SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED...O historiador francês Marc Ferro, que há muito tempo...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIDADE DIDÁTICA

ÁREA: HISTÓRIA

PROFESSORA: GISELE MARIA ALBUQUERQUE

O CINEMA E O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA: REPRESENTAÇÕES DO GENOCÍDIO EM RUANDA EM 1994, A PARTIR DO FILME HOTEL RUANDA, DE

TERRY GEORGE

IRATI – PR

MAIO/2011

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1. IDENTIFICAÇÃO1.1– ÁREA:

HISTÓRIA

1.2– PROFESSORA PDE:

GISELE MARIA ALBUQUERQUE

1.3– PROFESSOR ORIENTADOR:

CLAERCIO IVAN SCHNEIDER

1.4– INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR:

UNICENTRO – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

1.5– LOCAL:

IRATI

1.6– NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO:

IRATI

1.7– LOCAL DE RESIDÊNCIA:

IRATI

1.8– TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO:

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA

1.9– TÍTULO:

O CINEMA E O ESTUDO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA: REPRESENTAÇÕES DO GENOCÍDIO EM RUANDA EM 1994 A PARTIR DO FILME HOTEL RUANDA, DE TERRY GEORGE

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Sumário1. IDENTIFICAÇÃO...........................................................................................2

2. APRESENTAÇÃO..........................................................................................4

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................5

4. HOTEL RUANDA........................................................................................10

4.1 Ficha Técnica: .....................................................................................11

4.2 Sinopse:.............................................................................................11

4.3. Texto para leitura...............................................................................11

4.4. Atividades..........................................................................................18

5. REFERÊNCIAS..........................................................................................20

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2. APRESENTAÇÃO

Esta Unidade Didática foi idealizada pela Professora PDE Gisele Maria Albuquerque e coordenada pelo Professor Orientador da Unicentro, Professor Dr. Claercio Ivan Schneider.

Seu objetivo é apontar alguns caminhos para a utilização de filmes, em especial o filme Hotel Ruanda, como contribuição à pesquisa e ao ensino da História da África.

O filme é uma alternativa metodológica que contribui para o enriquecimento do ensino da História e para a formação de uma consciência histórica.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O Cinema e o Ensino de História da África: representações do genocídio em Ruanda em 1994 a partir do filme Hotel Ruanda, de Terry George.

A História da África, por muito tempo, foi negligenciada nos países

ocidentais. Tal fato não é resultado de uma mera casualidade, e sim, de uma

cosmovisão calcada em preconceitos estipulados pelo homem branco em

relação aos negros e à sua terra. Tais preconceitos correspondem a uma visão

eurocêntrica que, por dificuldade de explicar e reconhecer sua alteridade,

produz visões simplificadoras e redutoras para justificar a suposta inferioridade

dos negros enquanto seres humanos. Tais concepções embasam uma visão

de que os povos africanos eram incapazes de fazer e de contar suas histórias,

pois viveriam em uma imobilidade quase absoluta, sem importância nenhuma

para a história da humanidade. Nesse sentido, a história africana, vista pelo

ocidente, “teria começado somente no momento em que os europeus

passaram a manter relações com as populações do continente”. (OLIVA, 2004,

p. 20)

A História da África ainda está distante de ter seu ensino e pesquisa

consolidados. O seu reconhecimento ainda é minimizado, social e

culturalmente. Uma visão que está sendo desconstruída, diz respeito a um

continente como um todo homogêneo e generalizado.

Existem possibilidades de renovação quanto à escrita da História da

África, devido à diversidade de fontes para o seu estudo. Nesse sentido, os

filmes surgem como alternativas interessantes, pois sua utilização em uma

pesquisa implica uma problematização à luz de hipóteses de trabalho

renovadas.

O cinema é fonte para a História, e, mesmo sendo ficção, produz uma

perspectiva metodológica que coloca-o em nível de diálogo com a

historiografia. Como destaca o historiador Marc Ferro: […] o filme, imagem ou

não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é

História. (FERRO: 1971: p. 34)

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O historiador francês Marc Ferro, um dos principais nomes no campo

da pesquisa e ensino da história por intermédio da linguagem cinematográfica,

propõe duas vias para a leitura do cinema: “leitura histórica do filme e leitura

cinematográfica da história: esses são dois eixos a serem seguidos para quem

se interroga sobre a relação entre cinema e história” (FERRO: 1992: p. 19). A

primeira leitura corresponde à leitura do filme através da história, ou seja, na

direção em que foi produzido; a segunda leitura é vista como uma leitura do

filme enquanto um discurso do passado, a história lida pelo cinema.

