era precária e o distrito fi-cou abandonado à própria sorte.

Na década de 1990, a crise da ma-deira havia sido parcialmente superada e a cidade gradativamente se recuperou. Em 12 anos de fundação, o distrito já contava com aproximadamente 12.500 habitantes. A população, a partir de en-tão, se mobilizou em função da emanci-pação do distrito, processo já concluído em municípios vizinhos, como Xingua-ra, Tucumã e Ourilândia. O plebiscito que decidiu a emancipação do distrito ocorreu em agosto de 1991. No dia 13 de dezembro de 1991, foi sancionada a lei que criou o município de Água Azul do Norte.

Desde a sua emancipação, o muni-cípio se desenvolveu bastante, cresceu e diversificou as suas atividades. Foram construídas e equipadas novas escolas, hospitais, novos serviços foram insta-lados. A pecuária, que era dedicada à criação do gado de corte, passou a fo-mentar uma crescente indústria leiteira, com a instalação de diversos laticínios no município. A agricultura passou a ter o cultivo mecanizado de lavouras e os pequenos agricultores formaram grupos de lavouras comunitárias.

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título: PA - 70 em marabá (PA) Local: marabá (PA) Ano: s.d.Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. série: Acervo dos trabalhos geográficos de Campo

notas: negativo 19180. PA - 70, atravessando reserva de mata, a 44 km da junção com a Belém - Brasília.Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/PA9394.jpg

título: garimpeiros em viagem pelo rio tocantins itupiranga (PA) Local: itupiranga (PA) Ano: [195-?]Descrição física: 1 fot. : neg., p&b série: Acervo dos municípios Brasileiros notas: sem negativo.Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/2779.jpg

Foto 1: Fotografias de épocas antigas

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Autor: rubens moreno mazzola título: Cidade de Ligação (mA) Local: Ligação (mA)Ano: [196-?] Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. série: Acervo dos trabalhos geográficos de Campo

notas: negativo 13370.Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/mA9932.jpg

título: PA - 70 em marabá (PA) Local: marabá (PA) Ano: s.d.Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. série: Acervo dos trabalhos geográficos de Campo

notas: negativo 19180. PA - 70, atravessando reserva de mata, a 44 km da junção com a Belém - Brasília.Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/geBis%20-%20rj/PA9394.jpg

Foto 2: Fotografias antigas

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A ocupação humana no sudeste do Pará, da maneira que conhecemos hoje, é um fenômeno recente. As

primeiras cidades surgiram no início do sé-culo XX, mas somente na segunda metade deste século é que o processo de urbani-zação foi acelerado. As terras ditas “devo-lutas” pelo Governo Federal, ou seja, sem proprietários, eram ocupadas pelos povos Tupi, e principalmente Jê, há pelo menos dois séculos, quando estes abandonaram o Planalto Central, fugindo da frente de ex-pansão agropecuária no século XVIII.

Mas antes destes grupos Jê, os Kayapó, habitarem o sudeste do Pará, os viajantes e jesuítas descreveram di-versas etnias indígenas, ocupando prin-cipalmente as margens dos rios Tocan-tins, Araguaia e Xingu. No entanto, a maior parte destes povos acabou desa-parecendo, vítimas da escravidão, doen-ças, ou ainda coagida a deixar seu local de origem pelos jesuítas, que os levaram para a região de Belém.

É possível encontrar informações sobre o nome, local e língua de alguns destes grupos nos relatos de viajantes e jesuítas, mas faltam informações e de um ponto de vista bastante particular, não são suficientes para conhecer como era o modo de vida destes povos, sua cultura, objetos e história.

A arqueologia é uma ciência social, assim como a história, sociologia e an-tropologia e tem como objeto as so-ciedades humanas. O que diferencia a arqueologia das outras ciências é a sua fonte de informação sobre essas so-ciedades. Enquanto os historiadores pesquisam sobre as sociedades huma-nas em documentos e livros antigos, os antropólogos estudam o comporta-mento dos seres humanos vivendo nas comunidades pesquisadas.

A arqueologia estuda as sociedades por meio da cultura material, ou seja, os objetos inteiros ou fragmentados

Capítulo 4Arqueologia no Sudeste do Pará

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que foram produzidos de diferentes matérias-primas e que em conjunto podem auxiliar no entendimento so-bre o modo de vida dos diferentes grupos sociais do passado. Vale lem-brar que as diferentes matérias-primas passam por processos de deterioração durante o tempo, assim, os objetos produzidos com pena, madeira, re-sina e outros elementos mais frágeis podem não resistir ao tempo, e, por-tanto, faltará o registro de exemplares da cultura material estudada, mas isso não afetará o trabalho arqueológico. A arqueologia observa também a paisa-gem ocupada e manejada pelos gru-pos do passado, a fim de entender o padrão de assentamento, os recursos utilizados e o modo de utilizar o terri-tório. Portanto, a arqueologia é funda-mental para entender melhor a histó-ria do sudeste do Pará, principalmente a história indígena, que de outra ma-neira, não teria como ser contada.

Alguns conceitos arqueológicos

A arqueologia trabalha no enten-dimento das sociedades humanas por meio dos objetos produzidos por ela e também pelas modificações feitas na paisagem por essas populações.

Cada objeto produzido implica em conhecimento mental e prático sobre

a técnica a ser utilizada e sobre o meio ambiente de onde serão extraídos os re-cursos naturais. Para produzir uma vasi-lha de argila, por exemplo, será preciso conhecer cada etapa de sua produção (desde o tratamento do barro, produção da vasilha, decoração e queima da peça para tornar-se cerâmica), saber onde buscar cada recurso natural necessário (o próprio barro, pigmentos, madei-ra para queima etc.) e ainda atender o gosto da comunidade que irá utilizá-lo. Todo esse arcabouço é acionado quan-do alguém executa alguma técnica e é esse processo que a arqueologia busca entender com seus estudos.

Além disso, quando uma comunidade (pequena ou grande) ocupa um determi-nado local este é beneficiado com alguns elementos mínimos para que se instale, como acesso à água, área de plantio, ter-reno plano para habitações, dentre outros. As comunidades alteram o relevo ao se instalarem e essas modificações podem ser percebidas ao longo dos anos. A análise da paisagem permite identificar quando as sociedades, por exemplo, regularizaram o terreno para instalação de habitações, cria-ram caminhos de acesso, semearam suas hortas e roças, retificaram um córrego, desviaram um rio, criaram açudes, dentre outras ações. A modificação da paisagem também é entendida como objeto para a arqueologia e entra no entendimento das sociedades a serem estudadas. Na Amazô-

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nia é comum a presença de terra preta de índio (TPI), também conhecida por terra preta antropogênica ou terra preta arque-ológica (TPA), essa terra, como o nome sugere é bastante escura e foi produzida em decorrência da ocupação indígena em uma área por longo tempo. Essa terra é mais fértil, pois é muito rica em elementos como o ferro, o potássio, o cálcio, dentre outros. Esse é um exemplo das mudanças causadas durante a ocupação humana.

O que é sítio arqueológico?

O local onde se pode identificar objetos produzidos pelo ser humano em um espa-ço que foi modificado para receber uma comunidade é chamado de sítio arqueológico.

Os sítios arqueológicos são diversi-ficados, pois diverso é também o com-portamento do ser humano. Assim, os sítios arqueológicos podem ser iden-tificados como uma pequena área de acampamento ou uma grande extensão decorrente de uma moradia intensa, um cemitério, uma ruína ou uma área com arte rupestre. Em geral, em um sítio arqueológico é possível identificar dife-rentes atividades: para morar, para cozi-nhar, para a produção de instrumentos, para o lazer, dentre outras.

Muitas vezes, o sítio arqueológico de hoje foi uma antiga área de ocupação

abandonada por seus moradores, seja por vontade própria ou por força maior, como em momentos de guerra ou fome. O abandono, não importa o motivo, cau-sará impacto na cultura material deixada. Isto porque, com o tempo, os objetos começam a se deteriorar e não terá nin-guém para reparar o dano, assim um pe-queno defeito na madeira da casa pode se tornar, com o tempo, um grande estrago em toda a estrutura. Os materiais mais frágeis – concha, semente, resina, pena, palha, madeira, dentre outros – vão se desintegrando até desaparecer. Os ma-teriais mais resistentes – como cerâmica, lítico, ferro, louça, dentre outros – têm maior durabilidade e resistem ao longo de milênios. A relação entre o tempo cronológico e a resistência dos materiais é importante para os estudos arqueológi-cos e a consequência direta é que temos acesso somente a uma parcela das infor-mações materiais produzidas por uma sociedade, pois lidamos somente com o que resistiu aos danos das intempéries e das ações humanas ao longo dos milê-nios. Ao pesquisar uma área, a equipe de arqueologia deve sempre buscar enten-der os aspectos que modificaram o sítio arqueológico: árvores e tocas de bichos podem sempre afetar os estratos do solo e carregar material mais recente para as camadas mais antigas, por exemplo.

Os sítios arqueológicos podem ser classificados de diferentes maneiras,

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de acordo com sua localização na pai-sagem, forma de uso, tipo de cultura material, organização social atribuída, dentre outros. Essas classificações não são excludentes e podem ser combina-das para melhor descrever o local.

Em relação à sua localização na pai-sagem, os sítios arqueológicos podem ser a céu aberto, em abrigos sob rocha ou ainda podem ser construídos. Os sí-tios a céu aberto são aqueles que não apresentam nenhuma cobertura atual que dê proteção aos vestígios, mas con-vém observar que podia haver no pas-sado moradias construídas de materiais frágeis que não resistiram ao tempo. Os abrigos sob rocha possuem cobertura de pedra, que protege o solo das intem-péries criando um microclima muito fa-vorável à preservação dos vestígios. Os sítios construídos incluem tanto as an-tigas edificações desde o período colo-nial, estejam em ruína ou ainda intactas, quanto às construções indígenas como os sambaquis, os aterros, os círculos de pedras, os megalitos (grandes blocos organizados) ou os geoglifos (escava-ções no solo formando um objeto, geo-métrico ou figurativo).

Para classificar um sítio arqueológico quanto à sua função ou forma de uso é preciso observar a espessura e a exten-são da área ocupada, localização na pai-sagem, reconhecer as áreas de atividades

e os materiais arqueológicos envolvidos. Se observarmos esses aspectos, podemos identificar sítios como área de habitação, acampamento, oficinas líticas, depósitos, cemitério, dentre outros.

Quanto ao tipo de cultura material associada, podem-se ter sítios arque-ológicos pré-coloniais ou pré-histó-ricos, que comportam o período de tempo antes da colonização europeia no Brasil, mas com presença massiva da população autóctone; sítios arque-ológicos pós-coloniais ou históricos, referentes à presença europeia no local ou, ao menos, seus utensílios, modifi-cando o panorama anterior de forma contundente. Pode-se falar, ainda, em sítios arqueológicos cerâmicos, líticos, de arte rupestre, com ossos. Nesses ca-sos a classificação será de acordo com o material predominante na amostra recolhida no sítio arqueológico. Nes-te sentido, um sítio cerâmico conterá grande quantidade de vestígios cerâmi-cos, um sítio lítico será composto por predominância de material feito em ro-cha e assim sucessivamente. Em geral, um mesmo sítio comporta mais de um tipo de vestígio. Nessa forma de classi-ficar vale o predomínio.

É possível classificar um sítio arque-ológico pela organização social atribuída à sociedade pretérita que estava instalada na área, indicada pelo material e que re-

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quer conhecimento de uma parte repre-sentativa da cultura material, que deve ser conhecida e estudada. Assim, pode haver sítios associados a grupos caçado-res-coletores, que comportam materiais arqueológicos feitos de pedra e ossos, além de vegetais e sepultamentos.

Esses grupos apresentariam baixa quantidade de pessoas, dieta baseada na caça e na pesca, além da coleta de frutos e recursos locais, alta mobilidade do grupo, domínio de grande área ge-ográfica. Atribui-se a arte rupestre, em sua maioria, aos grupos caçadores-cole-tores devido a sua antiguidade, mas não foi exclusividade desses grupos, pois grupos ceramistas certamente decora-ram as paredes rochosas, a julgar pelas datas encontradas para essa atividade.

Os grupos sambaquieiros viviam no litoral brasileiro, principalmen-te, e constituíam de grupos maiores, com ocupação sazonal entre interior e litoral, dieta baseada na pesca e na caça, além da coleta. A produção dos amontoados de conchas (ditos samba-quis), que serviam como habitação e cemitério, é característica. Além dis-so, adornos de pedra polida, que re-metem à fauna aquática (baleia, golfi-nho, dentre outros) e esqueletos com musculatura robusta, diferenciam os sambaquieiros dos demais grupos aos quais foram contemporâneos.

Os grupos ceramistas envolviam populações de tamanhos variados, que tinham em comum a produção da cerâ-mica, a horticultura e a agricultura, com-preendendo, portanto, a produção do alimento, modificando a dieta. Estavam presentes, ainda, a caça, a pesca e a co-leta, mas o controle do alimento ocorria via produção. Além destes sítios mais an-tigos temos os sítios mais recentes, como casas antigas e palacetes, engenhos, qui-lombos, dentre outros; que marcam o período pós-colonial ou histórico.

Em geral, os arqueólogos utilizam todas essas classificações de forma si-multânea, pois se referem a variáveis diferentes, que se complementam para traçar o perfil da sociedade estudada. Pode-se dizer que na área de estudo, em geral, foram identificados sítios a céu aberto, pré-coloniais, lito-cerâmicos (ou seja, com presença de lítico e cerâmica), ligados aos grupos ceramistas e foram entendidos como área de moradia.

Como se faz uma datação?

A arqueologia utiliza diferentes for-mas para obter o dado cronológico do evento estudado e lança mão de crono-logias relativas e cronologias absolutas. Existem diferentes formas de obter da-tações relativas e absolutas, vamos ver algumas delas nesta seção.

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As cronologias relativas podem ser entendidas com as camadas estratigráfi-cas do solo, em geral, se não há inversão nos estratos, o mais antigo será o que está mais profundo no solo, e ao con-trário, quanto mais próximo à superfície atual, mais recente o objeto. Com essa perspectiva é possível organizar em se-quência um ou mais eventos, em uma ordem relativa saberemos o que é mais antigo e o que é mais recente, mas não será possível inserir estes dados em um calendário. O mesmo ocorre quando se observa pinturas rupestres, por exem-plo: se uma pintura foi feita sobre outra é possível deduzir que aquela que está por baixo foi pintada antes daquela que está em cima. Assim, obtemos uma cro-nologia relativa para ordenar uma se-quência de eventos, indicando os mais antigos e os mais recentes.

A própria classificação do material em tradições arqueológicas é uma for-ma de datação relativa, pois cada gru-po de materiais apresenta características específicas que são localizadas no tem-po e no espaço. O método da seriação, utilizado no Brasil para a análise e cate-gorização dos vestígios arqueológicos, é uma forma de se obter uma cronologia relativa na medida em que estes obje-tos são classificados de acordo com os padrões formais, que podemos chamar de moda, é alterada ao longo dos anos. Seria possível para qualquer observa-

dor mediano reconhecer um corte de cabelo, a roupa ou a música dos anos de 1980, mesmo que estivessem sendo usadas atualmente. Isto porque conhe-cemos as características dos padrões culturais daquela época, que são dife-rentes de hoje. A arqueologia organiza sua tipologia da mesma forma e assim reconhece as modas através dos objetos que estão carregados de padrões cultu-rais e através deles é possível deduzir a cronologia relativa dos objetos.

A periodização histórica é outro modo de organizar o tempo de forma relativa, através de períodos nomeados de acordo com critérios econômicos (uma grande invenção ou uma mudança de modo de vida) e em observância aos eventos climáticos e geológicos (como as marcas nos depósitos de solo sobre as mudanças ambientais e climáticas, ou evento geológicos).

Os métodos de datação absoluta ra-diométrica são diversos, mas convém salientar que o termo “datação abso-luta” não explica de fato o resultado obtido com a aplicação destes proce-dimentos. Em geral, através das data-ções, os pesquisadores recebem um período dilatado de tempo para defi-nir a ocorrência do evento (1249 +- 42 a.D., entre 1207 e 1291 de nossa Era) e não uma data definida no calendário (agosto de 1200 d.C.).

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Para maior fluência na leitura das datas é importante entender o que sig-nificam. A comunidade de arqueologia marca o tempo de muitas maneiras, pois ele é essencialmente para o en-tendimento das sucessões dos eventos estudados, que representam dilatado período. Muitas vezes, em um mesmo texto, aparecem diferentes siglas, que podem ser facilmente convertidas em uma mesma unidade de tempo.

Muitos nomes são utilizados como si-nônimos, pois têm o mesmo significado, como d.C. (depois de Cristo) e a.D. (anno Domini) que é a nossa Era atual, sendo o ano de 2014 d.C. o ano corrente. Em nos-sa Era, a contagem do tempo ocorre de forma crescente, começando do ano 1 ou +1, enquanto a anterior, o período antes de nossa Era, começa no ano -1, não existin-do para esta contagem o ano 0 (figura 14).

No entanto, para a comunidade ar-queológica há uma convenção própria que é designada como “antes do pre-sente” ou pela sigla A.P. O presente ar-queológico é marcado no ano de 1950 de nossa Era, dez anos depois do ad-vento do C14, e depois do lançamento da bomba nuclear no Japão. Neste caso, o ano zero existe e será considerado em 1950. Para esta forma de ordenar o tempo há uma continuidade numérica já que o tempo é contado tendo como marco o ano de 1950.

É preciso então entender como fazer a conversão entre as datas do ano calendário e as datas do calendá-rio arqueológico, cujo marco é o ano de 1950.

Para tanto, é preciso subtrair caso a datação esteja no período depois de Cristo e somar caso a data esteja antes de Cristo. Para facilitar o entendimento foram criadas as figuras sequentes (figu-ra 15 e 16).

Existem diferentes procedimentos realizados por especialistas em seus la-boratórios, como físicos e químicos, para obter datações absolutas. Os mé-todos radiométricos baseiam-se em um fenômeno físico de declínio de deter-minado isótopo. No caso dos métodos radiocarbônicos, potássio-árgon e as séries de urânio ocorrem o decaimen-to dos seguintes elementos químicos, respectivamente, C14, K40, U235 e U238. Existem ainda outros métodos radiométricos, que utilizam a exposição à radiação de determinado elemento, como a luminescência (termolumines-cência ou TL e OSL, sigla em inglês para luminescência opticamente esti-mulada), a ressonância de Spin e rastos de fissão (BICHO, 2006, p. 235). Para os limites desta obra, nos deteremos nas duas análises realizadas na área de estudo, o radiocarbono ou C14 e a termoluminescência.

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Figura 14: Convenções cronológicas.

Figura 15: Conversões entre unidades cronológicas, A.D e A.P.

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O radiocarbono ou C14 é um dos métodos mais conhecidos entre entu-siastas e mais utilizados entre os profis-sionais da arqueologia. Foi descoberto ainda na década de 1940 por Willard Li-bby, o que lhe rendeu o prêmio Nobel em 1960 (BICHO, 2006). O carbono é um elemento químico encontrado em todos os organismos vivos na forma dos isótopos C12, C13 e C14, sendo que o primeiro é bastante estável e o úl-timo radioativo (por isso o nome radio-carbono, é o carbono radioativo).

A formação do isótopo ocorre na alta atmosfera e o C14 se liga ao nitro-gênio formando o dióxido de carbono radioativo (14C02) que se dispersa e atinge a superfície terrestre. A maioria do dióxido de carbono é absorvida pelo oceano e uma pequena parcela é incor-porada na biosfera através da fotossín-tese. As plantas fotossintéticas estão em equilíbrio com a quantidade de C14 da atmosfera e devido ao processo meta-

bólico, ao se alimentar destas plantas os organismos vivos irão obter a quantida-de de C14 e ficarão estáveis em relação à quantidade de C14 e C12 da atmosfe-ra. Vale dizer que o C14 é instável, mas seu processo de formação é contínuo, o que permite a estabilidade do elemen-to. No organismo vivo, este isótopo também é instável, mas é reposto com a dieta alimentar. No entanto, quando o organismo morre sua taxa de C14 irá decair a um ritmo constante, a chama-da meia-vida, que no caso do C14 é de 5730+-30 anos. Para obter a datação é preciso então comparar a taxa de decai-mento do isótopo e com a taxa inicial, estabelecendo assim o lapso de tempo para o evento, a própria datação.

Muitos cuidados precisam ser to-mados para que a amostra não seja contaminada e mesmo assim, quando se obtém o resultado físico-químico (a própria data) é necessário interpretar este dado, entender o que ele signifi-

Figura 16: Conversões entre unidades cronológicas, a.C. e A.P.

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ca dentro do contexto humano trata-do. Note que a meia-vida do carbono é menor que a entrada do ser humano na América, então este não é o melhor método para as datações muito antigas, pois quanto mais antiga a data que se deseja obter, maior o lapso temporal obtido e maior o erro padrão. Ou seja, para uma amostra de 500 anos o erro do método será de 50 anos, mas para uma amostra de 50000 anos o erro será de 2700 anos (BICHO, 2006, p. 240).

