Saúde Informa N°16

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 16 - Ano II - Belo Horizonte, dezembro de 2011 Página 3 P esquisa realizada em três hospitais de Belo Horizonte, a partir da análise de mais de 2,6 mil receitas, revela problema bem maior que a famosa letra ilegível dos profissionais da Medi- cina. O índice de erro na indicação do cloreto de potássio chega a 97%. Substância pode levar à parada cardíaca quando mal-administrada Médicos falham na prescrição de remédios perigosos 4 BALANÇO Organizadores avaliam Congresso e Conferência 2 CENTENÁRIO Obra reúne produção didática dos 100 anos da Medicina INFÂNCIA Pais têm preocupação excessiva com febre nas crianças 7 Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 16 - Ano II - Belo Horizonte, dezembro de 2011

Página 3

Pesquisa realizada em três hospitais de Belo Horizonte, a partir da análise de mais de 2,6

mil receitas, revela problema bem maior que a famosa letra ilegível dos profissionais da Medi-cina. O índice de erro na indicação do cloreto de potássio chega a 97%. Substância pode levar à parada cardíaca quando mal-administrada

Médicos falham na prescrição de remédios perigosos

4BALANÇOOrganizadores avaliam Congresso e Conferência

2CENTENÁRIOObra reúne produção didática dos 100 anos da Medicina

INFÂNCIAPais têm preocupação excessiva com febre nas crianças7

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Fim de anoEncerramos 2011

com o alerta de uma pes-quisa realizada junto ao Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da UFMG: é alto o índice de erros na prescrição de medicamentos que podem ter sérios impactos para a saúde dos pacientes. A boa notícia é que a mesma pes-quisa acena para medidas simples, que podem ajudar a reverter o quadro.

A Divulgação Cien-tífica traz também um estu-do sobre o comportamen-to dos pais diante da febre infantil e revela que algu-mas tradições passadas de geração para geração são equivocadas.

Confira ainda a avaliação dos organizado-res após a realização do 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Me-dicina da UFMG e da 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana, realiza-dos em novembro, no Mi-nascentro.

Aliás, o desejo de publicar essa avaliação foi a razão do boletim não cir-cular em novembro. Toda nossa equipe se mobilizou para edições diárias do Congresso Informa / Con-ference News, que circularam durante os eventos. Apro-veitamos para lembrar que o Saúde Informa faz uma pausa durante as férias para retornar com novidades na volta às aulas, em março.

Boa leitura e boas férias!

Editorial CentenárioPublicações

Estratégias de Prevenção de Doenças e Gestão da Clínica

Trata-se do terceiro livro da Coleção Guia de Bolso em Geriatria e Gerontologia, de autoria do professor Edgar Nunes de Mo-raes, do departamento de Clínica Médica. O conteúdo é baseado em experiências do Ser-viço de Geriatria do Hospital das Clínicas da UFMG e enfatiza a prevenção de doenças no adulto e no idoso. Ed. Follium.

Urgências em Gineco-logia e Obstetrícia

Inspirado na grande frequência de quadros hemorrágicos, infecciosos e hiperten-sivos com que os pro-fissionais destas espe-cialidades se deparam em seus atendimentos

nos consultórios, ambulatórios e hospitais. A proposta do texto é ser objetivo e direto, para facilitar a leitura. Editado pelos professores Antônio Carlos Cabral, Alamanda Kfoury Pe-reira e Selmo Geber. Ed. Atheneu.

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Excepcionalmente, nesta edição não publicamos a coluna Saúde do Portu-guês, do professor Washington Cançado de Amorim. A coluna retorna em março, quando o Saúde Informa volta a circular, depois das férias.

Aviso

Cem anos de conhecimento

Em pouco mais de 70 páginas, es-tão guardados cem anos de uma intensa produção didática da Medicina. A 2ª edi-ção do catálogo Obras Didáticas da Área Médica Editadas por Docentes da UFMG, lançada em novembro, dentro das come-morações do Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG, contém o registro de todo o material escrito por professo-res da Unidade ao longo de sua história. São mais de 500 publicações, sendo 106 inéditas.