O cinema vem exercendo uma expressiva influência cultural no mundo,

não só pelas salas de cinema, mas também pelo acesso a filmes em nosso

ambiente doméstico. O historiador como cientista social não pode se manter

alheio à influência que a imagem tem na sociedade. Segundo a historiadora

Cristiane Nova, nas últimas três décadas do século XX, foram produzidos

vários trabalhos que relacionam imagem-história: a história da imagem; a

imagem como agente da história; a imagem como testemunho (documento) do

presente; a imagem como modalidade de discursos sobre o passado; a

produção de discursos audiovisuais como meio de expressão do historiador; a

utilização das imagens no ensino da história. (NOVA: 2000: p. 144-145)

O cinema enquanto objeto de estudo, conhecimento e informação pode

ser analisado, de acordo com Antonio Costa, da seguinte forma:

A. A história no cinema: analisa os filmes enquanto fontes de documentação histórica e meios de representação da história com a possibilidade de utilizá-los em conjunto com outras fontes.

B. O cinema na história: analisa a repercussão que os filmes alcançam na sociedade, podendo assumir um papel importante no campo da propaganda política e na difusão de ideologias. (COSTA: 1989: p. 27)

Muitos historiadores tradicionais rejeitam a idéia de utilizar o filme como

fonte documental de pesquisa, sendo esta concepção ainda fruto do

positivismo. Abordando essa questão, Rosenstone diz que é preciso:

“Reconhecer que existe mais de uma verdade histórica, ou que a verdade que

trazem os audiovisuais pode ser diferente, porém não necessariamente

antagônica, da verdade escrita.” (ROSENSTONE: 1998: p. 115)

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A escrita não vai desaparecer como forma de expressão de um

acontecimento passado, porém o historiador precisa se dar conta de que ela

não é a via exclusiva de abordagem e que, portanto, deve estar preparado para

as novas possibilidades. Não esquecendo que cada uma delas possui

particularidades. A respeito disso, ainda Rosenstone comenta:

[...] as películas nos permitem contemplar paisagens, ouvir ruídos, sentir emoções, através dos semblantes dos personagens ou assistir a conflitos individuais ou coletivos. Sem desdenhar do poder da palavra, deve-se defender a capacidade de reconstrução de outros meios. (ROSENSTONE: 1998: p. 110)

O historiador francês Marc Ferro, que há muito tempo discute a

importância do cinema para a história, afirma que é possível partir da imagem,

das imagens. Não buscar nelas somente ilustração, confirmação ou

desmentido do outro saber que o da tradição escrita. Ferro diz que deve-se

considerar as imagens como tais, com o risco de apelar para outros saberes

para melhor compreendê-las. Ele diz que os historiadores já recolocaram em

seu lugar legítimo as fontes de origem popular, primeiro as escritas: o folclore,

as artes e as tradições populares. Finalizando, Ferro diz que resta agora

estudar o filme, associá-lo ao mundo que o produz. (FERRO: 1992: p. 86)

Ferro demonstra a importância do filme como fonte reveladora das

crenças, das intenções e do imaginário do homem. Demonstra como os filmes,

através de uma representação, podem servir à doutrinação ou à glorificação.

Observa também que desde o momento em que os dirigentes políticos

compreenderam a função que o cinema poderia exercer, eles tentaram se

apropriar do meio, colocando-o a seu serviço. Ressalta que o cinema pode ser

também um agente de conscientização. Para ele, o filme revela aspectos da

realidade que ultrapassam o objetivo do realizador, além de, por trás das

imagens, estar expressa a ideologia de uma sociedade. Através do filme,

chega-se ao caráter desmascarador de uma realidade política e social. Seu

objetivo é examinar a relação do filme com a sociedade que o produz/consome.

Levando em consideração o papel fundamental dos meios de

comunicação na sociedade contemporânea é necessária a reflexão sobre as

linguagens desses meios: compreender qual seu alcance, quem os produz, por

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que e para quem, como são produzidas, que lugares ocupam em nossa

sociedade e também na História como disciplina. Segundo Ferraz,

[...] a escola tradicional, que pregava um ensino estritamente visual de textos e trato superficial das imagens, não conseguiu tal intento. Sua prática axiomática se resumia ao saber-decorar. Análise e posturas questionadoras eram suprimidas pela avalanche textual e documental, fomentando a apatia nos professores e aversão nos alunos pela disciplina histórica. [...] (FERRAZ, 2006)

Ainda em relação à escola tradicional, complementa Ferraz:

