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Ano 6 · Nº 23 · 2014 SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS Conheça os riscos dessa disfunção e de que forma as barreiras emocionais podem prejudicar o tratamento SNCT 2014 Vem aí mais uma edição do maior evento de ciência e tecnologia do Brasil ARQUEOLOGIA Estudo revela história de povos pré- colombianos na Baixada Maranhense FIBRAS ALIMENTARES Saiba por que elas são tão importantes para a saúde Projeto de restauração resgata patrimônio cultural, artístico e religioso do Maranhão Santos de Roca de Alcântara

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Ano 6 · Nº 23 · 2014

SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOSConheça os riscos dessa disfunção e de que forma as barreiras emocionais podem prejudicar o tratamento

SNCT 2014Vem aí mais uma edição do maior evento de ciência e tecnologia do Brasil

ARQUEOLOGIAEstudo revela história de povos pré-colombianos na Baixada Maranhense

FIBRAS ALIMENTARESSaiba por que elas são tão importantes para a saúde

Projeto de restauração resgata patrimônio cultural, artístico e religioso do Maranhão

Santos de Roca de Alcântara

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2 Revista Inovação nº 23 / 2014

Cada vez mais, o Maranhão destaca-se na área de inovação tecnológica e científica. Para impulsionar esse avanço, o Governo do Estado e a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) criaram o PATRONAGE, um sistema de administração de bolsas e auxílios.

O PATRONAGE é um instrumento indispensável para facilitar a gestão de informação e apoio logístico aos pesquisadores. O acesso foi aprimorado e agora está muito mais fácil, inclusive para estrangeiros.

• Pedido e acompanhamento de solicitaçãode bolsa ou auxílio;• Gerenciamento de avaliação;• Cadastro de consultores ad-hoc eavaliação de proposta on-line;• Relatório parcial e final do projeto;• Solicitação de Renovação de Bolsa.

Vantagens do novo PATRONAGE:

www.fapema.br/patronage

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Expe

dien

teEditorial

Governadora do Estado do MaranhãoRoseana Sarney Murad

Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento TecnológicoJosé Ferreira Costa

Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão - FAPEMA

Diretora-PresidenteRosane Nassar Meireles Guerra

Diretora Científica Cláudia Maria Coêlho Alves

Diretora Administrativo-Financeiro Stael Chaves Pereira

Coordenadora do Núcleo de Difusão Científica - NDCNathalia Ramos

Editora responsávelPriscila Cardoso

RedaçãoAna Carolina Neves, Elizete Silva, Ivandro Coêlho, Priscila Cardoso, Tatiana Salles, Tayna Abreu e Venilson Gusmão

Design GráficoPatrícia Régia e Motta Junior

FotosAlbanir Ramos, Antonio Martins, Geraldo Furtado, Priscila Cardoso, Tayna Abreu, Venilson Gusmão e divulgação

Fale [email protected].: (98) 2109-1433 Tel.: (98) 2109-1435

EndereçoRua Perdizes, nº05, Qd. 37 - Jardim RenascençaSão Luís - Maranhão - BrasilCEP: 65075-340Tel: (98) 2109-1400Fax: (98) 2109-1423

A cidade de Alcântara, que compõe a região metropolitana de São Luís, é famosa por suas ruínas e por sua história de importante centro agrícola e comercial duran-te o período colonial. Além dis-so, conserva um rico patrimônio imaterial, marcado pela festa do Divino Espírito Santo. Em breve, mais uma atração dará volume aos encantos da cidade: um acervo de Santos de Roca, que, após restau-rado, será disponibilizado no Mu-seu Histórico de Alcântara.

A matéria especial de capa desta Revista Inovação traz todos os de-talhes sobre a reabertura do Acervo de Roca, como a capacitação dos técnicos, montagem da exposição e o resgate histórico, artístico e re-ligioso realizado por meio da res-tauração dessas peças.

Ainda falando em preservação da história, você vai entender o trabalho do Laboratório de Arque-ologia da Universidade Federal do Maranhão, que está resgatando, restaurando e catalogando os vestí-gios que os povos pré-colombianos deixaram na Baixada Maranhense.

Mudando de assunto, nesta edição, você também vai desco-brir a força do capim-limão e da janaguba, plantas que estão sendo utilizadas como terapia alternativa no tratamento de doenças como hipertensão e convulsão.

Na área da saúde, você vai co-nhecer o poder das fibras alimenta-res, que, além de regular o trânsito intestinal, ajudam a controlar o peso e a reduzir os níveis de coles-terol e glicose no sangue.

E, especialmente, para as mu-

lheres que sofrem com a Síndrome dos Ovários Policísticos, produzi-mos uma matéria que explica os detalhes dessa disfunção. Você vai ver que os problemas físicos po-dem ser agravados pelo descontro-le emocional.

A Semana Nacional de Ciên-cia e Tecnologia está chegando e também recebeu um lugar de destaque neste número da Revista Inovação. Este ano, o evento traz o tema “Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social” e, no Maranhão, promete quebrar novos recordes de público e atividades.

Pensa que acabou? Tem muito mais. Veja nas próximas páginas o que os pesquisadores maranhenses estão desenvolvendo e, claro, tudo com o apoio da FAPEMA.

Boa leitura!

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Longe das Pragas

Povo das Águas

Resgate da Arte

06

20

36

28

42

Sum

ário

O show vai começar

Capim-limão, doutor?

Saúde feminina

O poder das fibras alimentares 49

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CIÊNCIAS AGRÁRIAS

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arroz é um alimento com lugar cativo na mesa do brasileiro, simboliza o

desejo de prosperidade aos noivos, é importante complemento nutri-cional para o indivíduo e é usado até como expressão popular. Além de tudo isso, garante propriedades relevantes para o fortalecimento corporal.

De acordo com a Organiza-ção das Nações Unidas para a Ali-mentação e a Agricultura (FAO), o arroz é capaz de suprir 20% da energia e 15% da proteína diária necessária a um adulto, além de conter vitaminas, sais minerais, fósforo, cálcio e ferro.

A nutricionista Cyntia Gon-

çalves Neves explica que, na pirâ-mide alimentar brasileira, o arroz faz parte do grupo dos cereais e tubérculos, tornando-se o cereal mais presente na alimentação diá-ria da população. “Ele tem, como principal nutriente, os carboidra-tos, compostos responsáveis por fornecer energia ao nosso organis-mo, atuando em diferentes meca-nismos do metabolismo”, explica.

Segundo o Ministério da Agri-cultura, o consumo anual é de, em média, 25 quilos por habitante no Brasil. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz irrigado. Já a área plantada com arroz de sequeiro, em terras altas, fica con-centrada na região Centro-Oeste

(Mato Grosso e Goiás), Nordeste (Piauí e Maranhão) e Norte (Pará e Rondônia). Entre 1975 e 2005, o país reduziu a área de cultivo em torno de 26% e, ainda assim, aumentou sua produção de arroz em 69%, graças ao aumento de 128% na produtividade média. O crescimento da produção permitiu ao Brasil tornar-se auto-suficiente em arroz na safra 2003/2004. Em 2005, o país chegou a exportar 272 mil toneladas de arroz. E, ain-da hoje, cerca de 5% da produção nacional é destinada ao exterior.

Para evitar o uso indiscrimina-do de agrotóxicos nas plantações de arroz, a contaminação do meio ambiente e do homem e, assim, ga-

Estratégia de controle biológico se mostra uma ótima solução no combate a pragas

no cultivo de arroz

Por Venilson GusmãoFotos Divulgação

Longe das

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rantir maior produção do plantio com segurança alimentar, foi desenvolvido o projeto intitulado Parasitóides de ovos de Tibraca limbativentris Stal no cultivo de arroz no estado do Maranhão. Esse estudo propôs como estratégia para o controle biológico, a utilização de um parasitóide, predador natural do per-cevejo, visando oferecer ao agricultor familiar maranhense uma alternativa para o controle de pragas que comu-mente são encontradas nas culturas de arroz, além disso, foram estudados os principais fungos que participam desse controle.

O principal vilão do arroz é o per-cevejo-do-colmo, conhecido popular-mente na Baixada Maranhense como cangapara. Para combater a ação do inseto, muitos produtores utilizam agrotóxicos nas plantações, mas, na maioria dos casos, esse uso ocorre de maneira excessiva. O excesso de agro-tóxicos causa sérias consequências ao meio ambiente, aos consumidores e aos próprios agricultores, daí a impor-tância de se investigar métodos ecolo-gicamente sustentáveis de controle da proliferação e propagação dos perce-vejos.

Os percevejos aparecem no plantio de arroz a partir do primeiro mês de cultivo, quando depositam os ovos nas culturas do arroz. Após se desenvolve-rem, os percevejos passam a se alimen-tar da seiva da planta, interferindo no seu desenvolvimento e na produtivi-dade da cultura.

Durante a investigação, foram identificadas três espécies de parasitói-des capazes de eliminar as cangaparas: Oencyrtus submetallicus, Trissolcus ba-salis e Telenomus podisi. “Viajávamos para Miranda do Norte, Matões do Norte, Arari e Santa Rita e, nessas áreas, abríamos várias touceiras de arroz para coletar tanto os percevejos como os ovos. Os ovos e os insetos eram levados ao laboratório e manti-dos em condições adequadas até que os

Espécies de pasitóides: Oencyrtus submetallicus, Trissolcus basalis e Telenomus podisi

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parasitoides emergissem”, deta-lha o doutorando em Agroeco-logia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Kene-son Klay Gonçalves Machado. Depois desse processo, os in-setos eram separados e classifi-cados pela taxonomia, visando à identificação do parasitóide. Uma das primeiras iniciativas do projeto foi tentar esclarecer ao agricultor que existem inse-tos que são benéficos às plan-tações, ou seja, são responsáveis pelo controle natural.

A coordenadora do proje-to e doutora em Agroecologia da UEMA, Raimunda Nonata Santos de Lemos, esclarece que o parasitóide que faz o controle biológico é da ordem dos Microhi-menópteros. “São vespas bem pe-quenas que localizam as posturas do percevejo-do-colmo e depositam dentro dessas posturas os seus ovos, então, essas posturas parasitadas

mudam, inclusive, de cor, e passam a ter uma coloração mais acinzen-tada, dando origem a adultos do parasitóide e não mais as ninfas dos percevejos. Com isso, há uma dimi-nuição da população de percevejos resultando e melhor produtividade

da lavoura”, comenta.

FUNGOS

Os fungos são também agentes naturais no controle dos perceve-jos. Os fungos são microorganis-

Agricultores assistem à palestra sobre os risco dos agrotóxicos e a importância do parasitóide na lavoura do arroz

O pesquisador Keneson Klay verificando as touceiras de arroz durante a coleta de percevejos

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Keneson Klay, com a orientação da doutora em Agroecologia, Raimunda Nonata Santos de Lemos, analisa as amostras coletadas. Com a pesquisa, ele conquistou o Prêmio FAPEMA 2013

mos que ocorrem na natureza com elevada variação e compreendem mais de 1,5 milhão de espécies. De acordo com a doutora em Fitopa-tologia, Profa. Antonia Alice Costa Rodrigues, da UEMA, no universo desses microorganismos, a prefe-rência é por diferentes substratos. “Podem ser substratos de tecidos vegetais ou animais. Além disso, os fungos podem, ainda, degra-dar quitina de outros organismos para obter nutrientes. Os que têm essa característica se ajustam mui-to bem ao exoesqueleto de insetos, que é rico nessa substância. Assim, os fungos se adaptam a esses inse-tos, utilizando-os como substra-tos”, ressalta.

