SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

5
A VIDA ESCOLÁSTICA A infância desenvolveu dois sentimentos: o de paparicação nos primeiros anos da criança e a tomada de consciência da inocência e fraqueza da infância. Esses sentimentos foram limitados a legistas, padres ou moralistas por algum tempo onde a população via as crianças como um ser que servia para se distraírem, com nenhuma preocupação moral ou educativa. Quando as crianças alcançavam cinco ou sete anos de idade elas eram agregadas aos adultos, o que tornava a infância uma fase muito curta, mas alguns moralistas e educadores conseguiram mostrar a importância de uma infância longa graça ao sucesso de suas instituições de ensino e as práticas de educação que orientaram e disciplinaram. A infância foi prolongada e acrescentou uma etapa intermediária que se dá entre a infância e vida adulta: a adolescência, que foi nomeada como a etapa da escola. Durante muito tempo o colégio era um lugar onde viviam os estudantes bolsistas e não tinha nenhuma intenção de ser um local de ensino, mas com o passar do tempo, a partir do século XV, os colégios viraram instituições de ensino, onde uma numerosa parcela da população seguia uma hierarquia de autoridade e de ensino. Desde então, as salas de aula começaram a ser dividida por idades, o que não surgiu por um ato de necessidade, já que o objetivo essencial não era atender a educação da infância. A escola medieval não era destinada a infância, era uma espécie de curso técnico destinado à instrução dos clérigos. Porém, mesmo com essa distinção ela acolhia da mesma forma e indiferentemente as outras faixas etárias. A separação de classes separadas e regulares foi tardia, ia se para a escola quando se podia o que não dependia da escola, podia se ir ou muito cedo ou muito tarde. Essa indiferença pela formação infantil não foi apenas dos conservadores retrógrados, os humanistas do Renascimento, os escolásticos tradicionais e os pedagogos da Idade Média confundiam educação com cultura, deixando de lado a importância da formação da juventude e da infância. Os reformadores escolásticos que inovaram o campo,

Transcript of SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

Page 1: SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

A VIDA ESCOLÁSTICA

A infância desenvolveu dois sentimentos: o de paparicação nos primeiros anos da criança e a tomada de consciência da inocência e fraqueza da infância. Esses sentimentos foram limitados a legistas, padres ou moralistas por algum tempo onde a população via as crianças como um ser que servia para se distraírem, com nenhuma preocupação moral ou educativa. Quando as crianças alcançavam cinco ou sete anos de idade elas eram agregadas aos adultos, o que tornava a infância uma fase muito curta, mas alguns moralistas e educadores conseguiram mostrar a importância de uma infância longa graça ao sucesso de suas instituições de ensino e as práticas de educação que orientaram e disciplinaram.

A infância foi prolongada e acrescentou uma etapa intermediária que se dá entre a infância e vida adulta: a adolescência, que foi nomeada como a etapa da escola. Durante muito tempo o colégio era um lugar onde viviam os estudantes bolsistas e não tinha nenhuma intenção de ser um local de ensino, mas com o passar do tempo, a partir do século XV, os colégios viraram instituições de ensino, onde uma numerosa parcela da população seguia uma hierarquia de autoridade e de ensino. Desde então, as salas de aula começaram a ser dividida por idades, o que não surgiu por um ato de necessidade, já que o objetivo essencial não era atender a educação da infância. A escola medieval não era destinada a infância, era uma espécie de curso técnico destinado à instrução dos clérigos. Porém, mesmo com essa distinção ela acolhia da mesma forma e indiferentemente as outras faixas etárias.

A separação de classes separadas e regulares foi tardia, ia se para a escola quando se podia o que não dependia da escola, podia se ir ou muito cedo ou muito tarde. Essa indiferença pela formação infantil não foi apenas dos conservadores retrógrados, os humanistas do Renascimento, os escolásticos tradicionais e os pedagogos da Idade Média confundiam educação com cultura, deixando de lado a importância da formação da juventude e da infância. Os reformadores escolásticos que inovaram o campo, vemos surgir a particularidade infantil, o conhecimento da psicologia infantil e a preocupação de um método apropriado a essa psicologia. O colégio Ancien Régime demorou muito para ser reconhecido com uma instituição reservada apenas para crianças, mas nem toda a população passava por esse colégio ou até mesmo por pequenas escolas, o hábito de uma infância curta ainda prevalecia em parte da população.