No caso da termoluminescência ou TL, diferente do radiocarbono, é um método que averigua acúmulo de certo elemento em decorrência da radiação. Neste sentido, o procedimento ocorre com a exposição da amostra que se quer datar à radiação. Em teoria, este tipo de teste é mais indicado para se obter datas de objetos muito antigos.

Para solicitar uma datação por ter-moluminescência é preciso obter uma estrutura cristalina, como os elementos minerais dentro de um fragmento ce-râmico ou mesmo uma peça lítica feita com rochas cristalinas (como o quart-zo). Essa amostra, em laboratório, será exposta à radiação por determinado elemento e os especialistas irão medir a quantidade de elétrons que ficaram presos nas imperfeições da estrutura cristalina e descobrir a dose de radio-atividade que a amostra recebeu desde

a sua formação, chamada paleodose. A exposição do cristal à luz ou à radiação irá desalojar os elétrons que ficaram presos nas imperfeições cristalinas, fa-zendo-os operar com um nível mais baixo de energia, próximo ao equilíbrio atômico e emitirá uma luz ultravioleta (a luminescência). A energia da luz emi-tida de uma amostra é proporcional ao número de elétrons liberados durante a exposição à radiação pelo cristal, a pró-pria paleodose.

Diversos métodos podem ser uti-lizados para obter uma datação, mas é preciso observar os procedimentos de coleta e ainda mais importante, inter-pretar os resultados colhidos. Neste es-tudo foram realizadas 17 datações por C14 e TL, conforme tabela abaixo que contém todos os dados relevantes para caracterizar a amostra. Durante as dis-cussões, problematizaremos os resulta-dos obtidos, problematizando as data-ções de forma crítica.

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sítio arqueológico

nível (profundidade)

tipo de amostra

Classificação cultural

Datas calibradas

Amostraunidade de escavação

ourilândia 2 30-40 cm Carvão (C14) Borda incisa 190+/-40 a.D. Beta 236418 s1-137n499e

ourilândia 2 60-70 cm Carvão (C14) Borda incisa1060+/-70

a.D.Beta 236417 120n480e

ourilândia 2 60-70 cmCerâmica

(tL)Borda incisa 774+/-91 a.D. uW2296 120n480e

onça Puma 3 10-20 cmCerâmica

(tL)mista

1249+/-42 a.D.

uW2297tPA1-

180n530e

onça Puma 3 50-60 cm Carvão (C14) mista1190+/-40

a.D.Beta 236412

tPA2-210n560e

onça Puma 3 30-40 cmCerâmica

(tL)mista

1104+/-61 a.D.

uW2295tPA1-

180n544e

onça Puma 3 30-40 cm Carvão (C14) mista1030+/-40

a.D.Beta 236413

tPA2-210n560e

onça Puma 3 30-40 cmCerâmica

(tL)mista 932+/-70 a.D. uW2293 s5-141n480e

onça Puma 3 10-20 cm Carvão (C14) mista 760+/-40 a.D. Beta 235414tPA2-

194n560e

onça Puma 3 50-60 cm Carvão (C14) mista4150+/-40

a.C.Beta 236415 s5-142n480e

ourilândia 11 10-20 cm Carvão (C14)Borda incisa

(?)770+/-30 a.C. Beta 297749 927n-480e

ourilândia 11 20-30 cm Carvão (C14)Borda incisa

(?)770+/-30 a.C. Beta 297750 927n-480e

ourilândia 11 30 cm Carvão (C14)Borda incisa

(?)790+/-30 a.C. Beta 297751 927n-480e

ourilândia 12 60 cm Carvão (C14) tupiguarani 760+/-30 a.D. Beta 297751 sA 1

ourilândia 12 10-20 cm Carvão (C14) tupiguarani 960+/-30 a.D. Beta 297752 1100n-440e

ourilândia 12 30-40 cm Carvão (C14) tupiguarani 800+/-30 a.D. Beta 297753 1081n-557e

ourilândia 12 40-50 cm Carvão (C14) Borda incisa4150+/-30

a.C.Beta 345923 999n-540e

tabela 1: Datações obtidas pelo projeto de estudo.

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O que é tradição Arqueológica?

Para a organização dos dados advin-dos das pesquisas arqueológicas, o Progra-ma Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) estabeleceu uma diretriz, que é utilizada até o presente, mesmo que com um significado às vezes um pouco distinto. Os artefatos recolhidos nos sítios arqueológicos, principalmente cerâmicos, deveriam ser organizados de acordo com as suas características tecnológicas, como a composição da argila e a decoração. A persistência temporal e geográfica destas características dá origem ao que é chama-do de “Tradição Arqueológica”. Dentro de uma mesma tradição arqueológica é provável que existam variações, associa-das ao tamanho dos sítios, cronologia, ge-ografia, que refletem também na cultura material. Um complexo cerâmico, lítico, de padrões de assentamento, que este-jam relacionados no tempo e no espaço consiste em uma subdivisão da tradição, denominada “Fase”. Portanto, a tradição é uma categoria maior, mais abrangente, que pode conter uma ou mais fases.

Uma fase ou tradição pode ou não estar associada a um determinado tron-co linguístico ou grupo cultural. Existem exemplos mais claros, como na chamada Tradição Tupiguarani, um conjunto ca-racterizado principalmente pela cerâmi-ca, que é associado aos grupos culturais Tupi e Guarani, conforme os relatos de

cronistas, viajantes e jesuítas, na época do contato. Mas essa relação não é pos-sível em todos os casos e também pode variar com os pressupostos científicos adotados pelo pesquisador.

quais as sociedades são estudadas pela arqueologia?

Em geral, associamos a arqueolo-gia com o estudo das sociedades anti-gas, e de fato, este é o foco maior dos arqueólogos que atuam no Brasil: seja estudando populações autóctones exis-tentes antes do contato com o coloni-zador – arqueologia pré-colonial ou pré-histórica, seja estudando as populações durante e depois do Período Colonial – arqueologia pós-colonial ou histórica. Embora a maioria se dedique ao estu-do das sociedades pretéritas é possível utilizar a metodologia arqueológica para estudar a sociedade contemporânea, tendo como foco sua cultura material.

Poderíamos fazer uma análise críti-ca sobre os termos citados, arqueologia pré-histórica e histórica, pois insinuam que somente um dado período é “his-tórico” sendo o anterior não histórico. Atualmente, os primeiros termos indi-cados (pré-colonial e pós-colonial) são mais utilizados, mas na produção aca-dêmica brasileira e mundial os demais termos ainda existem e são utilizados.

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Como foi consagrado pelo uso é im-portante que os educadores conheçam o termo, mas que sim, façam a crítica a eles e discutam em sala essas questões.

Periodização da história pré-colonial brasileira

O sistema de periodização utiliza-do pelos cientistas para a arqueologia das Américas é distinto do sistema eu-ropeu, bastante conhecido, que utiliza os termos “paleolítico”, “idade da pe-dra” ou “idade dos metais”. O sistema classificatório, embora não adotado de maneira unânime pelos arqueólogos (Prous, 1991, Neves, 2004), é baseado na proposta de Gordon Willey e Philip Philips (1958).

Os estágios mais relevantes foram definidos a partir de critérios econômi-cos (utilização dos recursos naturais) e cronológicos (mudanças nas tempera-turas médias do planeta). Os estágios não são mutuamente exclusivos e tam-bém não seguem uma ordem evolutiva linear (NEVES, 2004). Para facilitar o entendimento, cada termo será defini-do a seguir.

Paleoíndio: estágio de adaptação das primeiras sociedades america-nas, desde a sua chegada até o final do Pleistoceno, cerca de 10000 anos

atrás, marcado pelo término das gla-ciações. As evidências correspon-dem aos artefatos de pedra lascada, de populações de caçadores especia-lizados em grandes animais, ou ain-da grupos que faziam uso de um nú-mero mais diversificado de recursos.

Arcaico: incluem populações de caçadores, adaptados às condições climáticas, próximas das atuais. Cro-nologicamente, essas populações es-tão no Holoceno, período geológico posterior ao Pleistoceno que se es-tende até o presente. Com a extin-ção de animais caçados pelos Paleo-índios (megafauna, como a Catonyx, ou preguiça gigante e o Glyptodon, ou tatu gigante), as populações pre-cisaram adotar estratégias mais di-versificadas, que incluíam recursos aquáticos como moluscos e a do-mesticação de algumas espécies de plantas (NEVES, 2004).

Formativo: definido pela existência da agricultura ou outra economia de subsistência comparável e a ocu-pação sedentária em aldeias. Essas práticas tiveram como consequência um grande aumento populacional. A domesticação de espécies como a mandioca e o milho tem evidências de pelo menos 4000 anos A.P., por-tanto, é possível que existam datas mais recuadas para este período.

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Histórico das pesquisas arqueológicas na região

As primeiras informações que temos sobre a arqueologia da região do sudes-te paraense são de dois sítios arqueoló-gicos identificados pelo cientista alemão Protásio Frikel (1963, 1968), em duas aldeias Xikrin, na região do Cateté. O material coletado foi levado para o Mu-seu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em 1963, e estudado pelo arqueólogo Napoleão Figueiredo (1965). Pouco tempo depois, outra coleção, desta vez de alguns sítios localizados na bacia do rio Fresco, em São Félix do Xingu, foi coletada por geólogos, em trabalho de campo de pesquisa mineral e levada para o MPEG. A análise deste mate-rial foi realizada pela equipe do arque-ólogo Mário Simões e seus resultados foram publicados em 1973 (SIMÕES, CORRÊA E MACHADO, 1973). Nes-sa mesma publicação, o autor menciona outros dois conjuntos de cerâmica, um na região do rio Fresco, em São Félix, e o outro no Castanhal do Cumaru, no rio Pau D’Arco que foram levados ao MPEG, na década de 1950.

Este período, entre as décadas de 1950 até 1970, pode ser caracterizado como a primeira fase dos estudos ar-queológicos na região e está associado com descobertas fortuitas realizadas por entusiastas, pessoas que conheciam

a importância dos vestígios arqueo-lógicos e tiveram interesse em levar o material para uma instituição, mas que não eram arqueólogos. Apesar de estas coleções fornecerem algumas informa-ções, o conhecimento gerado é restrito. Apenas com a cerâmica, não é possível saber o tamanho dos sítios arqueológi-cos, profundidade, localização na paisa-gem, características importantes para a compreensão da sociedade que habitou o sítio arqueológico.

As pesquisas sistemáticas ocorreram a partir da segunda metade da década de 1970, em três contextos diferentes. O primeiro trabalho de cunho acadêmi-co na região foi realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológi-cas da Universidade Federal do Paraná (CEPA/UFPR), em 1975; o segundo momento corresponde ao início do Programa Nacional de Pesquisas Ar-queológicas na Bacia Amazônica (PRO-NAPABA), entre 1976 e 1978, e o ter-ceiro consiste nas pesquisas realizadas nas áreas de influência dos grandes em-preendimentos, Projeto Grande Carajás (1980) e Hidrelétrica de Tucuruí (1974).

A UFPR dispunha de um campus no município de Imperatriz, no Mara-nhão, e realizou a pesquisa acadêmica como atividade de extensão universitá-ria. Foi percorrida a margem direita do Tocantins, na região entre o município

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maranhense e a confluência Tocantins-Araguaia. Neste trabalho foram iden-tificados sete sítios arqueológicos e os resultados da pesquisa constam apenas em relatórios técnicos.

O PRONAPABA foi um projeto nos mesmos moldes do que foi im-plantado no Brasil na década de 1960, denominado PRONAPA. As regiões amazônicas foram agrupadas por bacias hidrográficas e em cada uma das áreas um grupo de pesquisadores foi designa-do, todos sob a tutela do MPEG, insti-tuição que naquele momento respondia pela arqueologia de toda Amazônia Le-gal brasileira. Para a região do sudeste do Pará foi elaborado um subprojeto, denominado Projeto Baixo Tocantins (SIMÕES, 1976). No entanto, desde 1974, havia começado a construção da hidrelétrica de Tucuruí, cujo lago for-mado pela represa inundaria boa parte da região de estudo do projeto arque-ológico. A partir de 1977, as Centrais Elétricas do Norte (ELETRONORTE) assinaram um convênio com o MPEG, com o objetivo de identificar e resgatar os sítios arqueológicos na área de inun-dação. O resultado dessas pesquisas deu origem à dissertação de mestrado da arqueóloga Fernanda Araújo-Costa, em 1983. A pesquisa avançou até o ano de 1987, quando foram publicados novos dados (SIMÕES E ARAÚJO-COSTA, 1987). Com esses estudos, dezenas de

sítios, principalmente às margens do Tocantins, foram identificados e resga-tados, proporcionando um grande nú-mero de informações sobre o passado da região.

Ainda no mesmo período, houve o primeiro programa de arqueologia para grandes obras não hidrelétricas do Brasil, realizado em duas áreas de mi-neração no Pará. A primeira, em Porto Trombetas, distrito minerário do mu-nicípio de Oriximiná, oeste do estado (ARAÚJO COSTA et al., 1985; HIL-BERT, 1988; KALKMAN E COSTA-NETO, 1986; LOPES, 1981). A segun-da ação foi o Programa Grande Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, na região de Carajás, bacia do rio Itacai-únas, sudeste do estado. As pesquisas iniciais foram realizadas por Simões e Lopes, entre 1983 e 1986, e seus resul-tados foram parcialmente divulgados (SIMÕES, 1986). Entre 1990 e 1998, o projeto de arqueologia em Carajás, foi retomado, sob a coordenação de Magalhães (1994). Ambos os projetos foram executados pelo MPEG.

A partir da virada do milênio e da mudança nos processos de licencia-mento ambiental, que passaram a exigir estudos arqueológicos sistemáticos nas áreas de impacto dos empreendimen-tos, a quantidade de pesquisas arqueoló-gicas no sudeste do Pará se multiplicou:

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• Projeto Sossego, na região da Ser-ra do Sossego, município de Canaã dos Carajás (MAGALHÃES, 2001, apud PEREIRA et. al, 2008);

• Projeto Salobo, na região da Flo-resta Nacional Tapirapé-Aquieri, no município de Marabá (SILVEI-RA et al., 2008);

• Projeto de Salvamento Arqueológico da Linha de Transmissão Tucuruí/PA – Presidente Dutra/MA (SCIENTIA, 2002a, 2002b, 2003a, 2003b, 2008);

• Projeto de Salvamento Arqueológi-co da Linha de Transmissão Tucu-ruí/PA – Açailândia/MA (SCIEN-TIA, 2003, 2004, 2008);

• Projeto de Salvamento Arqueo-lógico na Área de Intervenção da Mineração Onça Puma e Linha de Transmissão Associada (SCIEN-TIA 2004, 2007b, 2008, 2009a, 2009b, 2010a, 2010b, 2010c).

• Projeto Carajás (SCIENTIA)

Os projetos citados são os de maior envergadura, muitos outros já foram im-plantados, ou estão em processo, como novas linhas de transmissão, novas áre-as de mineração e linhas de distribuição de energia elétrica para o interior.

O que mudou desde as primeiras pesquisas até a contemporaneidade?

As primeiras pesquisas arqueológi-cas na região foram feitas de forma não sistemática, por meio de coletas aleató-rias por pesquisadores de áreas afins, como a antropologia. Neste momento não havia ainda um corpo de pesquisa-dores no Brasil, como os arqueólogos. Neste período, os amadores e interes-sados pelo passado do Brasil faziam co-letas assistemáticas, em geral das peças mais “vistosas”, bonitas e excepcionais.

As primeiras pesquisas sistemáticas foram realizadas através de projetos de extensão das universidades, que buscavam entender a diversidade de ocupação do passado. A partir da década de 1970, hou-ve muito interesse em conhecer a Amazô-nia. O Brasil já possuía então seus primei-ros arqueólogos com formação específica e muitos subprojetos foram criados, atra-vés do PRONAPA, e seus pesquisadores, ligados às universidades brasileiras, come-çaram a se debruçar no entendimento das diversas áreas do Brasil, desde o Sul até o Norte. Ainda se conhecia pouco ou nada de algumas áreas, em especial a Amazô-nia, e os pesquisadores queriam entender como se deu a ocupação na região.

Ainda na década de 1980, co-meçaram os primeiros projetos ar-

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queológicos ligados aos empreendi-mentos econômicos, como Tucuruí. E desde então, a legislação mudou muito com o interesse de proteger o patrimônio cultural, entre ele o pa-trimônio arqueológico.

Contexto arqueológico geral: panorama amazônico

As primeiras sociedades humanas da floresta amazônica chegaram há, pelo menos, 10000 anos A.P. (Roosevelt 1989, 1992, 1998, Roosevelt et.al, 1996, Neves 2006), período entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno. A an-tiguidade da ocupação é bastante aceita no meio acadêmico, mas existem diver-gências sobre o modo de vida dessas sociedades. Enquanto alguns autores acreditam que essas sociedades eram compostas de caçadores-coletores es-pecializados na caça da megafauna (Pi-perno e Pearsall, 1998), Roosevelt e Ne-ves defendem o modelo de sociedades com economia baseada em estratégias de exploração de recursos diversifica-dos, como a caça de pequenos animais, pesca, coleta, coerentes com a biodiver-sidade da região.

Devido ao modo de vida destas sociedades, nômade ou seminômade, os vestígios são menos numerosos e mais difíceis de serem encontra-

dos. Em comparação com o número de sítios arqueológicos de sociedades sedentárias, as ocupações de caçado-res-coletores são raras e a visibilidade dos vestígios é baixa. Neste cenário, o estado do Pará possui importantes sítios arqueológicos, em duas princi-pais regiões: Monte Alegre e Carajás. A Caverna da Pedra Pintada, situada no município de Monte Alegre, possui datações situadas entre 11730 e 9880 anos A.P. (ROOSEVELT et.al, 1996). A segunda área, no sudeste do estado está próxima da região de estudo, situ-ado no mesmo complexo de serras que divide os rios Xingu e Tocantins.

As pesquisas arqueológicas na re-gião de Carajás estão associadas aos projetos de exploração mineral da Vale, iniciados na década de 1980, e foram realizadas a partir de 1983 pela equi-pe do MPEG (MAGALHÃES, 1994). Nesta ocasião, entre outros sítios, foi descoberta a Gruta do Gavião, primei-ro sítio associado à ocupação de caça-dores-coletores na Amazônia brasileira (MAGALHÃES, 1994, ROOSEVELT, 1989, KIPNIS et. al. 2005). Após uma interrupção em 1986, houve a retomada das pesquisas a partir de 1993, também pela equipe do MPEG.

Na década seguinte, a Scientia Con-sultoria também desenvolveu um pro-jeto de arqueologia preventiva em Ca-

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rajás, cujos resultados foram divulgados em um artigo (Kipnis et. al 2005), e uma dissertação de mestrado (OLIVEIRA, 2007). Até o momento, aproximada-mente, 14 sítios associados a caçadores-coletores na região de Carajás possuem datações, com cronologias entre 9000 e 1020 anos A.P. (OLIVEIRA, 2007).

Esses sítios associados a caçadores-co-letores estão em sua grande maioria locali-zados em abrigos sob rocha, mas existem dois contextos na Amazônia brasileira de sítios paleoindígenas a céu aberto. O pri-meiro foi localizado em 2001, na Ama-zônia central, pela equipe do arqueólogo Eduardo Góes Neves, na Amazônia cen-tral, próximo ao município de Iranduba/AM (COSTA, 2009). As datas deste sítio o situam entre 9460 e 4500 anos A.P. O segundo foi identificado no ano de 2003, através de um projeto de arqueologia pre-ventiva, realizado em função construção da Linha de Transmissão em 500 kV Tu-curuí/PA–Açailândia/MA. A equipe da Scientia Consultoria localizou dois sítios líticos a céu aberto, no município de Breu Branco, nas margens do rio Tocantins. Es-ses sítios apresentaram cronologias entre 11160 e 5490 anos A.P. (CALDARELLI et. al. 2005). Outros sítios a céu aberto com material associado aos caçadores-coleto-res foram identificados na região de Ca-rajás, no igarapé Mirim, dentro do Pro-jeto Salobo, com datações entre 5780 e 3700 anos A.P. (SILVEIRA et. al., 2008).

Assim, apesar de nenhum sítio arque-ológico associado às ocupações paleoin-dígenas ter sido encontrado nos municí-pios de Ourilândia, Tucumã, São Félix e Água Azul do Norte até o momento existe um potencial bastante elevado, comprovado pelas importantes evidên-cias regionais já estudadas e é possível que os primeiros habitantes também te-nham chegado há mais de 10000 anos.

Além dos sítios de caçadores-cole-tores, na região também existem sítios com arte rupestre, ou seja, que conte-nham desenhos elaborados sobre su-perfícies das rochas pelas técnicas de pintura ou gravação. Esses sítios ocor-rem em toda Amazônia brasileira (PE-REIRA, 2002). Para o recorte geográfi-co delimitado neste estudo, duas áreas têm o contexto arqueológico rupestre de interesse: bacia dos rios Araguaia e Tocantins e a bacia do rio Xingu.

