Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
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Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
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Objetivo 1. Entender a necessidade do seguimento farmacoterapêutico no âmbito da prestação
de cuidados farmacêuticos
Objectivo que se pretende alcançar com a utilização de medicamentos melhorar a qualidade de vida dos
doentes, através da cura das doenças ou, quando isto não e possível, controlar as suas consequências e os
seus sintomas.
Medicamentos constituem a "arma terapêutica" mais usada para manter ou melhorar a saúde da
população.
O SF deve ser completo e sistematizado e deve ser feito ao longo dos anos.
Permite seguir ao longo do tempo os problemas de saúde dos doentes
Não há uma vasta implementação em Portugal
Nasceu em 1999 (é recente) na Universidade de Granada
É leccionado em Portugal há poucos anos (2 ou 3 anos)
Têm sido desenvolvidos cursos sobre este tema
Em muitas ocasiões a farmacoterapia falha.
Isto acontece quando os medicamentos causam dano (não são
seguros) e/ou quando não atingem o objectivo para o qual foram
prescritos (não são efectivos).
Fracassos da farmacoterapia:
Publicados em numerosos estudos
Atualmente não existem dúvidas de que provocam perdas na saúde dos doentes e perdas económicas
ao conjunto da sociedade
Também se demonstrou que são, em grande percentagem, evitáveis.
Justifica o desenvolvimento do conceito de Cuidados Farmacêuticos (CF), que pretende trazer soluções
para este problema de Saúde Pública e constituir uma resposta efectiva para detectar, prevenir e resolver
estes fracassos da farmacoterapia.
Os Cuidados Farmacêuticos englobam todas as actividades assistenciais do farmacêutico orientadas para o
doente que utiliza medicamentos. Entre estas actividades está o seguimento farmacoterapêutico (SF).
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Objetivo 2. Definir o conceito atual de seguimento farmacoterapêutico e compreender os
objetivos e procedimentos
O seguimento farmacoterapêutico é uma prática clínica que pretende monitorizar e avaliar
continuamente, a farmacoterapia do doente com o objectivo de melhorar os resultados em saúde.
O profissional mais qualificado para realizar o SF é o farmacêutico pela sua:
formação específica em medicamentos
acessibilidade
motivação para que o seu trabalho assistencial seja reconhecido
Definição actual SF:
Em relação à definição de SF é necessário fazer as seguintes considerações:
Constitui uma actividade profissional, na qual o farmacêutico tem que assumir a responsabilidade pelas
necessidades que os doentes têm em relação aos seus medicamentos não se trata de uma simples
aplicação de conhecimentos técnicos, mas sim do farmacêutico ser capaz de utilizá-los e aplicá-los para
avaliar e intervir em cada situação
Pode haver medo de assumir a responsabilidade
Temos de estar seguros daquilo que fazemos
Detecção
Prevenção
Resolução dos resultados
negativos associados à
medicação
conduz inevitavelmente à monitorização e avaliação contínua (ininterrupta e indefinida no tempo) dos efeitos dos medicamentos que o doente utiliza
Isto transforma o SF numa actividade clínica, na qual o farmacêutico vai detectar alterações no estado de saúde do doente atribuíveis ao uso da medicação
O farmacêutico deve dedicar-se inteiramente a isso
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Para realizar este trabalho deverá utilizar e medir variáveis clínicas (sintomas, sinais, eventos clínicos,
medições metabólicas ou fisiológicas) que permitam determinar se a farmacoterapia está a ser necessária,
efectiva e/ou segura.
É necessário ter meios
O objectivo é obter resultados
Registo de alterações, muitas delas não mensuráveis. Ex. sintomas
A realização do SF implica a necessária colaboração e integração do farmacêutico na equipa
multidisciplinar de saúde que atende o doente.
Dentro desta equipa, o farmacêutico deve conhecer e definir qual é a sua função na gestão e no
cuidado dos problemas de saúde do doente e fornecer o seu parecer clínico, elaborado na
perspectiva do medicamento, sempre que considere conveniente.
O SF deve ser disponibilizado de modo contínuo significa que o farmacêutico deve cooperar e
colaborar com o doente por tempo indeterminado (compromisso)
Para isto, o farmacêutico tem de:
se envolver, não apenas, na prevenção ou resolução dos RNM quando estes surgem, mas
também, no tratamento integral dos problemas de saúde do doente
desenvolver acções educativas
monitorizar os tratamentos e os seus efeitos
realizar qualquer actividade que permita optimizar o cuidado dos problemas de saúde e
obter o maior benefício possível da farmacoterapia que o doente utiliza.
Para promover a continuidade do SF no tempo, este engloba o desenvolvimento de um plano de actuação
destinado a preservar ou a melhorar o estado de saúde do doente, avaliando continuamente os resultados
das intervenções realizadas.
No centro (cerne) está o medicamento; este depois relaciona-se com as patologias.
O SF realiza-se de modo sistematizado significa que se ajusta às orientações ou normas,
ordenadamente relacionadas entre si, que contribuem para atingir o objectivo: melhorar ou manter o
estado de saúde do doente. Como tal, o SF necessita da concepção e do desenvolvimento de
procedimentos (métodos), facilmente aplicáveis, em qualquer âmbito assistencial, que definam um modo
estruturado e ordenado de actuar, e que, por sua vez, ajudem a focar o trabalho do farmacêutico.
Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico desenvolvido pelo “Grupo de Investigación en
Atención Farmacéutica de la Universidad de Granada”
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Apresenta-se como uma ferramenta útil, permitindo ao farmacêutico seguir normas claras e simples para
realizar SF de forma sistematizada.
Objetivo 3. Clarificar os conceitos atuais de problemas relacionados com os medicamentos
(PRM) e de resultados negativos associados a medicação (RNM) no âmbito dos cuidados
farmacêuticos
PRM
"aquelas situações que causam ou podem causar o aparecimento de um resultado negativo associado
ao uso de medicamentos.”
passam a ser todas as situações que colocam o utilizador de medicamentos em maior risco de sofrer um
RNM.
Neste momento, os PRM e os RNM estão perfeitamente diferenciados.
Para além disto, o FORO propõe uma listagem, não exaustiva nem excludente, de PRM que podem ser
apontados como possíveis causas de um RNM:
Administração errada do medicamento
Características pessoais
Conservação inadequada
Contra-indicação
Dose, esquema terapêutico e/ou duração não adequada
Duplicação
Erros na dispensa
Erros na prescrição
Incumprimento
Interacções
Outros problemas de saúde que afectam o tratamento
Probabilidade de efeitos adversos
Problema de saúde insuficientemente tratado
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Outros
É preciso entender que garantir o processo de uso de um medicamento não assegura que se atinjam
resultados positivos no doente.
O SF procura resolver RNM manifestados no doente. Estes poderão ser detectados, pois existem
variáveis clínicas que permitem confirmar a sua presença.
SF também tem de prevenir o aparecimento ou a manifestação de RNM no doente.
Estes RNM podem não ter aparecido, mas apresentam uma elevada probabilidade de se manifestarem, ou
então não existe a possibilidade de confirmar a sua presença, por não se dispor de uma variável clínica que
permita avaliar o seu estado (existe o problema de saúde, mas não pode ser medido).
Nestes casos, embora não se possa confirmar a presença do RNM, poder-se-á identificar a(s) situação(ões)
de risco (PRM ou outras causas) que aumenta(m) a probabilidade do RNM aparecer ou se manifestar. Estes
casos serão designados por suspeitas de resultados negativos da medicação.
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Necessária
Efectiva
Segura
Objetivo 4. Conhecer a classificação dos resultados negativos associados à medicação (RNM)
Na classificação dos RNM,
consideram-se 3 premissas
que a farmacoterapia utilizada
pelos doentes deve cumprir:
O(s) medicamento (s) que origina(m) um RNM não cumpriu, pelo menos, uma destas premissas. Assim
sendo, o RNM (ou a suspeita de RNM, depende da situação) classificar-se-á em função da (s) premissa (s)
que “não se cumpre (m) ”:
Inefectividade quantitativa não toma a quantidade correcta; dose inadequada
Por exemplo:
Doente com HTA (único problema de saúde), que tem prescrito Enalapril 20 mg (1-0-0) e que não cumpre o
tratamento (toma-o dia sim, dia não). Os seus valores médios de pressão arterial são 160/100. O RNM é a
elevação da PA e classificar-se-ia como uma inefectividade (é a premissa que o medicamento não cumpre)
deve existir um
problema de
saúde que
justifique o seu
uso
deve atingir os objectivos terapêuticos planeados
não deve produzir nem agravar outros problemas de saúde
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quantitativa (o doente não toma a quantidade que lhe prescreveram). Neste caso, o PRM seria o
incumprimento.
Objetivo 5. Conhecer o tipo de informação que deve constar da história farmacoterapêutica do
doente em seguimento farmacoterapêutico
História farmacoterapêutica
Conjunto de documentos, elaborados e/ou reunidos pelo farmacêutico durante o processo de assistência
ao doente, que contêm os dados, opiniões (pareceres clínicos) e informações de qualquer índole,
destinados a monitorizar e a avaliar os efeitos da farmacoterapia utilizada pelo doente.
Em traços gerais, na história farmacoterapêutica recolhe-se informação sobre:
Motivo da oferta do serviço de SF.
Problemas de saúde e efeitos ou resultados devidos à utilização da farmacoterapia.
A história farmacoterapêutica deve conter a informação clínica que permita avaliar o estado de
saúde do doente e as alterações que ocorrem, em consequência, do uso dos medicamentos:
• Medições clínicas (ex.: valores de glicemia, pressão arterial, etc.)
• Sintomas e sinais
• Eventos clínicos
Outras apreciações que o doente possa fazer sobre a evolução dos seus problemas de saúde.
Farmacoterapia do doente.
Inclui-se a informação sobre datas de início e fim de uso dos medicamentos, ajustes nas doses,
dosagens e esquemas terapêuticos, alterações da forma farmacêutica e via de administração,
médicos prescritores, etc.
Apreciações do farmacêutico.
Na história farmacêutica devem estar todos os pareceres elaborados pelo farmacêutico acerca do
estado de saúde e da farmacoterapia do doente. Estas apreciações podem constituir, em muitas
ocasiões, o fundamento das decisões tomadas durante o SF.
Planificação, evolução e resultado das intervenções farmacêuticas realizadas para melhorar ou
preservar os resultados da farmacoterapia.
