Semiose Organizacional
Transcript of Semiose Organizacional
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
SEMIOSE ORGANIZACIONAL:
a circulação dos sentidos na construção da reputação
Kátia Cristiane Aparecida Cardoso de Oliveira
Belo Horizonte
2012
Kátia Cristiane Aparecida Cardoso de Oliveira
SEMIOSE ORGANIZACIONAL:
a circulação dos sentidos na construção da reputação
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Comunicação Social da Pontifícia Universidade
Católica com requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre.
Área de concentração: Interações midiáticas
Orientadora: Profª. Dra Ana Luisa de Castro de
Almeida
Co-orientador: Prof. Dr. Júlio César Machado Pinto
Belo Horizonte
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Oliveira, Kátia Cristiane Aparecida Cardoso de
O48s Semiose organizacional: a circulação dos sentidos na construção da
reputação / Kátia Cristiane Aparecida Cardoso de Oliveira. Belo Horizonte,
2012.
141f.: il.
Orientadora: Ana Luisa de Castro de Almeida
Coorientador: Júlio César Machado Pinto
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
1. Imagem corporativa. 2. Significação (Psicologia). 3. Comunicação nas
organizações. 4. Opinião pública. I. Almeida, Ana Luisa de Castro de. II. Pinto,
Júlio César Machado. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. IV. Título.
CDU: 659.4
Kátia Cristiane Aparecida Cardoso de Oliveira
SEMIOSE ORGANIZACIONAL:
A circulação dos sentidos na construção da reputação
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Comunicação e Artes da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
como parte dos requisitos necessários para obtenção
do título de mestre em comunicação.
Prof. Drª Ana Luisa de Castro Almeida (orientadora) PUC Minas
Prof. Dr. Júlio César Machado Pinto (co-orientador) PUC Minas
Prof. Dr. Luiz Carlos Assis Iasbeck - UCB
Belo Horizonte, 16 de março de 2012.
Semiose ou autogeração (de signos) é assim, também, sinônimo de pensamento,
inteligência, mente, crescimento, aprendizagem e vida. (SANTAELLA, 1995)
O sentido nas interações comunicativas estabelecidas pelos homens é invasivo; ele
não se confina nos limites estritos da mensagem, mas se completa e transborda
através dos interlocutores e até mesmo da ambiência em que eles estão imersos. Um
sentido se constrói numa relação comunicativa; que é o sentido inscrito na
mensagem, mas é também o sentido de um tempo e de um lugar. (FRANÇA, 1995)
À minha mãe Elza
Símbolo de sabedoria, fé, fortaleza, ousadia e persistência
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, por cumprir em minha vida as promessas
bíblicas: “Tudo posso naquele que me fortalece”, Fl.4:13 e me dar força e sabedoria para
realizar meus sonhos;
Em especial, agradeço à minha mãe Elza, por tudo o que fez e tem feito; estimulando-
me nas horas de desânimo, incentivando, confiando no meu potencial e me ajudando em todas
as circunstâncias; por nunca ter medido esforços para que eu tivesse oportunidades e acesso
aos estudos, mostrando-me que a busca pelo conhecimento é essencial; por sempre me apoiar
nas decisões; por sua presença contínua na minha vida, sua generosidade e seu amor
incondicional; não tenho palavras para descrever sua importância na minha vida e em todas as
minhas conquistas;
Ao meu marido e companheiro Sandro Rogério, pelo apoio, amor, sugestões,
paciência e o entendimento da minha necessidade em me dedicar ao mestrado;
Ao meu irmão Alex, pelo incentivo e ajuda nos momentos em que mais precisei; aos
meus sobrinhos Danniel e Stephanie, pela alegria e amor, e à minha cunhada Sarah;
Ao meu amigo e chefe, vereador Ivayr Soalheiro e sua esposa Mônica Messias, pelo
apoio durante todo o período do mestrado, ao me liberar do trabalho nos momentos em que
necessitei para me dedicar ao estudo;
Ao professor Dr. Luiz Carlos Assis Iasbeck, que mostrou ser generoso, amigo e
compromissado com a busca pelo conhecimento. Obrigada, de coração, pelas indicações de
leituras e bibliografias, pela revisão e por me orientar nos momentos mais cruciais desta
pesquisa;
À minha orientadora, Dra. Ana Luisa de Castro Almeida, pela compreensão, amizade
e dedicação com as quais me orientou no mestrado, mostrando que é pessoa determinada,
sábia e companheira;
À professora Dra. Ivone de Lourdes Oliveira, pelo incentivo e apoio para entrar no
mestrado, as orientações durante o período da pesquisa e carinho com que leu o meu trabalho
na qualificação e suas considerações, que me ajudaram a dar norte à pesquisa;
Ao professor Dr. Júlio Pinto, coordenador do mestrado, pelo incentivo no tema
proposto e me socorrer em minhas incansáveis dúvidas;
Às minhas amigas do mestrado, Angelina e Regina, pelo incentivo, companheirismo,
interesse e amizade;
Aos queridos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação: Mestrado
Interações Midiáticas, pelo compromisso e competência com as quais me conduziram nesse
processo;
Aos colegas do mestrado, principalmente Kátia Castro, Anita, Viviane, Vanessa,
Claudinha, pelos momentos de experiência e aprendizado;
Aos amigos e colegas de trabalho Paulo César, Sérgio Maciel, Ailton Cordeiro,
professor Gilson, pelo apoio;
À Isana, secretária do mestrado da PUC Minas, pelo incentivo, nossas conversas, e o
profissionalismo que sempre demonstrou.
RESUMO
Este estudo busca compreender a circulação de sentidos no contexto das organizações, que
gera um processo denominado semiose organizacional, ocasionado pelas tensões que ocorrem
nas relações entre os diversos atores, que disputam e constroem sentidos, influenciando a
reputação das organizações. A semiose organizacional se constitui no tecer da linguagem,
provocando a circulação dos sentidos, o desvio deles, os argumentos, os juízos de valor e as
opiniões que os interlocutores podem construir em seus relacionamentos com a organização.
Isso acontece a partir do que a organização diz sobre si mesma (seu discurso organizacional),
aquilo que ela faz (produtos, serviços, comportamentos) e aquilo que o sujeito percebe e emite
(suas impressões). Quando a organização não atende as expectativas dos interlocutores, o
discurso pode ser modificado e ressignificado pela (re) construção de sentidos. A reputação é
tecida, portanto, na rede infinita da semiose organizacional, modificando-se a partir das
complexidades, tensionamentos e fluidez dos sentidos.
Palavras chave: Semiose Organizacional. Semiose. Circulação de sentidos. Complexidade.
Reputação. Imagem e Identidade
ABSTRACT
This study seek understand the circulation of the senses in context of organization, that cause
as process the called organization semiosis, ocasioning by tensions of stregth in relationships,
that competition e building simbolic, influence the reputation of the organization. The
organization semiosis constitutes in weaven the language, causing the circulation of the
senses, swerve their, the arguments, the judgments of value and the opinion that the
interlocutors construct in their relationships as organization. This happens from what the
organization says, what it does and what the subject perceives and gives his impressions.
When the organization doesn´t meet expectations of interlocutores the speech can be
modified and reframed by the construction of meaning. Is thefore, the reputation will be
woven into the infinite network of organizational semiosis changing from the complexities,
tensions and fluidity of the senses.
Key words: Organizational Semiosis. Semiosis. Circulation of the senses. Complexities.
Reputation. Image and identity.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Modelo de Interação Comunicacional Dialógica ...................................................... 31
Figura 2: Estratégias enunciativas ............................................................................................ 47
Figura 3:Relação Signica – semiose ......................................................................................... 68
Figura 3.1: Triângulo de Ogden-richards...............................................................................................68
Figura 4: Semiose como Processo Comunicativo ................................................................... 70
Figura 5: Semiose Organizacional ............................................................................................ 75
Figura 6: Aspectos que Influenciam a Reputação .................................................................. 108
Figura 7: As Raízes da Fama .................................................................................................. 112
Figura 8: Relatório Global ...................................................................................................... 119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Nível Semiótico......................................................................................................67
Quadro 2: Categorias Peirceanas, Organização e Interlocução ............................................... 79
Quadro 3: Representações da Imagem segundo W. J. T. Mitchel ............................................ 98
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM: DA PRODUÇÃO À RECEPÇÃO ...................... 18
2.1 Interfaces possíveis: comunicação, linguagem, semiótica e reputação ........................ 18
2.2 Paradigma relacional e suas contribuições para o contexto das organizações ........... 23
2.3 Organizações: lugar de construção e circulação de sentidos ........................................ 28
2.3.1 Comunicação, sentidos e linguagem .............................................................................. 33
2.4 Formas enunciativas da linguagem ................................................................................. 37
2.4.1 Lugar dos sujeitos: produção e recepção ....................................................................... 40
2.5 Organização como produtora de sentidos ...................................................................... 43
2.5.1 Contratos e estratégias .................................................................................................... 44
2.5.2 As estratégias enunciativas do discurso organizacional ............................................... 46
2.5.2.1 Legitimidade ............................................................................................................... 48
2.5.2.2 Credibilidade ............................................................................................................... 51
2.5.2.3 Captação ...................................................................................................................... 55
2.6 Recepção: um lugar de sentidos ...................................................................................... 60
3 SEMIOSE ORGANIZACIONAL ...................................................................................... 64
3.1 A triadicidade dos signos ................................................................................................. 64
3.2 Semiose e sua relação infinita .......................................................................................... 70
3.3 Os sentidos, significados e representações ...................................................................... 72
3.4 Semiose organizacional .................................................................................................... 74
3.5 Características semiósicas ................................................................................................ 80
4 REPUTAÇÃO: NO “TECER” DA SEMIOSE ORGANIZACIONAL .......................... 87
4.1 Identidade: tensionamentos do “ser organizacional” ................................................... 87
4.1.1 Inter-relação: identidade e cultura ................................................................................ 93
4.2 Imagem: como somos vistos? ........................................................................................... 96
4.3 Reputação na semiose organizacional .......................................................................... 104
4.3.1 Experiência com a empresa.......................................................................................... 109
4.3.2 Comunicação: um dos precedentes para a reputação positiva ................................... 111
4.3.3 Influência de terceiros e contexto ................................................................................ 117
4.4 Reputação, complexidades e circularidade dos sentidos ............................................. 121
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 126
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 132
13
1 INTRODUÇÃO
Beger e Luckmann (1995) falam que “o mundo se origina no pensamento e na ação
dos homens comuns, sendo como real por eles” (BERGER; LUCKMANN, 1995, p. 37).
Segundo os autores, a “consciência é sempre intencional”. Tudo o que pensamos tem
intencionalidades que geram nossas construções de sentido, fazendo com que os pensamentos
oscilem em imagem e formem opiniões sobre determinada realidade. Ao falar, o homem
constrói sentidos no mundo, numa versão dotada de saberes que acredita serem verdades.
Esses sentidos são resultados de um processo decorrente da relação partilhada com outros
indivíduos, que também têm suas verdades.
Pela interação, há o processo comunicativo. França (1995, p. 63) destaca que “é
sempre uma relação, uma forma de interação em que o um e o outro estão lá desde o
princípio”. Nela ocorrem trocas de conhecimentos, experiências e saberes prévios, em
intercâmbio contínuo entre a expressividade de quem fala e de quem a recebe. Assim, as
interações são dotadas de sentidos. Entendemos alguns deles, e erroneamente, interpretamos
outros. Como afirmam Berger e Lukmann (1995, p. 49), “é possível que interprete mal as
intenções do outro mesmo na situação face a face, assim como é possível que ele
“hipocritamente” esconda as suas intenções”. Nessa perspectiva, interagir é um jogo entre
quem enuncia e quem recebe o enunciado, no qual o sentido se constituirá desses jogos de
relações tensionadas, mediados pela linguagem, pois a emissão transmite um discurso
intencional e a recepção o recebe, e o aplica, juntamente com as suas intencionalidades.
Desses jogos, os sentidos se formam e circulam em rede contínua.
Temos que o sentido é construção futura que se processa na mente humana, ou seja,
aquilo que se cria a partir das experiências, contextos, situações vivenciadas pela interação
com a tecnologia, mídia, homens, discurso e, por fim, linguagem. O sentido é formado pelo
processo semiósico, denominado por Peirce como a relação do signo com o objeto e do signo
com o interpretante, isto é, fruto de semiose infinita, em que a mente se atualiza.
As organizações - formadas por indivíduos em interação -, objeto de estudo desta
análise, são consideradas organismos vivos, complexos e em constantes transformações,
marcadas pelas influências dos contextos internos e externos, que envolvem as mudanças das
sociedades modernas, sejam elas individuais ou coletivas.
Entendemos que nas relações das organizações com seus interlocutores, os sentidos
circulam, não de maneira linear e passiva, mas dinâmica, instável, fluida, dotada de
14
significações e ressignificações. A partir do afirmado por Foucault (2010), a comunicação, por
ser relação, pode ser entendida como processo de construção e disputa de sentidos. Considera-se
que os sentidos se atualizam como existência dispersiva, pois a semiose, como explica Baldissera
(2008), “é um processo, em que se atualiza uma significação diversa para diferentes mentes que
experimentam o mesmo fenômeno, ou ainda, para a mesma mente em seus diferentes momentos”
(BALDISSERA, 2008, p.16). O sujeito, pela semiose, age sobre o processo de construção sígnica,
tece o signo. “Qualificada como dispersão ou dispersiva, a produção de sentido parece revelar,
entre outras coisas, a desordem, a criatividade, as possibilidades, a fertilidade e a contradição, que
se fazem presentes no sistema de significação” (BALDISSERA, 2008, p. 16). A comunicação,
conforme explica o autor, compreende significação em movimento e tende a organizar os
sentidos.
Os participantes do processo de comunicação procuram, mediante a disputa e a
construção de sentidos, consciente ou inconscientemente, dar indicações de quais
sentidos devem ser reconhecidos, associados e internalizados pelo outro em relação.
Observa-se, no entanto, como se afirmou, que o fato de se ofertar determinados sentidos,
não significa o seu reconhecimento e consumo. (BALDISSERA, 2008, p. 16).
Segundo Fausto Neto (1992), aquele que recebe o discurso faz elos associativos a
partir de seus saberes e pela pressuposição do que é dito pela emissão, isto é, ele
implicitamente supõe o que é falado pelo outro. Como num jogo, “o indivíduo tem a
possibilidade de entrar na “rede imaginária” pelo investimento dos seus mecanismos de
projeção e de identificação, com aquilo que dá como “objeto ofertado” (NETO, 1992, p. 65).
Sendo assim, o modelo tradicional de comunicação (emissor/mensagem/receptor) é
insuficiente para responder às questões que permeiam as relações, por ocorrer em processo
linear, no qual não são consideradas as complexidades da interação.
Partindo dessas premissas, o estudo propõe entender o paradigma relacional,
identificando como as relações entre sujeitos acontecem no contexto das organizações e como
as intencionalidades daquele que é produtor do discurso contribuem para a projeção de
imagens, pois a construção de sentidos se dá quando os sujeitos estão em relação de mútua
afetação. França (1995) esclarece:
“O sentido nas interações comunicativas estabelecidas pelos homens é invasivo; ele
não se confina nos limites estritos da mensagem, mas se completa e transborda
através dos interlocutores e até mesmo da ambiência em que eles estão imersos. Um
sentido se constrói numa relação comunicativa; que é o sentido inscrito na
mensagem, mas é também o sentido da própria relação, da presença viva de um e de
outro, e é o sentido de um tempo e de um lugar” (FRANÇA, 1995, p. 64).
15
Sabe-se que a produção de sentidos opera na interface da construção social, por meio
da linguagem. França (1995) ressalta que a dimensão simbólica da linguagem acontece pela
criação dos laços – da presença de um e do outro – pela televisão, via computador, via texto -
que tem particularidade de expressar. A mídia assume papel fundamental, por mediar as
relações entre as organizações e seus interlocutores. Pela mídia, as organizações falarão quem
são e se tornarão conhecidas e reconhecidas. Para isso, utilizam estratégias, carregadas de
intencionalidades, que tentarão captar os interlocutores de seu relacionamento. Ao produzirem
significações por meio dos conteúdos simbólicos, as organizações se tornarão reconhecidas. O
reconhecimento forma-se na alteridade, que produz o sentido, criando impressões e opiniões
individuais ou coletivas.
Pensando como os sentidos se manifestam no contexto das organizações por meio da
linguagem, chegamos ao termo semiose organizacional1.
Sob esta perspectiva, as organizações são formadas por indivíduos em interação, em
que se relacionam vários interlocutores (alta gerência, funcionários, fornecedores, acionistas,
comunidade, imprensa, entre outros). Em suas relações, os sentidos são produzidos,
construídos e disputados, sejam pelas interações face a face ou mediadas, pois, conforme
Berger e Luckmann (1995), a “expressividade humana é capaz de objetivações, isto é,
manifesta-se em produtos da atividade humana que estão ao dispor tanto dos produtos quanto
dos outros homens, como elementos que são de um mundo comum”. (BERGER;
LUCKMANN, 1995, p. 53)
Importa que se recuperem algumas questões de base. A semiose organizacional pressupõe
e exige um processo relacional. Por sua vez, afirma-se que ela se constrói pelas/nas tensões das
forças em relação. Também é decorrente dos sentidos que se formam pelo processo semíosico.
Além de disputarem, circulam continuamente, sendo complexos e fluidos, pois os sentidos
produzidos na mente de cada pessoa/grupo/sociedade geram infinitas possibilidades de
pensamentos, criando um complexo de impressões, informações, percepções e conceitos, que
formarão imagens.
Com o passar dos anos, essas imagens serão a base para constituir a reputação das
organizações. Assim, a reputação não é formadora da semiose organizacional, mas é tecida
em sua rede infinita.
1 A noção de semiose organizacional, circulação de sentidos no contexto das organizações, foi estudada a partir
do capítulo II dessa dissertação. Semiose quer dizer a relação do signo com o objeto e do signo com o
interpretante, numa geração infinita. Assunto retratado no capítulo 2 desta dissertação. Ver a partir da página 64.
16
A partir desse entendimento, a investigação proposta trata-se de uma pesquisa de
cunho teórico, ancorada no paradigma relacional e nas interfaces dos estudos de linguagem,
semiótica e reputação. Para melhor compreender os processos de formação da semiose
organizacional, utilizou-se alguns exemplos, elaborados para esse fim. À luz do pensamento
relacional, objetiva-se compreender as interações entre sujeitos, pela linguagem em ação, e
como elas são dotadas de significações, formando imagens e reputação das organizações.
Assim, surgem questionamentos que nortearam nossa investigação: como acontece a semiose
organizacional mediada pela linguagem, produzida pelos processos midiáticos e construída
pela recepção? Como a reputação será tecida na rede infinita da semiose organizacional?
Investiga-se a semiose organizacional como uma circulação de sentidos tecida pela
elaboração mental dos sujeitos, permanentemente transformada por movimentos, flutuações,
interdependências, tensões, dúvidas, disputas e negociações que se estabelecem entre o sujeito
produtor da imagem e o sujeito que a constrói, e os seus grupos socioculturais. Por isso,
interessa-nos, principalmente, entender as condições em que os sentidos circulam nas
organizações, formando imagens e interferindo em sua reputação.
No capítulo 1, começamos a análise destacando as interfaces necessárias à construção
desta pesquisa e os conceitos do paradigma relacional. Interessou-nos entender as interações
entre os sujeitos, como parte do processo comunicativo, no qual podem ser influenciadas
pelas situações sociais. Também instigou-nos compreender a configuração das organizações
como espaço de interação entre sujeitos, mediados pela comunicação como prática discursiva.
A partir daí, perpassamos pelos estudos de linguagem e os posicionamentos dos
sujeitos no processo comunicativo. Para entender as organizações como enunciadoras de um
discurso, apresentamos suas formas de influenciar, comover e persuadir os interlocutores, por
meio das estratégias enunciativas: legitimidade, credibilidade e captação. Buscamos a
recepção como construtora de sentidos, pois na interpretação os sentidos serão transformados
em imagens e reputação.
Como o discurso organizacional é mediado pelas práticas de comunicação, carregado
de intencionalidades para captar a alteridade, buscamos problematizar a nossa análise no
segundo capítulo, no qual apresentamos a semiose que acontece nas organizações, o que
denominamos semiose organizacional.
Essas perspectivas nos levaram a buscar respostas aos questionamentos de como a
reputação é tecida na rede infinita da semiose organizacional. Essa rede é constituída por uma
circulação contínua de sentidos, produzidos, construídos e disputados, provocando
17
instabilidades, desvios e ruídos no processo comunicativo das organizações com seus
interlocutores, o que pode interferir na construção de imagens e reputação corporativa.
O terceiro capítulo desta pesquisa voltou-se para a formação da reputação na semiose
organizacional. Buscamos o entendimento nos conceitos de identidade, imagem e reputação,
partindo do pressuposto de que são noções interdependentes, pois para sabermos como somos
vistos, primeiramente temos que saber quem somos como organização.
A partir desse pensamento, no tecer da rede infinita da semiose organizacional, a
reputação pode perder capital simbólico, quando for retroalimentada, nessa teia dos sentidos,
pelas construções de mundo dos indivíduos, experiências, contextos, produção e
intencionalidades da emissão, entre outros inúmeros fatores.
O último capítulo contempla considerações que surgem da relação da construção de
sentidos e da reputação de uma organização.
18
2 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM: DA PRODUÇÃO À RECEPÇÃO
2.1 Interfaces possíveis: comunicação, linguagem, semiótica e reputação
A construção de sentidos compreende sujeitos em relação e acontece quando o homem
se comunica por meio da linguagem em uso. Vera França (2002) destaca que na linguagem o
homem transforma as suas relações com as coisas, com o mundo, no mundo. Desde os
primórdios dos tempos os indivíduos constroem as suas relações por meio da comunicação,
num ato de linguagem.
A história do homem sobre a terra constitui permanente esforço de comunicação.
Desde o momento em que os homens passaram a viver em sociedade, pela reunião de
famílias, pela comunidade de trabalho, a comunicação tornou-se imperativa. Isto porque
somente por meio da interação os homens conseguem trocar ideias e experiências. A própria
sociedade moderna pode ser concebida como resultante do aperfeiçoamento progressivo dos
processos de comunicação entre os homens - do grunhido à palavra, da expressão ao sentido.
O que nos leva a repensar a importância da comunicação, da linguagem verbal e não
verbal, do processo de emocionar-se e expressar ou disfarçar emoções nos diálogos. Em um
processo interativo, entendemos que os indivíduos decodificam as mensagens de forma
especial, diferenciada. Muitas vezes, prescrevemos uma tarefa, considerando a nossa
representação mental, a nossa linguagem, a forma como decodificamos essa prescrição, e
desconsideramos a pessoa que realmente a executará. Consideramos que a falha e/ou erro está
na pessoa que realizou a tarefa, pois não entendeu o que foi transmitido.
Pensar a comunicação entre os interlocutores2 é entender que ela se estabelece num
relacionamento e não em transferência unilateral de informação. Ninguém pode ser professor
sem alunos, ou vendedor sem clientes, ou ser terapeuta sem pacientes. As interpretações e os
sentidos do que é transmitido numa interação tendem a tornar-se ativas e não passivas, e
devemos levar em conta os sentidos que são transmitidos e os que modificam. A comunicação
faz parte da constituição dos seres humanos, e é o ponto de partida para a interação social
entre as pessoas. Estudar a comunicação é procurar entender como os indivíduos se
relacionam e produzem sentidos ao mundo.
Charaudeau (2009) lembra que o sentido resulta da relação de troca de experiências
entre aquele que fala e aquele a quem o discurso se dirige. A relação de intencionalidades os
2 Nesta análise usaremos os termos interlocutores, sujeitos, indivíduos e interpretantes para designar indivíduos
ou grupos que se relacionam.
19
liga e as condições físicas da troca produzem sentido, pois o sentido nunca é dado
antecipadamente. Ele é construído pela ação linguageira3 dos homens em situação de troca
social.
Portanto, pela troca social, numa interação de reflexividade, “em que cada parte atua
sobre a outra e onde o passado e futuro são ocasionados pela ação presente” (FRANÇA, 2007,
p. 16), os interlocutores de um discurso produzem, constroem e disputam sentidos. Na
perspectiva de França (2007), as relações são entendidas a partir de um processo de produção
e compartilhamento de sentidos entre sujeitos; sujeitos interlocutores num processo marcado
pela interação, práticas discursivas, produção de sentidos e contexto social e histórico. “Como
a interação está presente em todas as áreas do conhecimento e atuação social” (BRAGA,
2001, p. 227), é necessário considerar as articulações existentes entre estas e o campo da
comunicação.
Para a compreensão das discussões que trataremos no decorrer desta análise, neste
primeiro capítulo perpassaremos pelo campo da comunicação organizacional4, abordando
questões fundamentais que contemplam a nossa proposta, que poderá contribuir para as
pesquisas dessa área de conhecimento. Braga (2001, p. 225) ressalta que “a comunicação,
como todas as ciências sociais e humanas, pode se beneficiar de aportes interdisciplinares, e
frequentemente o faz”. Para o autor, não há como resistir à tendência de articulações, a cada
dia crescente, pois cada componente comparece com seu acervo historicamente constituído de
práticas e conhecimentos. Por meio dessa articulação, podem ser extraídos conhecimentos
específicos que ajudarão a superar as dificuldades teórico-metodológicas deste estudo.
Como considera Braga (2001, p. 220), o campo da comunicação “é um campo de
estudos em construção”, ou seja, ainda em constituição como disciplina acadêmica.
3 A expressão linguageiro é considerada por Charaudeau (2010) e Machado (2001, p.47), e se refere às línguas
naturais. 4 A partir de pesquisas sobre o termos comunicação nas organizações e comunicação organizacional, apesar de
considerar que as duas terminologias contemplam o nosso trabalho, optou-se em utilizar na dissertação o termo
Comunicação Organizacional, por considerar o que afirmam Lima (2008, p.112) e Scroferneker (2011, p.10),
que a expressão exprime a ideia que contempla o objeto de estudo aqui proposto, pois o termo “suplanta o
paradigma informacional, pois a comunicação não é mais compreendida por um viés linear, restrito a um lugar
ou à posse de alguém, mas, sim, a partir de um contexto conformado pela relação entre os interlocutores – a
organização como sujeito social complexo que, em interação com seus membros e com a sociedade, configura
determinado contexto de interações”. (Lima, 2008, p.112) e Scroferneker (2011) completam: “Entendemos,
contudo, que essa configuração ocorre em diferentes e múltiplos contextos de interações, em inter-relações
dialógicas, recursivas e hologramáticas. (Scroferneker, 2011, p.6). A partir desse entendimento e considerando a
organização como lugar de empiria, que contempla interações, produção, construção e disputas de sentidos,
optou-se pela Comunicação Organizacional, que envolve a complexidade das relações. Baldissera (2009)
destaca: “Comunicação Organizacional é o processo de construção e disputa de sentidos no âmbito das relações
organizacionais” (Baldissera, 2009, p.119, apud Scroferneker, 2011, p.6). Para o autor, “[...] toda a comunicação
que, de alguma forma e em algum grau, disser respeito à organização é considerada Comunicação
Organizacional [...]” (2009, p.10). Por isso, nossa opção pela terminologia Comunicação Organizacional.
20
Para Prado (2003, p. 135), é campo emergente, como espaço de várias correntes e
constante disputa, um campo de interfaces. Nessa análise, não nos ateremos a questões
específicas do campo da comunicação organizacional e de sua constituição. Pretende-se aqui
explorar as interfaces entre a comunicação e outras áreas do conhecimento, como linguagem,
semiótica e reputação, buscando a compreensão dos pontos de interlocução e diálogo
existentes, para a fundamentação do objeto central desta análise, a semiose organizacional e
sua contribuição para as pesquisas da subárea da comunicação, a comunicação organizacional.
Consideramos que a interface do campo da comunicação com essas áreas do
conhecimento contribuirá para melhor aprofundamento da proposta, abordando novas
questões para se pensar os processos comunicativos nas organizações, como consideram
Oliveira e Paula (2005), ao ressaltar que o ambiente organizacional é formado por atos de
interação, planejados e/ou espontâneos, estabelecidos por fluxos informacionais e/ou
relacionais.
Ao levantarmos questões sobre a comunicação, o nosso objetivo é compreender o
objeto comunicacional que se propõe dentro de contexto específico, o das organizações.
Segundo Mattos (2008, p. 26), os estudos da comunicação sempre foram marcados pela
interdisciplinaridade com diversas áreas do conhecimento, como, por exemplo, ciências
sociais, humanas e da linguagem, “contribuindo para a compreensão mais ampla dos
processos e práticas comunicacionais” (MATTOS, 2008, p. 26).
A autora adverte que, como o campo da comunicação, a comunicação organizacional
se constitui pelas interfaces com outras áreas, pois teve sua origem nos campos da
administração, psicologia industrial, ciências sociais e humanas, dialogando, por exemplo,
com estudos de mídia e análise de discursos. É importante, para se estudar a comunicação no
contexto das organizações, direcionar o olhar à multidisciplinaridade, sem perder de vista, é
claro, a centralidade da comunicação na interlocução entre as áreas de conhecimentos. Para
Braga (2004), o grande desafio da comunicação e de suas subáreas é “desentranhar seu objeto
de interesse da pluralidade de disciplinas e olhares que perpassam essa área de estudo,
buscando identificar o que é propriamente comunicacional”. (BRAGA apud MATTOS, 2008)
Ao fazer a interface entre os estudos do campo da comunicação e a comunicação
organizacional, dialogando com a linguagem, semiótica e reputação, refletiremos
teoricamente sobre como se dá a circulação dos sentidos pela interação que se estabelece entre
a organização e seus interlocutores e, como por meio da semiose organizacional, se constrói a
reputação.
21
No processo de interação existem tensionamentos que ocorrem pela circulação dos
sentidos, construídos, produzidos e disputados5 no processo comunicativo entre a organização
e seus interlocutores. Mattos (2008) considera que para a interface ser construtiva, é
importante incorporar criticamente seus conceitos, teorias e métodos sem nenhuma mediação
com a especificidade do objeto central de investigação. No mesmo propósito, procuraremos
incluir - por meio do objeto proposto – novos olhares conceituais às pesquisas que veem a
comunicação como meramente instrumental.
Propomos a construção do termo semiose organizacional por considerar que é
circulação de sentidos que ocorre no/pelo relacionamento das organizações com seus
interlocutores, provocando o que Peirce denomina semiose, ou seja, “as relações de um signo
com seu interpretante”. Nesse olhar, no contexto das organizações, entendemos que no
processo comunicativo os sentidos serão produzidos, construídos e disputados, constituindo
uma semiose organizacional. Esperamos contribuir para o entendimento da circulação de
sentidos no contexto das organizações e para a construção da reputação no tecer da semiose
organizacional.
É essencial a conexão das teorias que podem enriquecer o entendimento do objeto
proposto. Segundo Mattos (2008, p. 36), “a conexão com teorias, conceitos, métodos e
técnicas de investigação desenvolvidos em outros campos se faz cada dia mais necessária face
à complexidade dos processos e das práticas da comunicação na contemporaneidade, que
demandam perspectivas cada vez mais transversais e transdisciplinares”. Para Scroferneker
(2011), os estudos de comunicação no contexto das organizações avançam para “novos
olhares com o objetivo de romper com uma visão reducionista/linear/prescritiva da
comunicação organizacional, sinalizando outras possibilidades, que revelam, em parte, a
exaustão do Paradigma Simplificador ou Simplista” (SCROFERNEKER, 2011, p. 2). De
acordo com a autora, a comunicação organizacional experimenta e vive um novo tempo, com
novos e antigos atores renovados; são novos olhares e “novas regras de uma nova organização
mental e social” (SCROFERNEKER, 2001, p.2).
O capítulo “Comunicação organizacional: da produção à recepção” aborda os
conceitos de interação e do paradigma relacional na perspectiva das teorias do campo da
comunicação e da linguagem - para somente depois dialogar com as interfaces estabelecidas
com a semiótica e a reputação. Ao mesmo tempo, aborda as mudanças paradigmáticas que
ocorrem no contexto das organizações, mostrando-as como lugar de empiria definida, como
5 Disputa de sentidos é abordada nessa pesquisa como relações de choque e processos adaptativos
22
afirma Pinto (2008), ambiente onde ocorre a circulação de sentidos. Além disso, buscamos
contextualizar a comunicação como mediadora desses processos, contribuindo para a
circulação dos sentidos dentro das organizações.