[...] Os textos abordados em sala de aula traziam uma história factual, determinista e eram comprometidos com a “História Oficial” dos seus governantes e dos seus heróis. Algumas imagens de figuras ilustres sempre masculinas e brancas preenchiam esses livros “(...) em que os organizadores propõem que a imagem visual seja considerada como o lugar de construção e figuração da diferença social” (MENESES: 2003, p. 17) ficando a mulher, a criança e o negro à margem da História. [...] O índio aparecia com certa regularidade nos livros, mas sempre como um ser irascível, monstruoso e pagão. (FERRAZ, 2006)

A proposta de se trabalhar com fontes históricas não-verbais não é

recente. Em 1929, Marc Bloch e Lucien Febvre, os fundadores dos Annales,

conclamaram os historiadores a saírem dos seus gabinetes e farejarem a

“carne humana” em qualquer lugar onde pudesse ser encontrada por quaisquer

meios. A História ganha contornos mais amplos, incluindo toda a produção

material e espiritual humana. Desta forma, novos textos, tais como a pintura, o

cinema, a fotografia, etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de fazer

parte da História. Como destaca Cardoso, é preciso trabalhar “com tudo o que,

sendo do próprio homem, dele depende, lhe serve, o exprime, torna significante

a sua presença, atividade, gosto e maneira de ser”. (CARDOSO E MAUAD:

1997: p. 401-402)

Dentro dessa perspectiva libertadora e ilimitada onde tudo é História,

destacam-se todos os agentes sociais, individuais e coletivos. Configura-se a

necessidade da utilização de diversas metodologias, fontes e linguagens para a

construção de uma História mais atrativa para os jovens desinteressados e

desmotivados diante de repetições, decorações e nulidade crítica. Nesse

sentido, de novo com Napolitano:

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[...] trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. (NAPOLITANO: 2003: p. 11-12)

Alguns professores tratam a exibição dos filmes como um instrumento

ilustrativo de temas ou como solução imediata para a falta de planejamento do

dia. Diante dessa recorrente situação, as possibilidades da prática se tornam

limitadas e repetitivas. Fonseca alerta para essa questão:

[...] com relação à operacionalização do trabalho em sala de aula, acreditamos ser de extrema importância a preparação prévia do professor, ou seja, ele deve ter domínio em relação ao filme e clareza total da inserção do filme no curso, bem como dos objetivos e do trabalho a ser realizado após a projeção. (FONSECA: 2003: p. 181)

O filme Hotel Ruanda pretende reconstituir, através do cinema, o que

foi acusado de ser omitido e esquecido pelos livros e pela mídia. Mais do que

uma reconstituição histórica, Hotel Ruanda é um discurso sobre o conflito entre

os ruandeses. O filme foi realizado, segundo o autor, para mostrar ao mundo

um pedaço de uma trajetória obscurecida. A escolha temática do filme nos

mostra um esforço em chamar a atenção para as realidades que o mundo

ocidental desconhece: as mazelas da África.

Ao por em xeque uma suposta consciência social sobre os problemas

dos países periféricos e a crença nos órgãos e instituições oficiais destinadas a

(re)mediar essas realidades, Hotel Ruanda é também um agente da história.

Aclamado pelo público como um dos filmes mais tocantes do ano do

lançamento, Hotel Ruanda recebeu o Prêmio do Público no Festival de

Toronto, Canadá. O filme – divulgado como “a história real de um homem que

abriu seus braços, quando o mundo fechou os olhos” – tem sua significação

não somente nos efeitos que já produziu, mas justamente em sua possibilidade

futura de (re)leituras e (re)apropriações.

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4. HOTEL RUANDAConteúdo: O Genocídio

Objetivos: Mostrar o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994. Reconhecer o

uso de filmes como fonte para a construção do conhecimento histórico

Recursos: Mapa, Texto, DVD, Projetor Multimídia

Organização do Trabalho: As atividades serão desenvolvidas

individualmente.

Procedimentos: Localizar Ruanda no mapa, abordar o contexto histórico de

Ruanda, através de aula expositiva e textos. Antes da exibição do filme

informar somente aspectos gerais do filme (autor, duração, personagens

principais). Não interpretar antes da exibição, deixando para que cada aluno

possa fazer a sua leitura. Durante a exibição, se necessário, interromper a

projeção e fazer um rápido comentário. Depois da exibição, fazer comentários

juntamente com os alunos sobre o filme. Depois do término da análise do filme,

passar para o aluno a ficha técnica contendo as informações do filme.