Trata-se de toda a informação relacionada com as acções empreendidas pelo farmacêutico para
atingir os objectivos acordados com o doente durante o SF. Anotam-se as alterações produzidas na
conduta e nos comportamentos do doente, as decisões médicas tomadas em resposta às
intervenções realizadas, assim como, a informação que permita determinar a evolução do estado
de saúde do doente, após as intervenções.
Consentimento informado, relatórios para o médico e outros profissionais de saúde.
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Dados de contacto do doente.
Para facilitar a elaboração da história farmacoterapêutica, o Método Dáder propõe utilizar uma série de
documentos de registo, que permitem recolher a informação gerada durante o SF, de forma ordenada e
estruturada. Entre estes documentos de registo, encontram-se os seguintes:
1. A pasta da história farmacoterapêutica
- serve de capa para todos os documentos que se
vão acumulando durante o processo assistencial ao
doente
- além disto, servirá para anotar o motivo da oferta
do serviço e do início do SF
2. As folhas da entrevista farmacêutica
- permitem recolher informação sobre os
problemas de saúde, os medicamentos e os
parâmetros clínicos (mensuráveis) do doente
3. O estado da situação - destinado à análise do caso e à avaliação da
farmacoterapia
4. As folhas do plano de actuação
- onde se definem os objectivos a atingir com o
doente
- onde se programam as intervenções farmacêuticas
empreendidas para os concretizar
5. As folhas das entrevistas sucessivas - onde se anotará a informação proveniente dos
encontros reiterados com o doente
6. As folhas de intervenção
- as intervenções realizadas para melhorar ou
preservar o estado de saúde do doente
- resumem e servem como sistema de notificação
com o programa Dáder de SF
Objetivo 6. Conhecer o método Dáder de seguimento farmacoterapêutico e as diferentes etapas
do método
Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico
Procedimento operativo simples que permite realizar SF a qualquer doente, em qualquer âmbito
assistencial, de forma sistematizada, continuada e documentada.
A sua aplicação permite registar, monitorizar e avaliar os efeitos da farmacoterapia utilizada por
um doente, através de procedimentos simples e claros.
Baseia-se em obter informação sobre os problemas de saúde e a farmacoterapia do doente para ir
elaborando a história farmacoterapêutica.
A partir da informação contida na história, elaboram-se os estados da situação do doente, que permitem
visualizar o “panorama” sobre a sua saúde e o seu tratamento em distintos momentos, assim como avaliar
os resultados da farmacoterapia.
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Em consequência da avaliação e da análise dos estados da situação, estabelece-se um plano de actuação
com o doente, onde ficarão registadas todas as intervenções farmacêuticas que se considerem oportunas
para melhorar ou preservar o seu estado de saúde.
Estabelece normas básicas para a realização do SF
Caracteriza-se por ser adaptável e por se ajustar às particularidades do local assistencial.
Também se distingue por evoluir (melhorar) e adequar-se às necessidades de uma actividade
clínica - o SF, que está em contínuo desenvolvimento o método tende a sofrer reformas ou
inovações (actualizações) devidas à experiência adquirida com a prática do SF, que por sua vez,
levam a contínuas revisões do método
As modificações no método surgem, fundamentalmente, baseadas na experiência acumulada pelos
farmacêuticos que o utilizam, nas investigações realizadas graças ao envio das intervenções farmacêuticas
para o Programa Dáder.
A utilidade deste procedimento manifesta-se quando se percebe o elevado número de farmacêuticos, de
diversos países do mundo, que o põem em prática. Igualmente, destaca-se a sua capacidade de aplicação
em distintos contextos assistenciais.
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A quem fazer?
Patologia crónica
Fidelidade à farmácia
Facilidade de comunicação (não escolher doentes com doenças psiquiátricas)
3 – elaborar depois do doente ter ido à farmácia
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Exercício 1. Escolhamos um doente.
Para aprender a fazer SF é preciso superar os receios e escolher o primeiro doente. É importante que
saibamos que o propósito para trabalhar com o primeiro doente é aprender, e que provavelmente não
conseguiremos ajudá-lo tanto quanto desejaríamos o que poderemos fazer quando dominarmos o
processo.
Escolha um doente que se adeqúe às metas estabelecidas e proponha-lhe o serviço de SF. Não se esqueça
de marcar uma data para a primeira entrevista e diga-lhe para trazer o saco com os medicamentos e os
documentos de que disponha.
1. Oferta do serviço
Consiste em explicar, de forma clara e concisa, a prestação dos cuidados de saúde que o doente vai
receber: o que é, o que pretende e quais são as suas características principais.
o seu propósito será convidar e incluir o doente no serviço de SF.
Geralmente, o serviço de SF oferece-se quando se percepciona alguma necessidade do doente
relacionada com os seus medicamentos.
A farmácia comunitária é o contexto assistencial por excelência onde a oferta do serviço é
realizada directamente ao doente.
Existem determinados aspectos que têm de ficar claros na oferta do serviço:
▶ Objectivo: conseguir o máximo benefício dos medicamentos que utiliza.
▶ Utilizar frases do tipo “podemos ajudá-lo a obter o máximo benefício dos seus medicamentos”, ou
“vamos tentar melhorar os resultados dos seus medicamentos” podem servir para suscitar o
interesse do doente por este serviço que poderá receber.
▶ O farmacêutico não vai substituir a função de nenhum outro profissional de saúde, mas sim
trabalhar em equipa.
▶ Não se pretende iniciar nem suspender nenhum tratamento, assim como, não se alterarão
esquemas terapêuticos sem a decisão do médico.
A co-responsabilidade e a colaboração entre o farmacêutico e o doente são elementos fundamentais.
O doente tem que saber que não se tomará nenhuma decisão sobre os seus medicamentos sem a sua
participação e que, em qualquer caso, tratar-se-á sempre de fazer um acordo entre ambos, para tomar a
decisão mais oportuna que permita resolver os problemas que possam surgir.
Podem-se empregar expressões como “vamos trabalhar juntos para conseguir os objectivos a que nos
propusemos”.
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É necessário esclarecer o doente, que é livre de abandonar o serviço quando o desejar.
O serviço prolongar-se-á no tempo explicar-se-á que periodicamente lhe será pedido que venha
à farmácia, o que acontecerá em função das suas necessidades relacionadas com a sua
farmacoterapia.
Ao concluir a oferta do serviço é importante, para que a entrevista farmacêutica decorra
satisfatoriamente, combinar com o doente o seguinte:
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2. Primeira Entrevista
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3. Estado da Situação
É um documento que mostra, resumidamente, a relação entre os problemas de saúde e os
medicamentos do doente, numa determinada data.
Trata-se de uma ferramenta que permite analisar a “fotografia do doente” numa data concreta.
Elabora-se com a informação da história farmacoterapêutica do doente, que se organiza de forma
estruturada num documento.
Obtém-se uma “esquematização” dos problemas de saúde e dos medicamentos do doente que permite
dispor de uma “visão geral” sobre o estado de saúde do doente.
Para organizar a informação obtida na primeira entrevista e continuar adequadamente o processo,
recomenda-se que se elabore sempre o estado da situação do doente.
Fins para os quais se elabora o estado da
situação
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Problema de saúde se não comprovado com diagnóstico por entre aspas
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4. Fase de Estudo
o é a etapa que permite obter informação objectiva sobre os problemas de saúde e a medicação do
doente.
o Trata-se de encontrar a melhor evidência científica disponível a partir de uma pesquisa de
informação, que se realizará com o maior rigor possível, nas fontes mais relevantes e focada na
situação clínica do doente.
Em termos gerais, a fase de estudo tem de aportar informação necessária que permita:
Avaliar criticamente a necessidade, a efectividade e a seguridade da medicação que o doente
utiliza numa determinada data.
Desenhar um plano de actuação com o doente e a equipa de saúde, que permita melhorar e/ou
manter os resultados da farmacoterapia de forma prolongada no tempo.
Promover a tomada de decisões clínicas baseada na evidência científica durante todo o processo
de SF.
Os livros de:
patologia clínica
fisiopatologia
medicina clínica
contêm conhecimentos básicos sobre os problemas de saúde
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Algumas doenças pouco comuns devem ser pesquisadas em fontes bibliográficas especializadas.
Guias de Prática Clínica proporcionam informação insubstituível para aplicar conhecimentos clínicos à
prática assistencial, em relação ao controlo do problema de saúde.
Manuais de Terapêutica disponibilizam informação geral sobre o diagnóstico, prognóstico e tratamento
do problema de saúde.
Para os problemas de saúde pouco comuns deve-se recorrer a fontes mais especializadas de Evidência para
os Cuidados de Saúde.
Fase de estudo dos medicamentos
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5. Fase de Avaliação
Objectivo: identificar os resultados negativos associados à medicação que o doente apresenta (quer os
manifestados, quer as suspeitas de RNM).
Antes de começar a fase de avaliação…
Deve assegurar-se de que dispõe de toda a informação necessária (suficiente) para avaliar a
farmacoterapia e determinar se é necessária, efectiva e segura.
A fase de avaliação tem de realizar-se sobre um estado da situação previamente elaborado. Não
utilizar o estado da situação, aumenta a probabilidade de erros na identificação dos RNM.
O estado da situação que se vai utilizar para avaliar a farmacoterapia deve incluir as modificações
provenientes da fase de estudo, assim como, a informação actualizada dos PS e medicamentos do
doente (caso se tenha produzido alguma mudança). Se o procedimento não for este, podem
aparecer problemas na identificação dos RNM.
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6. Fase de Intervenção
Objectivo: conceber e levar a efeito o plano de actuação com o doente.
▶ é um programa de trabalho continuado no tempo, desenhado em conjunto com o doente, onde
ficam registadas as diferentes intervenções farmacêuticas que se vão empreender para melhorar
ou preservar o estado de saúde do doente.
▶ Uma intervenção farmacêutica é qualquer “acção (actividade), que surge de uma tomada de
decisão prévia e que pretende alterar qualquer característica do tratamento, do doente que o usa
ou das circunstâncias presentes que o envolvem”.
▶ A sua finalidade será:
1) resolver ou prevenir os RNM
2) preservar ou melhorar os resultados positivos alcançados
3) assessorar ou instruir o doente para ter mais e melhores cuidados, para o seguimento dos seus
problemas de saúde e para melhorar o uso dos seus medicamentos.
O desenho do plano de actuação inclui os seguintes passos:
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Carta ao médico
7. Entrevistas sucessivas
As entrevistas farmacêuticas após a fase de intervenção fecham o processo de seguimento do doente,
tornando-o cíclico.
