SARNA SARCÓPTICA: REVISÃO DE LITERATURA

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO BEATRIZ DE SOUZA KERN SARNA SARCÓPTICA: REVISÃO DE LITERATURA PORTO ALEGRE 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

BEATRIZ DE SOUZA KERN

SARNA SARCÓPTICA: REVISÃO DE LITERATURA

PORTO ALEGRE

2012

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BEATRIZ DE SOUZA KERN

SARNA SARCÓPTICA: REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências

Animais da Universidade Federal Rural

do Semi-Árido – UFERSA, para conclusão da Pós-

Gaduação em Clínica Médica e Cirúrgica de

Pequenos Animais.

Orientador: Prof. M.Sc. Cristiano Silva da Rosa -

UFPel

PORTO ALEGRE- RS

2012

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força infinita e a todo o Universo por conspirar a meu favor;

Aos meus filhos, Isabella e Arthur, minhas eternas fontes de amor, por

compreenderem a minha ausência e por serem tão maravilhosos;

Ao meu marido, Mateus pelo incentivo e por estar sempre ao meu lado me apoiando;

A toda a minha família, especialmente a minha mãe Eliane, as minhas irmãs Cristina

e Luíza e a minha avó Edy, pela união e amor que há entre nós;

Aos meus amigos, Jorge Sallaberry e Vanessa Roveda, por acreditarem em mim e pela

oportunidade que me deram de crescer. Vanessa, obrigada de coração!

A minha amiga Eliza, pela nossa eterna amizade e cumplicidade;

A todos que me receberam nas suas casas em Porto Alegre durante esses dois últimos

anos, especialmente a Tamarini, obrigada pelas portas abertas;

Ao meu orientador, Cristiano, pela sua sabedoria e contribuição para a realização

deste trabalho;

A todos que de alguma forma, me ajudaram na conclusão deste curso.

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RESUMO

A sarna sarcóptica ou escabiose canina é uma dermatose parasitária, causada pelo ácaro

Sarcoptes scabiei var. canis pertencente à família Sarcoptidae. Dentre as enfermidades

tegumentares que acometem os cães, a sarna sarcóptica é de extrema importância, não só pelo

número de ocorrência, mas principalmente pelo seu potencial zoonótico. É uma doença

cosmopolita, não sazonal e altamente contagiosa. Causa intenso prurido e desconforto ao

animal e gera muitas vezes constrangimento e vergonha por parte do proprietário, por ser uma

doença estigmatizada pela população. A melhora no aspecto clínico do animal é visível alguns

dias após o início do tratamento, porém deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras

dermatopatias pruriginosas, principalmente as dermatites alérgicas. Esta revisão de literatura

aborda a perspectiva clínica da sarna sarcóptica no Brasil.

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ABSTRACT

The mange or canine scabies is a parasitic skin condition caused by the mite Sarcoptes scabiei

var. canis belonging to the Sarcoptidae family. Among the diseases that affect the

integumentary dogs, mange is extremely important, not only by the number of events, but

mainly for their zoonotic potential. It is a cosmopolitan disease, non-seasonal and highly

contagious. Causes intense itching and discomfort to the animal and often causes constraint

and shame for the owner, is a disease stigmatized by the population. The improvement in the

clinical aspect of the animal is visible a few days after starting treatment, but should be made

the differential diagnosis of other pruritic skin diseases, especially allergic dermatitis. This

literature review addresses the clinical perspective of sarcoptic mange in Brazil.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Canino sem raça definida apresentando lesões causadas pela Sarna Sarcóptica

(Foto: arquivo pessoal). ....................................................................................................... 12

Figura 2 - Crostas, alopecia e liquenificação nas patas e região ventral do abdômen

(Foto: arquivo pessoal). ....................................................................................................... 12

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 08

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 09

2.1 ETIOLOGIA .................................................................................................................. 09

2.2 PATOGENIA ................................................................................................................ 09

2.3 SINAIS CLÍNICOS ....................................................................................................... 11

2.4 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 13

2.5 TRATAMENTO ............................................................................................................ 14

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 17

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1 INTRODUÇÃO

A pele é o maior órgão do corpo e funciona como uma barreira entre o animal e o

meio ambiente, fornecendo proteção contra lesão física, química e microbiológica; é formada

pela epiderme, derme e hipoderme (FARIAS, 2007).