Tomando como base as teorias da linguagem e da semiótica, entendemos que a
circulação dos sentidos ocorre nas relações entre sujeitos. A semiose (circulação infinita de
sentidos) se dá por meio de um dispositivo, que é a linguagem em uso, como afirma Agamben
(2009). Para ele, a linguagem é o mais antigo dos dispositivos. Esse dispositivo se constitui
numa relação, pois é a relação e não existe sem os seres. Para o autor, o dispositivo também é
o significado, aquilo que leva alguma coisa a algo. “É um conjunto heterogêneo, linguístico e
não linguístico, que inclui virtualmente qualquer coisa no mesmo título [...]” (AGAMBEN,
2009, p. 29). A linguagem faz os sujeitos interagirem e comunicarem. Como dispositivo, ela
contribui para a construção de sentidos e é mediadora.
Na interação entre sujeitos, utilizando a linguagem, os sentidos se constituirão. Na
concepção de Medrado e Spink (2004, p. 41), os sentidos são construção social,
empreendimento coletivo, mas precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na
dinâmica das relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas – constroem
os termos a partir das quais compreendem e lidam com as situações e os fenômenos à sua
volta. Os sentidos fazem as imagens mentais se constituírem numa relação, por meio da
linguagem. Partimos do pressuposto de que as mudanças dos sentidos acontecem porque as
palavras também mudam, e por isso pode ser considerada complexa: ao mesmo tempo em que
ordena, desorganiza. Assim, a linguagem é aberta e possui variáveis incontroláveis que
produzem os sentidos.
Para se compreender o processo de circulação de sentidos nas relações entre sujeitos, é
essencial entender os processos interpretativos, ou seja, como os indivíduos interpretam a
mensagem no processo interacional e constroem sentidos a partir dessa interpretação. Para
isso, buscamos aportes na teoria semiótica. Segundo Peirce (MS 931,396), o processo de
semiose se constitui nas relações sígnicas. Para ele, “tudo o que sabemos, sabemos apenas por
suas relações, e tudo o que podemos saber são relações”. Baseado na concepção de relações o
teórico passou a investigar a teoria dos signos. Segundo ele, “inventei diversos sistemas de
signos para lidar com as relações” (MS,231). Ao se referir ao signo, Peirce o define como
qualquer coisa (uma palavra, um livro, uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma
pessoa, uma mancha de tinta, um vídeo etc.) que determina qualquer outra coisa (CP2, 303).
Portanto, a linguagem é signo. O signo em relação gera a semiose, ou seja, “o objeto em
23
relação com o signo produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito
este que é chamado de interpretante do signo”. (SANTAELLA, 2001, p. 8).
Ao analisarmos os conceitos de Peirce, dialogando com as teorias da linguagem,
aplicando-os ao ato discursivo, consideramos que se traduzem no processo comunicativo, em
que, em situação de troca entre sujeitos, os sentidos são produzidos, construídos e disputados,
por meio da linguagem estabelecida pelas relações. Partindo dessa premissa, o processo
comunicativo está diretamente ligado à interação considerada pelo campo da comunicação,
como também aquilo que nos conceitua as teorias da linguagem e da semiótica, por isso a
necessidade da interface entre esses estudos.
França (2006), ao discorrer sobre as práticas narrativas ordenadoras de sentido,
fornece visão esclarecedora sobre o conceito, em que enfatiza que sujeitos (produtor/receptor)
estão inseridos em um processo mais amplo de comunicação, que é o processo comunicativo.
O sujeito produtor de discursos6, nas teorias da linguagem e da semiótica, é aquele que
constrói a narrativa, recolhe e costura elementos diversos, orientando a produção de sentidos;
ele produz o enunciado, o texto; é a voz do discurso, ou as vozes do discurso; é aquele que
fala dentro do enunciado. “É visto como agente, ser de intencionalidade”. Por outro lado, o
receptor é visto como sujeito, que reconhece e aplica o código do emissor, mas pode usar
códigos alternativos. “Ele interpreta, seleciona, se apropria, enfim, dá outra produção a partir
de seu lugar” (VERA, 2006, p. 66).
2.2 Paradigma relacional e suas contribuições para o contexto das organizações
Na perspectiva de Lima (2008, p. 124), o paradigma relacional possibilita avanços
significativos às pesquisas do campo da comunicação, e Oliveira (2010) completa ao
evidenciar que a comunicação como processo social possibilita a circulação de sentidos, ao
articular as “instâncias de emissão, circulação e recepção” (OLIVEIRA apud
SCROFERNEKER, 2011, p. 5).
A interacionalidade acontece por meio das relações que se estabelecem entre essas
instâncias. Considerando o que nos falam Braga e Calazans (2001), refere-se a uma situação,
“onde grupos e pessoas interagem sobre produtos mediáticos, percebidos como
disponibilidades sociais. De um modo diferido e difuso (além dos modos diretos e imediatos),
materiais simbólicos circulam na sociedade, são interpretados e usados, são fonte de ações e
6 Conceitos ampliados a partir da página 40 deste capítulo.
24
de interações entre pessoas e produzem efeitos de sentidos” (BRAGA, CALAZANS, 2001, p.
29). Segundo os autores, esse complexo jogo de interações inclui graus variados e
combinações reformuladas de interações que podem ser as conversacionais diretas, dialogais
mediatizadas e diferidas e/ou difusas.
A partir da noção de interação social, que acontece de forma relacional, Quéré (1991)
apresenta o conceito de que a comunicação é processo circular não determinado e nem
controlado pela emissão, como considera o modelo tradicional e informacional da
comunicação. O autor considera que a comunicação relaciona a uma “atividade organizante”,
mediada simbolicamente, efetuada conjuntamente pelos membros de uma comunidade de
linguagem e de ação no quadro da coordenação de suas ações práticas. Para esse autor, a
comunicação não é um processo no qual as intenções são previstas e no qual fatos e hipóteses
(representações de um mundo real predefinido) tornam-se mutuamente manifestos. Pelo
contrário, é atividade conjunta da construção de uma perspectiva comum, de um ponto de
vista compartilhado, com base de inferência e de ação. Para Quéré (1991), não existe um
modelo predefinido, as intenções e os referentes procedem de cumplicidade coordenada,
mediada, por sua vez, pelo tempo e práticas, operações, símbolos, conceitos e significações.
“É na ação comunicativa, enquanto processo de “publicização”, que as coisas e os seres
adquirem sua determinação – para todos os fins práticos – através da construção de relações
com um “nós” (QUÉRÉ, 1991, p. 7).
Na mesma perspectiva, França (2003) ressalta que a compreensão da comunicação
como atividade organizante - de construção (modelagem) de um mundo comum (de pontos de
vistas partilhados) - é a ponte que nos permite apreender em que medida as interações
comunicativas, instaurando relação de troca e partilhamento simbólico entre diferentes
sujeitos, são lugares que constroem esses sujeitos – e os constroem no mundo.
Complementando o pensamento, Oliveira (2008) ressalta que as relações das pessoas –
ser social – com o mundo não se dão de forma direta, mas passam por interferências de várias
ordens do grupo social ao qual pertencem. De acordo com França (2002), a comunicação deve
ser pensada como processo de troca, ação compartilhada, prática concreta, interação – e não
apenas processo de transmissão de mensagens; os interlocutores devem ser observados como
sujeitos de produção e interpretação de sentidos, mais que simples emissores e receptores; os
discursos como formas simbólicas que trazem as marcas de sua produção, dos sujeitos
envolvidos, de seu contexto, e não como exatamente mensagens:
25
[...] a comunicação compreende um processo de produção e compartilhamento de
sentidos entre sujeitos interlocutores, realizado por meio de uma materialidade
simbólica (da produção de discursos) e inserido em determinado contexto sobre o
qual atua e do qual recebe reflexos. (FRANÇA, 2002, p. 27).
A partir de uma visão do paradigma relacional, o processo comunicativo envolve
produção, construção e disputa de sentidos entre as instâncias de produção e recepção.
Observamos que nos últimos tempos, o processo interacional tem sido estudado como ação
conjunta, no qual a comunicação não compreende apenas um processo de estímulo-resposta.
Não é possível, numa perspectiva interacional, analisar a intervenção de um emissor
sem levar em conta o outro a quem ele se dirige e cujas respostas potenciais (as
respostas do outro imediato e de outrem – o grupo ao qual pertence) já atuam com
antecedência sobre o seu dizer: não é possível analisar o receptor separado dos
estímulos que lhe foram endereçados e que o constituíram com sujeitos daquela
relação. (FRANÇA, 2007, p. 12)7
O entendimento do paradigma relacional implica processo de construção conjunta de
interlocutores (sujeitos sociais) a partir de discursos (formas simbólicas que trazem as marcas
de sua produção, dos sujeitos envolvidos e do contexto), em situações singulares (dentro de
determinado contexto). Não é possível, como explica França (2007), numa perspectiva
interacional, analisar a intervenção de um emissor, sem levar em conta o outro, a quem ele se
dirige e cujas respostas potenciais (as respostas do outro imediato e de outrem – o grupo ao
qual ele pertence) já atuam com antecedência sobre o seu dizer. Ela considera que o processo
comunicativo tem que ser pensado em articulação e mútua afetação.
Não basta somente pensar emissor e receptor, mas a reflexividade do processo. E essa
reflexividade nos interessa na análise, pois por meio dessa relação ocorre a circulação dos
sentidos no/pelo processo comunicativo. Assim, no nosso entendimento, o processo
comunicacional é interacional, reflexivo e multifacetado. Ele acontece numa situação de
comunicação. “É a situação de comunicação que devemos pensar. Devemos nos interessar
pelos estímulos que são as respostas; respostas comuns que orientam respostas particulares,
respostas particulares que se inserem e realizam numa ordem constituída” (FRANÇA, 2007,
p. 13). A autora lembra que o sentido se concretiza nessa ação comunicativa; que é o sentido
inscrito na mensagem, mas também o sentido da própria relação, da presença viva de um e de
7 A fundamentação da autora sobre o paradigma relacional é encontrada em George H. Mead e na corrente de
estudos conhecida como Interacionismo Simbólico, cunhada por Herbet Blumer.
26
outro, sentido de um tempo e lugar. São os sujeitos em relação, enredados numa teia de
relações, que constroem, produzem e disputam sentidos, como sugere França (2006).
Esses sujeitos falam um com o outro, produzidos nos e pelos laços discursivos que os
unem. Eles estão em situação comum, em experiência, sendo afetados tanto pela copresença
como pela mediação simbólica que os institui em polos de uma interação. Thompson (1995,
p. 50) ressalta que quando indivíduos codificam ou decodificam mensagens, empregam não
somente as habilidades e competências requeridas pelo meio técnico8, mas várias formas de
conhecimento e suposições de fundo que fazem parte dos recursos culturais que eles trazem
para apoiar o processo de intercâmbio simbólico. Esses conhecimentos e pressuposições dão
completude às mensagens, isto é, à maneira como os interlocutores os entendem, relacionam-
se com elas e as integram em sua vida. Para o autor, o processo de compreensão é sempre
ação recíproca entre as mensagens codificadas e os intérpretes situados, e estes sempre têm
grande quantidade de recursos culturais de apoio ao processo.
Nesse olhar, as interações entre as partes, emissor-receptor, não podem ser estudadas
numa dimensão restrita. As produções, construções e disputas de sentidos, ou seja, a semiose9
que ocorre no processo comunicativo, não é parte de consequência mecânica. Diz-se que o
modelo informacional não consegue explicar a reflexividade do processo.
Pelo modelo tradicional e linear, o processo comunicativo seria visto como algo
transmissional, processo em que um emissor elabora mensagens (desenvolve planejamento de
ações comunicacionais e seu conteúdo) divulgadas pelos meios de comunicação (veículos
próprios ou mídia de massa), direcionadas aos receptores. Percebe-se que a informação
transmitida pelo emissor é entendida como se o sentido fosse propriedade intrínseca à
mensagem e, portanto, algo incorporado integralmente por um receptor, desconsiderando a
circulação dos sentidos e colocando o receptor como sujeito à persuasão de quem enuncia. O
modelo em questão oferece, então, análise superficial de um processo mais complexo e
amplo, conforme explica Fausto Neto (2009, p. 190): “O abandono desse modelo mecânico se
dá quando, em contraposição aos “efeitos alienantes”, busca-se estudar os efeitos ideológicos
das mensagens”, que envolve a construção de sentidos.
Dados os avanços dos estudos de recepção, a partir do paradigma relacional, o autor
lembra que o novo olhar refere-se aos estudos sociais, e mesmo assim, esforços estão sendo
desenvolvidos para se “desocultizar” o campo da recepção. Parte-se do pressuposto que o 8 Para Thompson (1995, p.44), o meio técnico é o substrato material das formas simbólicas, isto é, o elemento
material com que, ou por meio do qual, a informação ou o conteúdo simbólico são fixados e transmitidos do
produtor para o receptor. 9 Relação do signo com o objeto e do signo com interpretante, de acordo com as teorias peirceanas.
27
campo da recepção tem funcionamentos mais complexos, movidos por lógicas e regras
simbólicas que lhe são inerentes. Nesse contexto, a recepção somente seria entendida por
aproximações inferenciais, como explica Verón (1983).
[...] nenhum efeito de sentido é automático; nenhum efeito de sentido é da ordem de
uma relação linear causa/efeito [...] ao mesmo tempo que se reconhece a existência
dos efeitos, e se considera, igualmente, que este efeito só existe se considerar que
eles estão em relações com as propriedades da mensagem. (VERÓN, 1983, p. 56)
O sujeito na visão desse autor é visto como o que reúne as possibilidades de produzir e
receber discursos. A recepção não pode ser considerada “manobras” realizadas pela produção
que geram “escalas de receptores”, cuja escala e permanência funcionam de acordo com o
conceito desejado de receptor. É algo que ultrapassa os modelos tradicionais de “estímulo-
resposta” da teoria da informação. Baldissera (2008) destaca que os sentidos são construídos e
disputados por sujeitos em relação de comunicação, e nessa circulação de sentidos que se dá
na relação, o valor é definido pelas/nas relações. Considera-se, então, que a recepção não é
passiva, e que no processo comunicativo existem vários fatores complexos que interferirão
nas interpretações dos sujeitos: contexto, experiências, juízos de valor, percepções do mundo,
opiniões, entre outros.
Fausto Neto (2009) amplia essa visão ao lembrar que a linguagem é lugar privilegiado
para a produção dos discursos, e que as interações discursivas passam pela dimensão e esfera
dos “jogos da linguagem”.
Nesse caso, as relações entre sujeitos são, antes de mais nada, relações simbólicas
que se formalizam por meio das marcas, operadores, modalizações que a noção de
receptor pode, e deve também, ao lado da dimensão sociológica, ser construída e
explicada semiologicamente. (NETO, 2009, p. 197).
Portanto, a noção de recepção é construída mediante o jogo de envios e re-envios de
signos situados sociodiscursivamente. As interações se dão quando o sujeito emissor
estabelece relação com aquele sujeito que recebe o discurso, ou seja, o receptor.
Pelo paradigma relacional, como entendem Lima (2008, p. 113) e França (2006), a
comunicação somente pode ser estudada como construção conjunta de interlocutores, a partir
de ato discursivo e determinados contextos.
28
2.3 Organizações: lugar de construção e circulação de sentidos
Ao analisar o contexto das organizações pelos olhares dos paradigmas relacional e da
complexidade é importante reconhecer os impactos de mudanças socioeconômicas e culturais
que afetam as relações e impactam as construções de sentido. Algumas transformações sociais
interferem diretamente nas organizações e em suas relações internas (funcionais) e externas
(fornecedores, acionistas, comunidades, sindicatos, imprensa, consumidores, dentre outras), e
nos modos dos interlocutores desse processo comunicativo agir e se posicionar
sociodiscursivamente. De acordo com Guimarães (2008), atualmente é difícil encontrar
qualquer sistema produtivo não afetado pela globalização e revolução tecnológica.
Segundo ele, a economia circula por imensa malha comunicacional, que Castells
(2000) denomina “sociedade em rede”, possibilitando várias formas de interações e abrindo
portas para novas complexidades. A sociedade em rede gera uma série de incertezas,
aumentando a complexidade no ambiente organizacional e promovendo circulação de
sentidos difusa e fluida, pois se lida todo o tempo com riscos que afetam a reputação das
organizações.
A complexidade no ambiente organizacional acontece em decorrência de outros
inúmeros fatores sociais, externos ou internos à organização, que contribuem para produção,
construção e disputa de sentidos. Fombrun e Riel (2004) apontam as marcas deixadas pela
inovação tecnológica, a globalização, a commoditização dos produtos, a influência midiática,
dentre outros fatores, que levam pessoas e organizações a restabelecerem novas relações e
interações. Como exemplo, citam o ativismo de grupos sociais, que ampliam movimentos não
se restringindo mais às questões nacionais, saturação da publicidade, excesso de informações,
fatores que levam as organizações e seus interlocutores a redefinir papéis e repensar processos
de comunicação.
Bauman (2008) completa o pensamento dando exemplo específico das mudanças
sociais, ao falar sobre as relações de produção e consumo. Segundo ele, as transformações
alteraram comportamentos não somente do consumo dos indivíduos, mas nos modos de
produção das organizações, forçando-as a uma adaptação. Segundo o autor, consequências
dessas transformações são observadas pela mudança nas práticas de compra e venda, além das
expectativas relacionadas à aquisição de algum produto. Conforme Bauman, na sociedade de
29
produtores10
, até as primeiras décadas do século XX, os desejos e aspirações se baseavam na
estabilidade, segurança e prazer (ou conforto) que as situações pareciam proporcionar. A ideia
de que um bem fosse durável, sólido e vislumbrasse a resistência ao tempo era prioritária. A
sociedade de consumidores11
inverteu essa lógica, ao se pautar na concepção da satisfação
imediata dos desejos, porém desejos sempre reavivados, pois sua satisfação nunca é plena; o
novo sempre desperta o desejo pela aquisição de algo mais novo.
Alteraram-se os modos de consumo e os de produção, pois as organizações devem se
ajustar, aperfeiçoando produtos e adequando-os à nova lógica do mercado, cada vez mais
exigente. Hoje, os produtos saem de linha rapidamente. Por exemplo, telefones celulares. Para
atender aos consumidores/clientes, empresas de telefonia lançam diariamente novas marcas
com designers inovadores, tecnologia avançada e conceitos que atraem a compra dos
produtos. Fausto Neto (2008) afirma que quando pensamos em oferta/consumo de bens de
inteligência, como os objetos sociotécnicos, as vendas são estimuladas a partir do argumento
construído sob simbólica oferta de compra e venda.
Isso significa que as mudanças contextuais externas exigem também transformação de
conhecimentos, experiências, sistemas e tecnologias, afetando o contexto interno das
organizações. Modificam as formas de as organizações agirem e se posicionarem perante os
interlocutores, como as maneiras de os interlocutores (funcionários, fornecedores, acionistas,
consumidores, comunidade, dentre outros) se posicionarem e agir em relação ao que é
articulado discursivamente no/pelo contexto organizacional, promovendo a circulação
constante dos sentidos, (re) construídos em todo o tempo.
Em virtude dos vários fatores, as organizações podem aumentar as parcerias com os
interlocutores, como os conflitos, provocando ampliação constante da produção discursiva e
vários pontos de fuga12
. Fausto Neto (2008) explica que a mensagem comunicacional não
obedece a comandos, por causa das complexidades existentes provocadas pelas
transformações da sociedade moderna.
10
A sociedade de produtores, para Bauman, era regida pelo trabalho e para a segurança, em que o desejo humano
era de um ambiente confiável, ordenado, regular, transparente e duradouro, resistente ao tempo (Bauman, 2008). 11
A sociedade de consumidores está fundamentada no encontro dos consumidores com o objeto de consumo,
representado pelas relações entre consumidores e mercadoria. O mundo da sociedade de consumidores é agorista
e dividido pelas coisas escolhidas e as que escolhem. A característica é a transformação dos consumidores em
mercadorias (Bauman, 2008). 12
Refere-se às produções de sentido, ou seja, os sentidos que circulam entre as instâncias de produção e
recepção (NETO, 2008).
30
Como subsistemas dessa sociedade13
, as organizações vivem a complexidade das
incertezas, da ordem e desordem, do equilíbrio e desequilíbrio, procurando (re) criar-se,
(re)inventar-se, assim como o indivíduo e a sociedade. No mundo de ordem e desordem, são
regidas pelas regras do consumismo, temporalidades, urgência, capitalismo, tecnologia e
mídia, modificando os sentidos construídos pelas interações.
Assim, as organizações não podem ser mais vistas pelo prisma do modelo tradicional
de comunicação. Elas são sistemas compostos por indivíduos em interação, “em vez de
entidades ou “contentores” nos quais a comunicação ocorre”. (Pereira, 2005, p.53). Nessas
relações, os sujeitos se posicionarão e se colocarão como enunciadores e interpretantes de um
discurso, construindo, produzindo e disputando sentidos. Isso faz da organização um lugar de
semiose, onde ocorre a circulação de sentidos instáveis marcados pelas transformações
constantes da sociedade e da própria organização.
Sob esse aspecto, o ambiente hierárquico no qual alguns poucos decidem, um grupo
maior planeja e executa e uma comunidade recebe, passa a ser (re)visto e (re)criado para uma
rede de trocas colaborativas e de responsabilidades compartilhadas entre todos os envolvidos.
As organizações como sistemas vivos adaptam-se à nova configuração social, envolta de
vários sentidos. Paralelamente à formação de cada indivíduo que a compõe, assume sentidos
diversificados e fragmentados.
As organizações buscam trocas comunicativas que podem acontecer das condições de
diálogo, negociação e ampliação dos relacionamentos com os interlocutores, conforme
considera Oliveira (2002). Assim, as organizações, ao se perceberem ameaçadas pelas
incertezas e complexidades das interações, passam a investir em novas formas de diálogos em
busca da legitimidade, credibilidade e captação14
dos interlocutores. Como afirma Oliveira
(2002), a organização começa a entender que os discursos mudaram e que o ganho econômico
está relacionado às pessoas. A centralidade hierárquica dá lugar ao diálogo. A
competitividade somente será conquistada se o posicionamento organizacional com seus
interlocutores for mais flexível. Os estudos atuais da comunicação no contexto das
13
Refere-se ao conceito de Lipovetsky (2004) ao falar da nova configuração da sociedade moderna. Segundo o
autor, a sociedade que se apresenta é outra. Hoje, as classes e as culturas se moldam em benefício do princípio
da individualidade, em que surge uma sociedade hipermoderna, fruto da globalização, das leis do mercado e da
eficiência técnica. Essa sociedade, considerada consumista em excesso, é a sociedade do hipercapitalismo e do
hiperindividualismo. Por um lado, os indivíduos estão à procura da satisfação dos desejos e do bem-estar social
numa sociedade presentificada e urgentista, voltada para o “aqui e o agora”. Por outro, as organizações se
moldam para satisfazer esse desejo. 14
As estratégias de legitimidade, credibilidade e captação são utilizadas pela organização para seduzir seus
interlocutores. Os conceitos sobre elas foram apresentados a partir da página 46 dessa dissertação.
31
organizações começam a considerar a organização como parte de estrutura social mais ampla,
dentro de um contexto de relação com outros atores sociais.
A partir da análise de Oliveira e Paula (2003) sobre o modelo relacional, conforme
mostra a representação gráfica, percebe-se que a organização na relação com os seus
interlocutores possui espaço comum que permite a consolidação do processo interativo. Nesse
espaço comum, os papéis clássicos e bem definidos entre o emissor e o receptor se
transformam e suas funções específicas de emitir e receber mensagens são substituídas pela
interlocução, fomentando o diálogo e as negociações, em interações da organização com um
interlocutor ou vários deles. É importante lembrar que embora posicionada como interlocutora
central, a organização não será soberana sobre o processo de interação, “[...] visto que ela se
movimenta à base de demandas e estratégias – produtos de múltiplas negociações objetivas e
subjetivas – provenientes tanto do macro quanto do microambiente da organização”.
(OLIVEIRA; PAULA, 2003, p. 9). O modelo mostra que nesse espaço comum acontece a
circulação dos sentidos pela interação, pois existe a exposição de interesses, expectativas e
demandas diversas, ocasionada pelas trocas entre interlocutores.
Figura 1: Modelo de Interação Comunicacional Dialógica
Fonte: OLIVEIRA; PAULA, 2003, p. 8.
32
Logo, nessa diversidade de sentidos produzidos em “feixes de relações” se constitui a
multinatureza da vida das próprias organizações (Fausto Neto, 2008). Nas relações, nesse
espaço comum, os sujeitos se posicionarão como enunciadores e interpretantes de um
discurso. Por isso, nos instiga saber como as organizações enunciam e se posicionam nos
discursos construídos, iniciando o seu processo de tentar produzir sentido, pois ao mesmo
tempo em que ganham legitimidade a perdem com extrema facilidade, comprometendo a
reputação, ora boa, ora ruim, a depender de como os interlocutores a perceberão.
A perda de legitimidade está associada às mudanças provocadas pelas transformações
internas e externas às quais as organizações estão sujeitas. Parte-se para o entendimento de
que mudaram as formas de interagir e os olhares para se pensar a organização, que não
comportam mais um modelo tradicional/linear/passivo de comunicação. As interações no
contexto organizacional são transformadas pelo contexto (interno e externo) e pelos
indivíduos que se relacionam num mundo marcado por transformações globais. Os sentidos
que se formam da relação discursiva são circulares e ao mesmo tempo plenos de
complexidades.
A luz desse olhar, a comunicação no contexto das organizações surge onde os sentidos
circulam, por meio da construção social dos interlocutores, cada vez mais fluidas, porosas,
virtuais e flexíveis. Pela comunicação, os interlocutores são transformados, produzem,
constroem e disputam sentidos, formando semiose organizacional15
, ou seja, a circulação de
sentidos no contexto das organizações. A semiose é gerada por vários fatores, inclusive a
dimensão simbólica do discurso, realizada pela comunicação como prática organizacional.
Nos e pelos processos comunicacionais, as diferentes culturas e identidades, dentre
outras coisas, flertam, desestabilizam-se, sorvem-se, constroem-se, violentam-se,
resistem uma às outras, transformam-se e, dessa “orgia” de sentidos, geram a
fertilidade e regeneração mútua. Nesses processos, (re)liga-se toda a sorte de
influências e memórias (cultural e biológica). (BALDISSERA, 2008 ).
Para tentar produzir sentidos, a organização utiliza-se da comunicação, nessa
perspectiva construtora e transmissora da linguagem simbólica e, portanto, mediadora da
interação entre sujeitos no ambiente comum. A partir de agora, conceituaremos a dimensão
simbólica da comunicação como parte da semiose, que acontece na/pela comunicação
15
15
Termo elaborado a partir desta pesquisa, que representa a circulação de sentidos no contexto organizacional.
Ver capítulo 2, página 74.
33
organizacional, ou seja, suas práticas. Recuperaremos alguns conceitos históricos sobre a
comunicação organizacional, que ajudam a compreender melhor as interações no contexto das
organizações.
2.3.1 Comunicação, sentidos e linguagem
Segundo Pereira (2005, p.51) e Oliveira (2009), os estudos sobre comunicação no
contexto das organizações iniciaram-se no princípio do século XX, mais propriamente nos
anos 1920, quando surgem as primeiras preocupações com a eficácia da gestão organizacional
associada às práticas comunicacionais. De 1920 a 1950, os interesses da comunicação
empresarial e industrial definem a direção a ser adotada pelos estudiosos; dos anos 1950 até
meados de 1970, os trabalhos são influenciados pela escola de relações humanas. Na primeira
fase, prevalecem os interesses da comunicação empresarial e as estratégias de persuasão a
serviço do alto escalão gerencial, a precisão e a legibilidade dos relatórios, a eficiência dos
diferentes meios de comunicação. Na segunda fase, prevalecem os estudos direcionados às
mensagens que circulam no ambiente organizacional.
As primeiras definições sobre comunicação organizacional se concentravam nos meios
nos quais a comunicação era um processo de enviar e receber mensagens, como consideravam
as teorias tradicionais da comunicação. Com a evolução das teorias, os modelos de emissor-
receptor foram abandonados para a noção de interação ou de criação social da mensagem e do
seu significado. A comunicação organizacional passou a ser definida como o processamento e
interpretação de mensagens, informação, significados e atividade simbólica, dentro das
organizações e entre elas, em processo relacional (PUTMAN apud PEREIRA, 2005, p. 52).
Segundo a autora, conceitos como esses refletem a evolução do entendimento de
comunicação e de organização: a comunicação é dinâmica e interativa, e não estática e linear,
e a organização é o lugar de empiria, no qual se dá o processo interativo entre os
interlocutores. Pinto (2008, p. 81) destaca ser inconcebível pensar a comunicação como
praticada nas organizações, de forma divorciada da ideia geral de comunicação. Segundo ele,
a organização é contexto no qual se dá o fenômeno comunicativo que se manifesta em outros
contextos, tão legítimos e específicos quanto o de uma organização ou empresa. França
(2007) indica reflexões de que a comunicação é mais ampla do que as teorias da informação
faziam acreditar. Adotamos o entendimento de comunicação organizacional proposto por
França (2007), segundo o qual a comunicação deve alcançar o quadro relacional (relação dos
34
interlocutores); a produção de sentidos (práticas discursivas) e a situação sociocultural (o
contexto).
A comunicação organizacional é interativa e dinâmica, mediadora das práticas
profissionais e processo gerador do sentido das interações que a constituem, pois afeta os
interlocutores da organização em suas decisões, e é afetada por eles. As mensagens produzem
sentidos negociados entre participantes ativamente envolvidos no processo de troca, ou seja, o
sentido acaba por surgir da interação que se estabelece em dado momento e determinado
contexto.
Baldissera (2008) descreve que comunicação organizacional é comunicação. Segundo
ele, a comunicação organizacional refere-se aos fluxos multidirecionados, sendo mais do que
a prática tenta explicar:
A comunicação atualiza-se como lugar e fluxo privilegiados para inter-
relacionamento dos diferentes sistemas/subsistemas (social, cultural, humano,
organizacional, ecológico, econômico etc.), e constitui-se em possibilidade para que,
hologramática, dialógica e recursivamente, tais sistemas/subsistemas se perturbem,
(des)organizem/reorganizem, resistam/ se transformem, se reproduzam/inovem e/ou
se expurguem/apropriem (re) signifiquem mediante manifestações de cooperação,
resistência, flerte, aglutinação, sobreposição, expropriação, exploração, associação,
complementaridade e disputa, dentre outras.” (BALDISSERA, 2008, p. 167)
Os fluxos multidirecionados são os sentidos, que circulam no ambiente das
organizações, formando um processo de semiose, como considera as teorias da linguagem e
da semiótica. Dessa forma, a comunicação organizacional é produtora e transmissora dos
sentidos. Para conceituar a afirmação, buscamos em Oliveira e Paula (2008) reflexões sobre
os fluxos comunicacionais, informacionais e relacionais das organizações. Segundo as
autoras, os fluxos são materializados pelas práticas discursivas escritas, verbais ou visuais
produzidas no próprio contexto organizacional e se constituem de formas espontâneas ou
planejadas pela instância de produção. Na forma espontânea, os discursos são ofertados na
medida em que os fatos acontecem; e na planejada são preparados pela comunicação
organizacional. (OLIVEIRA; PAULA, 2008; BALDISSERA, 2008).
Como ressalta Baldissera (2008), na comunicação a organização manifesta a sua
possibilidade de existência, pois pela comunicação a empresa materializa os processos
organizadores, comunica e faz reconhecer sua existência, instituindo-se. Logo, ao perpassar
pela comunicação organizacional, que compreende os processos de construção e disputas de
sentido, a organização sai do individual para o relacional e se torna comunicante, comunicada
35
e (re) conhecida. A comunicação assume o caráter de ser/fazer das organizações
(BALDISSERA, 2008, p.169).