A obra traz, ainda, a produção de professores do Instituto de Ciências Bio-lógicas ligados à área médica. “Todos os cem anos da Medicina estão neste catá-logo. Mas a produção maior começou a ocorrer a partir dos anos 60, 70. E, desde a primeira edição, em 2005, tivemos mais de 100 novos textos”, afirma o organi-zador Edward Tonelli, professor emérito da UFMG, ligado ao departamento de Pediatria.

O trabalho também teve a partici-pação da Biblioteca J. Baeta Vianna, onde podem ser encontrados todos os textos registrados no catálogo, apenas para con-sulta local.

Sua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e

sugestões para

Opinião

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Isabela Guimarães, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1.500 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

Expediente

[email protected]

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Divulgação Científica

Receita para reduzir erros na prescrição de medicamentos

Pesquisa avalia impacto de ações como padronização e informatização das prescrições, além de medidas educativas voltadas para os médicos

Victor Rodrigues

Falta de informações sobre a concentração e via de administração do medicamento, além da famosa es-

crita ilegível dos médicos. Estes foram os principais erros constatados numa pesquisa realizada em três hospitais de Belo Horizonte que integram a Rede Brasileira de Hospi-tais Sentinela. Problemas que poderiam ser evitados com a adoção de medidas simples, adaptadas à realidade de cada hospital, sem necessidade de altos in-vestimentos. Uma das sugestões é a padronizar as prescrições, a partir de um modelo com todas as informações necessárias para a dispensação e admi-nistração correta dos medicamentos indicados para os pacientes.

A proposta é do farmacêutico Mário Borges Rosa, autor de tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG. O estudo foi realizado em três fases. Na primeira, foram analisadas prescrições de medicamen-tos potencialmente perigosos, para decidir quais seriam as substâncias observadas no estudo. Os escolhidos foram a heparina não-fracionada, que tem função anticoagulante, e o cloreto de potássio injetável, utilizado na reposição de sais e eletrólitos, substâncias fundamentais para a realiza-ção de vários processos em nosso corpo.

A heparina foi o medicamento com maior número absoluto de erros em prescrições, equivalente a cerca de 75% das 1987 prescrições analisadas. Já para o cloreto de potássio, o índice de erro chegou a 97% das 680 prescri-ções. Este medicamento é extremamente perigoso, poden-do causar parada cardíaca caso não seja diluído da maneira correta.

IntervençõesAs duas fases posteriores da pesquisa foram de in-

tervenções no cotidiano dos médicos dos hospitais anali-sados. Na segunda fase, foram distribuídos folders aos pro-fissionais, ao mesmo tempo que eram colocados cartazes e banners da campanha nos ambientes hospitalares. Já na terceira fase as ações foram mais direcionadas, com orien-

tação para os prescritores nos locais de trabalho.

O padrão de prescrição foi suge-rido pela primeira vez na terceira fase, resultando em uma redução de aproxi-madamente 25% dos erros de prescri-ção. Na comparação entre as medidas utilizadas em cada fase, as que foram in-troduzidas apenas na última fase surti-ram mais efeito. “As medidas educativas

tiveram efeito apenas passageiro. Para que a mudança seja efetiva é necessário que ela seja acompanhada de outras ações”, recomenda Mário Borges Rosa.

PadronizaçãoUm dado interessan-

te observado na pesquisa foi o menor número de erros em áreas mais críticas do hospital, como centros de terapia intensiva (CTIs) e setor de quei-mados, na comparação com setores onde são atendidos casos de menor gravidade. Segundo o farmacêutico, pos-sivelmente isso se deve aos processos de trabalho mais pa-dronizados nesses setores, exatamente por se tratarem de pacientes mais críticos. Outro detalhe é a similaridade dos quadros clínicos apresentados por esses pacientes, o que facilita o trabalho do médico.

A redução dos erros após a adoção do padrão e o melhor desempenho de setores onde o trabalho é mais padro-nizado são argumentos que o autor utiliza como justificativa para um processo de informatiza-ção da prescrição. Para ele, seria uma forma de garantir que uma prescrição contenha todas as in-formações necessárias, com a le-gibilidade adequada. “Já existe le-gislação sobre prescrição, mas em geral ela não é usada da maneira mais correta”, afirma.