Os fungos não sintetizam seu próprio alimento, por isso utilizam

nutrientes disponíveis no substrato onde se fixam. Por exemplo, se o substrato é o exoesqueleto de um inseto, ele lança suas estruturas para o interior do inseto e, nes-se substrato, encontra alimento. “Com base nessa ocorrência natu-ral, o homem adaptou esse tipo de parasitismo que os fungos exercem nos insetos e começou a estudá--los, como a Beauveria bassiana e a Metarhizium anisopliae. Esses dois fungos vêm sendo estudados há bastante tempo e já se observa uma gama grande de insetos que são parasitados por eles, como ocor-re com esse percevejo (Tibraca)”, conta a doutora Antonia Alice.

Na cultura do arroz, o fungo que tem a capacidade de degradar o inseto é chamado de antago-

nista, já que pode agir como um bio-controlador e ser utilizado no manejo do arroz.

A doutora Antonia Alice expli-ca que as condições ambientais do Maranhão favorecem o surgimen-to dos fungos. “Estamos numa região geográfica de altas tempe-raturas e umidade, caracterizando um ambiente propício para o de-senvolvimento de fungos, que se desenvolvem onde há mais oferta de nutrientes. Então, se em de-terminada cultura, há a presença de um inseto ao qual os fungos se adaptem, a população de fungos tende a aumentar”.

O trabalho recomenda ao agri-cultor o uso de produtos seletivos que possuem o efeito de eliminar só a praga, até que o uso de agro-

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tóxicos possa ser completamente dispensável nas lavouras de arroz. “Outra proposta desse projeto foi criar e multiplicar em laboratório os parasitóides encontrados nas plantações de arroz para que, de-pois, eles sejam liberados nas áre-as de produção, para assim testar a sua efetividade de controle dos percevejos”, afirma a doutora Rai-munda Lemos.

Quanto à aplicação de veneno de forma indiscriminada, a pes-

quisadora Raimunda Lemos faz um alerta. “Consumimos muitos resíduos, pois dificilmente encon-tramos alimentos livres de agrotó-xicos. Assim, estamos empenhados em fazer com que esses pequenos agricultores sejam conscientizados quanto ao perigo do uso indiscri-minado de agrotóxicos e, ainda, que sejam orientados a minimizar o uso desses produtos nas lavouras,

visando tornar a alimentação da população mais saudável”, destaca.

Com esse trabalho, Keneson Gonçalves e sua orientadora Rai-munda Lemos conquistaram o Prêmio FAPEMA 2013, na cate-goria Dissertação de Mestrado, modalidade Ciências Agrárias.

Pesquisa apoiada pelo edital PRÊMIO/FAPEMA 014/2013, sob protocolo: 217611/2013

Para a nutricionista Cyntia Gonçalves Neves, o arroz deve ser ingerido com moderação. Cada porção (4 colheres de sopa) de arroz branco contêm, em média, 150 kcal. Vale ressal-tar que o arroz branco é um ali-mento de alto índice glicêmico, ou seja, eleva a taxa de açúcar na corrente sanguínea muito rá-pido, reduzindo o tempo de sa-ciedade.

Já o arroz integral, se com-parado com ao arroz branco, possui mais nutrientes, entre eles, as fibras. “Isso acontece porque a camada do farelo pre-sente nos grãos de arroz fica preservada durante o proces-so de industrialização, manten-do os nutrientes. Além disso, o arroz integral é mais indicado para indivíduos diabéticos, por-que não possui um alto índice glicêmico e, por isso, gera sa-ciedade maior, por maior tem-po, por conta das fibras que apresenta”, ressalta.

No Maranhão, a utilização de agrotóxicos de forma indiscriminada e sem os cuidados de segurança é comum nas

lavouras de arroz

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CIÊNCIAS HUMANAS

Cálice zoormorfo (com forma de animal), representando uma tartaruga, usado em rituais

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Povo das

Estudo arqueológico resgata história de povos pré-colombianos na Baixada Maranhense

Por Tayna AbreuFotos Tayna Abreu

ÁguasOs primeiros registros de

estudos arqueológicos são oriundos do sécu-

lo XVI, durante a Renascença, quando cresceram discussões sobre os métodos utilizados para entender as organizações sociais em diferentes períodos da história da humanidade.

Grandes descobertas, como a cidade de Pompéia, sepultada pelo vulcão Vesúvio no ano 79 depois de Cristo, a decifração dos hieróglifos do Egito pelo pesquisador francês João Fran-

cisco Champollion e os estu-dos acerca dos grandes monu-mentos antigos abriram novas perspectivas para a arqueologia mundial.

Um dos grandes nomes da Arqueologia no Brasil, o pes-quisador Pedro Paulo Funari, em seu artigo Arqueologia no Brasil e no mundo: origens, pro-blemáticas e tendências, explica que o país foi “pioneiro nos es-tudos arqueológicos”. Por mais inacreditável que pareça essa afirmação, Funari explica que

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os primeiros artefatos arqueo-lógicos, como múmias egípcias, “foram trazidos para o país por D. Pedro I, e que o Museu Na-cional do Rio de Janeiro, por exemplo, foi pensado para ser rival dos museus Britânico e do Louvre. O imperador fundou, ainda, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, contem-porâneo e similar à Academia Francesa”.

Rompida a ligação com a Europa, o Brasil sentiu, no pe-ríodo da Ditadura Militar, o anseio por estudos dos povos que habitaram o país antes da chegada dos portugueses, em consonância com pesquisas que se desenvolviam na busca pelos demais povos da América pré--colombiana.

A arqueóloga e diretora nacio-

nal do Centro de Arqueologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Maria Clara Migliacio, explica que, em 1950, instituições acadêmicas, como as Universidades Estaduais de São Paulo e do Paraná, junta-mente com o IPHAN, uniram-se para pleitear o que culminou dez anos depois na lei federal nº 3.924, de proteção ao patrimônio arqueo-lógico brasileiro.

Em um artigo no site da re-vista Exame de 2013, Fábio Ri-beiro, diretor de uma das maiores escolas de negócios do país, a RM Law and Business School, destacou como a Arqueologia é uma ciên-cia de extrema importância para o Brasil que, segundo ele, é por si só “um grande sítio de norte a sul”. Ribeiro avulta, ainda, que “muitas regiões no Brasil se desenvolvem a

partir da Arqueologia. A mesma ajuda na economia e no desenvol-vimento social de diversas regiões carentes”.

No Maranhão, a história da vida de seus povos pré-colom-bianos vem sendo estudada pelo grupo de pesquisadores que agora formam o Laboratório de Arque-ologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Concebido em 2010, o Laboratório, que faz parte do Departamento de Histó-ria da UFMA e do Curso de Pós Graduação em História Social, en-trou em funcionamento em 2013, mas só em 2014 teve sua compo-sição física concluída. Esta é a pri-meira instalação do tipo em uma universidade maranhense.

A Fundação de Amparo à Pes-quisa e ao Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico do Maranhão

Reconstituição de peças cerâmicas pintadas

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(FAPEMA) é a principal institui-ção que apoia o Laboratório, por meio dos editais de Acervos Muse-ológicos e Rede de Pesquisa da Bai-xada (REBAX), já que as pesquisas são realizadas na região da Baixada Maranhense.

A coordenação do Laboratório está a cargo do antropólogo Ale-xandre Guida Navarro, Prof. Dr. do curso de graduação em História da UFMA, que explica a dinâmica entre o laboratório e o curso. “Ar-queologia e história são áreas afins, dessa forma, é muito fortuito a implantação do laboratório. Ao ministrar a cadeira de História da América I, falo aos alunos sobre o trabalho em Arqueologia e, assim, os que se interessam passam a fazer trabalhos, como as monografias de conclusão de curso, sobre o assun-to”.

Navarro também é autor de livros sobre a história das Améri-cas, como “Kakupacal e Kikulcán – iconografia e contexto espacial de dois reis-guerreiros maias em Chichén Itzá” e “Breve História da Arquitetura Maia”, ambos finan-ciados pela FAPEMA, por meio do edital de Apoio a Publicações (APUB). No Laboratório, ele con-ta com o apoio de mais quatro pro-fessores e sete alunos do Departa-mento de História.

Para a inauguração do Labora-tório, foi convidado o pesquisador brasileiro da Universidade Federal de Campinas (UNICAMPI), Pe-dro Paulo Funari (acima citado), que possui extensa literatura em História das Américas.

Em sua discussão sobre os pa-râmetros relativos às teorias mun-diais de Arqueologia, Funari cita

que a América do Sul, em destaque o Brasil, “testemunharam grandes avanços em reflexão crítica. Em 1998, por exemplo, foi realizada a Primeira Reunião Internacional de Teoria Arqueológica na América do Sul, que introduziu os aspectos políticos e sociais na organização da disciplina”.

No Maranhão, a ocupação humana data de muitos séculos antes da chegada dos europeus, como aponta a pesquisa desen-volvida pelo novo laboratório. O povo das águas: carta arqueológica das estearias da porção centro norte da Baixada Maranhense investiga a ocupação da região dos lagos da Baixada Maranhense por popula-ções indígenas, contemporâneas aos famosos Maias.

“Os vestígios de estearias encon-trados dentro dos lagos nos dizem

Prato cerâmico com incisões geométricas em baixo-relevo para uso em rituais

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Reconstituição das peças cerâmicas, caracterizadas como vasilhames para depósito de líquidos ou para cozinhar alimentos

Reconstituição de peças cerâmicas com decoração de faixas pretas e vermelhas, usadas em rituais

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muito sobre essas pessoas. Na pré-história, os lagos da Bai-xada foram habitados por co-munidades que viviam em pa-lafitas. Essas construções hoje remetem à marginalização social, à pobreza, mas, cerca de mil anos antes da chega-da dos portugueses, eram um sinal diferente de hierarquia social, de elite. Eles cortavam os troncos de árvores, os fixa-vam no fundo dos lagos na época de seca e, sobre esses troncos, construíam tablados, sobre os quais edificavam suas casas. Eram aldeias grandes. Infelizmente não sabemos se eram casas grandes com mui-tos grupos ou casas menores”, explica Navarro.

A maior dessas ocupações fica no Lago Cajari, na cida-de de Penalva, que, segundo o professor, chegou a ter dois quilômetros de extensão. Por habitarem lagos, a população é designada como consumi-dora de peixes, além de ser horto agrícola, fato consta-tado pela grande quantidade

de utensílios de cerâmica en-contrada no sítio.