A bacia do Araguaia-Tocantins cor-responde a segunda maior concentra-ção de sítios rupestres no Pará, com 16 sítios identificados, sendo seis com pin-turas e dez com gravuras. Essas gravu-ras estão distribuídas em três áreas prin-cipais: o baixo curso do rio Tocantins, entre as cidades de Tucuruí e Baião, com dois sítios arqueológicos, o baixo curso do rio Araguaia, na região da Ilha dos Martírios, nos estados do Pará e To-cantins, entre os municípios de São Ge-

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raldo do Araguaia e Xambioá, com oito sítios arqueológicos e o médio curso do rio Araguaia, na região de Conceição do Araguaia, com outros seis sítios.

Essas inscrições foram observadas por diversos exploradores destes rios e cons-tam em muitos relatos, como os de Hartt (1895), Baena (1839), Ingácio de Moura (1989), Coudreau (1897) entre outros.

Comparada as outras áreas da mes-ma bacia hidrográfica, o Baixo Tocan-tins apresenta um pequeno número de sítios arqueológicos, apenas dois, to-dos de gravuras rupestres. As figuras foram representadas no trabalho de Hartt (1895).

Os sítios rupestres da região de São Geraldo do Araguaia e Xambioá também constam em relatos antigos, como os de Coudreau (1897) e foram identificados em diversos momentos. O mais conhecido deles sem dúvida é a Ilha dos Martírios, conhecido desde pelo menos 1746, que possui pelo me-nos 4.000 figuras (Pereira, 2002), um dos principais sítios rupestres do país e ainda pouco explorados.

A última área da bacia do Tocantins-Araguaia está localizada na região do município de Conceição do Araguaia, com um conjunto de seis sítios, todos de gravuras. A maior parte destes sítios foi identificada pelo projeto “Regis-

tros rupestres e contexto arqueológico no baixo/médio Araguaia” (Pereira, 2001), mas o potencial arqueológico já havia sido explorado por Jean Vellard, médico e etnólogo francês, cujo relato associa a descoberta da área ao Pe. Gil de Vilanova, no início do século XX (VELLARD, 1931).

Na bacia do rio Xingu existem 13 sítios rupestres registrados (Pereira, 2002), sendo que quatro destes estão lo-calizados no município de São Félix do Xingu. Esses sítios foram identificados por Avelino Oliveira (1928) Melchiades Borges (1933) e Manoel Rodrigues Fer-reira (1960), mas nunca foram alvos de trabalhos acadêmicos sistemáticos.

As sociedades produtoras destes grafismos também não são conhecidas. Em Monte Alegre, algumas pinturas fo-ram associadas com ocupações de caça-dores-coletores (Roosevelt, 1996 e Pe-reira, 2002), mas na região aqui descrita não existem informações do tipo. Como existem tanto sítios com grande profun-didade temporal de caçadores-coletores como sítios de horticultores ceramistas, nenhuma hipótese pode ser descartada. Portanto, mesmo que nenhum sítio ar-queológico deste tipo tenha sido encon-trado durante o projeto de arqueologia na Mineração Onça Puma, a região tem um potencial elevado para a ocorrência deste tipo de vestígio.

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O período entre o Pleistoceno Tar-dio (18000 a 12500 anos A.P.) e a tran-sição para o Holoceno Inicial (12500-9000 anos A.P.) foi marcado por grandes mudanças climáticas e de vegetação em todo o planeta. O impacto dessas trans-formações na floresta amazônica divide a opinião de cientistas. A diminuição da umidade poderia causar uma redução da floresta, que daria lugar à vegetação xeromórfica, do tipo savana (OLIVER,

2001); outro grupo de cientistas acredita que a diminuição da umidade não seria suficiente para ocasionar a diminuição da floresta (COLINVAUX et. al. 1996), mas ambas as correntes teóricas con-cordam que cerca de 9000 anos atrás as condições climáticas e de vegetação es-tavam mais estáveis, próximas das con-dições atuais, apesar de haver períodos mais ou menos secos (OLIVER, 2001, KIPNIS et al., 2005).

Figura 17: grafismos rupestre reproduzidos por hartt (1895) e por ehrenreich (1892).

Figura 18: grafismo rupestre reproduzidos por vellard (1931).

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Após a estabilização climática, um modo de vida baseado na exploração dos recursos aquáticos surgiu na região do Bai-xo Amazonas. As primeiras sociedades produtoras de cerâmica da Amazônia fo-ram encontradas na região de Santarém e Monte Alegre, no baixo rio Amazonas, es-tado do Pará. O sítio da Caverna da Pedra Pintada em Monte Alegre é um abrigo sob rocha e o sítio Taperinha, localizado em Santarém é um sambaqui fluvial. Samba-quis ou concheiros são sítios arqueológicos formados pelo depósito intencional de ma-teriais orgânicos e calcários, como conchas e moluscos, que ao longo do tempo so-frem certo tipo de fossilização, formando uma espécie de montanha artificial.

No sítio Taperinha foi encontrada uma datação de 7080 anos A.P. (ROOSE-VELT, 1991, 1995). O sítio da Caverna da Pedra Pintada, em Monte Alegre, possui uma ocupação paleoíndia nos estratos inferiores, associadas também à pintura rupestre, como já mencionado anterior-mente. No entanto, em certa camada foi identificado material cerâmico, associado aos restos de alimentação. Este horizonte da caverna foi datado entre 7600 e 6300 anos A.P. (ROOSEVELT, 1995).

A cerâmica dos dois sítios descritos é semelhante e possui tratamento de superfície bastante simples, com aplica-ção de técnicas plásticas decorativas em poucos casos, do tipo incisão e pintura

vermelha apenas na cerâmica de Mon-te Alegre. Essas ocupações estão rela-cionadas com sociedades relativamente sedentárias, dedicadas à exploração in-tensiva de recursos aquáticos e utilizan-do a domesticação de plantas de forma incipiente (OLIVER, 2001).

Esse mesmo padrão de utilização dos recursos ambientais também pode ser observado na foz do rio Amazo-nas, litoral do Pará e Maranhão e no Alto Guaporé. A Tradição Mina, com sambaquis que apresentaram datações entre 5700 e 3300 anos A.P., pode ser encontrada no Pará e Maranhão (OLI-VER, 2001, BANDEIRA, 2008, SIL-VEIRA & SCHAAN, 2005). No Alto Guaporé vestígios deste tipo têm entre 8350 e 810 anos A.P., com cerâmica a partir dos últimos 4000 anos, da fase Bacabal (MILLER, 2009).

Estes grupos semissedentários po-dem ser classificados como sociedades Arcaicas, conforme o quadro cronoló-gico exposto anteriormente. Não exis-tem evidências deste modo de vida na região sudeste do Pará, tampouco sítios do tipo sambaqui.

Pudemos observar até o momento dois modos de ocupação da floresta tropical: o primeiro dos caçadores-co-letores, baseados em uma exploração diversificada de recursos, como caça,

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pesca, coleta e relativamente nômades; o segundo, que explorava principalmen-te os recursos aquáticos, que também manipulava algumas espécies de plan-tas e foi responsável pelo surgimento da cerâmica. Esses dois modos de vida não representam uma evolução linear, ou seja, nem todos os grupos caçado-res-coletores viraram pescadores-hor-ticultores. As duas maneiras de explo-rar os recursos da floresta existiram ao mesmo tempo, mesmo que não neces-sariamente no mesmo local.

É provável que a importância eco-nômica dos produtos cultivados tenha aumentado a partir de processos bem-sucedidos de experimentações e do-mesticações de espécies, como o milho e a mandioca durante o período Arcaico e a troca de uma economia pela outra caracteriza a transição para o período Formativo. A opção pela agricultura traz uma série de transformações para a sociedade. A sedentarização pela neces-sidade da manutenção das roças e tem-po de colheita, o aumento populacional, pela garantia de um estoque de alimen-tação para o futuro, e a complexificação social são as principais características deste modo de vida.

A cerâmica faz parte do conjunto tecnológico de quase todas as socieda-des de horticultores, embora não seja uma regra. Ela permite o processamen-

to de tubérculos e cereais em alimentos digeríveis para o organismo humano.

A sedentarização ocasiona uma trans-formação maior no ambiente. A ocupa-ção de uma área durante mais tempo por uma quantidade maior de pessoas acaba por resultar num acúmulo de matéria orgânica do solo. Esta matéria orgânica tem origem vegetal e animal, nos restos de alimentação, madeiras e palhas das casas, carvão das queimadas, entre ou-tros resíduos domésticos. O solo destes locais é caracterizado pela sua coloração escura, por isso denominado de Terra Preta Arqueológica (TPA) (KERN & KÄMPF, 1989; KERN, 1996).

O Formativo marcou também as se-parações das diversas famílias e troncos linguísticos que hoje existem na Amazô-nia, que acompanharam a diáspora dos primeiros agricultores. Provavelmente, surge os falantes de línguas dos troncos Tupi e família Arawak, entre outras, em diferentes locais nas terras baixas. Esses eventos ainda não foram precisamente locados na escala temporal, mas as evi-dências atuais os colocam nos últimos 4000 anos (OLIVER, 2001).

Durante o formativo que ocorrerão as separações linguísticas, e diásporas dos primeiros grupos agricultores. Pro-vavelmente, surge os falantes de línguas dos troncos Tupi, Arawak, Caribe, entre

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outras, em diferentes locais nas terras baixas. Esses eventos ainda não foram precisamente locados na escala tempo-ral, mas as evidências atuais os colocam nos últimos 4000 anos (OLIVER, 2001).

As primeiras evidências deste novo modo de vida na floresta tropical sur-gem em diferentes locais, mas quase ao mesmo tempo. Portanto, é possível que a descoberta da agricultura e cerâmica tenha ocorrido como processos inde-pendentes em locais afastados, ou seja, não estariam associados a processos de difusão e migração.

Aqui, veremos as principais tradi-ções encontradas na Amazônia Brasi-leira: a Tradição Hachurada Zonada, a Borda Incisa, a Incisa Ponteada, a Polí-croma e a Tupiguarani.

A Tradição Hachurada-Zonada ocorre na bacia do rio Ucayali, no Peru, e também na foz do Amazonas, na re-gião de Alenquer e Marajó, representada pela fase Ananatuba (MEGGERS, 1961, ROOSEVELT, 1992). A cerâmica tem como principais características a deco-ração zonada, principalmente pela téc-nica de incisão, e a pintura. A principal

Figura 19: mapa de localização das ocupações paleoíndias e semissedentários.

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técnica é a aplicação de linhas paralelas e perpendiculares em uma área demarca-da, fazendo um sombreamento da área desejada. A pintura ocorre em faixas ver-melhas, na borda ou no corpo do vaso (MEGGERS, 1961). As datas da bacia do Ucayalli são de 3450 anos A.P. (Bruhns, 1994) e de aproximadamente 3000 anos A.P. na foz do Amazonas.

A Tradição Borda Incisa também foi definida por Meggers. Este material tem como principais características as bordas largas, expandidas, com o topo achatado e silhueta seccional triangu-lar. A superfície das bordas geralmen-te apresenta incisões e em alguns casos pintura ou engobo vermelho ocorre no interior e/ou exterior dos vasos (ME-GGERS, 1961). É frequente o uso de apliques zoomorfos e antropomorfos, alças e apêndices (LIMA, 2008).

Os sítios arqueológicos mais antigos que possuem a cerâmica da Tradição Borda Incisa ou Saladoide-Barrancoi-de tem 4750 anos A.P., na bacia do rio Orinoco, na Venezuela (ROOSEVELT, 1992). Corresponde a um primeiro mo-mento da tradição cerâmica, classificado como Série Saladoide. Cerâmicas com características semelhantes foram identi-ficadas na Amazônia Brasileira, como a Fase Pocó, no Baixo Amazonas e Trom-betas, com datações mais antigas de 3280 (Hilbert, inf. pessoal, apud Gomes,

2011) e 2100 anos A.P. (GUAPINDAIA, 2008), fase Açutuba, no baixo rio Negro, entre 1100 e 500 anos A.P. (Lima, Neves e Petersen, 2006) e a cerâmica da região de Parauá, na foz do Tapajós, com 3800 anos A.P. (GOMES, 2011).

A Tradição Borda Incisa também apa-rece em outras fases, com cronologias mais recentes, em diversos locais, sendo uma das tradições mais abrangentes das terras baixas. Dentre as fases representadas na Amazônia estão a Manacapuru (na Ama-zônia Central), Boim (Médio Amazonas), Japurá (rio Japurá/Caquetá) e Mangueiras (na Ilha de Marajó). No Orinoco, ela se manifestaria através das fases Nericagua, Cotua e Los Caros (LIMA, NEVES e PE-TERSEN, 2006). Esses contextos têm cro-nologias entre 1700 e 500 anos A.P., mas as datas e a geografia das ocorrências variam bastante. Não existe até o momento um consenso sobre o local de origem desta ce-râmica, mas as datas mais antigas estão fora da Amazônia Brasileira.

Segundo alguns autores, a disper-são da cerâmica Borda Incisa está associada aos grupos falantes de lín-guas da família Aruaque (LATHRAP, 1970, NAVARRETE, 2006, HECKE-NBERGER, 1996).

O próximo horizonte cerâmico, ou Tradição arqueológica da Amazônia corresponde à Tradição Incisa-Ponte-

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ada. A cerâmica tem a decoração ca-racterizada pelo uso de incisão, ponte-ados e modelados de diversas formas, aplicadas no interior das bordas de panelas e na superfície externa dos pescoços de jarros. Os adornos são comuns e variados, incluindo apliques antropomórficos, zoomórficos e for-mas geométricas (MEGGERS, 1961). Sítios arqueológicos com este tipo de material são encontrados ao longo do Orenoco (Arauquín), do Amazonas (Santarém, Itacoatiara e Konduri) al-cançando a Guiana Inglesa (Mabaru-ma) e no Amapá (Mazagão).

A cerâmica de Santarém (PA) con-siste na expressão mais famosa e com-plexa deste estilo (LATHRAP, 1975). A exuberância da arqueologia do Baixo Amazonas chamou a atenção de estu-diosos desde o século XIX, desde os tra-balhos do botânico Barbosa Rodrigues (1875, 1899), que descreveu os ídolos de pedra, contas de colar, muiraquitãs e cerâmicas elaboradas. A popularidade da rica arqueologia do Baixo Amazo-nas foi reforçada pelas observações de Nimuendajú, João Barbosa de Farias e Nordenskiöld, etnógrafos do início do século XX.

A Tradição Incisa-Ponteada está cronologicamente situada em posição mais recente que as demais tradições descritas. As datações mais antigas até

o momento estão situadas próximas do ano zero, na região de Santarém (GO-MES, 2002; SCHANN, 2009; MAR-TINS, 2012; HILBERT e HILBERT, 1980). Na bacia do Orinoco, Venezuela, a cerâmica com as características Inci-sa-Ponteada recebe a denominação de Arauquinoide e substituem os produto-res da cerâmica Borda Incisa a partir do ano 500 da era cristã (ROSTAIN, 2008). As datas dessas cerâmicas atingem até o século XVI, época da conquista euro-peia da Amazônia. Segundo o modelo proposto por Donald Lathrap (1970), a cerâmica Incisa-Ponteada está associada com a dispersão de grupos de língua da família Caribe.

A última das grandes tradições ce-râmicas é a Polícroma. A última das grandes tradições cerâmicas é a Polí-croma. Essa tradição é a mais difun-dida pelo território amazônico, e pos-sui mais de 30 fases. A complexidade deste material ocorre em função do grande número de sítios e vestígios associados a ela e é menos homogê-nea entre as tradições da Amazônia Brasileira. Diferente das demais é im-provável que a dispersão da tradição esteja associada a apenas um tronco linguístico (SCHANN, 2001). Alguns autores relacionam a cerâmica com a expansão de grupos Tupi, ou ain-da Arawak (LATHRAP, 1975, BRO-CHADO, 1982).

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O principal elemento para o grupa-mento de uma diversidade de artefatos tão diversa é o uso da pintura como ele-mento decorativo principal na técnica decorativa da cerâmica. A policromia clássica é composta pelas cores branca, preta e vermelha, mas também o laranja e amarelo, além de diversas tonalidades do vermelho são encontradas. É impor-tante relembrar que a pintura também ocorre nas outras tradições arqueológi-cas e nem por isso elas são classificadas como policromas.

Na Amazônia Brasileira, a fase Marajoara, encontrada principalmente na Ilha de Marajó, é o estilo mais exu-berante e conhecido desta tradição. As urnas funerárias são vasos utiliza-dos para o sepultamento de indivídu-

os e geralmente trazem a figura hu-mana em destaque, sempre associada com animais, como a cobra, o escor-pião, urubu-rei, lagarto, entre outros (SCHANN, 2007).

Além da cerâmica Marajoara, exis-tem diversas fases no Rio Negro, Japurá e Amazônia Central, médio e alto Soli-mões, médio e baixo Madeira, no Uatu-mã, baixo Xingu e Tocantins, Madeira, no rio Napo, Equador, rio Caquetá, na Colômbia, Ucayali, no Peru, entre outras (TAMANAHA, 2012). Essas cerâmicas são bastante distintas da cerâmica Mara-joara, mas apresentam alguns elementos estruturais da forma da pintura seme-lhantes. Também existem urnas fune-rárias, menos elaboradas, mas com for-mas e motivos complexos. O grafismo

Figura 20: objetos cerâmicos marajoara

a) Pe-A-2. Altura: 35 cm; b) Pe-A-2. Altura 22 cm

(PALmAtArY, 1949, prancha 27, p. 385)

estatuetas marajoara.

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puro é mais frequente que as represen-tações biomorfas. A cronologia da cerâ-mica Marajoara é próxima ao ano zero (Schann, 2007), enquanto a fase Guarita, por exemplo, no baixo rio Negro é data-da no entorno do ano 1000 da era cristã (TAMANAHA, 2012). De maneira ge-ral, correspondem aos horizontes cerâ-micos mais recentes da bacia amazônica.

A última tradição da qual trataremos é a Tupiguarani. Dentro do sistema clas-sificatório da arqueologia adotado pela maioria dos pesquisadores brasileiros, ela é uma exceção. Está diretamente associa-da aos grupos falantes do tronco linguís-tico Tupi e recebe a nomenclatura em função dos grupos étnicos Tupi e Gua-

rani, que ocupavam toda faixa costeira brasileira, até o Paraguai e Argentina.

A cerâmica é caracterizada pela pin-tura policroma, nas cores vermelho, preto e branco, geralmente organizadas da mesma maneira (o branco cobre o “fundo” da pintura, o vermelho marca os ângulos e pontos principais, como diâmetro maior e o lábio, em toda a cir-cunferência do vaso, na forma de faixas, e o preto e vermelho preenchem a pin-tura, com linhas geométricas, forman-do os mais variados motivos) (PROUS, 2005). A decoração plástica característi-ca é o corrugado, que consiste em uma série de cristas, deixando a superfície da cerâmica com aspecto ondulado. Além

A e b) CL-A-2. Altura: 46 cm

(PALmAtArY, 1949, prancha 94, p. 4529)

vasilha com representação biomorfa e antropomorfa marajoara.

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disso, a cerâmica da tradição Tupigua-rani apresenta formas com ângulos bas-tante marcados, denominadas carenas e a cerâmica é frequentemente utilizada em rituais funerários, para o enterra-mento de indivíduos.

Essa tradição arqueológica prova-velmente é a mais bem conhecida do Brasil e foi estudada por um grande número de profissionais. Como se estende por todo território nacional, existem muitas variações regionais e as classificações também variam de acor-do com os autores e período em que os estudos foram escritos. E o que chama a atenção nos estudos sobre essa tra-dição é que a sua origem é associada à Amazônia por boa parte dos pesquisa-dores (BROCHADO, 1984; NOELLI, 1998; MEGGERS, 1961; SCHMITZ,

1981, entre outros). Apesar das hipó-teses sobre a origem Tupi, as pesqui-sas sistemáticas são insuficientes para comprovar a ideia. É neste ponto que se encaixa a discussão sobre a arqueo-logia do sudeste do Pará.

As datações mais antigas para os sí-tios da Tradição Tupiguarani localizadas fora da Amazônia estão nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, situa-das aproximadamente 300 anos a.C. No território amazônico, pesquisas recen-tes identificaram cronologias com mais de 4000 anos de antiguidade em Ron-dônia (CRUZ, 2008; ZIMPEL, 2009; MILLER, 2009). Ainda é necessário um maior número de resultados para a comprovação destes dados, mas tra-tam-se das datas mais antigas para essa tradição. No sudeste do Pará, existem

Figura 21: Cerâmica tupiguarani com pintura (branca, vermelha e preta) e com decoração plástica (corrugado).

Foto: Adriano Carvalho

salinas/mg

museuantropologico.blogspot.com

rio grande do sul

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cronologias antigas, com mais de 2000 A.P., no entanto, essas datas não foram associadas diretamente a sítios Tupigua-rani. A fase Itacaiúnas, na região de Ma-rabá possui a datação mais antiga para sítios Tupiguarani no sudeste do Pará, do ano de 280 a.D.