Hospitais SentinelaA Rede Brasileira de Hospitais Sentinela consiste em um grupo de hos-pitais capacitados para atuar como observatórios do desempenho e segurança na utilização de medicamentos, equipamentos, materiais hospitalares e derivados do sangue. Em geral são hospitais de ensino ou de alta complexidade, que oferecem as características e os meios necessários para que essas tarefas sejam realizadas. Ultimamente os hospitais sentinela têm assumido o gerenciamento de risco, que avalia os processos de trabalho, para identificar pontos vulneráveis e tomar medidas para evitar eventos adversos relacionados à assistência. Atu-almente a rede conta com 247 hospitais de todo o país.

Houve erro em 97% das prescrições do cloreto de

potássio.Usado incorretamente, o medicamento pode levar

à parada cardíaca.

A adoção de um padrão levou à

queda de 25% nos erros de prescrição

Título: Erros em prescri-ções com medicamentos potencialmente perigosos em três hospitais sentinela de Belo HorizonteAutor: Mário Borges RosaNível: DoutoradoPrograma: Infectologia e Medicina TropicalOrientador: Renato Camargos CoutoDefesa: 05/08/ 2011

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Centenário

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Congresso e Conferência terão novas ediçõesUm novo Congresso deve ocorrer em 2013, na própria Faculdade de Medicina. A ICUH provavelmente será, mais uma vez, no hemisfério Sul.

Léo Rodrigues

Uma manifestação de coragem para discutir um tema pouco abordado. Esta foi a síntese do 2º Congresso Na-

cional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG feita pela coordenadora executiva do evento, Maria Isabel Correia. Na avaliação da professora, a Faculdade de Medicina de-monstrou uma visão avançada ao romper com o paradigma vigente na organização de eventos da área da saúde. “Desde o 1º Congresso, a instituição fica no debate da promoção da saúde. É uma abordagem que supera as discussões excessiva-mente terapêuticas que se observam em outros congressos e seminários”, explica.

Sediado no Minascentro, o Congresso foi dividido em sete eixos interligados pelo tema “Políticas de Promoção de Saúde”. De 3 a 5 de novembro, foram realizadas mais de 40 mesas-redondas, conferências e painéis, sem contar as ativi-dades do eixo “Políticas Urbanas de Promoção da Saúde”, que abrangeu uma extensa programação da 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011).

A ICUH é uma iniciativa da Sociedade Internacional de Saúde Urbana e, pela primeira vez, foi sediada na América Latina, entre os dias 1º e 4 de novembro, também no Minascentro. A progra-mação incluiu 190 pôsteres expos-tos, 14 plenárias, 187 apresentações orais e 14 workshops. O tema da Con-ferência foi “Ações de Saúde Urbana Direcionadas à Equidade”.

Logo no primeiro dia, parti-cipantes oriundos de diversos paí-ses, tais como Bangladesh, Canadá, Estados Unidos, Índia e Quênia, se

dirigiram ao Aglomerado da Serra para conhecer o progra-ma Vila Viva, uma iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte. Eles visitaram os centros esportivo e cultural, conheceram as habitações e o sistema de tratamento sanitário, dentre outros espaços. “A 10ª ICUH mostrou que muitas ações que não são diretamente da área da saúde afetam a saúde”, analisou a professora Waleska Caiaffa, coordenadora da conferência e atual presidente da Sociedade Internacional de Saúde Urbana.

Segundo Waleska Caiaffa, a ICUH possibilitou uma avaliação virtual dos participantes e o retorno foi extrema-mente positivo. A expectativa é que a próxima edição, pre-vista para acontecer em dois anos, mantenha a proposta e o nível de organização. “Precisamos fazer um acompanhamen-to permanente das intervenções urbanas, porque os contex-tos mudam e os indicadores vinculados à saúde precisam ser avaliados. No Brasil, por exemplo, teremos grandes eventos esportivos que mexerão na estrutura das cidades e precisa-mos observar o impacto disso. A ideia é que a próxima ICUH aconteça novamente num país do hemisfério sul”, sinalizou a professora.