As entrevistas sucessivas com o doente servem para:
Conhecer a resposta do doente e/ou do médico à proposta de intervenção realizada pelo
farmacêutico.
poder-se-á determinar se a intervenção foi aceite ou não, pelos restantes membros da
equipa de saúde, incluindo o doente
anotar-se-ão as alterações produzidas em consequência da intervenção: alterações na
farmacoterapia, incorporação de novos estilos de vida ou medidas higieno-dietéticas por
parte do doente, etc.
Comprovar a continuidade da intervenção assegurar que as alterações promovidas pelas
intervenções se mantêm ou continuam no tempo
Isto terá que se realizar periodicamente, segundo a natureza da intervenção
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aproveitar-se-á para reforçar os comportamentos positivos adquiridos.
Obter informação sobre o resultado da intervenção farmacêutica.
Passado o tempo necessário, medir-se-ão as variáveis clínicas (sintomas, sinais, medições
fisiológicas ou metabólicas) que permitam avaliar o efeito da intervenção.
O resultado da intervenção é favorável se a melhoria conseguida atingiu o objectivo
terapêutico planeado para o doente ou se se manteve o estado de saúde inicial, quando
este era o adequado. Caso contrário, considera-se que a situação não está resolvida,
podendo originar novas intervenções.
Exercício 7. Como continuará o doente?
Chegou o momento de verificar se as alterações propostas se realizaram, de saber como estão as
intervenções iniciadas e qual foi o resultado obtido. Se tem o resultado de alguma das intervenções
realizadas, complete o preenchimento da folha de intervenção e envie-a para o Programa Dáder.
Já está a fazer seguimento farmacoterapêutico! A partir de agora, continue.
Boa sorte!
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Objetivo 7. Discutir casos práticos referentes à aplicação do Método Dáder no âmbito do
Seguimento Farmacoterapêutico
Farmacocinética clínica
Otimizar a individualização da dose dos fármacos para atingir o efeito terapêutico máximo com a
mínima incidência de efeitos adversos.
Conceito que surgiu no final da década de 60. "Um campo das ciências da saúde que se ocupa da aplicação da farmacocinética no controlo terapêutico individualizado."
As funções de farmacocinética clínica são diversas. Desenho inicial da dosagem em pacientes individuais, tendo em conta vários parâmetros, tais
como: informações sobre o perfil cinético do fármaco, alvo terapêutico, variáveis demográficas, fisiopatológicas e clínicas.
Controlo e ajustamento da dose, se necessário, a fim de individualizar a terapêutica. A importância relativa destas funções depende: do fármaco em si, de como os seus efeitos podem ser quantificados, se há ou não uma relação clara entre a concentração e os seus efeitos.
Outras funções:
Analisar o incumprimento, Problemas de biodisponibilidade, Erros de medicação, Interacções, Cinética incomum devido à farmacogenética,
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Consulta e aconselhamento em situações especiais, por exemplo, intoxicação por fármacos ou a
utilização de técnicas de remoção forçada, Análise retrospectiva dos erros de medicação ou tratamento inadequado.
Objetivo 8. Entender a necessidade de monitorização de fármacos na prática Clínica
Monitorização de fármacos na prática clínica O 1º controlo de tratamentos farmacológicos foi proposto em 1950 Para alguns fármacos, a existência de uma correlação forte e evidente entre as concentrações e a resposta, entre a dose e a resposta permite
Optimizar a terapêutica A monitorização das concentrações de fármacos é um sistema de controlo da terapêutica que pode definir-se como o processo que utiliza dados da concentração de fármacos, juntamente com critérios farmacocinéticos e farmacodinâmicos, com o fim de optimizar a terapêutica em pacientes individuais. Na maioria dos casos, esta optimização consiste em minimizar o potencial de toxicidade do tratamento e aumentar a eficácia, ou na falta desta, tentar obtê-la o mais rapidamente possível, definindo o regime de dosagem mais adequado para cada paciente. O objectivo final da monitorização é Encontrar um equilíbrio entre a eficácia máxima e a mínima toxicidade, ajustando a dose e individualizando a terapêutica, guiada ou orientada pela determinação analítica da concentração do fármaco.
Margem Terapêutica
Para que as concentrações de um fármaco sejam clinicamente úteis
É sempre necessário que a relação entre a concentração e os seus efeitos, terapêuticos e tóxicos
Sejam conhecidos. Formas de apresentação:
Curva sigmóide
O aumento das concentrações aumenta os efeitos até um limite, acima do qual não se obtém mais eficácia.
A incidência de efeitos adversos também aumenta com o aumento das concentrações e o perfil pode ser diferente para diferentes efeitos adversos.
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Forma de um sino ou um "U" invertido
Com o aumento da concentração, a eficácia acima de determinado valor pode diminuir e até desaparecer.
É possível que as concentrações que determinam a eficácia máxima suponham um risco mínimo ou ausente de toxicidade.
Margem terapêutica - faixa de concentração de um fármaco em que há uma elevada probabilidade de conseguir a eficácia terapêutica com a mínima toxicidade para a maioria dos pacientes, Figura 2.
▶ É uma abordagem estatística que representa uma combinação de curvas de probabilidade obtida a
partir de estudos em grandes populações de pacientes,
de modo que não define o perfil da curva concentração-efeitos para o paciente individual, mas sim
para uma dada população.
▶ As concentrações dentro do intervalo não garantem que todos os pacientes vão alcançar o efeito desejado, ou que não tenham qualquer toxicidade, apenas aumenta a probabilidade de alcançar esses objectivos, mas haverá sempre pacientes com resposta insatisfatória ou sintomas de toxicidade nas concentrações adequadas. Além disso, a concentração dentro da faixa que determina o efeito desejado pode variar de paciente para paciente.
▶ A relação concentração-efeito para um determinado fármaco pode variar dependendo da resposta procurada ou do tipo de doença e, consequentemente, o mesmo medicamento pode ter margens diferentes para diferentes indicações.
▶ A técnica analítica utilizada ou as amostras de líquidos biológicos, bem como o número e características clínicas dos pacientes ou o tipo de tratamento recebido, podem afectar a magnitude e a reprodutibilidade dos efeitos terapêuticos.
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Portanto, é evidente que a margem terapêutica definida para alguns fármacos não é aplicável a todos os pacientes ou a todas as situações clínicas. Em suma, o intervalo terapêutico não deve ser considerado em termos absolutos, mas como uma estimativa inicial e serve de referência para orientar ou controlar o tratamento para cada paciente.
A margem terapêutica é um intervalo de confiança Para a estabelecer é necessário ter em conta: Indicação clínica, Características do paciente, Concentração-média num momento específico (Cmax ou Cmin) necessária para atingir, em cada
paciente, a melhor relação entre a eficácia e a toxicidade. Justificação da monitorização
Conhecendo a relação entre a concentração no sangue e a existente ao nível de receptores
Controlando as concentrações na circulação sistémica
Dispõe-se de um índice disponível e confiável da resposta ao tratamento.
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Não se faz monitorização em fármacos com ampla margem de segurança
Efeitos farmacológicos ou a eficácia terapêutica são fáceis de medir ou identificar na prática clínica (ex. se tem febre ou não; medir glicemia; medir tensão arterial) A monitorização obviamente não se aplica quando as concentrações do fármaco não mostram uma relação previsível e contínua com a intensidade e duração dos efeitos farmacológicos (ex. citotóxicos ou inibidores enzimáticos). A necessidade de monitorizar está claramente justificada nos seguintes casos: Fármacos com um índice terapêutico estreito: Quando as doses necessárias para se obter eficácia
terapêutica são muito próximas das que provocam efeitos tóxicos sérios, a individualização da dose
em função da resposta observada nos doentes é difícil, já que o incremento paulatino da dose até
se atingir o efeito desejado, compromete a segurança e a eficácia do tratamento.
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Assim não parece lógico utilizar o aparecimento de efeitos adversos como o guia de dosificação, dado que se deve prevenir esses efeitos, especialmente quanto maior for a sua gravidade (ex: arritmias com a procainamida ou convulsões com teofilina). Por outro lado, se existe a necessidade de se assegura a eficácia devido à gravidade da patologia (infecções graves, arritmias, etc...) não parece justificado a utilização de doses baixas para se evitar a toxicidade. Em todos estes casos, os dados de concentrações, especialmente se são concordantes com a sintomatologia observada, aumentam a segurança do clínico durante a toma de decisões tais como aumentar a dose, suspender ou retirar a medicação, ou modificar o tratamento. Fármacos em que é difícil valorizar clinicamente a sua eficácia ou toxicidade: Para fármacos que
se utilizam com fins profiláticos (ex: prevenção de crises asmáticas com teofilina, prevenção de
convulsões febris com fenobarbital ou profilaxia dos transtornos bipolares com lítio) ou quando o
objectivo terapêutico é a ausência de sintomas (ex: desaparecimento de crises epilépticas), não
existe, em ambas as situações, uma medida adequada da eficácia do tratamento até que tenha que
decorrido um tempo considerável.
Em outros casos, a dificuldade reside no facto de que a valorização clínica é complexa e/ou muito lenta (ex: insuficiência cardíaca ou depressão) ou os efeitos são muito inespecíficos (ex: náuseas e vómitos podem ser devidos a gastrite ou intoxicação por teofilina ou digoxina), ou, pelo contrário, são muito semelhantes aos sintomas da própria doença (ex: arritmias com a digoxina ou convulsões com a fenitoína).