Os utensílios de cerâmica encontrados são basicamente de dois tipos, domésticos e ri-tuais. Alguns, inclusive, com o formato de animais. Já os machados e pedras, chama-dos de material lítico, eram usados para cortar as árvores.

O pesquisador explica que o material coletado ain-da não foi datado, já que esse procedimento só é feito nos Estados Unidos. Entretan-to, na década de 70, outros materiais coletados em áreas próximas foram catalogados como sendo de 500 a 600 anos depois de Cristo. “Ain-da não sabemos com precisão sua filiação linguística, his-tórica, para onde foram ou porque abandonaram a re-gião. Foram em média 20 es-tearias, mas hoje não existem mais populações indígenas na região”, destaca Navarro.

Fazendo eco a essa preo-cupação, a etnia dos povos que ali existiram tem sido

A pré-história de conta-gem europeia começa com o surgimento do homem, o surgimento da escrita, com os egitos antigos e sumé-rios, aproximadamente em 3500 antes de Cristo.

Já nas Américas, a pré--história vai até o ano de

1492 depois de Cristo, data da chegada do navegador Cristóvão Colombo, quan-do os primeiros registros em escrita são feitos no continente.

Há, ainda, uma terceira contagem, feita por histo-riadores que entendem o

começo da Idade Antiga nas Américas com o surgi-mento da civilização Maia, única a possuir sistema de escrita antes do conta-to com o homem europeu. (Fonte: Guia do Estudante, Editora Abril)

Diferenciação entre pré-história americana e europeia

Antropólogo Alexandre Guida Navarro, que coordena o Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal do Maranhão, segurando a Estatueta de cerâmica em forma de coruja, com chocalho (foram

colocadas pedras dentro), usada em rituais.

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discutida por Francisco Noelli, pesquisador da Universidade Esta-dual de Maringá. Ele defende que etnicidade seja tratada de maneira a confrontar dados históricos, et-nográficos e linguísticos. “Como não havia escrita, nossa única maneira de saber como era a vida

desse povo é com os materiais que resistiram ao tempo. Por exemplo, como saber o que eles comiam? Encontramos restos de maceração de algum vegetal em uma peça. No laboratório, descobrimos que era mandioca”, conta o pesquisador.

Todo o material está sendo ca-

talogado e armazenado no Labora-tório de Arqueologia da UFMA. Para a catalogação, estão sendo usados os padrões internacionais, incluindo a numeração das peças e a identificação do sítio, que aqui trata-se do Armíndio. Há também a reconstituição de peças, a partir

O esqueleto de uma mulher entre 15 e 16 anos encontrado no México reforçou recentemente a teoria da migração de mongóis sibérios para as Américas durante o congelamento do Estrei-to de Bering. Naia, como foi batizado o esqueleto, passou por testes gené-ticos que confirmaram a chamada linhagem asi-ática Beringio. A idade estimada do esqueleto é de 12 mil a 13 mil anos. (Fonte: Revista Galileu)

Esqueleto mais antigo encontrado na América

Estearia do Encantão, na cidade de Pinheiro, localizada na Baixada Maranhense

Estearia do Coqueiro, localizada no município de Olinda Nova do Maranhão

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da junção de pedaços ou da proje-ção, em escala natural em desenho no papel.

Uma das peças, em especial, foi escolhida como símbolo do Labo-ratório de Arqueologia, um cáli-ce em formato de tartaruga. “Há todo o simbolismo de um animal aquático sendo inserido em sua cultura, mostrando afinidade entre o povo e onde ele vive. Na mesma linha simbológica, também foi en-contrada uma peça em formato de sapo”, diz Alexandre Navarro.

“Também são encontrados ma-teriais em formato de coruja e do órgão sexual feminino. O primei-ro, possivelmente em referência à noite, e o segundo à fertilidade. Teremos mais informações no de-

correr das investigações, mas já estamos avançando muito em en-tender esses povos”, explica.

Uma das características que ajudam na identificação desses povos está no interior do material cerâmico encontrado. O chama-do tempero, que pode ser feito de cascas de árvores, quartzo, areia ou mesmo esponjas (animais aquáti-cos), é um indicador de cultura, já que cada sociedade optou por um tipo, usando o que tinha à dispo-sição. “Podemos saber se a peça é daquele lugar só pelo tempero. Se houver uma diferente, pode-se sa-ber que houve contato com outros povos. Da mesma forma, padrões diferentes de cerâmica podem in-dicar aproximação de povos dife-

rentes”, esclarece o pesquisador.O laboratório foi inaugurado

com o I Seminário do Laborató-rio de Arqueologia da UFMA, nos dias 15 e 16 de setembro de 2014. O seminário trouxe ao Maranhão, além do professor Funari, que mi-nistrou a palestra “Arqueologia brasileira: história e perspectivas”, o antropólogo da Universidade Fe-deral de Pelotas (UNIPel), Lúcio Menezes Ferreia, que ministrou a conferência “Arqueologia da escra-vidão no Brasil: uma perspectiva mundial”.

Trabalho no Laboratório de Arqueologia, onde as peças encontradas são restauradas, catalogadas e estudadas

Pesquisa apoiada pelo edital MUSEUS/FAPEMA 019/2013, sob protocolo: 241149/2013 e REBAX/FAPEMA 030/2013, sob protocolo: 253472/2013

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CIÊNCIAS HUMANAS

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Quem mora em Alcântara ou quem puder visitar a his-tórica cidade maranhense

neste fim de ano terá acesso a uma parte importante do patrimônio cultural, artístico e religioso do nos-so estado e do Brasil, que estava se deteriorando e até mesmo correndo risco de desaparecer. Trata-se de onze esculturas de santos construídas em madeira – os chamados Santos de Roca – que agora estão sendo restau-radas e voltarão a ficar à disposição do público a partir do mês de dezem-bro, no Museu Histórico de Alcânta-ra (MHA), onde será montada uma expografia com as imagens.

Também conhecidas como “ima-gens de bastidor” ou “imagens de ves-tir” – porque tinham a possibilidades

de serem vestidas durante eventos religiosos –, essas esculturas sacras chegaram ao Brasil a partir do sécu-lo XVII, popularizando-se no sécu-lo XVIII e primeiros anos do século XIX. A partir daí, os santos de roca começaram a perder prestígio, devido às mudanças sociais e ao processo de industrialização que levaram à utili-zação de imagens em gesso. Mesmo assim, algumas instituições religiosas continuaram preservando esse patri-mônio.

No Maranhão, os Santos de Roca eram utilizados na procissão de cinzas e pertenciam originalmente à Ordem Terceira de São Francisco, fundada na cidade de Alcântara, por Frei João de Santa Tereza, no ano de 1763. Até o início do século XVIII, os Tercei-

SantosProjeto de restauração devolve ao público peças

importantes do patrimônio cultural, artístico e religioso do Maranhão

Por Ivandro CoêlhoFotos Albanir Ramos

de Roca

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ros ficavam na extinta Igreja de Santa Quitéria. Depois se mu-daram para sua própria igreja, finalizada no ano de 1813. De-vido a problemas estruturais, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco logo se arruinou, e as imagens foram transferidas para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e, de lá, para o Museu Histórico de Alcântara, onde se encontram atualmente.

“Embora na maioria dos casos descontextualizadas dos rituais católicos de hoje, essas esculturas despertam cada vez mais interesse por seu valor como expressão cultural”, expli-ca a diretora do MHA, Lia de Macêdo Braga Oliveira. Segun-do ela,o conjunto de roca do MHA estava em péssimo estado de conservação, devido à inexis-tência de restauradores no mu-nicípio de Alcântara e também

às condições inadequadas do local de exposição, o que com-prometia a integridade física e estética das peças. Isso motivou a retirada de parte do acervo e a criação de um projeto de res-tauração e conservação dessas obras.

O projeto Restauração e Pre-servação do Acervo de Roca do Museu Histórico de Alcântara está em andamento e conta com o apoio da Fundação de Ampa-ro ao Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do edital Acervos Museológicos. A pri-meira fase teve início em junho deste ano, com uma oficina de restauração destinada a capa-citar técnicos para atuarem no MHA e em outras instituições do estado. A oficina foi minis-trada paralelamente à restaura-ção das obras, no Museu His-

Imagem de roca, ou santo de roca, é a designação genérica usa-da para um tipo de escultura sacra que tem como principal caracterís-tica a possibilidade de ser vestida.Ela também é chamada de ima-gem de vestir, imagem de bastidor ou imagem de procissão. No que se refere à origem dessas imagens, fala-se que teriam surgido de ence-nações religiosas, ainda no período medieval.

Em Portugal, elas eram co-muns nas igrejas nos séculos XVI e XVII, como atestam inventários e as próprias Constituições Sino-dais da época. Seguindo a tendên-cia ibérica, no Brasil, a prática das procissões com imagens vestidas e articuladas foi introduzida a partir do século XVII, mas foi na segunda metade do século XVIII e nos primeiros anos do XIX que esse tipo de imaginária atingiu maior popularidade. A popularida-de das imagens de roca, além de ter ligações com a dramaticidade e o luxo, que caracterizam os cânones estéticos barrocos, estava associada também à realização das procis-sões, que passaram a ser comuns na época.

Essas imagens podiam ser vesti-das de formas variadas, estimulan-do a imaginação das Irmandades que, nos grandes cortejos religio-sos, competiam entre si. Tão popu-lares no século XVIII, a imaginária de roca começou a perder prestígio em fins do século XIX, devido às mudanças sociais e ao processo de industrialização que nos levou às imagens em série (em gesso), tão comuns em nossos dias.

Santos de Roca

O projeto de restauração e preservação do Acervo de Roca do Museu Histórico de Alcântara recebe o apoio da FAPEMA por meio do edital Acervos Museológicos

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tórico e Artístico do Maranhão (MHAM), pelas restauradoras Taís Gontijo Venutto e Camila Ayla Oliveira dos Anjos, ambas da Uni-versidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O projeto também prevê a aquisição de mobiliário adequado para a exposição das peças e a con-fecção de folders e catálogo com

detalhes do acervo do museu, que será lançado durante a reabertura do Acervo de Roca, no dia 10 de dezembro. “Com esse projeto, o MHA busca cumprir sua missão de salvaguardar e fazer a divulga-ção do passado histórico e cultural, dedicando-se a discutir tudo que possa se relacionar, nesse contexto, com os diversos aspectos da cul-

tura atual”, declara Maria da Gra-ça Costa Nina, coordenadora do projeto e encarregada dos Serviços de Difusão Cultural do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM). O fotógrafo José Al-bani Ramos de Souza também faz parte da equipe do projeto e é res-ponsável pela produção dos folders, catálogo e pookers.

O Museu Histórico de Alcântara testemu-nha um período de opulência e riqueza basea-do nas monoculturas do arroz e algodão ali-mentados pelo sistema escravagista. O prédio do Museu Histórico encanta aos visitantes por sua fachada revestida de azulejos coloridos e portais emoldurados de pedras de lioz.