ParceriasO 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medi-

cina da UFMG propiciou maior interlocução entre as diferentes universidades e também entre os setores públicos e privados que atuam na área da saúde, como ressaltou a professora Maria Isabel Correia. Houve interesse de gestores públicos em estudos apre-sentados e uma instituição de ensino da Índia levantou a possibi-lidade de uma parceria acadêmica com a Faculdade de Medicina da UFMG, com perspectiva de promoverem futuramente o inter-câmbio estudantil.

Articulações mais concretas também marcaram o evento. Ainda no primeiro dia, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a UFMG anunciaram a assinatura de uma carta de intenções voltada para o desenvolvimento de estudos e pesquisa no espaço urba-no. Na prática, a parceria permitirá a estruturação de um Obser-vatório de Saúde Urbana BH-Rio. “O objetivo é avaliar as repercus-sões das políticas urbanas nas duas cidades, sobretudo em áreas mais periféricas e miseráveis, e comparar os resultados. A partir desta parce-ria, podemos desenvolver trabalhos conjuntamente, organizar cursos, promover intercâmbio de alunos, etc”, explicou a professora Waleska Caiaffa.

“É uma abordagem que supera as discussões excessivamente terapêuticas que se observam em outros congressos e seminários”

“O ambiente da Faculdade

parece mais estimulante para

a participação da comunidade

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Congresso e Conferência terão novas ediçõesUm novo Congresso deve ocorrer em 2013, na própria Faculdade de Medicina. A ICUH provavelmente será, mais uma vez, no hemisfério Sul.

Léo Rodrigues

TemáticasAo final do Congresso, a premiação de trabalhos mostrou que a temática proposta mobili-zou importantes instituições de Minas Gerais. Em primeiro lugar, ficou um estudo desen-volvido na PUC Minas intitulado “Prevalência e fatores de risco associados ao traumatismo dentário em escolares de Montes Claros”, sob a autoria de Paula Cristina Pelli Paiva, Aroldo Neves de Paiva, Paulo Messias de Oliveira Filho e Maria Ilma Costa.

Na segunda posição ficou “Movimento BH pelo parto normal: mobilização pela promoção da saúde da gestação à vida adulta”, da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte em parceria com várias instituições, coordenado pela médica Sônia Lanski. E o terceiro melhor

trabalho, “Influências de transtornos psiquiátricos no tratamento de pacientes com hepatite C crônica”, foi desenvolvido por Mariana Soares de Souza e outros 10 autores, no Instituto Alfa do Hospital das Clínicas da UFMG.

O Congresso chamou atenção ainda por levantar temas polêmicos, tais como o uso medicinal da maconha e a descriminalização do aborto, debatidos em sessões interativas. Um levantamento da opinião do público foi realizado antes, durante e ao fim das discussões. Na sessão sobre o uso medicinal da maconha, os favoráveis eram 74,1% no início, oscilando para 38,2% no decorrer das exposições e terminando em pé de igualdade com os contrários. As mudanças de opinião também foram registradas na discussão sobre a descrimi-nalização do aborto, na qual os defensores da medida eram inicialmente 66,7% e acabaram com o percentual de 53,6%.

AnúncioA cerimônia de abertura dos dois eventos, no dia 3 de novembro, contou com a presença de di-versas autoridades, como o reitor da UFMG, Clélio Campolina; o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda; o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Diego Victória; o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda Magalhães Júnior; o secretário munici-pal de saúde de Belo Horizonte, Marcelo Teixeira; e o Presidente do Sindicato dos Médicos do Es-tado de Minas Gerais, Cristiano da Matta Machado. Na solenidade, Helvécio Magalhães anunciou, em primeira mão, que a experiência desenvolvida em Belo Horizonte de criação das “Academias da Cidade” será transformada em política pública do Ministério da Saúde. No total, 4 mil “Acade-mias da Cidade” serão implantadas em todo o país.