As dermatopatias podem ser causadas por uma série de fatores, dentre eles as

infecções parasitárias causadas por carrapatos, pulgas, miíases, piolhos, ácaros, entre outros

(WHITE; KWOCHKA, 2003). Estas são enfermidades cosmopolitas que representam

aproximadamente 30% do total de casos atendidos em hospitais e clínicas veterinárias de

animais de companhia (GAMITO, 2008).

Ectoparasitose é um diagnóstico diferencial para todos os pacientes veterinários que

apresentam uma causa primária ou sinais clínicos sugestivos de prurido (PINCHBECK;

HILLIER, 2008). Prurido é uma das queixas mais comuns dos proprietários na clínica de

pequenos animais e pode ser subjetivamente definido como a sensação que promove o desejo

de coçar, ou a sensação incômoda de irritação na pele (IHRKE, 1997).

A sarna sarcóptica, também chamada de escabiose, é uma designação relacionada a

um tipo de doença e muito frequente na pele do animal, caracterizando-se como uma

dermatose ocasionada pela presença de ácaros. A infestação manifesta-se com prurido intenso

na pele, formando crostas hemorrágicas, perda de pêlos e provocando o aparecimento de

feridas (PICCININ et al., 2008).

O objetivo deste trabalho é revisar a literatura acerca da escabiose canina no Brasil.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ETIOLOGIA

A sarna sarcóptica é causada por diferentes variedades de Sarcoptes scabiei, que

recebem a denominação conforme o hospedeiro que estão parasitando (RIET-CORREA et al.,

2007). Em cães é causada pelo Sarcoptes scabiei var. canis. É uma dermatite altamente

contagiosa, não-sazonal, embora com característica razoavelmente hospedeiro-específica, o

ácaro pode infectar gatos, raposas e humanos (PINCHBECK; HILLIER, 2008).

O S. scabiei var. canis é um parasita obrigatório e completa todo o seu ciclo vital, em

torno de 3 semanas, no hospedeiro (NOLI, 2002).

O ácaro adulto é microscópico, com formato grosseiramente circular. É caracterizado

por dois pares de membros curtos na posição anterior, que exibem suportes não-articulados

com sugadores, e dois pares de membros posteriores rudimentares, que não se estendem além

da margem do corpo (PINCHBECK; HILLIER, 2008).

2.2 PATOGENIA

Os ácaros são atraídos pelo odor e por estímulos térmicos do hospedeiro. Quando uma

fêmea fertilizada encontra uma área satisfatória na pele, ela cava uma galeria no extrato

córneo, no qual se alimenta e deposita seus ovos. Os ovos eclodem e as larvas se movem para

a superfície, onde ocorre a muda para ninfa e adulto. A cópula ocorre na superfície ou nos

túneis da pele. Os ovos se desenvolvem até adultos em 10 a 21 dias (BRUM et al., 2007).

Durante a escavação, as fêmeas ficam aderidas no hospedeiro através de suas

ventosas, sabendo-se que as fêmeas percorrem de 0,5 a 5 mm diariamente onde permanecem e

não saem. Cada fêmea põe dois ovos por dia, onde em temperaturas elevadas suas atividades

aumentam. O período de incubação dura três dias e de cada ovo eclode uma larva hexápode

(seis pernas), que permanece fazendo galerias na pele do animal. Essa larva passa por duas

etapas antes de se transformar em ninfa (protoninfa e tritoninfa), e nove dias após a eclosão

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surge a ninfa octópode (oito patas), e seguido dois dias, as ninfas transformam-se em adultos

(GUIMARÃES et al., 2001).

Os machos saem de sua galeria e vão até a superfície atrás das fêmeas púberes, sendo

que, logo após o acasalamento estes morrem. O ciclo evolutivo do ovo da fêmea envolve de

dez a quatorze dias e esses parasitos alimentam-se de queratina e líquido do tecido do cão,

denominado linfa, conforme citam Guimarães et al. (2001).

Como os machos morrem após o acasalamento, a sarna sarcóptica é dispersada

principalmente pelas fêmeas fecundadas (GAMITO, 2009). Embora os ácaros da escabiose

vivam em camadas superficiais da pele, o antígeno desses ácaros pode alcançar a epiderme e a

derme e induzir uma resposta imune celular e humoral (PINCHBECK; HILLIER, 2008).