Por isso, a comunicação organizacional não se reduz às práticas. Ela atualiza-se nos
fluxos multidirecionados, que se realizam nas relações entre a organização e os seus
interlocutores (BALDISSERA, 2008), contribuindo para o processo de semiose nas
organizações. Concordando com Iasbeck citado por Scroferneker (2011), “a comunicação
organizacional é um processo de produção, tratamento, recepção e retroalimentação de
informações que acontecem nos ambientes organizacionais [...] trata-se de uma intensa e
imbricada rede de relacionamento que produz, transforma e consome informação”.
Para que ela se dê a conhecer no acontecer e de forma mais ampla, assumirá diversas
qualidades de conteúdos e formas, a partir das condições e contextos de produção, realização
e interlocução. Como conceituam Baldissera (2008) e Oliveira (2003), a comunicação ganha
notoriedade pela função de conhecer, analisar e direcionar os fluxos informacionais para o
objetivo geral da organização, dando sentido estratégico à prática comunicacional. No
entanto, ela é também o lugar dos sujeitos em relação, que (re)tecem o ser organizacional,
muitas vezes independentemente dos objetivos e vontade da própria organização.
Conforme explicam os autores, a organização não pode ser reduzida aos espaços
físicos, equipamentos e recursos financeiros, entre outros fatores, pois é relacional e se
constitui a partir de relações entre pessoas que buscam atingir seus objetivos. A comunicação
organizacional é mais do que a ideia de comunicação interna e externa, marketing
corporativo, relações públicas, propaganda, assessoria de imprensa e comunicação
administrativa.
Noção de comunicação organizacional, particularmente aquela contemplada em/por
planos, programas e/ou projetos, tende a ser simplificada (por razões diversas) para
entender necessidades organizacionais; por outro lado, é equivocado pensar que a
comunicação organizacional passa a ser reduzida a isso, a essas práticas
(BALDISSERA, 2008, p.32).
A comunicação organizacional, além de ser produtora por meio dessas práticas, é
transmissora constante de mensagens, pois se utiliza da linguagem para transferir
pensamentos e sentimentos. Oliveira (2003) considera que uma multiplicidade de fluxos
transita entre mercado, produção e atores sociais, e a comunicação desempenha a função de
processar e distribuir as informações, no contexto interno (produtivo administrativo) e no
ambiente externo, na busca de se estabelecer um processo interativo. Nessa transmissão, os
sentidos circularão, dando entrada aos “pontos de fuga”, ou seja, os ruídos entre o que é
36
passado pela organização e o que é recebido pelos interlocutores, provocando (des)ordem
própria dos fluxos multidirecionados, ou seja, a produção, construção e disputa de sentidos
que o processo de semiose considera.
A partir desse pensamento, entendemos que a comunicação se constituirá pela/na
linguagem. Pelas práticas comunicacionais da comunicação organizacional, a organização
produzirá e transmitirá o seu discurso, construindo significados ao mundo. Pinto (2008)
ressalta que o sentido é construído pela linguagem; ele permeia os processos comunicativos.
A permediatividade16
, como a midiatização, leva em conta a instabilidade e se centra nos
sentidos, não nos significados. “Exercer a linguagem é exercer certo risco” (PINTO, 2008,
p.85).
Considerando a linguagem como dimensão simbólica que permite a produção de
sentidos, partimos para o pressuposto de que no acontecer das interações os sentidos serão
produzidos, construídos e disputados – na/pela linguagem. Segundo a abordagem do
paradigma relacional, como destaca Lima (2008), “a dimensão simbólica da comunicação,
que é a linguagem, está materializada nos discursos entre interlocutores – enunciados e
marcas de enunciação –, que, como vestígios da comunicação, trazem impressas marcas do
contexto em que a interação se dá, características dos interlocutores e da própria relação”
(LIMA, 2008, p.118). Berger e Luckmann (1995) também dão contribuições para essa
abordagem:
A linguagem estabelece pontes entre diferentes zonas dentro da realidade da vida
cotidiana e as integra em uma totalidade dotada de sentido. As transcendências têm
dimensões espaciais, temporais e sociais. Por meio da linguagem posso transcender
o hiato entre minha área de atuação e a do outro, posso sincronizar minha sequência
biográfica temporal com a dele, e posso conversar com ele a respeito de indivíduos e
coletividades com os quais não estamos agora em interação face a face. Como
resultado destas transcendências, a linguagem é capaz de “tornar presente‟ uma
grande variedade de objetos que estão espacial, temporal e socialmente ausentes do
“aqui e agora” (BERGER; LUCKMANN, 1995, p.59 ).
Oliveira e Lima (2009) explicam que a linguagem emerge como materialidade que
torna possível a comunicação, por fomentar os processos de significação dos homens. Por
meio do discurso (ou do uso da linguagem) o homem comunica, elabora suas percepções de
mundo, de si mesmo e do outro, e constrói seus quadros de sentido, ou seja, suas imagens. “A
16
Conceito considerado por Pinto (2008, p.85), derivado das teorias da semiótica, semelhante ao conceito de
midiatização.
37
linguagem não se manifesta apenas de forma discursiva, mas pelo verbal e não verbal”
(OLIVEIRA; LIMA, 2009).
A linguagem será entendida, portanto, como ação que produzirá atos de falas. Como
exemplo, consideremos não só a retórica, mas jornal impresso, rádio, televisão, sites, blogs e
redes sociais da internet como atos de fala. Esses atos produzem um enunciado que possui um
tipo de linguagem, um conjunto de termos, descrições, lugares-comuns e figuras de
linguagem, que demarcam as produções discursivas, tendo como parâmetro determinado
contexto. A linguagem é, por definição, prática social, e a compreensão dos sentidos será
sempre um confronto entre as inúmeras vozes que a permeiam.
Oliveira e Paula (2008) reforçam os conceitos ao abordar a linguagem em ação como
prática discursiva. Segundo as autoras, ela considera momentos de ressignificação e de
rupturas com o discurso institucionalizado. Pinto (2008) igualmente contribui, ao ressaltar que
a linguagem não é o paradigma do acerto, mas o lugar do furo, da ausência e da lacuna.
“Aquilo que constitui meu mundo é algo em si imperfeito, é algo que autopoieticamente tenho
em mim, produzido de acordo comigo mesmo, porque de certa forma estou preparado para
ver o mundo só na medida daquilo que me constitui para começar, isto é, a linguagem”
(PINTO, 2008, p. 88).
2.4 Formas enunciativas da linguagem
Como prática discursiva, a linguagem prevê, conforme destacam Spink e Medrado
(2004), “as maneiras a partir das quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam em
relações sociais cotidianas” (MEDRADO; SPINK, 2004, p. 45). É importante considerar
enunciação, enunciados e vozes para entender a produção de sentido no contexto
organizacional, pois como esclarece Lima (2008, p.118), “as organizações, como sujeitos
sociais, se reconstituem e reconfiguram suas relações: linguagem, práticas discursivas e
produção de sentido, a partir da lógica midiática.” (LIMA, 2008, p. 118).
A partir dessa compreensão, é essencial o entendimento sobre enunciação e enunciado.
Conforme explicam Melo e Brait (2006), os conceitos enunciado/enunciação estão longe de
promover um consenso, pois apresentam polissemia de definições e empregos. Nos estudos de
linguagem há profundas diferenças entre os termos enunciação e enunciado. Alguns linguistas
esperam contribuir para a explicação desses fatos de linguagem observando a vida cotidiana,
que consideramos nesta análise.
38
Seguindo a perspectiva da construção social, temos em Maingueneau (2000) conceitos
que remetem à enunciação a partir da relação entre sujeito e comunidade discursiva. A
enunciação é o ato de linguagem em si; é acontecimento único, definido no tempo e no
espaço, por meio do qual o enunciado aparece. Charaudeau (2001) amplia o conceito ao
ressaltar que a enunciação é o processo que produz e deixa marcas de subjetividade,
intersubjetividade, alteridade, que caracterizam a “linguagem em uso”. Na enunciação os
sentidos se manifestam, na relação das instâncias de produção e da recepção, sendo, portanto,
ação discursiva.
O conceito de Bakhtin de dialogia e interação entre sujeitos, em que no ato discursivo
está presente a polifonia, ou seja, as muitas vozes, leva-nos a extrair o princípio que faz da
enunciação esse processo social. Como destacam Mendes e Mari (2007), por social entende-
se a divisão do trabalho que implica que os fatos discursivos sejam partilhados entre um eu e
um outro. Essa interação mútua entre os agentes do ato enunciativo tem possibilitado
interpretação diferenciada dos fatos de sentido. Portanto, as formas de sentidos na linguagem
produzem marca de uma coconstrução, característica dos sujeitos envolvidos no processo
enunciativo. “A enunciação arrasta os indivíduos para dentro da linguagem, tornando-os
sujeitos de práticas que permitem erigir padrões de racionalidade muitas vezes circunscritos
às contingências de uma fala local” (MENDES; MARI, 2007, p. 153).
Tomada como enunciadora, como explica Verón (1995), a organização terá os seus
modos de falar e se posicionar perante os sujeitos (interlocutores) que fazem parte de seu
relacionamento. Isso acontecerá por meio das formas de enunciação desse discurso. Quando a
organização se torna produtora, mediada pela comunicação como prática, tentará produzir os
sentidos, apresentando para os interlocutores suas formas (simbólica, visual, escrita,
discursiva, dentre outras) para se fazer conhecer. Ela o fará a partir da enunciação do discurso.
Verón (1980) amplia a questão conceituando que a enunciação não deve ser separada
de seu par, o enunciado, que é da ordem daquilo que é dito, o que de certa forma se aproxima
do conteúdo. A enunciação, por sua vez, refere-se não ao que é dito, mas ao dizer e suas
modalidades, ou seja, aos modos de dizer. Na enunciação a organização tentará produzir
sentidos e terá a forma de se apresentar para seus interlocutores, mediada pela comunicação
organizacional. Conforme Putnam, Phillips e Chapman (2004), pela enunciação da mensagem
simbólica ou discursiva, as organizações podem criar, dar manutenção e transformar os
sentidos.
39
Partindo dessas concepções, pressupomos que a enunciação seja o ponto de partida
para produzir sentido, em que os repertórios estarão carregados de intencionalidades.
Nas organizações, por meio do discurso institucionalizado, as marcas da enunciação
farão parte da construção dos sentidos. No entanto, não apenas o posicionamento discursivo
da organização fará parte do jogo interativo. Os sujeitos com quem ela se posiciona também
farão parte da enunciação e ressignificarão de acordo com suas interpretações, que carregarão
marcas da construção social.
Olhando a linguagem como construção social, entende-se que a enunciação está
diretamente ligada ao enunciado e à interação, pois, conforme Melo e Brait (2006, p. 68), a
pessoa nasce, vive, morre no processo da razão social que acontece entre os participantes da
enunciação. Partiremos das concepções que abordam a enunciação como práticas discursivas
(ressignificações e rupturas de produção de sentido), que é a linguagem em ação, isto é, as
maneiras a partir das quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam em relações sociais
cotidianas.
Nas práticas discursivas, os enunciados são orientados por dinâmica, formas e
conteúdos, conforme consideram Spink e Medrado (2004). Segundo os autores, a dinâmica
compreende as muitas vozes; as formas, o discurso e a linguagem social; e os conteúdos, os
repertórios interpretativos. No sentido bakhtiniano, as enunciações são noções que acontecem
em situação, contexto e história. Assim, a linguagem deve ser estudada em dimensão maior do
que o sistema da língua, pois o sentido do texto e a significação das palavras dependem da
relação entre sujeitos, ou seja, constroem-se na produção e na interpretação. A relação entre
os interlocutores não apenas funda a linguagem e dá sentido ao texto, mas constrói os próprios
sujeitos produtores do texto. Como forma de enunciado está o tipo de linguagem que
determinada pessoa enuncia, que pode ser a linguagem verbal ou não verbal, pois os
enunciados são unidades reais de comunicação, sendo alternância dos sujeitos falantes
(MEDRADO; SPINK, 2004; MELO, BRAIT, 2006; FIORIN, 2003; BARROS, 1997).
Como os conceitos de enunciação/enunciados e vozes caminham juntos, o enunciado é
o ponto de partida para a compreensão da dialogia17
. Nele se inicia o processo de interação.
Ao produzir um enunciado, o falante utiliza um sistema de linguagem e de enunciações
preexistentes, posicionando-se em relação a ele. Para falar, o enunciador sempre leva em
conta a alteridade. Dependendo das informações do outro, o produtor do discurso vai elaborar
o gênero de seu discurso conforme suas pretensões, selecionando palavras, oposições e
17
No pensamento dialógico habitam falantes e ouvintes que se interanimam mutuamente e orientam a produção
de sentidos e enunciados (MEDRADO; SPINK, 2004).
40
confrontos de poder, dentre outros. O falante começa a produzir significado e o sentido
decorre do uso que este faz dos repertórios interpretativos das quais ele dispõe. Por meio dos
repertórios interpretativos pode-se entender a dinâmica e a variabilidade interpretativa das
produções linguísticas. Os repertórios interpretativos são o sentido, isto é, as unidades de
construção das práticas discursivas (MEDRADO; SPINK, 2004).
Eles serão representados de várias formas, pois na semiose18
um mesmo objeto pode
ser interpretado de várias maneiras. O sentido oscila. Como eles são primordiais para a
conceituação do objeto proposto, abrimos parênteses para ressaltar que a linguagem é
carregada de significações, pois a interação é construção social, que, mediada pela linguagem,
carrega sentidos, como veremos a partir de uma exemplificação da visão teórica de Patrick
Charaudeau.
2.4.1 Lugar dos sujeitos: produção e recepção
Considerando as abordagens de Charaudeau (2007), entendemos que a linguagem em
uso engloba processos de produção e de interpretação e que podem ser realizados numa
situação de comunicação, que é entendida pelo autor como um quadro de referência19
, no qual
os comportamentos dos indivíduos de determinada comunidade social são definidos quando
iniciam interação.
A situação de comunicação é como um palco, com suas restrições de espaço, de
tempo, de relações, de palavras, no qual se encenam as trocas sociais e que constitui
o seu valor simbólico. Como se estabelecem tais restrições? Por um jogo de
regulação das práticas sociais, instauradas pelos indivíduos que tentam viver em
comunidade e pelos discursos de representação, produzidos para justificar essas
mesmas práticas a fim de valorizá-las. Assim se constroem as convenções e as
normas de comportamentos linguageiros, sem as quais não seria possível a
comunicação humana (CHARAUDEAU, 2007, p. 67).
Para Charaudeau (2010), a circulação dos sentidos acontece nessa situação de
comunicação, lugar em que estão configurados o espaço interno (mundo das palavras) e
espaço externo (mundo social), no qual se apresentam as instâncias de produção e de
recepção. Além de ser considerada como um palco, a situação de comunicação é um lugar que
depende de contexto específico, e que nas relações de trocas está presente a história de cada
18
Relação do signo com o objeto e do signo com o interpretante, numa geração infinita. Assunto retratado no
capítulo 2 desta dissertação. Ver a partir da página 64. 19
Quadro de representação do dispositivo de encenação da linguagem, conforme Patrick Charaudeau.
41
sujeito, manifestas pelas trocas discursivas. Nessa situação de comunicação, como diz França
(2006), os sujeitos falam um com o outro produzidos pelos laços de linguagem que os unem.
Os sujeitos também se posicionam como produtores e/ou receptores, mediados pela
linguagem verbal ou não verbal. Nessa relação, os protagonistas do discurso entram em cena,
diante de um contexto discursivo que possui múltiplas formas. A situação de comunicação
determinará o espaço da troca de linguagem e das condições de produção. E fundamentará a
legitimidade dos sujeitos falantes, por meio de um contrato20
de comunicação, e ainda dará
instruções discursivas para se interpretar o ato de fala. Na situação de comunicação, os dois
mundos (social e das palavras) se relacionam e marcam posições. No mundo social, o mundo
o qual vivemos, encontramos cada sujeito e a sua história, composta por suas vivências, trocas
e temporalidades. Neste mundo, os sujeitos se comunicam, trocam experiências, recebem
informações e se interagem, como explica França (2006, p.78) numa ação recíproca, dotada
de linguagem e de inteligência reflexiva, em um processo móvel baseado em escolhas e
ajustamentos.
No mundo das palavras, espaço interno, que é o espaço no qual se produz o discurso,
os sujeitos se tornarão sujeitos em comunicação, pois produzirão gestos significantes para
afetar o outro, sendo ainda antecipadamente afetado pela provável e futura afetação desse
outro (CHARAUDEAU, 2001; FRANÇA, 2006).
Nos dois mundos (social e das palavras), em que os sujeitos se relacionam,
encontramos a polifonia (as várias vozes) de Bakhtin. “A polifonia se define pela convivência
e pela interação” (BEZERRA, 2005, p. 195). Na situação de comunicação, o discurso será
relacionado a um conjunto de saberes partilhados, construído pelos indivíduos, pertencentes a
um grupo social, e aos processos midiáticos, como considera a perspectiva bakhtiniana21
.
Como o sujeito do discurso é polifônico e carrega vários tipos de saberes, uns
conscientes, outros não conscientes, outros ainda inconscientes, podemos considerar o direito
à fala, ou à linguagem, em quatro princípios, como entende o autor: alteridade (quem eu sou
para me dirigir a quem?); pertinência (enunciados apropriados para o contexto e finalidade);
20
Na visão de Charaudeau, a noção de contrato pressupõe que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de
práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a um acordo sobre as representações linguageiras das práticas
sociais (CHARAUDEAU, 2010, p.56).
21 O dialogismo, em que os enunciados formam sentidos sociais, construídos por duas ou mais vozes, que
compreendem diálogos, negociações, discursos existentes previamente ao enunciado e com os quais ele se
constrói.
42
influência (pergunta-se como se fala) e regulação (obriga o sujeito que fala a se colocar na
questão, perguntando-se como proceder para dar continuidade à troca).
Encontramos em Pêcheux (1997) explicações sobre o lugar dos sujeitos em situação de
comunicação. Segundo ele, as posições seriam determinadas pela estrutura da formação
social, os quais a sociologia descreve com uma série de traços objetivos e característicos. Por
exemplo, um diretor de fábrica, um funcionário ou operário teriam situações diferenciadas no
ato discursivo pelas características de cada um e posicionamentos diferenciados que possuem.
O diretor teria um tipo de experiência, o funcionário outro e o operário outro. Cada um teria
uma maneira diferenciada de se colocar no mundo e se posicionar num ato discursivo, por
causa dos saberes compartilhados e recebidos ao longo da sua construção de mundo.
Os processos discursivos, por parte da instância de produção, supõem a antecipação
das representações da instância de recepção e obrigam os sujeitos produtores do discurso a se
colocarem diante dos princípios citados por Charaudeau (2001): alteridade, pertinência,
influência e regulação. Isso porque o enunciador tem imagens preconcebidas a quem vai se
dirigir. O enunciador, produtor do discurso, se preocupa em saber para quem enuncia o
discurso. Numa troca entre interlocutores, ninguém fica sozinho quando fala, pois sempre terá
o outro em mente, conforme o princípio de alteridade. Para se posicionar, o enunciador leva
em conta o outro e se coloca no lugar do outro. Segundo Maingueneau (2010), a posição de
enunciador é o ponto de origem das coordenadas enunciativas, o marco da referência, e
também da modalização dos textos.
Para França (2002), não são os discursos prontos que nos revelarão as tramas
identitárias de cada sujeito, mas o espaço das relações, das interações entre discursos e
posicionamentos dos sujeitos. Na produção discursiva existe um jogo de posições no qual os
enunciadores marcam valores num determinado contexto, segundo o princípio de pertinência
(enunciado apropriado para determinado contexto).
Charaudeau (2006) considera que o discurso está sempre voltado para outro fato além
das regras do uso da língua. Partindo do princípio da alteridade (quem sou para me dirigir a
quem) nas posições de sujeitos relacionam-se as identidades (daquele que fala e daquele a
quem o discurso se dirige); a partir do sujeito produtor de discurso, estão relacionadas às
combinações das circunstâncias em que se fala ou escreve, ou seja, além da relação de
intencionalidade que os liga e as condições físicas das trocas. A identidade caracteriza-se
sobre quem é o indivíduo que fala? Qual é a sua história? E a sua história está baseada na
construção de mundo e em suas relações com o mundo.
43
Considerando o que Hall, Silva e Woodward (2000) conceituam, a identidade de cada
sujeito é construída no e pelo discurso. Observamos nos estilos identitários da produção
discursiva vários aspectos linguísticos, como entonação, pronúncia, estratégias de persuasão,
por meio das metáforas, e ainda a inter-relação entre linguagem, linguagem corporal e estilos
de se apresentar. Cada indivíduo desenvolverá o seu estilo, pelo qual sua identidade será
expressa. Menezes (2004) e Charaudeau (2006) destacam que a sociedade é atravessada por
um mercado de símbolos que oferecem aos sujeitos inúmeras possibilidades de pertenças e
identificações, que constituirão a identidade dos sujeitos em interação. As organizações
empresariais e os espaços políticos, por exemplo, são considerados lugares de relações
dinâmicas entre imagens de si e as de outrem. Nesse espaço, são formadas imagens
diferenciadas de acordo com os posicionamentos de cada indivíduo, ou seja, com a identidade
construída e repassada por meio do discurso.
Segundo Lessa (2007), o jogo de projeção de imagens estrutura-se por uma lógica
afetiva interna/externa: a primeira refere-se aos sistemas de ligações, medos, ansiedades,
sonhos comuns, que se reproduzem incessantemente no seio de um grupo, formando seu
regime de sentimentos dominantes; constitui-se pela partilha de valores; o segundo, evidencia
os sistemas de oposições entre os grupos. As posições de sujeito incluem posições
burocráticas, formais e hierárquicas, e categorias de identidade socialmente construídas e
legitimadas. Certas posições podem garantir a voz do sujeito em determinado contexto. Este
terá o direito de agir, falar e produzir textos que poderão gerar outros textos (ALMEIDA,
2011; LESSA, 2007).
2.5 Organização como produtora de sentidos
Partimos da ideia de que o sujeito produtor de discursos, nas teorias da linguagem e da
semiótica, é reconhecido por conceituações diversas: narrador, enunciador, locutor. É aquele
que constrói a narrativa, que recolhe e costura elementos diversos, orientando a produção de
sentidos; produz o enunciado, o texto; é a voz do discurso, aquele que fala dentro do
enunciado. “É visto como agente, ser de intencionalidade” (FRANÇA, 2006, p. 66).
Como enunciadora, a organização elabora as suas falas por meio de um contrato22
, que
pode ser o midiático, para se fazer conhecer, e define estratégias com o objetivo de se projetar
como gostaria de ser percebida. Essas estratégias são elaboradas pelas práticas comunicativas
22
Contrato de comunicação proposto por Charaudeau (2010, p.77).
44
que contam com atividades de assessoria de imprensa, de marketing, publicidade, promoções,
relações públicas, e utilizam meios de comunicação de massa, internet, redes sociais,
relatórios de atividade e várias outras formas discursivas.
Em suas estratégias discursivas, as organizações se propõem a legitimar
posicionamentos, solucionar conflitos; definir relações; acentuar a identificação
organizacional e os compromissos interpessoais; reduzir a incerteza; construir sentido; servir
como argumentos e apelos persuasivos; agir como mecanismos implícitos de tentar promover
o controle cultural; além de serem quadros de referência para interpretar as ações
organizacionais, conforme esclarecem Putmam, Philips e Chapman (2004, p. 95) sobre as
formas narrativas das mensagens produzidas pelas organizações.
Na concepção que adotamos nesta análise, pela enunciação dos diversos conteúdos e
formas que a linguagem pode assumir, as organizações produzem sentidos quando elaboram o
discurso. No entanto, no momento em que projetam esses discursos, os repassam como
significados, tentando produzir os sentidos, algo que será construído pela interpretação
daquele a quem a mensagem se dirige. Sobre sentido e significado, ampliaremos o conceito
no segundo capítulo desta pesquisa.
Portanto, para tentar produzir sentidos pelas práticas comunicacionais, a organização
utiliza-se de várias estratégias discursivas, que consistem numa tentativa de legitimação e
credibilidade de suas falas e captação dos seus interlocutores, de acordo com a visão teórica
de Charaudeau (2006), como veremos a seguir.
2.5.1 Contratos e estratégias
Ampliando os conceitos de semiose que consideramos nesta dissertação por meio das
teorias da linguagem, para haver uma circulação de sentidos dentro das organizações, as
instâncias de produção e recepção se posicionarão no ato discursivo, pois a instância de
produção produzirá significados e a instância de recepção será produtora de sentidos.
Como enunciadora do discurso, a organização instituirá seus atos de fala por meio de
um acordo, que pode ser o contrato de comunicação que se fará, utilizando-se de várias
estratégias para captar o receptor. Charadeau (2010) esclarece que o ato de linguagem, do
ponto de vista da produção, pode ser considerado como expedição ou aventura. Segundo ele,
o exemplo é considerado pelo seu aspecto intencional de organizar estratégias: para ser bem-
sucedida no ato de linguagem, a instância de produção fará uso dos contratos e das formas de
45
captação do interlocutor. Para Charaudeau (2010), a noção de contrato envolve um acordo que
se constitui no ato de linguagem:
A noção de contrato pressupõe que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de
práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a um acordo sobre as representações
linguageiras dessas práticas sociais. Em decorrência disso, o sujeito comunicante
sempre pode supor que o outro possui uma competência linguageira de
reconhecimento análoga à sua (CHARAUDEAU, 2010, p. 56).
O acordo do ato de linguagem pode ser estabelecido de várias formas. No contexto das
organizações, pela comunicação organizacional, que construirá as estratégias que vão
“conceber, organizar e encenar as intenções” (CHARAUDEAU, 2010, p. 56) desta instância
de produção, de forma a produzir determinados efeitos de persuasão ou sedução sobre os
interlocutores - o interpretante – para levá-los a se identificar com o discurso
institucionalizado – de modo consciente ou não (CHARAUDEAU, 2010).
O autor lembra que os contratos, ao serem firmados, podem ser estabelecidos como
reconhecimento, e também por meio de outros procedimentos, “como a fabricação de uma
imagem real, que representa um lugar de verdade, como força de lei, e uma imagem de ficção,
como lugar de identificação do sujeito com o outro. Este lugar seria uma imagem de projeção
do imaginário desse sujeito” (CHARAUDEAU, 2010, p. 57).
No contrato, como em outro qualquer, existem regras que variam de acordo com a
situação na qual se inscreve o ato de linguagem. Para Charaudeau (2009), contratos
pressupõem que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de práticas sociais estejam
suscetíveis de chegar a um acordo sobre as representações linguageiras23
dessas práticas
sociais. O contrato que se estabelece entre a organização e seus interlocutores, que pode ser o
contrato de comunicação, torna legítima a construção de sentidos durante a interação. É o que
rege as expectativas mútuas dos sujeitos do ato de linguagem. Todo discurso ocorre no
interior de uma situação de comunicação que se compõe de certo número de dados fixos. Tais
dados constituem limitações discursivas que devem ser reconhecidas pelos sujeitos. Assim, o
contrato de comunicação é constituído pelo conjunto de restrições socioinstitucionais que
codificam as práticas linguageiras, ou das línguas naturais, definidas por quatro
características:
a) A finalidade das trocas (falar para atingir qual objetivo?)
23
Linguageiras para Charaudeau (2007) significa línguas naturais
46
b) A identidade dos parceiros (quem se endereça a quem?)
c) O propósito (falar do quê?)
d) O dispositivo (falar em qual contexto?)
Fazendo referência a Certeau (1996), lembramos que a linguagem é constituída
permanentemente por meio de operações, movimentos, negociações e jogos, pois incorpora
necessariamente o outro (destinatário/enunciatário/receptor/interlocutor) no plano da
produção enunciativa. Concordando com Certau (1996), Charaudeau (2010) explica que a
comunicação pode ser representada, como os jogos de linguagem, no interior do qual cada um
dos parceiros, em função das regras de contrato, tem ainda a liberdade de fazer cálculos e de
localizar uma estratégia. O cálculo seria definido como a possibilidade de fazer hipóteses
sobre a identidade e a competência do outro; já a estratégia consiste em operacionalizar os
meios de persuadir ou seduzir o outro.
A partir desse olhar, no qual as relações se concentram num lugar de tensionamento,
as estratégias de enunciação da produção tentarão produzir sentidos, que levarão ao processo
de semiose organizacional, isto é, a circulação dos sentidos no contexto das organizações.
2.5.2 As estratégias enunciativas do discurso organizacional
Pelos seus modos de dizer para se fazer conhecida e percebida, a organização pode
utilizar várias estratégias. Sobre estratégias, temos em Charaudeau (2010) o conceito:
A noção de estratégia repousa na hipótese de que o sujeito comunicante (Euc)
concebe, organiza e encena suas intenções de forma a produzir determinados efeitos
– de persuasão ou de sedução – sobre o sujeito interpretante (Tui), para levá-lo a se
identificar – de modo consciente ou não – com o sujeito destinatário (Tud),
construído por sujeito comunicante (Euc). (CHARAUDEAU, 2001, p. 56)
As estratégias discursivas são construídas de acordo com as circunstâncias a que o
discurso se propõe. No caso das organizações, seriam os discursos verbais ou não verbais,
produzidos na tentativa de gerar nos interlocutores imagens positivas sobre quem é a
organização. Segundo Charaudeau (2010), as estratégias discursivas são várias; no entanto,
nesta dissertação consideramos três planos que autor define: legitimidade, credibilidade e
captação.
47
Conforme explica Charaudeau (2010), a finalidade do contrato de comunicação
midiática se acha numa tensão entre duas lógicas de informar24
, que correspondem, cada uma
delas, a uma lógica particular. A primeira lógica se refere ao saber fazer, ou como informar,
que inclui os planos de legitimidade e credibilidade. A segunda é a de fazer sentir, que inclui a
captação, isto é, emoção, sedução e persuasão.
Na lógica de informar, a legitimidade dá o poder de dizer. Assim, não pode ser objeto
de avaliação ou de gradação. A legitimidade é mecanismo de reconhecimento de um sujeito
com outros sujeitos, atribuído em nome de um valor, reconhecido e compartilhado por todos.
Por exemplo, as normas institucionais, que distribuem papéis e reconhecimento aos sujeitos.
A legitimidade também pode ser de fato, ou seja, quando um grupo de funcionários reconhece
o seu líder e lhe legitima para falar. É resultado da constatação de adequação entre um ato de
fala, uma situação e a posição social do seu autor. Já a credibilidade representa capacidade de
capitalizar uma autoridade de fato por mostrar saber fazer. Ela é necessária quando a
legitimidade não é suficiente para assegurar o direito à fala. Para ser ouvido, o indivíduo deve
ser julgado apto para saber dizer a verdade. A captação é a atitude que consiste em tocar o
afeto do sujeito, em provocar nele certo estado emocional favorável à influência de quem fala.
Nessa estratégia, a tendência é emocionar o interlocutor e seduzi-lo (CHARAUDEAU, 1995).
A partir das estratégias de legitimidade, credibilidade e captação, conforme modelo,
abordaremos o discurso organizacional e como ele se projeta para os interlocutores por meio
da comunicação organizacional.
24
Noção de informar refere-se às visadas (que são lógicas particulares) consideradas pelo autor Patrick
Charaudeau (2006).
48
Figura 2: Estratégias enunciativas
Fonte: Charaudeau (2010)
2.5.2.1 Legitimidade
Para Verón (1980, p. 77), “[...] um discurso é sempre uma mensagem situada,
produzida por alguém e endereçada a alguém”. Esse alguém pode ser uma organização que
produz uma mensagem e a direciona para seus interlocutores. O que para a semiótica é o
argumento. A mensagem é elaborada pela comunicação organizacional, por meio dos
dispositivos (jornais, revistas, eventos, publicidade, mídia, dentre outros) que ela própria
constrói, ou não (que pode ser pelas mídias de massa). Os significados vão sendo construídos
para que um determinado sujeito deles se aproprie. Isso faz parte da tentativa de produzir
sentido a partir da legitimação com os interlocutores que se relacionam com a organização.