MudançasNa avaliação do diretor da Faculdade de Medicina

da UFMG, Francisco Penna, a agenda temática estabe-lecida foi cumprida. “A proposta era dar continuidade à discussão do congresso anterior e o evento cresceu em im-portância. O apoio do poder público e de setores privados demonstrou esse fato”, ressaltou, anunciando que já estuda a realização de um novo Congresso em 2013.

A ideia é persistir na abordagem da promoção da saúde, mas algumas mudanças já são analisadas. “É pro-vável que a próxima edição aconteça novamente na Facul-dade de Medicina da UFMG. O intuito de realizar o 2º Congresso no Minascentro foi para ampliar as instalações. Mas apesar da extensa divulgação, nós observamos que o público acadêmico se envolveu um pouco menos do que gostaríamos. O ambiente da Faculdade me parece mais es-timulante para a participação da comunidade acadêmica”, avalia Francisco Penna.

Para ampliar o envolvimento, o diretor também já pensa em outras estratégias. “Queremos os departamen-tos participando diretamente da organização, assim como o Diretório Acadêmico. E vamos abrir para o debate de temas clínicos e cirúrgicos, embora o foco continue sendo a promoção da saúde”, planeja.

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Tecnologia

Centenário

Foto: Bruna Carvalho

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Partograma e estetoscópio eletrônicos ajudam no trabalho de obstetrasIntercâmbio entre Faculdades de Medicina da UFMG e da Universidade do Porto, em Portugal, viabiliza novas tecnologias voltadas para a saúde de gestantes

Larissa Nunes

Ministro prestigia Cobem 2011

Dois projetos voltados para mulheres com gravidez de alto risco e para diminuição da mortalidade materna

estão sendo desenvolvidos como resultado da proximidade e intercâmbio de conhecimentos entre pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Mulher da Fa-culdade de Medicina da UFMG e do Departamento de Ci-ência da Informação e Decisão em Saúde da Universidade do Porto. “Eles têm uma experiência de mais de dez anos na união da Medicina e Informática. Para nós, isso tudo é muito novo”, destaca Zilma Reis, professora do departa-mento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG.

Juntos, os estudiosos dos dois países elaboraram um partograma eletrônico, criado a partir do instrumento de mesmo nome já empregado em hospitais, mas no formato de papel. “Usamos o partograma para visualizar as condi-ções da mulher de seis a oito horas antes de o bebê nas-cer. Verificamos o bem-estar fetal, se o canal de parto está funcionamento adequadamente, entre outras condições”, explica Zilma. Na forma manual, já é possível chegar a to-dos esses resultados. A eletrônica, porém, deve tornar o procedimento ainda mais seguro e rápido. “Iremos intro-duzir algumas regras e valores esperados nas máquinas. Aí receberemos um retorno se está tudo bem com aquela mãe examinada”.

EstetoscópioO outro projeto, chamado Digiscope, prevê novas

aplicações para o estetoscópio eletrônico. Diferentemen-te do estetoscópio comum, o eletrônico permite gravar os sons das auscultas dos corações. “O som é captado por um software e fica armazenado em um computador”, detalha a professora. As gravações terão, então, duas finalidades. A primeira, de ensino. “Hoje em dia, os sons se perdem. Se

Intercâmbio viabilizou Capacitação em Urgências Obstétricas, no Centro da Tecnologia em Saúde da

Faculdade de Medicina da UFMG, em outubro

fazemos uma ausculta e notamos um som diferente, pou-cas pessoas podem acompanhar o procedimento. Com o [estetoscópio] eletrônico, podemos gravar e mostrar, de-pois, os sons aos alunos”, ensina.

A outra finalidade do Digiscope é voltada para a prática médica. Espera-se que as próprias máquinas “aprendam” sobre os diferentes tipos de sons obtidos do coração e possam fazer uma probabilidade de diagnósti-co. A análise dos ruídos, feita pela máquina, será estudada por médicos, que irão contar com mais recursos para um diagnóstico final mais confiável sobre o estado de saúde do paciente.