A planta em forma de L dá lugar a longos corredores avarandados abrindo para um pátio interno, onde se encontra um belo poço com bordas trabalhadas em pedra e alvenaria. Com inúmeros detalhes arquitetônicos interessan-tes, o prédio do Museu Histórico de Alcântara destaca-se por seus longos beirais, janelas em guilhotina, forro em espinha de peixe no se-gundo pavimento, balcões com base de pedra e gradil em ferro trabalhado, além de outros detalhes que garantem condições de ventilação e conferem beleza ao conjunto arquitetônico.

O museu se manifesta como um importan-te documento histórico, pois possui elementos que ajudam a compreender o período áureo da economia alcantarense, o processo de transição entre a Monarquia e a República, o momento em que a antiga aristocracia rural perdeu es-paço e um novo segmento, ligado a atividade urbana, se consolidou, enfim reflete aspectos da história econômica, política e social de Al-cântara no século XIX e início do século XX.

Museu Histórico de Alcântara

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CAPACITAÇÃO

A oficina Introdução à conservação de acer-vos museológicos e pequenas intervenções em esculturas de madeira teve início no dia 10 de junho, no atelier de restauro do Museu His-tórico e Artístico do Maranhão (MHAM) e foi dividida em duas partes: uma teórica e outra prática. Na parte teórica, conduzida pela restauradora Camila Ayla Oliveira dos Anjos, os alunos aprenderam como deve ser feita a conservação das imagens de roca e um pouco da história da produção dessas escul-turas sacras no período colonial brasileiro.

O segundo momento foi dedicado à res-tauração das imagens de vestir de Alcântara e começou em julho, com a retirada das inter-venções já existentes, consideradas inadequa-das pelas restauradoras. Agora, os alunos en-traram na etapa de preenchimento das peças com massa de consolidação. Para Taís Gon-

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PreservaçãoO edital Acervos Museológicos foi

criado em 2013 a partir de uma parce-ria entre a FAPEMA e a Secretaria de Estado da Cultura, visando à manuten-ção e preservação de todo acervo per-tencente aos museus e casas de cultura do estado do Maranhão.

O edital possibilitou a participa-ção de alunos, pesquisadores e técnicos em atividades voltadas a a aquisição de tecnologias de sistematização para pesquisa ao acervo, através de sua di-gitalização. Além disso, possibilitou o treinamento de pessoas quanto as prá-ticas da restauração e higienização dos acervos, gerando mais conhecimento, contribuindo para a profissionalização de pessoas e para preservação do mate-rial museológico.

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tijo Venutto, a restauração não é um trabalho meramente empírico, mas exige um conhecimento teóri-co, que deve ser transmitido con-tinuamente. “É muito importante que as pessoas que trabalham nos museus tenham consciência tanto do valor do bem cultural, quanto dos parâmetros que a gente utiliza na restauração”, declarou a profes-sora.

APRENDIZADO

Raimundo Nonato Duarte Meneses é uma das oito pessoas que participaram da oficina Intro-dução à conservação de acervos mu-seológicos e pequenas intervenções em esculturas de madeira. Além dele, também participaram das oficinas

funcionários da Fundação da Me-mória Republicana, do Museu dos Capuchinhos e da Curadoria do Palácio dos Leões.

Para Raimundo Duarte, a ca-pacitação veio num momento oportuno e, além de importante, é um verdadeiro aprendizado sobre os santos de Roca. “Nosso estado possui vários museus e igrejas, no entanto, ainda não tínhamos tido oportunidade de participar de ofi-cinas de qualificação para fazer esse trabalho de reparo e manutenção das imagens. Então, essa atividade está sendo muito importante para quem atua nessa área”. A mesma opinião tem Raimundo Firmino Ferreira de Carvalho, de 68 anos, e Gabriela Boeires Viana, partici-pantes do curso.

Após o fim do trabalho de restauração, as imagens deverão retornar ao Museu Histórico de Alcântara, onde ficarão expostas ao público. O acervo de roca do MHA já participou do Projeto Museu Histórico Digital de Al-cântara e está disponível no espaço virtual da instituição (museuhisto-ricodealcantara.ma.gov.br), em seu estado antes da restauração. “Esta-mos buscando devolver à comuni-dade esse importante patrimônio artístico e cultural não só para a cidade de Alcântara, como para o Maranhão e para o Brasil”, come-mora Lia Macêdo.

Pesquisa apoiada pelo edital MUSEUS/FAPEMA 019/2013, sob protocolo: 241265/2013

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A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT/MA) e a V Mostra Científica do Maranhão

voltam a movimentar São Luís e o inte-rior do estado com atividades científi-cas que acontecem em praças públicas, dentro de instituições de ensino e, em São Luís, na área externa do São Luís Shopping, onde será montada a “Ci-dade da Ciência”. Este ano, o evento, que acontece de 13 a 19 de outubro,

tem como tema “Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social”, uma grande oportunidade para vincular a produção científica aos desafios sociais que vivemos hoje em todas às áreas da sociedade.

Coordenada pelo Governo do Es-tado por meio da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Sectec) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecno-

O show vai começar!

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2014 aposta em uma grande

variedade de atividades científicas e traz novas atrações ao público maranhense

Por Elizete SilvaFotos Geraldo Furtado e Antonio Martins

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lógico do Maranhão (FAPEMA), o evento tem como objetivo demo-cratizar o acesso ao conhecimento científico e aproximar a população da ciência e da tecnologia, promo-vendo e estimulando atividades de divulgação científica em todo o país.

“Este é um evento que está se consolidando ano após ano com um número crescente de partici-

pantes tanto na Semana quanto na Mostra Científica. A Mostra Científica foi concebida para que os pesquisadores, contemplados nos vários editais da FAPEMA, apresentem seus projetos e resul-tados ao público, como forma de popularizar este conhecimento e também prestar conta dos recursos destinados à Fundação ao longo dos últimos anos”, conta a direto-

ra-presidente da FAPEMA, Rosa-ne Nassar Meireles Guerra.

Para fomentar a realização de atividades durante a Semana, a FAPEMA disponibilizou este ano dois editais onde foram alocados recursos no valor de R$ 1 milhão. “A nossa perspectiva é que este ano tenhamos um número maior de ci-dades participando com atividades na praça, e não só dentro das insti-

A viagem ao espaço está garantida em 2014. O Planetário, que é sucesso de público em todos os anos, esta de volta à SNCT do Maranhão, tanto em São Luís, como no interior do estado

Este ano, a SNCT acontece na mesma semana em que se comemora o Dia das Crianças, por isso, uma programação especial foi preparada para elas

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Fazem parte da programação acadêmico-científica da SNCT oficinas, minicursos, palestras, apresentação de pôsteres e de projetos inovadores, além de exposições e apresentações culturais

Este ano, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia acontece na mesma semana em que se comemora o Dia das Crianças. Como presente para elas, os organizado-res do evento pensaram em uma programação especial voltada para o público de até 12 anos. A programação inclui mo-mentos de contação de histórias, apresentações de teatro de boneca e de peças infantis e, ainda, orientação sobre alimen-tação saudável e preser-vação do meio ambiente.

Os parceiros do go-verno na realização da

SNCT, a exemplo das universidades Federal e Estadual do Maranhão, incluíram na sua progra-mação atividades volta-das para este público. O Núcleo Geoambiental (NUGEO), da Universida-de Estadual do Maranhão (UEMA), irá distribuir du-rante a Semana cartilhas com informações sobre utilização do solo, plantio e uso racional da água, voltadas para crianças e adolescentes.

As secretarias de Esta-do da Cultura e de Igual-dade Racial, bem como a Secretaria Municipal de Educação, também têm

uma programação para a criançada. “Em 2014, a SNCT completa 11 anos e já faz parte do calendá-rio científico-estudantil e acadêmico do Maranhão, estado do Nordeste com maior número de ativida-des durante a Semana, resultado do esforço co-letivo de organizadores e de todos os parceiros do evento. É importante en-volver um maior número de pessoas nas ativida-des, e uma programação voltada para crianças com certeza atrairá gran-de público”, afirma o vice-reitor da UFMA, Antônio Oliveira.

Crianças terão programação especial durante SNCT

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Uma superestrutura será montada novamente no estacionamento do São Luís Shopping, dando vida à Cidade da Ciência

tuições, porque a ideia da Semana é sair das instituições e levar efeti-vamente esse conhecimento para o público em geral, para pessoas de todas as idades, ou seja, é socializar o conhecimento”, completa a pre-sidente.

Trabalhos nas áreas de Enge-nharia, Medicina, Saúde, Física, Química, Biologia, Matemática, Astronomia, Ciências Sociais Apli-cadas e do conhecimento científi-co em geral podem ser explorados como ferramentas de inovação e sociais. O secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, José Ferreira Costa, diz que, com a SNCT, es-pera-se despertar, principalmente nas crianças e jovens do Ensino Fundamental e Ensino Médio, o interesse pela ciência. “Sobretudo as ciências básicas, a Física, a Quí-mica e a Biologia”, destaca.

A coordenação nacional da

SNCT é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que conta com a colaboração do setor público e privado, de fun-dações de amparo à pesquisa, de entidades e instituições de ensino, divulgação e pesquisa, além de se-cretarias estaduais e municipais, em especial de ciência, tecnologia (C&T) e educação.

Em 2012, em todo o país, se-gundo o MCTI, foram realizadas 28.148 ações com a participação de 911 parceiros, números que foram superados em 2013. Ano passado, o número de atividades chegou a 34 mil com a ajuda de

36mil pessoas

em 2013

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A cada ano, cresce o número de participantes e de atividades realizadas durante a SNCT. Em 2012, foram realizadas 1.801 ati-vidades em todo o estado e, em 2013, este número chegou a 2.380. Pela “Cidade da Ciência”, montada na área externa do São Luís Sho-pping, passaram 36 mil pessoas no evento do ano passado.

Entre os 21 municípios do inte-rior onde foram realizadas ativida-des durante a SNCT 2013, desta-que para a cidade de Caxias. No município, além do Planetário, um

dos trabalhos que mais chamou a atenção da comunidade foi o pro-jeto comandado pelo pesquisador Gonçalo Mendes da Conceição, intitulado “A Ciência Botânica pede carona: promovendo o conheci-mento sobre ciência, saúde e es-porte”.

Em Santa Inês, 45 atividades foram desenvolvidas, como as hor-tas ecológicas, produção de gás hidrogênio através de reações quí-micas e a geração de vapor, como método de produção de energia elétrica.

36mil pessoas

em 2013

Cidade da Ciência atraiu um público de 36 mil pessoas em 2013, expectativa para este ano é que um número maior de pessoas participe do evento

Em 2013, as 2.380 atividades da SNCT no

Maranhão atraíram um público de 36 mil pessoas

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A exposição de protótipos costuma chamar bastante a atenção dos visitantes interessados em tecnologia e inovação

Até nos games podemos perceber as maravilhas da ciência. Quem ganha com isso são os visitantes, que se divertem enquanto aprendem

1.079 parceiros espalhados por 740 cidades brasileiras.