Vizeu (2001) destaca que a comunicação nos dias atuais é um processo que passa a ter
maior relevância, especialmente dentro das organizações, a partir da ampliação dos canais de
interação entre a organização e seus interlocutores. Para ele, esse fluxo de conhecimento é
necessário à sobrevivência das organizações e se viabiliza na medida em que se constitui
coletivamente a identidade organizacional. Partindo da concepção de que a legitimidade dá o
poder dizer. Para se fazer conhecer, ou seja, ser vista, as organizações utilizam a estratégia de
legitimidade para elaborar os discursos oficiais, no intuito de alcançar maior estima,
confiança, simpatia e admiração de seus interlocutores. Como enunciadora, conforme
apontam os estudos abordados, a organização se configura para os receptores a partir de uma
voz, de um discurso institucionalizado. Dessa forma, a legitimidade resulta da constatação de
uma adequação entre um ato de fala, situação, e a posição social de quem fala
(CHARAUDEAU, 2001).
Considerando que a permanência das organizações depende da legitimação de suas
ações perante a sociedade, resgatamos o conceito de legitimação como processo pelo qual as
organizações explicam e justificam os seus atos. Barichello e Carvalho (2011) confirmam este
conceito: “A legitimação é um processo constante de justificação e explicação de uma ordem
institucional. É para buscar ou manter reconhecimento da sociedade que a instituição precisa
de mecanismos de legitimação” (BARICHELLO; CARVALHO, 2011, p. 9). Para as autoras,
“a legitimação renova um campo já institucionalizado, garantindo a permanência e mantendo
coeso um universo de significação”. O processo depende cada vez mais da mediação dos
49
meios de comunicação, que atuam como instância que torna as ações visíveis e, portanto,
aptas a disputar a sua legitimidade.
A legitimidade é critério fundamental de uma organização que se reconhece pelo
poder de ocupar o lugar de sujeito da enunciação, como um sujeito de um dizer ou fazer,
remetendo à capacidade de passar algo como legítimo para a sociedade. A intermediação
midiática pode ser estratégia para fortalecimento e reconhecimento das organizações, pois na
atualidade, a visibilidade depende da capacidade de informar e comunicar os atos.
A mídia constitui-se no local de visibilidade da sociedade e, portanto, no local da cena
da legitimação, considerando que não só é essencial legitimar os atos da organização, mas
torná-los legítimos por intermédio dos suportes de visibilidade (OLIVEIRA; BARICHELLO,
2004; SHEID; BARICHELLO, 2004; BARICHELLO, 2004).
Antes da existência da mídia, conforme destacam as autoras, a visibilidade de um ator
ou instituição se dava no local dos acontecimentos, não ultrapassando certo limite geográfico.
O desenvolvimento dos meios de comunicação proporcionou outro tipo de visibilidade, que
abre novos espaços para a representação dos indivíduos e das organizações perante a
sociedade. Por meio dessas representações, os sujeitos constroem uma imagem de
determinado objeto. A construção de discursos organizacionais perpassa a mídia, uma das
ferramentas que a organização utiliza para se fazer visível e se legitimar. Sabe-se que quanto
mais as empresas conseguem ter seus discursos publicados na imprensa positivamente,
realizar campanhas e anúncios, interagir nas redes sociais, melhor será sua capacidade de
estabelecer relações com os diversos interlocutores, o que pode impactar positivamente sua
reputação. Sheid e Barichello (2004, p. 73) ressaltam que a construção da identidade
organizacional está baseada na prática de dar significado às formas de representação, como o
discurso. Esses significados investidos tornam possível a uma organização ser identificada ou
reconhecida.
As autoras ressaltam que o desenvolvimento da mídia originou novas formas de
publicidade mediada, que assume papel fundamental no mundo moderno. A partir daí, os
eventos não precisam mais ser presenciados pelos indivíduos para se tornarem públicos, pois
os símbolos passaram a ser produzidos e recebidos por uma pluralidade de indivíduos não
presentes. As representações simbólicas passaram a ampliar a construção e disputa de
sentidos. A mídia como local de visibilidade, de legitimação, na sociedade atual, passou a ser
mediadora desses diálogos, espaço de representação e justificação, e cada vez mais da
interação comunicacional e da disputa de sentidos (SHEID; BARICHELLO, 2004, p. 74).
50
Isso acontece por meio dos avanços tecnológicos, associados a novas formas de
interação midiática, como a web 2.0.
Como consideram Oliveira e Lima (2009) e Barichello (2004), a principal esfera de
mediação social é a mídia, por meio da qual todos os campos interagem e competem por
visibilidade, na busca por legitimação. Pela finalidade de informar, ou seja, de saber dizer, as
organizações passaram a utilizar os suportes tecnológicos (rádio, jornal, televisão, internet,
mídias sociais, como blogs, twitters, facebook, dentre outros), sendo gerenciados por elas
mesmas, ou não, para divulgar os próprios conteúdos, como forma de legitimar sua atuação,
aprimorando possibilidades de interação, e repassando-os aos interlocutores de seu interesse.
A nova cena da comunicação organizacional se dá na mídia, na qual a comunicação serve
para promover visibilidade e tentar legitimar discursos, comportamentos e ações para serem
transformados em imagens positivas e futuramente numa reputação que contribua com os
interesses organizacionais.
Considerando a perspectiva de que as organizações acompanham o processo evolutivo
da sociedade, percebemos que as práticas de comunicação organizacional estão se
transformando e caminham cada vez mais além da perspectiva de anunciantes nos meios de
comunicação de massa e/ou de criadores de mídias organizacionais, como explicam as
autoras. O discurso institucionalizado tenta se legitimar perante a sociedade transmitindo o
que a empresa é; o que ela pensa; como ela se comporta e o que deseja como organização. Ao
se tornarem produtoras, elas podem repassar o discurso como ato de fala verídico ou uma
“falsa verdade”.
Essa é uma das razões de as organizações explorarem intensamente a comunicação.
Segundo Oliveira e Paula (2010), a expansão dos espaços e canais de comunicação visa à
construção de significado, forma de legitimar a ação das organizações perante seus membros
e em relação à sociedade. No entanto, considerando que os sentidos são inconstantes, os
argumentos da organização para a legitimação do discurso podem não ser suficientes para
validar as informações. Isso acontece quando não representam critérios de validade normativa
para interlocutores envolvidos no processo de interação organizacional, ou seja, o discurso
organizacional se torna diferente do que a organização é ou representa. As informações sobre
quem é a empresa, suas metas e valores diferenciam da forma que a empresa realmente se
apresenta para os seus interlocutores. Num processo de semiose isso acontece todo o tempo,
pois a circulação de sentidos poderá interferir no processo de legitimação.
51
Habermas citado por Oliveira e Paula (2010) explica como sendo distorção
sistematicamente distorcida, que aconteceria no processo de comunicação organizacional.
Na perspectiva que consideramos nessa análise, num lugar de semiose, organizações
que pensam e agem pela lógica do convencimento podem perder a legitimação de sua fala,
pois o discurso será um e distintas as atitudes. Nesse caso, na perspectiva de Charaudeau
(2001) o discurso não será legítimo. Para ele, o fato não é reconhecido, pois para haver a
legitimidade social, existe um mecanismo de reconhecimento de um sujeito falante para outro
sujeito, em que é atribuído um valor reconhecido e compartilhado. Para o autor, atribuir é
reconhecer, e reconhecer é atribuir. Assim, a legitimidade pode ser invalidada quando não é
percebida pelo outro, principalmente quando a fala é frágil e necessita ser endossada
(CHARAUDEAU, 2001).
Quando o discurso da organização é distorcido do que ela é ou representa, não existe
reconhecimento legítimo da fala, e a estratégia de legitimação midiática adquire outra forma
de representação. Porém, quando a fala não é totalmente legítima, necessita-se buscar em
outras estratégias critérios de validade.
2.5.2.2 Credibilidade
Partimos da compreensão de que os discursos organizacionais comunicados pela
midiatização organizacional, ou expressos nos veículos de comunicação de massa da esfera
midiática, legitimam ou não o discurso. Como a organização articula vários discursos, que
operam em diversas frentes, objetivando apoio dos interlocutores aos seus intentos, os
discursos podem ou não ser compreendidos pelos interlocutores, e aceitos ou não. A forma
como eles são apresentados podem ou não ser legítimas.
[...] ao fabricar para si uma certa imagem de Eue (da instância projetada), pode
reativar seu estatuto de EUc (sujeito comunicante), ocultá-lo, deixá-lo apenas
transparecer, torná-lo ambíguo, ampliá-lo (blefar) etc., de acordo com o grau de
credibilidade que pensa ter junto ao sujeito interpretante. Trata-se do fenômeno da
legitimação de fala [...]. (CHARAUDEAU, 2001, p. 58).
Partindo desse contexto, o discurso pode ter várias interpretações possíveis, como
veremos pela estratégia de captação, que podem não ser legítimas aos olhos de quem o recebe.
Pruzan (2001) diz que a mídia externa vigia atentamente o comportamento das organizações e
destaca fortemente suspeitas de atos indevidos por parte das mesmas. Os discursos que se
apresentam legítimos, ao entrarem em contato com uma divulgação midiática contrária,
52
podem não conquistar a credibilidade do sujeito que receberá a mensagem. A partir do
exemplo de Pruzan (2001), no qual se evidencia que hoje os noticiários da televisão e a
internet estão sempre prontos a difamar líderes empresariais acusados de comportamentos que
não condizem com o discurso organizacional, pressupomos que isso interfere na construção
de sentidos dos interlocutores, mudando as imagens que se têm da organização. Mas pode
acontecer o contrário. Pelas divulgações favoráveis da mídia, organizações com a reputação
abalada passam a ser percebidas de forma positiva, reconquistando a imagem desejada.
Fatores semelhantes interfeririam na credibilidade do discurso normativo, pois partimos do
entendimento que os sujeitos produzem sentidos por meio de suas construções sociais de
mundo.
Conforme esclarece Charaudeau (1993, p. 55), a credibilidade representa a capacidade
de capitalizar uma autoridade de fato pelo saber-fazer, a competência; logo ela é fundadora do
direito à fala. Como exemplo, uma organização pode ter legitimidade e não ter credibilidade,
ou seja, tem o poder de dizer, mas ao enunciar diz algo contrário à sua identidade, àquilo que
ela realmente é em suas práticas, comportamentos e valores.
De acordo com Charaudeau (1995), a legitimidade pode não ser suficiente para
assegurar a fala. Para ser ouvido, o locutor (produtor do discurso) deve ser julgado apto para
saber dizer a verdade. É imprescindível que se mostre capaz de provar a sua capacidade em
lidar com as restrições impostas pelo contrato. Assim, encontram-se nesse espaço as
estratégias que tendem a comprovar a habilidade do sujeito em saber dizer. Tal comprovação
é direcionada para a busca de racionalidade que fundamente as falas defendidas, que se
referem à busca por um valor de verdade ou efeitos de verdade.
O valor da verdade não é da ordem empírica. Ele se realiza por meio de construção
explicativa elaborada com a ajuda de instrumentação científica que se quer exterior ao homem
(mesmo que seja ele quem a tenha construído), que pode definir-se como um conjunto de
técnicas de saber dizer, de saber comentar o mundo. O efeito de verdade está mais para o lado
do acreditar ser verdadeiro do que para o do “ser verdadeiro”. Surge da subjetividade do
sujeito em sua relação com o mundo, criando adesão que pode ser julgada verdadeira pelo
fato de que é “compartilhável” com outras pessoas, e se inscreve nas normas de
reconhecimento do mundo. Diferentemente do valor de verdade, que se baseia na evidência, o
efeito de verdade baseia-se na convicção e participa de um movimento que se prende a um
saber de opinião. O que está em causa não é tanto a busca de uma verdade em si, mas a busca
de credibilidade, isto é, aquilo que determina o direito à palavra dos seres que comunicam e as
53
condições de validade da palavra emitida, isto é, o efeito de verdade. (CHARAUDEAU,
2007).
Em busca da credibilidade, organizações mudam o tom do discurso. Para Coelho e
Godoi (2010, p. 2), a maneira como a organização é percebida pela opinião pública depende
de suas estratégias discursivas, que determinam os efeitos de sentido – sentido definido não
como algo em si, mas “relação com”, pois o homem tem a capacidade de brincar com o
sentido, desviá-lo, simulá-lo, mentir, ou mesmo criar armadilhas. No uso das estratégias
discursivas, as organizações estão sujeitas às influências de contextos e repertórios para se
tornarem produtoras de sentido, além das possibilidades de fugas e desvios oportunistas no
percurso entre a emissão e a recepção. Segundo Charaudeau (2007), comunicar e informar são
escolhas. Nesse caso, trata-se de escolher estratégias discursivas com efeitos de sentido que
busquem influenciar o outro, que pode ora ser a legitimidade, ora a credibilidade.
Pruzan (2001) reforça a ideia ao destacar que pesquisas indicam que enquanto
acionistas se preocupam com a lucratividade da organização, os consumidores estão cada vez
mais preocupados com a responsabilidade social, ambiental e ética das empresas, fato que
pode contrapor discursos normativos de várias organizações que enunciam um discurso
baseado em falsa verdade. Para adquirir credibilidade, será essencial que o produtor do
discurso tenha habilidades em saber dizer. Logo, percebe-se que algumas organizações estão
mais atentas a esses fatores, segundo perspectiva reflexiva25
da reputação empresarial
apresentada por Pruzan (2001).
O autor entende que ao se adequar às novas configurações da sociedade
contemporânea, as organizações querem passar aos interlocutores informações que não
envolvem aparências superficiais, mas que tratam da identidade, integridade,
responsabilidade, com o propósito essencial de se legitimar e alcançar a credibilidade.
Completando esse pensamento, Charaudeau (2007) enfatiza que cada tipo de discurso modula
seus efeitos de verdade de maneira particular. Para isso, são empregadas estratégias
discursivas que provocam efeitos de autenticidade e credibilidade. O autor informa que o
crédito que se pode dar a uma informação depende da posição social do informador, do papel
que ele desempenha na situação de troca, de sua representatividade para com o grupo de que é
porta-voz, e do grau de engajamento que manifesta com relação à informação transmitida.
25
A perspectiva apresentada por Peter Pruzan (2001) que emprega um repertório mais amplo de medidas de
sucesso empresarial, e se concentra mais na identidade organizacional do que na imagem. Apresenta o foco no
que a empresa é, e no que ela deveria ser, tornando-se central para a teoria e a prática de liderança.
54
A veracidade de uma informação é, igualmente, da ordem do imaginário, isto é,
baseada nas representações de um grupo social. As significações devem ser objetivas,
independentes das subjetividades do sujeito, exteriores a ele, e reconhecidas por outros. Nesse
sentido, os meios discursivos empregados devem tender a provar a autencidade ou a
verossimilhança dos fatos e o valor das explicações dadas (CHARAUDEAU, 2007). As
estratégias discursivas podem utilizar detalhes, testemunhos de especialistas, apresentação de
fotos de documentos, relatórios etc. Entre as estratégias, encontramos os discursos de
responsabilidade social e sustentabilidade, que, associados às ações práticas da organização,
contribuiriam para a credibilidade do discurso, legitimando a fala e dando validade àquilo que
a organização deseja apresentar à sociedade e aos interlocutores que com ela relacionam.
Pruzan (2001) destaca que o discurso de responsabilidade social e de sustentabilidade
gera credibilidade entre os interlocutores, cada vez mais éticos. Segundo o autor, as
organizações têm amplo potencial para contribuir com a prevenção, dissolução e solução de
problemas sociais e ambientais, sem que com isso sejam afetadas negativamente em sua
vitalidade. Como exemplo de estratégias discursivas de credibilidade, citamos a empresa
Natura Cosméticos. Em busca da adequação ao discurso da sustentabilidade, apresenta um
perfil estratégico que envolve ações de cunho ambiental, a fim de alterar a forma como é vista
pelos interlocutores. A partir de trechos extraídos de seus relatórios de sustentabilidade, que
permitem vislumbrar os elementos das estratégias da empresa, encontramos preocupação com
a integração entre a natureza e a vida humana, como mostra o trecho abaixo:
“A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das relações que
estabelece e por seus produtos e serviços, será uma marca da expressão mundial,
identificada com a comunidade das pessoas que se comprometem com a construção
de um mundo melhor através da melhor relação consigo mesmas, com o outro, com
a natureza da qual fazem parte, com o todo”. [...] “A vida é um encadeamento de
relações. Nada no universo existe por si só. Tudo é interdependente. Acreditamos
que a percepção da importância das relações é o fundamento da grande revolução
humana na valorização da paz, da solidariedade e da vida em todas as suas
manifestações. A busca permanente do aperfeiçoamento é o que promove o
desenvolvimento dos indivíduos, das organizações e da sociedade. O compromisso
com a verdade é o caminho para a qualidade das relações26
”. (ARAÚJO, 2010).
A Natura Cosméticos utilizou a palavra valorização para ressaltar a importância da
paz, da solidariedade e da vida nas relações humanas. Em seu discurso encontramos palavras
26
Trechos do Discurso dos Relatórios de Sustentabilidade da Natura Cosméticos presentes no artigo Coerência
entre o Discurso Institucional e o Discurso Midiático sobre a Sustentabilidade, apresentado no XXXIV Encontro
da ANPAD, Rio de Janeiro, de 25 a 29 de dezembro de 2010, por Ana Lúcia de Araújo Lima Coelho e
Christiane Kleinubing Godoi.
55
como comprometimento, desenvolvimento, qualidade e valorização, que buscam dar
autenticidade à sua fala e promover efeitos de sentido na habilidade de “saber dizer”.
Segundo Fausto Neto (2008), os sentidos se estabelecem nas disputas de estratégias e
de operações de enunciação. Dentro do processo de fazer crer, a midiatização como estratégia
discursiva tem papel fundamental. Charaudeau (2001) afirma que para desenvolver estratégias
para captar interlocutores, buscam-se elementos de capacidade de comunicação, escolhendo o
momento do que se diz ou não se diz.
O efeito da credibilidade pode estar, portanto, na posição de neutralidade; de
engajamento e da ética de convicção e sinceridade. A credibilidade fabrica uma imagem para
que o outro tenha uma adesão. Se o outro acredita no discurso, ele foi afirmado. Do contrário,
o sentido é ressignificado de outras formas. Por isso, a credibilidade tem a ver com o ethos (o
discurso de si mesmo), que envolve as estratégias de persuasão. Trazendo o conceito para o
contexto organizacional, as imagens criariam credibilidade e identificação do discurso
organizacional; no entanto, numa situação de comunicação, os sentidos podem ter
direcionamentos contrários quando os discursos se baseiam numa falsa verdade.
2.5.2.3 Captação
Outra forma de estratégia apresentada por Charaudeau (1995) para se captar o receptor
é a atitude, que consiste em tocar o afeto dos interlocutores, em provocar certo estado
emocional favorável à influência do sujeito falante. Por meio da estratégia de captação,
igualmente aplicada ao discurso, encontramos formas de emocionar o interlocutor a partir de
procedimentos como entonação da voz, sugestão, sedução, conivência e humor.
Por meio da instância de produção, atinge-se o imaginário discursivo. Charaudeau
(2009) afirma que “[...] as estratégias de captação consistem em lançar a informação de
maneira que esta produza um espetáculo que deve tocar a sensibilidade do espectador”
(CHARAUDEAU, 2009). Uma das formas de tocar o interlocutor é por meio da linguagem.
Franchi (2003) ressalta que pela linguagem se fazem presentes as transformações históricas e
sociais do ser humano. Por isso, é capaz de representar, significar, produzir sentido,
conhecimento, afetar e persuadir.
A linguagem deve ser analisada como ação e interação, que envolvam os processos
dialógicos, ou seja, as relações que se estabelecem nas condições de produção e compreensão
dos discursos entre os interlocutores. A linguagem pelo texto, segundo Bakhtin, representa
56
realidade imediata (do pensamento e da emoção), e o texto é “um conjunto coerente de
signos” (FIORIN, 2003).
No processo comunicativo o enunciador se posicionará para o enunciatário e elaborará
estratégias para seduzi-lo, embora as seduções possam ser (des)organizadas, ou seja, saírem
ou não da forma que se espera, de acordo com a produção de sentido realizada. Charaudeau
(2001) destaca que o sujeito enunciador (nesse caso, a comunicação organizacional) vai
mascarar a intencionalidade do sujeito comunicador (que é a organização) – que é de se
apresentar e fazer conhecida - para tentar captar o interlocutor. Todo ato de linguagem
envolverá várias estratégias e possibilidades de interpretação, que podem ser legitimidade,
credibilidade e captação.
A partir dessas estratégias, na dimensão significante da linguagem encontramos a
emoção, pois os efeitos estéticos não são decorrentes apenas dos elementos racionais de
mensagem imagética, mas de apelos emocionais que permeiam todo o processo construtivo da
imagem até a sua transmissão, afetando o processamento cognitivo, da percepção à persuasão
(FRANCHI, 2003, p. 24-25).
Partindo desse olhar, entendemos que os efeitos de sentido estão ligados às emoções,
que, segundo Franchi (2003), são produzidas por um processo semiótico em que determinados
signos transgridem nossa razão e consciência no ato da percepção, e passam a interferir no
corpo humano, levando-o a reações as mais diversas, muitas vezes sem controle. O poder
persuasivo domina cada vez mais as mídias. “Elas invadem a subjetividade sem deixar
vestígios da transgressão ou agressão à liberdade que esse tipo de persuasão evoca”
(FRANCHI, 2003, p. 25).
O discurso organizacional, como forma de captação, passa pela finalidade de fazer
sentir, que tende a produzir um objeto de consumo segundo a lógica comercial: captar as
massas para sobreviver à concorrência. A emoção e a sedução são maneiras de tocar o
indivíduo. Segundo Charaudeau (2001, p. 128), “as emoções são da ordem intencional, estão
ligadas aos saberes e crenças comuns e se inscrevem em uma problemática da representação
psicossocial”. A captação envolve o pathos (emoção), que consiste em atingir os
interlocutores, para que se engajem ao que se quer apresentar pelo ato discursivo. No que
concerne a Charaudeau (2010), existe diferenciação entre sentimento e emoção. Sentimento é
mais ligado à ordem da moral, e a emoção é ligada à ordem do sensível. No entanto, neste
estudo os termos serão empregados indiferentemente, pois as noções exigem um longo
desenvolvimento.
57
Não podemos deixar de considerar que em uma situação de comunicação, a partir dos
dois princípios (influência e regulação), existe a emergência da subjetividade no discurso por
meio da emoção e do sentimento.
Consideramos que pela linguagem em uso e a mediação das mídias, os significados da
ordem da emoção e do sentimento serão criados, negociados e gerenciados para tentar
promover sedução nos interlocutores. Os posicionamentos serão elaborados discursivamente,
e com eles, várias estratégias serão usadas para captar os sujeitos receptores. A partir da noção
de que o sujeito comunicante concebe, organiza e encena suas intenções de forma a produzir
determinados efeitos – de persuasão ou de sedução – sobre o sujeito interpretante para levá-lo
a se identificar – de modo consciente ou não, com o sujeito destinatário - entendemos como se
dá a captação.
Franchi (2003) destaca que o ato comunicativo somente se configura à luz da
intencionalidade, quando o receptor entra em sintonia com o mundo do emissor, deixando-o
penetrar em sua rede simbólica expressa na plasticidade da linguagem, em um mosaico
persuasivo de signos, com evidentes lastros imagéticos. Cada estratégia será elaborada de
acordo com as regras do acordo, contando com uma finalidade, ou mais de uma, com o intuito
de que o enunciador se faça comunicado e percebido pelo enunciatário. Na estratégia para
captar o enunciatário, consideramos ainda os quatros princípios mencionados nesta análise -
alteridade, influência, regulação e pertinência. Esses princípios agem simultaneamente e,
conforme Charaudeau (2010, p. 244), colocam determinado número de problemas que podem
ser descritos sob a forma de uma série de questões: como entrar em contato com o outro?
Como impor sua pessoa de sujeito falante ao outro? Como tocar o outro? Como organizar a
descrição do mundo que se propõe/impõe ao outro?
Por meio da estratégia de captação, ou seja, de como tocar o outro, a instância de
produção pode inferir feição patêmica27
de seduzir, comover, dentre outros. As
intencionalidades no discurso têm a ver com essa dimensão patêmica da linguagem, composta
por efeitos de emoção, afetos, significados etc. Segundo Mendes e Mari (2010), não se deve
desconsiderar a importância desses efeitos, pois refletem os sentidos produzidos pela
linguagem em ação na sociedade. Os autores destacam que determinadas situações de
comunicação favorecem o engendramento de certos efeitos patêmicos: o debate político tende
a suscitar efeitos de provocação entre os debatedores, o interrogatório policial tende a suscitar
27
Diz respeito ao pathos, à emoção, ou melhor dizendo, a construção patêmica de um discurso é algo que
obedece à racionalização do saber, à argumentação interna do discurso (MENDES, 2009).
58
efeitos de intimidação, uma notícia trágica é associada a comoção, a publicidade de uma
empresa pode produzir efeito de sedução, e assim por diante.
Em Maingueneau (2010, p. 178) temos a captação como simulacro que se transforma
em verdade que, repetida por “todo o mundo”, se instalará solidamente no conjunto de
evidências coletivas, como no caso do slogan. Segundo ele, o slogan passa de estatuto de “eu-
verdade” (verdade de uma organização, um partido político etc.) ao de “on-verdade” (verdade
estável, universalmente conhecida, garantida por enunciador de autoridade incontestável, que
coincide com a própria comunidade linguística). Por meio das produções comunicativas
institucionais (jornais, revistas, memorandos, comunicados, vídeos institucionais) projetadas
por uma empresa, utilizando como dispositivo a linguagem criada pelas assessorias de
comunicação, encontramos as intencionalidades e induções do discurso.
Como exemplo, a estratégia de captação de publicidade que faz com que os
interlocutores sejam influenciados pela emoção, sedução, em que se encontra a tensão entre
informar para apresentar o produto e suas qualidades, e de seduzir para incitar o máximo de
pessoas a consumi-lo. A publicidade, como estratégia discursiva, faz prevalecer o saber sentir,
no qual existirão sempre intencionalidade e sentido a ser construído. A propaganda usa os
signos verbais de muitas maneiras. Desde o uso restrito de significados obtidos por meio das
palavras, até maior interação entre imagem e palavra, o que faz o indivíduo ser induzido. Para
Franchi (2003), em termos midiáticos, uma imagem afeta um interlocutor quando ele transfere
para ela um objeto pelo qual ele se sente atraído, atribuindo a esse objeto um poder de
transformação que ele não tem. “Quando o ser afetado entra em sintonia e se harmoniza com
as intencionalidades do autor e realizador da imagem, se configura, então, a persuasão”
(FRANCHI, 2003, p. 26).
A sedução se configurará ou não de maneira positiva quando for associada às
percepções do mundo social onde estão localizados os sujeitos, ou seja, contexto, cultura,
história. Gomes (2007) lembra que o discurso publicitário é uma das formas mais
características do discurso persuasivo contemporâneo. Como ensina Braudrillard (1981), a
publicidade não “vende” os produtos em seu valor de uso (sua capacidade de satisfazer uma
função “denotada”), mas em sua validade como qualificador daquele que o compra, o seu
valor-signo. No contexto das organizações, a partir desse conceito entendemos que elas são
aceitas ou “compradas” pela imagem, valor intangível que agrega fatores de competitividade
(FRANCHI, 2003).
59
A partir das tentativas de construção da imagem pelo discurso organizacional e suas
estratégias enunciativas, os sentidos podem ou não gerar afetações, pois em seus
relacionamentos as organizações esperam que os consumidores reconheçam a qualidade de
seus produtos e/ou serviços; os acionistas valorizem os resultados empresariais; os
ambientalistas endossem os projetos e as ações desenvolvidas; os empregados identifiquem-se
com seus valores e cultura; e assim sucessivamente, para serem beneficiados de relações mais
harmônicas e saudáveis (ALMEIDA, 2006, p.127). Elas querem um diferencial: não ser
identificadas de maneira generalizada, mas algo que as distinga das demais organizações.
Continuando a explicação de como as estratégias de captação atuam para buscar a
adesão da instância receptora, lembramos que elas fazem parte de uma concepção com a
finalidade de reposicionar marcas e produtos, ampliar vendas, reforçar conceitos. Como
exemplo, ações das indústrias automobilísticas. Para persuadirem interlocutores a comprar os
produtos, utilizam estratégias de emoção, sedução, persuasão e comoção. Os veículos mudam
a cada ano, inovando o designer, mecânica, conforto, com a única intenção de atingir com
“glória” a satisfação plena do cliente. O Novo Uno, por exemplo, ganhou nova roupagem e
inovação tecnológica, superando o antigo automóvel, que à sua época revolucionou o
mercado automobilístico, um dos carros populares mais vendidos no país. No entanto,
passados alguns anos, ficou superado. E a montadora lhe deu nova “cara”, com aparência
estética renovada, a fim de não ser descartado. Para captar o sujeito consumidor, a
publicização tratou de levar o novo conceito aos indivíduos em busca de satisfação do desejo
de um “carro popular”, atual e com preços mais baratos para atender à lógica do consumo. A
marca, então, foi apresentada como Novo Uno, Novo Tudo, o carro da novidade, da inovação,
dos sonhos da classe média, atingindo a emoção e sensibilidade do sujeito que anseia por um
carro inovador, mas ao mesmo tempo que ofereça condições econômicas compatíveis com as
possibilidades de compra.
As organizações podem agir pela lógica mercadológica da inovação, da concorrência e
dos processos de comunicação, por meio da estratégia de captação. A partir do exemplo,
constata-se que as estratégias de persuasão têm a função de produzir sentimentos e emoções
para tentar criar imagem forte - desenvolvida por meio de amplas e sistemáticas campanhas
publicitárias, projetos e programas promocionais e institucionais formais de comunicação
(ALMEIDA, 2006; GIRARD; ALMEIDA, 2007).
A imagem é formada de acordo com as estratégias dos sujeitos. Não somente daqueles
que partem da produção, mas ainda da recepção, pois em todo ato comunicativo há
60
intencionalidade, e todo ato de linguagem é resultado de um jogo entre o implícito e o
explícito que nascerá de circunstâncias específicas. No discurso, a captação será usada para
seduzir a instância da recepção e criar imagens que reflitam o que é a organização - por meio
de slogans, marcas, símbolos, cores, atributos, discursos escritos e falados, sonhos, desejos,
entre outros.
Conforme explica Almeida (2006), a imagem organizacional é um conjunto de
significados pelo qual a organização é conhecida e que os interlocutores utilizam para
descrevê-la, relembrá-la e nela se relacionar. A partir dos conceitos de que a imagem é um
conjunto de significados, existe a tentativa de produzir sentidos, como fala Rossetti (2007,
p.263), ao explicar que a comunicação – ao elaborar as estratégias enunciativas - está
constantemente diante do desafio de encontrar novos modos de expressão fundados em uma
linguagem não conceitual, mas que dê conta de mediar e comunicar as intuições criativas e
artísticas de seus atores. O discurso, que faz mediação pela linguagem, por meio dos
dispositivos midiáticos, é o elo entre os sujeitos estratégicos da organização, ao emiti-los para
os seus interlocutores, que os recebem e processam, gerará semiose, ou seja, uma circulação
de sentidos, na qual estarão presentes tensões, oscilações, disputas, desvios e demais aspectos
da mesma natureza.
Segundo Iasbeck e Pereira (2011, p .8), a semiose é produto direto dos processos
comunicacionais. É proposta de diálogo, de construção de sentidos, entre emissor e receptor.
O discurso organizacional leva o receptor a (re)agir e construir uma imagem, transformando a
mensagem recebida, como é próprio dos sujeitos em interação. Segundo os autores, a troca
comunicativa entre sujeitos oscila e é tensa, os signos se batem e embatem, buscando pontos
comuns e administrando o incomum (IASBECK; PEREIRA, 2011). No pensamento de
oscilação e tensão, Charaudeau (2010) esclarece que os sentidos construídos pelos signos não
coincidem necessariamente.
Considerando as estratégias enunciativas, o discurso organizacional produzirá
maneiras de provocar a adesão dos interlocutores.