Mas a cerâmica encontrada no su-deste do Pará não apresenta as caracte-rísticas comuns à cerâmica da Floresta Amazônica. O resultado na análise de Figueiredo (1965) classificou a cerâmica dos rios Itacaiúnas e Cateté como pos-sivelmente pertencente a grupos Tupi, pois na época da sua publicação, o sis-tema de fases e tradições do PRONAPA não havia sido criado. Posteriormente, Simões no seu Índice das fases arque-ológicas brasileiras (1972) incluiu este material dentro da Fase Itacaiúnas e esta, por sua vez, era parte da Tradição Tupi-guarani. Essa classificação foi a mesma adotada nos trabalhos seguintes e as va-riações regionais deram origem a novas fases. A Fase Carapanã foi definida a partir do material encontrado na região de São Félix do Xingu (Simões, Corrêa e Machado, 1973), a Fase Itacaiúnas a partir do material analisado por Figuei-redo e do Programa Grande Carajás (Si-mões, 1986) e as fases Tauá, Tucuruí e Tauarí, na área da hidrelétrica de Tucuruí (ARAÚJO COSTA, 1983). A Fase Taua-rí, posteriormente foi subdivida em mais três fases: Marabá, Itupiranga e Tauarí.

Duas dissertações de mestrado recen-temente defendidas no Museu de Arque-ologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) versaram sobre a arqueologia no sudeste do Pará. O tra-balho de Fernando Ozório, resultado de um trabalho de licenciamento ambiental executado para a construção da linha de transmissão Tucuruí-Presidente Dutra e realizado pela Scientia Consultoria Cien-tífica, intitulado “O complexo Tupi da Amazônia Oriental”, defendido no ano de 2008 e também a pesquisa de Lorena Garcia, também dentro do licenciamento ambiental, pela Scientia Consultoria, na área da mineração Onça Puma/Vale, em Ourilândia do Norte, intitulada “Arque-ologia na região dos interflúvios Xingu-Tocantins – A ocupação Tupi no Cateté” (2012). Uma síntese com os trabalhos envolvendo os sítios Tupiguarani do su-deste do Pará estudados pelo MPEG foi publicada em 2008, no livro “Os Ceramis-tas Tupiguarani, Vol. 1” (Prous e Lima, 2008), no artigo “A tradição Tupiguarani na Amazônia” (PEREIRA et. al, 2008).

O volume de informações dispo-níveis sobre a arqueologia regional é grande, com dezenas de sítios iden-tificados, datados e analisados. Con-densar essas informações é uma tare-fa difícil, pois é necessário selecionar quais as informações mais relevantes e as menos relevantes e isso pode va-riar de acordo com o objetivo do pes-

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quisador. Aqui, foram elencadas duas características que proporcionaram as discussões contemporâneas mais in-teressantes sobre a arqueologia regio-nal, sendo a primeira a classificação da cerâmica e a segunda, a inserção temporal dos sítios arqueológicos.

Desde os primeiros trabalhos, a ce-râmica da região foi classificada dentro da Tradição Tupiguarani, mas todos os pesquisadores também perceberam que a cerâmica tinha suas característi-cas peculiares. Simões (Simões, Corrêa e Machado, 1973) associou os atribu-tos incomuns à cerâmica da Tradição Incisa-Ponteada (SIMÕES e ARAÚJO COSTA, 1987). As características da cerâmica associadas à Tradição Inciso-Ponteada consistiam principalmente de decorações plásticas na forma de apliques com representações de ani-mais (zoomorfos), de seres humanos (antropomorfo) e representações de outros seres vivos não reconhecíveis (biomorfos), além de apêndices e alça, mas os estudos anteriores à década de 1990 não explicaram como essas carac-terísticas foram incorporadas na cerâ-mica Tupiguarani.

Essa questão foi mais bem explo-rada com o trabalho de Garcia (2012), que identificou as mesmas característi-cas apontadas na bibliografia em sítios localizados no município de Ourilân-

dia do Norte/PA. Ela realizou a aná-lise cerâmica de dois sítios arqueológi-cos e revisitou as coleções que deram origem às fases Itacaiúnas e Carapanã. A arqueóloga separou o material em dois conjuntos tecnológicos distin-tos. O que havia sido entendido com um material bastante heterogêneo foi reinterpretado como duas tradições, a Tupiguarani e a Borda Incisa, relacio-nada com as fases Ipavú e Diauarum, do Alto Xingu.

A partir da caracterização de uma outra tradição arqueológica, a autora reviu o significado das fases Itacaiú-nas e Carapanã. As coleções que ori-ginaram as fases possuíam limitações amostrais, pois provinham de achados fortuitos e eram pouco numerosas. A caracterização das duas tradições era difícil de ser percebida a partir dessas amostras. Garcia reconheceu que os atributos das duas fases eram seme-lhantes e englobavam tanto fragmen-tos agora considerados Borda Incisa, como fragmentos Tupiguarani. Assim, propôs que a fase Itacaiúnas fosse usa-da para designar apenas o material da Tradição Tupiguarani e a fase Cara-panã para designar o material da Tradi-ção Borda Incisa.

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Figura 22: quadro temporal das comunidades pretéritas.

Figura 23: mapa de localização dos grupos ceramistas na Amazônia.

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tradição tupiguarani tradição Borda Incisa

1) Pasta: a presença de grãos de caco moído parece ser a característica mais importante da pasta atribuída a fatores culturais e quase sempre é acompanhado de grãos de areia de dimensões variáveis.

2) tratamento de superfície: a) decoração plás-tica: corrugado e demais subtipos ungulado, escovado, entalhado na borda. b) decoração pintada: a mais popular consiste em linhas finas e faixas mais largas em vermelho e/ou castanho, desenhadas sobre um fundo pintado de branco ou creme. As linhas finas podem ser acompanhadas por linhas de pontos e dese-nham padrões geométricos, como paralelos, ziguezague, quadriculados, círculos, retângulos e cruzes concêntricas e gregas. mais raras são as linhas brancas e/ou pretas sobre o engobo vermelho, pinturas monocromas vermelhas ou pretas, faixas vermelhas aplicadas diretamente sobre a superfície (BroChADo, 1980).

1) A cerâmica da tradição Borda incisa tem como principal diferença os atributos decorati-vos. Apliques em forma de animais, chamados de zoomorfos (morcegos, gaviões, peixes e rép-teis), na parede externa ou próximos a borda, são as características marcantes desta cerâmica.

2) Além da decoração, as morfologias dos vasos e as decorações sobre o lábio reforçado (ausente na cerâmica tupi) compõem as princi-pais expressões plásticas dessas coleções.

3) essas expressões plásticas, distintas da cerâ-mica tupi tradicional, podem ser reconhecidas na cerâmica encontrada nos sítios arqueológi-cos do Alto Xingu.

4) As bordas reforçadas identificadas nos sítios ou1 e ou8, e as decorações do sítio ou7 são semelhantes às identificadas por Becquelin (2000), para as fases ipavú e Xinguana locali-zadas no alto Xingu.

Figura 24: exemplos de peças atribuídas à tradição tupiguarani exumadas nos sítios do sudeste do Pará.

Figura 25: exemplos de peças atribuídas à tradição Borda incisa

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Contexto arqueológico regional e local: área de pesquisa

A microrregião de abrangência do projeto possui 57 sítios arqueológicos re-gistrados no IPHAN e outros quatro não registrados, mas descritos (PEREIRA, 2009). A maior parte dos sítios está lo-calizada nos municípios de São Félix do Xingu e Ourilândia do Norte. Tucumã e Xinguara não possuem nenhum sítio arqueológico registrado até o momento, mas a falta de registro está associada à ausência de pesquisas e não ao baixo po-tencial arqueológico destes municípios.

Podemos perceber a predominância de sítios lito-cerâmicos e ausência total de sítios históricos. Entre os sítios líti-cos, apenas um, em São Félix do Xin-gu (Sítio Mundo Novo IV) é um sítio lítico, possivelmente associado com grupos pré-ceramistas. O sítio lítico em Ourilândia do Norte corresponde ao sítio Ourilândia 9 e é constituído por um conjunto de polidores, associado a um sítio lito-cerâmico (Onça Puma 3).

Os sítios com arte rupestre são descri-tos por Edithe Pereira (2009), mas não existem estudos sistemáticos sobre tais ocorrências.

Um sítio arqueológico localizado em São Félix do Xingu foi alvo de uma pesquisa arqueológica na década de 1970, que deu origem à fase Carapanã. O sítio no qual a cerâmica foi recolhida (PA-RF-01, Fazenda Mangueiras) não consta no cadastro nacional de sítios ar-queológicos, mas é descrito na pesquisa (SIMÕES, CORRÊA e MACHADO, 1973).

O projeto de arqueologia teve início no ano de 2006, quando iniciou a eta-pa do levantamento prospectivo. Desde então, foram produzidos diversos rela-tórios técnicos com os resultados obti-dos (Scientia, 2006, 2007, 2008, 2009a, 2009b, 2010a, 2010b, 2011a, 2011b), além de uma série de trabalhos acadê-micos (SILVA et. al. 2012; KERN et al, 2010; HERON, 2011, 2012). Entre os trabalhos acadêmicos estão os estudos

município total lito-cerâmico ou

cerâmicolítico Arte rupestre

água Azul do norte 1 1 0 0

ourilândia do norte 20 19 1¹ 0

são Félix do Xingu 38² 35 1 4³

tucumã 0 0 0 0

Xinguara 0 0 0 0

Total 59 45 2 4

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dos solos (Soares, 2011), a dissertação de mestrado de Lorena Garcia, que es-tuda a cerâmica de dois sítios arqueoló-gicos de Ourilândia do Norte (2012) e as diversas comunicações e pôsteres em eventos científicos nacionais e interna-cionais (CRUZ, 2010, 2011, 2013; HE-RON et al., 2013).

Até o momento, foram identifi-cados 33 sítios arqueológicos, em dois subprojetos distintos: 1) Li-nha de Transmissão Carajás-Ouri-lândia; 2) Mineração Onça Puma. O projeto da linha de transmissão re-sultou no registro de sete sítios ar-

queológicos, sendo dois no municí-pio de Parauapebas, quatro em Canaã dos Carajás e um em Água Azul do Norte. O projeto da área de mine-ração resultou no registro de outros 26 sítios arqueológicos, sendo dois em São Félix do Xingu, um em Pa-rauapebas e os outros 23 em Ouri-lândia do Norte. Do total de sítios identificados, apenas oito não foram alvos de intervenções arqueológicas até o momento, por não se encon-trarem em perigo de sofrerem algum tipo de impacto. Para a simplificação da grafia, no decorrer do texto, será empregada apenas as letras inicias

Figura 26: Localização dos sítios arqueológicos da área de estudo.

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dos sítios arqueológicos, seguidas de seu número de registro: Água Azul – AA; Canaã – CA, Onça Puma – OP; Ourilândia – OU, Parauapebas – PB e São Félix – SF.

O grande número de sítios re-sultou em uma grande diversidade de características. Alguns atributos dessas ocupações são importantes para o estudo arqueológico, como a paisagem onde o sítio está inserido, a bacia hidrográfica, a extensão, pro-fundidade e densidade da ocorrência de material arqueológico.

Quanto à paisagem, existem sítios nos mais diversos locais. A maior fre-quência é de sítios localizados em to-pos de colina, em áreas que não alagam nunca, representam mais que 50% do total encontrado. Também existem sí-tios localizados nas encostas da Serra do Onça e Serra Arqueada, como os sítios Ou14 e OP3, e outros na área de várzea, ou entre a várzea e a terra firme, principalmente na bacia do rio Parauapebas.

A bacia hidrográfica na qual o sítio está inserido também é importante. Os rios, para grande parte das sociedades amazônicas, funcionam como as estra-das contemporâneas. As viagens e rotas migratórias costumam ser orientadas pe-los cursos d’água, tanto pela rapidez

quanto pela facilidade, em frente à floresta tropical. O conjunto de ser-ras da Mineração Onça Puma (Serra Onça, Serra Puma e Serra Arqueada) é o divisor de águas entre os afluen-tes do médio curso da margem direi-ta do rio Xingu e afluentes da mar-gem esquerda do rio Tocantins.

Os sete sítios arqueológicos locali-zados na parte sudoeste da Serra Onça (SF1, SF2, OU4, OU5, OU8, OU9 e OU10) estão próximos aos pequenos igarapés que deságuam na margem di-reita do igarapé Carapanã, afluente da margem direita do rio Fresco, que por sua vez deságua na margem direita do rio Xingu, próximo à sede municipal de São Félix do Xingu. O sítio encontrado na área urbana de Ourilândia do Norte (OU2) também se localiza na bacia do Xingu. Em Água Azul, a área registra-da está localizada na cabeceira do rio Itacaiúnas, afluente da margem direita do Tocantins. Os demais sítios da li-nha de transmissão ocupam as mar-gens do rio Parauapebas (CA1, CA2, CA3, CA4, PB31, PB32, PB33). Esse é o curso d’água mais volumoso entre as áreas investigadas por essa pes-quisa e apresenta trechos com planícies aluviais, o que não ocorre nas áreas das serras. Os registros localizados na me-tade leste da Serra Onça, Serra Puma e Serra Arqueada estão próximos a iga-rapés afluentes do rio Cateté, ou do

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próprio rio, como o OP3 e OU11 e a oficina de polimento (OP9).

Quanto à área dos sítios, o menor registrado até agora é o Ourilândia 3, com 16.800 m² (120 x 140 m), e o maior o Canaã 4, com 288.000 m² (600 x 480 m). Entre estes dois extremos é possível identificar uma média das áreas, ou pelo menos um valor que se repetiu em di-versos sítios, entre 60.000 e 70.000 m².

A profundidade do material também varia muito de um registro para outro, principalmente por fatores pós-depo-sicionais, ou seja, alterações que o sítio sofreu após seus primeiros habitantes abandonarem a área. Isso inclui a ação de insetos, como formigas e cupins, ani-mais como tatus e porcos-do-mato e o crescimento de plantas. A construção de tocas de insetos e animais, por exemplo, pode transportar o material de camadas mais próximas à superfície para camadas mais profundas, ou o contrário. Grandes árvores, quando são queimadas ou quan-do caem, também afetam o solo, podendo modificar a posição dos artefatos arqueo-lógicos. Em função dessas perturbações, em alguns sítios, como no Ourilândia 1, foi encontrado material arqueológico até 150 cm de profundidade. Mas o percen-tual mais significativo, superior a 95% do total, encontrava-se entre a superfície e 50 cm de profundidade, sendo que a maioria está entre 20 e 40 cm de profundidade.

Assim, é possível perceber a diver-sidade dos sítios arqueológicos. Variam em tamanho, profundidade e inserção na paisagem. Essas características refle-tem como estes grupos estavam se re-lacionando com o meio que os cercava. A diferença entre a área pode estar rela-cionada ao tamanho do grupo, ou ainda à função que a aldeia ocupava. Hoje em dia, alguns grupos indígenas mantêm uma aldeia principal, que é ocupada a maior parte do ano, mas pode manter aldeias menores afastadas, para ocupar em épocas quando os recursos naturais estão mais escassos e o grupo precisa se dividir. Ou ainda existem casas de roça, pequenas aldeias ocupadas durante um curto espaço de tempo para uma tare-fa específica, como a manutenção das roças e a colheita. Para a compreensão dessas diferenças no registro arqueoló-gico, além da análise dos artefatos em si, seria necessário um quadro cronológico mais completo, para saber se as aldeias maiores e menores foram ocupadas em épocas distintas, o que não está disponí-vel neste momento. Portanto, as inter-pretações sobre as diferentes funções dos sítios arqueológicos são meramente especulativas.

Como já foi visto no início deste item, a quase totalidade dos sítios ar-queológicos pode ser classificada como lito-cerâmica. Isso quer dizer que ocor-re tanto material lítico quanto material

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cerâmico, mas nos casos investigados neste estudo, a quantidade de cerâmica é sempre superior ao de material lítico. Esse material lítico consiste principal-mente em peças produzidas pela técnica do polimento, como machados, ador-nos labiais (tembetás) e pingentes. É uma indústria menos sofisticada que a utilizada pelos caçadores-coletores, que produziam instrumentos complexos, como pontas de flecha e raspadores. É válido relembrar que não foram encon-trados sítios de caçadores-coletores na área do projeto até o momento, o que não significa que eles não existem.

Portanto, os grupos que se instalaram nesta área de estudo eram sociedades que conheciam a tecnologia da produção ce-râmica e também faziam machados, entre outras ferramentas. Os machados são uti-lizados principalmente no desmatamento para a produção de roças ou aldeias. A cerâmica, além dos possíveis significados simbólicos, serve para a transformação de alimentos, como tubérculos e cereais, em produtos digeríveis pelo ser humano. Aliando a isso as evidências de solo an-tropogênico (solo mais escuro, rico em matéria orgânica, presente na maioria dos sítios arqueológicos da região) é certo que são sociedades posteriores às inovações do período formativo.

O estudo de grupos ceramistas ge-ralmente tem este objeto como o prin-

cipal foco, devido a uma série de fato-res: um exemplo é a própria abundância da evidência. A cerâmica é uma argila que passou por um processo físico-quí-mico irreversível de perda de moléculas de água, o que a torna muito resistente. A água e o oxigênio são os principais fatores de deterioração do material ce-râmico, mas é necessário muito tem-po para que todas as informações se percam. A antiguidade da cerâmica na Amazônia Brasileira, com menos de 10000 anos, não é suficiente para que ela se perca. Além disso, ela é um ótimo indicador social. As sociedades indíge-nas geralmente são organizadas em fa-mílias extensas. As aldeias, geralmente, consistem em poucas casas com muitas famílias em cada casa e as refeições são compartilhadas pelos membros da fa-mília extensa. Assim, quanto maior o número de pessoas envolvidas na alimentação de uma mesma família, a capacidade do recipiente cerâmico de-verá ser proporcional. Grandes reci-pientes, portanto, são correlatos de grandes famílias.

Já a quantidade de material cerâmico presente no sítio pode ser relacionada ao tempo de ocupação de uma aldeia ou a sua função. A cerâmica não é um item que possa ser facilmente transpor-tado no caso de uma mudança de aldeia, pois é pesada, volumosa e corre risco de quebra. Apesar de ser uma matéria-pri-

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ma resistente e a sua durabilidade alta, o uso altera a sua vida útil. Alguns potes são empregados na cocção de alimentos e a variação da temperatura pode oca-sionar rachaduras.

A cerâmica também é utilizada para armazenar água ou sementes, sendo pouco movida. Esses potes têm tendên-cia de menor desgaste e risco de quebra e a necessidade de reposição é menor do que potes que quebram mais frequente-mente, portanto, haverá menor registro arqueológico dessas formas. Um tempo maior num mesmo local exigirá a repo-sição das peças mais utilizadas ou que se quebram mais facilmente. Ou seja, a quantidade de material cerâmico pode variar de acordo com o tempo que a al-deia foi ocupada.

Além destes fatores de ordem mais funcional, a cerâmica está relacionada a questões de ordem simbólica, subje-tivas, cujas informações são de acesso limitado ao estudioso. Os grupos Tupi, por exemplo, costumavam enterrar seus mortos em grandes panelas de cerâmi-ca, denominadas neste caso de urnas funerárias. Mas sabemos que os dese-nhos formados pelas pinturas e incisões na superfície dos potes podem ter um grande número de significados. Atual-mente as sociedades indígenas utilizam os grafismos corporais para transmitir mensagens, sobre a identidade, status so-

cial, família, mas o significado de cada grafismo é reconhecido apenas pelos membros da mesma. Ou seja, sabemos que as decorações provavelmente têm uma série de significados, mas desven-dá-los é impossível.

A arqueologia utiliza sistemas classi-ficatórios para a compreensão dos ob-jetos. Para o estudo das sociedades pro-dutoras de cerâmica, o objeto cerâmica será o indicador para a classificação da ocupação dentro de uma Tradição, como já foi apontado anteriormente. Entre os sítios estudados na área de abrangência do projeto foram identi-ficados conjuntos de cerâmica perten-centes a duas tradições distintas: Tupi-guarani e Borda Incisa.

O trabalho de Garcia (2012) foi o pri-meiro a classificar o material do projeto Onça Puma e serve como base para a dis-cussão do contexto regional. O primeiro ponto é o significado das duas tradições distintas. A Tradição Tupiguarani já ha-via sido identificada no Sudeste do Pará na década de 1960 e é entendida como correlato de material de grupos falantes de línguas do Tronco Tupi. A classifica-ção deste material foi bastante simples, pois os principais atributos da tradição foram encontrados, como os tratamen-tos crômicos em policromia clássica e o tratamento plástico do tipo corrugado, além do sepultamento em urnas funerá-

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rias. São as mesmas características dos sí-tios Tupiguarani do projeto Onça Puma. Além das características clássicas da tradição, também ocorrem decorações não típicas, principalmente na forma de apliques zoomorfos e antropomorfos, mesmo que em baixa quantidade. Essas decorações não típicas foram encontra-das em diversos sítios e podem ajudar a identificar uma regionalização do mate-rial Tupiguarani.

A identificação da Tradição Borda Incisa é o principal novo elemento da ar-queologia regional. Até então, a cerâmica com atributos não Tupiguarani do sudes-te do Pará havia sido classificada como Incisa Ponteada (SIMÕES, CORRÊA, MACHADO, 1973; ARAÚJO-COSTA, 1983). A mesma classificação foi dada à cerâmica das fases Ipavu e Diauarum, lo-calizadas no Alto Xingu durante as pes-quisas do PRONAPA (SIMÕES, 1967).