Muitos jovens nobres preferiam ir para o exército a frequentar as escolas, o que aumentou o numero de soldados jovens. A entrada no exército se tornava muito precoce. Apenas após um período, no século XVIII, diminuiu o número de oficiais, já que teriam que ter uma formação escolar para ocupar o cargo.

No século XVII, o ensino era monopolizado pelos homens as mulheres ainda não tinham o direito de frequentar escolas, eram excluídas e isso deixou os hábitos de precocidade e de infância inalterados desde a Idade Média. As meninas eram treinadas para serem donas de casa sem um nível de escolaridade mínimo, algumas sabiam ler e escrever, mas era muito

Page 2: SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

pouco. Depois de um tempo as meninas eram colocadas em conventos que não eram destinados a educação, onde recebiam apenas instruções religiosas. No fim do século XVII, o Saint-Cyr de Mm de Maintenon passou a fornecer um ensino para meninas que ingressariam aos 7 ou 12 anos e saíam em torno dos 20 anos de idade.

Com início no século XV e com ênfase nos séculos XVI e XVII o colégio passou a dedicar-se a educação e formação da juventude. Com isso descobriu-se a necessidade da utilização da disciplina que teve origem na disciplina eclesiástica que era utilizada menos como instrumento de repressão do que aperfeiçoamento moral e espiritual. Os mestres utilizavam cada vez mais de uma disciplina rigorosa e efetiva, onde tinham até que monitorar os seus alunos. Com o passar do tempo os pais puderam perceber a importância de uma educação séria e disciplinada.

Não havia uma separação de níveis sociais dentro da escola até o fim do século XVII, existia apenas a escola única, que levava o conhecimento e a igualdade a todos os níveis sociais, sexos, etc. A partir do século XVIII criou-se uma divisão entre o primário, que era destinado ao povo e o secundário, que era destinado aos burgueses. O primário era de ensino rápido, depois de batalhar muito, conseguiram alongar esse ensino, que não pode ser universalizado. Alguns dos detentores do saber resolveram destinar a uma única classe social o privilegio de um ensino longo e clássico.

Durante a primeira metade do século XIX houve uma pequena regressão desse sentimento de uma infância longa e de sua fragilidade, já que houve um crescimento da demanda de crianças que entraram na indústria têxtil, sem ter muitas oportunidades de entrar na escola, caracterizando a idade média: passagem precoce da infância para a vida adulta.

A escola passa a ser vista como uma forma de isolamento da criança durante seu período de formação moral e intelectual. A ideia era separá-las da sociedade dos adultos e suas imoralidades. O conceito de infância surge através dessa revolução educacional, que deixa de cuidar da criança com exclusividade apenas nos primeiros anos de vida, nos quais é mais incapaz de se prover sozinha, para preservá-la. Antes a criança era vista de formas utilitárias, e não era educada, aprendia apenas ofícios (trabalhos).

Há raras referências às idades dos alunos, pois não havia o conceito da separação de idades. Com a evolução da escola os menores passam a ser separados em virtude de sua maior fragilidade e vulnerabilidade. Surgem também professores leigos, nomeados pelas autoridades e que ensinam em locais inusitados, como esquinas, “schola” (sala) ou até mesmo suas casas e/ou celeiros. A autoridade do mestre e a separação das idades ficavam restritas a escola, voltando à mistura de idades e desorganização na vida social cotidiana.

A partir do séc. XV, pequenas comunidades democráticas tornaram-se institutos de ensino formados por mais gente, não só bolsistas, mas também administradores e professores submetidos a uma hierarquia autoritária e passou a ser ensinada no local fora da lei. O que completou a transição da escola medieval ao colégio moderno, foi quando os alunos começaram a ser disciplinados.