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4.1 Ficha Técnica: Título: Hotel Ruanda

Título Original: Hotel Rwanda

Gênero: Drama

País: Reino Unido/Itália/África do Sul

Diretor: Terry George

Roteiro: Keir Pearson, Terry George

Elenco: Don Cheadle, Sophie Okonedo, Nick Nolte, Fana Mokoena, Joaquim

Phoenix, Hakeem Kae-Kazim, Cara Seymour, Jean Reno

Duração: 121 minutos

Ano: 2004

Localização temporal: 1994

Localização espacial: Kigali, capital de Ruanda

4.2 Sinopse:Em Ruanda, no ano de 1994, um conflito político levou à morte quase um

milhão de ruandeses, em apenas cem dias. O mundo fechou os olhos para

Ruanda. Mas um homem abriu seus braços e coração e fez a diferença. Paul

Rusesabagina era gerente de um sofisticado hotel na capital de Ruanda, quando o

conflito começou. Munido apenas de sua coragem, ele abrigou no hotel mais de

1200 adultos e crianças. Indicado a três Oscar, Hotel Ruanda conta a história de

Ruanda como um alerta ao mundo.

4.3. Texto para leituraRuanda

Localizada no interior do Leste da África, a República de Ruanda limita-se com

a República Democrática do Congo, Tanzânia, Uganda e Burundi. Seu território de 26

mil quilômetros quadrados contém uma população de 8,2 milhões de habitantes,

composta pelas etnias hutu (80%), tutsi (18%) e twa (2%). O país apresenta uma das

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mais baixas taxas de urbanização do continente africano: acima de 90% da população

vive no campo. Além da agricultura de subsistência, sobressaem os cultivos de café e

chá, principais itens de exportação. O país vem passando por processo de

restauração institucional e recuperação econômica, após os sérios conflitos internos

na primeira metade da década de 90, os quais acarretaram o genocídio de 1994. A

capital e principal centro urbano é Kigali, com 500 mil habitantes.

Ruanda constitui uma República Presidencialista, com poder executivo forte.

O atual Chefe de Estado, reeleito em 25 de agosto de 2003 e no cargo desde 24 de

março de 2000, é Paul Kagame, da etnia tutsi.

Ruanda celebra a data nacional no dia da independência, 01 de julho. Os

idiomas oficiais são o francês, o inglês e o kinyarwanda.

Por volta do século XIV, tribos das etnias hutu e twa (pigmeus) conviviam

pacificamente no território hoje formado por Ruanda e Burundi, em comunidades

baseadas na agricultura e no escambo. Gradualmente, grupos de pastores nômades

da etnia tutsi passaram a fixar-se na região, impondo-se economicamente sobre as

demais tribos. Em meados do século XVII, os tutsis haviam estabelecido um sólido

império, transformando hutus e twas em vassalos e clientes, com a tarefa de pastorear

rebanhos e cuidar das plantações.(http://www2.mre.gov.br/deaf/daf_3/ruanda2.htm)

No século XIX, a Europa presenciou amplo desenvolvimento tecnológico e

industrial, que permitiu sua evolução econômica e a afirmação como o continente mais

poderoso do mundo até a Primeira Guerra Mundial. Ao mesmo tempo em que crescia

internamente, o continente se expandia para fora de seus domínios, conquistando

terras, pessoas e novas riquezas na África e Ásia. […] No entanto, não bastava

conquistar tais territórios e impor uma dominação à força em suas populações: era

preciso justificar a razão daquele domínio e gerar um argumento incontestável. Para

tal fim, os pensadores e intelectuais europeus utilizaram-se do conceito de ciência, tido

como um saber superior e acessível a poucas pessoas. A explicação ficava clara: os

europeus, donos da ciência e do desenvolvimento, se dirigiam àquelas novas terras

para “salvar” suas populações do estado de barbárie e abandono em que estavam.

Justificava-se o Imperialismo por meio de argumentos científicos, baseados na

superioridade étnica e racial do europeu branco sobre o negro africano e o asiático:

cientificamente falando, o europeu tinha o direito de dominar os novos colonos porque

era de uma civilização mais avançada, dado o desenvolvimento que mostrava e o

poder de seu conhecimento. (www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html)

[…] Em 1885, representantes das grandes potências europeias realizaram um

encontro em Berlim para estabelecer as fronteiras de seus novos territórios africanos.