A diferença das classificações não é uma questão de fácil resolução. Pri-meiramente, tanto a região Sudeste do Pará quanto o Alto Xingu podem ser caracterizados como áreas periféricas da floresta amazônica. Localizam-se a centenas de quilômetros das principais representações da Tradição Borda In-cisa, como as fases Pocó e Manacapu-ru e Tradição Inciso-Ponteada, como as fases Santarém e Konduri. Os dois complexos cerâmicos, tipicamente ama-

zônicos, possuem muitas características em comum, como o uso de apliques biomorfos na decoração de seus vasos.

Essa distância entre as zonas con-sideradas “originárias” da cerâmica do Alto Xingu seja ela Borda Incisa ou Incisa-Ponteada, possivelmente acarre-tou uma regionalização na maneira de fazer a cerâmica, que faz com que os seus atributos possam ser confundidos com mais de uma tradição. O contato com um novo ambiente ou com outros grupos humanos podem ser os causa-dores dessas mudanças. É provável que muitos hábitos e costumes antigos per-maneçam, mas também que novos ele-mentos sejam introduzidos como parte do processo de adaptação da nova reali-dade. Esses padrões de comportamento são semelhantes à formação social con-temporânea do sudeste paraense, que por diferentes motivos congrega comu-nidades de diferentes regiões do país, cada uma com seus traços culturais. A partir disso, forma-se uma nova co-munidade, que conserva traços de seus locais de origem e também constrói a sua realidade. Essa transformação dos atributos, difíceis de serem reconheci-dos, ocasionou a divergência de opinião entre os pesquisadores.

Neste caso, o principal elemento que levou a classificação do material não Tupi-guarani como pertencente à Tradição Bor-

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da Incisa foi a associação com o histórico da ocupação indígena conhecido no Alto Xingu. Heckenberger e Garcia seguem a linha proposta por Lathrap (1970), que associa a Tradição Borda Incisa com a dispersão de grupos de línguas Arawak e a Tradição Incisa-Ponteada com a disper-são de grupos de língua Caribe. Na área do Alto Xingu existem tanto etnias Arawak (Waujá e Mehinako) quanto Caribe (Kui-kuro), no entanto, a primeira seria muito mais antiga (HECKENBERGER, 2000). A migração Caribe para essa área só teria acontecido em período mais recente, devido à pressão da sociedade neobra-sileira. Assim, as evidências arqueoló-gicas mais antigas estariam associadas às migrações Arawak, cujo correlato seria a cerâmica da Tradição Borda Incisa. Essa ocorrência regional do Alto Xingu é repre-sentada pelas fases Ipavu e Diauarum.

Portanto, a classificação da cerâmica está mais associada com elementos indiretos, como o histórico indígena e linguístico, do que com elementos diretos, como os atri-butos da cerâmica. A cerâmica não Tupi-guarani do projeto Onça Puma possui mais características em comum com as cerâmicas das fases Ipavu e Diauarum do que com a cerâmica da Tradição Borda Incisa em si, ou Incisa -Ponteada (CRUZ, 2013).

A ocorrência dessas duas tradições nos sítios estudados não segue um único padrão. Existem 28 sítios com cerâmica

exclusivamente da Tradição Tupiguara-ni. Dois sítios possuem apenas material da Tradição Borda Incisa (OU2 e OU7). Em outros quatro sítios (OU1, OU8, OU12 e OP3) foi identificado material das duas tradições. Não foi identificado nenhum padrão geográfico ou paisagís-tico entre os sítios, pois ocorrem nas duas bacias hidrográficas, em diferentes lugares na paisagem. Estão ausentes na pesquisa da linha de transmissão, mas não são restritos às áreas das serras. O sítio OU2, por exemplo, está localizado na zona urbana de Ourilândia do Norte.

Os sítios com material misto pos-suem características interessantes. A distribuição da cerâmica, na maioria dos casos, possui um padrão típico. As duas tradições não são encontradas no mes-mo lugar, apesar de estarem próximas. Esse tipo de padrão ficou claro durante a análise do sítio OU1, que possui um grande núcleo com material Tupiguara-ni e uma pequena concentração de ma-terial Borda Incisa. Como já vimos, os atributos decorativos de ambas as tra-dições são distintos, a primeira é carac-terizada pela pintura policroma e pela técnica plástica do corrugado; a segun-da possui apliques zoomorfos e deco-ração incisa. Localizando onde ocorreu a maior quantidade de cada tipo de de-coração foi possível perceber uma área Tupiguarani, no setor noroeste e uma área Borda Incisa no setor sudeste.

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sítio Canaã 4: decoração corrugada, comum entre os grupos tupiguarani

sítio Canaã 4: A remontagem dos potes permite conhecer melhor a morfologia e o uso dos

recipientes.

sítio Canãa 4: a decoração corrugada é eficiente para reunir os roletes, e criar efeito visual

sítio Canaã 2: recipiente com provável representação antropomorfa, com “orelhas”

laterais em segmento de círculo e alto relevo, “olhos” incisos por traços pequenos.

sítio Parauapebas 34: neste caso é possível que a decoração corrugada tenha sido feita

por uma oleira destra, pois as cristas da direita estão sobre as da esquerda.

sítio Canaã 4: observe que cada crista é o resultado de um movimento do produtor, e

mostra o final de cada gesto.

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sítio Canaã 2: outra possível representação humana, mais comum entre os produtores

Borda incisa.

sítio Canaã 2: Pintura em faixas vermelhas delimitadas por linhas pretas. Associado à

tradição tupigurani.

sítio Canaã 4: fragmento de vasilha grande remontada, detalhe da face externa (esquerda) e interna (direita). notar decoração incisa na face externa.

Parauapebas 31:decoração em alto relevo, em geral associada neste contexto à tradição

Borda incisa.

sítio Parauapebas 31: Pintura vermelha e preta com incisão marcando o vermelho. Associado à

tradição tupigurani.

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sítio Parauapebas 33: notar a disposição da decoração pintada, comum em outros

sítios da região.

sítio Canaã 2: notar decoração mista, engobo vermelho e decoração plástica.

sítio onça Puma 4: decoração modelada e incisa, como as representações figurativas,

foram classificadas como Borda incisa

sítio Canaã 2: a decoração pintada está bastante erodida, mas foi possível reconhecer o padrão e

atribuir classificação arqueológica a ele.

sítio Parauapebas 33: exemplar com decoração mista, uma combinação entre pintura e plástica.

sítio Parauapebas 31: notar decoração pintada em vermelho no lábio do recipiente e decoração plástica logo abaixo. relacionada à

tradição tupiguarani

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sítio ourilândia 8; representação zoomorfa, comum entre o material da tradição Borda incisa neste contexto.

sítio onça Puma 4: duas representações zoomorfas, possível peixe de uma mesma vasilha, são as alças de uma vasilha (esquerda), e detalhe (direita).

sítio ourilândia 3: notar a forma da representação, sugerida por boca, olhos, cabeça

e orelhas.

sítio ourilândia 1: outra representação zoomorfa, semelhante ao peixe, em outro sítio. mostra relação em um espaço maior que a aldeia.

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Figura 27: Distribuição do material no sítio arqueológico

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A resolução da problemática das duas tradições ocorrendo na mesma área esbarra na falta de dados cronológicos consistentes. Infelizmente, as cronolo-gias realizadas para um sítio Borda Inci-sa (OU2) e para dois sítios com as duas tradições (OP3 e OU12) não foram su-ficientes para determinar se os dois gru-pos habitaram a região ao mesmo tempo ou um chegou a momento anterior ao outro e se a relação entre eles existiu.

Até o momento, foram feitas 17 data-ções para quatro sítios, sendo quatro pela técnica de TL e as demais por C14. Infe-lizmente, as amostras para datação depen-dem das condições do sítio arqueológico e nem sempre as amostras desejadas são obtidas. É neste contexto que se encontra a problematização da cerâmica não Tupi-guarani. A questão poderia começar a ser debatida se os sítios com cerâmica exclu-sivamente não Tupiguarani apresentas-sem uma consistência. O sítio OU11, por exemplo, não possui elementos suficien-tes para caracterizar nenhuma das tradi-ções, mesmo com algumas características da tradição Borda Incisa.

O sítio OU2, também Borda Incisa possui três datações, por duas técnicas distintas. Infelizmente, o resultado das amostras é problemático. A amostra de TL foi realizada no mesmo nível de uma amostra de C14 e mesma unidade de es-cavação, mas existe uma diferença de 260

a 300 anos. É um período bastante lon-go e só poderia ser resultado de uma ex-tensa ocupação, ou de reocupações, mas a evidência cerâmica não é compatível com nenhuma das hipóteses. A quanti-dade de material é pouca para a extensão temporal e o solo possui pouca alteração antrópica. A terceira datação, situada em período muito mais antigo, com uma di-ferença temporal de mais de 800 anos, está três níveis acima das outras amos-tras, mas em uma unidade de escavação diferente. Essa diferença das datações caracteriza uma inversão. A data mais recente está no nível mais profundo e a mais antiga no nível mais próximo à su-perfície. Assim, apesar de existir um con-junto de datações, não é possível chegar a uma conclusão sobre qual amostra é válida para este sítio.

As outras datações pertencem a dois sítios mistos: OU12 e OP3. O sítio OU12 tem o mesmo padrão de distribuição de material descrito para o sítio OU1, en-quanto o sítio OP3 apresenta as duas tra-dições “misturadas”, ou seja, ocorrem no mesmo local do sítio arqueológico. O caso do sítio OP3 é o mais complexo. Existe um conjunto de resultados entre 760 e 1250 a.D., e um resultado isolado, data-do em 4150 a.C. Entre as análises existe uma diferença de aproximadamente 5000 anos. Neste caso, é importante observar que existem duas amostras datadas que pertencem ao nível 50-60 cm, mas em

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duas sondagens distintas. Uma delas cor-responde à datação mais antiga e a ou-tra está entre as mais recentes. Portanto, existe um lapso temporal muito dilatado e uma datação com tamanha antiguidade colocaria o sítio entre as ocupações cera-mistas mais antigas da Amazônia.

Entre as quatro amostras datadas do sítio OU12, também existe um re-sultado bastante antigo. Neste sítio foi identificada uma área com material Tu-piguarani e outra Borda Incisa. A amos-tra antiga foi retirada da base de uma sondagem da área Borda Incisa. O re-sultado de 4150 AC foi semelhante ao identificado no sítio OP3. As amostras associadas com a cerâmica Tupiguarani são bem mais recentes.

A questão da ocorrência da cerâmi-ca Borda Incisa não foi resolvida com as datações realizadas até o momento. O conjunto de amostras demonstra re-sultado inconsistente, ora muito antigo, ora mais recente. Os resultados mais antigos foram, a princípio, descartados pela falta de dados que corroborem com o modelo de ocupação bastante antiga do sudeste do Pará. Se estes hor-ticultores ceramistas, principalmente no caso do sítio OU12, estariam associa-dos à cerâmica Borda Incisa, habitaram a região durante mais de 4000 anos, de-veria haver maior quantidade de sítios e de cerâmica do tipo na área, mas a

predominância é do material Tupigua-rani, em número de sítios e quantidade de cerâmica também. As datações pos-suem diversas inversões, com níveis da-tados de período mais antigo, em nível superior, e níveis mais profundos com datações mais recentes. É necessário o prosseguimento dos estudos para que essa questão possa ser resolvida.

O quadro cronológico da Tradição Tupiguarani, a princípio, é mais simples. Existem cronologias de dois sítios mis-tos. As datações do sítio OP3 podem estar associadas tanto com o material Tupiguarani quanto com o material Borda Incisa e não há uma correspon-dência entre a profundidade das amos-tras e o resultado da cronologia. As amostras do sítio Ou12 correspondem à área de material da Tradição Tupigua-rani. Mesmo que as datações tenham sido realizadas a partir do carvão de três sondagens distintas, existe coerên-cia entre a profundidade e as cronolo-gias. A amostra mais antiga data de 760 a.D. e provém do nível mais profundo da escavação. Em um nível interme-diário (30-40 cm), o resultado foi de 800 a.D., e no nível mais recente, 960 a.D. O intervalo temporal no qual o sí-tio arqueológico abrange é entre 260 e 140 anos, aproximadamente.

A cronologia Tupiguarani não apre-senta os mesmos questionamentos da

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cronologia Borda Incisa. As datas do sítio OU12 são mais recentes que as datas mais antigas da Fase Itacaiúnas. Em compara-ção com o quadro cronológico regional, as datas estão em um período intermediá-rio. A Fase Itacaiúnas tem a datação mais antiga, 1670 A.P. As cronologias mais re-centes são pós-contato, no século XVI e XVII. O período do sítio OU12 está entre essas datas, em um momento que a tradi-ção Tupiguarani atinge sua maior popula-ridade na região, ou pelo menos a maior quantidade de datações.

Mesmo sem ter a questão da relação entre as tradições Tupiguarani e Borda Incisa resolvida é possível caracterizar os dois grupos como elementos dis-tintos. O elemento Tupi é conhecido historicamente na região e foi relatado pelos primeiros viajantes e missioná-rios que cruzaram os rios Tocantins e Araguaia. Essas tribos Tupi foram os principais alvos das missões Jesuítas e milhares de índios foram convencidos a deixar seu local de origem rumo aos aldeamentos, no baixo curso do rio, próximos a Belém. Os relatos históri-cos são corroborados pelas evidências arqueológicas. A primeira missão je-suítica data do ano de 1636. Existem apenas duas datações de sítios arque-ológicos posteriores a esse período de sítios do Pará (PEREIRA et. al, 2008, FIGUEIREDO, 1965). Nesses relatos também existem evidências de etnias

não Tupi, possivelmente de origem Awarak, que poderiam estar associados ao material Borda Incisa da região.

A violência do processo de declínio populacional é facilmente percebida na análise arqueológica. A ocupação da re-gião pelos grupos ceramistas ocorreu em aproximadamente 2000 anos, conforme as datas já apresentadas. A quantidade de sítios e a densidade dos mesmos são evidências das narrativas históricas que apontam uma grande densidade popu-lacional indígena do Sudeste do Pará na época dos primeiros contatos. Para o século XIV existem sete datações, para o XV são seis, para o XVI são seis e no XVII dois. É possível perceber certa estabilidade na quantidade de datas ao longo dos últimos séculos, que acabam de maneira abrupta no período que as missões foram iniciadas.

Conclusões

A bacia amazônica, principalmente no território brasileiro, tem sido alvo de um grande número de empreendi-mentos de engenharia de grande porte, como a construção de barragens, linhas de transmissão de energia elétrica, mine-rações, entre outros. Todas essas obras exigem o estudo arqueológico da área que será impactada, conforme exige a legislação ambiental em vigor.

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O desenvolvimento dos estudos arqueológicos no Sudeste do Pará está diretamente relacionado ao licencia-mento ambiental, praticamente desde o seu início, com os projetos da barra-gem de Tucuruí e da mineração em Ca-rajás. O projeto de arqueologia da Mi-neração Onça Puma – Vale está dentro deste contexto.

Os estudos arqueológicos revelaram um contexto de ocupação regional com-plexo e colocaram a área de estudo no mapa da arqueologia brasileira. A partir dos resultados obtidos, foi possível re-ver a classificação do material de todo o Sudeste do Pará e caracterizar o tipo de ocupação de terra firme entre as bacias do Xingu e Tocantins-Araguaia.

O resultado tem importância tanto na esfera regional quanto em uma es-fera mais ampla, da Amazônia como um todo. Regionalmente, foi impor-tante para a caracterização do quadro local, com a descoberta de dezenas de novos sítios e a classificação do ma-terial, resultados inéditos. Também foi possível rever o material de todo o Sudeste do Pará e reclassificá-lo de acordo com as novas descobertas. Na esfera mais ampla, foi possível rela-cionar as descobertas locais com as de outras áreas da Amazônia. As influ-ências da tradição Borda Incisa, por exemplo, podem estar associadas com grupos vindos da bacia do Orinoco, na Venezuela.

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Com este livro objetivamos intro-duzir conceitos ligados ao patri-mônio arqueológico e condensar

as informações sobre a grande história do sudeste do Pará. Principiando no ca-pítulo 1 com a apresentação os processos coloniais na região, debatendo sobre as ações da Coroa Portuguesa, das Missões Religiosas e as implicações para a vida dos indígenas que ali estavam. No capítulo 2 tratamos a formação do povo brasileiro no sudeste do Pará, debatendo as frentes de expansão e os movimentos de migra-ção. No capítulo 3 apresentamos um bre-ve histórico da formação de alguns dos municípios da região, como Xinguara, Tucumã, Ourilândia do Norte, São Félix do Xingu e Água Azul do Norte. No ca-pítulo 4 apresentamos tanto o histórico de pesquisas quanto os resultados obtidos com a pesquisa para o projeto “Arqueo-logia Preventiva na área de Intervenção das Operações de Níquel Onça Puma e Linha de Transmissão Associada, Sudeste

do Pará” para o empreendimento da Vale.

O interesse do capítulo 5 foi em apre-sentar propostas pedagógicas para que os educadores tenham apoio no momento de aplicar os conteúdos com seus alunos. As atividades que aqui propomos, podem e devem ser alteradas para melhor atender às necessidades de cada grupo de pro-fessores e estudantes, bem como ao conteúdo programático ministrado.

Propositadamente, nas atividades não recomendamos aplicação a determi-nadas faixas etárias, pois cada educadora e/ou educador poderá adaptar a ativida-de para a sua área de atuação. Aplicamos estas atividades com diferentes grupos, modificando a maneira de abordar o tema e as questões provocadoras.

Capítulo 5Sugestões de Atividades para o Contexto escolar

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Inserção do tema patrimônio cultural no cotidiano escolar

As atividades que compõem este primeiro item são algumas possibilida-des para o educador e a educadora inse-rirem as discussões sobre o patrimônio cultural aos seus estudantes.

Estas atividades foram executadas durante o “Programa de Educação Pa-trimonial do Projeto de Arqueologia Preventiva na área de Intervenção das Operações de Níquel Onça Puma e Li-nha de Transmissão Associada, Sudeste do Pará”7 que ocorreram nos municí-pios afetados.

7 Fonte: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção da Mineração Onça Puma e Linha de Transmissão associada, Sudeste do Pará. Programa de Educação Patrimonial. Relatório final2007/2008/2009.Belém,ScientiaConsultoriaCientífica,2009. Textos e atividades adaptados.

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Ficha de identificação do objeto

Aspectos principais a observar Responda as seguintes questões:

Aspectos físicos:

o que parece ser este objeto?

o que é este objeto? qual a sua cor?

De que material é feito?

qual a sua textura? (é liso? é áspero?...)

o material é um produto da natureza ou do trabalho do ser humano?

Construção:

Como foi feito?Foi feito à mão ou à máquina?

Com o uso de molde ou modelado à mão?

Função:

Para que foi feito?

Como foi ou é usado?

quais pessoas utilizam ou utilizaram este objeto?

valor:

qual o valor (a importância) deste objeto?

Para as pessoas que o usam (ou usaram)?

Para suas famílias?

1: ReCOnHeCImentO De um OBJetO

Objetivo: estimular de forma lúdica e divertida, a criatividade dos alunos na percepção do trabalho do arqueólogo, na compreensão da cultura das diversas so-ciedades.

Componente Curricular: História e Língua Portuguesa.

Na sociedade atual, o ser humano produz uma diversidade de objetos, que po-dem ser de fácil ou difícil decomposição. Conforme vimos anteriormente, o arque-ólogo estuda as sociedades a partir dos objetos por elas produzidos e que resistiram ao tempo. Sendo assim, imagine-se um arqueólogo do futuro, daqui há muito tem-po, tentando entender a sociedade atual.

1º- Observe os objetos: caneta, panela de barro, vestido, fruta, pote de madeira, computador.

2º- Entre os objetos apresentados, quais durariam num futuro distante?

3º- Escolha um dos objetos e aprenda a fazer um pouco do trabalho do arque-ólogo: descreva o objeto por meio da aplicação da ficha:

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2: muSeu DA FAmílIA

Objetivo: mostrar a importância de se preservar referências de uma sociedade em museus.

Componente curricular: História e Artes.

Se você fosse fazer um museu contando a história de sua família, quais objetos você escolheria?

Desenhe os objetos e escreva a história de cada um deles.

Monte a exposição com os desenhos e textos.

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3: umA DeSCRIçãO DO xIngu nO SÉCulO xvII

Objetivos: refletir sobre os impactos causados na natureza pela ação humana; conhecer a visão de um padre jesuíta que esteve no Brasil durante o século XVII.

Componente curricular: Geografia, História e Língua Portuguesa.

Leia atentamente o texto abaixo.