Fármacos com grande variabilidade no sue comportamento cinético:
Para estes fármacos, as características de absorção, distribuição e eliminação são muito diferentes nos vários indivíduos, e, por consequência, as concentrações alcançadas após a administração de uma determinada dose são difíceis de prever. Estas diferenças interindividuais são devidas a numerosos factores que influenciam a farmacocinética. Para este tipo de fármacos, a determinação das concentrações em cada indivíduo e a aplicação de princípios farmacocinéticos permite detectar e controlar a maior parte desta variabilidade tanto interindividual como intraindividual. Fármacos para os quais existe uma relação concentração-resposta definida:
A determinação das concentrações de um fármaco só tem razão de ser se existe uma relação quantitativa e previsível entre essas concentrações e os efeitos farmacológicos, tanto terapêuticos como tóxicos, já que só assim, os dados de concentrações servem de referencia para individualizar a posologia, para valorizar se determinados sintomas são indicativos ou não de toxicidade ou ineficácia e como guia de optimização do tratamento. Quanto pior for a relação entre a dose administrada e as concentrações alcançadas e melhor for a relação concentração-resposta, tanto mais útil e justificada é a monitorização de fármacos. Programação do regime posológico: O êxito de um tratamento farmacológico depende em grande medida do regime posológico utilizado, mas a selecção do mesmo está dificultada pelas diferenças interindividuais no perfil, tanto farmacocinético como farmacodinâmico do medicamento. Consequentemente, a resposta observada após a administração de uma dose fixa de um medicamento a uma população de doentes, é com frequência, difícil de prever sendo possível obter efeitos terapêuticos, ineficácia ou mesmo respostas tóxicas numa percentagem variável de pacientes. Os possíveis factores que condicionam esta variabilidade da resposta e que justificam a
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necessidade de individualizar os tratamentos farmacológicos, adaptando-os às características dos doentes, encontram-se na tabela seguinte: Diferentes situações fisiopatológicas (ex: idade ou insuficiência renal) determinam modificações farmacocinéticas e, ocasionalmente, farmacodinâmicas, tão significativas que justificam os distintos esquemas posológicos utilizados neste tipo de doentes. De igual modo, as variações genéticas ou as interacções por administração concorrente de vários fármacos explicam muitas das diferenças observadas na resposta. Às vezes, o doente demonstra uma resposta anómala devida a outros factores como a não aderência ao tratamento, determinados hábitos como o tabaco ou drogas, a ingestão de certos alimentos e bebidas ou problemas relacionados com a formulação e vias de administração utilizadas. A selecção do regime posológico inicial para um doente concreto pode efectuar-se de forme empírica de acordo com os dados clínicos, experiência profissional e critérios do médico ou também de acordo com diferentes métodos ou estratégias baseadas na aplicação de critérios farmacocinéticos. Os métodos de dosificação à priori utilizam características conhecidas do fármaco, do paciente e das patologias que podem influenciar nos parâmetros farmacocinéticos e são as mais habituais para a individualização inicial da dose em doentes com insuficiência renal, pediátricos ou oncológicos. A farmacocinética populacional, desempenhou neste sentido, um notável avanço ao permitir identificar e quantificar as características fisiopatológicas o de tratamento em uma população determinada que explicam a variabilidade farmacocinética interindividual, o que aumenta significativamente a sua capacidade preditiva e permite o desenvolvimento de critérios de dosificação iniciais específicos para diversas populações e fármacos concretos como por exemplo a vancomicina em neonatos.
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Um segundo grupo de métodos, denominados de controlo adaptado, baseiam-se em utilizar no ajuste da dose, os valores das concentrações séricas ou de parâmetros farmacocinéticos obtidos, em condições pré-definidas no paciente individual. Entre eles, encontram-se os métodos bayesianos, cuja particularidade reside numa adequada combinação de informação farmacocinética, individual e populacional para o cálculo da posologia correcta.
Objetivo 9. Discutir fatores fisiopatológicos e clínicos que modificam a farmacocinética
Factores fisiológicos
Idade
Pediatria
Constituem uma população complexa com mudanças fisiológicas rápidas como consequência do
seu desenvolvimento. Isto implica alterações importantes ao nível da farmacocinética e da
posologia.
Trata-se de um grupo heterogéneo – habitualmente subdivide-se nos seguintes subgrupos:
Prematuros;
Recém-nascidos;
Neonatos;
Crianças;
Adolescentes.
Durante o período neonatal produzem-se mudanças fisiológicas que podem afectar a absorção dos
fármacos, tanto em magnitude como em velocidade.
Neste período:
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Aumento de pH gástrico (que favorece a absorção de bases fracas);
Aumento do esvaziamento gástrico;
Redução da secreção biliar (dificulta a absorção de substâncias lipossolúveis, tais como,
a vitamina E);
Aumento da absorção percutânea (aumento da permeabilidade pela baixa espessura da
pele);
Aumento da água corporal total e da água extracelular;
Diminuição da água intracelular;
Aumento do volume aparente de distribuição (sobretudo dos fármacos hidrossolúveis) –
ex: aminoglicosídeos;
Diminuição da % de albumina
Aumento da bilirrubina e ácidos
gordos livres
Aumento da permeabilidade das membranas, que também contribui para o aumento do
Vd aparente;
Qualitativamente têm os mesmos sistemas hepáticos que um adulto, contudo
encontram-se reduzidos - as reacções de hidroxilação e conjugação com ácido glucorónico são
as mais afectadas;
Diminuição da excreção renal – filtração glomerular e secreção tubular imaturas e
diminuídas ( fármacos como os aminoglicosídeos e a digoxina, experimentam diminuição da
sua eliminação renal)
Geriatria
60-65 anos – idade considerada com ponto de corte;
Deterioração fisiológica progressiva;
Diminuição da capacidade vital, da capacidade respiratória, do fluxo renal ou filtração glomerular;
Diminuição do fluxo sanguíneo e da motilidade GI;
Diminuição dos sistemas portadores;
Diminuição da superfície absorvente;
Esvaziamento gástrico retardado;
Diminuição da absorção GI e da BD de números fármacos;
Diminuição da massa muscular e óssea;
Diminuição da água intracelular e da permeabilidade das membranas;
Aumento da % de tecido adiposo;
Diminuição da frequência cardíaca, com hipoperfusão sanguínea dos tecidos;
Diminuição da albumina;
Mantêm-se os níveis da glicoproteína α1 ácida;
Vd aparente aumentado – diazepam, vancomicina;
Vd aparente diminuído – paracetamol e morfina;
Diminuição da função hepática e ( as rx de fase I são as mais afectadas);
Diminuição da % de fármacos unidos a proteínas. Consequentemente, ocorre aumento do Vd aparente.
Afectam sobretudo fármacos com elevada união às PP e com baixo Vd – ex: salicilatos e varfarina.
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Diminuição da função renal (diminuição da massa renal, do fluxo renal e da filtração glomerular e
diminuição da eliminação da creatinina). Contudo, a creatinina sérica pode-se encontrar aumentada,
uma vez que a redução da sua excreção renal vai ser compensada pela diminuição da sua produção
devido à perda de massa muscular);
Não existem critérios específicos de dosificação em doentes geriátricos – quando se utilizam
fármacos de margem terapêutica estreita, a monitorização dos níveis séricos e a individualização
farmacocinética e posológica podem ser uma boa prática nestes doentes.
Peso
Os doentes obesos têm maior probabilidade de sofrer alterações farmacocinéticas ao nível da distribuição,
o que implica a necessidade de reajuste de doses.
Alterações:
Aumento da % de tecido adiposo;
Diminuição da % de tecido magro e de água;
Aumento do tamanho dos órgãos, da taxa cardíaca, do volume total de sangue, da filtração
glomerular e da actividade enzimática dos hepatócitos;
A distribuição de fármacos em doentes obesos está fortemente condicionada pela sua maior ou
menor lipossolubilidade;
Fármacos polares, como os aminoglicosídeos, cuja distribuição está limitada ao fluido extracelular,
experimentam um moderado aumento no seu Vd aparente, que não é proporcional ao aumento de
peso total, como consequência do aumento da gordura no fluido extracelular. Nestes casos recorre-
se à utilização de um peso alternativo para a predição do Vd aparente denominado de “Peso de
dosificação” – tem como base o peso corporal ideal do indivíduo e utiliza um factor de correcção
denominado de Factor adiposo (específico para cada fármaco).
Fármacos apolares, como a vancomicina, o aumento do Vd aparente é proporcional ao peso corporal
total, e em fármacos altamente lipossolúveis como o diazepam, verapamil e lidocaína, o aumento do
Vd aparente é notavelmente superior ao aumento de peso.
Não há grande alteração ao nível de albumina;
Aumento da glicoproteina α1 ácida;
Eliminação de fármacos variável;
Aumento do peso do fígado e rim (aumento do fluxo sanguíneo hepático e renal);
Aumento da actividade de alguns sistemas enzimáticos (glucuronização e sulfonação);
Aumento da eliminação renal e hepática de alguns fármacos;
A eliminação metabólica de fármacos que experimentam reacções de biotransformação do tipo I
(fenitoína e cafeína) não se modifica nos obesos;
Fármacos como o propranolol têm a sua eliminação diminuída em obesos.
A dosificação de fármacos em doentes obesos baseia-se fundamentalmente numa adequada
predição do Vd aparente, utilizando o peso corporal ideal, total ou de dosificação dependendo da
maior ou menor lipossolubilidade do fármaco.
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Gravidez
Aumento de peso e de % de tecido adiposo;
Aumento do volume plasmático e de água corporal total;
Diminuição de albumina;
Aumento de ácidos gordos livres;
Aumento do Vd aparente (de fármacos lipo e hidrossolúveis);
Aumento da taxa cardíaca, do fluxo sanguíneo renal e da filtração glomerular;
Aumento da eliminação renal.
Factores genéticos
O polimorfismo com as enzimas implicadas no metabolismo de fármacos, reguladas
geneticamente, constitui um dos factores que contribuem para a variabilidade interindividual na
farmacocinética.
Os fenómenos de polimorfismo genético condicionam a existência de
metabolizadores rápidos
metabolizadores lentos, cuja proporção varia para os diferentes grupos étnicos
Estas diferenças vão implicar capacidades de biotransformação muito diferentes entre os indivíduos, que
podem levar a consequências terapêuticas importantes quando a enzima polimórfica afecta as principais
vias de biotransformação dos fármacos.
O polimorfismo genético tem importantes implicações biológicas, já que a dosificação dos fármacos que
apresentam esta problemática se devem ajustar dependendo do tipo de metabolizador
Exemplos de fármacos que apresentam polimorfismo genético no seu metabolismo são:
Imipramina
Nortriptilina
Codeína
Varfarina
Fenitoína
Isoniazida
Factores Patológicos
Insuficiência Hepática
A insuficiência hepática pode ser provocada por hepatite, intoxicações ou alcoolismo, produzindo dano
celular, resposta inflamatória e desorganização da estrutura hepática, que podem afectar muitas
funções do fígado, especialmente a sua capacidade de biotransformação.
A perda de actividade do fígado pode ser avaliada através de marcadores hepáticos.
Marcadores de alta extracção hepática (galactose) reflectem mudanças no fluxo
sanguíneo
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Marcadores de baixa extracção hepática (antipirina) reflectem alterações na actividade
enzimática dos hepatócitos
Marcadores específicos como o paracetamol reflectem alterações nos mecanismos de
conjugação.
A distribuição de fármacos esta aumentada em pacientes com insuficiência hepática, especialmente
em fármacos que se ligam as PP, dada a redução de albumina e da glicoproteina ácida a1 que
aparecem nestes pacientes.
A insuficiência hepática altera o fluxo sanguíneo hepático, a actividade enzimática e a ligação a PP, que
são 3 factores que incidem na clearence hepática dos fármacos. Existe uma tendência em aumentar o
Vd e uma redução da Cl de eliminação, e o tempo de meia vida é aumentado.