2.6 Recepção: um lugar de sentidos
Antes de avançarmos nas pesquisas sobre semiose organizacional, não
devemos deixar de reforçar a instância de recepção como produtora de sentidos. Ao receber
mensagens, elaboradas pela comunicação organizacional, os interlocutores terão percepções
61
diversas sobre aquilo que lhes é dito. Estarão sujeitos, portanto, a construir imagens fluidas,
complexas e distorcidas. Por exemplo, o consumidor de determinado produto ou serviço pode
ser influenciado pelo contexto em que está inserido, e ao ouvir mensagem negativa da
empresa, ou mesmo ter experiência que não lhe foi agradável, pode deixar de comprar o
produto ou realizar o serviço, passando a rejeitar a empresa fabricante, criando em sua mente
a imagem negativa. Mas talvez aconteça o contrário pela produção de sentidos.
Assim, na recepção o sentido é construído. Isso acontece porque, conforme explica
Baldissera (2008), os sujeitos reproduzem os padrões culturais e agem sobre eles de modo a
perturbá-los, ou seja, transformá-los. Para o autor, os sujeitos ao (re) tecerem a rede
simbólica se relacionam e interagem suas alteridades e com elas disputam e constroem
sentidos sobre suas representações de mundo. Nessa abordagem, os sentidos são construídos
por sujeitos que criam organizações com sentidos específicos e qualidades particulares de
linguagem e cultura, isto é, as imagens.
No mesmo pensamento Braga (2006) ressalta que os interpretantes do discurso
organizacional não são passivos, eles agem e produzem não só com os meios de comunicação,
ao desenvolvê-los e atribuir-lhes objetivos e processos, mas sobre seus produtos,
redirecionando-os e atribuindo-lhes sentido social. Thompson (1995, p. 51) alerta para a
questão ao ressaltar que devemos abandonar a ideia de que os receptores são espectadores
passivos cujos sentidos foram permanentemente embotados pela contínua recepção de
mensagens similares.
Devemos também descartar a suposição de que a recepção em si mesma seja um
processo sem problemas, acrítico, e que os produtos são absorvidos pelos indivíduos
como uma esponja absorve água. Suposições deste tipo têm muito pouco a ver com
o verdadeiro caráter das atividades de recepção e com as maneiras complexas pelas
quais os produtos da mídia são recebidos pelos indivíduos, interpretados por eles e
incorporados em suas vidas (THOMPSON, 1995, p. 51).
Por meio dos processos de comunicação, o receptor é injuncionado por percursos e
elos associativos a produzir sentidos. Para isso, devemos considerar a explicação de Fausto
Neto (2009), na qual afirma que os saberes e as várias dimensões discursivas, uma vez que as
posições construídas com base no efeito da enunciação resultam da ação que “outros”
(saberes, textos, polifonias) têm sobre aquelas. O receptor é também construção social. Hall
(1980, p. 135) considera que o momento da codificação “determina” o da decodificação por
meio de significados preferenciais, em que apesar do fato de que os “significados
preferenciais” estejam inscritos nos textos, não existe correspondência necessária entre os
62
momentos de codificação e da decodificação: “O primeiro pode tentar “preferir”, mas não
pode prescrever ou garantir o segundo, que possui suas próprias codificações de existência”
(HALL, 1980, p. 135). Isso significa que a mensagem produzida pode ser codificada com
significado preferencial particular, e a recepção pode decodificá-la com significado diferente
ou oposicional.
O receptor sai da passividade (como era considerado pelos estudos de causas e efeitos)
e passa a ser reagente. França (2006) considera que os indivíduos têm estruturas psicológicas
complexas e, portanto, acolhem e reagem diferentemente dos estímulos recebidos. De acordo
com as variáveis socioeconômicas e culturais, atuando nos indivíduos, inseridos em contextos
e grupos específicos, eles reagem dentro de padrões estabelecidos por seu meio. As respostas
não são tão mecânicas e homogêneas como se previa no modelo tradicional. O receptor
recebe, reage, negocia, dribla os propósitos do emissor e promove usos particulares e
diferenciados dos produtos consumidos. Para exemplificar, temos em Thompson (1995, p. 52)
que os receptores podem intervir e contribuir com eventos e conteúdos durante o processo
comunicativo. Eles podem escrever cartas ao editor, telefonar para as companhias de televisão
e expressar seus pontos de vista, ou simplesmente recusar a compra ou a recepção de
determinado produto. O que comprova não existir a passividade considerada pelo modelo
informacional.
Os receptores têm dissociação estrutural em relação à produção e ficam à vontade
durante a comunicação mediada para fazer o que bem entendem das mensagens, pois o
produtor não está lá para reelaborar ou corrigir os possíveis mal-entendidos quando os
mesmos produzem uma mensagem. Thompson (1995) considera que os receptores são
parceiros desiguais no processo de intercâmbio simbólico. Comparados aos indivíduos
envolvidos no processo de produção e transmissão, os receptores de mensagens mediadas
pouco fazem para determinar tópicos ou conteúdos da comunicação. No entanto, isso não
significa que sejam totalmente privados de poder, meros espectadores passivos de um
espetáculo sobre o qual não têm nenhum controle (THOMPSON, 1995, p. 56).
Como atores sociais, os sujeitos têm sua autonomia na ação de interpretação, e se
dedicam a essa atividade em função de sua identidade social, da identidade social do produtor
do discurso (locutor) que ele percebe, das intenções que lhe atribui, de seu próprio
conhecimento de mundo e das próprias crenças (CHARAUDEAU, 2006). Dito de outra
forma, o lugar da interpretação é aquele no qual se realizam os sentidos próprios do receptor,
e aqui podemos falar de efeitos produzidos por eles (Charaudeau, 2010).
63
Ainda nessa perspectiva, considerando o que Iasbeck e Pereira (2011) ressaltam ao
falarem sobre o consumo, cada vez que os interlocutores entram em contato com o discurso
de uma organização - pode ser a marca (o discurso simbólico organizacional) ou as diversas
formas e conteúdos das mensagens orais e escritas -, nova gama de relações serão geradas,
pois os contextos, a mente e o repertório dos indivíduos não são mais os mesmos, por causa
das experiências e vivências, que são outras. Assim, a cada novo contato com o discurso
organizacional, o sentido pode ser ressignificado pelo receptor, transformando-o em produtor
de sentidos, diferente daquilo que acontece com o emissor, pois no campo da produção, ele é
produtor de significados, tentando construir sentidos. No entanto, quando a emissão
igualmente se torna receptora no processo de ressignificação, ela será produtora desses
sentidos.
Assim sendo, as estratégias enunciativas do discurso organizacional, ao perpassarem
pelo processo infinito da semiose, tentarão produzir sentidos pela própria linguagem - na
esfera da produção mediada e representada - dando início a semiose organizacional, que se
transformará em algo mais amplo do que apenas a produção realiza na interpretação,
contribuindo para que imagens sejam formadas e transformadas ao longo dos anos em
reputação.
A partir de agora, saímos dos estudos da linguagem para a interface que estabelecemos
com os estudos de semiótica segundo Peirce. Para a conceituação do objeto proposto, é
essencial ampliar o entendimento para o sentido, pois a semiose constrói o sentido. Temos em
Peirce os fundamentos para os processos cognitivos que permeiam o discurso organizacional,
pois a linguagem é portadora de mensagens intencionais, carregadas de efeitos de sentido.
Essas intencionalidades são formadas pela relação entre “consciências” que formam a
semiose; no contexto das organizações, a semiose organizacional, fazendo com que os
sentidos circulem, disputem, dispersem, organizem, desorganizem, por meio do processo
comunicativo que une os sujeitos em interação.
64
3 SEMIOSE ORGANIZACIONAL
3.1 A triadicidade dos signos
Como vimos, pelas relações entre sujeitos produzimos, construímos e disputamos
sentidos. São elas as responsáveis por aquilo que vem à nossa mente. Pensando nas relações
Peirce chegou aos conceitos de semiose, que acontece numa relação infinita entre o signo e
seu objeto e o signo e o interpretante. Assim, entendemos como as coisas significam e como
as mensagens são estabelecidas numa relação entre sujeitos.
Para explicar a semiose, procuramos discorrer apenas sobre os conceitos que levam ao
seu entendimento, já que o pensamento semiótico é mais amplo do que abordaremos neste
estudo. A nossa intenção, ao perpassar a semiótica peirceana, é mostrar como o contexto das
organizações é afetado pelo processo semiósico, sempre presente nas relações dialógicas dos
interlocutores.
O signo pode ser entendido como qualquer coisa que se refere a algo. Mas antes de
falarmos sobre a semiose que acontece na relação ente o signo e o objeto e o signo e o
interpretante, tem-se que conceituar os fenômenos que acontecem na semiose.
O signo peirceano, tomado como elemento básico e unidade fundamental da
semiótica, resulta de uma elaboração intelectual utópica, visto que não pode existir
senão por meio de outros signos que lhe deem sustentação, ou seja, seus
interpretantes (imediatos e finais) e seus objetos (dinâmico e imediato). Sua
existência sem tais coadjuvantes é impensável e indemonstrável. Poderíamos, pois,
dizer que o signo peirceano tem existência lógica, mas não operativa. Ora, se o signo
só se apresenta como representação num processo dinâmico de trocas sígnicas –
mais ou menos aquilo que Peirce denomina semiose – ele deixa de ser significativo
como conceito para afirmar-se na relatividade das ações que promove em cada
processo de significação (IASBECK, 2010, p.18).
A partir das definições de Peirce, Queiroz também esclarece:
(1) O signo, ou semiose, é uma relação; (2) é uma relação entre coisas que podem
ser abstraídas na forma de correlatos (termos da relação); (3) três são os termos
necessários e suficientes para descrever o signo como uma relação; (4) o
interpretante é uma relação irredutível de três termos; (6) o signo é o primeiro termo,
o segundo é o objeto, e o terceiro é o interpretante; (7) o interpretante é determinado
pelo objeto como uma determinação do signo pelo objeto. De (1) e (2) pode-se
inferir que o signo é um padrão, um arranjo de itens, qualidades, eventos, processos,
e qualquer coisa que é signo, de qualquer natureza, pode ser abstraída na forma
desse padrão; de (3), (4) e (5) infere-se que esse padrão é irredutivelmente triádico e
S-O-I são seus termos; de (6) pode-se inferir que os termos dessa relação são
definidos conforme a posição que ocupam relativamente aos outros termos.
(QUEIROZ, 2004, p.49)
65
Iasbeck (2010) explica que, segundo Peirce, o homem jamais terá acesso à realidade
como ela é, já que tudo que existe não se apresenta: apenas se representa por sinais captáveis,
ou não, pela percepção do observador. O autor destaca que o signo, quando em relação,
assume caráter de quali-signo, sin-signo ou legi-signo. Essas características a que o signo se
refere possuem três tipos de propriedades: qualidade (quali-signo), substância (sin-signo) ou
lei (legi-signo). São três tipos de relações que o signo pode ter com o objeto a que se refere ou
que denota.
Dessa forma, há distinção do objeto na relação do signo, na qual pode ser
transformado em objeto imediato28
ou dinâmico29
. Queiroz (2004) esclarece que o signo é
definido por Peirce como aquilo que pode “denotar um objeto perceptível, somente
imaginável, ou mesmo inimaginável” (C2,230, apud Queiroz, 2004, p.59). Assim sendo,
Peirce propõe uma divisão em que o objeto é observado “dentro e fora do signo como termo
da relação triádica que definie a semiose” (Queiroz, 2004, p.59). Seja numa frase, numa foto
ou numa música, os signos só podem se reportar a algo porque, de alguma maneira, esse algo
que denotam está representado dentro do próprio signo. Por isso, são diferentes as relações do
objeto imediato com o signo e também do objeto dinâmico com o signo. A partir daí, e
levando em conta os vários fenômenos presentes nessas relações, surgem as classificações dos
signos em ícones, índices e símbolos.
A mesma relação acontece com o interpretante. Segundo Peirce (MS339,533, apud
Queiroz, p.54) o interpretante é definido como “aquilo que traz o signo em relação com o
objeto”; o signo “ é determinado pelo objeto relativamente ao interpretante, e determina o
interpretante em referência ao objeto” (MS318,81, apud Queiroz, p.54). Pinto (2009) destaca
que o interpretante não é o intérprete, mas o conteúdo de uma interpretação. Iasbeck (2010)
denomina interpretante o signo criado na mente de uma pessoa - o que chama de signo
desenvolvido.
Se tudo o que entra em contato com a percepção de um observador é um signo, se
todo signo só pode ser explicado por outros signos e se tudo que nos vem à mente já
28
O objeto imediato, para Peirce, é o objeto como representado no signo – e o real (CP8,314, apud Queiroz,
2004, p.59). O objeto imediato em contraposição ao objeto dinâmico (v.) e analogicamente ao interpretante
dinâmico (v.), é aquele visto como referente do signo (v.) e do interpretante (v.) na relação de representação
(PINTO, 1995, p. 40). 29
Para Peirce, o objeto dinâmico, que, da natureza das coisas, o Signo não pode expressar. Ele pode apenas
indicar e deixar o intérprete descobri-lo por experiência colateral (CP8, 314, apud Queiroz, 2004, p.59). Pensar-
se o objeto dinâmico, em contraposição ao objeto imediato (v), como objeto originador de uma dada semiose (v.)
isto é, aquele objeto ao qual todos os signos de uma determinada cadeia ultimamente se referem. (PINTO, 1995,
p.39).
66
é signo, não há dúvidas de que vivemos num mundo de signos, sinais ou sintomas de
algo que insiste em se apresentar, mas que não o pode de outra forma senão por
meio de representação. Seríamos, pois, interpretantes (sígnicos) de uma realidade
que não conhecemos a não ser por uma outra interpretação já contida em cada signo,
visto que cada signo carrega em si sua explicação ou interpretação igualmente
sígnica (IASBECK, 2010, p. 4-5).
Como o objeto, o interpretante se subdivide em imediato, dinâmico e final, conforme
desta Queiroz (2004):
O interpretante imediato é o efeito não analisado (LW,110) de um signo; o
interpretante dinâmico é o efeito real do signo (CP4,536); o interpretante final
refere-se ao modo como “o signo tende a representar a si mesmo como relacionado a
seu objeto” (CP4,536), estabelecendo regras para agenciar a “interpretação do
signo”. (QUEIROZ, 2004, p.59)
Segundo Santaella (2002), o interpretante pode ser chamado de imediato,
(interpretação abstrata e/ou concreta), aquele que imediatamente sucede ao signo; dinâmico
(efeito que o signo produz no interpretante: sentimento, ação mental, lógico, dentre outros),
que para Pinto (1995) significa o interpretante escolhido pelo intérprete dentre as
possibilidades interpretativas que o signo oferece em determinado momento da semiose; e
finalmente, o último da cadeia semiósica, que o autor considera como “uma antecipação do
curso do futuro da semiose, uma previsão de como seria o interpretante imediato, num futuro
em que o signo cessasse de produzir interpretantes” (PINTO, 1995, p.31). Portanto, o
interpretante final não é o fim, porque a semiose é infinita, mas se estabelece quando uma
dada relação atinge sua finalidade de significar. Sabe-se que ela poderia progredir mais e
mais, no entanto, se encerra na terceiridade do interpretante, que é o sentido, e pode se alterar
a cada novo experimentar da semiose.
Os interpretantes “incorporam elementos lógicos, racionais, como também emotivos,
sensórios, ativos e reativos como parte do processo interpretativo” (SANTAELLA, 2002, p.
27). Conforme explica Verón (1980), ao deslizar pela malhas triangulares da semiose, a
posição que “encerra o problema clássico do sujeito é do interpretante, pois o interpretante
pode ser um sujeito” (VERÓN, 1980, P.184). O autor também esclarece a tricotomia que
analisa o funcionamento do signo em relação ao interpretante:
O signo, visado enquanto relação ternária, é ou um rema ou um Dicente, ou um
argumento. “Isso corresponde – diz Peirce- à velha tríade, Termo, Proposição e
Argumento, modificada a fim de aplicar-se aos signos em geral. Um Rema é um
67
signo que, para seu Interpretante, é um signo de Possibilidade qualitativa, isto é,
compreendido como representativo desta ou daquela espécie de Objeto possível (...)
Um Dicente é um Signo que, para seu Interpretante, é um signo de existência real
(...) Um Argumento é um Signo que, para seu Interpretante, é o Signo de uma lei”.
Peirce acrescenta então este resumo “.... pode-se dizer que um Rema é um signo
que se compreende como o que representa seu objeto simplesmente em suas
características; que um Dicissigno é um signo compreendido como o que representa
seu objeto relativamente à existência real; e um Argumento é um signo
compreendido como o seu objeto em seu caráter de Signo”. (VERÓN, p.185, 1980).
Segundo Verón (1980), em Peirce, o dicente associa a noção de juízo (ato interno, de
auto-reconhecimento de uma crença); o rema é representado em seu interpretante,
significando como se e o argumento remete ao como se, sendo um signo que, para seu
interpretante, é o signo de uma lei, conforme exemplificação:
A semiose ocorre a partir dos fenômenos, no qual o signo é um elemento que está numa
relação triádica, em correlação com outros elementos, conforme exemplifica a figura:
O signo visado
“Em si mesmo”
(Primeiro)
Qualisign (quali-signo)
Sinsign (sin-signo)
Legisign (legi-signo)
Em relação com seu objeto
(Segundo)
Icon (ícone)
Index (índice)
Symbol (símbolo)
Enquanto relação ternária
(Terceiro)
Rheme (rema)
Dicent (dicente)
Argument (argumento)
Quadro 1 – Nível semiótico
Fonte: Verón (1980, p.183)
68
Figura 3: Relação Signica – semiose
Figura 3.1- Triângulo de Ogden-richards
Fonte: Queiroz (2009, p. 52)
Segundo Pinto (1995), o representâmen é um signo ainda não utilizado como signo.
Algo que já participa de uma relação de representação sem ter sido percebido como signo. O
objeto é um referente - algo ao qual algo se refere - e o interpretante imediato é aquele
elemento que se produz da relação do signo com seu objeto. É o responsável pela dinâmica da
significação, na medida em que a empurra para frente. Esses elementos em relação geram a
semiose. Queiroz (2004) considera semiose como uma relação entre coisas que podem ser
abstraídas na forma de correlatos (termos da relação), em “um processo evolutivo que tende,
continua, indefinidamente para um objeto, sendo sua natureza explicada como uma relação
irredutível entre três correlatos como demonstram as figuras 3 e 3.1.
Em Pinto (2008, p.82) também encontramos a definição de semiose. Para ele, semiose
é a produção de sentidos, processo infinito pelo qual, através de sua relação com o objeto, o
signo produz um interpretante que, por sua vez, se torna um signo que produz um
interpretante e assim por diante. Na semiose, também há de se considerar a relação
como unidade funcional dependente do intérprete. (...) segundo Peirce (MS
339,533), o interpretante é definido como aquilo que traz o signo em relação com o
objeto; o signo é determinado pelo objeto relativamente ao interpretante, e determina
o interpretante em referência ao objeto” (MS318,81). (QUEIROZ, 2004, p.54).
Logo, o signo em relação gera a semiose, e essa relação entre os três elementos produz
o sentido. Santaella (2001) exemplifica:
uma peça publicitária para o reposicionamento de um produto no mercado é um
signo do produto, que vem a ser o objeto desse signo, isto é, da peça publicitária.
Não apenas o produto em si é o objeto do signo, mas o produto reposicionado, tal
Objeto
1 - Signo (representâmen)
Interpretante
Veículo
1.1 - Sentido
Referente
69
como a peça o representa. O impacto ou não que a publicidade despertar no seu
público é o interpretante final da publicidade (SANTAELLA, 2001, p. 8).
Por esta abordagem, compreendemos que o processo infinito da semiose pode
acontecer em vários contextos, como no das organizações. Segundo Santaella (2002), a
semiose acontece “não apenas em um contexto imediato, como também em um mais
estendido, isto é, do interpretante imediato ao interpretante final, pois em todo processo de
signos ficam marcas deixadas pela história, pelo nível de desenvolvimento das forças
produtivas econômicas, pela técnica e pelo sujeito que as produz” (SANTAELLA, 2002, p.5).
As relações dinâmicas entre o signo e seus objetos e entre o signo e seus
representantes e entre seus objetos e interpretantes foram estudadas por Peirce em abordagens
triádicas, em que a lógica conduziu a elaboração de centenas de tricotomias capazes de dar
conta de inúmeras nuanças que permeiam o processo de produção de sentido (IASBECK,
2010, p. 27-35).
Essa triadicidade é a base da semiótica peirceana, e no fenômeno30
de semiose existem
três componentes fundamentais, que podem ser explicados por meio de qualquer outro
componente. De acordo com Santaella (2002), essas categorias fenomenológicas, da mente e
da natureza, foram denominadas por Peirce como primeiridade, secundidade e terceiridade. O
primeiro aparece em tudo relacionado com o acaso, que é a possibilidade, qualidade,
sentimento, originalidade, liberdade. O segundo está ligado às ideias de dependência,
determinação, dualidade, ação e reação, conflito, surpresa, dúvida. Já o terceiro diz respeito à
generalidade, continuidade, crescimento e inteligência.
Na terceiridade está presente o sentido que se representa no signo, pois o signo é um
primeiro (algo que se apresenta à mente), ligando um segundo (aquilo que o signo indica, se
refere ou representa) a um terceiro (o efeito que o signo provocará em um possível intérprete).
Logo, a concepção de signo, assentada na ideia de terceiridade, consiste em qualquer coisa
que se refira a um objeto. “É a ideia daquilo que é tal qual é por ser um Terceiro ou Meio
entre um Segundo e seu Primeiro” (CP 5.66). Terceiridade é, portanto, sinônimo de mediação
e de sentido. Mediação porque representa e está no lugar da realidade, transformando-a, pelo
sentido, como se fosse outra para certos propósitos. De acordo com Peirce, “representar é
estar no lugar de, isto é, estar numa relação com o outro que, para certos propósitos, é
considerado por alguma mente como se fosse outro” (CP.66).
30
Entende-se por fenômeno qualquer coisa que se torne manifesta ou disponível para um observador (PINTO,
70
Ainda na compreensão de Peirce (PIERCE apud SANTAELLA, 2002, p. 202), o signo
é uma espécie de medium ou mesmo média, mídia, dos dois objetos, entre um objeto que se dá
a perceber e um ou outro que o percebe, processa e interpreta. Esse é o mecanismo básico do
sentido, que nasce na percepção e se consubstancia pela ação interpretante deliberada. O
medium une, conecta, sem descaracterizar a autonomia, a individualidade dos elementos
colocados em relação (PIERCE apud IASBECK; PEREIRA, 2011, p. 7). O medium é o
sentido que se estabelece nas relações. Como veículo, ele faz com que os sentidos circulem
num processo semiósico de significação, ação, reação e normas.
3.2 Semiose e sua relação infinita
As relações do signo com o seu objeto e o interpretante formam a semiose nas
categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. Por semiose entende-se a circulação
dos sentidos, ou seja, a construção, produção e a disputa31
destes, que podem ocorrer quando
um interpretante qualquer interpreta a mensagem de uma notícia, de um anúncio publicitário;
de uma interação face a face, ou seja, uma conversa, dentre outras circunstâncias. O signo é
múltiplo, variável e modifica-se de acordo com o seu observador. Na posição de interpretante
dinâmico, é signo em diálogo com o signo que está sendo interpretado (SANTAELLA, 2001;
IASBECK, 2010).
Dito de outra forma, a semiose pode ser traduzida no processo comunicativo que tem o
signo em sua base. É uma relação que acontece entre os sujeitos em interação, sendo
construtora de todos os sentidos produzidos na relação, de acordo com vivências,
experiências, interações, polifonias etc. No diálogo entre as instâncias de produção e
recepção, mediadas pela linguagem, ocorre a circulação dos sentidos, conforme exemplifica a
figura:
Figura 4: Semiose como Processo Comunicativo
31
Disputa de sentidos é abordada nessa pesquisa como relações de choque e processos adaptativos.
71
Fonte: Modelo elaborado pela autora desta análise, com base na semiose de Peirce. Oliveira (2011)
Considerando ainda a visão de Pinto (1995), a semiose é processo infinito que gera,
produz, cria e determina os sentidos. De acordo com Peirce, é processo ininterrupto, que
progride infinitamente em direção ao interpretante final (SANTAELLA, 2001).
Portanto, a semiose é o resultado da produção contínua de interpretantes (imediato,
dinâmico e final) a partir de uma relação de um signo com seu objeto ou de um signo com
outro signo. Ela pode ser, como explica Verón (1975), ternária, social, infinita e histórica.
Ternária porque é sempre mediação, o sentido. Mas não é uma mediação que vai a todas as
direções. Social, infinita e histórica porque envolve a troca de experiências entre sujeitos e
seus saberes para construir significados. Essa significação é permanentemente reconstruída e
assume novos contornos a cada novo experimentar. No sentido de transformação, dinamismo
e complexidade podemos considerar que a semiose se assemelha ao sistema de autopoiése32
,
já que a compreensão do termo revela autoorganização, isto é, dissipa e organiza, desordena e
ordena, cria e recria. Assim, um sistema autopoiético é dinâmico; não implica relação de
linearidade, passividade e conformidade.
Pelo contrário, dissemina a ordem e o caos, ou seja, as mudanças que podem produzir
vários efeitos, isto é, os sentidos. Na circulação dos sentidos, ou seja, de algo que é/será
construído, a semiose pode ser comparada às várias possibilidades autoorganizativas e as suas
complexidades, como um organismo vivo, capaz de se perpetuar. Maturama (2004, p. 79) dá
um bom exemplo sobre o que é um organismo vivo. Segundo ele, na história das
transformações moleculares, o momento de acumulação e diversificação das moléculas
formadas por cadeias de carbono, ou moléculas orgânicas, os átomos de carbono, podem
formar sozinhos e com a participação de muitos outros tipos de átomos, um número ilimitado
de cadeias diferentes em tamanho, ramificação, dobradura e composição. Essa diversidade é
infinita e ela torna possível a existência dos seres vivos, ao permitir a diversidade de reações
moleculares envolvidas nos processos que as produzem. A diversidade possível nas moléculas
orgânicas forma as redes de reações moleculares que produzem os mesmo tipos de moléculas.
Essas redes e interações moleculares se produzem a si mesmas e especificam os próprios
limites. Os seres vivos se caracterizam por sua organização autopoiética, pois se transformam
e se refazem numa ação dinâmica, em contínua rede de interações.
32
Autopoiése é definida por Maturama (2004) como produção contínua de si mesma, ou seja, autogeração.
72
Maturama (2004) explica que, como os seres vivos, todas as coisas podem ser
analisadas como sistemas. Por isso, vemos as organizações como sistemas autoorganizativos.
Nelas sentidos circulam, retroalimentam-se e se transformam. Ao mesmo tempo em que estão
(des)organizados, na complexidade das relações podem se organizar e vice-versa.
Dessa forma, se a semiose acontece a cada novo experimentar, os interpretantes vivem
numa relação constante de produção e construção de sentidos. Em tudo que o indivíduo pensa,
sente, vive, experimenta, argumenta etc., a semiose acontece. É construtora de indagações,
juízos de valor, argumentos, rupturas, disputas, significados, tensionamentos, sentidos etc.; se
(des)organizando, num espaço, ou seja, no contexto no qual se realiza.
A semiose não é processo linear. Pelo contrário, é de circulação, multifacetado, que
pode se desdobrar quando em relação. Nesse processo existe a observação colateral conforme
considera Peirce, que são as competências interpretativas, que podem conter várias
percepções, inclusive aquelas conflitantes dos objetos. Quando determinado sujeito interpreta
uma notícia ele pode ter interpretação diferente, ou mesmo contrária, àquilo que está sendo
veiculado, isto dependerá de suas experiências históricas e dos contextos vivenciados naquele
momento. Assim, acontece o embate de sentidos entre aquilo que ele leu e aquilo que
percebeu, gerando vários outros sentidos. Na visão do teórico, a experiência colateral é aquilo
que o signo ou o objeto denota ou representa, ou se aplica, isto é, seu objeto. É algo aclopado
ao signo, vem de fora para dentro e junta-se a ele, crescendo.
A semiose é processo de geração de signos multidirecionais e simultâneos que,
dependendo do fundamento e do suporte em que o signo se constitui, corresponde a um
complexo sígnico, com infinitas possibilidades de interpretantes que oscilam entre a
conservação e a inovação, ou seja, entre o passado e futuro. Como complexa, a semiose levará
em conta as temporalidades (passado, presente, futuro) no processo comunicativo. Esta
(re)criação produzirá os sentidos. Mas, afinal, o que seriam os sentidos?
3.3 Os sentidos, significados e representações
Sobre sentido, Pinto (2008) destaca que não constituem fatos dados ou
preestabelecidos; pelo contrário, é um vir a ser, um ser de futuro, ou seja, um futuro
significado em contexto.
O sentido é uma direção que a significação pode tomar dependendo das escolhas que
o receptor fizer, dependendo daquilo que o atinge ou que ele quer atingir. O sentido
73
é aquilo que a escolha do receptor vai, de certa forma, fazer, para que os sentidos ou
as significâncias circulem. O sentido é um conceito não linear [...] (PINTO, 2008,
p.83).
Para que o sentido seja construído a partir das percepções deste vir a ser, ele depende
de um contexto, que pode ser a linguagem. A partir de significados colocados em contexto os
sentidos são construídos. Os sentidos podem se apresentar de diversas formas, com diversas
imagens, complexas e contraditórias, que podem ser construídas por meio da linguagem e do
discurso, exercendo papel fundamental nos modos de significação.
A recepção passa a ser entendida como lugar de interpretação, de inferência, pois
pressupõe que determinado sujeito, utilizando os códigos que possui, é capaz de fazer uma
aposta hipotética sobre o significado ali presente numa relação interativa com a mensagem, na
qual o significado não está dado previamente. O sentido seria isto que o sujeito supõe, o devir.
Pinto (2008, p. 84) lembra que as mensagens não são produtos de uma geração espontânea,
mas circulam, tendo vindo de um lugar e querendo ir a outros lugares. Isso acontece em todo
o processo comunicativo.
E para compreender melhor este processo, e como as imagens mentais podem ser
construídas e percebidas, é imprescindível distinguir o que se entende por sentido e
significado. Para Pinto (2008), significado é algo definido, ou seja, palavras dadas fora de um
contexto, de um lugar de acontecimento. “Todo e qualquer significado é anterior a novas
manifestações daquela palavra, ou daquele signo”. (PINTO, 2008, p. 82). Já o sentido
depende de lugar específico, de empiria. Segundo o autor, “em todo processo comunicativo há
fraturas e elas se revelam” (PINTO, 2008, p. 84).
Para o autor, significado é diferente do sentido. Ele explica apresentando a noção de
Umberto Eco, em que o significado estaria para o dicionário como o sentido para a
enciclopédia. O significado é elaborado, e o sentido é maior do que o significado, um vir a
ser, construído a partir do significado. Por isso, o enunciado construído pela organização não
produz sentido. Segundo Pinto (2008, p. 82), “se sentido fosse igual ao significado,
acabaríamos tendo frases como essa que, certamente, ouvimos em muitas organizações:
“Aqui, X quer dizer Y”. Segundo ele, ocorre aí engessamento do processo de semiose, na
contramão do seu conceito, que é geração infinita de sentidos, conforme a semiótica de
Peirce.
As informações contidas em uma imagem são símbolos processados mentalmente, e
que geram novos símbolos mentais, cujos significados são tratados como representações. As
74
representações carregam conhecimentos que geram a produção de outros conhecimentos e
novas formas de uso desse conhecimento, que é o sentido. Como esclarecem Santaella e Nöth
(1998), representar é estar para, ou seja, “algo que é tratado por uma mente como se fosse
aquele outro” (SANTAELLA; NÖTH, 1998, p.17). Para melhor entendimento,
exemplificamos com as considerações dos autores. Segundo eles, “uma palavra representa
algo para o ouvinte; um catavento representa a direção do vento; um advogado representa seu
cliente para o juiz e o júri” (SANTAELLA; NÖTH, 1998).