Muitos cães, desenvolvem uma reação de hipersensibilidade aos antígenos de S.

scabiei, sendo que a presença de 10 a 15 ácaros é suficiente para originar sinais clínicos

severos num indivíduo hipersensível. Os ácaros, seus resíduos e excrementos são os

responsáveis pelas reações de hipersensibilidade que levam ao prurido (FOURIE et al., 2007).

A escabiose é altamente contagiosa e transmitida principalmente por contato direto

com um animal infectado. Pode haver transmissão por fômites e pele infectada de animais por

meio de contato com material de higienização ou em canis (PINCHBECK; HILLIER, 2008).

Segundo Wall; Shearer (2001) a doença geralmente atinge animais mais debilitados e seu

período de incubação é de uma a duas semanas no cão.

Tal patogenia ocorre principalmente em cães com menos de um ano de idade, mas não

se pode descartar o envolvimento de fatores imunológicos e não há predisposição sexual ou

racial (GRIFFIN, 1993; BRUM, 2007).

Porém, em uma pesquisa feita pelo Serviço de Dermatologia do Departamento de

Clínica Médica (VCM) e do Hospital Veterinário (HOVET) da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), no período de abril de

1984 a dezembro de 2002, constatou-se que a escabiose é mais frequente entre os machos.

Houve predisposição em animais com idade igual ou menor que doze meses e naqueles com

raça definida, principalmente o poodle, o cocker spaniel e o pastor alemão. Os cães de pelame

longo foram os mais infectados e inexistiu predisposição à ocorrência de sarna relativa

à sazonalidade (CASTRO et al., 2005). Para Móran (1997) em uma análise ao longo das

quatro estações do ano, em números absolutos, observou-se uma incidência maior embora

discreta, nos meses de inverno.

O carácter zoonótico deste agente originou muita controvérsia na comunidade

científica. Alguns autores defendem que a infecção nos humanos por S. scabiei var. canis é

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transitória e auto-limitante, durando apenas alguns dias, pois consideram que não há

evidências de que o ácaro consiga multiplicar-se neste hospedeiro (apud GAMITO, 2009).

Contudo, a maioria dos médicos veterinários não concorda com esta opinião, dado que a sua

experiência clínica lhes indica exatamente o oposto: quando afeta os donos dos animais, a

infecção provoca sinais notórios e a sua resolução clínica demora algum tempo se não for

sujeita a tratamento etiológico (GAMITO, 2009).

A maioria dos animais e dos humanos infectados por este agente transportam poucos

ácaros e geralmente é necessário um contato prolongado para que ocorra a sua transmissão

(apud GAMITO, 2009).

Diversos mamíferos podem ser infestados pelo ácaro, porém, a infecção cruzada entre

diferentes espécies de hospedeiros é limitada, originando um quadro de dermatite localizada,

autolimitante e de cura espontânea (HEUKELBACH; FELDMEIER, 2006).

2.3 SINAIS CLÍNICOS

Os sinais clínicos e os sintomas da sarna sarcóptica descritos por Fourie et al. (2007),

incluem a presença de crostas, alopecia, escoriações, hiperemia e prurido bem acentuado. As

crostas acometem mais a região da face (principalmente as bordas das orelhas), cotovelos,

jarretes e os dígitos. O padrão de distribuição tipicamente envolve as porções ventrais do

abdômen, tórax e patas, a doença dissemina-se rapidamente e pode envolver todo o corpo,

mas o dorso geralmente é poupado, conforme a figura 1.

Com o tempo, auto-escoriações resultam em alopecia irregular localizada a

disseminada e evoluem para dermatite papulocrostosa generalizada. Hiperpigmentação e

liquenificação são as lesões predominantes nos casos crônicos, em razão da automutilação

constante nas áreas infectadas do corpo (PINCHBECK; HILLIER, 2008). Os animais

acometidos crônica e gravemente podem desenvolver anorexia, perda de peso e piodermite

bacteriana secundária (BRUM et al., 2007).

Existem casos de sarna sarcóptica subclínica, caracterizada principalmente por um

quadro pruriginoso sem lesões cutâneas ou apenas por eritema moderado e escoriações

ocasionais. Deve se ter atenção a estes animais que podem transmitir a doença (GAMITO,

2009).