É difícil dosificar estes fármacos neste tipo de pacientes, devido a uma grande variabilidade
interindividual, apesar de haver algumas normas de correcção de posologia. Assim, por exemplo, em
fármacos com alta extracção hepática temos de reduzir a dose entre 10 a 50%, dependendo da via de
administração.
A Cl da teofilina é reduzida em 50% em pacientes com cirrose hepática, em comparação com adultos
com função hepática normal. Em consequência, neste tipo de pacientes, as doses iniciais e teofilina
reduzem-se em 50%.
Insuficiência Cardíaca
A insuficiência cardíaca constitui um síndrome caracterizado por sintomas de gasto
cardíaco reduzido e elevada congestão cardíaca. Consequentemente, a circulação não é
suficiente para libertar oxigénio e nutrientes a uma velocidade compatível com os
requerimentos dos tecidos.
Entre as causas que as provocam, podemos destacar:
o Enframe
o Cardiomiopatias diversas
Constituem um síndrome frequente em pacientes geriátricos.
▶ A redução do gasto cardíaco que se produz nestes pacientes implica uma diminuição da perfusão
sanguínea de diferentes órgãos e tecidos, com importantes implicações farmacocinéticas.
▶ A insuficiência cardíaca provoca uma diminuição do esvaziamento gástrico, congestão e edema
intestinal, que reduzem a absorção oral de alguns fármacos.
▶ A absorção IM também se encontra afectada nestes pacientes devido à redução do fluxo sanguíneo
no local. A hipoperfusão hepática que se produz, aumenta a BD de fármacos com alta extracção
hepática, por redução do efeito de 1ra passagem hepática.
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▶ Devido a uma vasoconstrição periférica, produz-se uma redução do volume de distribuição do
compartimento vascular, aumentando o volume de distribuição aparente do compartimento
periférico, devido a um aumento do fluido intersticial. (Por exemplo: o volume aparente de
distribuição do compartimento central de lidocaína reduz-se de 40 a 50% em pacientes devido a
hipoperfusão do fígado e do rim.
▶ A redução da clearance renal e hepática, assim como a clearence de eliminação, obriga a uma
redução da dose de alguns fármacos neste tipo de pacientes. Assim, para alcançar concentrações
terapêuticas, a velocidade de infusão da lidocaína deve ser significativamente reduzida em
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.
Insuficiência renal
Rim regula os fluidos corporais e o balanço electrolítico, tal como a eliminação de substâncias
exógenas e endógenas como fármacos.
A diminuição da função renal, ou insuficiência renal, deve-se a causas diversas entre as quais se
podem citar:
Hipertensão
Pielonefrite
Diabetes mellitus
Substâncias nefrotóxicas (como alguns fármacos)
Hipovolémia
Reacções de hipersensibilidade com base imunológica
A insuficiência renal pode ser determinada avaliando a taxa de filtração glomerular, através da
clearence da creatinina (permite avaliar o grau de funcionamento renal). No entanto, em muitas
doenças renais, a perda de capacidade da filtração glomerular e a excreção renal, não são
proporcionais.
O valor de creatinina sérica também pode ser determinado a partir de determinadas variáveis
demográficas, entre as quais:
Idade
Peso
Superfície corporal
Valores de Cl renal Grau de função renal
Maior 80 ml/min Normal
50-80 mL / min Ligeiramente reduzida
30-50 mL / min Intermédia
10-30 mL / min Moderada
Menor que 10 mL / min Severa ou terminal
Inserindo fórmulas diveras
( ex- Cockroft e Gault)
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A insuficiência renal produz um aumento no pH e uma diminuição no tempo de esvaziamento
gástrico, que podem afectar a absorção de electrólitos fracos.
Os processos de biotransformação hepáticos também se podem alterar nestes pacientes, já que
alguns metabolitos endógenos como a ureia podem produzir a inibição de vários sistemas
metabólicos.
A insuficiência renal afecta directamente a função do nefrónio, modificando tanto a filtração
glomerular, como a secreção tubular,
Outras Patologias
Existem outras patologias que podem afectar a ADME e entre as quais se destacamos processos
neoplásicos (tumores sólidos e neoplasias hematológicas) e a fibrose quística.
Os pacientes neoplásicos apresentam/experimentam hipoproteinémia, que justifica a formação de
edemas, assim como alterações na união às proteínas, que provocam um aumento no volume de
distribuição.
Os doentes com fibrose quística apresentam um estado hipermetabólico que produz alterações na
distribuição e eliminação de fármacos. Fármacos como a teofilina apresentam alterações na sua
farmacocinética.
Os doentes críticos (cuidados intensivos e unidades de queimados) apresentam alterações
fisiológicas muito rápidas e alterações muito significativas na farmacocinética de numerosos
fármacos.
Factores Clínicos
As técnicas depurativas como a hemodiálise, a diálise peritoneal contínua e hemoperfusão,
aumentam a eliminação de fármacos, complicando os esquemas posológicos.
Outras situações clínicas como a cirurgia, a ventilação mecânica ou a politerapia,, também são
causas variantes da farmacocinética.
Dentro da politerapia, há fármacos que se caracterizam por apresentar numerosas interacções,
sendo eles:
Digoxina e antiarrítmicos
Digoxina e quinidina
Diminuição da clearence metabólica da teofilina na presença de cimetidina
Aumento das concentrações plasmáticas de fenobarbital em presença de outros anti-
epiléticos como o valproato ou fenitoína, devido a um mecanismo de inibição enzimática.
Determinados hábitos de vida como o álcool, o exercício físico e o tabaco também podem afectar a
farmacocinética. (Por exemplo, os fumadores apresentam uma clearence da teofilina elevada, logo
Traduz-se em aumentos dos níveis séricos e digoxina até 2 a 3 vezes
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é necessário aumentar a dose de teofilina para se alcançarem níveis séricos do fármaco dentro da
margem terapêutica)
Objetivo 10. Conhecer aspetos metodológicos subjacentes à monitorização farmacocinética de
concentrações séricas na prática clínica
METODOLOGIA DA MONITORIZAÇÃO
A monitorização das concentrações séricas de fármacos consta de duas etapas
1) Determinação das concentrações séricas;
2) Interpretação das mesmas.
A fiabilidade desta estratégia depende, em primeiro lugar, da qualidade e da fiabilidade da
informação obtida e, em segundo lugar, da adequada utilização de critérios farmacocinéticos.
A interpretação dos resultados analíticos constitui a parte mais importante da monitorização e
requer o conhecimento de dados clínicos, tempos precisos de recolhas de amostra, tratamentos
concomitantes, e dispor de uma margem terapêutica ou concentração alvo previamente definidos,
adaptados à população à qual pertence o paciente.
A aplicação a esta informação dos conceitos de PK clínica constitui o paço posterior que permite a
predição de uma dose eficiente e a programação de regimes de dosificação adequados, utilizando
um número de amostras de sangue limitado e geralmente um algoritmo de estimação baiseana.
Actualmente a monitorização considera-se uma intervenção individualizada que tem como
objectivo conseguir a melhor relação benefício/risco no contexto clínico do paciente e das
circunstancias que o rodeiam.
Tempos de Amostragem
A selecção apropriada dos tempos de extracção de amostras é de grande importância.
O limitado número de amostras que, por razões óbvias, podem obter-se na prática de monitorização,
supõem a necessidade de seleccionar previamente aqueles tempos de amostra que permitem obter a
máxima informação farmacocinética e clínica.
Os ensaios clínicos realizados com o fármaco monitorizado devem sugerir ou demonstrar que existe uma
correlação entre os efeitos clínicos e as suas concentrações séricas.
Para que as concentrações séricas de um fármaco possam ser relacionadas com a resposta clínica e sejam
úteis de um ponto de vista farmacocinético, devem ser obtidas de acordo com os seguintes critérios:
a) Deve realizar-se após estarem finalizados os processos de incorporação e distribuição. Apenas
quando o equilíbrio de distribuição tenha sido alcançado as concentrações séricas podem
constituir um índice válido das concentrações no local de acção.
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b) Em situação de estado de equilíbrio estacionário, isto é, quando a administração repetida do
fármaco determine que a velocidade de eliminação se iguale à de administração e as
concentrações se mantenham constantes ou flutuem de maneira constante entre um valor
máximo e mínimo. Este tipo de concentrações simplificam os cálculos farmacocinéticos e
podem relacionar-se melhor com a resposta clínica observada.
c) O tempo de amostragem dentro do intervalo posológico deve corresponder com as
concentrações às quais existe uma maior correlação com a resposta e para as quais se definiu a
margem terapêutica ou concentração média correspondente.
Dependendo do fármaco, assim se supõe de uma ou duas amostras, correspondentes geralmente às
concentrações mínimas, médias ou máximas dentro do intervalo posológico.
Este tempo depende também da via de administração do fármaco.
Via oral: As concentrações mínimas devem proporcionar a informação mais útil, já que
a esse tempo os processos de absorção e distribuição devem ter uma influência mínima
e, para além do mais, informam sobre se concentrações eficazes persistiram ao longo
do intervalo.
Infusão endovenosa contínua: As amostras podem ser obtidas a qualquer tempo
dentro do intervalo, dada a sua constância e estabilidade.
Bólus IV ou perfusões intermitentes: habitualmente interessam as concentrações
máximas e/ou mínimas, dependendo do fármaco monitorizado.
d) O tempo de amostragem pode depender das razões clínicas que determinam a necessidade da
análise. Assim, em caso de suspeita de toxicidade, idealmente, a amostra deve ser obtida no
momento em que se manifestam os sintomas tóxicos, independentemente de outros critérios.
Da mesma forma, a obtenção de concentrações através da administração da primeira dose, pode ser
necessária para assegurar a eficácia terapêutica ou evitar toxicidade num paciente de risco.
Em geral, as concentrações máximas são as mais difíceis de caracterizar, já que dependem da forma de
dosificação e podem ser alcançadas antes da fase pós distributiva.
As concentrações mínimas são mais reprodutíveis e quase sempre se assume que se encontram na fase pós
distributiva.
Em qualquer dos casos, a utilização de uma ou outra concentração está determinada pelas
evidências, perfeitamente documentadas de que a concentração de fármaco obtida a esse tempo
se correlaciona bem com a resposta farmacológica e clínica.
Exemplos:
Aminoglicosídeos e Vancomicina: Concentrações máximas e mínimas
Antiarrítmicos, lítio, ADTs., CBZ e ác. Valpróico: Concentrações mínimas no final do
intervalo.