A partir dos exemplos consideramos que o diretor, servente, porteiro, recepcionista,
assessor de imprensa representam a organização para os seus interlocutores, como a
comunicação organizacional representa o discurso organizacional para os sujeitos da relação.
Ainda por esta abordagem, de acordo com Franchi (2003), a produção de sentidos se dá por
meio das formas, cores, movimentos e intencionalidades, em ação conjunta com a linguagem,
na qual o discurso assume o seu caráter persuasivo e se tornará portador de mensagens
intencionais pela representação que assume pela imagem.
Num contexto específico, como o das organizações, essa circulação de sentidos,
representadas em suas significações e interpretados pelos sujeitos que compõem a relação
semiósica, será denominada semiose organizacional. Termo elaborado a partir deste estudo,
ao retratar a circulação de sentidos no contexto das organizações - lugar onde os sujeitos num
processo de comunicação se relacionam, em geração infinita de sentidos. Nesse lugar, os
sentidos acontecem e se (des)organizam formando argumentos, conceitos, julgamentos,
inferência, aceitação, não aceitação, normas, transformando-se em imagens e, ao longo dos
anos, na reputação.
3.4 Semiose organizacional
Partindo do entendimento de que a semiose é um processo em que alguém se dá conta
de algo mediante uma terceira, numa geração infinita de sentidos, chegamos ao termo semiose
organizacional, lugar de empiria definida, como afirma Pinto (2008), produção, construção e
disputa de sentidos, entre as organizações e os seus interlocutores (sociedade, acionistas,
funcionários, clientes, comunidade).
A semiose organizacional é a circulação dos sentidos no contexto das organizações,
em que os empregados, clientes, fornecedores, acionistas, comunidade, sindicatos se
relacionam, não em perspectiva linear, na qual o produtor (a organização) fala para o receptor
75
(interlocutores) uma mensagem, e este pode interpretá-la ou não, mas em perspectiva de
reflexividade, em que as experiências se confrontam, criam significados e os sentidos se
constroem. Na circulação de sentidos operam a ordem e a desordem, o construir e o
reconstruir, o experimentar e o inovar. O produtor do discurso fala a partir de interação,
experimentando situações diversas e compartilhando saberes conquistados, de acordo com sua
história de vida em sociedade.
A partir dessa interação, a relação no contexto organizacional envolve um constante
estado de ação, reação e ressignificação. Conforme explica Santaella (2002), uma organização
é um complexo de integração de papéis institucionalizados (relações), na qual existem
diferentes tipos de normas, que regulam os processos de trocas sociais. E à luz do que diz a
semiótica de Peirce, com ênfase na categoria da terceiridade (concepção ou mente em si
mesma, que quer dizer sentido de aprendizagem ou mediação), consideramos as organizações
como local onde se processa a semiose.
A semiose organizacional acontece na circulação dos sentidos. Nas relações ocorrem
transformações como consequência desse processo dinâmico: ação, reação e reconstrução,
como exemplifica o modelo.
76
Figura 5: Semiose Organizacional
Fonte: Modelo elaborado pela autora da dissertação (OLIVEIRA, Kátia, 2011).
A organização é produtora e receptora, como também os interlocutores do processo. É
importante ressaltar que isso não acontece na mesma mensagem. Assim, no processo
semiósico das organizações, a ressignificação dos sentidos, num estágio de ação e reação, faz
com que eles circulem, formando a semiose organizacional. A partir deste entendimento, as
categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, onipresentes, não podem ser
claramente separadas deste contexto, pois sempre há a predominância de uma sobre as outras,
considerando o pensamento de Santaella (2002, p. 137-150). Segundo a autora, toda
instituição, pública ou privada, é uma organização social própria das sociedades, que possui
comportamentos, padrões definidos, contínuos e organizados.
Esses padrões envolvem ordenamento e regulamentos definidos e normativos, sendo
fenômenos de terceiridade, são mediações, mas envolvem fenômenos de primeiridade e
secundidade, que se misturam aos da terceiridade, quando necessário. No mesmo pensamento
de Santaella (2002), Verón (1980, p. 195) ressalta que a semiose é investida em toda a forma
de organização social (da ordem do econômico, do político, do cultural, do ritual etc.). “Sem
essa semiose, nenhuma forma de organização social é concebível”. (VERÓN, 1980, p. 196).
Ampliando o entendimento de semiose organizacional, as organizações são
representadas por meio de mensagens simbólicas que dizem o que elas são como organização
e produzem em seus interpretantes imediatos - pelas estratégias enunciativas de legitimidade,
credibilidade e captação – respostas aos estímulos que, ao serem gerados pelos signos, se
manifestam em efeitos emocionais, reativos e lógicos. Esses efeitos afetam os seus
interlocutores naquilo que eles compreendem da essência da organização. Para Santaella, as
interpretações do campo da recepção podem ou não ser de engajamento, de identificação com
os objetivos e valores das organizações. E pelas categorias peirceanas entendemos as
organizações a partir das suas qualidades, dos objetos e da mente.
Nessa noção de organização social, Santaella (2002) considera que em sua forma
estrutural, como terceiridade, as organizações são mediações, signos abstratos como o
pensamento, o que consideramos como ideias, imagens e reputação.
Pensamento deve ser entendido aqui como ideias gerais sobre uma dada instituição
que estão internalizadas na mente de seus membros. Sem ideias gerais
compartilhadas, os membros de uma instituição não perseguiriam objetivos comuns.
Os pensamentos abstratos, que permitem que um grupo de membros institucionais se
torne uma unidade coesa, são responsáveis pela continuidade e permanência de
77
valores, sem os quais uma instituição estaria fadada à morte (SANTAELLA, 2002,
p.145).
As instituições são predominantes fenômenos de terceiridade, que necessariamente
engloba os primeiros e os segundos. De outra forma, a semiose organizacional pode ser
observada pela sua forma interativa, em que por meio dos discursos (orais/verbais) os
relacionamentos são provocados pela instância de produção.
Capazes de representar os seus propósitos para seus membros, em primeiridade, as
organizações manifestam-se por aquilo que metaforicamente Santaella (2002) considera como
“imagem social” (a construção a partir da sua missão, valores, símbolos), mostrando
qualidades, valores e essência.
Em secundidade, encontramos a interação da organização com os interlocutores. Aqui,
conforme esclarece Pinto (1995), “a imagem emerge como se fosse um “como se”, quer dizer,
ela aparece como se fosse algo que é. O ser da coisa desaparece, substituído pela imagem
[...]” (PINTO, 1995, p. 27). Ainda como considera o autor, a representação, aplicada às
organizações, é a representação daquilo que ela é. Santaella (2002) ainda completa esse
entendimento: “A existência real, diária, de uma instituição, em uma dada sociedade, sua
interação e intercâmbios com outras instituições são aspectos de secundidade” (Santaella,
2002, p. 145).
Temos na secundidade a maneira como a organização se apresenta para seus
interlocutores. É aqui que ela traz a existência de quem é, para só assim ganhar significação.
Para isso, utilizará as estratégias discursivas de sua enunciação, construídas pela comunicação
organizacional - legitimidade, credibilidade e captação - no intuito de formar as imagens e
captar os interlocutores. A partir da sua relação com os interlocutores, distribuirá pelas
mensagens os propósitos que os guiarão, aquilo que ela produz como linguagem (símbolo,
índices e ícones), por uma mediação que pode ser a comunicação organizacional. Na
secundidade, haverá o embate dos sentidos, entre aquilo que foi produzido e o que será
interpretado.
Em terceiridade, temos o resultado do que foi produzido na secundidade, isto é, o
resultado da interação entre a organização e seus interlocutores, que se traduz na identidade
organizacional. Pela dinâmica da semiose, os significados serão realizados, e também não
deixarão de estar associados aos aspectos de primeiridade e secundidade.
78
Em terceiridade, a organização será interpretada por seus interlocutores, conforme
explica Santaella (2002), fazendo com que a partir daí o sentido aconteça.
Os aspectos indiciais estão na função social da instituição, no recorte que ela faz do
contexto social: um recorte que pode ser prioritariamente educacional, ou
empresarial, ou religioso, ou político, por exemplo. Delineiam-se nesses recortes as
maneiras pelas quais cada instituição indica o contexto no qual se insere. Aspectos
icônicos dizem respeito à imagem através da qual uma instituição aparece
socialmente, aos valores que defende, ao prestígio que goza, tudo isso relacionado à
qualidade sui-generis de cada instituição. Por serem dominantemente legi-signos
simbólicos, a natureza dos interpretantes que as instituições podem produzir é
argumentativa. Por isso mesmo, as instituições produzem discursos que lhes são
próprios, discursos através dos quais elas são interpretadas (SANTAELLA, 2002, p.
148-149).
Como organismos vivos, em que os sentidos se constroem, as organizações são vistas
pelo viés da interpretação, pois no processo semiósico consideramos a alteridade. Nas
relações entre sujeitos (produção/recepção), o signo estará sempre em relação com o objeto e
o interpretante, que aplicados às categorias peirceanas, produzirão os sentidos. Temos em
Iasbeck e Pereira (2011) a exemplificação dos fenômenos aplicados à percepção dos sujeitos.
Segundo os autores, primeiro ocorre a observação, o que nos afeta; segundo, após a afecção,
ocorre ação deliberada ou reação; e, por último, terceiro, ocorrem o pensamento, a razão.
A primeiridade ou qualidade representa o primeiro estágio da percepção. Para Iasbeck
e Pereira (2011), é a primeira impressão ou sentimento que recebemos das coisas. É quando o
indivíduo constata, sem interpretar. Segundo Peirce, é a categoria que mais se aproxima da
realidade. Nessa fase ocorre um primeiro impacto da interpretação, possibilidade, hipótese.
São as qualidades e sensações que estão no mundo, antes da manifestação da consciência
humana, e que têm relação com qualquer outra coisa. A secundidade ocorre quando um
fenômeno primeiro é relacionado a um segundo. É a reação, força bruta, surpresa, choque,
conflito, fenômenos em sua reação na consciência, em que é possível distinguir. Terceiridade
ocorre quando aquilo que se coloca na relação com um segundo e gera um terceiro,
consequência, um resultado qualquer. “É o estágio da mediação ou da nova representação de
uma ideia que passa a adquirir aspectos de generalização, abstração do fenômeno singular,
podendo resultar numa lei, norma, regra, hábito ou argumento” (IASBECK; PEREIRA, 2011,
p. 14).
Aplicando esse mesmo pensamento ao processo de percepção da organização,
pressupomos que o indivíduo entra em contato com o discurso organizacional, por meio de
manifestações visual, sonora, gustativa, olfativa e tátil. Primeiramente, ele é afetado por uma
79
qualidade expressiva, que é a impressão individual. Apenas esse contato inicial não permite a
fixação de uma imagem em sua mente. Em um segundo momento, o indivíduo se torna
consciente desse estímulo, como afirmam Iasbeck e Pereira (2001), e recebe influência de
experiências e história de vida, para só então formular em sua mente uma imagem do discurso
organizacional que lhe é repassado. A imagem discursiva criada na mente do receptor será
configurada pelos três elementos universais de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Cada experiência ou relacionamento se tornam fonte de significados e de produção de sentido,
em que os interlocutores podem gerar juízos de valor e opiniões.
No quadro abaixo, exemplificamos, para tornar mais fácil o entendimento, os
conceitos relacionados às categorias universais de Peirce, a partir das instâncias da
organização e da interlocução:
Categorias Organização/ discurso Interlocutores
Primeiridade Qualidade do discurso Observação
Imagem percebida
Secundidade Embate entre o discurso
organizacional e a recepção.
O discurso é construído pelas
estratégias enunciativas da
comunicação organizacional -
legitimidade, credibilidade e
captação, e repassado para os
interlocutores.
(Re)ação/conflitos
Imagem construída
Terceiridade Identidade: resultado da
interação entre a produção e
recepção
Mediação/Sentidos
Razão (argumentos)
Os sentidos irão gerar imagens a
partir das opiniões dos
interpretantes
Quadro 2: Categorias Peirceanas, Organização e Interlocução
Modelo elaborado pela autora da dissertação.
(OLIVEIRA, Kátia, 2011).
A semiose organizacional acontece na/pela interação entre a produção e a recepção de
uma organização, gerando circulação de sentidos em seu contexto. Os sentidos construídos
devem ser repensados a partir daquilo que eles significam na construção de juízos e valores,
80
que se constituirão na reputação organizacional. Logo, levantamos a seguinte questão: como
se caracteriza a semiose organizacional?
3.5 Características semiósicas
Para responder a tal questionamento, voltamos ao entendimento de como se processa a
semiose organizacional. Como organismos vivos, as organizações estão corporificadas em
termos históricos, econômicos, políticos e culturais. Nelas estão presentes sujeitos em
interação que produzem efeitos interpretativos de acordo com aquilo que elas projetam, ou
seja, representam sobre sua história, cultura, identidade, pela linguagem em ação, e aquilo que
ele mesmo (o sujeito) interpreta de acordo com sua experiência, história e cultura. Como
explica Santaella (2002), as organizações produzem interpretantes emocionais e
argumentativos, que podem expressar engajamento afetivo na projeção de sua identidade,
como poderá acontecer o contrário.
Iremos além dessa concepção. Para Pinto (2008), os signos são entidades
imprevisíveis, pois nenhum signo fala tudo sobre o seu objeto. Por isso, num processo de
interação organizacional, nem tudo sairá da forma que se deseja, pois há intenção nas
instâncias produtoras de mensagens, como há intenção nas instâncias receptoras dessas
mensagens, na medida em que elas são vítimas de seus próprios discursos, “já que os signos
fazem parte de um repertório que adquirimos ao longo da vida”. (PINTO, 2008, p. 87). Verón
(1998) destaca que quanto mais complexa uma sociedade, tanto mais complexa a semiose que
atravessa. Assim, a produção e a recepção (que para ele é o reconhecimento social do sentido)
são, em cada nível, em cada momento do tempo histórico, em cada zona do funcionamento
social, submetidas a um processo de desregulagem e reajustamento (VERÓN, 1998, p. 201).
A semiose organizacional é formada de interpretantes que argumentam, fazem juízos
de valor e formam opiniões, determinando a reputação de uma organização. Tudo isso é
construído por meio da linguagem, que, conforme nos explica Pinto (2008), é a ponte que
permeia os processos comunicativos. Para ele, a semiose é o princípio fundador da linguagem.
Assim, exercer a linguagem é exercer certo risco de indeterminação, ou seja, construir os
sentidos que permeiam nossas relações e interpretações. E pelas trocas discursivas acontece a
a geração infinita de sentidos no contexto das organizações. Nesse processo, a comunicação
organizacional exerce papel de mediadora, e faz com que os significados cheguem aos
81
interlocutores internos e externos da organização e se transformem em sentidos, que tecerão a
rede infinita da semiose, provocando a produção, construção e disputa deles.
Quando falamos em produção de sentidos33
, queremos dizer que a organização tenta
repassar aos seus interlocutores uma imagem que ela idealiza, construída pelas estratégias
enunciativas, que podem ser mediadas pela comunicação organizacional, por isso existe a
produção dos sentidos. No entanto, ao projetar a construção discursiva, a organização a faz
em forma de significados.
Já a construção de sentidos acontece no campo da recepção, em que os interlocutores
perceberão a imagem idealizada e a associarão às suas percepções de mundo. A disputa de
sentidos acontece nos sistemas dinâmicos, como as organizações, e está relacionada ao
embate entre as instâncias de produção e recepção, numa ação e reação, em que os sentidos
ganham novos contornos, transformando-se em argumentos, juízos de valor e opiniões.
Ainda com bases na tríade proposta por Peirce, para a compreensão de nossa
problemática, a partir de agora não falaremos em signos, mas em discurso. Como as
produções discursivas permeiam a semiose organizacional consideramos que os sentidos
circulam e se refazem no sistema organizacional. Partindo desse olhar, a semiose
organizacional possui características definidas, que, mediadas pela comunicação, contribuirão
para a criação de imagens e para se pensar a reputação. São elas: a) circulação dos sentidos
nas organizações; b) os desvios e instabilidades dos sentidos; e c) os argumentos, juízos de
valor e opiniões dos interlocutores. A triadicidade de elementos que compõem o processo
comunicativo fará com que as organizações se transformem num lugar de semiose
organizacional, como veremos mais detalhadamente:
a) Circulação de sentidos: pelas perspectivas abordadas por este estudo, a circulação
de sentidos é uma das principais características da semiose organizacional, pois
nesse lugar existem produção, construção e disputa, que formam o processo de
semiose. Temos em Verón (1980) as bases que fundamentam a questão. Segundo
ele, todo sistema produtivo envolve “produção, circulação e consumo”, fenômenos
construídos no tecer da rede infinita da semiose. Isso ocorre porque as organizações
se reconstroem pelas interações e relações: aquilo que é produzido circula e é
interpretado. Quando a organização produz o seu discurso, ela elabora mensagens
de sua identidade, na tentativa de formar imagens do discurso emitido. Os sentidos
33
Assunto retratado no primeiro capítulo desta dissertação. Página 43.
82
serão elaborados, mas ao serem repassados para os sujeitos interpretantes, esses
poderão ressignificá-los, e os sentidos circularão. Poderão ser interpretados
diferentemente do que se espera, construindo novos sentidos, que ao serem
repassados novamente para a organização, podem ocasionar outra ressignificação, e
assim sucessivamente. Haverá uma circulação de sentidos infinita, que ora parte da
organização, ora dos interlocutores.
Na circulação de sentidos na/pela ação discursiva da relação entre as instâncias de
produção e recepção, existirão os aspectos da primeiridade, que é a primeira
impressão, de secundidade, ação e reação, e de terceriridade, sentidos construídos e
mediados, que podem se transformar em opiniões. Partindo dessa perspectiva, a
circulação de sentidos será complexa, pois a complexidade envolve, conforme
esclarece Baldissera (2008), “ações, retroações, relações, tensões, interações,
dispersões e a incerteza” (BALDISSERA, 2008, p. 152). Segundo ele, apesar das
certezas, de se ter verdades, é preciso duvidar delas. Os estudos relacionais e da
complexidade mostram que as organizações podem ser vistas como sistemas
complexos em permanente construção e desconstrução, como ainda destaca
Baldissera (2008). Para o autor, o conhecimento complexo procura interpretar a
realidade em seu contexto de tradição-evolução, procurando compreender as teias
que formam relações/interações/ reações. “[...] o sujeito integra (é) o tecido
sociocultural, (re)age sobre ele, com ele e dele, regenerando-o e regenerando-se;
cria, usurpa, resiste, desorganiza e inova; experimenta a incerteza” (BALDISSERA,
2008, p. 159). Portanto, a organização, quando experimenta a incerteza, amplia o
olhar para o sentido e passa a perceber que está tentando produzir sentido para
determinado sujeito, em determinado contexto, que poderá ser ressignificado pelo
mesmo sujeito, por causa da circulação dos sentidos, que são incertos.
Sabe-se que todo projeto ou plano que a organização pretende desenvolver
implicam vários grupos sociais, afetados pelas decisões tomadas. Por isso, é preciso
ampliar as discussões sobre como a organização interage com os seus interlocutores
e como a comunicação se posiciona. Ela não é suficiente para manter o controle,
pois experimenta a incerteza de ser percebida como tal ao criar uma imagem. A
missão, os valores e os objetivos da organização se materializam num jogo de
forças e negociações, com a intenção de promover sua aceitação e reconhecimento.
A incerteza faz com que esses objetivos sejam distorcidos ao serem reconhecidos.
83
Partimos para a segunda característica que constitui a semiose organizacional, que
são os desvios e instabilidades provocados pela circulação de sentidos.
b) Desvios e instabilidades: baseados nos conceitos do paradigma relacional34
em
interface com a semiótica peirceana, temos que por serem circulares, os sentidos
são fluidos, dispersos, difusos, e por isso sofrem desvios e instabilidades. Como
explica Verón (1980), “o aspecto de circulação só pode ser tornado visível na
análise como desvio, precisamente entre os dois conjuntos de traços, os da
produção e o reconhecimento (recepção). O conceito de circulação não é, de fato,
senão o nome desse desvio” (VERÓN, 1980, p.212). É como um avião no tráfego
aéreo que a qualquer momento pode passar por turbulências e instabilidades, por
causa do tempo e outros fatores presentes no espaço. O mesmo acontece com os
sentidos.
Nas organizações, sofrem perturbações e instabilidades durante a formação das
imagens. As turbulências acontecerão no ato da interpretação, ou seja, quando a
produção discursiva for interpretada e ressignificada na relação semiósica:
objeto/signo/interpretante. Segundo Baldissera (2009, p. 131), “os signos não são
entidades acabadas, cristalizadas, mas algo em constante construção e
transformação”. Por isso, a semiose organizacional inclui os “pontos de fuga” da
linguagem produzida, seja ela verbal ou não verbal. Na rede infinita da semiose,
esses desvios podem fugir “ao controle”. Eles não devem ser vistos apenas pelo
aspecto das práticas profissionais, do planejamento e das estratégias
comunicacionais, dentro da perspectiva de que tudo acontece da forma que se
planeja. Por isso, a comunicação organizacional não é mecanismo corretor, como
esclarece Fausto Neto (2008), que funciona como radar.
Pelo contrário, o olhar da organização, pela comunicação no sentido das práticas,
deverá ser feito de forma mais ampla, a partir dos descompassos das interações, das
falhas, perdas e dissensos dos processos discursivos. Ainda em Fausto Neto (2008),
34
Oliveira (2008) compreende o Paradigma Relacional como interação compartilhada que passa por
interferências de várias ordens do grupo social aos quais as pessoas pertencem. De acordo com França (2002), o
processo comunicativo deve ser pensado como processo de troca, ação compartilhada, prática concreta, interação
– e não apenas processo de transmissão de mensagens; os interlocutores devem ser observados como sujeitos de
produção e interpretação de sentidos, mais que simples emissores e receptores; os discursos como formas
simbólicas que trazem as marcas de sua produção, dos sujeitos envolvidos, de seu contexto, e não como
exatamente mensagens. Esse assunto foi abordado no primeiro capítulo desta dissertação, na página 23.
84
recuperamos conceitos de que os sentidos são indefinidos, e que os desvios das
mensagens provocam “efeitos de sentido”, promovendo certa ruptura no contrato
estabelecido pelas estratégias enunciativas (legitimidade, credibilidade e captação),
fazendo com que passem a vigorar a partir de novas condições e argumentos.
Para Fausto Neto (2008, p. 44), existe uma nova lógica, que é o controle, que se faz
aparecer entre a interação das empresas e do consumo, quando dão surgimento aos
“pontos de fuga35
”, redesenho das ofertas pela invenção de novas informações,
produzindo indeterminações e inevitáveis descontinuidades, que são as produções
de sentido.
[...] tal interação assimétrica de desvios no lugar da regularidade enseja horizontes
de interrogação: o medo da organização, ameaçada pela estratégia do outro, a do
inimigo externo definido como concorrente. Ou o desafio para se instalar novos
métodos que possam captar o outro, consumidor, usuário etc. nas próprias errâncias
de suas “estratégias” desviantes (NETO,2008, p. 44).
Segundo o autor, a noção comunicacional aparece definida como mecanismo
corretor, no sentido de sanear a instabilidade e proporcionar a clareza. Ele explica
que essa nova lógica comunicacional, ou seja, de estratégia, promove maior
controle sobre a organização, por meio da integração de ações que garantam a
interação, confiabilidade, novas formas de gestão de pessoas, introduzindo a
comunicação a partir das práticas como mecanismo de regulação, retirando dela os
paradoxos. Fausto Neto (2008) alerta para que as organizações atentem para
incerteza e as defasagens que acontecem no ambiente organizacional e para as
práticas sociais que são “tão bem ajustadas” (NETO, 2008, p. 45), que se
estruturam em lógicas e modelos, cujos fundamentos falam da alta predição, mas
que funcionam como vigilantes. O autor considera como problemática de
comunicação às perdas de regularidades, os dissensos nos processos
tecnosimbólicos, que estruturam e geram os sentidos idealizados no âmbito da vida
das instituições (NETO, 2008, p. 45).
Para ele, os “pontos de fuga”, que são os sentidos, ao contrário do que deveria
acontecer, funcionam como “inimigos externos” ou “internos”, que se instalam no
centro da vida sociossimbólica das organizações, de suas políticas e das interações
antevistas, promovendo rupturas ou mesmo “devastações” em estratégias de
35
Construção e produção de sentidos.
85
produção de vigilância (controle), como operações de sentidos (NETO, 2008, p.
46).
As turbulências dão lugar ao que consideramos como a terceira característica que
constitui a semiose organizacional, que são argumentos, juízos de valor e opiniões
construídas pela circulação de sentidos e seus desvios, que atuam nas formações
das imagens, e consequentemente, na reputação.
c) Argumentos, juízos de valor e opiniões: isso acontecerá a partir do processo de
recepção. Considerando o que falam Iasbeck e Pereira (2011), a recepção percebe,
sente, metaboliza significados reagindo. Essas ações poderão ser encontradas nos
três elementos formais e universais propostos por Peirce, presentes em todos os
fenômenos que se apresentam à percepção e à mente, e já discutidos anteriormente:
primeiridade, secundidade e terceiridade.
Verón (1980) lembra que um sujeito pode deslizar ao longo do tecido infinito da
semiose, composto por malhas triangulares. Como interpretante, o sujeito se aplica
às teorias do pensamento, e como tal, remete-se às modalidades de juízo e do real,
que é vinculado ao primeiro. O juízo para Verón (1980) é ato mental em que o
julgador busca convencer a si mesmo da verdade de sua proposição. Isso se
assemelha a um ato de asserção da proposição, ou ainda, como se comparecêssemos
perante um notário para assumir a responsabilidade formal de nossa verdade.
Os argumentos dos interlocutores serão construídos a partir daquilo que o
interpretante entende e ressignifica mentalmente, produzindo sentidos,
transformando-os em opiniões e construindo a imagem a partir deles. Ao longo dos
anos, as imagens construídas pela percepção, numa síntese mental, se tornariam a
reputação, que, segundo Bueno (2005), é leitura mais aprofundada, mais nítida e
mais intensa de uma organização.
De acordo com o autor, a imagem pode ser formada a partir de um único ou poucos
“momentos de verdade”, que partem do juízo de valor que determinado, ou
determinados interlocutores têm da organização. Para Bueno (2005, p. 20), a
reputação se constrói a partir das opiniões formadas dessa vivência, conhecimentos,
experiências mais fortes, sendo mais difícil alterá-la. Para ele, a reputação
estabelece entre a organização e os seus interlocutores um vínculo difícil de ser
rompido, que abordaremos com mais detalhes no terceiro capítulo. Em nosso
86
entendimento, partem dos juízos de valores realizados pela recepção, transformados
em opiniões positivas ou negativas (BUENO, 2005; IASBECK; PEREIRA, 2011).
O processo mental de interpretação que o indivíduo realiza num ato discursivo está
relacionado ao processo do que imagina do discurso, capaz de transmitir as
sensações e efeitos que advêm dessa relação. Ao captar as imagens, os sentidos
construídos pelas vivências, experiências e valores dos interpretantes são
ressignificados. Evidenciam-se, dessa forma, as imagens mentais que a mente
humana (ou grupo) manifestam como juízo de valor, apreciação, conceito e
opiniões sobre alguém, algo ou alguma coisa (pessoa, instituição, organização,
processo, objeto).
Assim, a semiose organizacional se constitui das relações que acontecem no tecer
da linguagem, provocando a circulação dos sentidos, o desvio deles, argumentos,
juízos de valor e opiniões que a instância de recepção pode construir em seus
relacionamentos com a organização.
No momento em que a organização se posiciona com discursos estratégicos, a
imagem mental se transformaria na imagem desejada pela organização. No entanto,
quando os sentidos aí construídos forem associados às vivências de mundo do
interpretante e ao contexto em que ele está inserido e perpassarem pelas “malhas”
da semiose organizacional provocando desvios, instabilidades e turbulências do ato
discursivo, darão lugar a novos conceitos, valores, argumentos, impressões e
opiniões, estabelecidos na relação. A partir daí, novas imagens serão criadas, e,
consequentemente, a reputação (boa/ruim) será reafirmada. Passamos à interface
que estabelecemos com as teorias de reputação organizacional, com o objetivo de
compreender como as opiniões serão estabelecidas como reputação. Para isso,
abordaremos os conceitos de identidade e imagem, para chegar à reputação que será
tecida na rede infinita da semiose organizacional.
87
4 REPUTAÇÃO: NO “TECER” DA SEMIOSE ORGANIZACIONAL
4.1 Identidade: tensionamentos do “ser organizacional”
Entendemos que a construção da reputação de uma organização é resultado de sua
identidade, diretamente relacionada ao que é interpretado pelos interlocutores de seu processo
comunicativo. Para analisarmos a reputação vamos, inicialmente, discutir alguns conceitos
que norteiam a compreensão da identidade social, base dos estudos da identidade
organizacional e, em seguida, entramos nos conceitos da identidade organizacional.
Segundo Caldas e Wood Jr. (1997), o termo identidade foi dado por Heráclito, que
viveu entre os séculos VI e V a.C. Segundo esse filósofo, “o indivíduo pode, e ao mesmo
tempo não pode, entrar duas vezes no rio, porque apesar de todos os seus constituintes
materiais terem sofrido uma transformação, de certa forma, o rio ainda é o mesmo”
(CALDAS; WOOD JR., 1997, p. 8). Isso faz com que o indivíduo mantenha a essência que
lhe é própria, mesmo que passe por transformações. O pensamento filosófico parte da ideia de
que a identidade está associada à permanência, singularidade e unidade. A partir da
compreensão da filosofia, o mesmo termo “identidade” é aplicado às várias ciências do
conhecimento, como lógica, ciências sociais, psicologia e análise organizacional, o que faz
com que existam várias abordagens possíveis sobre identidade.
Em Iasbeck (1997) encontramos bases para a definição de identidade. Segundo o
autor, o termo está associado à identificação e à personalidade, diferentemente do conceito de
identificar-se, que diz respeito ao reconhecimento de algo ou alguém, como discernível de
outros, sendo, portanto, aspecto reflexivo, que remete à ideia do “nós”. Considerando a
identidade organizacional pela abordagem da interação, num processo de semiose, os dois
conceitos (identidade e identificar-se) caminham juntos, pois a organização deve ser pensada
a partir de quem é como organização e do seu reconhecimento pelos interlocutores. Almeida
(2005) considera a identidade como relacional, pois incorpora várias ramificações e diferentes
abordagens, “interagindo com conceitos de cultura, imagem, reputação, comportamento,
símbolos e construção de sentidos” (ALMEIDA, 2005, p. 32). Antes de falarmos sobre a
identidade organizacional no processo semiósico, apresentaremos algumas abordagens sobre
o tema, que promovem questionamentos. A abordagem da identidade pela perspectiva de
Albert & Wetten (ALBERT; WETTEN apud ALMEIDA, 2005, p. 34), construída a partir da
Teoria Social da Identidade, é associada à centralidade, ao distintivo e ao duradouro.
88
Com a evolução das correntes teóricas referentes ao tema, algumas questões que
norteiam os estudos de identidade organizacional vem sendo questionadas, pois o estudo da
identidade é dinâmico e complexo. A identidade vista a partir dos parâmetros central,
distintivo e duradouro, passa a incluir discussões que questionam sua efemeridade e
fragmentação. Caldas e Wood Jr. (1997) ressaltam que os conceitos de identidade na
contemporaneidade ultrapassam a perspectiva tradicional (central, distintivo e duradouro),
para ser analisada como processo em construção. A questão que se coloca agora é se a
identidade a partir da perspectiva da circulação de sentidos pode ser vista como algo
permanente, pois pela identidade organizacional os significados passam a ganhar sentidos.
De acordo com os autores, “a maioria das teorias tradicionais dos estudos
organizacionais veem as organizações como entidades distintas, ativos mensuráveis, prédios,
estruturas definidas, mão de obra fixa e fronteiras claras” (CALDAS; WOOD JR, 1997, p.
