Salmos orações do passado e do presente

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Salmos, orações do passado e do presente AULA 1/9 Introdução 1 Como seus vizinhos do Egito, da Mesopotâmia e de Canaã, Israel cultivou, desde as origens, a poesia lírica sob todas as formas. Alguns textos estão inseridos nos livros históricos, como: o Cântico de Moisés (Ex 15), o Cântico do Poço (Nm 21,17-18), o hino de vitória de Débora (Jz 5), a elegia de Davi sobre Saul e Jônatas (2Sm 1) etc., Até os poemas de Judas e de Simão Macabeu (lMc 3,3-9 e 14,4-15) E, mais tarde os cânticos do Novo Testamento: o Magnificat (Lc 1,46-55), o Benedictus (Lc 1,68-79), o Nunc Dimittis (Lc 2,29-32). Numerosas passagens dos livros proféticos pertencem aos mesmos gêneros literários. Existiam antigas coleções, das quais só restaram o nome e alguns vestígios: o livro das Guerras de Iahweh (Nm 21,14) e o livro do Justo (Js 10,13; 2Sm l, 18). Mas o tesouro da lírica religiosa de Israel nos foi conservado pelo Saltério ou seja, pelos 150 Salmos. Os nomes O Saltério (do grego Psaltérion, propriamente nome do instrumento de cordas que acompanhava os cânticos, os salmos) é a coleção dos cento e cinquenta salmos. Do Sl 10 ao Sl 148, a numeração da Bíblia hebraica (a que aqui seguimos) está uma unidade na frente da numeração da Bíblia grega e da Vulgata, que reúnem os Sl 9 e 10 e os Sl 114 e 115, mas dividem em dois os Sl 116 e o Sl 147. Em hebraico, o Saltério chama-se Tehillim, “Hinos”, mas o nome só se aplica adequadamente a um certo número de salmos. De fato, nos títulos que encabeçam a maioria dos salmos, o nome de hino é dado

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Estudo bem detalhado acerca do livro de salmos.

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Salmos, orações do passado e do presente

AULA 1/9

Introdução 1

Como seus vizinhos do Egito, da Mesopotâmia e de Canaã, Israel cultivou, desde as origens, a poesia lírica sob todas as formas. Alguns textos estão inseridos nos livros históricos, como:

o Cântico de Moisés (Ex 15), o Cântico do Poço (Nm 21,17-18), o hino de vitória de Débora (Jz 5), a elegia de Davi sobre Saul e Jônatas (2Sm 1) etc., Até os poemas de Judas e de Simão Macabeu (lMc 3,3-9 e 14,4-15)

E, mais tarde os cânticos do Novo Testamento:

o Magnificat (Lc 1,46-55), o Benedictus (Lc 1,68-79), o Nunc Dimittis (Lc 2,29-32).

Numerosas passagens dos livros proféticos pertencem aos mesmos gêneros literários. Existiam antigas coleções, das quais só restaram o nome e alguns vestígios: o livro das Guerras de Iahweh (Nm 21,14) e o livro do Justo (Js 10,13; 2Sm l, 18). Mas o tesouro da lírica religiosa de Israel nos foi conservado pelo Saltério ou seja, pelos 150 Salmos.

Os nomes

O Saltério (do grego Psaltérion, propriamente nome do instrumento de cordas que acompanhava os cânticos, os salmos) é a coleção dos cento e cinquenta salmos. Do Sl 10 ao Sl 148, a numeração da Bíblia hebraica (a que aqui seguimos) está uma unidade na frente da numeração da Bíblia grega e da Vulgata, que reúnem os Sl 9 e 10 e os Sl 114 e 115, mas dividem em dois os Sl 116 e o Sl 147.

Em hebraico, o Saltério chama-se Tehillim, “Hinos”, mas o nome só se aplica adequadamente a um certo número de salmos. De fato, nos títulos que encabeçam a maioria dos salmos, o nome de hino é dado apenas ao Sl 145. O título mais frequente é mizmor, que supõe um acompanhamento musical e que se traduz muito bem com nossa palavra “salmo”. Alguns destes “salmos” são chamados também “cânticos”, e o mesmo termo, usado sozinho, introduz cada peça da coleção “Cântico das Subidas”1 (Sl 120-134). Outras designações são mais raras e às vezes difíceis de interpretar.