Fenitoína e fenobarbital: Tempo de amostragem próximo da metade do intervalo de
dosificação.
Imunossupressores, antineoplásicos ou alguns ABs: AUC. Para isto utilizam-se diferentes
estratégias de optimização de tempos de amostragem: Uma delas é a análise de regressão
múltipla passo a passo.
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De maneira geral:
É necessária a selecção prévia dos tempos de amostragem que garantam e simplifiquem a
interpretação farmacocinética e farmacodinâmica das concentrações séricas de um fármaco.
Esta selecção deve considerar, para além dos critérios previamente comentados, as características
cinéticas do fármaco, a via de administração e forma de dosificação utilizada, e inclusivamente o
tipo de paciente ou motivo que justifica a monitorização.
No entanto, e uma vez que as concentrações de fármaco variam com o tempo, o factor crítico e
essencial para a correcta interpretação dos resultados, é o conhecimento exacto e preciso do
tempo de obtenção das amostras em relação com a administração do fármaco.
Amostras de fluidos
A utilização das concentrações de fármacos para optimizar os tratamentos farmacológicos pressupõe que
se obtenham amostras de fluidos biológicos que se encontrem em equilíbrio com o seu local de acção.
Os fluidos biológicos mais usados na monitorização são o plasma ou o soro, obtidos a partir
do sangue venoso.
Os fármacos não se ligam de forma significativa às proteínas implicadas na
coagulação sanguínea, como tal as concentrações séricas e plasmáticas são
consideradas equivalentes.
Geralmente, as técnicas analíticas usadas na monitorização quantificam a concentração de fármaco total
no soro ou plasma, sendo que esta concentração é a soma das fracções de fármaco livre e ligado a
proteínas.
Assume-se que os efeitos farmacológicos são apenas condicionados pela fracção livre, que
se encontra em equilíbrio com a fracção nos tecidos, e portanto, no local de acção.
Na maioria dos casos, a fracção livre de fármaco no soro consiste numa percentagem mais
ou menos constante do fármaco total, pelo que a concentração total é indicativa dos
efeitos farmacológicos esperados.
Contudo, a ligação do fármaco às proteínas plasmáticas é modificada por diversas causas (processos patológicos, interacções, saturação, etc.), a interpretação das concentrações totais e a sua utilização para a toma de decisões terapêuticas é mais problemática, especialmente para fármacos com uma elevada ligação às proteínas plasmáticas.
Nestas situações, a determinação da concentração de fármaco livre e o uso de outros fluidos biológicos alternativos, como a saliva, pode ser conveniente.
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O desenvolvimento de metodologias analíticas para determinar a concentração de fármaco livre permitiu
melhorar a interpretação das concentrações na monitorização.
Embora estas técnicas analíticas possuam maior sensibilidade, por serem mais complexas estão
sujeitas a uma maior possibilidade de erro, além disso possuem maior custo e a emissão de
resultados é retardada.
Por isso não se justifica o seu uso sistemático.
Também foi analisada a capacidade de estimação de fármaco livre noutros fluidos biológicos
(saliva, líquido cefalorraquidiano, glóbulos vermelhos, etc.) contudo a sya utilidade encontra-se
limitada a fármacos muito concretos e não parece ser superior à determinação de fármaco livre no
soro.
Na seguinte tabela encontram-se os fármacos habitualmente monitorizados para os quais a determinação
das concentrações de fármaco livre podem ter maior interesse, assim como os critérios que apoiam a sua
utilidade.
Inclusivamente para os fármacos incluídos nesta tabela, a determinação das concentrações livres
encontra-se limitada a um certo tipo de doentes, como os que possuírem uma doença que possa
modificar a fracção livre, os submetidos a terapia com fármacos simultâneos que possam deslocar
o farmaco de interesse da ligação a proteínas e aqueles que mostram uma resposta inesperada ou
anormal para uma determinada concentração total.
Quando não se dispõe dos valores das concentrações de fármaco livre é possível utilizar e
interpretar adequadamente as concentrações totais em função de determinados critérios.
O efeito da alteração no grau de ligação às proteínas sobre as concentrações totais e livres dos
fármacos pode ser antecipado considerando o tipo de eliminação que este possui (restritivo ou não
restritivo), que permite prever a necessidade de modificações na posologia.
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Assim, para um fármaco com eliminação restritiva, as concentrações de fármaco livre num
paciente com hipoalbuminémia serão previsivelmente normais, apesar das concentrações
totais diminuírem, portanto não se esperam alterações na resposta nem necessidade de
doseficação.
Portanto, as concentrações totais aparentemente subterapêuticas devem ser
correctamente interpretadas no contexto clínico do paciente.
A saliva é o único fluido utilizado com êxito como alternativa ao sangue na monitorização.
Embora apresente uma boa capacidade de estimação da concentração de fármaco livre, a
sua utilidade limita-se a fármacos muito concretos e não parece ser superior a
determinação do fármaco livre no soro.
Contudo, pode constituir uma estratégia adequada à monitorização de pacientes
pediátricos.
Exemplos de fármacos cuja monitorização na saliva mostrou ser clinicamente útil incluem:
Antiepiléticos (fenitoína, carbamazepina, primidona, etosuximida e a lamotrigina)
Teofilina
Cafeína
Digoxina
Quinidina
Nitracepan
Algumas drogas de abuso.
Em algumas ocasiões a sua utilidade limita-se ao conhecimento do cumprimento do regime
prescrito, como no caso da monitorização de indinavir na saliva.
A determinação da concentração de fármacos e seus metabolitos noutros fluidos biológicos
diferentes do sangue e saliva, apenas se usa excepcionalmente na monitorização uma vez que é
cara e difícil de realizar; não obstante deve ser considerada em estudos farmacocinéticos e
farmacodinâmicos de novos fármacos.
O sangue fetal, fluido amniótico e leite materno são úteis para determinar o grau de exposição fetal
e perinatal de certos fármacos.
Interpretação Farmacocinética
Para a interpretação das concentrações determinadas é necessário utilizar um modelo farmacocinético que
simplifique o complexo sistema biológico do organismo e os processos que o fármaco experimenta neste.
Este modelo permite caracterizar o comportamento cinético básico do fármaco a nível de
distribuição e eliminação, mediante equações que descrevem a evolução das
concentrações do fármaco no organismo em função do tempo.
Estas equações farmacocinéticas, dependem do modelo e das características do tratamento recebido, e
permitem o cálculo dos parâmetros cinéticos no indivíduo e, em função dos mesmos e das características
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farmacodinâmicas, a programação ou individualização da posologia, como se encontra esquematizado na
figura seguinte.
Modelo farmacocinético
A escolha deve basear-se nas características cinéticas inerentes ao fármaco, assim como na informação
experimental e clínica disponível. Sendo que para a monitorização o número de amostras disponíveis por
doente é limitado, é necessário recorrer a modelos cinéticos sensíveis mono ou bicompartimentais.
Modelo monocompartimental:
a) Considera o organismo como um sistema homogéneo, o que faz com que a avaliação temporal de
concentrações séricas represente adequadamente a evolução em qualquer ponto do mesmo;
b) Quando este modelo é assumido, os cálculos que permitem determinar parâmetros que descrevem
o perfil farmcocinético de um fármaco são relativamente simples e podem fazer-se a partir de um
baixo número de dados experimentais;
c) Os parâmetros acima referidos permitem realizar predições adequadas, tanto das concentrações
de fármaco como da necessidade de dosificação para um grande número de fármacos;
d) Todas estas características fazem com que o modelo monocompartimental seja o mais usado em
monitorização.
Modelo bicompartimental:
a) Para alguns fármacos que se distribuem amplamente pelo organismo e acedem mais rapidamente
aos tecidos, este modelo é preferível;
b) Apresenta uma maior similaridade com a realidade fisiológica e melhor capacidade preditiva para
fármacos com uma marcada fase de distribuição (ex: vancomicina);
c) A correcta utilização supõe que há uma grande disponibilidade de informação experimental e
também da selecção adequada de tempos de recolha da amostra de modo a definir as fases de
disposição rápida e lenta.
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
49
Deve assinalar-se que o uso de métodos bayesianos em monitorização, flexibilizou a escolha do modelo
cinético, ao diminuir a necessidade de informação experimental e de critérios rígidos nos tempos de
recolha de amostra.
Actualmente, os dados das concentrações séricas juntamente a toda informação clínica e
tratamento do doente, são analisados com ajuda de programas informáticos de Farmacocinética
Clínica que incluem diferentes modelos farmacocinéticos.
As equações mais utilizadas em monitorização, correspondentes ao modelo monocompartamental,
que reflitam a evolução das concentrações séricas de fármaco, cálculo de parâmetros
farmacocinéticos e de doses recomendadas estão nas Tabelas do Anexo I.
Métodos de ajuste de dados
Na prática, a caracterização dos parâmetros cinéticos individuais realiza-se ajustando os dados
experimentais de concentração-tempo disponíveis por paciente, às equações matemáticas dependentes do
modelo cinético utilizado mediante várias técnicas de ajustamento de dados.
Regressão linear
Consiste em ajustar uma série de dados experimentais a uma equação regida por certos
parâmetros com a finalidade de predizer os valores que a variável dependente tomará em função
da independente;
Quando as variáveis se relacionam mediante uma equação em linha recta diz-se ser uma análise de
regressão linear.
As vantagens do uso deste método são:
o Sensibilidade;
o Rapidez de execução;
o Simplicidade.
No entanto, pode levar a erros na estimação de parâmetros devido à necessidade de converter as
concentrações nos seus correspondentes logarítmicos. Por outro lado, os parâmetros representam
uma capacidade preditiva limitada a um período de tempo curto e concreto, já que só utiliza
informação experimental correspondente a um intervalo posológico, descartando outros dados
experimentais, quer prévios quer posteriores.
Regressão não linear
A diferença fundamental relativamente às anteriores é o facto de não haver necessidade de haver
linearização da equação ou transformação das variáveis originais.
Neste método utiliza-se a equação correspondente ao modelo cinético , e o ajuste de dados faz-se
do mesmo modo que na regressão linear.
As técnicas de regressão não linear permitem utilizar equações mais complexas, e toda a
informação disponíveil de concentração ao longo do tempo, assim como variáveis clínicas
relacionadas (ex: peso, clearence de creatinina, ...),fornecendo uma maior capacidade preditiva.
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
50
O principal inconveniente é que requer um número mínimo de dados superior ao número de
parâmetros a estimar. Na prática clínica o número de dados de concentração disponíveis pode ser
insuficiente para caracterizar correctamente os parâmetros farmacocinéticos mediante este
método de regressão.