“As primeiras terras que seguem para riba da Capitania do Gurupá para banda do sul, são as do bello rio do Xingu, que os índios também chamam Paranayba. Nestas esteve sempre residência nossa até o prezente; são as terras boas pra tudo se não houvesse a praga das formigas, e sem embargo disso, são ricas para tabaco. Seus ares são sadios, suas águas até as do mesmo rio excellentes, por descerem por cachoeiras e áreas, assim da banda do Tacoanhapes, como da banda do Jurunas, não falta caça e mel em seus mattos, nem peixe em seus rios, além de boas tartarugas em seu tempo; (...)” .

Fonte: Padre João Felipe Bettendorf8. Crônica dos padres da companhia de Jesus no Estado do Maranhão. 2ª ed. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves; Se-cretaria de Estado da Cultura, 1990, 697 p.

Pesquise sobre a paisagem da atual região que contém os municípios de Gurupá e Porto de Moz. Compare com a descrição do padre Bettendorf.

Aponte diferenças entre a descrição da paisagem presente no texto e sua obser-vação no dia de hoje.

8 O padre João Felipe Bettendorf (nascido em Luxemburgo, em 1625; falecido em Belém/PA em 1698, aos 73 anos de idade) graduou-se em Direito Civil e Artes na Itália e, aos 22 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Poliglota e detentor de vasta cultura, foi também pintor e poeta. A convite do padre Antônio Vieira, veio ao Brasil como missionário, em 1661; atuou nos arredores de Belém, fundou a missão na aldeia dos Tapajós – aldeamento que deu origem à cidade de Santarém; foi Superior das Missões entre 1669 e 1674, e entre 1690 e 1693 (www.santarem.pa.gov.br).

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4: memóRIAS De FAmílIA

Objetivo: estimular a investigação científica e mostrar a importância da memó-ria oral como fonte de pesquisa.

Componente curricular: História.

1° Procure na sua casa um objeto antigo.

2° Entreviste alguém da sua casa e descubra: a história desse objeto, a quem ele pertenceu ou pertence, do que é feito e qual a importância desse objeto na sua família.

3° Traga este objeto para a sala de aula e conte a todos sobre sua pesquisa.

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5: meu PAtRImÔnIO

Objetivo: identificar a apreensão da noção de patrimônio familiar.

Componente curricular: História e Artes.

Desde quando nascemos é com nossa família que aprendemos sobre o lugar em que vivemos, sobre os comportamentos aceitos em nossa comunidade, sobre nossa alimentação, entre outras coisas. As pessoas mais velhas de nossa família têm muitas coisas a nos ensinar.

1º. Desenhe as pessoas com quem você mora, ou seja, a sua família. Escreva os nomes delas.

2º Desenhe e pinte objetos que você reconhece como muito importantes na sua família e que você gostaria de manter.

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6: O tuPI que FAlAmOS

Objetivo: reconhecer as palavras de origem Tupi usadas no dia a dia.

Componente curricular: Língua Portuguesa, História, Ciências e Geografia.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, muitas línguas eram faladas pelos povos indígenas que aqui habitavam. Com o passar dos anos, muitas palavras dessas línguas foram integradas à língua portuguesa. Atualmente, usamos o vocabulário indígena sem perceber, como por exemplo, utilizando o vocabulário do povo Tupi, que chegou a ocupar a região onde estamos.

Agora, vamos ler o texto abaixo. As palavras em vermelho são de origem tupi; sublinhe as que você conhece.

O tupi que você falaAutor: Cláudio Fragata

você sabe falar tupi? Pois acho que sabe e eu provo aqui. você entende quando dizem guri, jabuticaba ou jabuti?sabe que bicho é quando falam sagui, tamanduá ou siri?e jiboia, jacaré, Capivara, arara, urubu, tucano, paca ou tatu?sabe que fruta é se falam caju, guaraná, Pitanga ou maracujá?sabe o significado Da palavra abacaxi? então, isso é tupi.também é tupi samambaia, mandioca, sabiá e paçoca.

e piranha, taquara, perereca, taturana e peteca.você entende quando falam pororoca ou faz cara de boboca?se falam saci você sente um arrepio e procura um desvio?viu como você entende tudo, sim senhor, sem precisar de tradutor?você já falava tupi e nem percebia mesmo falando todo dia.Comendo pipoca ou amendoim você é um pouco curumim.

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2. Além da língua, recebemos outras heranças dos povos indígenas. Escreva os nomes de algumas delas no quadro a seguir.

na alimentação utensílios Formas de morar nomes de lugares

7: ARqueOlOgIA lógICA

Objetivos: estimular o conhecimento do aluno no uso da geometria e cálculo de áreas bem como sua aplicação no cotidiano.

Componente curricular: Matemática.

1- Observe as figuras 1 e 2. Elas mostram uma forma de escavação arqueológi-ca* chamada de Superfície Ampliada. Nesta escavação, o arqueólogo optou por esca-var a área alternadamente formando um “xadrez” arqueológico.

Considerando que a escavação é constituída por quadrados de 1 metro de lado:

A) Calcule a área total escavada.

B) Qual a fração que representa o número de quadrados não escavados?

C) Qual o perímetro da escavação inteira?

Figura 1: vista da área de escavação - setor 1, sítio ourilândia 2 (scientia, 2008).

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Figura 2: vista da área de esca-vação do setor 1. sítio ourilân-dia 2 (scientia, 2007).

lembre-se:

*escavação Arqueológica é um dos métodos de pesquisa utilizados pelo arqueólogo para re-

cuperar os vestígios do passado (fragmentos cerâmicos, partes de construções, pontas de flecha

etc.). Antes da intervenção, o sítio arqueológico é medido detalhadamente, dividido em quadros;

depois, escolhe-se cada quadro a ser escavado; todos os procedimentos são registrados por fotos,

filmagens e desenhos. todo material encontrado deve ser identificado, registrado com desenho

e fotografia e depois embalado para ir a laboratório. Ao final dos trabalhos de escavação, o bu-

raco é coberto por uma lona e sobre esta se joga a terra de volta – assim, os futuros arqueólogos

saberão que ali já foi escavado. esse local recebe uma placa de identificação, que deve ficar em

local bem visível.

medição do sítio, para verificação dos limites e extensão da malha de

quadros.

registro da escavação, dos vestígios e de tudo que se possa observar no solo e

no perfil.

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Responda:

1) o que o arqueólogo está fazendo?

2) que tipo de vestígio foi encontrado?

De que material é feito?

qual teria sido sua função?

registro da escavação, dos vestígios e de tudo que se possa observar no solo e

no perfil.

escavação no sítio ar-queológico ourilândia 3

(sCientiA, 2007).

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8: A ARqueOlOgIA que eu veJO

Objetivos: conhecer a percepção artística e representativa do aluno. Mostrar as possibilidades da decoração indígena no cotidiano.

Componente curricular: Artes.

A seguir, a figura 1 mostra uma vasilha cerâmica Proto-Guarani (isto é, dos an-tepassados dos atuais indígenas Guarani) decorada com fundo pintado de branco e linhas vermelhas que formam triângulos. O desenho da pintura está reproduzido na figura 2.

Figura 1. vasilha cerâmica com decoração pintada.

Figura 2. motivos da pintura

(Fonte: Prous, 2007).

A figura 3 mostra fragmentos arqueológicos com decoração incisa* usada para enfeitar alguns potes cerâmicos de povos do passado.

*Incisa: tipo de decoração cerâmica que consiste em fazer marcas com instru-mentos variados na superfície da cerâmica, antes da queima. As incisões variam em comprimento, largura e profundidade, podendo ser regulares ou irregulares, isto é, mais finas, mais largas etc. (Fonte: MENDONÇA, 1997).

Figura 3. Fragmentos de vasilhas cerâmicas com decoração inci-sa (Fonte: ALmeiDA, 2008).

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1- Desenhe no pote abaixo utilizando os exemplos de decoração incisa no pote representado a seguir.

2- Agora, crie um tipo de decoração pintada; com ela, decore o pote repre-sentado abaixo.

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9: PInDORAmA

Objetivos: ativar no aluno a observação, atenção, concentração e descrição de atividades.

Componente curricular: Língua Portuguesa, História, Geografia e Artes.

Cante a música Pindorama, junto com o grupo Palavra Cantada - Sandra Pe-res e Luís Tatit. Depois, leia com atenção a letra da música. Busque, no dicionário, o significado das palavras desconhecidas. Caso seja possível, veja o clipe animado do Palavra Cantada no site: http://www.youtube.com/watch?v=DrVJCRT0H4Q

terra à vista!Pindorama, Pindorama

É o Brasil antes de CabralPindorama, PindoramaÉ tão longe de PortugalFica além, muito além

Do encontro do mar com o céuFica além, muito além

Dos domínios de Dom manuelvera Cruz, vera Cruz

quem achou foi Portugalvera Cruz, vera Cruz

Atrás do monte PascoalBem ali Cabral viu

Dia 22 de abrilnão só viu, descobriutoda terra do Brasil.

Pindorama, Pindoramamas os índios já estavam aqui

Pindorama, Pindoramajá falavam tupi-tupi

só depois, vem vocêsque falavam tupi-português

só depois com vocêsnossa vida mudou de vez

Pero vaz, Pero vazDisse em uma carta ao reique num altar, sob a cruzrezou missa o nosso freimas depois seu Cabral

Foi saindo devagarDo país tropical

Para as índias encontrar

Para as índias, para as índiasmas as índias já estavam aqui

Avisamos: “olha as índias!”mas Cabral não entende tupi

se mudou para o marver as índias em outro lugar

Deu chabu, deu azarmuitas naus não puderam voltar

mas, enfim, desconfionão foi nada ocasionalque Cabral, num desvio

viu a terra e disse: “uau!”não foi nau, foi navioFoi um plano imperialPra aportar seu navio

num país monumentalAo álvares Cabral

Ao el rei Dom manuelAo índio do Brasil

e ainda a quem me ouviuvou dizer, descobri

o Brasil ‘ta inteirinho na vozquem quiser vai ouvir

Pindorama ‘ta dentro de nósAo álvares Cabral

Ao el rei Dom manuelAo índio do Brasil

e ainda a quem me ouviuvou dizer, vem ouvirÉ um país muito sutil

quem quiser descobrirsó depois do ano 2000

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Agora, junte sua equipe e com ajuda das professoras ou dos professores, escreva:

o significado da palavra Pindorama;

b) o significado das palavras Índias e índias, no texto.

Sugerimos a leitura e o exame das imagens do livro “Pindorama, Terra das Pal-meiras” de autoria de Marilda Castanha, Editora Cosac-Naify, 2000.

10: A lOuçA queBRADA

Objetivos: iniciar o aluno na compreensão da evidência cultural e nos diferentes modos de analisá-la, buscando a percepção do processo de reconstituição do passa-do por meio dos vestígios observados no presente.

A experiência pode ser usada como preparação para o estudo de qualquer evi-dência, de objetos de museus a monumentos em ruínas ou sítios históricos e arque-ológicos.

Componente curricular: Artes, Língua Portuguesa e História.

Etapas:

Apresente aos alunos um objeto qualquer de cerâmica ou louça comum (xícara, prato, bule, pote, caneca etc.), previamente quebrado em pequenos pedaços, dentro de um saco plástico transparente.

Peça aos alunos para identificar o que é este objeto. A resposta nem sempre será óbvia. Faça perguntas que levem à observação do material empregado, vestígios de decoração e a forma dos fragmentos.

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Escolha um dos fragmentos que permita uma fácil identificação (a alça, por exemplo). Faça perguntas que levem a uma interpretação deste fragmento de evi-dência. Nem sempre você pode ter certeza de como era o objeto original. A borda de uma caneca, ou de um pote, podem ser semelhantes.

Repita o exercício com os demais fragmentos. Os alunos podem desenhá-los para tentar montar o quebra-cabeça, ou tentar reconstituir o objeto juntando os próprios fragmentos (desde que não haja risco de acidentes).

11: O ARqueólOgO DO FutuRO

Objetivos: iniciar o aluno na compreensão da evidência cultural e nos diferentes modos de analisá-la, buscando a percepção do processo de reconstituição do passa-do por meio dos vestígios observados no presente. Conhecimento de variedade de matérias-primas e de materiais, e de sua durabilidade em relação à ação do tempo.

Componente curricular: Ciências e História.

Material necessário: sacos plásticos; luvas descartáveis; texto Cavucando o lixo; Quadros Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? e Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos.

Etapas:

Os alunos podem imaginar que são arqueólogos do ano 3000. A sala de aula ou o jardim da escola podem ser sítios arqueológicos, que serão explorados para desco-brir pistas sobre a vida no início do século XXI.

Em sala de aula, trabalhar o texto Cavucando o lixo e os Quadros Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? e Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos.

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Organizar grupos de alunos. Cada grupo deve receber um saco plástico, luvas descartáveis suficientes para todos os membros e uma ficha para análise de objetos.

Cada grupo de alunos deve recolher, no saco plástico, alguns artefatos ou coisas que foram para o lixo seco, na sala ou no pátio da escola.

Cada aluno, em cada grupo, descreve em uma ficha um objeto encontrado. Quando todos os objetos estiverem descritos, o grupo pode discutir a função de cada um, as várias hipóteses de uso, como se não soubessem como era a vida em nossa época.

Cada grupo apresentará aos demais suas hipóteses sobre o material encontrado.

No final da atividade, fazer um painel, em classe, com todas as informações obtidas a partir da análise do material recolhido, discutindo ainda tudo o que não está representado por esse material, o que está faltando, ou o que fica pouco cla-ro, a partir dessas evidências. Este exercício, que pode ser bem divertido e lúdico, estimulando a criatividade dos alunos, também os fará perceber as limitações da Arqueologia, na descoberta dos mundos passados.

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Cavucando o lixo

(Adaptação da matéria de Flávia ribeiro e Fábio varsano. revista superinteressante, edição verde - 12/2008)

segundo o Dicionário houaiss, arqueologia é a “ciência que, utilizando processos como coleta e escavação, estuda costumes e culturas dos povos antigos através do material (fósseis, artefatos, monumentos etc.) que restou da vida desses povos”. um pequeno grupo de pesqui-sadores, com as mesmas técnicas científicas, procurou desvendar o comportamento de uma comunidade atual analisando os restos por ela descartados: eles fuçaram latas de lixo e se embrenharam em grandes aterros.

Ao assim proceder, criaram um ramo da arqueologia, em inglês denominado garbo-logy (garbage, “lixo”+ archeology, “arqueologia”). essa especialidade desenvolveu-se a partir de 1973, quando o norte-americano William L. rathje, estudioso da Pré-história, fundou o Garbage Project, ou Projeto do Lixo, na universidade do Arizona. “A história de nossa civili-zação é contada a partir de potes e panelas quebradas. tudo o que sabemos vem do que os antigos jogavam fora”, diz rathje, que criou o projeto após assistir, na tv, entrevista de um catador de latas da cidade de Kenwood (Califórnia), que era também um cronista do estilo de vida, desperdício e reciclagem na vizinhança onde trabalhava. rathje e seus alunos coletaram objetos em latas de lixo domésticas que, classificados, permitiram analisar hábitos alimentares e de consumo. A partir de 1987, com uma equipe multidisciplinar que incluiu microbiólogos, químicos, engenheiros e antropólogos, rathje enfrentou um desafio maior e mais malcheiroso: mergulhar nos lixões das grandes cidades: em 12 anos, foram escavadas, separadas, classifica-das e analisadas mais de 30 toneladas de dejetos de 15 aterros dos euA, Canadá e méxico. As conclusões das etapas dos estudos encontram-se no livro Rubbish: The Archeology of Garbage (“refugo: A Arqueologia do Lixo”).

exemplos das informações obtidas: 15% da comida comprada acabava no lixo, desper-dício nem sempre percebido pelas próprias famílias. Fraldas e recipientes térmicos de cadeias de fast food representaram, juntos, menos de 2% do lixo acumulado nos aterros – assim, as mães não precisam se sentir culpadas por cobrir os bumbuns de seus bebês com fraldas des-cartáveis; essas peças demoram para se degradar, mas não são as responsáveis por entupir os depósitos, e não é preciso retornar às velhas fraldas de pano, cujo processo de lavagem desperdiça bastante água. As sacolas plásticas ocupavam um espaço 80% menor do que os de papel; e os papéis representavam mais de 40% do total do lixo. tais descobertas ajudaram a orientar campanhas de reciclagem.

o engenheiro e arqueólogo André Wagner oliani Andrade, pioneiro na arqueologia do lixo no Brasil, pesquisou o aterro desativado de volta Fria (mogi das Cruzes, sP) durante três anos. Disse que, dependendo das condições de umidade, temperatura e iluminação de determinado ponto da montanha de lixo, materiais orgânicos não se degradam rapidamente. exemplos dos achados: enterrado a 6 metros de profundidade, um pedaço de bisteca, de pelo menos 5 anos antes, com cheiro, cor e textura preservados, se decompôs rapidamente quando chegou ao laboratório. Analisados os grupos de alimentos mais comuns no aterro, apareceram dados importantes sobre os hábitos e a saúde dos moradores: em 1º lugar, ficaram os açúcares (chocolate, bala, refrigerante), com 27% do total, seguidos dos produtos de panificação (pão, bolo, biscoito), com 21%, e dos lácteos (leite, queijo, iogurte), com 14%. e, em uma classifi-cação mais detalhada, o item que apresentou maior incidência foi de refrigerantes, com 3,3% do total. Dos 14 693 itens coletados e identificados por Andrade e sua equipe de 45 pessoas, 61,5% eram plásticos, que costumam demorar dezenas de anos para se degradar, mas que em alguns casos apareceram bastante deteriorados. Papel, só representou 8% do universo pesquisado em mogi.

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quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? (Fonte: www.cincoerres wordpress.com.bmp )

materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos

louças

conchas

tijolos

rochas

metais

madeiras

carvão

cerâmicas e ossos

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12: CADeRnO De AtIvIDADeS PARA AlunOS e SeuS FAmIlIAReS

AS MINHAS HISTÓRIAS

quem sou eu?

meu nome é: ...........................................................................................................................................

nasci no dia................. de...................................... de............................, em .........................................

tenho ............... anos.

meu apelido é ...........................................................................................................................................

A brincadeira de que mais gosto é .........................................................................................................

minha comida preferida é ........................................................................................................................

estou cursando o.................ano, na escola .............................................................................................

gosto de estudar ......................................................................................................................................

moro com ..................................................................................................................................................

em minha comunidade gosto de .............................................................................................................

145

minhas brincadeiras preferidas

Com seus familiares, leia a letra da música Bola de meia, bola de gude, de milton nascimento.

há um menino

há um moleque

morando sempre no meu coração

toda vez que o adulto balança

ele vem para me dar a mão

há um passado no meu presente

um sol bem quente lá no meu quintal

toda vez que a bruxa me assombra

o menino me dá a mão

e me fala de coisas bonitas

que eu acredito

que não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito,

Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso

não devo

não quero viver

Como toda essa gente

insiste em viver

e não posso aceitar sossegado

qualquer sacanagem

ser coisa normal.

Bola de meia, bola de gude,

o solidário não quer solidão

toda vez que a tristeza me alcança

o menino me dá a mão

há um menino

há um moleque

morando sempre no meu coração

toda vez que o adulto fraqueja

ele vem pra me dar a mão.

O poema de Milton Nascimento mostra a criança que existe em cada adulto. E, também, algumas brincadeiras das quais as crianças costumam gostar.

E você, gosta de brincar de quê?

Desenhe a brincadeira de que você mais gosta.

146

tenho um livro sobre águas e meninos.

gostei mais de um menino

que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira

era o mesmo que roubar um vento e sair

Correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo

que catar espinhos na água.

o mesmo que criar peixes no bolso.

o menino era ligado em despropósitos.

quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio do que do cheio.

Falava que vazios são maiores

e até infinitos.

Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito

Porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria

o mesmo que carregar água na peneira.

no escrever o menino viu

que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo

Ao mesmo tempo.

o menino aprendeu a usar as palavras.

viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

e começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

o menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou: meu filho, você vai ser poeta.

você vai carregar água na peneira a vida toda.

você vai encher os vazios com suas peraltagens

e algumas pessoas vão te amar

Por seus despropósitos.

o menino do poema de joão de Barros descobriu que queria ser escritor quando crescesse.

e você, o que quer ser quando crescer? escreva e desenhe a seguir seu desejo.

O que vou ser quando crescer?

Com seus familiares, leia o poema O menino que carregava água na peneira, de João de Barros.

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eu tenho um sonho

todos os seres humanos têm um sonho especial, mas as crianças sempre conseguem sonhar mais e nunca colocam limites para seus desejos.

Desenhe seu maior sonho.

um momento especial com minha família

Descreva, com palavras ou com desenhos, algum fato ou algum momento importante que você viveu junto com sua família.

minha família

quando nascemos é com nossa família que aprendemos sobre nós mesmos, os outros, o lugar em que vivemos, os comportamentos aceitos em nossa comunidade, nossa alimentação, e tudo o mais.

As pessoas mais velhas de nossa família, porque viveram mais têm muitas coisas a nos ensinar.

Desenhe as pessoas com quem você mora, quer dizer, a sua família.