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Figura 1 - Canino sem raça definida apresentando lesões causadas

pela Sarna Sarcóptica (Foto: arquivo pessoal).

Figura 2 - Crostas, alopecia e liquenificação nas patas e região ventral

do abdômen (Foto: arquivo pessoal).

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2.4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico baseia-se na história clínica de prurido intenso em áreas normalmente

acometidas, no contato com animal infectado e ao tratamento pouco responsivo com

glicocorticóides (BRUM et al., 2007). O método laboratorial de eleição para se estabelecer o

diagnóstico definitivo é a observação microscópica dos ácaros adultos ou dos seus ovos em

amostras resultantes da raspagem cutânea superficial das lesões. As raspagens são realizadas

na direção de crescimento do pêlo, até se observar um ligeiro sangramento capilar, deve-se

usar uma substância oleosa (ex. óleo mineral) na lâmina do bisturi e na pele (GAMITO,

2009).

Muitas vezes, e apesar do animal ser portador, o ácaro não é encontrado no exame

referido. Este fato não deve ser suficiente para excluir a doença dos diagnósticos possíveis

(PICCININ et al., 2008) pois, segundo Noli (2002), o número de ácaros em relação à área de

pele atingida é pequeno, o que faz com que muitas amostras de raspagem sejam negativas.

Para Piccinin et al. (2008), a resposta positiva à medicação acaricida é também

diagnóstica. Porém, Curtis (2004) afirma que este procedimento também tem suas limitações,

visto que os acaricidas modernos são capazes de matar várias espécies diferentes de

ectoparasitas.

Um teste auxiliar inespecífico de diagnóstico é o reflexo otopodal. Pinchbeck; Hillier,

(2008) afirmam que dentre os cães com escabiose e lesões de pavilhão auricular, 75 a 90%

apresentam reflexo auricular-podal positivo. Em uma pesquisa, esse teste revelou 81,8% de

sensibilidade e 93,8% de especificidade. Há também a disponibilidade de ensaio

imunossorvente ligado à enzima (ELISA) para a pesquisa de imunoglobulina G (Ig G) sérica

contra o antígeno do ácaro, já que a maior parte dos cães desenvolve uma resposta imune

humoral dentro de duas a cinco semanas após a infecção pelo ácaro.

O aparecimento simultâneo de vários animais com o mesmo problema ajuda a limitar

as possibilidades de diagnóstico. Outras dermatoses parasitárias ou alérgicas devem incluir-se

no diagnóstico diferencial (PICCININ, et al., 2008).

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2.5 TRATAMENTO

Os primeiros ectoparasiticidas utilizados no controle da sarna consistiam em ervas

medicinais, compostos inorgânicos, compostos aromáticos derivados do petróleo e frações

botânicas. Com o descobrimento de substâncias químicas sintéticas modernas, a maioria

desses ectoparasiticidas foi abandonada ao longo dos anos e várias novas substâncias

químicas entraram no mercado atual (BLACKBURN; LINDSAY, 2003).

Existem diversos produtos químicos sintéticos acaricidas para o tratamento de sarna

sarcóptica, com formulações prontas para uso ou não, que variam desde múltiplas aplicações

tópicas a dose única injetável (ARGUELLO et al., 2001).

A administração de produtos acaricidas convencionais de maneira preventiva e sem

critérios epidemiológicos, com dosagens incorretas e falhas no manejo, são uma realidade na

medicina veterinária e que leva ao aparecimento de resistência destes parasitas-alvo aos

princípios ativos (ANDRADE; SANTARÉM, 2002). Tipicamente um curso de quatro a seis

semanas de tratamento é necessário (SCOTT et al., 1995).

O tratamento tradicional consiste em banhar os cães com um xampu anti-seborréico

para remover as crostas, seguido pela aplicação de um escabicida tópico, por todo o corpo, em

intervalos de sete dias, durante cinco semanas (MEDLEAU, 2003).

Neste tipo de protocolo, o escabicida tópico mais utilizado é o amitraz 0,025%. De

acordo com Ghubash (2006), este produto só deve ser utilizado em casos refratários aos

outros compostos disponíveis, devido aos efeitos colaterais como depressão, letargia,

hipotensão, midríase, ataxia, entre outros.

Diversos grupos farmacológicos por via tópica são indicados para o seu tratamento e

controle, como derivados de enxofre, piretróides e imidinas, e outros por via oral ou injetável,

como a ivermectina e as milbemicinas (ANDRADE; SANTARÉM, 2002).