Estimação Bayesiana
Técnica alternativa e de utilização crescente na monitorização.
A sua particularidade é a incorporação e ajuste dos dados ao modelo proposto, não apenas a
informação experimental (concentração-tempo) obtida no indivíduo mas também a informação
conhecida à priori sobre o comportamento cinético de um determinado fármaco numa população
com características fisiopatológicos semelhantes às do doente.
A Figura 5 apresenta o processo de optimização de parâmetros farmacocinéticos utilizando esta
metodologia.
A aplicação de estimação bayesiana requer acesso a informações sobre a farmacocinética na
população em estudo, tais como recém-nascidos prematuros crianças, idosos, pacientes com
insuficiência renal ou doentes críticos.
Os parâmetros populacionais necessários para a implementação de um algoritmo Bayesiano são de
três tipos:
Parâmetros dos efeitos fixos quantificam o comportamento cinético entre a população e
as relações entre as diferentes variáveis fisiopatológicas (Idade, clearance de creatinina,
sexo) e os parâmetros farmacocinéticos.
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
51
Parâmetros de efeitos aleatórios interindividuais quantificam a magnitude da
variabilidade interindividual de cada um dos parâmetros farmacocinéticos do modelo que
se adapta ao fármaco.
Parâmetros de efeitos aleatórios residuais quantificam a magnitude da variabilidade
residual que inclui principalmente a variabilidade intraindividual e erro analítico das
determinações.
Quando se dispõe de uma informação experimental limitada, a influência dos parâmetros
populacionais no ajuste é grande, evitando obter valores de parâmetros individuais muito
diferentes daqueles previstos de acordo com suas características fisiopatológicas (por exemplo, 500
ml de clearence / min contra um valor populacional de 100 ± 20 ml / min).
Quanto menor esta variação maior a contribuição das concentrações estimadas e vice-versa.
A utilização da monitorização Bayesiana apresenta uma série de vantagens que têm contribuido
para a sua utilização clínica e que podem ser resumidas da seguinte forma:
Mínimo de dados experimentais Teoricamente o número de amostras deve ser menor
do que o necessário para estimar os parâmetros farmacocinéticos individuais mediante
regressão não-linear. Isso pode contribuir para melhorar a relação custo-eficácia da
monitorização.
Flexibilidade nos tempos de amostragem A selecção dos tempos de amostragem é
menos crítica quando são usados métodos bayesianos, devido a uma maior contribuição
dos parâmetros populacionais
na estimativa, especialmente quando o número de concentrações obtidas do paciente é
mínima (1 ou 2 dados). Esta vantagem é particularmente importante no contexto clínico,
pois para muitos fármacos, o tempo óptimo de amostragem pode não coincidir com o
tratamento mais adequado para o paciente.
Versatilidade dos modelos farmacocinéticos Embora os fármacos monitorizados
geralmente tentem estar em conformidade com modelos simples, como mono ou
bicompartimentado, as técnicas Bayesianas têm demonstrado a sua utilidade para modelos
mais complexos, como o modelo tricompartimental.
Consistência nos resultados A estimativa bayesiana evita ficar muito longe da margem
de variação dos parâmetros populacionais, minimizando os riscos inerentes à técnica
analítica e erros de medicação.
É também de salientar algumas das limitações subjacentes ao uso de métodos bayesianos:
Complexidade do cálculo. A abordagem bayesiana, do ponto de vista metodológico, é
complexa e requer um software específico. No entanto têm-se desenvolvido vários
programas de uso fácil que executam este tipo de estimativa.
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52
Fiabilidade dos parâmetros populacionais. A inadequada selecção de dados populacionais
ou uma incorrecta caracterização da mesma, influência significativamente a confiabilidade
e o poder predictivo dos métodos bayesianos, especialmente se a informação individual é
limitada. Embora, idealmente, o paciente deva ser representativo do grupo populacional,
muitas vezes usam-se parâmetros populacionais, obtidos a partir de fontes bibliográficas,
que podem não corresponder ao paciente
monitorizado. A ausência de informações populacionais limita o uso desta estratégia para
novos medicamentos ou para populações específicas
como pediatria, geriatria, pacientes críticos, etc.
Objetivo 11. Compreender a organização de um serviço de farmacocinética clínica
Monitorização farmacêutica
Estratégia clínica que nos permite melhorar a precisão das decisões, constituindo, por si, um aspecto
importante da terapêutica farmacológica
Descrição do serviço
Objectivo optimização dos tratamentos, o que implica alcançar a máxima eficácia o mais rapidamente
possível e com o mínimo de toxicidade
Existem diversos factores que podem comprometer seriamente o êxito de um tratamento
farmacológico, com repercussões económicas e assistenciais importantes
Para os fármacos que possuem uma margem terapêutica curta e a resposta clínica é difícil de avaliar, a
monitorização necessita de dados objectivos que combinados com a decisão clínica, podem prevenir ou
resolver alguns problemas
Deve implicar-se activamente as três vertentes da Farmácia Clínica:
1. Assistencial
2. Docente
3. Investigadora
Assistencial
Utiliza a informação para melhorar a capacidade do clínico predizer a resposta individualizada a um
determinado medicamento
Divide-se em três fases:
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53
A Farmacocinética Clínica para além da individualização posológica permite identificar e resolver
problemas terapêuticos tais como:
Infra e sobredosificação
Reacções adversas
Incumprimento
Interacções medicamentosas
Erros de medicação
A Farmacocinética Clínica constitui um componente integral da Atenção Farmacêutica a pacientes
seleccionados, em função da sua farmacoterapia específica, condição patológica e objectivos do
tratamento
A monitorização farmacêutica representa um componente essencial na consecução dos objectivos da
atenção farmacêutica, alcançar o melhor resultado para o paciente:
-diminuição da morbi-mortalidade
-redução da estadia/internamento no hospital
-prevenção dos efeitos adversos
Docente
Assegura um uso seguro e efectivo do medicamento
Para melhorar o uso da monitorização
Os seus erros no uso da monitorização, sub ou sobreutilização, podem ser corrigidos mediante
programas eficientes de docência e comunicação
Toda a informação que transmitimos deve ser clara, concisa e proceder de dados baseados na
evidência científica
Realização de actividades de formação dirigidas a todo o pessoal implicado nesta actividade
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
54
À medida que as actividades docentes aumentam, o grau de receptividade aumenta gradualmente
Investigacional
Todos os dados gerados constituem uma base para a investigação, considerada como outra função
para este serviço
Deve orientar-se para a resolução de aspectos clínicos concretos como:
Detecção de problemas de biodisponibilidade
Detecção de interacções
Obtenção de informação cinética relevante em subpopulações específicas (queimados, fibrose
quística, oncologia, etc.) e seus requisitos de dosificação
Avaliação de diversos modelos e métodos de ajuste dos danos experimentais
A comunicação adequada dos resultados proporciona prestígio e autoridade profissional
Existem poucos estudos na efectividade da Farmacocinética Clínica
É necessário diferenciar os pacientes que possuem maior probabilidade de beneficiar com a
monitorização farmacêutica
Recursos materiais
Os materiais de um serviço normalmente pressupõem um custo elevado
Existem alguns elementos que são imprescindíveis como o sistema informático
O êxito da monitorização apenas está garantido se, para além da análise, se realizar uma interpretação
farmacoterapêutica correcta dos resultados
A monitorização é um processo de colaboração multidisciplinar
Para a análise ser feita da melhor maneira deve-se seguir 5 passos básicos:
1) Definir o problema analítico. As características analíticas de precisão, exactidão, especificidade
e limite de detecção, assim como outros aspectos relacionados com o número de amostras
necessárias e o tempo requerido para a análise, estão relacionados com o medicamento que
vamos analisar
2) Seleccionar a amostra. Inclui a matriz analítica, estabilidade das amostras, tempo e condições
de extracção da amostra
3) Seleccionar a técnica analítica. Os resultados obtidos determinam os parâmetros que
constituem a base da monitorização: margem terapêutica, concentrações mínimas e máximas e
os parâmetros cinéticos determinados no paciente. Assim, raramente conhecemos o método
analítico e a concentração com a qual se determinou a margem terapêutica. È necessário se
saber as interferências analíticas e o erro mínimo máximo clinicamente aceitável
4) Estandardizar o ensaio. A validação do método é vista como o aspecto mais importante da
estandardização e inclui os seguintes parâmetros: exactidão, precisão, especificidade, limite de
detecção, limite de quantificação, reprodutibilidade
5) Processar a amostra e analisar convenientemente
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
55
É recomendável possuir um sistema informático de gestão de laboratório com um módulo desenhado
para a Farmácia Clínica
Existem programas que apresentam diversas áreas com respeito a considerações farmacocinéticas
subjacentes, fármacos disponíveis, complexidade de manipulação, requerimento de hardware ou
características de software o objectivo destes programas é assistir o clínico em regimes de
dosificação individualizados, assim como facilitar a automatização de funções.
Recursos humanos
As necessidades de pessoal estão condicionadas pela carga de trabalho.