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Regra geral, as linhas traçadas no mapa […] não guardavam nenhuma relação com as

tradições políticas ou territoriais dos lugares que circunscreviam. Centenas de reinos e

tribos que operavam como nações distintas, com suas próprias línguas, suas religiões

e sua complexa história política e social, foram retalhados ou […] aglomerados sob

bandeiras europeias.[...] Em 1897 a Alemanha instalou seus primeiros postos

administrativos no país, […] e instituiu uma política de governo indireto. […] Elites

tutsis aproveitaram-se da proteção e da liberdade de ação concedidas pelos alemães

para consolidar seus feudos internos e ampliar sua hegemonia sobre os hutus. À

época em que a Liga das Nações transferiu Ruanda para a Bélgica como um espólio

da Primeira Guerra Mundial, os termos hutu e tutsi haviam se definido claramente

como identidades “étnicas” opostas, e os belgas fizeram dessa polarização a pedra

angular de sua política colonial.(GOUREVITCH, 2006, págs. 51, 52, 53)

[…] Colonização é violência, e há muitas maneiras de levar a cabo essa

violência. Além dos chefes militares e administrativos, e de um verdadeiro exército de

clérigos, os belgas enviaram cientistas a Ruanda. Os cientistas trouxeram balanças,

fitas métricas e compassos, e saíram pesando ruandeses, medindo sua capacidade

craniana e realizando análises comparativas da protuberância relativa de seus narizes.

Claro que os cientistas encontraram aquilo em que haviam acreditado o tempo todo.

Os tutsis tinham dimensões “mais nobres”, mais “naturalmente” aristocráticas que as

dos “rústicos” e “brutos” hutus. No “índice nasal”, […] o nariz médio tutsi era dois

milímetros e meio mais longo e quase cinco milímetros mais fino que o nariz hutu

médio.[...] (GOUREVITCH, 2006, pág. 54)

[…] Então, em 1933- 4, os belgas empreenderam um censo, com o objetivo

de emitir carteiras de identidade “étnicas”, que rotulavam cada ruandês como hutu, […]

tutsi.[…] As carteiras de identidade tornaram virtualmente impossível aos hutus se

transformar em tutsis, e permitiram que os belgas aperfeiçoassem a administração de

um sistema de segregação enraizado no mito da superioridade tutsi. (GOUREVITCH ,

2006, pág. 55)

[…] As escolas católicas, que dominavam o sistema educacional colonial,

praticavam uma aberta discriminação em favor dos tutsis, que tinham o monopólio dos

cargos políticos e administrativos, enquanto os hutus viam encolher ainda mais suas já

limitadas oportunidades de progresso. (GOUREVITCH, 2006, pág. 55)

Na década de 1960, seguindo o processo de descolonização do pós-Segunda

Guerra, o território ruandês foi deixado pelos belgas. Quase meio século de

dominação, ódio, entre as duas etnias, transformara aquela região em uma bomba

prestes a explodir. Cercados por uma série de problemas, a maioria hutu passou a

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atribuir todas as mazelas da nação à população tutsi.

(http://www.guerras.brasilescola.com/seculo-xx/o-genocidio-ruanda.htm)

Sob a liderança dos hutus, a independência ocorre em 1962 (descolonização)

e tem início uma guerra com os tutsis. Os combatentes tutsis se refugiam nos países

vizinhos (especialmente Congo) e em 1990 formam a FPR (Frente Patriótica

Ruandesa) e atacam ao norte do país. O governo hutu e a guerrilha tutsi chegam a um

acordo de cessar fogo em 1991, que é desfeito e um novo acordo é assinado em 1993

(Acordos de Arusha – Tanzânia).

O Genocídio

Em abril de 1994, um atentado terrorista derruba o avião que

transportava o presidente [...] de Ruanda, Juvenal Habyarimana. [...]

(educação.uol.com.br/geografia/ruanda.jhtm)

Imediatamente, a ação foi atribuída aos tutsis ligados ao FPR. Na

cidade de Kigali, capital da Ruanda, membros da guarda presidencial organizaram as

primeiras perseguições contra os tutsis e hutus moderados que formavam o grupo de

oposição política no país. Em pouco tempo, várias estações de rádio foram utilizadas

para conclamar outros membros da população hutu a matarem os “responsáveis

naturais” daquele atentado.

A propagação do ódio resultou na formação de uma milícia não oficial

chamada Interahamwe, que significa “aqueles que atacam juntos”. Em pouco mais de

três meses, uma terrível onda de violência tomou as ruas de Ruanda provocando a

morte de aproximadamente 800 mil tutsis. O conflito contra as tropas governistas

acabou sendo vencido pelos membros da FPR, que tentaram estabelecer um regime

conciliatório.

Apesar dos esforços, a matança e a violência em Ruanda fizeram com que

cerca de dois milhões de cidadãos fugissem para os campos de refugiados formados

no Congo. [...] (http://www.guerras.brasilescola.com/seculo-xx/o-genocidio-ruanda.htm)

Até o fim do massacre [...] os hutus, acostumados ao trabalho árduo nos

bananais e nos cafezais, haviam trocado as atividades pela rotina de matar

diariamente. Como declaram no livro de Hatzfeld, era uma tarefa mais lucrativa, que

trazia fartura para dentro de casa, pois não se preocupavam mais com a seca e as

colheitas perdidas e acumulavam bens com as pilhagens.