Nos próximos meses, a ideia é estreitar relações en-tre as faculdades de Medicina da UFMG e da Universidade do Porto e firmar um convênio mais amplo, que englobe também as áreas de ensino e extensão.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi uma das autoridades presentes no 49º Congresso Brasileiro de Educação Médica (Co-

bem 2011). O evento foi realizado pela primeira vez em Belo Horizon-te, de 12 a 15 de novembro, no campus Pampulha da UFMG. O Cobem integrou o calendário científico das comemorações do Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG. Mais de 2,3 mil congressistas par-ticiparam das atividades, sendo quase 1,5 mil estudantes de todos as escolas de Medicina do país. A realização é da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem).

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Foto: Bruna Carvalho

7Dezembro de 2011

Divulgação Científica

Medo pode fazer pais tratarem febre de maneira equivocada

Cuidados também têm forte influência do saber popular, que pode transmitir práticas perigosas para a saúde da criança

Victor Rodrigues

Título: Estudo da influência das crenças, conhecimen-tos e fontes de informação nas condutas dos cuidado-res no manejo da febre na criançaAutor: Ana Carolina Miche-letti GomideNível: MestradoPrograma: Infectologia e Medicina TropicalOrientadora: Regina Lunardi RochaDefesa: 26/09/ 2011

Uma criança doente é sempre motivo de preocupação para os pais. E o nervosismo aumenta quando o prin-

cipal sintoma é a febre. Em dissertação de mestrado de-fendida no Programa de Pós-Graduação em Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da UFMG, a enfermeira Ana Carolina Micheletti Gomide explica que existe um conjunto de conceitos equivocados sobre a fe-bre, além de um medo exagerado dos pais para lidar com esse tipo de situação.

Segundo a autora, os pais têm a noção de que o au-mento da temperatura corporal é uma reação de defesa do organismo, mas sentem-se inseguros diante de um quadro febril de seus filhos. O pouco conhecimento agrava ainda mais o problema, podendo resultar em tratamentos inade-quados e na exposição da criança a alguns riscos. É o caso das compressas, que isoladas podem desregular o mecanis-mo que controla a febre e banhos com álcool, que podem ser tóxicos.

Muitos também desconhecem a dosagem adequada e os efeitos adversos dos remédios utilizados. “A maioria não sabe identificar qual valor exato de temperatura é con-siderado febre e acaba utilizando medicações sem necessi-dade”, afirma Ana Carolina.

Em sua dissertação, ela procurou analisar como as crenças, conhecimentos prévios e fontes de informação aos quais os pais têm acesso influenciam na maneira como eles reagem ao ver as crianças com febre. Foram consulta-dos 286 pais que levaram seus filhos até o pronto-atendi-mento do Hospital Infantil João Paulo II.

Preocupação excessivaO principal medo relatado é de que o menino ou

menina desenvolva uma convulsão febril. Assim, muitos pais decidem procurar um médico, mesmo que isso não seja realmente necessário. “Em algumas situações o mé-dico não tem condições de determinar qual é a causa da febre, e sem isso ele não tem condição de tratar mais a fundo. Se a criança não correr risco, o médico vai apenas prescrever medicamentos para diminuir a temperatura e a criança será liberada para casa.”

Esses problemas, apontou a autora, têm origem na maneira que fomos acostumados a cuidar da pessoa com febre. Há forte in-fluência do saber popular, como remédios e chás caseiros, com-pressas e banhos.

Para Ana Carolina, não existe nada de errado em utilizar essas medidas, desde que se co-nheça seus benefícios e riscos, e em conjunto com os medicamen-tos adequados.

Com quem os pais seinformam sobre febre?

Profissionaisde saœde

54%

Familiares

30%

Amigosou vizinhos

8%

Pessoa comexperiência

5%Balconistada farm‡cia

5%

Dicas da maneira corretade usar antitŽrmicos

Até a criança ser levada ao médico a febre pode ser controlada com o uso de medicamentos antitérmicos (como dipirona ou paracetamol) da maneira adequada, de acordo com a orientação e prescrição médica. Veja como fazê-lo:

Caso tenha qualquer dœvida, converse com um mŽdico pediatra. Ele pode dar mais orientações sobre como usar esses medicamentos em casa.