O Maranhão tem feito boni-to e a cada ano tem conseguido superar-se quanto ao número de atividades e de participantes. O resultado disso é que o estado ocu-pa atualmente a primeira coloca-ção entre os estados do Nordeste e a 5ª posição no cenário nacional.

PROGRAMAÇÃO

No Maranhão, uma vasta pro-gramação foi preparada para atrair participantes de todas as idades. Em vários pontos de São Luís e em ci-dades do interior do estado, aconte-cem oficinas, minicursos, palestras, apresentação de pôsteres e de proje-tos inovadores, além de exposições e apresentações culturais.

Sucesso em todas as edições da Semana no Maranhão, o planetá-rio está mais uma vez entre as atra-ções do evento. Além de São Luís, ele será levado também para o in-terior do estado. Ano passado, no município de Caxias, grandes filas com pessoas de diferentes idades se formaram na principal praça da cidade para assistir à apresentação. Os equipamentos utilizados nos planetários permitem projetar o Meridiano e o Equador Celeste, planetas, cometas, asteróides, luz crepuscular, Sol e Lua, simulando viagens pelo espaço que encantam os participantes das sessões.

Para São Luís, uma das novi-dades é a sala com jogos virtuais onde telas touchscreen com games sobre diferentes formas de geração de energia prometem fazer sucesso entre crianças, jovens e adultos. À medida que o participante acertar as questões do game o cata-vento montado no centro da sala ganha energia e começa a se movimentar.

A exemplo do que tem aconteci-do nos últimos anos durante o even-to, sempre nos finais de tarde, ha-verá uma programação cultural com apresentações de bandas de musicas, bumba-meu-boi e shows com can-tores maranhenses. No stand da Se-cretaria de Estado da Cultura, serão mostradas as novas mídias inseridas nos equipamentos culturais do esta-do e o público também terá acesso a objetos, fotos e vídeos que revelam saberes tradicionais.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE), que também é par-ceiro do Governo no evento, tra-rá em sua programação oficinais com foco na classe empresarial e um workshop sobre incubadoras, além de programações na área de agronegócio, que acontecerão em São Luís e no interior do estado, a exemplo de Imperatriz.

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Resultados da SNCT /Nordeste (2010 – 2013)

Como de costume, todos os dias da SNCT serão encerrados com uma programação cultural com apresentações de bandas de musicas, bumba-meu-boi e shows com cantores maranhenses

Ranking dos estados do Nordeste em número de atividades inscritasColocação 2010 2011 2012 2013

1ª CE (813) PE (1373) MA (1801) MA (2380)2º PE (799) MA (1112) PE (1691) PE (735)3º MA (600) CE (1023) CE (1232) CE (529)4º PB (409) PB (618) PB (519) PB (474)5º BA (313) BA (257) BA (185) BA (136)6º RN (128) PI (205) PI (147) RN (118)7º PI (105) RN (182) RN (142) PI (67)8º AL (67) SE (103) SE (92) AL (61)9º SE (32) AL (96) AL (69) SE (60)

Fonte: MCTI

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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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“O homem é uma parte integral do cosmo e só a natureza pode

tratar seus males”. Essa frase foi repe-tida várias vezes pelo filósofo grego, médico e pai da medicina ocidental, Hipócrates. A intenção era mostrar que as causas das doenças eram na-turais e, assim, lembrar que o equi-líbrio e a saúde do corpo estão dire-tamente ligados ao ambiente em que vivemos.

O que impressiona é que, depois de séculos, a frase voltou a soar em tempos atuais, quando se percebe uma crescente popularização dos métodos alternativos para tratamen-to de doenças. São inúmeras edições como livros, revistas e artigos  que tratam sobre o assunto. Os objetos de estudos são os mais variados, que vão desde frutas, legumes, verduras, hortaliças e vegetais em geral até suas raízes, cascas e folhas.

Estudos envolvendo terapias alternativas no tratamento de diversas doenças estão cada vez mais em evidência. Uma delas, realizada no Maranhão, revela que o capim-limão e a janaguba podem ser uma saída natural para os hipertensos.

Capim-limão, doutor?

Por Tatiana SallesFotos divulgação

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Todos são estudados em gran-des centros universitários do país. O Maranhão também participa desse cenário com estudos impor-tantes em várias áreas. Um deles, por exemplo, aborda um problema sério que acomete grande parte da população brasileira, a hipertensão arterial.

Nesse contexto, merece des-taque o estudo do professor do Departamento de Ciências Fisio-lógicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA),  Antonio Carlos Romão Borges, denomina-

do Avaliação da atividade farmaco-lógica e análise química de plantas medicinais do estado do Maranhão, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ma-ranhão (FAPEMA) por meio do Edital Universal.

Antonio Carlos Romão Bor-ges, que é doutor em Farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo, explica que o projeto  tem como objetivo investigar os efei-tos dos extratos das plantas jana-guba (Himatanthus drasticus M) e

capim-limão (Cymbopogon citratus D.C) no sistema nervoso central e no sistema cardiovascular, avalian-do os parâmetros farmacológicos pré-clínicos dessas plantas. “Visa, ainda, avaliar a toxidade aguda e crônica dos extratos e de suas fra-ções, para que sejam usadas como terapia alternativa no controle da hipertensão e convulsões”, explica.

Além do Professor Romão, fa-zem parte da equipe os professores da UFMA:  Bruno Araújo Serra Pinto, Antonio Marcus de An-drade Paes, Marilene Oliveira da Rocha Borges e Roberto Sigfrido Gallegos Olea.

A pesquisa ainda está em anda-mento, mas os resultados parciais obtidos até o momento com o ex-trato hidroalcóolico de Himatan-tuhus são positivos. “Observamos a diminuição da pressão arterial em ratos hipertensos e, ainda, ativi-dade sedativa, com potencial ação anticonvulsivante e antipsicótico, um tipo de atividade inibidora do sistema nervoso”, esclarece.

O pesquisador destaca a im-portância da FAPEMA na execu-ção do trabalho. “A Fundação deu o apoio financeiro, fomentando a aquisição de material de consumo importantíssimo para o desenvol-vimento do projeto”, conta.

DOENÇA SILENCIOSA

Marcos José Lacerda Filho, 18 anos, universitário. Carlos Magno Bispo, 48 anos, empresário. Ida-des e vidas diferentes, mas algo em comum os une: ambos sofrem de hipertensão arterial.

Marcos Lacerda  é magro e pratica esportes desde a infância. Durante a realização de exames de rotina, no entanto, as taxas de co-lesterol alteradas e a descoberta da

Capim-limão (Cymbopogon citratus D.C)

Janaguba (Himatanthus drasticus M)

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pressão alta causaram espan-to na família que questionou como um jovem, esportista e sem elementos visíveis po-deria apresentar um quadro de hipertensão arterial. A resposta estava na alimenta-ção inadequada, com exces-sos de embutidos, enlatados, frituras e gorduras em geral. “Fiquei com medo quando o médico me alertou sobre as taxas elevadas. Foi então que minha mãe mudou comple-tamente nossa alimentação. No começo, estranhei a man-teiga sem sabor e o leite sem gosto, mas depois me adaptei e hoje consumo sem proble-mas”, declara o rapaz.

Já Carlos Magno Bispo descobriu por acaso, quando necessitou fazer uma cirur-gia de emergência e, a partir daí, precisou tomar remédio diariamente para controle da pressão arterial. O em-presário julgou que apenas a medicação seria suficiente. No entanto, outro problema caminhava ao lado, o sobre-peso, resultado de uma vida sedentária e do consumo de fumo e álcool. Foi quando, após um mal-estar, Carlos Magno ouviu dos médicos que precisaria de uma cirur-gia cardíaca. A notícia o fez despertar para uma mudança de vida. “Mudei minha ali-

A hipertensão pode ser divi-da em três estágios, definidos pelos níveis de pressão arte-rial. Esses números, somados a condições relacionadas que o paciente venha a ter, como diabetes ou histórico de AVC, determinam se o risco de mor-te cardiovascular do paciente é leve, moderado, alto ou muito alto. Além disso, quanto mais alta a pressão arterial, maior a chance de o paciente usar me-dicamentos.Estágio I: hipertensão acima de 140 por 90 e abaixo que 160 por 100Estágio II: hipertensão acima de 160 por 100 e abaixo de 180 por 110Estágio III: hipertensão acima de 180 por 110.

TIPOS DE HIPERTENSÃO

Popularmente, as propriedades medicinais da janaguba já são

bastante valorizadas

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mentação completamente, nada de gordura. Dieta total. Parei de fumar e cortei a bebi-da. Passei a fazer caminhada e tomei remédios mais fortes e com doses aumentadas. Perdi peso e sou vigilante do que como e da permanência dos bons hábitos adquiridos”, co-memora o empresário.

De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Ris-co e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Tele-fônico – Vigitel 2012, 24,3% da população brasileira têm hipertensão arterial, contra 22,5% em 2006, ano em que foi realizada a primeira pesquisa. Segundo a Orga-

nização Mundial da Saúde, a doença é responsável por 45% dos ataques cardíacos e 51% dos acidentes vasculares cerebrais.

FIQUE POR DENTRO

A hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença caracterizada pela elevação dos níveis tensionais no sangue. É uma síndrome metabólica ge-ralmente acompanhada por outras alterações, como a obe-sidade por exemplo. Hoje, a hipertensão é a principal cau-sa de morte no mundo, pois pode desencadear uma série de outras doenças.

O pesquisador Antonio Carlos Romão Borges investiga os efeitos dos extratos da janaguba e do capim-limão nos

sistemas orgânicos central e cardiovascular

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Quando o seu coração bate, ele contrai e bombeia sangue pelas artérias para o resto do seu corpo. Esta força cria uma pressão sobre as artérias. Isso é chamado de pressão arterial sis-tólica, cujo valor normal é 120 mmHg (milímetro de mercúrio). Uma pressão arterial sistólica de 140 ou mais é considerada hi-pertensão. Há também a pressão arterial diastólica, que indica a pressão nas artérias quando o co-ração está em repouso, entre uma batida e outra. Um número nor-mal de pressão arterial diastólica é inferior a 80, sendo que igual ou superior a 90 é considerada hipertensão.

Os sintomas da hiperten-

são costumam aparecer somente quando a pressão sobe muito. Po-dem ocorrer dores no peito, dor de cabeça, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaça-da e sangramento nasal.

O diagnóstico da doença é feito pela medida da pressão. A forma mais comum é a medida casual, feita no consultório com aparelhos manuais ou automáti-cos. A hipertensão também pode ser diagnosticada por aparelhos que fazem aproximadamente 100 medidas de pressão durante 24 horas.

A hipertensão não tem cura, mas tem tratamento para ser con-trolada. Somente o médico pode-rá determinar o melhor método

para cada paciente, que depende das comorbidades e medidas de pressão. É importante ressaltar que o tratamento para hiperten-são nem sempre significa o uso de medicamentos, mas se estes forem indicados, o paciente deve aderir ao tratamento e continuar a tomá-los mesmo que esteja se sentindo bem. Mas, mesmo para quem faz uso de medicação, é imprescindível mudar o estilo de vida, praticando atividades físi-cas, adotando uma alimentação saudável e eliminando o fumo e o álcool do dia a dia.