Em um estudo terapêutico com cães realizado na cidade de Ribeirão Claro, no período

de janeiro a julho de 2010, observou-se um resultado rápido e eficaz após algumas semanas

de tratamento com Ivermectina, via oral, uma vez por semana, onde obteve-se 100% de cura

dos animais infectados (RUIZ; FRANCISCO, 2010).

Castro et al. (s.d. ), constatou que a Moxidectina a 1%, quando usada por via oral, na

dose de 400 mcg/kg é uma alternativa bastante eficaz. Porém, pode haver o desencadeamento

de quadro farmacodérmico quando empregada por via subcutânea.

O Fipronil spray foi analisado em cães do serviço de Dermatologia do Hospital

Veterinário da UNOESTE, Presidente Prudente-SP e provou ser uma excelente alternativa

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terapêutica no tratamento da escabiose canina, utilizando-o topicamente, em todo o corpo do

animal, uma vez por semana, durante quatro a seis semanas, apresentando eficiência e

praticidade. Apesar de não haver recomendação para sarna sarcóptica pelo fabricante, o

produto demonstrou segurança (Andrade et al., 2005).

Franco; Hamman (2004) realizaram um estudo com 26 cães no Hospital Veterinário

da Universidade Federal do Paraná e constataram que a Doramectina, após uma única

aplicação subcutânea foi totalmente eficaz no tratamento da sarna sarcóptica, mostrando

melhora clínica significativa dos sinais clínicos no 14° dia após o tratamento.

Para Ghubash (2006), a Selamectina é o composto de eleição para o tratamento da

sarna sarcóptica enquanto que a Milbemicina Oxima é dispendiosa e menos eficaz. Já

Pinchbeck; Hillier (2008) além da Selamectina, citam que terapias sistêmicas com

Ivermectinas, lactonas macrocíclicas, Milbemicina Oxima e Moxidectina são recentes e

mostram-se efetivas no tratamento da escabiose canina. Terada et al., (2010), relataram

resistência a lactonas macrocíclicas por S. scabiei var. canis, sendo observada a total

resolução do quadro clínico apresentado, após administração de spray contendo fipronil e

isopropanol. Existem diversos acaricidas disponíveis no mercado, o conhecimento destes se

faz necessário e constitui-se no maior desafio para a escolha do tratamento mais adequado a

ser utilizado (FARIA, 2011).

Embora este ácaro não sobreviva durante muito tempo fora do hospedeiro nem haja

evidência de que animais curados se reinfectem por contaminação ambiental, recomenda-se a

aspiração e lavagem de todos os locais de permanência e repouso do animal, bem com de seus

objetos (GAMITO, 2009). Os animais infectados devem ser isolados e os animais co-

habitantes devem ser tratados simultaneamente. O indivíduo responsável pelo tratamento do

animal deverá fazer uso de equipamentos descartáveis (PICCININ, 2008; RUIZ;

FRANCISCO, 2010).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sarna sarcóptica é uma realidade em todo o Brasil, especialmente por ser uma

doença de fácil contágio, inclusive para os humanos. Na rotina da clínica de pequenos

animais, percebe-se que, na maioria das vezes o proprietário é portador de lesões compatíveis

com a sarna sarcóptica e que estas, se não tratadas adequadamente não resolvem-se sozinhas.

Devido a isso, torna-se importante prevenir e evitar o seu aparecimento, além de controlá-la

para reduzir a prevalência.

Animais debilitados e com menos de um ano de idade são os mais suscetíveis, assim

como os cães com raça definida e pêlos longos.

A melhor forma de diagnosticar a doença nos cães, é somando-se os dados da

anamnese, que deve ser bem minuciosa, ao exame clínico geral, juntamente ao exame

microscópico e o exame do reflexo otopodal. Quando ainda existir dúvida, pode-se tentar o

diagnóstico terapêutico.

Atualmente, existem diversas formas de tratamento para a doença, porém as mais

empregadas e com resultados mais rápidos e eficazes são as terapias sistêmicas, empregadas

por via subcutânea, via oral ou via tópica, dependendo do medicamento a ser utilizado,

associado a banhos semanais com xampu anti-sépticos para evitar a contaminação secundária,

até a resolução total das lesões.

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