Page 3: SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

A evolução da escola deu-se com a separação das idades. Graças a isso, a juventude escolar foi separada do resto da sociedade que continuou fiel à mistura de idades, sexos e condições sociais (séc. XIV). Os educadores preocupavam-se mais com a formação moral de seus alunos. No início, esse modo de vida passou a ser visto como um meio de garantir a um jovem uma vida honesta. Depois, tornou-se a condição imprescindível de uma boa educação.

No século XV e, principalmente XVI, o colégio abriu-se para mais gente: leigos, nobres, e burgueses, mas também a famílias mais populares. Tornou-se, assim, uma instituição essencial da sociedade; com professores separados, disciplina rigorosa, classes numerosas e ali formariam gerações instruídas do Ancien Régime. O colégio era outro ambiente e teve uma nova concepção, (segundo pais, religiosos e magistrados) e tinha um grupo de idade maciça: determinada de 8/9 anos até mais de 15, e esses eram submetidos a uma lei diferente da que governava os adultos.

No inicio do século XV, começou a divisão da população escolar, dando origem às classes escolares que temos hoje. Eram dividas em grupos de mesma capacidade, dirigidas por um único mestre em um único local.

No inicio do século XVII a classe não possuía a homogeneidade demográfica. Havia, portanto, uma nova necessidade de análise e divisão, que caracterizou o nascimento da consciência moderna em sua zona mais intelectual, ou seja, na formação pedagógica. Durante os séculos XVI e XVII, os estudantes eram associados ao mesmo mundo picaresco dos soldados, criados, mendigos, etc. Não havia muitas distinções entre os escolares e os desonestos em geral. Eram vistos até mesmo como vagabundos, homens sem lei, não civilizados. Uma nova noção de moral iniciou-se no século XVII, através da pressão dos educadores, foram separados escolares de boêmios. As crianças escolares viriam a serem as crianças bem educadas. A rudeza e a imoralidade seriam traços das classes mais baixas, dos mendigos, dos moleques, em geral, o tópico quatro fala sobre a idade dos alunos e a visão de infância que se tinha, considerando os séculos XV ao final do XlX em relação a necessidade ou não das crianças frequentarem a escola.

A Política escolar ao longo desses séculos eliminava as crianças muito pequenas, pois as consideravam fracas, imbecis e incapazes. Devido a este motivo, se retardada a idade que uma criança entraria na escola. Assim a infância se dividia em duas fases: A Primeira Infância e a Infância Escolar.

A Primeira Infância tinha término aos 10 anos, que era o período que a criança estava mais independente em relação a sua mãe. Consequentemente Infância Escolar se iniciava aos 10 anos. Desde então nas classes escolares, era comum haver crianças de 10 a 14 anos, adolescentes e adultos de até 25 anos nas mesmas classes.

A importância dessa separação só ganhou relevância ao final do século XlX, quando a burguesia crescia e disseminava suas ideias, uma delas foi o ensino superior: a Universidade ou Grandes Escolas.

Page 4: SEBER, Maria da Glória. Piaget O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.

Somente ao final do século XlX que houve uma correspondência mais rigorosa entre a idade e a classe, onde se renovou a pedagogia e adaptou as classes para que elas fossem menos numerosos.

Nos séculos XVI e XVII os escolares eram considerados vagabundos, eram vistos do mesmo modo que os criados e os mendigos. Uma nova visão surgiu no século XVII, com os pensadores moralistas: a da criança bem-educada.

Essa criança seria o pequeno burguês na França, ou o gentleman na Inglaterra, e seria diferenciada das camadas populares, dos moleques, por ser preservada das rudezas e da imoralidade. Esse novo tipo social foi criado por uma aristocracia ameaçada, como uma defesa contra o avanço democrático. Aos poucos esses hábitos impostos às crianças e antes considerados infantis se tornaram também hábitos da elite e dos homens modernos.