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vídeo “A Fertilidade da terra”

O filme “A Fertilidade da Terra” (2009) é parte constituinte do material de apoio fornecido a cada educador e edu-cadora e pode ser utilizado como recurso no contexto escolar para abordar dife-rentes temas relacionados ao patrimônio cultural. O vídeo tem duração de cerca de trinta minutos, foi dirigido por Laiza Lemos e Mariana Sampaio (2009). Toda a filmagem foi realizada nos municípios atendidos e nela as histórias da comuni-dade ganham voz. A equipe acredita que é muito importante que os educadores utilizem o filme em sala, explorando as narrativas da comunidade, relacionando o patrimônio na teoria e na prática.

Neste item apresentaremos suges-tões de atividades a serem realizadas em contexto escolar, e para tanto a fonte de inspiração foram os cerca de 200 edu-cadores que participaram conosco da Formação em Educação Patrimonial durante 2013 e 2014.

É importante que as futuras ge-rações conheçam bem o sudeste do Pará através da saga vivida por ge-rações anteriores a nós que ocupa-ram este mesmo território, rico em histórias grandiosas em um cenário de ocupação bastante recuado no tempo, muito embora a formação dos municípios seja mais recente.

Atividade 1: Os ofícios do lugar

Objetivo: estimular o debate sobre os ofícios existentes no município, ava-liando as mudanças e as permanências ocorridas ao longo do tempo, como o garimpo (rememore com o capítulo 2, para o contexto de formação).

Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa.

Trecho do filme: 3’00“ a 7’30”

Ao longo dos milênios muitos fo-ram os ofícios desenvolvidos pelo ser humano, a importância de cada um foi diferente em cada época. Alguns eram populares no passado paleoíndio da humanidade e hoje existem em pontos isolados, como o ‘ofício’ de lascar pe-dras, que ainda existe, mas está restrito a poucas fontes de exploração mineral que exigem o lascamento manual da ro-cha. A olaria é também uma produção que existe há muitos milênios e hoje é utilizada em larga escala em nossa sociedade, em especial seus derivados como a porcelana. Muitos vaqueiros hoje no sudeste do Pará conduzem o gado com moto, o que é uma mudança possível em decorrência de múltiplos fatores: as estradas melhoraram, o po-der aquisitivo aumentou, o preço da moto reduziu e as formas de pagamen-

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to foram expandidas, dentre outros. É o mesmo ofício, mas houve mudan-ças ao longo do tempo. Resgate da memória o passado, como fizeram os educadores de Ourilândia do Norte, nos trechos transcritos abaixo e reflita sobre as profissões do passado.

Ourilândia surgiu em um processo de colonização semelhante ao processo colonial, com a vinda de gente de mui-tas regiões. Os mesmos eram impedidos de atravessar para a cidade de Tucumã com uma corrente. Professora Diana Silva Borges. Diretora da C. M. E. I. José Cassiano, Ourilândia do Norte.

O Sr. Mário Cândido, para co-nhecer suas terras na década de 1970, veio a cavalo, abrindo estra-da com facão e foice. O mesmo le-vou dez dias para chegar na região. Autoria: Eliane Alves Silva Moura, professora da E. M. E. F. Pedro Do-mingos Cabral.

Um dos lugares de diversão era o cinema, Cine Kelly, promovido pelo Se-nhor José Cândido. Autoria: Janacy Bri-to de Santana, professora da C. M. E. I. José Cassiano, Ourilândia do Norte.

“As primeiras formas de transporte ocorreram com o uso de égua e as car-roças só foram compradas quando saiu o empréstimo para os colonos. Exis-

tiam na região sumidores que engoliam animais inteiros”. Autoria: Coletivo da Oficina de Ourilândia do Norte.

“Quando as estradas eram ruins, mais do que hoje, a população econo-mizava nos produtos alimentícios e fazia fila para comprar determinados alimentos nos mercados. Os pais dei-xavam suas filhas na porta do mercado para conseguir fazer as compras”. Pro-fessor Welter de Jesus Silva, professor da E. M. E. I. F. José Cândido dos San-tos, Ourilândia do Norte.

Com o auxílio do filme (trecho sele-cionado) discuta com os estudantes so-bre os ofícios conhecidos na localidade.

Avaliem em conjunto as mudan-ças ocorridas no município, especial-mente as mais recentes, para que eles possam se lembrar também. Faça-os refletir sobre o tempo passado, como seria o município, as construções, as necessidades do povo. Um bom foco é a Feira Municipal, que passou por muitas mudanças ao longo do tempo, com venda de cavalo em seu início e hoje com a venda de produtos artesa-nais e industrializados. Neste ponto, o educador pode compartilhar histó-rias conhecidas, mostrar fotos anti-gas ou convidar algum dos pioneiros da cidade para contar sobre o início do município.

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Divida os estudantes em grupos e peça que escolham algum ofício (ga-rimpo, castanheiro, vaqueiro, benzedei-ra, parteira, professora, quebradeira de coco, costureira) para a pesquisa. Incen-tive-os a entender a profissão escolhida, conhecendo seus instrumentos, sua for-ma de trabalho, a importância do ofício, se é mais comum entre algum gênero e entender as causas.

Peça para que cada grupo desenvol-va um cartaz, com imagens e texto, para apresentar os resultados do trabalho re-alizado aos demais colegas de sala.

Atividade 2: O valor da história de cada um

Objetivo: estimular o debate sobre a história familiar de cada um e os terri-tórios envolvidos, tornando divertida a compreensão sobre a geografia e histó-ria dos grupos locais, em sua diversida-de cultural (rememore com o capítulo 3).

Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa.

Trecho do filme: 7’33” a 11’36”

1) Introduza o tema mostrando a diversidade cultural no sudeste do Pará através do trecho selecionado do vídeo. O educador pode contar sua própria história de vida para seus estudantes. Destaque alguns bens materiais, com-partilhando com os estudantes sobre os objetos de memórias, carregados de valores e significados. Abaixo, algumas narrativas feitas pelas educadoras e edu-cadores do Colégio Pitágoras de Ou-rilândia do Norte, fonte da inspiração desta atividade.

“Tenho um urso de pelúcia que me acompanha desde meus três anos de idade: me remete a minha infância e a bons momentos dela. Tenho um qua-dro que simboliza a fé de minha famí-lia e pretendo que ele seja passado para meus netos, bisnetos (...)”. Professora Daniela Paula Balbino de Moraes, Co-légio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

“Meus livros. Porque eles me ajudaram e ajudam a ser uma pessoa mais capaz de viver no mundo e em sociedade e família”. Profes-sora Saadne Macêdo Alencar de Faria, Colé-gio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

Não se esqueça de destacar os luga-res de interesse, apresentando a paisa-gem e os lugares que marcaram a vida, bem como as maneiras de registrar a memória, como a fotografia.

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“Minha casa. Porque demorou dois anos pra ser construída e passei muita dificuldade para vê-la totalmente aca-bada”. Professora Jorckdean Rodrigues Vieira, Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

“Fazenda, pois a mesma representa uma continuidade física ou emocional da união do grupo familiar pois são expres-sos nossos sonhos, estilos, modos e cul-turas“. Professora Ana Fábia Brito, Co-légio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

“Álbum de fotografias, registro do passado das pessoas da família”. Professora Bartira Freitas Borges, Colé-gio Pitágoras e da rede pública de ensi-no de Ourilândia do Norte.

2) Em conjunto com os estudantes, faça um cartaz que localize cada um no mapa do Brasil com os limites políticos dos estados, de acordo com o local de nascimento. Para o registro é possível utilizar uma foto ou um desenho com nome. Abaixo, cartaz apresentado du-rante o 2º Módulo de Formação em Educação Patrimonial realizado no Co-légio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

3) Solicite aos estudantes que bus-quem informações sobre as histórias de suas famílias através de entrevistas com os parentes mais velhos. Peça a eles, se possível, que lancem mão de diferentes formas de registro audio-visual existentes em telefones celulares: câmeras fotográficas, gravador de áudio e filmadora. É possível criar roteiros das perguntas, focalizando temas específicos.

4) Peça aos estudantes que apresen-tem os resultados da pesquisa realizada através de um texto escrito, ou mesmo de forma mais criativa, utilizando os re-cursos tecnológicos.

mapa apresentado durante o 2º módulo de Formação de educadores em educação Patri-

monial, no dia 24 de junho de 2014.

Cartaz feito de cartolina, com desenho do mapa Político do Brasil e as fotos dos

estudantes. Foi produzido durante o Proje-to Arqueologia realizado na instituição no

primeiro semestre de 2014.

Fonte de inspiração para esta atividade.

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5) Valorize cada narrativa através dos diferentes temas que irão florescer, os processos migratórios, patrimônios culturais, expressões artísticas e folcló-ricas, dentre outros.

6) Avalie em conjunto a diversidade regional, lugar de muitos “brasis”, mos-trando que todos contribuíram para a formação do sudeste do Pará.

Atividade 3: Arqueologia, a história das pessoas através das coisas

Objetivo: inserir o alunato na dis-cussão sobre a arqueologia local (reme-more o capítulo 4) tendo como ponto de vista a perspectiva indígena (reme-more também o capítulo 1).

Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa.

Trecho do filme: 12’19” a 18’18”

A arqueologia se relaciona ao enten-dimento do passado à diversidade so-cioeconômica e cultural, a história das pessoas, da humanidade (rememore o capítulo 4, em especial “Alguns concei-tos arqueológicos”).

Converse com os estudantes sobre as pesquisas arqueológicas na região, que

começaram ainda na década de 1960 (rememore o capítulo 4, especialmente o “Contexto arqueológico regional e lo-cal”) e recentemente novos dados apre-sentados pelo presente estudo modifi-caram o panorama explicativo anterior. A arqueologia local indica um contexto diversificado de ocupação indígena anti-go (capítulo 4), o mesmo ocorre quan-do observamos os dados etno-históricos (capítulo 1). Mostre aos estudantes a an-tiguidade dos achados, valorize os obje-tos descobertos e ajude-os a entender a importância destes achados.

Assista com eles o trecho seleciona-do do vídeo, quando houve uma inte-ressante descoberta, uma estrutura de enterramento; muito embora nenhum osso tenha sido encontrado dentro dela, sua disposição indica esta função. A área do sítio é na Estrada do Jeep, muito conhecida na região. As imagens mostram algumas etapas do trabalho em arqueologia e devem ser exploradas ao máximo. Seria ideal tratar o tema em equipe, incluindo diversas disciplinas.

Em colaboração com outros educa-dores e o auxílio da pedagogia de pro-jetos, organize formas de distribuir o tema do patrimônio arqueológico entre os componentes curriculares.

Os educadores de Português podem apresentar textos de época e pedir para

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transcreverem em português corren-te, ao mesmo tempo interpretar a vida daquela época. Podem ainda mostrar a grande influência indígena em nossa vida com o uso cotidiano de palavras Tupi, como maracujá, abacaxi, pipoca, jabuticaba, piranha, Pará, Marajó (reme-more a letra da música do Palavra Can-tada no item anterior).

Os educadores de Artes podem so-licitar aos estudantes que produzam ob-jetos cerâmicos indígenas (se realizado com antecedência poderiam ser utili-zados, em combinação com os alunos, para a produção da caixa arqueológica (descrita no item 10 desta atividade), objetos esportivos (como a peteca) ou adornos (com miçangas e sementes).

Os educadores de História podem apresentar aos estudantes a complexi-dade da ocupação humana do Sudeste, através da perspectiva indígena.

Os educadores de Geografia podem tratar as Eras Geológicas e a mudança ambiental ao longo do tempo, bem como a estratigrafia do solo arqueológico.

Os educadores de Ciências podem tratar os alimentos consumidos no período preté-rito, bem como a flora e a fauna existente.

Os educadores de Química e Física podem tratar os processos de datação, bem como as mudanças físico-químicas

no solo, depois da ocupação humana.

Os educadores de Matemática pode calcular a área de ocupação do sítio ar-queológico, bem como o tamanho dos objetos inteiros, através de seus frag-mentos (geometria).

Depois de apresentado o tema, em cada uma das disciplinas, monte em conjunto caixas (pode ser de madeira) de aproximadamente 1,50 x 50 m e al-tura de no mínimo 20 cm e no máxi-mo 40 cm. Crie camadas com materiais diversos, como fragmentos cerâmicos adquiridos através de artesanato local, sementes carbonizadas (para simular a alimentação e uma amostra para C14), pedras para simular machados, mar-telos, batedores, dentre outros, para representar a ocupação indígena. Crie uma camada com objetos que reme-tam ao período colonial, com louça/porcelana, vidro (dependendo da idade e sempre enterrado com a porção cor-tante para o fundo da caixa), prego com ferrugem. Na camada mais superficial coloque objetos atuais, como garrafa pet, papel de bala, dentre outros, para representar a nossa ocupação contem-porânea. Os objetos devem estar que-brados ou envelhecidos, para simular a ação do tempo; alterne fragmentos de materiais e areia. Caso seja possível, uti-lize areia de cor e espessura diferentes para algumas camadas.

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Realize, como culminância, a escava-ção da caixa arqueológica, previamente montada, e apresente na prática o tra-balho em arqueologia. Como visto no trecho selecionado do filme, a escava-ção deve ser feita com cuidado, tudo deve ser coletado com cuidado, com auxílio de pá de pedreiro, pincéis e pa-zinhas para a coleta do solo. Cada ob-jeto identificado deve ser deixado no solo, exposto, para ser fotografado em conjunto. Cada fragmento retirado deve ser guardado com uma etiqueta, com os seguintes dados: nome do sítio arque-ológico, quadra (divida a área da caixa em um eixo cartesiano e nomeie cada espaço de forma alfanumérica, este será o nome da quadra), profundidade (em

centímetro, de acordo com a camada es-cavada), o tipo de material identificado e seu tamanho menor e maior, em centí-metros, além da data e nome do respon-sável pela escavação.

Cada educador irá se envolver de acor-do com o tema tratado, a fim de colabo-rar com a formação global do estudante. Cada turma deve observar os objetos co-letados, como um todo, para interpretar os achados, como um detetive do passa-do, qual a importância, significado para cada uma das populações identificadas.

Ao final, os estudantes podem apre-sentar trabalhos escritos, sobre diferen-tes componentes curriculares.

sítio Arqueológico na escola

nome do sítio arqueológico: ...............................................................................................

quadra: .................................................................................................................................

Profundidade: ......................................................................................................................

tipo de material: ..................................................................................................................

tamanho:...............................................................................................................................

Data: ___/___/______

responsável: ........................................................................................................................

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Atividade 4: Oficinas em educação Patrimonial

Objetivo: inserir os estudantes nas discussões sobre patrimônio local sejam culturais materiais, culturais imateriais ou naturais.

Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa.

Trecho do filme: 18’19” a 24’08”

Assista o trecho selecionado com os estudantes e peça para que observem especialmente os objetos utilizados para expressar o patrimônio cultural.

Depois do filme, debata com eles sobre o patrimônio local, de forma am-pla, entendendo o que tem valor para eles, dentro da comunidade ou do bair-ro da escola. Observe o que disseram os educadores de Tucumã e busque inspi-ração sobre a sua cidade.

“O nosso município (Tucumã) é ro-deado por grandes e lindas serras que são marcantes para mim. Um dos nos-sos patrimônios culturais é a Capela São José Operário e o patrimônio cultural imaterial é a Sra. Edite Woobeto”. Eli-sandra Maria, Secretaria de Educação e Cultura de Tucumã.

“O rio Fresco. A capela São José Operário. Os relatos dos pioneiros so-bre o critério de seleção das famílias para entrar no Projeto Tucumã”. Pro-fessor Paulo José Correa, E. M. E. I. F. Pró Mulher, Tucumã.

“Patrimônio natural: a geografia lo-cal, como tipo de solo, vegetação, ro-chas existentes no nosso município. Pa-trimônio cultural material: são as casas antigas, como, por exemplo, a antiga igrejinha São José Operário. Como pa-trimônio cultural imaterial podemos ci-tar a cultura de nosso povo como festas e tradições. Professora Neusa Maria de Oliveira Rotkoski, E. M. E. I. F. Samuel Nava, Tucumã.

“Rio Tapajós: está aqui desde que começou a cidade e hoje não está pre-servado. As igrejas: elas contam a nossa história. As diversidades de comidas, es-pecialmente gaúchas e maranhenses da região”. Professora Núbia Aires Cutrim dos Santos, U. E. E. I. Creche Deuza Rocha, Tucumã.

Instrua-os para uma pesquisa sobre os patrimônios elencados por eles, atra-vés de livros, entrevistas e visita ao local (se possível).

Peça aos estudantes que apresentem em um cartaz os resultados da pesquisa realizada. É possível focalizar em temas

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específicos, construções, festas, artesa-nato, dentre outros, e explorar a fundo cada um dos patrimônios locais.

Produção local: os planos de aula feitos pelos educadores do Sudeste do Pará

Durante os trabalhos de educação patrimonial, os educadores foram en-volvidos em uma formação que tem entre os objetivos a construção de pla-nos de aula para que os educadores efe-tivamente utilizem o tema em suas salas de aula. A produção dos educadores foi primorosa, e será transcrita aqui.

Atividade 1: “O patrimônio cultural”

Autores: Claudia Pacheco Sou-za, Elaine Caetano de Aquino, Eliane Bernardo de Oliveira Machado, Gilma D’arc da Paz Lopes, Maria Sandra Fer-nandes de Castro Bacelar, Marinês Co-lombelli Hornichk.

Instituição de ensino: Colégio Pitá-goras de Ourilândia do Norte.

ANO: maternal.

COMPONENTE CURRICULAR: transversal.

RECURSOS A SEREM UTILI-ZADOS: projetor multimídia, imagens, pesquisas de campo e científica, carta-zes, computador, aulas práticas.

OBJETIVO GERAL: conhecer e identificar o patrimônio cultural da região. Preservar o patrimônio cultural da região.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: me-diar o processo de ensino-aprendiza-gem e construção de conhecimento referente ao conteúdo do patrimônio cultural da região.

METODOLOGIA: apresentação em projetor multimídia de vídeos dos patrimônios culturais da região. Pes-quisas. Registros fotográficos, orais e escritos. Pesquisas de campo. Passeios. Exposições de trabalhos. Sarau. Mostra de artes.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será no decorrer do processo por meio de observações e registro fo-tográfico e escrito.

Atividade 2: “O Investigação dos povos maia”

Autores: Carolina Aranha, Eduardo Costa, Eloísa Camargo, Fany Figueire-do, Francisco Everton Pereira, Michela Braga.

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Instituição de ensino: Colégio Pitá-goras de Ourilândia do Norte.

ANO: 1º série do Ensino Médio.

COMPONENTE CURRICULAR: Biologia, Química/Geografia/Histó-ria/Espanhol/Literatura e Língua Por-tuguesa.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: objetos Maias, recursos audiovi-suais, literatura específica.

OBJETIVO GERAL: conhecer, analisar e exercitar características do pa-trimônio cultural Maia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ana-lisar e conhecer os mitos Maias. Com-parar com os indígenas brasileiros. Analisar propriedades químicas dos materiais. Conhecer e discutir a hipó-tese causal hidráulica como forma de dispersão do povo Maia. Localizar o espaço geográfico e o espaço de con-vivência bem como o relevo e aspectos morfológicos da região. Estudar e iden-tificar as espécies animais e o ambiente natural que compunha os hábitos cultu-rais Maias

METODOLOGIA: levantamento Bibliográfico. Interpretação e análise de documentos. Relatório dos vídeos assis-tidos em sala de aula. Análise das peças dos povos Maia. Análise dos compo-

nentes hídricos dos cenotes. Estudo dos fenômenos naturais e biológicos vincu-lados ao calendário Maia abrangendo os rituais de sacrifício humano em oferta aos deuses. Construção de maquetes re-lativas às divisões das tribos Maias.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: es-tande, estátuas vivas, teatro sobre os ri-tuais Maias, réplicas de utensílios Maias, gincana de perguntas sobre o tema, mostra de dança e músicas maias.

Atividade 3: “memorial de Ourilândia do norte-PA”

Autores: Cláudia Magela, Érika Ra-malho, Erasmo Costa, Fabiana Jardim, Márcia Coelho, Márcia Verônica, Saad-ne Alencar.

Instituição de ensino: Colégio Pitá-goras de Ourilândia do Norte

ANO: 5º ano do Ensino Fundamental.

COMPONENTE CURRICULAR: História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática, Artes e Ciências.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: arquivos fotográficos. Relatos orais (entrevistas). Filmagens. Pesquisa bibliográfica.

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OBJETIVO GERAL: resgatar a his-tória de Ourilândia do Norte.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: co-nhecer o surgimento de Ourilândia do Norte. Analisar os dados coletados. So-cializar as informações coletadas. Cons-truir o memorial com as informações coletadas.

METODOLOGIA: levantamento bibliográfico em revistas da região. En-trevistas orais com pessoas pioneiras da comunidade. Levantamento de dados de arquivos pessoais (fotos, vídeos, ob-jetos, utensílios etc.). Filmagens dos re-latos orais e entrevistas. Confecção dos painéis de álbum seriado com imagens, legendas e textos informativos.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: ex-posição do material, por meio de pai-néis, vídeos, estandes e álbum seriado.

Atividade 4: “Patrimônio Cultural local”

Autores: Jorckdean Rodrigues Viei-ra, Louise G. de O. Rodrigues, Mitchiara Vasques Simiscula, Sônia Maria de Paula.