(Continuaremos na próxima aula)

Salmo 121

1. Cântico das subidas.

1 No cabeçalho de cada poesia encontra-se a expressão shir hama´alot, que significa, literalmente, cânticos ou canção das subidas. A expressão “das subidas” está ligada a palavra ma´alot, que tem a raiz verbal na palavra ´lh (‘alah), que significa subir.

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Eu ergo os meus olhos para os montes;De onde virá meu socorro?2. Meu socorro (virá) com o Senhor,Aquele que fez o céu e a terra.3. Não dará tropeço teu pé;Não fugirá aquele que te guarda.4. Eis! Não fugiráe não dormirá aquele que guarda Israel.5. O Senhor é aquele que te guarda;O Senhor é tua sombra sobre a tua mão direita.6. Durante o dia, o sol, não te ferirá,e a lua na noite.7. O Senhor te guardará de todo mal;Ele guardará a tua vida.8. O Senhor guardará tua saídae tua entrada,desde sempre e até sempre.

Reflexões

Leia com calma o Salmo e veja que frase lhe chamou a atenção. Reflita um pouco e comece a escrever espontaneamente.

Você acredita que seu socorro vem do Senhor? Alguma vez você sentiu que a Sombra do Senhor te cobriu? Pense em algo que te aconteceu e

você sentiu totalmente protegido pelo Senhor. De que mal você sente que o Senhor o protege? Repita três vezes este outro versículo: “Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por

socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos.” (Sl 18,6)

De que mal o Senhor pode te guardar?

Versículo a ser memorizado:Meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.

Comentário do Salmo 121

1. Tipo de salmoÉ um salmo de confiança individual. Uma pessoa expressa sua profunda e inabalável confiança No Senhor, em todos os momentos e situações da vida.

2. Como está organizadoComo o anterior, também este salmo não possui introdução nem conclusão. Essas duas partes talvez tenham sido eliminadas porque, na forma atual, os Salmos 120-134 constituem um bloco único, isto é, o livrinho para os romeiros que peregrinam a Jerusalém para as festas.O corpo apresenta dois momentos: lb-2 e 3-8. No primeiro (lb¬2), a pessoa faz a si mesma uma pergunta. E ela própria responde. A questão fundamental é de onde vem o socorro. Os montes, para os quais olha o fiel, recordam um dado interessante. Quando os hebreus saíram do Egito e tomaram posse da terra da promessa, tiveram de se refugiar nas montanhas para se livrar dos exércitos inimigos,

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che¬fiados pelos reis das cidades-estados cananeias. Esses reis tinham carros de guerra e estes, evidentemente, não subiam morros. As montanhas passaram a ser o lugar privilegiado dos hebreus, lugar de refúgio (compare com o Salmo 11,1b). De qualquer forma, as mon¬tanhas sempre representaram (e ainda representam) lugares segu¬ros contra os ataques do inimigo. Será delas que virá o socorro para o salmista? Não. Ele próprio responde, afirmando que o socorro dele vem do Senhor criador do céu e da terra (2). Talvez as montanhas exer¬çam simplesmente a função de "puxar para cima" quem as admira, apontando para algo que está acima delas, no céu: o Deus que as criou. Ele é o criador de tudo (céu e terra é uma expressão que pre¬tende abraçar todas as coisas criadas). No primeiro momento é mui¬to importante a palavra "socorro" (lb.2a).No segundo momento (3-8), a pessoa fala a si própria, mos¬trando como Senhor é socorro. Esse tema se desdobra em duas partes: o que o Senhor não faz (3-4) e o que Ele faz (5-8). O que não faz? Não deixa o pé do fiel tropeçar, jamais dorme, não dorme nem cochila. A negação é repetida quatro vezes. O Senhor é apresentado como pastor, pois quem não dormia à noite para cuidar dos rebanhos eram os pastores (compare com Lucas 2,8). A imagem é interessante, pois faz lembrar o episódio de Elias no monte Carmelo, em conflito com os sacerdotes de Baal (1 Reis 18,27). Ele caçoa deles, dizendo que, talvez, Baal esteja dormindo (em pleno meio-dia!). O Senhor, ao contrá¬rio, é guarda pessoal do salmista e também guarda de Israel. Vêm, a seguir, as ações que o Senhor faz (5-8). A palavra guardar torna-se muito importante, caracterizando as ações de Javé em favor de seu aliado: guarda sob a sombra, guarda de todo o mal, guarda a vida e guarda as entradas e as saídas. Nota-se que o verbo guardar apare¬ce quatro vezes. Além disso, Javé toma posição "à direita" do fiel (5b), lugar do defensor (compare com o Salmo 109,31a). A imagem da som¬bra (5a) faz pensar na nuvem de Êxodo 14,19-22 (fato recordado em Sabedoria 19,7a). As duplas de lugares ou situações de perigo não têm mais razão de existir: dia-noite, sol-lua, entradas-saídas, ago¬ra-para sempre, tudo é banhado pela confiança absoluta naquele que é socorro, não dorme, está à direita e guarda a vida do justo. A expressão dia-noite e a expressão agora-para sempre abraçam todo o tempo: entradas e saídas representam todas as atividades da pes¬soa, em casa (entradas) e fora dela (saídas), vida privada e vida pública. Não fica claro como a lua poderia ferir alguém de noite (6a). Pode simplesmente ser um recurso literário para formar du¬pla com o sol. Este, sim, com seu calor, pode causar danos à pessoa. Em algumas culturas antigas acreditava-se que o luar pudesse fa¬zer mal.