Mesmo os hutus moderados, que não compartilhavam da idéia do genocídio,

sofreram ameaças por não colaborarem e alguns foram mortos. Muitos desertores

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tinham de pagar multas em dinheiro ou eram obrigados a matar como forma de provar

sua fidelidade às autoridades policiais. É o que ocorre, em certo momento do filme

“Hotel Ruanda”, com o personagem Paul Rusesabagina, cuja esposa era tutsi. Ele

implora a um oficial do exército hutu para não matar sua mulher e outros vizinhos

tutsis que estão jogados no chão. O militar oferece-lhe a arma e ordena: “atire neles”.

Paul diz que não sabe usar armas e promete retribuir com dinheiro, caso o oficial deixe

os amigos em paz. “Quem hesitasse em matar, por causa de sentimentos de tristeza,

tinha de disfarçar suas palavras a todo custo e não dizer nada sobre a razão de sua

reticência, sob pena de ser acusado de cumplicidade”, disse Pio Mutungirehe em

depoimento no livro de Hatzfeld. (http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2739,1.shl)

Segundo Hatzfeld, é preciso atribuir rostos e vozes aos assassinos evocados

pelos sobreviventes; deve-se quebrar o silêncio e as mentiras para se aproximar dos

verdadeiros fatores que levaram ao extermínio. O jornalista procura as razões do

massacre no relato dos próprios matadores. Um dos entrevistados, Joseph-Désiré

Bitero,disse-lhe:

[...] “A fonte de um genocídio o senhor jamais verá, está enterrada bem no fundo dos rancores, sob um acúmulo de desentendimentos dos quais herdamos o último. Chegamos à idade adulta no pior momento da história de Ruanda, fomos educados na obediência absoluta, no ódio, fomos entupidos de fórmulas, somos uma geração sem sorte”. (HATZFELD, 2005, págs. 193- 194)

De acordo com Linda Melvern, uma jornalista britânica que teve acesso a

documentos oficiais, o genocídio foi planificado. No início da carnificina, a tropa

ruandesa estava composta por 30.000 homens [...] e organizados por todo o país com

representantes em cada vizinhança. Alguns membros da tropa podiam adquirir rifles

de assalto AK-47 tão somente preenchendo um formulário de demanda. Outras armas

tais como granadas nem sequer requeriam desse trâmite e foram distribuídas de forma

maciça.

[...] Apurou-se que o genocídio foi financiado, pelo menos parcialmente, com

o dinheiro apropriado de programas de ajuda internacionais, tais como o financiamento

fornecido pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional sob um Programa de

Ajuste Estrutural. Estima-se que 134 milhões de dólares foram gastos na preparação

do genocídio em Ruanda – uma das nações mais pobres da terra – com 4,6 milhões

de dólares gastos somente em facões, enxadas, machados, lâminas e martelos.

[...]Segundo Melvern, o primeiro-ministro de Ruanda, [...] revelou que o genocídio foi

discutido abertamente em reuniões de gabinete, e uma ministra de gabinete teria dito

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que ela era “pessoalmente a favor de conseguir livrar-se de todos os tutsis... sem os

tutsis todos os problemas de Ruanda desapareceriam”.

[...] A atrocidade desconheceu até mesmo casta religiosa. Durante a violência

étnica, muitos clérigos de várias denominações se posicionaram a favor de sua etnia.

Padres, freiras, pastores e bispos tomaram o seu partido em ambos os lados. Pelo

menos 300 clérigos e freiras foram mortos por serem tutsi, ou porque estavam

ajudando os tutsi. Outros da etnia hutu, apoiaram ou até mesmo participaram,

ativamente, colaborando com os matadores.

(http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/3572887.stm)

Durante três anos, o jornalista norte-americano Philip Gourevitch mergulhou

na história e na realidade ruandesa para tentar desvendar os acontecimentos. Ouviu

centenas de pessoas, reconstituindo o drama dos envolvidos na tragédia, fossem eles

sobreviventes, assassinos ou cúmplices. Segundo François Xavier Nkurunziza, um

advogado de Kigali,

[...] “Na história de Ruanda, todo mundo obedece à autoridade. As pessoas reverenciam o poder, e o nível de educação não é suficiente. Você pega uma população pobre e ignorante, joga uma arma na mão de cada um e diz:’É sua. Mate’. Eles obedecerão. Os camponeses, que eram pagos ou forçados a matar, observavam as pessoas de um patamar socioeconômico mais elevado para ver como elas se comportavam. Portanto, as pessoas influentes, ou os grandes homens de negócios, são as grandes figuras do genocídio. Eles podem pensar que não mataram porque não tiraram vidas com as próprias mãos, mas o povo os olhava à espera de ordens. E, em Ruanda, uma ordem pode ser dada muito silenciosamente”. (GOUREVITCH, págs. 23-24, 2006)