CAPIM-LIMÃOÉ uma planta herbácea da família Poaceae, nativa das regiões tropi-

cais da Ásia, especialmente da Índia. Cresce numa moita de rebentos (planta cespitosa), propagando-se por estolhos (por isso chamada de estolonífera), os quais apresentam folhas amplexicaules linear-lanceola-das. As suas inflorescências são constituídas por panículas amareladas.

Possui outros nome populares, como belgate, belgata, chá-de-es-trada, erva-príncipe (em Portugal), chá-do-gabão, capim-cidrão, ca-pim-cidrilho, capim-cidró, capim-santo, capim-de-cheiro, capim da lapa, capim-cheiroso, capim-catinga, patchuli, pachuli, capim-marinho, capim-membeca, palha de camelo, esquenanto e chá de caxinde (em Angola).

JANAGUBA É uma Apocinácia alta com folhas largas e flores em corimbos, ou seja,

uma inflorescência indeterminada, em que as flores saem de pontos dife-rentes da mesma haste ou eixo, mas terminam na mesma altura porque seus pedicelos são de tamanhos diversos.

É uma espécie arbórea que cresce até 7m de altura, com folhagem densa nas extremidades dos ramos. Sua distribuição geográfica vai desde o sudeste do Brasil até a Guiana Francesa, Suriname e Guiana. No Brasil, ocorre nos estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambu-co, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Piauí, Maranhão, Pará e Roraima.

Pesquisa apoiada pelo edital UNIVERSAL/FAPEMA 001/2012, sob protocolo: 527/2012

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CIÊNCIAS DA SAÚDE

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Entre uma das principais vontades femininas está a de ser mãe. O so-nho de gerar filhos e dar continui-

dade à família está presente em boa parte das mulheres. A fisioterapeuta Ana Ca-rolina Costa, 27, está dentro desse grupo de mulheres que mantém esse desejo em comum. “Era o meu maior sonho, mas ele foi interrompido com o diagnóstico médico. Voltei pra casa arrasada e meu maior desafio foi contar ao meu espo-so”. Ana Carolina sofre de um problema considerado comum entre as mulheres em idade reprodutiva (cerca de 10% são afetadas antes da menopausa), a Sín-drome dos Ovários Policísticos (SOP). Segundo estudos, a infertilidade, que é um dos sintomas da doença, pode estar presente em 70% das mulheres com essa

disfunção. E, entre as que já são infér-teis, a SOP pode ser a causa de 30% dos casos.

A dificuldade para engravidar não é a única consequência da SOP. A síndrome é manifesta também pela dificuldade ou até ausência da menstruação (amenor-réia) e pelo hiperandrogenismo (altas ta-xas de hormônios masculinos), por sua vez caracterizado pelo hirsutismo (cresci-mento excessivo de pêlos), acne, alopécia (perda de cabelo) e seborréia. Estudos também confirmam que mulheres com SOP apresentam maior tendência à obe-sidade (cerca de 65% das mulheres com SOP são obesas) e à resistência insulíni-ca, o que poderá acarretar no futuro em diabetes mellitus e doenças cardiovascu-lares. Porém, o mais grave é que cerca de

FemininaOs problemas causados pela Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ultrapassam a disfunção hormonal. Ela pode causar dificuldade para engravidar, diabetes e, até, depressão.

Saúde

Por Ana Carolina NevesFotos Venilson Gusmão e divulgação

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25% de mulheres com SOP são assintomáticas.

A SOP é considerada uma endocrinopatia, ainda com cau-sa desconhecida. No entanto, sua origem pode estar associada a fa-tores genéticos, sendo desencade-ada por fatores ambientais. Como

ainda não foi detectada uma causa para a síndrome, acredita-se que a SOP possa ser uma disfunção mul-tifatorial. Segundo estudos, cerca de 50% das mulheres com essa síndrome têm  excesso de insuli-na no sangue (hiperinsulinismo) e as demais apresentam problemas no hipotálamo, na hipófise,  nas supra-renais e produzem maior quantidade de hormônios mas-culinos.

AVALIANDO OS RISCOSA professora doutora Maria

Bethânia da Costa Chein, gineco-logista ligada à pós-graduação em Saúde Materno-Infantil (PPGS-MIN), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), realiza estudos na área da saúde femini-na e um de seus trabalhos foi a pesquisa Avaliação de marcadores de risco cardiovascular e aspectos nutricionais de mulheres com sín-drome dos ovários policísticos. O es-tudo recebeu apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e contou com a par-ticipação de uma equipe formada por nutricionista e estudantes de medicina e nutrição.

O estudo avaliou mulheres com a síndrome atendidas no Hospital Universitário da Uni-versidade Federal do Maranhão. Foi avaliado se essas mulheres já apresentavam alguns sinalizado-res de doenças cardiovasculares ou obesidade. Tudo isso, para possibilitar o tratamento preven-tivo. Na ocasião, foram realizados os exames para detectar as taxas de colesterol e triglicerídeos (per-fil lipídico), assim como exames antropométricos para aferir me-didas de peso, altura e circunfe-

rência da cintura.As pacientes que participaram

do projeto tinham em média 26 anos. De acordo com os exames realizados, foi observado que o IMC (índice de massa corporal) das mulheres avaliadas era pro-porcional à presença de marcado-res de risco cardiovascular. “Esses sinalizadores de doenças cardíacas foram constatados em maior es-cala nas mulheres obesas. Para al-guns estudiosos, ainda não há um consenso se a doença é que provo-ca o aumento de peso ou se esse aumento é que intensifica os sin-tomas da síndrome. Mas, de qual-quer forma, o que foi verificado é

A Síndrome do Ovário Policístico foi descrita pela primeira vez em 1935 por Stein e Leventhal, que fize-ram uma associação entre amenorréia, hirsutismo e obesidade com ovários de aspecto policístico, através de critérios estritamente ana-tômicos. Atualmente, o diag-nóstico da SOP pode ser obtido através dos critérios de Rotterdam, que a define na presença de dois dos três seguintes critérios: oligo e/ou anovulação; hiperandro-genismo clínico ou labora-torial; ovários com aspectos policísticos a ultrassom (12 ou mais folículos medindo entre 2-9 mm de diâmetro ou volume ovariano aumentado >10 cm3). Devem-se, ainda, excluir outras causas de irre-gularidade menstrual e hipe-randrogenismo, tais como: hiperprolactinemia, hipoti-reoidismo, hipertireoidismo, síndrome de Cushing, for-mas não clássicas das hiper-plasias adrenais congênitas e neoplasias secretoras de andrógenos.

Saiba Mais

A ginecologista Maria Bethânia da Costa Chein avalia, em sua

pesquisa, os marcadores de risco cardiovascular e os aspectos

nutricionais de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos.

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que a obesidade é um fator agra-vante para a SOP”, conta Maria Bethânia Chein.

A obesidade é um estado de morbidez nutricional, medida pelo IMC e avaliação da gordura corpo-ral. Em relação à SOP, a obesidade é vista como um fator agravante para a doença e pode estar fre-quentemente associada à hiperin-sulinemia (elevação da insulina na corrente sanguínea). Por isso, nesse estudo foram avaliadas as caracte-rísticas nutricionais das pacientes, mostrando que a má nutrição tem ligação direta com o agravamento do distúrbio.

Para a nutricionista Rosângela Maria Lopes de Sousa, integrante da equipe, as mulheres com SOP devem manter uma alimentação

regrada aliada à prática de ativi-dades físicas para que a manifes-tação de doenças cardiovasculares e a obesidade sejam prevenidas. “Com atenção à nutrição associa-da à atividade física, esses eventos podem ser evitados ou controlados quando já diagnosticados, o que é essencial para garantir a qualidade de vida das pacientes”, garante.

Ainda segundo Rosângela Sou-sa, essas mulheres devem ter cui-dado nas escolhas dos alimentos. “Deve ser realizada a vigília cons-tante do peso com a adoção de uma dieta rica em fibras com consumo de frutas e hortaliças, além de evi-tar o excesso de proteína e gordu-ras saturadas, dando preferência às oleaginosas (castanhas, avelãs, no-zes etc), preparações cozidas, en-

sopadas, utilizando óleo de canola e azeite de oliva extra-virgem, em pequenas quantidades, ao final da preparação”. A nutricionista orien-ta, ainda, as pacientes a consumi-rem entre 5 e 6 refeições em média por dia, com intervalos de mais ou menos 3 horas. “Isso irá manter a glicemia estável e vai fazer com que o corpo tenha uma resposta de in-sulina mais constante, melhorando e evitando futuros problemas asso-ciados à síndrome”.

Em curto prazo, um dos sin-tomas mais frequentes da SOP é a dificuldade para ovular (anovu-lação) que acaba causando a difi-culdade de engravidar. E, na busca para conseguir ser mãe, depois de já ter perdido as esperanças pelo diagnóstico inicial, Ana Carolina

Luciane Maria Oliveira Brito investiga as manifestações psíquicas, como ansiedade e depressão, em mulheres com Síndrome de Ovários Policísticos.

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Costa, incentivada pelo esposo, decidiu buscar outra opinião mé-dica. Foi aí que ela se deparou com novas chances de engravidar de forma natural.

Depois de algumas tentativas seguindo ao tratamento com medi-camentos especializados, e após ter quase decidido pela inseminação artificial, ela conseguiu engravidar de forma natural. “Eu e meu espo-so percebemos que a inseminação seria o mais certo a fazer, mas não tínhamos condições financeiras pra isso. Mesmo assim, marcamos uma consulta com um médico es-pecialista em inseminação. No mês em que a consulta estava marcada, descobrimos que estávamos grávi-dos. Nossa filha é nosso milagre”, comemorou Ana Carolina.

Mas, durante a gestação, Ana Carolina enfrentou altos níveis de ansiedade e procurou, também, trabalhar seu estado emocional. “Comecei a me perguntar por que não havia identificado esse proble-ma antes do casamento, isso teria evitado grande parte da nossa an-siedade e do nosso sofrimento”, declarou.

BARREIRA EMOCIONALOs pensamentos que passaram

pela cabeça de Ana Carolina são comuns entre as mulheres que so-frem com a Síndrome do Ovário Policístico. A assistente social Sa-mira Martins, 26, também diag-nosticada com SOP, tem sofrido algumas pressões psicológicas por causa dos sintomas. “A minha

menstruação é totalmente irre-gular. Já passei muitos meses sem menstruar. Às vezes, vem aquele pensamento: será que eu vou con-seguir ser mãe? Ou então fico mui-to incomodada e envergonhada por causa dos pêlos no meu cor-po”, confessa.

Para estudar os aspectos psí-quicos nas mulheres com SOP, a professora doutora e ginecologis-ta Luciane Maria Oliveira Brito, também da pós-graduação em Saúde Materno-Infantil (PPGS-MIN) da UFMA, está desenvol-vendo a pesquisa Manifestações psíquicas: ansiedade e depressão em mulheres com síndrome de ovários policísticos.