3. Por que surgiu?O salmo expressa absoluta confiança no Senhor, apesar dos peri¬gos ou conflitos que a vida apresenta. De fato, fala-se da possibilida¬de de o pé tropeçar (3a) e insinuam-se perigos noturnos (3b-4.6b). Se não houvesse perigo, não haveria a necessidade da sombra proteto¬ra do Senhor, nem de seu posicionamento à direita do fiel (5). São re-cordados perigos naturais, como o excesso de exposição ao sol (6a), sinal de que essa pessoa está a caminho e correndo riscos (compare com o Salmo 91,5-6). Fala-se de "mal", sem especificar em que con¬siste. Finalmente, recordam-se os perigos dentro de casa (veja Amós 5,19) e fora dela. Nada disso abala essa pessoa. Sua confiança no Senhor é total.4. O rosto de DeusDescobrimos neste salmo várias características de Deus. Em primeiro lugar, é chamado de "socorro" (1b.2a). Em todo o Antigo Testamento, o único socorro de Israel se chama Senhor. Os profetas criticam as autoridades políticas quando elas vão pedir socorro ao Egito ou à Assíria. O salmista, portanto, acertou "na mosca" quanto à fé do povo de Deus. Em segundo lugar, o Senhor criou o céu e a terra, é o aliado de tudo e de todos para a vida. É por isso que a vida dessa pessoa está a salvo (7b). Além disso, a imagem do pastor que não dorme é muito importante. E o tema "Deus-pastor" faz pensar no êxodo e na aliança. A sombra (5a), sinal de proteção, também é tema ligado à saída do Egito e à aliança. Igualmente a lembrança das "entradas e saídas". Vale a pena recordar um texto de Deute-ronômio 28,6.

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Aquele que for fiel à aliança "será abençoado ao en¬trar e abençoado ao sair". Finalmente, o Senhor é aquele que se põe, como aliado, à direita do pobre (versículo 5b comparado com Salmo 109,31a).De alguma forma, todos esses aspectos do rosto de Deus refle¬tem-se no rosto de Jesus. Com suas palavras e ações, fazia nascer confiança nas pessoas. Chamam a atenção seus milagres em favor dos pobres, doentes e excluídos. Jesus foi "socorro" para quantos con¬fiaram nele. É interessante, também, aprofundar o tema "Jesus-pas¬tor" (João 10), para senti-lo constantemente vigilante em favor da vida para todos.

5. Rezar o Salmo 121A vida é cheia de surpresas, riscos e perigos sem conta. Quem confia em Deus como confiava o autor deste salmo pode apropriar-se dele e fazer a mesma experiência. É bom ressaltar que se trata de confiança em meio às tensões e conflitos da vida. Confiar quando tudo corre bem é fácil. Mas a confiança só é madura quando a senti¬mos apesar dos conflitos e em meio a eles.Outros salmos de confiança individual: 3; 4; 11; 16; 23; 27; 62; 131.

Perguntas para a primeira aula

1. Leia e cite os poemas que aparecem nos Livros históricos da Bíblia.2. Leia e cite os textos em forma de Salmo que aparecem no Livro de Lucas.3. O que significa Psalterion?4. Qual o nome dos Salmos em Hebraico?5. O título mais frequente que aparece na Bíblia é ………………., que supõe um

acompanhamento musical e que se traduz muito bem com nossa palavra “salmo”.