Instituição de ensino: Colégio Pitágoras.

ANO: maternal.

COMPONENTE CURRICULAR: multidisciplinar.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: vídeos, músicas, teatro, contos, passeios, rodas de conversa, artesanato (produção), argila.

OBJETIVO GERAL: proporcionar aos alunos conhecimento do patrimô-nio cultural, para que por meio desse possam valorizar o patrimônio cultural de Ourilândia do Norte.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: de-senvolver na criança a curiosidade e o respeito pelo patrimônio cultural local. Coordenação motora/expressão cor-poral. Gosto pela leitura. Desenvolver a escrita. Conhecer novos locais.

METODOLOGIA: através da lu-dicidade, proporcionar atividades pra-zerosas que tenham significado para a criança, aproveitando seus conhecimen-tos prévios e ampliando seu cognitivo. Serão propostos passeios, entrevistas e pesquisas. Vídeos, teatros e contos que narrem o tema em questão.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será realizada durante todo o projeto, num processo contínuo. Ava-liando o desenvolvimento, interesse e participação da criança nas atividades propostas.

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Atividade 5: “Arte indígena”

Autores: Alex Liandro, Ana Fábia Brito, Bartira Freitas Borges, Fernando Rezende Faria, Gabriella Nascimento Damasceno, Lauana de Vasconcelos Moreira, Vicente D. Leonel.

Instituição de ensino: Colégio Pitá-goras.

ANO: 1ª série do Ensino Médio.

PERÍODO: 3 aulas (50 minutos).

COMPONENTE CURRICULAR: História da Arte e Língua Portuguesa.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: humanas (docentes, discentes, comunidade indígena). Materiais (livros, tintas, carvão, tala, óleo, urucum). Físi-co (ônibus).

OBJETIVO GERAL: compreender as diversidades culturais e sociais ana-lisando as manifestações artísticas indí-genas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: pes-quisar, conhecer. Aproximação entre os povos indígenas e não indígenas para conhecer os papéis e funções da cultura.

METODOLOGIA: visitar o local da pesquisa, criação dos alunos com o

tema, pesquisa, elaboração através de seminário e exposição de uma produ-ção artística.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: conhecimento, fazer artístico e a apre-ciação (julgar e interpretar). Avaliação. Apresentação oral, teatral (expressão).

Atividade 6: “As Aldeias Indígenas”

Autores: Ana Gina Barberato, Ana Paula Batista, Eliane Farias de Souza, Guilliano E. J. S. B. C. Marechão, Jaque-line Mendes Gonçalves, Luciane C. do Carmo Alves Marechão, Marcus Viní-cius Porto Alves, Maria Regina Batista.

Instituição de ensino: Colégio Pitá-goras.

TEMA: Aldeias.

ANO: Ensino Médio.

PERÍODO: Primeiro semestre.

COMPONENTE CURRICULAR: variação linguística, levantamento de dados, diversidade cultural, atividades físicas tradicionais indígenas, produção textual.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: pesquisas, entrevistas, registros,

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observação, relatórios, coleta de dados, imagens, gravadores, máquinas fotográ-ficas.

OBJETIVO GERAL: reconhecer a importância da diversidade cultural in-dígena bem como a influência nos nos-sos hábitos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ob-servar a variante linguística falada pelos índios. Mensurar delimitando as áreas dos sítios e quantificando o número de objetos encontrados. Comparar a orga-nização social indígena com as socieda-des circunvizinhas. Conhecer através de vivências as atividades físicas desenvol-vidas pelos povos indígenas.

METODOLOGIA: realizando vi-sitas à comunidade indígena. Antes da visita, realizar uma preparação com os alunos com palestras, conversas infor-mais, elaboração de questionários, ví-deos com temas previamente estabele-cidos, textos informativos, sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos acerca do cálculo de área e perímetros.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: através de uma mostra cultural organi-zada pelos alunos para apresentar à co-munidade escolar os resultados, obser-vados analisados e quantificados.

Atividade 7: “Patrimônio Cultural de tucumã (material e imaterial)”

Autores: Alessandra Gonçalves da Silva, Andra Lucinda da Costa, Liane Alzira Selbach, Plínio Miguel Müller, Serlane Vieira, Silvania Carvalho Go-mes.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Elcione Barbalho.

PERÍODO: durante todo o ano le-tivo.

COMPONENTE CURRICULAR: História, Estudos amazônicos, Artes, Língua Portuguesa, Ciências, Geografia, Matemática.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: livros, Internet, filmadora, má-quina fotográfica, computador, papel sulfite, cola, tesoura, argila.

OBJETIVO GERAL: conhecer e valorizar o patrimônio cultural material e imaterial do município de Tucumã.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar o que é patrimônio cultural material e imaterial e diferenciá-los. Re-conhecer o patrimônio material e ima-terial como parte da história do municí-pio e dos cidadãos.

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METODOLOGIA: pesquisas, en-trevistas, vídeos, fotos, slides, painel, produção de texto, produção de artefa-tos com argila.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: por meio de todas as atividades desenvolvi-das em sala de aula e fora dela.

Atividade 8: “As Brincadeiras Antigas”

Autores: Ana Cleudes Moreira da Sil-va, Antônia Alencar de Freitas, Cleonice M. da Silva Ramos, Elisangela da Silva Cornélio, Elisângela Pereira Pinheiro, Elzanira Coelho de Albuquerque.

Instituição de ensino: U. E. E. I. Creche Machado de Assis.

ANO: 1º e 2º períodos

COMPONENTE CURRICULAR: Movimentos, artes visuais, natureza e sociedade e linguagem oral.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: filmes e músicas.

OBJETIVO GERAL: resgatar his-tórias de uma sociedade através de uma maneira lúdica para as crianças.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: res-gatar brincadeiras antigas. Fazer com-

paração entre elas. Envolver em brin-cadeiras antigas e mostrar as diferenças das atuais.

METODOLOGIA: brincadeiras de roda - cair no poço, passar o anel, esconde-esconde, pular elástico e jogar pedrinha.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: continuada.

Atividade 9: “Construindo minha linha do tempo”

Autores: Delma Pereira Vaz, Jozilda Pereira da Costa e Núbia Aires Cutrim dos Santos.

Instituição de ensino: U. E. E. I. Creche Deuza Rocha.

TEMA: Construindo minha linha do tempo.

ANO: 1º e 2º períodos.

COMPONENTE CURRICULAR: Natureza e sociedade, Artes, Lingua-gem oral e escrita.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: fotos, cartazes, papel ofício, lápis de cor, caneta hidrocor, quadro branco, música Criança Feliz. Elaboração de um livro representado por desenhos.

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OBJETIVO GERAL: observar fo-tos e entrevistar pais e avós sobre relatos da construção da sua linha do tempo.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: va-lorizar a história de vida, observar a evolução na história de vida. Desenhar em um livro sua biografia. Elaborar em classe uma linha do tempo de um aluno para exemplificar.

METODOLOGIA: conversação com os alunos, entrevista com os pais de aluno, recolher as fotos dos alunos, construção de um livro por meio de de-senhos, execução de uma linha do tem-po com as fotos. Contar músicas rela-cionadas ao tema. Ouvir histórias dos pais de alunos. Exposição de fotos em painéis.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: ob-servação do desempenho dos alunos no decorrer do projeto. Livro construído pelos alunos. Envolvimento individual dos alunos e pais. Conversação infor-mal avaliando através da oralidade suas construções.

Atividade 10: “O Surgimento de tucumã”

Autores: Carmem Maria Saviczki, Ivone de Oliveira, Lucilene Borges An-drade, Maria das Dores, Olga Abreu Barbosa.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Anexo Alfredo Balko.

ANO: Fundamental I e II.

COMPONENTE CURRICULAR: História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Religião.

RECURSOS A SEREM UTILI-ZADOS: fotos antigas, filmes, música de Tucumã, mapas, recursos humanos (moradores e fundadores), visita à Pri-meira Igreja Católica São José Operário, visita ao antigo rio Tapajós (popular Se-bozinho).

OBJETIVO GERAL: resgatar as origens, vivenciar um pouco do passado.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: co-nhecer um pouco do surgimento do município ao qual está inserido. Viven-ciar locais e objetos que fizeram parte desta história municipal. Ampliar os conhecimentos locais de forma inter-disciplinar.

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METODOLOGIA: aula dialogada, aula expositiva, manuseio de objetos concretos tais como: fotos, construções etc. Visitas aos pontos históricos, tais como: igrejas (católicas e adventistas, que são as iniciantes), praça e rio Tapa-jós. Atividade escrita e cantada (letra e melodia da música de Tucumã). Pales-tra com a autora da música de Tucumã, Professora Francisca. Assistir ao filme em classe e refletir.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: participação oral e escrita tais como: atenção, manuseio dos materiais, visi-tas efetuadas, música, palestra, relató-rio do filme.

Atividade 11: “A História de tucumã”

Integrantes: Alzira de Santana Ama-ral, Dulcina Ehlicker, Jorcelina Teles de Oliveira.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Santo Antônio.

ANO: 1º ano do Ensino Funda-mental

COMPONENTE CURRICULAR: todas as disciplinas.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: painel, vídeo, textos ilustrativos sobre a história de Tucumã.

OBJETIVO GERAL: despertar nas crianças a curiosidade pela história de Tucumã.

OBJETIVO ESPECÍFICO: pesqui-sar em livros e DVDs a história do mu-nicípio de Tucumã. Mostrar como era o município antes e novo. Criar atividades relacionadas ao tema.

METODOLOGIA: diálogo entre professor e aluno. Assistir ao vídeo so-bre a história de Tucumã. Pintura, con-fecção de painel.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: re-contar a história que ele ouviu e assistiu no vídeo e por meio de desenhos cria-dos por ele, o estudante. Através do in-teresse e da participação de cada um na atividade proposta.

Atividade 12: “Patrimônio Cultural”

Integrantes: Jaci Ferreira, Luzélia Araújo de Melo, Maria de Nazaré Go-mes da Silva, Rosimere Rocha.

Instituição de ensino: U. E. E. I. Chapeuzinho Vermelho.

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PERÍODO: Maternal.

COMPONENTE CURRICULAR: Natureza e sociedade, linguagem oral e escrita, matemática, música e movimento.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: vídeos, histórias, teatros, conver-sa informal, cartazes, dinâmicas, pintu-ras, atividades xerocopiadas, reciclagem e oficinas.

OBJETIVO GERAL: preservar e estudar nosso patrimônio cultural en-volvendo essa divulgação sobre o pas-sado da região.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar nosso patrimônio cultural local, conhecer os costumes dos povos antigos, reconhecer o valor do patrimô-nio cultural local.

METODOLOGIA: essas atividades serão aplicadas através de conversa in-formal, palestras com os alunos, vídeos, pinturas, atividades xerocopiadas, livros didáticos, cartazes, oficinas e recicla-gem.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: por meio do processo contínuo, desen-volvimento de cada criança e em grupo.

Atividade 13: “A valorização do Patrimônio Cultural”

Autores: Beniuza Maria R. Viela, Delvanira Pereira Dias, Eliane Soares Pereira, Fabricia Cardozo de Oliveira, Gezeir Farias, Luzia Conceição Andra-de, Luzinete Mendes Teles, Margarete Ferreira Santos, Sirlei Ferreira, Vilma Soares Macedo.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Samuel Nava, E. M. E. I. F. Donato de Andrade, Secretaria Municipal de Edu-cação e Cultura.

ANO: 9º ano do Ensino Fundamen-tal.

COMPONENTE CURRICULAR: História

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: câmera, computador portátil, pen drive, projetor multimídia, materiais pe-dagógicos, professor, aluno e comuni-dade.

OBJETIVO GERAL: valorizar a cultura patrimonial do município reco-nhecendo sua importância para as gera-ções futuras.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio cultural

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do município. Despertar o interesse do aluno sobre o tema abordado.

METODOLOGIA: pesquisas, en-trevistas, visitas, exibição de documen-tários, produções de textos, exposições de slides, leitura, seminários.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: ex-posição de seminários, teatros, poemas, jogral, documentários, painéis, músicas.

Atividade 14: “História de tucumã”

Autores: Ana Cristina Garcia Gon-çalves, Lucimar de Andrade Menezes, Paulo Faustino, Wezilaine Cabral de Souza.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Donato de Andrade.

TEMA: História de Tucumã.

ANO: 5º ano do Ensino Fundamen-tal.

COMPONENTE CURRICULAR: História

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: fotografias, jornais e revistas, In-ternet, projetor multimídia.

OBJETIVO GERAL: resgatar a história do município no seu período de implantação.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: re-conhecer a origem do nome do muni-cípio. Identificar alguns pioneiros do município, resgatar a história do patri-mônio material.

METODOLOGIA: pesquisa de campo, entrevistas com pioneiros, mu-rais de fotos, palestras, atividades intra e extraclasse, dramatização, debates.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será de forma contínua no de-correr do projeto, por meio de expres-são verbal e escrita.

Atividade 15: “Cultura Indígena Kayapó”

Autores: Dorivan Alves de Sousa, Edilene Lima Alves, Junio Oliveira de Paula, Lindinalva Aparecida Parodo, Maria Marlene Araújo.

Instituição de ensino: U. E. E. I. Cantinho da Paz, E. M. E. F. Educandá-rio Maria Gontijo.

TEMA: Cultura indígena Kayapó

ANO: Educação Infantil e ensino Fundamental do 1º ao 5º ano

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PERÍODO: um semestre

COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa, Matemática, Histó-ria, Geografia, Artes, Educação Religio-sa, Ciências etc.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: argila, areia, folhas, urucum, jeni-papo, penas, papelão, tinta guache, saco de estopa, DVD, massa de modelar etc.

OBJETIVO GERAL: conhecer a cultura indígena local.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: re-conhecer a importância da cultura indí-gena local a partir do costume de sua comunidade. Identificar os costumes adquiridos através do convívio dos po-vos com os indígenas.

METODOLOGIA: educação In-fantil: por meio de histórias, músicas, brincadeiras, pinturas, recortes e co-lagem, atividades com argila, vídeos e confecção de acessórios indígenas. Ensino fundamental: histórias, vídeos, palestra, pesquisas, produção de texto, confecção do trabalho indígena, ativida-des com argila, teatro com fantoches e apresentação de danças indígenas.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será contínua de acordo com as atividades propostas no decorrer do semestre.

Atividade 16: “Cultura Indígena: Danças e Costumes”

Autores: Adelina Maria da Silva, Ali-ne Soares Lima, Diego Soares de Sou-sa, Eduardo Araújo Martins dos Anjos, Enésia Rosa Gomes, Geni Pereira da Paz, Maria Aparecida Tobias S. Rocha, Renivaldo Mendes Teles.

Instituição de ensino: U. E. E. I. Co-ração de Maria “A”, U. E. E. I. Arco Iris “A”, E. M. E. F. Maria Carolina de Jesus, E. M. E. F. São Cristóvão “D”, E. M. E. F. São Cristóvão “A”, E. M. E. F. Dom João VI “D” Nova República.

COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa, Matemática, Histó-ria, Geografia, Ciências, Artes, Educa-ção Religiosa.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: saco de nylon, tinta guache, penas, algumas frutas como jenipapo, urucum, casca da castanheira, arco e flecha, lan-ça, zarabatana e chocalho.

OBJETIVO GERAL: estimular de forma lúdica e divertida a criatividade dos alunos na percepção e na compre-ensão da cultura indígena.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar os indígenas das aldeias pró-ximas, divulgar alguns costumes pra-

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ticados pelas tribos pesquisadas. Pes-quisar algumas palavras utilizadas pela comunidade escolar.

METODOLOGIA: as atividades serão trabalhadas através de danças, en-trevistas, roda de discussão, leitura co-letiva, teatro, brincadeiras de roda, pes-quisas e dramatizações.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: será avaliado através da participação co-letiva e individual.

Atividade 17: “Os projetos de integração na Amazônia”

Autores: Ana Lúcia Morais Martins, Cassilene S. Moreira, Conceição Tavares Santos, Daiane Cristina Dias Linhares, Daniel José Corrêa, Edite Rodrigues Cantaliêde, Elvira Soares de Oliveira, Paulo José Correa, Rita de Cássia Pi-nheiro, Simone Neves Duarte, Solange Pinheiro da Silva, Vera Regina da Silva.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Pró Mulher e E. M. E. I. F. Donato de Andrade.

TEMA: Os projetos de integração na Amazônia

ANO: 7º e 8º ano do Ensino Fun-damental.

PERÍODO: 8 aulas.

COMPONENTE CURRICULAR: Migrações

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: projetor multimídia, TV e DVD para exposição de documentários sobre o período, entrevistas com pioneiros da região, papel sulfite e papel madeira; jornais e revistas, tesoura e cola.

OBJETIVO GERAL: compreender o momento histórico do Brasil (Dita-dura Militar) o que propicia a elabora-ção e o desenvolvimento de projetos de exploração mineral e colonização da Amazônia durante as décadas de 1970 e 1980.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: res-gatar a história da ocupação da região amazônica no auge da Ditadura Militar, compreender as distorções socioeconô-micas como resultado de uma política pública ineficiente. Distinguir os fluxos migratórios que resultaram no sincretis-mo cultural da região

METODOLOGIA: aula expositiva e dialogada, aula audiovisual, dinâmica de grupo, confecção de cartazes, elabo-ração de relatório.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: apresentação dos trabalhos confeccio-nados pelos educandos em sala de aula.

168

Observação individual e em grupo du-rante todas as etapas do trabalho, bem como o preenchimento de um formulá-rio com questões básicas sobre o tema.

Atividade 18: “Arqueologia em Ourilândia do norte”

Autores: Cristiane Araújo, Silene Lopes, Luzimar Veloso Frasão, Maria Gonçalves de Oliveira.

Instituição de ensino: E. M. E. F. Madre Carolina Friess, E. E. E. M. Dr. Romildo Veloso e Silva, E. M. E. F. Te-resa de Jesus, de Ourilândia do Norte.

ANO: Ensino Fundamental e Mé-dio

COMPONENTE CURRICULAR: História, Artes, Geografia.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: máquina fotográfica, filmadora, fotos antigas, objetos antigos.

OBJETIVO GERAL: resgatar o patrimônio histórico cultural de Ouri-lândia do Norte por meio dos objetos pesquisados pelos alunos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: conscientizar os alunos sobre a impor-tância da nossa cultura, incentivar os alunos a preservar a cultura, valorizar

o que temos e perceber as mudanças ocorridas com o tempo.

METODOLOGIA: diálogo em grupo, questionário, pesquisas feitas pe-los alunos, utilizar mapas da região, en-trevistas com os mais antigos.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: participação dos alunos, relatórios, ati-vidades desenvolvidas.

Atividade 20: “Ourilândia, nossa história”

Autores: Adelmar Soares Domien-se, Maria Gonçalves dos Santos, José de Sousa Leite.

Instituição de ensino: E. M. E. F. Madre Carolina Friess, Turumaré (Re-serva Indígena kaiapó), SEMED de Ourilândia do Norte.

ANO: Ensino Fundamental I e II

COMPONENTE CURRICULAR: Geografia, História.

RECURSOS A SEREM UTILIZA-DOS: questionários, máquinas fotográ-ficas, câmeras, microfones, fotos, caixas de som, celulares.

OBJETIVO GERAL: resgatar o processo histórico e cultural de Ouri-lândia.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS: de-senvolver o processo de cidadania. Criar um espaço cultural para mostrar o de-senvolvimento e crescimento da cidade.

METODOLOGIA: trabalhar a história da cidade. Realizar entrevistas com pioneiros da cidade. Palestras com pioneiros por sala. Criar um projeto da Casa da Cultura com os alunos. Realizar uma sessão com os vereadores mirins para realizar a votação do projeto. En-viar o projeto para a Câmara de verea-dores.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a culminância do projeto será na Câmara de Vereadores com a comunidade, apre-sentando os resultados do projeto. Será avaliado a participação e o interesse dos alunos.

Siglas utilizadas no livro

Amazônia Mineração S.A. (AMZA)

Banco da Amazônia S.A. (BASA)

Centrais Elétricas do Norte (ELETRONORTE)

Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – (CEPA/UFPR)

Companhia de Mineração Meridional (CMM)

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)

Conselho de Desenvolvimento Comunitário Independente (CODETUC)

Construtora Andrade Gutierrez (CONSAG),

Coordenadoria Especial do Araguaia-Tocantins (CEAT)

Departamento de Estradas e Rodagem (DER)

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)

Estrada de Ferro Carajás (EFC)

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Fundação Nacional do Índio (FUNAI)

Grupo Executivo de Terras Tocantins-Araguaia (GETAT)

Instituto de Terras do Estado do Pará (ITERPA)

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)

Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário (MIRAD)

Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

Plano de Valorização Econômica da Amazônia (PVEA)

Produtora de Minério Xingu S.A. (PROMIX)

Programa Grande Carajás (PGC)

Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA)

Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA)

Ramal Ferroviário do Sudeste do Pará (RFSP)

Secretaria Estadual de Agricultura (SAGRI)

Serviço de Proteção ao Índio (SPI)

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Amazônia (SUDAM)

Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)

United States Steel Corporation (USSCo)

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