A pesquisadora conta que, em geral, as mulheres com a

Ana Carolina viu seu sonho de ser mãe ameaçado após o diagnóstico que detectou a Síndrome dos Ovários Policísticos. Após o tratamento, no entanto, ela conseguiu engravidar e hoje curte bastante a filha Natalie.

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SOP têm uma maior tendência a desenvolver doenças psicológicas pelos sintomas que a síndrome acarreta. Segundo ela, há alguns casos em que o próprio parceiro não colabora, criticando a mulher pelos traços físicos herdados por causa da síndrome. “Em geral, as mulheres com SOP aumentam de peso, ficam obesas, podem apresentar sinais de masculinida-de, como o hirsutismo (aumento da quantidade de pêlos), causa-do pelo hiperandrogenismo. Esse conjunto de sinais e sintomas aca-ba por interferir na qualidade de

vida ao desencadear um aspecto negativo quanto a sua aparência. Algumas vezes, os parceiros come-çam a não aceitar essa mudança de biótipo o que, em associação com a dificuldade para engravidar, re-sulta em grande ansiedade. Além da ansiedade, a situação pode também desencadear depressão”, explica Luciane Brito.

O quadro de ansiedade em que algumas pacientes se encontram pode servir como complicador ao tratamento. Segundo a pesqui-sadora, as várias transformações hormonais que geram consequ-

ências físicas em mulheres com SOP não devem ser desassociadas de uma alteração psicoemocional, ou seja, é essencial manter o tra-tamento físico aliado ao controle da mente. Por isso, seu trabalho se propôs a compreender o que essas pacientes vivenciam diariamente, visando proporcioná-las uma me-lhor resposta ao tratamento físico já realizado. “Elas têm que aliar a terapêutica convencional, junto ao ginecologista, cardiologista e nutricionista, com o controle de sua mente, evitando que a ansie-dade caudada pelo seu estado seja

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O tratamento da Síndrome do Ovário Po-licístico depende dos sintomas que a mulher apresenta e do que ela pretende. Cabe ao médico e à paciente, a avaliação do melhor tratamento, mas, para isso, é fundamental questionar se a paciente pretende engravidar ou não.

Os principais tratamentos são:Anticoncepcionais orais - Não havendo

desejo de engravidar, grande parte das mu-lheres se beneficia com tratamento à base de anticoncepcionais orais. A pílula melhora os sintomas de aumento de pelos, apareci-mento de espinhas, irregularidade menstrual e cólicas. Não há uma pílula específica para o controle dos sintomas. Existem pílulas que têm um efeito melhor sobre a acne, espinhas e pele oleosa. Mulheres que não podem to-mar a pílula se beneficiam de tratamentos à base de progesterona.

Cirurgia - Cada vez mais, os métodos ci-rúrgicos para essa síndrome têm sido aban-donados em função da eficiência do trata-mento com anticoncepcionais orais.

Antidiabetogênicos orais - Estando a síndrome dos ovários policísticos associada à resistência insulínica, um dos tratamentos disponíveis é por meio de medicamentos para diabetes.

Dieta e atividade física – Essas pacien-tes devem ser orientadas em relação à dieta e atividade física, simultaneamente com as medidas terapêuticas.

Indução da ovulação - Se a paciente pretende engravidar, o médico lhe recomen-dará tratamento de indução da ovulação, não sem antes afastar as outras possibilidades de causas de infertilidade. Não se deve fazer esse tratamento em mulheres que não este-jam realmente tentando engravidar.

Fonte: Dr. Sergio dos Passos Ramos (www.gineco.com.br)

mais um agravante ao problema”, defende.A partir do tratamento, realizado por meio

desse projeto de extensão e também executado com o apoio da FAPEMA, muitas pacientes vivenciaram a melhora de seu quadro. “Muitas mulheres que diminuíram a ansiedade já con-seguiram perder peso e até mesmo engravidar. Nosso principal objetivo com esse trabalho foi proporcionar uma melhor qualidade de vida a essas pacientes”, afirma Luciane Brito.

Samira Martins ainda mantém o sonho de ser mãe. Ela conta que, desde muito jovem, sua menstruação já era irregular, o que motivou, na época, sua mãe a buscar auxílio médico. Foi então que veio o diagnóstico da Síndro-me de Ovário Policístico e, a partir daí, ainda adolescente, o início do tratamento à base de anticoncepcionais. “Eu tinha apenas 13 anos e não entendia muito bem. Mas depois fui en-tendendo o problema e fui ficando com medo de não conseguir engravidar”, lembra.

A assistente social conta que não fez o tra-tamento de forma regular, mas que hoje pre-tende retomá-lo. “Esse não é um problema muito simples. Sei que preciso continuar o tratamento, até porque penso em engravidar daqui a dois anos”, revela. Além da menstrua-ção irregular, ainda com 19 anos, a assistente social chegou a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), que, felizmente, não deixou sequelas.

“Mulheres que sofrem com a SOP tem maior probabilidade a desenvolver doenças cardiovasculares (infartos, arritmias, AVC)”, alerta a ginecologista Maria Bethânia Chein.

Mulheres com SOP enfrentam algumas complicações em decorrência da síndrome. No entanto, é importante destacar que há um tratamento para que essas mulheres tenham uma melhor qualidade de vida. Para isso, é fundamental buscar auxílio médico e manter os cuidados necessários com a alimentação e a prática saudável de atividades físicas. Manter a mente equilibrada também ajuda a alcançar bons resultados.

Tratamentos e cuidados

Pesquisa apoiada pelo edital UNIVERSAL/FAPEMA 004/2010, sob protocolo: 1239/2010 e AEXT/FAPEMA 010/2010, sob protocolo: 788/2010

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Engana-se quem pensa que os alimentos ricos em fibras tem apenas a função de regular o trânsito intestinal. Estudos revelam que seus benefícios vão do controle de peso até redução dos níveis de colesterol e glicose no sangue.

Acordar, preparar o café da manhã, levar os filhos à es-cola, ir ao trabalho, fazer al-

moço, cuidar da casa, ajudar na lição de casa das crianças, levá-las à natação, botá-las para dormir, terminar a apresentação para a reunião no trabalho na manhã seguinte e, se houver disposição, fazer uns minutinhos de esteira antes de dormir.

Essa rotina acelerada está cada vez mais comum na vida dos brasileiros, que precisam se desdobrar para dar conta de to-das as tarefas que não podem fi-car para o dia seguinte. Na maior

parte das vezes, o tempo aperta-do faz com que o cuidado com a alimentação seja o primeiro a ser sacrificado, afinal é muito mais prático comer um lanche na rua ou, em casa mesmo, enquanto dá banho nas crianças, colocar uma comida processada no micro--ondas.

O brasileiro, povo mundial-mente conhecido pelo cuidado com o corpo, ainda deixa a dese-jar quando o assunto é alimenta-ção saudável, principalmente no que diz respeito ao consumo de fibras. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um

Por Priscila CardosoFotos Priscila Cardoso e divulgação

O poder das fibras alimentares

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adulto deve ingerir, no mínimo, 25g de fibras alimentares diárias. A realidade, no entanto, é bem di-ferente. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE entre 2008 e 2009, 68% dos brasileiros não se-gue essa recomendação.

POR QUE AS FIBRAS ALIMENTARES SÃO INDISPENSÁVEIS?

As fibras alimentares são com-ponentes comestíveis dos vegetais, grãos e frutas que são resistentes à digestão e absorção no intestino delgado humano, passando quase que intactas pelo sistema digesti-

vo e sendo eliminadas pelas fezes, com os movimentos intestinais.

Nesse percurso, elas ajudam a regular o funcionamento do or-ganismo. Seu benefício mais co-nhecido é a regulação intestinal, já que as fibras auxiliam todas as outras substâncias alimentares a moverem-se através do sistema di-gestivo de maneira adequada. Sem fibra suficiente, o processo diges-tivo pode ficar lento, culminando em uma constipação intestinal, sintoma caracterizado por fezes ex-cessivamente duras e pequenas, eli-minadas infrequentemente ou sob excessivo esforço durante a evacu-ação e que podem causar distensão abdominal, cólicas e até alterações de humor.

Segundo a nutricionista Bruna Cruz Magalhães, os benefícios da fibra ultrapassam essa visão sim-plista. “Além de melhorar o trân-sito intestinal, as fibras alimentares dão uma sensação de saciedade, ajudam a manter o peso corporal e a prevenir doenças como câncer de cólon, diabetes e várias outras relacionadas ao coração e aos va-sos sanguíneos. O curioso é que, quanto mais as fibras são estuda-das, mais benefícios são descober-tos”, explica.

Esta foi uma das descobertas da jornalista Tássia Souza. Por causa da constipação intestinal, aparece-ram fissuras anais. O tratamento, à base de pomada e dieta rica em fibras, não só acabou com a prisão

Fibras solúveis:

A fração solúvel das fibras traz benefícios à saúde, porque apresenta efeito metabólico no trato gastrin-testinal, retarda o esvaziamento gástrico e o tempo do trânsito intestinal, diminui a absorção de glicose e colesterol e protege contra o câncer colorretal. São as pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemice-luloses (aveia, farinha de aveia, feijões, ervilhas, fru-tas cítricas, maçãs, morangos, framboesas).

Fibras insolúveis:

Fazem parte da estrutura das células vegetais e são encontradas em todos os tipos de substância vegetal. Constitui uma parte muito pequena da die-ta (1g/dia) e ocorre principalmente em frutos com casca comestível e sementes. Não se dissolvem na água, aumentam o bolo fecal, aceleram o tempo de trânsito intestinal pela absorção de água, melho-rando a constipação intestinal, anulando o risco de aparecimento de hemorroidas e diverticulites (infla-mação da parede do intestino). São fibras insolúveis a celulose e algumas hemiceluloses (pães integrais, cereais, cenouras, couves, casca de maçã).

TIPOS DE FIBRAS

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de ventre, mas diminuiu o coles-terol. “Comecei a consumir uma colher de linhaça dourada du-rante o almoço e, já na primei-ra semana, notei a diferença. As fezes não me machucavam mais e conseguia ir ao banheiro todos os dias. A cicatrização aconteceu mais pela dieta que pelo remé-dio. Além disso, eu tomava uma medicação a cada seis meses para controlar o colesterol, mas, de-pois da dieta, nunca mais preci-sei”, assegura Tássia, garantindo que, mesmo depois do problema controlado, não abandonou os novos hábitos alimentares.

De acordo com Bruna Maga-lhães, a influência do consumo adequado de fibras no controle do colesterol tipo LDL sérico (lipoproteína de baixa densida-de, o chamado colesterol ruim) acontece devido à ligação das fibras aos ácidos biliares, dimi-nuindo o poder de reabsorção desse colesterol. Assim, as fibras são excretadas nas fezes, dimi-nuindo a quantidade de ácidos biliares no ciclo intestino-fígado. “Alguns estudiosos defendem também que a absorção de água

pelos diferentes tipos de fibras produz uma diluição que altera a digestão e absorção das gorduras. Outros pesquisadores acreditam, ainda, que a ingestão de fibras gera um aumento da água nas fezes, o que também contribui para a maior diluição do conteú-do fecal e consequente alteração na digestão e absorção das gor-duras”, explica a nutricionista.