A temperatura da criança deve ser medida apenas com um termômetro. Nada de colocar a mão na testa ou na barriga!

O melhor local para colocar o termômetro é a boca, mas a temperatura axilar também é confiável, desde que respeite o intervalo de tempo para a retirada do termômetro. No caso do termômetro de mercúrio, deve permanecer de 3 a 5 minutos. O digital somente pode ser retirado após o alarme sonoro.

A temperatura ideal para usar antitérmicos é por volta de 37,8¼, mas esta recomendação também pode variar de paciente para paciente.

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Trote incluía juramento à estátua de Cícero Ferreira

Memória

Retrato de uma identidadeFotografia mostra com detalhes a porta do antigo prédio da Medicina. Peça ganhou lugar na fachada do edifício atual e ajuda a resgatar histórias

Fernando Maximiano

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AconteceHilton Rocha

O Centenário do oftal-mologista Hilton Rocha, que foi professor da Faculdade de Medicina, será lembrado em ses-são solene no dia 13 de dezembro, às 20h, no teatro Oromar Morei-ra da Associação Mé-dica de Minas Gerais. A homenagem é uma iniciativa da Faculdade e do Centro de Memó-ria da Unidade, junto a Academia Mineira de Medicina, a Associação Médica de Minas Gerais e familiares do médico.

Curso para servidores

Servidores técnico-ad-ministrativos da UFMG com formação superior podem se candidatar a uma das 100 vagas do curso de pós-gradua-ção Lato Sensu Gestão de Serviços Educativos, na modalidade semi-presencial, que será oferecido na Faculdade de Educação. A previ-são é que o curso seja realizado entre março e dezembro de 2012. In-teressados que traba-lham na Medicina po-dem enviar e-mail para [email protected].

Férias

O Laboratório do Movi-mento entra de férias a partir de 16 de de-zembro até a primeira semana de fevereiro. Já o bandejão do campus Saúde passa a servir apenas almoço, de se-gunda a sexta, de 12 dezembro até o final janeiro. De 26 a 31 de dezembro, o RU fica fe-chado para pintura.

Fotos: Arquivo Pessoal

sido guardada pelo falecido docente Oromar Moreira, que em 1967 a doou ao Museu His-tórico Abílio Barreto. Em 1981, o museu fez a devolução ao Centro de Memória da Medici-na, onde estava guardada desde então.

Para o professor Alcino, o exemplo ser-ve para que todos percebam que a identidade da Faculdade de Medicina foi resgatada. “Va-lorizar a nossa história é preservar a identidade da Faculdade e a nossa também”, ensina.

A calourada no início da década de 60

O campus tinha um campo de futebolonde hoje é o estacionamento

Em uma tarde ensolarada, o calouro Alcino Lázaro da Silva, 17 anos, passeava pelo

campus onde estava localizada uma Faculdade de Medicina recém-descoberta. Ao subir as es-cadas do prédio, debruçou-se sobre o parapei-to da fachada para observar o jardim, quando um colega registrou um momento que entraria para a história. Primeiro, porque o jovem estu-dante viria a ser um dos mestres da mesma es-cola, coroado com o título de professor emé-rito. Segundo, porque, 53 anos depois, a porta de madeira maciça ao fundo se transformaria em um dos símbolos dos cem anos de história da mesma instituição.

Mais de meio século após o instante imortalizado na foto, o cirurgião Alcino Láza-ro da Silva considera que a passividade de uma turma imatura de estudantes, associada à visão equivocada do que seria modernidade, retirou da sociedade uma de suas partes mais honro-sas: o antigo prédio da Faculdade de Medicina foi demolido em 1958 para dar lugar à atual edificação. “Devemos olhar para o futuro de-sejando que todos tenham aprendido com os erros do passado. A porta de madeira maciça deve ser vista como uma aliança de paz entre o passado e o presente”, diz.

Em março de 2011, a peça passou a in-tegrar a fachada do prédio atual, que foi revita-lizada e inaugurada dentro das comemorações do Centenário da Faculdade. A porta havia