15). Mas, ao contrário desse pensamento, cada vez mais as organizações multiplicam seus
processos de terceirizações: contratação de funcionários temporários, parcerias com clientes,
fornecedores, alianças com concorrentes, fusões e aquisições. É o que nos apresentam Gioia
et al (2000), ao discordarem de Albert e Wetten (1985) nesse ponto específico da identidade,
como algo permanente ao longo do tempo e estável. Almeida (2005) destaca que os autores
concordam com os conceitos de que a identidade incorpora a representação de seus
interlocutores. No entanto, os questionamentos referem-se às representações como mutáveis e
passíveis de interferências do ambiente em que estão inseridas.
Para Gioia et al (2000), as mudanças contemporâneas fazem com que as organizações
fiquem sujeitas à adaptabilidade, pois o cenário atual exige que se (re)construam e repensem o
que é central, duradouro e distintivo. Não excluindo essas características, mas observando-as
a partir da questão daquilo que é fluido, da circularidade dos sentidos e daquilo que é
temporal, ou seja, passado, presente e futuro.
Hoje, alguns estudos apontam para se pensar a identidade como cada vez mais
instável, fluida, flexível e maleável, incorporando aspectos determinantes da
contemporaneidade. Por exemplo, uma instituição educacional religiosa, como a PUC Minas,
possui características que a definem, e são aspectos duradouros: católica, religiosa, ética,
preserva princípios do humanismo, e se distingue de outras instituições de ensino privadas,
nas quais o lucro é visto e reconhecido como principal norteador.
Para se adaptar à modernidade e ser reconhecida como instituição moderna, avançada,
preparada para esse novo tempo, ela passa a incorporar em seus discursos e comunicação
89
alguns aspectos como universidade aberta, com diversidade religiosa, atenta à inclusão social
e a tecnologia.
As organizações deixam de ser sistemas fechados e se tornam permeáveis,
modificando sua identidade. Segundo Almeida (2005), as organizações atuais sofrem
questionamentos constantes decorrentes de um ambiente de permanentes mudanças e
construção de sentidos, colocando em foco como manter o equilíbrio entre aquilo que é
estável e o que é fluido (ALMEIDA, 2005, p. 36).
Hall (1992) enfatiza que a identidade não é estável ou fixa, mas social e
historicamente construída, sujeita a contradições, revisões e mudanças. Em outra perspectiva,
autores como Hatch e Schultz (2000), Gioia e Thomaz (1996) e Gioia et al (2000) consideram
as organizações pela singularidade, isto é, como única identidade, mesmo que seja múltipla,
contraditória ou fragmentada. Segundo Almeida (2005), essa abordagem não contradiz a
anterior, mas reforça os argumentos de heterogeneidade da organização.
Uma organização não pode ser entendida ou analisada como algo homogêneo e
consensado pelos membros da organização. Ela é uma única identidade por se tratar
de uma só organização, mas é vista, vivida e praticada por indivíduos com
percepções, visões e perspectivas distintas, que vão construindo seus significados e
(re)significando-os num ambiente cultural exposto às influências socioeconômicas e
políticas (ALMEIDA, 2005, p. 37-38).
Ampliamos o olhar da identidade pela abordagem de Iasbeck (1997). Ao ver a
identidade como mutável, o autor destaca que ela seria observada como ícone, índice e
símbolo, como nos remete a teoria peirceana. Como si mesma, a identidade é vista pela
qualidade e sensação. Quando surge da confrontação (físico, fenômenos e ideias) é indício das
afinidades, e quando é simbólica, códigos culturais, critério ou paradigma, torna-se hábito.
Então, a identidade organizacional em um primeiro momento é sua afirmação para si mesma;
num segundo, passa a ser identificação, e num terceiro, é reconhecimento.
a) a identidade de uma organização está associada a tudo o que é inerente ao seu
modo de ser, sua conformação, sua razão de existir;
b) a identidade de uma organização é formada pelo seu lugar social, sua missão, pelo
modo de atuação, pelas respostas que fornece ao meio ambiente e pelos insumos que
dele recebe para manter-se integrada, atuante e persistente;
c) a identidade de uma organização se constrói a cada instante de sua existência, na
relação que mantém com os demais sistemas que lhes são afins, permitindo com isso
que ela seja reconhecida e aceita como integrante de um sistema maior que a
contenha (IASBECK, 2004, p. 165-166).
90
Existe a identidade centrada nas intenções e estruturas internas, que lhe são imanentes;
a identidade social, que tem o caráter comunicacional, e a identidade cultural, “apoiada nas
relações das trocas simbólicas, sistêmicas e dinâmicas” (IASBECK, 2004, p. 166).
A partir desse pensamento, buscamos em Almeida (2006, p. 34) a resposta para “quem
somos como organização?”. Segundo a autora, a identidade organizacional é entendida como
a coleção de atributos vistos como específicos da organização por seus membros, não sendo
necessariamente comum a todos, mas sim mantida por grupos específicos, que definem
papéis, símbolos, políticas, regras e procedimentos, formais e informais.
Almeida (2006) destaca que os estudos de identidade, imagem e reputação comprovam
a impossibilidade de se ter uma única definição por identidade organizacional, pois ela recebe
influência não apenas dos membros da organização, mas de outros interlocutores de seu
relacionamento. Isso faz com que a identidade organizacional seja carregada de sentidos e
sujeita a transformações, podendo ser associada à sua personalidade, ao seu processo de
identificação e ao reconhecimento dos vários interlocutores.
Gomes (2005) destaca que a identidade está ligada à personalidade da organização,
umbilicamente associada à sua cultura e ao seu processo global de gestão (filosofia gerencial,
competência técnica ou inovação); inclui em seu portifólio de produtos e serviços a forma de
relacionamento com os seus interlocutores e interesse (fornecedores, acionistas, clientes,
funcionários, imprensa); a sua história e trajetória (social, cultural, política, econômico-
financeira) e ao seu sistema de comunicação (canais de relacionamento, como jornais,
revistas, call centers, sites etc.).
A somatória de todos esses aspectos confere à organização a sua singularidade e a sua
diferenciação de quem é como organização. Por meio dessa dinâmica envolve gestão,
produtos e serviços, comunicação, relacionamentos, que os sentidos serão construídos ao
circularem na rede infinita da semiose organizacional. Ao mesmo tempo, a identidade estará
sujeita às mudanças decorrentes do contexto social em que está inserida.
A identidade de uma organização compreende em grande parte o que ela faz, o que ela
diz, como ela diz ou faz, e como se relaciona com seus interlocutores. E pela perspectiva de
vários autores, Fiol, Gioia, Hatch et al (1998), a identidade passa por um conjunto de
significados continuamente renegociados sobre aquilo que “somos como organização”.
Na nossa compreensão - mesmo que pelas correntes teóricas tradicionais36
do campo
da comunicação, a identidade esteja ligada às representações consistentes e programadas da
36
Teorias que abordam visão linear do processo comunicacional, como o paradigma informacional.
91
organização pelo gerenciamento dos símbolos corporativos, de suas marcas, estrategicamente
planejadas e aplicadas operacionalmente interna e externamente -, pela perspectiva da
semiose organizacional, esse pensamento passa a ser revisto e repensado pela efemeridade
dos sentidos.
Como se trata de processo de circulação de sentidos, a identidade não pode ser vista
apenas como atributo de semelhança com a realidade, que não se modifica com os sentidos
construídos. Pelo contrário, a identidade é “social, historicamente construída, estando sujeita
às contradições, revisões e mudanças‟, conforme esclarece Almeida (2006, p. 34).
De acordo com Iasbeck (1997), autores amparados na perspectiva de Morin (1995),
sobre os princípios diálogico, recursivo e hologramático37
, ao romperem a forma mecanicista
das teorias tradicionais (funcionalistas), consideram que a identidade se manifesta no modo
como essas características agem interna e externamente, em relação aos seus componentes e
ao meio ambiente das organizações (ETKIN; SCHVARTEINS apud IASBECK, 1997, p.172).
Iasbeck (1997) esclarece que são características imanentes às organizações no sentido de que
ela explica a reunião de seus participantes, “suas partes (o todo está nas partes e a parte no
todo), em relações dialógicas (conflituosas e complementares) e recursivas (a identidade de
cada participante cria a identidade da organização que identifica seus participantes)”
(IASBECK, 1997, p. 172).
Para refletir sobre tal concepção, retornamos as discussões de Baldissera (2008), nas
quais as organizações e suas formas de enunciar a identidade fogem da ordem do controle e
do planejado, como considera Iasbeck (1997). Por ser o ambiente das organizações dinâmico,
entre a oferta de sentidos planejados e sua internalização pelos interlocutores, há uma arena de
disputas, na qual atualizam-se estratégias, saberes prévios, desejos, expectativas,
competências e habilidades diversas, não apenas para dizer, mas para desconstruir as
estratégias cognitivas da outra força de relação e (re)apresentar efeitos de sentidos para levar
o interlocutor a internalizá-los da forma desejada, mesmo que nem tudo seja da qualidade do
37 a) o princípio diálogico é aquele segundo o qual a dualidade convive produtivamente no seio da unidade; não
se confunde com a dialética hegeliana, que aspira ao retorno ao uno, mas contenta-se em produzir multiplicidade
de relações complementares;
b) o princípio da recursividade explica por que as organizações sociais são produzidas pelos indivíduos que, por
sua vez apresentam-se como produtos delas: “Um processo recursivo é o processo em que os produtos e efeitos
são, ao mesmo tempo, causas e produtores daquilo que os produziu” (Morin 1995-108);
c) o princípio hologramático prescreve que “não apenas a parte está no todo, mas o todo está nas partes”; nos
exemplos de um holograma, no qual o menor ponto possui a totalidade da informação do objeto representado, e
da estrutura genética do ser humano, em que cada célula contém a totalidade da informação genética, o princípio
hologramático evidencia inquestionável organização biofísica que não pode ser explicada senão pela
recursividade e pelo dialogismo (IASBECK, 2004, p.171).
92
consciente para todas as forças em relação. Segundo Baldissera (2004), a identidade é da
qualidade do híbrido, pois propõe processos dialógicos e contraditórios. Portanto, a identidade
não pode ser fechada, mas transformada pelas/nas relações.
Conforme considera o autor, a identidade sofre influências e se redefine quando
experimenta tensionamentos. No discurso, discussões, posições dos sujeitos, práticas, a
identidade será permanentemente redesenhada, atualizando-se no processo dialógico. O
aspecto relacional da organização possibilita a construção de sentidos e a transforma em
produtora de sentidos (OLIVEIRA, 2003; 2008, LIMA, 2008; BALDISSERA, 2004; 2008).
A identidade organizacional fornecerá a base cognitiva e emocional para os interlocutores,
que estabelecerão ligações e construirão sentidos sobre quem é a organização, pois na
perspectiva da circulação dos sentidos, a ordem produz desordem e a dualidade convive na
unidade organizacional.
Alguns autores considerem que a identidade exerce forte papel na diferenciação e no
posicionamento da organização, e que pelo uso adequado de seu processo de comunicação são
criadas estratégias e instrumentos para gerar alto nível de conscientização sobre o que a
organização deseja expressar aos grupos internos ou externos de seu relacionamento
(BALMER; STOTVIG, 1997; ANSPACH, 1983; GRAY; SMELTZER, 1985; DOWNEY,
1986, 1987). Na semiose organizacional, não se pode olhar a identidade na perspectiva
exclusiva da intencionalidade do que a organização deseja projetar, e sim pensá-la a partir das
interações em que os sentidos podem ou não ser criados. As estratégias de comunicação da
organização são apenas parte de um processo de interação.
Nesse pensamento, as organizações sociais são produzidas pelos indivíduos e são
produtoras deles. A identidade está constantemente sujeita às mudanças decorrentes da
semiose organizacional, apesar de continuar a apresentar sua essência.
Iasbeck (1997) lembra que a identidade “é circunstancial, motivada e motivadora,
emergente e fugaz, dinâmica e nem sempre previsível” (IASBECK, 1997, p. 183). Ela
envolve sentidos produzidos, mesmo que sejam repassados como significados para os
interlocutores. Portanto, os mecanismos de administração da identidade são pautados na
indução, que oferecerão pontos de contatos e afinidades de interesses. Ainda sob esse olhar,
ao perceber a identidade como parte da interação o autor esclarece:
A identidade vai atuar nos espaços do consenso instável da comunicação humana: os
espaços da afinidade. Projetada em códigos, interesses, intenções, motivações,
objetivos, metas ou finalidades, sensações estéticas, que funcionam como produtores
93
de paradigmas identitários, a afinidade é, ao mesmo tempo, o ponto de partida e de
chegada para o encontro e para a interação comunicativa (IASBECK,1997, p. 186).
Como a afinidade é característica comum da vida cotidiana, a afirmação da identidade
está diretamente ligada ao encontro, à comunicação, às situações de reconhecimento do
indivíduo, no convívio social. A identidade organizacional será construída no processo de
inter-relação entre a organização e os interlocutores que a compõem. Nessa inter-relação
sempre há acréscimos na construção da identidade organizacional, na medida em que os
sentidos circularem e as percepções dos indivíduos se alterarem. Consideramos que a
identidade organizacional é composta de aspectos subjetivos que advêm das experiências dos
indivíduos, e envolve a cultura e os significados.
4.1.1 Inter-relação: identidade e cultura
A identidade está intrinsecamente ligada à cultura e envolve repertórios individuais e
coletivos, originários das vivências humanas e das construções simbólicas e imaginárias do
indivíduo. A partir do que conceituam Schulz et al (2000) e Alvesson (1994), Almeida
esclarece:
Cultu Cultura e identidade são conceitos inter-relacionados e interdependentes, na
medida em que um necessita do outro como fonte de significados. A cultura,
através dos mitos, ritos, histórias e visões de mundo, proporciona as bases
para a construção de identidades e, por sua vez, entender a identidade é uma
das maneiras de construir sentido sobre o que constitui a cultura nas
organizações (ALMEIDA, 2006, p. 35).
O conceito de cultura, de modo amplo, na visão de Hatch e Schutz (2000, p. 20), “está
relacionado aos aspectos da vida cotidiana da organização, onde os sentidos, valores e
pressupostos são comunicados por meio do comportamento e das interpretações dos
interlocutores da organização, juntamente com os artefatos e símbolos”. A cultura
contextualizará a identidade, os discursos identitários podendo mudar dentro dos contextos
estabelecidos. Hatch e Schultz (2000) destacam ainda que “a identidade de uma organização é
o aspecto de produção de sentido incrustado culturalmente e autofocalizado” (HATCH;
SCHULTZ, 2000, p. 19). Por isso, a cultura sofre influências da identidade organizacional.
Por sua vez, a identidade sofre influências da cultura. Pela abordagem dada à semiose
94
organizacional, se a cultura muda, a identidade pode mudar, e assim por diante, em relação
infinita de sentidos (IASBECK, 1997).
Nas organizações, conforme esclarece Iasbeck (1997), a cultura se manifesta pelo
discurso, no qual produz os modos de dizer, pensar e hierarquizar. Ela “assimila, expulsa e
sedimenta ideologias, segundo afinidades e diferenças suportáveis ou intoleráveis”
(IASBECK, 1997, p. 202). Schultz e Hatch (2000) ressaltam que a cultura fornece o contexto
e contribui para a produção do material simbólico na construção da identidade organizacional.
A cultura nas organizações seria definida como conjunto de padrões/normas que dá o eixo
necessário à união dos interlocutores da organização em torno de objetivos, ações e
comportamentos. No entanto, Iasbeck (1997) adverte:
[...] é preciso considerar a tendência das culturas a se organizarem a partir de um
núcleo, que irradia um certo “comando” sobre todos aqueles que dela participam. As
emanações da ordem parecem vigorar com mais tranquilidade nas zonas nucleares e
a se diluírem em “desobediências” nas camadas periféricas e fronteiriças. Tal
fenômeno, segundo Harry Pross, explica por que é nas fronteiras (zonas de
passagem entre um sistema e outro, entre a cultura e a não cultura) que a vigilância
mais se adensa. No núcleo das culturas concentram-se não apenas os valores
substanciais que coordenam a rede simbólica do sistema, como também os guardiões
desses valores, que exercem as funções de governo. Assim, a Igreja Católica,
entendida como organização, tem seus valores nucleares consubstanciado em textos
chave autorizados e em legislações que os revisam, confirmam e ampliam a partir de
um centro temporal e espacialmente específico e localizável. Da mesma forma, o
Exército possui seu comando geral, o Sistema Escolar é coordenado pelo Estado, as
empresas multinacionais são controladas por suas sedes e o Banco do Brasil é
administrado pela sua direção geral situada no centro do poder político, em Brasília
(IASBECK, 1997, p. 202).
As organizações possuem núcleos de controle, ou de vigilância, que refletirão aquilo
que a organização é ou deseja - forma cultural de se manifestar. No entanto, elas não podem
“legislar sobre o imaginário dos participantes deste sistema, muito embora os administradores
acreditem que são capazes de alterar crenças e valores por decreto” (IASBECK, 1997, p.
202). Segundo o autor, na visão tradicional, a alta gerência simplifica as relações humanas, ao
acreditar que pode intervir na identidade a partir do momento em que trabalha para tentar
gerar controle e interferir no processo produtivo, optando pela coerção, cumplicidade e
exclusão dos fatores indesejáveis. Pelas relações intersistêmicas, procura dissimular os
aspectos indesejáveis da cultura organizacional, centrando objetivos nos resultados. Tentam,
enfim, ocultar os problemas.
Os administradores não são capacitados para lidar com a complexidade, não
desenvolvem o senso crítico, não estão aptos a perceber contribuições do acaso, do
não planejado, do não previsto, mesmo que sejam mais enriquecedoras (como não é
95
raro acontecer) do que a fidelidade rigorosa a metas e objetivos dos planejamentos
estratégicos. São, portanto, atropelados naquilo que elegem como de mais caro: o
atingimento dos resultados. A “realidade” sempre teima em desobedecer às
determinações “superiores”; quando não é possível formatá-la aos padrões
administráveis, torna-se simplesmente ignorada, relegada ao território da
indiferença. Nesse caso, uma indiferença voluntária, um “não querer ver”, muito
embora ela insista em manifestar-se como diferença (IASBECK, 1997, p. 209).
Perceber a cultura a partir dos interlocutores, como pensam, agem e consideram a
organização, contribui para a construção da identidade na semiose organizacional.
A partir do conhecimento de como os conceitos de cultura e identidade estão inter-
relacionados, retornamos as discussões sobre identidade, considerando o que Baldissera
(2008) afirma sobre as múltiplas identificações possíveis de uma organização. Essas
identificações partem dos vários interlocutores que compõem a organização e formam a
identidade organizacional, construindo sentidos, tensionados e inter-relacionados de modo a
retroagir uns sobre os outros, perturbando-se, desorganizando-se, reorganizando-se.
Entendemos que a organização possui uma identidade que será mutável, no momento
em que acontecer o reconhecimento, isto é, em que for percebida pelos diversos
interlocutores, conforme explica Gioia (1998). O autor destaca que pela complexidade das
organizações, os indivíduos as percebem de várias formas. E explica que diferentemente do
indivíduo, que apresenta identidades múltiplas conforme o gênero, raça, papel, as
organizações manifestam sua multiplicidade de acordo com os valores essenciais, práticas,
produtos e serviços, o que refletirá na percepção e construção dos sentidos.
Iasbeck (1997) destaca que as várias correntes teóricas tradicionais evidenciam
conflitos gerados pela impossibilidade de controlar os fenômenos que envolvem a identidade
organizacional. Segundo ele, a visão simplista, reducionista e sistematizada mostra-se
inoperante perante a complexidade dos sentidos, que não partem de receitas prontas. Por isso,
para o autor, é essencial que as organizações sejam revistas pela perspectiva da semiose,
como “conjuntos articulados de representações nos quais indivíduos compartilham em
conflito sentidos de uma cultura projetada em dinâmica e constante transformação”
(IASBECK, 1997, p. 203-204).
Com base nos argumentos apresentados, entender a identidade na semiose
organizacional é lidar com a adversidade e incerteza, ou seja, não se fixar em “tábuas de
salvação”, como destaca Iasbeck (1997), procurar conviver com os paradoxos. Segundo o
autor, a identidade envolve a complexidade e uma intervenção cultural, abrindo “portas e
janelas” para rever os riscos e considerá-los no processo de comunicação. É imprescindível
96
ouvir os interlocutores, observar as afinidades e os polos contraditórios, buscar espaços
comuns e lidar com as diferenças. A administração da identidade caminha por um
[...] cuidadoso monitoramento dos vetores das diversas imagens aferidas [...] das
tendências que norteiam a demanda pelos produtos e serviços da empresa, dos
valores da comunidade em que se dão os atos comerciais, dos processos sociais e
políticos que pautam as relações econômicas, do repertório de signos acionados pelo
público e que forma um ambiente mais ou menos familiar de reconhecimento, dentre
outros” (IASBECK,1997, p. 223).
Mesmo diante das instabilidades e dos riscos, a partir de um novo olhar - considerando
os fenômenos cognitivos, interacionais e culturais -, é possível compreender a identidade
organizacional. Portanto, a partir das abordagens delineadas sobre identidade, como acontece
com a cultura, não há como separar identidade organizacional de imagem, já que ambas estão
inter-relacionadas, quando a primeira recebe influência não apenas de membros das
organizações, mas dos demais interlocutores.
Como destaca Gioia (1998), as organizações mudam rapidamente, por causa das
transformações em seu ambiente organizacional. Novas características contextuais e
competitivas aparecem e substituem as antigas, principalmente com o avanço tecnológico, a
internet, as mudanças no comportamento da recepção. Percebe-se que na cadeia de
comunicação entre a organização e seus interlocutores se constrói a imagem organizacional,
reflexo da identidade organizacional e de todas as complexidades e sentidos que envolvem a
sua construção.
A organização possui identidade que expressa a sua essência e se constrói na semiose
organizacional dos jogos de relacionamentos. Por isso, para entender “como somos vistos?”
(imagem), ou seja, como as organizações são percebidas pelos interlocutores, deve-se
perceber as transformações decorrentes de “quem somos como organização?” (identidade).
4.2 Imagem: como somos vistos?
A imagem que se constrói na semiose organizacional é formada pelas percepções dos
indivíduos, a partir da representação da identidade. Para ampliar as discussões sobre imagem,
como ela é idealizada, construída, modificada e mantida no tempo e nos espaços
organizacionais, buscamos várias abordagens e autores que ajudam a compreender melhor sua
construção. Segundo Iasbeck (1997, p. 150), a partir do estudo da imagem, encontramos
97
pistas para examinar criticamente a produção do discurso e a composição dos textos, pois a
imagem é realizada na alteridade.
É importante ressaltar que a partir dos conceitos discutidos no primeiro capítulo, e
segundo a afirmação de Baldissera (2008, p. 144), em que “tudo é imagem”, nos ateremos a
uma especificidade do conceito de imagem, aquela que se forma na mente do receptor a partir
do seu contato com o discurso organizacional e associações que a mente faz, por meio das
diversas identificações de cada indivíduo, considerando o processo de semiose discutido no
segundo capítulo. Para discorrer sobre tal concepção, e em meio às tantas possibilidades,
temos em Franchi (2003) e Wolff (2005) as bases conceituais.
Para Franchi (2003), a primazia da imagem se dá pela via da percepção por meio dos
sentidos. Segundo o autor, a imagem está presente na comunicação do sujeito com seu mundo
interior e exterior, como objeto representativo desse mundo. Porém, toda representação visual
e mental da imagem provém de um ato perceptivo dela com o signo38
, presente na ação
comunicativa. Franchi (2003) destaca que a imagem é objeto sígnico que afeta o sujeito a
partir do ato perceptivo, persuadindo e construindo sentidos. O autor enfatiza que a imagem
visual é a materialização de um trabalho cognitivo operado sob imagens mentais, como a
imagem representada mentalmente, e tem origem em um mundo concreto, do real, de imagens
materiais de um universo visual.
Wolff (2005) igualmente descreve a imagem como representação do ausente. Para ele,
representa qualquer coisa não presente. A imagem pode se tornar presente por meio da
imaginação e da linguagem. Por meio da cognição construímos imagens mentais e fazemos
com que os sentidos cheguem às imagens e o sentido até nós. No processo cognitivo, a
imagem, material ou imaterial, visual ou mental, natural ou fabricada, sempre se assemelha a
algo (WOLFF apud JOLY, 2002, p. 38), isto é, um signo. A imagem é algo além do objeto
em si por meio de um processo de semelhança, ela representa. No contexto da semiótica, é
forma de representação sígnica que exerce papel fundamental nos modos de significação. A
imagem é matriz significante e de significação – causa e efeito de todo e qualquer processo
comunicativo (FRANCHI, 2003).
Considerando a “imagem” a partir do conceito de “imagem”, conforme esclarece
Iasbeck (1997), ela representa algo fora dela, “sendo um signo acrescido por associação
mental de outras imagens, valores, juízos, e que se dá como matéria-prima à interpretação, ao
38
Um signo é qualquer coisa que determina qualquer outra coisa (seu interpretante) a se referir a um objeto ao
qual ele mesmo se refere (seu objeto) do mesmo modo, o interpretante se tornando por sua vez um signo, e assim
por diante, ad infinitum (CP2,303, apud Queiroz, 2004, p.48). Assunto abordado no capítulo 2, página 64.
98
pensamento” (IASBECK, 1997, p. 94). O autor, a partir dos conceitos de W. F. J. Mitchell
(1986) lembra
[...] imagens são tanto representações visuais (pinturas, esculturas, fotografias,
padrões, hologramas) quanto as representações (memória, imaginários) verbais ou
literárias (poemas, romances, relatos, crônicas) e gráficas, entendendo o homem
como “uma imagem e um produtor de imagens” (IASBECK, 1997, p. 94).
Conforme exemplifica a representação gráfica39
:
Gráfica Óticas Perceptuais Mentais Verbais
Pintura
Estátua
Designers
Espelhadas
Projeções
Fotográficas
Dados sensórios
Espécie
Aparência
Sonhos
Lembranças
Ideias
Fantasmas
Metáforas
Descrições
Quadro 3: Representações da Imagem segundo W. J. T. Mitchel
Fonte: Iasbeck, 1995, p.95
Ainda considerando o autor, as imagens perceptuais nos chegam por meio dos órgãos
do sentido e refletem informações acerca de dado objeto pelo fenômeno da observação. As
imagens mentais, oriundas dos sonhos, lembranças, ideias e fantasmas estão ligadas às
perceptuais, mas não têm compromisso de fidelidade com a primeira observação. Para
Iasbeck (1997), “a imagem mental é aquela formada pelo consumidor à vista dos anúncios
publicitários, de sua experiência pessoal de atendimento numa empresa, num determinado
tempo e lugar, dos diversos estímulos visuais, acústicos, olfativos, táteis e – dependendo do
caso – gustativos de um mesmo emissor” (IASBECK, 1997, p. 3). A partir do que o autor
considera complexidade dos estímulos na mente do receptor, a imagem mental seria entendida
por meio do que Peirce considera como ícones, índices e símbolos.
39
O quadro da tabela 2 de Mitchel é considerado por Iasbeck (1997) como útil para discernir grupos
identificáveis de interlocutores que formam imagens diferentes sobre organizações; no entanto, o autor
considera algumas reduções que toda caracterização provoca, na medida em que simplifica as diferenças e só
considera as interpretações entre os boxes quando essas categorias compõem determinado sistema. Lúcia
Santaella critica a teoria de Mitchel, lembrando que seu ponto de partida é questionável: “Não são os discursos
institucionais que determinam as diferenças entre os tipos de imagem. É certo que cada tipo é estudado no
interior de uma dada disciplina. Nem por isso se pode negar que as diferenças estão, de fato, inscritas na própria
natureza da imagem em virtude do canal em que cada um desses tipos se corporifica” (apud Iasbeck, 1997, p.95-
96, in “Palavra, Imagem e Enigmas”, Revista USP, vol. 16 jan/fev 93, pp. 38-39).
99
Essa visão, no nosso entendimento, dá aportes que contemplam a construção dos
sentidos. Como ícones, as imagens são semelhantes às características e qualidades, em que os
objetos têm semelhanças entre si. A iconicidade, conforme explica Iasbeck (1997), depende
dos julgamentos, pois todo ato de percepção (recepção) é construção de sentido, porque não
reproduz com fidelidade os dados discursivos.
Com isso, a semiose processará uma ressignificação da realidade, a representação, na
mente daquele que interpreta, ancorando-se em afinidades seletivas ocasionadas pelos
sentidos e de “discriminadas necessidades das pessoas e as contingências do tempo e do
espaço em que se dão” (IASBECK, 1997, p. 98). No campo do ícone, conforme considera o
autor, está a mais forte de todas as impressões, as provocadas pelos discursos organizacionais
na mente de quem os recebe, e tende a ser “fugaz, efêmera, vulnerável a alterações de toda
ordem (humores, condições de tempo, ambientes e contextos, relações extratextuais etc.)”
(IASBECK, 1997, p. 3).
Nesses termos, pressupomos que imagens organizacionais se dão pelas associações
mentais representadas em determinado contexto e de acordo com o passado, presente e futuro.
Mas percebe-se que as imagens mentais não são apenas representadas pelo seu objeto (ícone),
mas frutos da experiência que o indivíduo tem com a emissão. No caso das organizações, são
informações acumuladas e que se juntam ao discurso organizacional, dando a ela várias
qualidades que farão que tenham uma primeira imagem.
Logo, as imagens são ícones e índices, ligados à ação e reação. Iasbeck (1997)
considera como base das representações: “um trovão é indício, um sinal, um aviso de chuva,
uma fisionomia fechada é sinal de seriedade ou de que algo não vai bem, um sorriso é índice
de bom humor, de alegria, histeria ou de simpatia, e assim por diante” (IASBECK, 1997, p.
99). O índice se conecta à memória do receptor, produzindo inúmeros fatores que não revelam
todo o contexto da experiência, fazendo com que ação e reação sejam sensações e qualidades.
O símbolo, que representa lei, normas, regulamentos e tudo aquilo que determina as
nossas ações, somente serão possíveis se forem considerados fatores culturais, temporais,
contextuais e assim por diante. O símbolo, então, completa o sentimento, a vontade e o
conhecimento. Ele, portanto, será sempre complexo, múltiplo e constante, porque envolve o
sentido, ou seja, o interpretante, fazendo com que a imagem seja desenhada na mente do
interlocutor e forme atributos (qualidades) desejáveis e rejeitáveis, e tudo aquilo referente ao
julgamento (IASBECK, 1997).
100
O símbolo, em Peirce, é a dimensão do hábito, da lei, das normas, das regularidades.
Ele representa seu objeto pela arbitrariedade das convenções e pode ser assim
compartilhado por seus interpretantes nas relações culturais. Os códigos são
símbolos porque não podem funcionar senão por acordo, pelo exercício da
habitualidade; as crenças não são fé no improvável, mas hábitos mentais que
determinam nossas ações. Os valores de um grupo social, político, econômico
resultam sempre de suas crenças, e a dinâmica das mudanças nesse acervo está
relacionada com o maior ou menor estímulo à instauração do exercício da dúvida
(IASBECK, 2007, p. 14).
Ainda com base em Peirce, o caráter simbólico do signo pode ser visto na
determinante presença do interpretante, que faz do símbolo um signo completo, que
contempla o ícone e o índice (IASBECK, 2007). A imagem abarcará diversas interpretações,
construindo vários sentidos, e o símbolo (lei, norma e regulamentos) compreenderá, além das
qualidades e sensações (ícones), ação e reação (índices). Nas organizações, a experiência terá
forte influência na imagem, pois será construída de acordo com as vivências dos
interlocutores associadas aos estímulos que estes recebem de sua identidade (conhecimento,
funcionamento, história, desempenho, metas, missões), transformando-se em hábitos.
Franchi (2003) considera que os efeitos da imagem sobre o receptor vão muito além de
suas relações com a linguagem, do inconsciente e da subjetividade humana. Iasbeck (2010)
completa o pensamento ao ressaltar que “o signo da terceiridade desloca nossa atenção para
seus interpretantes, desviando-se de suas próprias determinações. E por isso nos parece o mais
adequado para explicar a imagem das empresas, tal como é entendida no ambiente das
organizações” (IASBECK, 2010, p. 14).
O sentido que constrói a imagem chega ao receptor somente quando o mesmo é capaz
de o constituir.