A mudança de hábitos, no entanto, não é fácil. A funcio-nária pública Juliana de Jesus conta que, desde criança, sofre com o desconforto causado pela constipação intestinal. “Lembro que, quando tinha entre oito e dez anos, chorava para ir ao ba-nheiro. Chegava a ficar quatro dias com prisão de ventre. Cresci achando que isso era normal, até

- Estimulam a mastigação e, assim, a secreção da saliva e suco gástrico

- Enchem o estômago propor-cionando uma sensação de sacie-dade

- Promovem regulação do tem-po de trânsito intestinal, atrasando o esvaziamento gástrico, tornando mais lento a digestão e absorção

- No cólon, devido a sua capa-cidade de absorver água, forma fezes volumosas e macias, auxi-liando na prevenção do câncer de cólon

- São substratos para fermen-tação por colônias de bactérias

- Atuam no metabolismo dos carboidratos no controle da glice-mia formando um gel (pectina e goma) no intestino tornando mais lento a velocidade na qual a glico-se entra na corrente sanguínea

- Na absorção e na regulação de lipídios sanguíneos, as fibras insolúveis se ligam aos sais bi-liares e reduzem a absorção das gorduras e colesterol. As fibras so-lúveis diminuem especificamente o colesterol LDL

- São substratos para forma-ção de ácidos graxos de cadeia curta

- Auxiliam no controle de peso e na prevenção da obesidade

FUNÇÕES DAS FIBRAS ALIMENTARES NO ORGANISMO

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que começaram as complicações, como hemorroidas e sangramentos”.

Em visita ao proctologista, Juliana foi alertada de que o tratamento só seria possível caso ela mudasse seus hábitos ali-mentares e incluísse mais fibras na dieta. “Já iniciei a dieta várias vezes, diminuindo o consumo de café e carboidrato simples e ingerindo mais água, proteínas e grãos intergrais. No entanto, quando melho-ro, interrompo a dieta e os sintomas logo retornam”, conta a funcionária pública, confessando que a falta de disciplina é a principal responsável para que ela não mude de atitude definitivamente. “Sei que preciso enfrentar o problema, mas sempre acabo adiando”.

A nutricionista Bruna Magalhães conta que aproximadamente 95% dos pacientes que chegam ao seu consultório apresentam o mesmo perfil de Juliana, reclamando de constipação intestinal e relatando um bai-xo consumo de frutas, verduras e água. “A resistência às frutas e aos vegetais folhosos ainda é grande. Sempre oriento que os pa-cientes ingiram os alimentos como se fosse um remédio, um tratamento que eles têm que seguir para o resto da vida”, ensina.

Fibra sem água não funcionaPara que o consumo de fibras alimentares tenha o efeito esperado, é fundamental a

ingestão de uma grande quantidade de água. As fibras solúveis precisam de líquido para formar o gel que aumenta a saciedade e diminui o colesterol. Sem água, as fibras entram e saem sem fazer qualquer efeito positivo. Pelo contrário, as fibras serão responsáveis pela formação de uma massa fecal dura e seca. Dessa forma, em vez de melhorar o trân-sito intestinal, as fibras causarão um verdadeiro congestionamento.

Otimize o efeito das fibrasPara se beneficiar de todos os efeitos da fibra alimentar é importante variar as suas

fontes de origem na dieta. A alimentação rica em frutas (principalmente com bagaço e casca), vegetais folhosos, legumes, grãos e cereais integrais não só fornecem fibra ali-mentar, como também nutrientes e outros componentes dos alimentos essenciais para a saúde.

A nutricionista Bruna Cruz Magalhães afirma que as fibras alimentares além de melhorar o trânsito intestinal,

ajudam a prevenir doenças como câncer de cólon, diabetes, obesidade e várias outras relacionadas ao coração

FICA A DICA

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Revista Inovação nº 23 / 2014 53

E COMO ANDA O CONSUMO DE FIBRAS EM SÃO LUÍS?

Ciente da dificuldade da po-pulação brasileira de consumir a quantidade de fibras recomen-dada, a nutricionista e doutora em Saúde Coletiva Nayra Anielly Lima Cabral coordenou a pesqui-sa O consumo de fibras alimentares em população adulta de São Luís, a fim de investigar os hábitos ali-mentares dos ludovicenses. “Acre-ditávamos que, em São Luís, onde alimentos ricos em fibras fazem parte da culinária local, como a ju-çara, a vinagreira e o joão-gomes, as estatísticas seriam diferentes das do resto do Brasil”, explica.

O levantamento utilizou um questionário que avaliou caracte-rísticas socioeconômicas, grau de instrução e o consumo de fibras dos entrevistados. Ao todo, foram ouvidas 150 pessoas que partici-param como voluntárias. Dentre elas, 61% eram mulheres, 32% tinham idade entre 41 e 50 anos, mais de 50% possuíam ensino mé-dio completo e 24% pertenciam à classe C1 (com renda média fami-liar de R$ 1.195).

O resultado do estudo apon-tou que o consumo total de fibras apresentou uma diferença signifi-

cativa de acordo com o sexo, a ida-de, a escolaridade e a classificação econômica dos entrevistados. Para a pesquisadora, as conclusões do trabalho surpreenderam: apenas 25% da amostra consome a quan-tidade de fibras desejável (mais que 30g por dia). “Os resultados mos-traram que 40% dos entrevistados ingerem uma quantidade razoável, mas ainda insatisfatória (de 20 a 29g por dia) e 35% fazem uso de uma alimentação pobre em fibras

(menos de 20g diárias). A maior parte dos participantes da pesquisa prioriza o arroz polido e a farinha de mandioca em detrimento dos grãos integrais”, detalha Nayra Ca-bral.

Os resultados da pesquisa per-mitiram concluir que os hábitos de consumo de uma dieta rica em fibras parecem estar associados às condições socioeconômicas e demográficas de uma população adulta. “O consumo desejável de fibras foi mais frequente entre mu-lheres, indivíduos de 41 a 50 anos, com ensino superior e pertencen-tes à classe econômica B2 (com renda média familiar de R$ 2.013) com diferença significativa”, acres-centa a pesquisadora.

Nayra Cabral acredita que os resultados são fruto da falta de co-nhecimento sobre a dimensão do quanto a alimentação é importante para o organismo como um todo. “Mesmo ainda estando longe do ideal, acredito que essa mentalida-de está começando a mudar. Hoje

A doutora em Saúde Coletiva, Nayra Anielly Lima Cabral, coordenou a pesquisa que diagnosticou que a população de São Luís não consome

a quantidade recomendada de fibras alimentares

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54 Revista Inovação nº 23 / 2014

ALIMENTOSQUANTIDADE DE FIBRAS EM CADA 100g

Farelo de cereais 33,00g

Coco fresco 19,00g

Maracujá 16,90g

Gérmen de trigo 14,00g

Ameixa preta 11,90g

Amêndoa com casca 8,80g

Uva passa 8,70g

Damasco seco 8,10g

Linhaça 7,80g

Flocos de aveia 6,40g

Repolho 6,30g

Gergelim 5,30g

Cevada torrada 5,30g

Goiaba 5,30g

Arroz integral 5,20g

Quinua 5,00g

Feijão-fradinho 4,90g

Ervilha 4,70g

Soja 4,20g

Pão centeio 4,00g

Pão integral 3.96g

Batata doce 3,90g

Fava 3,80g

Quiabo 3,60g

Laranja 3,40g

Lentilha 3,20g

Mamão 3,00g

Grão de bico 3,00g

Brócolis 2,96g

Milho verde 2,88g

Maçã 2,60g

Vagem 2,54g

Berinjela 2,51g

Beterraba 2,24g

Chuchu 2,10g

Couve-flor 2,05g

Batata inglesa 1,90g

Mandioca 1,60g

Cenoura 1,54g

Pesquisa apoiada pelo edital UNIVERSAL/FAPEMA 001/2012, sob protocolo: 552/2012

observamos a mídia exploran-do diariamente esse assunto e passamos a receber uma quan-tidade de pacientes muito maior nos consultórios. Além disso, os outros profissionais da saúde também desperta-ram para a importância do papel do nutricionista, já que a medicação geralmente tem que ser aliada a outra tera-pia, como a dietoterapia, por exemplo, que é o tratamento através dos alimentos”, revela.

Para Bruna Magalhães, é necessário encorajar o consu-mo de fibras entre a população de São Luís, com ênfase na promoção de políticas dirigi-das para estimular a ingestão de frutas, verduras e cereais integrais. “É fundamental a presença de nutricionistas atu-ando na saúde coletiva, dando orientações sobre a prevenção de patologias. Para isso, um passo importante seria a in-serção desses profissionais em todos os Núcleos de Apoio de Saúde da Família (NASFs),

equipes multiprofissionais que tem como objetivo apoiar a consolidação da Atenção Bá-sica no Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a reso-lutividade, a abrangência e o alvo das ações”, conclui a nu-tricionista.

O estudo, idealizado pe-las nutricionistas Bruna Cruz Magalhães e Nayra Anielly Lima Cabral, recebeu apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao De-senvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e contou com a colaboração das também nu-tricionistas Emmanuelle Elky Costa Castro, Helma Jane Ferreira Veloso e Elane Viana Hortegal na coleta dos dados, análise estatística e revisão do trabalho.

O maracujá é uma boa fonte de fibra alimentar. A fibra do fruto ajuda a remover o colesterol do corpo. A fibra dietética

insolúvel, também age como um laxante de volume, ajudando a proteger a membrana mucosa do cólon, diminuindo o tempo

de exposição a substâncias tóxicas no cólon, bem como a ligação a substâncias cancerígenas no cólon.

ALIMENTOS RICOS EM

Fibras

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Objetivo: Proteger os sinais que individualizam os produtos e serviços de outros iguais ou semelhantes de uma determinada empresa distinguindo-os de seus concorrentes.

Objetivo: Proteger o aspecto ornamental ou estético de um objeto. Pode consistir de características tridimensionais, como a forma ou a superfície do objeto, ou de características bidimensionais, como padrões, linhas ou cores.

Objetivo: Proteger uma invenção e garantir ao titular os direitos exclusivos para usar sua invenção por um período limitado de tempo, sendo invenção definida como uma nova solução para um problema técnico.

Objetivo: Proteger a qualidade e reputação dos produtos, vinculando qualquer expressão ou sinal utilizado para indicar a origem do produto (uma região, lugar específico ou, excepcionalmente, um país).

Objetivo: Proteger todas as obras do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o modo ou a forma de expressão.

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DE 13 A 19 OUTUBRO

CIÊNCIA E TECNOLOGIA PARAO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

SEMANA NACIONAL DE

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

2014

5ªMostraCientífica do Maranhão