Um dos sobreviventes, Samuel Ndagijimana, trabalhava como assistente no

hospital de Mugonero, e foi no hospital que Samuel buscou refúgio durante as

chacinas. Mugonero era a sede da missão dos Adventistas do Sétimo Dia. O

presidente da igreja adventista era o pastor Elizaphan Ntakirutimana e seu filho,

doutor Gerard Ntakirutimana, era médico no hospital onde Samuel trabalhava.

Segundo Samuel relatou, em 12 de abril o hospital estava lotado por uns 2 mil

refugiados, entre tutsis e hutus. O dr. Gerard evacuou os hutus. No dia 15 de abril os

refugiados que estavam no hospital foram avisados de que seriam atacados na manhã

seguinte. Então sete pastores que estavam refugiados no hospital escreveram cartas

para o prefeito e para o superior deles, o pastor Elizaphan Ntakirutimana, pedindo que

intercedessem a seu favor. A resposta do pastor arrasou o espírito de Samuel: [...] “Já

foi encontrada uma solução para o seu problema. Vocês devem morrer”.

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[...] Em meados de julho de 1994, três meses depois do massacre no

complexo adventista de Mugonero, o presidente da igreja, pastor Elizaphan

Ntakirutimana, fugiu com sua mulher para o Zaire, depois para Zâmbia, e dali para

Laredo, no Texas. (GOUREVITCH, pág. 34, 2006)

Philip Gourevitch foi à Nova York em setembro de 1996 e soube que o FBI

estava se preparando para prender Elizaphan Ntakirutimana em Laredo. O Tribunal

Internacional das Nações Unidas para Ruanda, [...] o indiciara sob três acusações de

genocídio e três de crimes contra a humanidade. O indiciamento, que incluía sob as

mesmas acusações o dr. Gerard Ntakirutimana, assim como o prefeito, [...] confirmava

a história que os sobreviventes haviam contado a Philip:

[...] O pastor havia “instruído” os tutsis a se refugiar no complexo adventista, o dr. Gerard havia ajudado a separar os “não-tutsis” dos outros refugiados; pai e filho haviam chegado ao complexo na manhã de 16 de abril de 1994, num comboio de agressores; e “durante os meses que se seguiram”, ambos eram acusados de ter “procurado e atacado sobreviventes tutsis e outros, matando-os ou causando-lhes sérios danos físicos e mentais”. (GOUREVITCH, pág. 35, 2006)

Gourevitch conseguiu entrevistar o pastor Elizaphan

Ntakirutimana. Conversaram bastante, o pastor negou as acusações que lhe

eram feitas. Gourevitch perguntou-lhe se lembrava das palavras exatas da

carta enviada a ele pelos pastores tutsis mortos em Mugonero. O pastor deu-

lhe uma cópia traduzida da carta. O pastor justificou-se dizendo que procurou o

prefeito, mas este disse-lhe que não havia mais governo, então nada poderia

ser feito.

Estava datada de 15 de abril de 1994.

[...] Nosso querido líder, pastor Elizaphan Ntakirutimana, Como vai? Esperamos que esteja firme em meio a todos esses problemas que estamos enfrentando. Desejamos informar-lhe que soubemos que amanhã seremos mortos junto com nossas famílias. Por isso lhe pedimos que interceda em nosso favor e fale com o prefeito. Acreditamos que, com a ajuda de Deus, que lhe confiou a liderança deste rebanho que está para ser liquidado, sua intervenção será altamente reconhecida, assim como a salvação dos judeus por Ester. Nós o reverenciamos. (GOUREVITCH, pág. 42, 2006)

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4.4. Atividades

4.4.1. Escreva o nome dos países do continente africano, pesquise a época da independência de Ruanda, para quais países se deslocaram os refugiados ruandeses e crie uma legenda para essas informações:

ÁFRICA POLÍTICO

ATLAS DO ESTUDANTE RIDEEL

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4.4.2. A partir da análise do filme Hotel Ruanda explique a responsabilidade da colonização belga em relação ao genocídio ocorrido em 1994:4.4.3. Faça uma crítica sobre a atuação da ONU no genocídio em Ruanda em 1994:4.4.4. “- De pé, tutsis!