Aceitação do serviço
A nossa implicação no processo de tomada de decisões terapêuticas
Exigem:
o Formação
o Atitude
o Nível de qualidade
O sucesso do programa de monitorização e a credibilidade que nos é dada estão condicionados
pelo nosso nível de competência e os benefícios para o clínico que os nossos serviços podem
oferecer
Atitude: deve corresponder à disposição do profissional para resolver problemas, comunicar, educar e
aprender
Objectivo de resolver problemas terapêuticos: o laboratório deve funcionar 24h por dia, todos os dias da
semana
Não podemos dar um serviço de qualidade se apenas o oferecermos quando outras actividades nos
permitem
Os recursos humanos devem programar-se concedendo a esta actividade a mesma importância que à
dispensa
de acordo com os objectivos
A prática da monitorização requer uma sólida formação em farmacocinética, terapêutica e seguimento clínico do doente
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
56
É sempre aconselhável no início do programa anotar a hora e número de consultas diárias, dados
que servirão para conhecer as necessidades do pessoal e a programação do horário
Sistema de funcionamento
1.1 Fármacos monitorizados – ver objectivo 5
1.2 Indicações da monitorização
Objectivo final da monitorização: optimizar a terapia em doentes concretos
Alcançar este objectivo não depende apenas do fármaco utilizado, mas também do paciente e
da sua situação clínica
Pacientes em que se recomenda a monitorização
1. Doentes pediátricos e geriátricos
2. Doentes submetidos a politerapia
3. Alto risco de incumprimento com graves
consequências clínicas (ex. tuberculose, SIDA,
asma, transplantes)
4. Respostas anormais ou incomuns com doses
convencionais
5. Doentes com funcionalismo anormal (ex.
insuficiência hepática, renal, cardíaca)
6. Risco de subdosagem com consequências graves
(ex. doentes críticos, oncológicos, recém-
nascidos)
A monitorização tem um grande valor para controlar a variabilidade farmacocinética e valorizar a
efectividade clínica da terapia
Relativamente ao ponto 4 da tabela, a investigação posterior para detectar as possíveis causas
pode fornecer informações acerca de: erros de medicação, problemas de biodisponibilidade,
incumprimento, patologias ou medicação associada, disfunção de algum órgão, etc
A identificação de erros de medicação pode ter um impacto importante na segurança e nos
resultados do doente
Capacidade destes doentes para tolerar ou comunicar efeitos adversos está diminuída
Apresentam um elevado risco de interacções que podem ser detectadas e controladas através da monitorização
É frequente em determinados doentes (ex. crianças, adolescentes, idosos) e é difícil de detectar sem monitorização
A monitorização justifica-se, com o fim de detectar um possível incumprimento, para qualquer fármaco cujas consequências sejam de particular gravidade pelas suas repercussões para a saúde
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
57
De forma geral as indicações da monitorização das concentrações de fármaco são as seguintes:
1. Individualização da posologia de fármacos em que a monitorização parece justificada,
especialmente quando usados em doentes que, pelas suas características, apresentam um maior
risco de sub ou sobredosagem;
2. Quando há suspeita de toxicidade ou intoxicação aguda devido ao fármaco para confirmar ou
descartar a implicação do mesmo e decidir as medidas a adoptar (diminuir a dose, interromper a
terapia, efectuar hemodiálise ou hemoperfusão, etc)
3. Na presença de fracasso terapêutico ou modificações na resposta observada para descartar se a
situação é devida a subdosagem, interacções, resistência ao tratamento, incumprimento,
alterações farmacocinéticas ou problemas na biodisponibilidade
4. Estabelecer a concentração de equilíbrio após o início do tratamento ou mudança do regime de
dosagem
Estas indicações gerais devem ser adaptadas a cada fármaco, incluindo no programa de monitorização,
assim como as características particulares de cada Instituição.
Estes critérios não devem ser utilizados em termos absolutos.
4.3 Interpretação dos resultados e informação farmacocinética
Na monitorização dos fármacos, a determinação analítica (apesar de importante) representa apenas
uma pequena parte de todo o processo.
Elementos chave: conhecimento e competências profissionais da pessoa que decide os medicamentos,
quando e como monitorizá-los.
Os requisitos mínimos para que a monitorização possa contribuir de uma maneira efectiva para a
optimização terapêutica são:
o Indicação apropriada
o Condições de recolha da amostra apropriada
o Correcta análise das amostras
o Interpretação farmacocinética-farmacodinâmica adequada do resultado
o Intervenção apropriada na resposta ao resultado
Nunca podemos realizar um ensaio de qualidade numa amostra obtida sem uma indicação apropriada
ou num tempo incorrecto.
A decisão de monitorizar as concentrações de um fármaco podem basear-se nas propriedades do mesmo (ex. margem terapêutica estreita), no estado clínico e
características do doente (ex. intoxicação aguda) ou em ambas as circunstâncias (ex. recém nascido prematuro tratado com gentamicina)
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
58
A interpretação final dos resultados em função das características fisiopatológicas e clínicas do doente
é um requisito fundamental para realizar os ajustes oportunos de dose, obtendo-se assim o máximo
benefício da monitorização.
Existem uma série de factores que, imprescindivelmente, devem ser considerados na altura de
interpretar os dados de concentrações séricas de um fármaco num determinado doente, dado que
podem influenciar ou modificar consideravelmente o seu significado clínico:
Informação necessária para garantir uma interpretação e utilização adequadas dos dados de concentrações
séricas:
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
59
Não obstante, as necessidades específicas de informação variam em função do fármaco e do doente
monitorizado.
O tipo de doente (ambulatório, neonato, intoxicado, com insuficiência renal, dializado…) condiciona o
tipo de informação que a priori se necessita para interpretar correctamente os dados de concentrações
séricas.
Passos a realizar para conseguir uma correcta utilização da monitorização:
A estimação individual de parâmetros cinéticos e a correcção posológica em função dos mesmos pode
ser relativamente fácil ou complexa, dependendo:
da quantidade de informação experimental obtida, das assunções farmacocinéticas realizadas
(modelo, tempos de amostragem…)
do regime terapêutico e da situação clínica do doente.
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
60
Para alguns fármacos, em tratamentos prolongados, pode ser suficiente uma modificação da dose de
forma proporcional às concentrações determinadas.
No entanto, na prática clínica dispõe-se de pouca informação experimental, que pode estar submetida a
erros de amostragem, analíticos ou de dosificação e obviamente, qualquer erro poderia conduzir a decisões
terapêuticas incorrectas.
Por esta razão, os métodos que utilizam um algoritmo bayesiano para o cálculo dos parâmetros
farmacocinéticos são os mais utilizados na monitorização e apresentam vantagens sobre o método da
proporcionalidade.
Os programas de farmacocinética clínica facilitam a interpretação das concentrações séricas de
fármacos, permitindo fazer simulações de diferentes regimes de dosificação para um doente concreto,
assim como analisar a história de dosificação real do doente relativamente às concentrações séricas
obtidas.
Os métodos de ajuste dos dados, implementados nos programas informáticos, nunca poderiam
esquecer a necessidade do juízo clínico no processo de utilização da farmacocinética clínica na
individualização posológica.
A análise correcta das concentrações dos fármacos e o estabelecimento farmacocinético dos regimes
de dosificação são tarefas que podem tornar-se obsoletas se não se orientam como uma parte
integrante da atenção farmacêutica.
O intervalo terapêutico não é mais do que um intervalo de confiança, o importante é tratar o doente e
não o intervalo, por isso precisamos de considerar a indicação terapêutica, as características
fisiopatológicas do doente, a experiência com o mesmo e a resposta farmacológica real.
Normalmente pretende-se administrar a dose máxima tolerada com o objectivo de obter o máximo
benefício possível.
Apenas é possível se considerarmos o doente individual e ajustarmos a dose em função da sensibilidade do
próprio doente, a resposta clínica (eficácia/toxicidade) ao fármaco, as concentrações séricas obtidas e o
perfil farmacocinético individualizado.
Actualmente esta estratégia é preferida aos métodos convencionais de manter as concentrações dentro da
margem terapêutica, sem considerar a resposta individual do doente.
Estes programas são especialmente úteis nas situações clínicas onde as concentrações séricas não correspondem ao estado de equilíbrio, os tempos de amostragem não são óptimos ou os parâmetros farmacocinéticos não se mantêm estáveis ao longo do tempo.
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▶ A interpretação não termina até que se elabore uma nota informativa dirigida ao peticionário, na qual
devem figurar as recomendações posológicas que se estimem ser oportunas, os princípios e assunções
em que se baseiam as recomendações e as possíveis dúvidas (parâmetros farmacocinéticos,
classificação das concentrações, concentrações previstas…).
▶ A obtenção da informação necessária para a interpretação deve realizar-se através de impressos ou
folhas de petição adequadas (ver figura 8). A informação escrita deve ficar arquivada na história clínica.
5.5 Gestão da qualidade
A qualidade num serviço de farmacocinética clínica centra-se nos seguintes aspectos:
Indicações da monitorização
Tempos de amostragem
Técnicas analíticas
Critérios de utilização dos resultados
Assegurar a qualidade constitui um pilar básico.
Requisitos imprescindíveis para manter a qualidade e conseguir um elevado grau de aceitação das
recomendações:
Consistência
Uniformidade
Resultados positivos
Comunicação rápida e eficiente
O manual de procedimentos serve como ferramenta para se conseguir estes objectivos.
Importância das concentrações máximas e mínimas bem como a necessidade de especificar a hora
exacta da obtenção da amostra:
Módulo 7 Seguimento Farmacoterapêutico – Método Dáder
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Enfermeiros o processo de monitorização inicia-se com a administração correcta do medicamento!
Devem conhecer perfeitamente os tempos de amostragem mais adequados para cada um dos fármacos
monitorizados.
Objetivo 12. Conhecer os principais fármacos de interesse para monitorização farmacocinética
na prática clínica
Critérios que justificam a monitorização de um determinado fármaco:
Analíticos - Disponibilidade de uma técnica adequada
Farmacocinéticos
- Grande variabilidade farmacocinética interindividual - Disponibilidade de dados farmacocinéticos suficientes - Conhecimento dos factores que alteram o comportamento cinético
Farmacológicos - Efeitos farmacológicos relacionados com concentração séricas e difíceis de quantificar
Clínicos
- Margem terapêutica definida - Conhecimento dos factores que alteram a interpretação das concentrações - Estudos que demonstrem a utilidade clínica da monitorização
Existem outros critérios que são os que estão relacionados com a utilização do fármaco.
Na actualidade também se reconhece a importância da monitorização de certos fármacos sem
margem terapêutica estabelecida ou técnica analítica facilmente disponível, como no caso de
antineoplásicos, para reduzir a incidência de toxicidade.
Nunca estará justificada a monitorização de um fármaco:
utilizado com uma indicação inadequada
ou em tratamentos cuja duração não seja suficientemente alargada
Determinadas circunstâncias podem justificar a monitorização de fármacos habitualmente não
monitorizados:
Paracetamol – em intoxicações
Salicilatos – utilizados em doses altas
Cafeína – tratamento da apneia neonatal
Atractivos candidatos a monitorizar:
Antiretrovirais inibidores da protease
Alguns antifúngicos sistémicos
Citostáticos
Tuberculostáticos
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Fármacos habitualmente monitorizados:
Agentes cardíacos
Antiarrítmicos - Lidocaína - Procainamida - Quinidina - Disopiramida - Flecainida - Amiodarona Cardiotónicos - Digoxina
Antibióticos
Aminoglicosídeos - Amicacina - Gentamicina - Netilmicina - Tobramicina - Vancomicina - Cloranfenicol
Antipilépticos
- Ácido valproico - Carbamazepina - Etoxusimida - Fenobarbital - Fenitoína
Broncodilatadores Teofilina
Psicofármacos
Antidepressivos - Amitriptilina - Imipramina - Nortriptilina Neurolépticos - Clorpromazina - Haloperinol - Lítio
Citotóxicos - Metrotexato
Imunosupressores - Ciclosporina - Tacrolimos