Cadeiras se arrastaram sobre o chão, e seis alunos da quarta série em que eu estudava se puseram de pé imediatamente. Eu não entendi o que estava acontecendo, já que até então frequentara a escola de minha mãe. Agora, aos 10 anos, era meu primeiro dia na escola para os mais velhos, e me senti confusa com a movimentação. Eu nunca havia visto um professor fazer a chamada baseando-se na etnia.

- De pé, todos os tutsis – berrou o professor Buhoro. E foi marcando os nomes a lápis numa lista, a seguir parou diante de mim e me encarou.

- Immaculée Ilibagiza, você não se levantou quando chamei os hutús, não se levantou quando chamei os twas, e continua sentada depois que chamei os tutsis. Por quê? - Buhoro sorria, mas sua voz soava dura e má.

- Não sei, professor.- A qual tribo você pertence?- Não sei, professor.- Você é uma tutsi ou hutú?- E... eu não sei, professor.- Saia! Saia da classe e não volte até saber quem é.Recolhi meus livros e saí da sala, envergonhada e de cabeça baixa. Embora

ainda não o soubesse, eu acabava de receber minha primeira aula sobre as diferenças étnicas em Ruanda, e foi um despertar doloroso.” (ILIBAGIZA, pág. 29, 2008)Immaculée Ilibagiza é sobrevivente do genocídio de Ruanda. Nesse pequeno trecho do seu livro (Sobrevivi para contar) ela narra sua primeira experiência em relação ao preconceito. Comente a atitude do professor:4.4.5.”As notícias transmitidas pelo rádio do pastor eram desalentadoras: líderes do governo haviam convertido todas as emissoras de rádio ruandesas em uma mortífera máquina de propaganda. Por toda parte, locutores pregavam aos hutús que era seu dever matar qualquer tútsi avistado, sem fazer perguntas. Nada funcionava no país, para que o trabalho não interferisse com a tarefa de matar. Quando fazendeiros se queixaram de que suas lavouras morriam, um funcionário aconselhou que se alguém tivesse que tirar uns dias de folga para cuidar do campo, deveriam trabalhar armados.”(ILIBAGIZA, pág. 115, 2008)

Durante o genocídio, Immaculée ficou escondida na casa de um pastor. Nesse trecho do seu livro, ela conta sobre as vezes que conseguia ouvir as notícias pelo rádio. Escreva sobre o poder que a mídia tem para influenciar pessoas:

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5. REFERÊNCIASATLAS DO ESTUDANTE RIDEEL / com assessoria de Geraldo Francisco Sales. São Paulo: Rideel, 2002

CARDOSO, Ciro Flamarion & MAUAD, Ana Maria. História e Imagem: Os exemplos da fotografia e do cinema; Rio de Janeiro: Campus, 1997.

COSTA, Antonio. Compreender o cinema. 2ª Ed. São Paulo: Globo, 1989.

FERRAZ, Liz de Oliveira Motta. Revista O Olho da História; ano 12, nº 9, 2006.

FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História: experiências, reflexões e aprendizagens. São Paulo, Papirus, 2003.

GOUREVITCH, Philip. Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

ILIBAGIZA, Immaculée. Sobrevivi para contar: o poder da fé me salvou de um massacre. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala da aula. São Paulo: Contexto, 2003.

NOVA, Cristiane. “A ‘História’ diante dos desafios imagéticos”. In: Revista Projeto História. São Paulo: v. 21, 2000

OLIVA, Anderson Ribeiro. “A história da África em perspectiva”. In: Revista Múltipla. Brasília, junho, 2004.

ROSENSTONE, Robert A. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

---. “História em imagens, história em palavras: reflexões sobre as possibilidades de plasmar a história em imagens”. In: O Olho da História: revista de história contemporânea. Salvador, v. 1, nº 5, 1998.

SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História. Paraná: Curitiba, 2008.

Disponível em: (educação.uol.com.br/geografia/ruanda.jhtm). Por Érica Alves da Silva. Acesssado em 15/06/2011

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Disponível em: (http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/3572887.stm). Por Linda Melvern. Acessado em 28/06/2011Disponível em: (http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2739,1.shl). Por Fernando Masini. Acessado em 28/06/2011Disponível em: http://www2.mre.gov.br/deaf/daf_3/ruanda2.htm. Por DEAF. Departamento da África. 2005. Acessado em 20/06/2011Disponível em: (www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html). Por Angela Birardi, Gláucia Rodrigues Castelani, e Luiz Fernando B. Belatto. Acessado em 20/06/2011

Disponível em: (http://www.guerras.brasilescola.com/seculo-xx/o-genocidio-ruanda.htm) Por Rainer SousaGraduado em HistóriaEquipe Brasil Escola . Acessado em 20/06/2011