Esta atividade relacional imagem/mente/imagem – é representada por um sistema
dinâmico que tem sua origem no sentido da visão, de onde os dados e informações
imagéticas são transmitidos à mente que, pela mediação da linguagem e de fatores
indiossincráticos – experiência, visão de mundo, cultura etc. – se estabelecem os
sentidos e todo dinamismo do processo cognitivo pelo qual percebemos e reagimos
às coisas em torno do nosso mundo exterior, e somos afetados esteticamente
(FRANCHI, 2003, p. 24).
Assim, pela produção cultural, como conceitos, valores, ideias, crenças, a imagem será
uma síntese integradora, que acumula aspectos cognitivos, afetivos, valorativos, e expressam
a “leitura”, ainda que muitas vezes superficial, incompleta ou equivocada, da identidade
organizacional. As imagens que um sujeito ou grupo têm da organização serão várias, pois as
experiências, vivências e informações igualmente o são.
101
Levando em conta os conceitos apresentados sobre imagem mental, afirmamos que
essas imagens serão individuais ou coletivas, como Almeida (2006) considera. Segundo a
autora, a partir da visão de Berens (2004), primeiramente a imagem é percepção e não atributo
físico; depois é visão do todo, “uma fotografia”, ao invés de coleção de diversas
características, e terceiro, diferentes grupos de pessoas perceberiam diferentes atributos
(ALMEIDA, 2006, p. 38). Nessa abordagem, para a autora, no nível individual, a imagem é
percepção que a pessoa tem da organização, mas algumas vezes pode ser compartilhada por
um grupo de pessoas, como fenômeno coletivo. A imagem é fator importante para a produção
e recepção. Para produção, é pré-condição ao estabelecimento das relações com os diversos
interlocutores. Para a recepção, a imagem é efeito de verdade sobre o objeto em termos que
podem ser simplificados em bom ou ruim, utilizável ou não (VAN RIEL, 1995).
Na percepção, temos a interação daquilo que povoa o imaginário dos interlocutores
(cultura, experiência, influência de terceiros, mídia, o boca a boca, a família) com o que a
organização quer apresentar. Então, as percepções do discurso, isto é, as imagens construídas
na semiose organizacional, podem ser variadas e mutáveis, pois as determinações e
indeterminações discursivas são sujeitas à interferência de novos signos presentes nas
circunstâncias e na memória do indivíduo que percebe (IASBECK; PEREIRA, 2011).
Consideramos que a imagem está associada à complexidade de sentidos em circulação
que permeiam o contexto organizacional. No processo dialógico, segundo Iasbeck (1997), a
instabilidade imagética acontece pelas divergências na comunicação, que se referem às
escolhas dos veículos, ao espaço temporal e sua abrangência, à linguagem cultural, às
afinidades e às indiferenças do processo de ação e reação, provocando uma complexidade de
sentidos, conforme as características apontadas por este estudo no segundo capítulo, como
instabilidades e desvios que provêm das criações simbólicas dos interlocutores.
Como exemplo, citamos fatos ocorridos no cotidiano de certas organizações que
causam instabilidades nas estratégias discursivas40
, modificando as percepções imagéticas da
recepção: os atendimentos demorados e pouco informativos das centrais telefônicas; as panes
elétricas e tecnológicas, fazendo com que pessoas fiquem insatisfeitas com os serviços
oferecidos; as incansáveis filas de bancos e a demora no atendimento; a compra de imóveis e
a não entrega no prazo estabelecido pelo contrato de compra e venda; as endemias da saúde
pública e a falta de informação e ação do governo; a falta de médicos nos postos de saúde e
40
Ver capítulo 1 desta dissertação: estratégias discursivas da organização, página 46 .
102
assim sucessivamente. Situações que criam ruptura no processo comunicativo pelas
impossibilidades das certezas.
A imagem negativa ou positiva surgirá na mente do receptor a partir do seu contato
com o discurso organizacional, em confronto com os fenômenos que acontecem à sua volta,
provocando a construção de sentidos, instáveis e mutáveis, pois as informações são captadas
pelos órgãos do sentido e percebidas, conforme explica Iasbeck (1997), segundo a intensidade
dos estímulos externos e das necessidades internas individuais ou coletivas.
À imagem mental agrega estímulos recebidos e não administráveis, que ao se
mesclarem com as informações do receptor podem se transformar em impressões. Segundo
Almeida (2006), a imagem pode ser considerada impressão subjetiva, como um retrato,
gravado em nossa mente por meio da experiência e sensações, não sendo diretamente o
resultado da experiência atual. É projetada por meio de um processo em que novas dimensões
se agregam, reproduzindo novas imagens, mais ou menos estáveis. Ao ampliar o conceito, a
autora considera que
“imagem é um conjunto de significados pelo qual o objeto é conhecido e que o
indivíduo utiliza para descrevê-lo, relembrá-lo e com ele se relacionar. É o resultado
da interação com as crenças, ideias, sentimentos e impressões do indivíduo sobre o
objeto, sendo que o objeto pode ser substituído por marca ou organização”
(ALMEIDA, 2006, p. 38).
As impressões da recepção são boas ou más, de acordo com os sentidos construídos na
semiose organizacional. A partir das discussões realizadas até então, lembramos que a
representação da realidade que chega à mente passa por julgamentos. Assim, o juízo forma-se
no primeiro ato perceptivo, pois estamos sujeitos às opiniões anteriores à nossa escolha. De
acordo com Iasbeck (1997), a impressão refere-se ao juízo formado pelo observador sobre o
objeto; a opinião é algo mais, que vai além da impressão, o que envolve o argumento.
Baldissera (2004), concordando com Iasbeck (1997), destaca que a noção de opinião
contemplada pela imagem diz respeito às posições e decisões que abarcam a natureza do
caráter (personalidade) de uma pessoa ou organização. Opinião e juízo (impressão) são
determinantes para entender a imagem, ou as imagens, a partir da recepção, ou seja, como
somos percebidos?
Dito de outra forma, a imagem é construída na alteridade, apesar dos desejos e
estratégias da produção, pois a representação da identidade (eu) parte de uma construção
mental realizada pelo interlocutor. No processo semiósico, as imagens circularão na mente do
interlocutor, transformando e desconstruindo sentidos, independentemente do repertório da
103
linguagem e da “competência em admitir e atribuir significação” (BALDISSERA, 2008, p.
163).
Voltando à concepção do autor de que “tudo é imagem”, lembramos que pessoas,
organizações e nações, estão sempre em busca de imagem. Buscam construir uma imagem
notória, que dê visibilidade, distintividade, credibilidade e outros atributos.
A sociedade contemporânea valoriza cada vez mais a imagem, e por reconhecer que a
mídia potencializa essa imagem, as organizações preocupam-se em buscar a visibilidade
midiática para se fazerem reconhecidas. Baldissera (2008) lembra que até bem pouco tempo,
as organizações não eram tão preocupadas em produzir imagens e não se preocupavam em
saber como eram percebidas. No entanto, com a mudança vivenciada pela
contemporaneidade, passaram a se importar em como são percebidas, apreciadas, julgadas e
valorizadas. Isso passou a ser um diferencial e fonte econômica. Por exemplo, ampliaram-se
o investimento em propaganda, ações de marketing, responsabilidade social, sustentabilidade
e meio ambiente.
O que nos leva ao entendimento de que a construção simbólica da imagem acontece na
alteridade (recepção) mediante permanentes tensões. Considerando o que Iasbeck (2010)
destaca, a imagem se forma na mente do receptor com base em estímulos povoados por
sensações e qualidades, e a reputação é formada por juízos de caráter lógico e alicerçada em
argumentos, opiniões e mesmo convicções e crenças consolidadas. Baldissera (2008) ressalta
que as percepções (imagens) podem contemplar a noção de reputação, pois implicam apreciar,
considerar, ajuizar, sentenciar e sancionar.
No processo de semiose organizacional, as imagens são construídas a partir dos
sentidos postos em circulação, formando a reputação pelos juízos e opiniões, que partem da
alteridade. Logo, a semiose construirá a reputação, que será um resultado dinâmico do
sentido, no qual os indivíduos podem, por meio das impressões, avaliar, considerar,
conceituar e formar opiniões.
Na circulação de sentidos, consideramos que a reputação será construída e
reconstruída, mesmo que consolidada, por causa do movimento constante dos sentidos, que
promovem desvios, instabilidades, juízos de valor (impressões) e opiniões na interpretação
mental de um indivíduo. Na semiose organizacional, consideramos que a reputação não é
questão “de verdade ou coerência. Nem de transparência ou de ética. Tampouco reduzida à
comunicação” (BALDISSERA, 2008, p. 199). Ela é fruto da circulação de sentidos, num
processo de produção, construção e disputa destes, e será construída na e sobre a significação
104
que resulta da complexidade relacional entre as identidades (materiais, fantasiosas, virtuais ou
oníricas) e suas alteridades.
Com base no que as autoras Hatch e Schltz (200) acreditam, a identidade e imagem
são entendidas na perspectiva de um fenômeno complexo, influenciado pela organização, e as
visões internas e externas dos interlocutores, que são móveis, fluidas e em constante
reconstrução.
A semiose organizacional remete ainda ao conceito de reputação, que se refere à
construção de diversas imagens ao longo dos anos; a representação coletiva de ações e
resultados da organização percebidos pelos seus interlocutores internos e externos. Uma
construção das experiências que estes têm com/na e pela organização e de sua relação com a
sociedade (ALMEIDA, 2005; FROMBRUN; SHANLEY, 1990).
4.3 Reputação na semiose organizacional
Segundo Vance e Ângelo (2007), a reputação vem sendo abordada como tema de
diversos estudos acadêmicos, e foi intensificada a partir dos anos 90, por meio de autores de
diferentes áreas do conhecimento, como marketing, administração, comunicação. A
psicologia, por exemplo, conforme explicam Fombrun e Van Riel (2007), considera a
reputação como uma série de estímulos apresentados a um sujeito por um objeto. Esses
estímulos passam por um processo de avaliação e há um processo de consolidação das
informações em etapas. Primeiramente, os estímulos comunicados são retidos na memória
quando as etapas do processamento são concluídas. A memória, por sua vez, tem três
componentes: a memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo. Dessa
forma, reputações são “pedaços” que simplificam a realidade. Quando os pedaços aparecem
repetidamente na memória de curto prazo, são transferidos para a memória de longo prazo e a
reputação se cristaliza. A influência da economia retrata a reputação como traços ou sinais
que as organizações utilizam para construir vantagem competitiva, ou seja, percepções das
organizações retidas por interlocutores externos.
Para a sociologia, reputações são indicadores de legitimidade. Elas são avaliações
globais do desempenho de uma organização em relação às expectativas e normas do campo
institucional. Para a contabilidade, reputação é ativo intangível que mede a diferença entre o
valor contábil e o valor de mercado de uma empresa. As teorias de marketing, gerenciamento
estratégico e organizacional contribuem para o conceito de reputação. Para o marketing, a
105
reputação é associação cognitiva em relação às empresas à qual prediz simpatia e
comportamento de aprovação por parte dos interlocutores. Para as teorias de gerenciamento
estratégico, a reputação são ativos intangíveis que atuam como barreira de entrada, e para a
teoria organizacional, reputação são interpretações cognitivas utilizadas pelos observadores
para a construção de sentidos e usadas pela alta gerência para atribuir sentidos (FOMBRUN;
VAN RIEL, 2007; ALMEIDA; NUNES, 2005).
Nessa perspectiva, existe diversidade de abordagens e conceitos. Trata-se de tema
recente, no qual ainda não há definição consensual, por causa da complexidade. Para alguns
autores, a reputação representa um dos principais ativos de uma organização e demora a ser
construída. Quando é consolidada, pode refletir em vantagem competitiva para a organização.
Ainda de acordo com Vance e Ângelo (2007), a definição de reputação mais utilizada é a de
Fombrun (2004):
[...] uma representação perceptual das ações passadas e das perspectivas futuras de
uma empresa que descrevem a atratividade da firma para todos os seus públicos-
chaves em comparação com os principais concorrentes (FOMBRUN, 2004, apud
VANCE E ÂNGELO, 2007, p.95).
Para Dowling citado por Fombrun; Van Riel (2007), a reputação é um conjunto de
significados por meio do qual uma empresa é conhecida e as pessoas a descrevem, lembram-
se e se relacionam com ela. É o resultado da interação de convicções, ideias, sentimentos e
impressões de uma pessoa sobre uma empresa. Autores como Davies, Chun e Silva (2001)
consideram a reputação como fenômeno complexo. Van Riel (1997), como Fombrun (2004),
compreende que reputação é algo que agrega visões de todos os interlocutores. Para Gotsi e
Wilson citado por Vance e Ângelo (2007, p. 4), a reputação é avaliação geral do interlocutor
de uma organização ao longo do tempo. Além das várias conceituações, algumas correlações
são estabelecidas, como consideram os autores Fombrun e Van Riel (1997):
Está relacionada à identidade interna da empresa, que é criada a partir da visão dos
empregados;
A reputação é relacionada às ações passadas da empresa e constitui barreiras móveis
a ações da empresa e de seus concorrentes, atuais e potenciais;
A reputação resume como diferentes grupos avaliam o desempenho passado da
empresa;
A reputação deriva de imagens formadas sobre a empresa por diferentes grupos de
interesse e, desse modo, fornece informações sobre a atratividade global da firma
106
para todos os interlocutores. Considera-se que há relação entre as múltiplas imagens
formadas sobre a empresa;
A reputação engloba duas dimensões essenciais da avaliação de desempenho da
empresa associadas aos aspectos e à responsabilidade social (VANCE; ÂNGELO,
2007, p. 102).
Autores como Gotsi e Wilson citados por Vance e de Ângelo (2007, p.102) observam
mais algumas características sobre reputação que consideramos neste estudo:
Trata-se de um conceito dinâmico;
A gestão e a construção da reputação requerem tempo;
Há relação bilateral entre reputação e imagem;
A posição de uma empresa se fortalece em um ranking, comparativamente a outras
empresas;
Diferentes interlocutores podem ter diferentes percepções da reputação de uma
empresa (VANCE; ÂNGELO,2007, p. 8).
A partir de seus conceitos e caracterísitcas, ampliamos o entendimento de reputação,
considerando-a como sentidos construídos ao longo do tempo, sendo complexa, dinâmica,
formada por meio das percepções dos indivíduos e transformada em opiniões e julgamentos.
Bueno (2005) destaca que a reputação é representação mais consolidada e mais amadurecida
de uma organização, embora, como a imagem, se constitua na percepção, numa síntese
mental. O autor considera que resulta de interação maior, vivenciada por tempo mais longo e
com mais intensidade. “Quando tenho uma imagem de uma organização, eu acho que ela é, eu
sinto que ela é, ou representa alguma coisa; quando compartilho a reputação de uma empresa,
eu sei, eu tenho certeza sobre o que ela é, ou representa” (BUENO, 2005, p. 20).
Entendemos, portanto, que ao ser consolidada, a reputação torna-se forte, o que não a
impede de perder capital simbólico na circulação de sentidos, pois faz parte das impressões e
opiniões dos indivíduos, sendo permanentemente construída na semiose organizacional, isto
é, a cada instante em que o indivíduo recebe significações, ele “caracteriza, julga e sintetiza os
conceitos simbólicos” (BALDISSERA, 2008, p. 208). No novo experimentar, a reputação
passa a ser relacionada às informações que o indivíduo recebe e às novas realizações da
imagem. A reputação, mesmo consolidada, sendo um ativo de maior intensidade, não remete à
passividade, pois os processos de construção de sentido dos indivíduos se atualizam em
semiose. “Uma organização concentra em um conjunto de reputações, construídas por
públicos diferentes” (Baldissera, 2008, p.189). A reputação será elaborada pela apropriação
107
dos interlocutores dos elementos heterogêneos que partem do imaginário, experiências,
cultura, competências, conhecimentos e outros atributos (BALDISSERA, 2008).
Afirmamos, portanto, que os interlocutores avaliam quem é a organização, isto é,
como ela se projeta por meio de sua identidade. Os julgamentos serão base para haver ou não
confiança sobre a organização. Por meio dos atributos que circulam na semiose
organizacional será construída uma avaliação desejável ou não desejável, pois um julgamento
moral não se esgota nas ações da diretoria da empresa ou nas práticas de comunicação.
Os estudos de reputação consideram que o contexto e a situação dos indivíduos podem
interferir no que os interlocutores acreditam. Essa influência, associada aos argumentos
elaborados pela organização, tende a desencadear o processo de semiose organizacional, pois,
dependendo da experiência que o indivíduo tem com a organização, ele terá opinião sobre ela;
dependendo daquilo que a organização divulga como estratégia, por meio da sua
comunicação, ela pode vir a ter ao alcance a credibilidade, legitimidade e captação dos
interlocutores que, associados às influências de terceiros, ou seja, ao contexto (conversas
informais, opiniões da família, amigos, colegas de trabalhos, mídia), podem gerar reputação
positiva ou negativa.
A semiose decorrente da construção da reputação acontecerá dessas relações e
experiências socioculturais vivenciadas entre a organização e seus interlocutores. Assim, para
tentar construir sentidos, a organização elabora significações, que são as estratégias41
-
argumentos que utiliza para a construção simbólica das imagens -, e que gradativamente,
formam sua reputação. Isto é exemplificado a partir de alguns fatores apresentados pelos
estudos de reputação, que destacam aspectos que influenciam a sua construção:
a) Iniciativas organizacionais ou experiências com a empresa (aquilo que ela faz)
b) Comunicação organizacional (aquilo que ela diz)
c) Influências de terceiros (aquilo que os outros dizem)
Fatores descritos na figura que se segue:
41
Noção de estratégias foi estudada a partir da visão teórica de Patrick Charaudeau, no capítulo 1 dessa
pesquisa, na página 44.
108
Figura 6: Aspectos que influenciam a reputação
Fonte: Reputation Institute, 2010
A partir destes fatores consideramos que a reputação, no tecer da semiose
organizacional, está relacionada à representação e ao reconhecimento, ou seja, àquilo que a
“organização projeta como sendo a “sua verdade” e de como as pessoas se apropriam ou não
dessa “verdade” (ALMEIDA; MUNIZ, 2005, p. 127). A reputação refere-se a quem a
organização diz que é; quem os indivíduos pensam que ela é; o que faz para se tornar
conhecida e aquilo que os outros comunicam sobre ela. São fatores que levam os sentidos a
serem tecidos na semiose organizacional e que podem ser influenciadores na construção de
uma reputação favorável ou não.
Essas características, associadas ao processo de recepção, farão com que os sentidos
circulem, sejam produzidos, disputados e construídos na semiose organizacional. Por
exemplo, dependendo da experiência que determinado indivíduo tem com a organização, ou
mesmo com o seu produto, ele criaria em sua mente uma imagem positiva, que vai gerar juízo
de valor. Somados a outros atributos, contribuiriam para uma opinião mais consolidada sobre
a organização, e que resultaria em reputação positiva ou negativa.
109
O mesmo acontece com as estratégias comunicativas da organização: produzem
significados, transformados em sentidos na mente do indivíduo. Assim, de acordo com o
contexto em que vive, e com as influências que recebe de terceiros, seu juízo de valor poderá
ser consolidado ou transformado pelo processo semiósico.
Para ampliar os conceitos, a partir de agora discorreremos com mais detalhes sobre
essas características, que consideramos precedentes para a formação de uma reputação a partir
da organização, e que pode gerar legitimidade, credibilidade e captação dos interlocutores, de
acordo com o processo semiósico estabelecido, pois essas variáveis (aquilo que a organização
faz, diz e o que os outros dizem dela) iniciarão o discurso, que se retroalimentará na semiose
organizacional.
4.3.1 Experiência com a empresa
Segundo Almeida (2008, p. 130), a experiência dos interlocutores envolve relação
direta com os produtos e serviços, comportamentos e atitudes do dia a dia da organização. A
experiência que o indivíduo tem com a organização acontece a partir do processo interativo
com as ações instituídas pela organização, produtos, serviços, desejos e expectativas de seus
interlocutores. Fombrun e Riel (2004) consideram que as pessoas tomam decisões baseando-
se não apenas na própria realidade, mas segundo sua percepção da realidade, precisa ou não.
Algumas variáveis sociológicas e psicológicas atuam diretamente no relacionamento
dos indivíduos com a organização. Por exemplo, a decisão de compra dos produtos
influenciaria a ascensão ou declínio da marca ou organização. Nossas decisões são altamente
influenciadas por elementos não racionais. Por exemplo, numa experiência específica de
consumo, nas compras de um aparelho celular, TV ou DVD, agiríamos baseados em nossa
experiência com a marca do produto. No entanto, a experiência seria positiva ou não, e a
nossa percepção seria construída de acordo com a vivência experimentada. Coughlan e Stern
(2001) ressaltam que quando os consumidores tomam decisões sobre as compras, um dos
fatores que atuam no ato perceptivo é que eles tentam associar a compra à lembrança do
anúncio e da categoria de marca. Essa experiência direta com produtos e serviços pode fazer
com que receptores em suas associações livres façam vários juízos de valor.
Ainda na experiência de consumo, interlocutores podem tomar decisões sobre compras
com base no que sabem sobre determinada marca, ao invés do que se recordam de um anúncio
(COUGHLAN; STERN, 2001, p. 270). Agimos com base em percepções – influenciadas por
110
nossas próprias reações – altamente pessoais, emocionais, não racionais – na forma como o
produto nos é apresentado por empresas, mídia ou amigos (FOMBRUN; RIEL, 2004).
Pesquisas de branding42
mostram que os consumidores compram e recompram o
produto porque associam características fortes, favoráveis e únicas, à marca do produto.
Iasbeck e Pereira (2011) descrevem o branding como ferramenta que leva em conta elementos
como a imagem da organização, a percepção dos públicos, as associações mentais do discurso
com as subjetividades da recepção. As associações positivas com a empresa podem transferir
atributos positivos ou negativos às marcas ou produtos das organizações, e aos serviços. Por
exemplo, quando um promoter de determinada marca de produtos alimentícios oferece ao
interlocutor (consumidor) uma degustação daquilo que está sendo lançado, associado às
informações positivas que passará sobre o determinado produto, a semiose que ali será
realizada pode resultar na compra do produto. Sua relação com a organização dependerá do
comportamento, atitude e experiência de cada indivíduo com a marca.
Soares (2011) afirma que a reputação positiva aumentaria o poder de atração de uma
organização com seus interlocutores e geraria credibilidade. No entanto, as experiências
diretas com produtos e serviços podem afetar as percepções negativamente, pois elas formam
as imagens, que levam a uma boa ou má reputação sobre a organização. Como exemplo,
citamos a empresa Brastemp. Ao ter problemas na relação com interlocutores do consumo,
comprova que uma experiência negativa pode provocar reação, também em níveis midiáticos,
em que os sujeitos se comportariam de distintas maneiras. Falamos de uma ação bilateral de
ação e reação. O consumidor, ao ter experiência negativa com a empresa, que negligenciou
resolver um problema em sua geladeira, não mediu esforços para fazer a denúncia. Não
satisfeito com a atitude da Brastemp, o consumidor resolveu postar um vídeo com suas
reclamações na internet, mostrando a experiência negativa com a Brastemp. O vídeo foi visto
por mais de 600 mil pessoas, com mais de 7 mil comentários no youtube a favor do
consumidor e contra a empresa. Segundo Almeida (2008), um consumidor até entende que a
empresa erra, mas não admite que não se responsabilize pelo tropeço.
Pesquisas do Reputation Institute43
, de 2008, constataram que empresas do setor de
telecomunicações apresentaram os mais baixos índices de reputação, devido às experiências
de consumidores com as operadoras, que refletem diretamente na demora no atendimento, aos
42
Conceito de marketing que mostra a forma como as organizações podem aumentar sua visibilidade por meio
da criação de associações fáceis de serem lembradas entre um produto e um grupo de consumidores
(FROMBRUN; RIEL, 2004). 43
Pesquisas do Reputation Intitute em 27 países, 2008. Disponível: www.reputationinstitute (Apud, Almeida,
2008).
111
pedidos de cancelamento da linha e a falta de resolutividade em vários outros serviços. Outro
exemplo de juízos de valor negativos por causa dos serviços prestados ao consumidor diz
respeito à crise aérea no Brasil. O choque entre o jato Legacy e um Boeing da Gol, em
setembro de 2006, provocou a morte de 154 pessoas, imensas filas e atrasos de voos nos
aeroportos brasileiros. Desde então, o passageiro tem convivido com períodos de
normalidade, interrompidos por sobressaltos provocados por problemas nos aeroportos e
denúncias de riscos de novos acidentes. “A crise persiste e com ela as experiências negativas
de consumidores44
” (VEJA, 2007).
As organizações se preocupam em desenvolver ações mercadológicas e institucionais
voltadas à fixação da imagem. A satisfação do indivíduo com a organização, associada à
qualidade da relação estabelecida, geraria legitimidade, credibilidade e confiança,
fortalecendo a reputação e proporcionando relacionamento duradouro entre as organizações e
interlocutores. Mas há de se considerar que no processo semiósico nada é estável, novos
argumentos poderão ser construídos a partir das futuras experiências ou influências que o
indivíduo tiver com a organização. Novos discursos, opiniões, impressões, argumentos e
juízos de valor passarão a circular na semiose organizacional.
4.3.2 Comunicação: um dos precedentes para a reputação positiva
Não somente a experiência dos interlocutores com a organização, mas as ações
estratégicas de comunicação podem ser um dos precedentes para eterminada organização
alcançar ou não a reputação desejada. No primeiro capítulo desta análise, discorremos sobre a
comunicação organizacional. No entanto, para entender a comunicação estratégica como uma
das fomentadoras da reputação na semiose organizacional, é essencial retomar o tema.
Consideramos que uma das maneiras dos receptores perceberem a organização é pelo
que ela apresenta, isto é, comunica de si mesma. Almeida (2008) destaca que as mensagens
divulgadas podem ser entendidas como parte do processo de comunicação, ou seja, o espaço
de produção e veiculação das mensagens sobre o qual a empresa tem, em princípio, condições
de exercer determinado grau de controle. Compete à organização definir o que comunicar, a
quem e qual a abordagem dos meios. Segundo a autora, pesquisas comprovam que
organizações que possuem um processo de comunicação mais elaborado adquirem maior
44
Texto retirado do site da Revista Veja (2007) de perguntas e respostas sobre o caos aéreo. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/caos_aereo/index.shtml. Acessado em 25/07/2011.
Fonte: THE ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT. Reputation: Risk of Risk. Londres, 2005.
112
valor em sua reputação. Observa-se que a partir das teorias de reputação, as empresas que
possuem os melhores processos de comunicação são aquelas que conseguem cobrir de forma
adequada as cinco dimensões que representam o grau de expressividade de uma organização,
que são: visibilidade, distintividade, autenticidade, transparência e consistência, na tentativa
de produzir sentido para os seus interlocutores (ALMEIDA, 2008; ALMEIDA; NUNES,
2007; FOMBRUN; RIEL, 2004).
Figura 7: As Raízes da Fama
Fonte: FOMBRUN; VAN RIEL, 2004, p. 86
Essas dimensões, apresentadas na figura 7, são reforçadas por aquilo que a
organização é, pois quanto maior for o nível de consistência, autenticidade, visibilidade,
transparência e distintividade, maior a reputação que a organização alcançará no
reconhecimento dos interlocutores. Estudos da área de reputação comprovam que as práticas
de comunicação precisam entender o que os outros dizem, pensam e reconhecem sobre a
organização, pois isso alimentará o processo de semiose.
As organizações desenvolvem estratégias, por meio da comunicação organizacional,
com o intuito de fazer com que essas dimensões se consolidem e reforcem a construção de
sentidos que formam a reputação ao longo do tempo. No processo semiósico, de acordo com o
que foi apresentado, as formas da organização comunicar o seu discurso e dos interlocutores
perceberem o que ela deseja comunicar poderão se constituir em argumentos, impressões e
opiniões.
As abordagens de Baldissera (2008) parecem terreno fértil para a discussão. O autor
considera que para promover simpatia, visibilidade e demais valores, a organização passa a
apresentar um discurso semelhante àquilo que é verdadeiro, isto é, verossímil, que inclui
padrões, valores e crenças dos interlocutores. Ao apresentar as dimensões que mostram a sua
113
expressividade, a organização tentará passar significações com o objetivo de consolidar sua
reputação. Na construção de sentidos, isso não quer dizer que os interlocutores assimilarão o
discurso da forma que será repassado e que será consolidado. Mas pela tentativa de produzir
sentido e promover a visibilidade, a organização poderá aumentar as chances das suas
significações serem reconhecidas e influenciar a construção da reputação. Para a organização
trabalhar positivamente ações que promovam a sua visibilidade, precisa apresentar um
discurso coerente e consistente. O discurso deve estar alinhado às ações, o que levaria ao
reconhecimento de autenticidade e transparência, e contribuiria para a construção de sua
reputação. Quando as organizações agem com clareza na condução dos negócios, a percepção
dos interlocutores pode assumir sentido favorável.
Uma organização precisa ainda ser autêntica em sua comunicação, ao vincular apelos
emocionais como forma de captar seus interlocutores. Para tal, as estratégias comunicacionais
serão fundamentadas em missões, visões, crenças e valores verdadeiros, reconhecidos e
legitimados pelos interlocutores internos, somente assim passíveis de serem identificados e
absorvidos pelos interlocutores externos. Considerando o que Halderen e Riel citado por
Almeida (2008, p.266) sustentam, a consistência ajuda na construção da reputação, que
expressa a identidade da organização ao longo do tempo.
A distintividade pode vir a ser um diferencial para a organização e depende em grande
parte de um processo de comunicação capaz de projetar atributos únicos e exclusivos da
identidade da organização.
Quanto mais o processo de comunicação de uma organização for efetivo na
consolidação dos atributos de distintividade, visibilidade, autenticidade, transparência e
consistência na tentativa de produção de significados positivos que assegurem credibilidade,
legitimidade e captação45
dos interlocutores, melhores serão os resultados positivos na
semiose que constrói a reputação.
Essas mensagens simbólicas seriam repassadas aos interlocutores por meio de seu
posicionamento de marcas, ações de marketing e propaganda, relações públicas e
responsabilidade social, entre as ações comunicativas desenvolvidas pela organização. Como
destacam Almeida e Nunes (2007, p. 261), fazendo referência aos conceitos de Riel e
Fombrun (2007), ao procurar atender às expectativas dos diversos interlocutores em relação
aos seus produtos, oportunidades de trabalho, investimentos ambientais e sociais e valores das
ações, as estratégias de uma organização contribuem não apenas para dar visibilidade ao que
45
Assunto trabalho no capítulo 1 desta dissertação das páginas 48 a 60.
114
ela faz, mas ajudar na construção de sentidos, que levaria a um maior ou menor grau de
admiração, respeito, simpatia e confiança por parte da recepção.
A empresa Tetra Pak, por exemplo, que oferece produtos e serviços com soluções em
processamento e envase de alimentos, vem conquistando reputação favorável pelas ações que
protegem o alimento nas suas embalagens e ajudam a preservar o meio ambiente. Todo o
trabalho de comunicação da empresa é voltado à divulgação dessas ações associadas ao
cuidado ambiental, que envolvem aquisição da matéria-prima, transporte/logístico, processo
produtivo, produtos recicláveis, incentivo à coleta seletiva e criação de embalagens
renováveis46
.
Recentemente, a empresa lançou, em parceria com a Nestlé e a Braskem, embalagem
com tampa de polietileno feita a partir de derivados da cana-de-açúcar, fonte renovável. Com
a iniciativa, desde agosto de 2011, os leites UHT Ninho, Ninho Levinho, Ninho Baixa
Lactose e Molico passaram a adotar tampas produzidas com a nova tecnologia. O processo
contribui para a redução global nas emissões de gases de efeito estufa, já que o cultivo da
cana-de-açúcar utilizado na fabricação absorve gás carbônico da atmosfera. Com a vasta
experiência em tecnologia de alimentos, a empresa garante desempenho com excelente custo-
benefício, operações eficientes, embalagens convenientes e ambientalmente corretas47
, bem
trabalhadas e divulgadas pela comunicação organizacional.
Ações como estas influenciam a percepção dos interlocutores, fazendo com que
assimilem a identidade da organização e passem a identificar-se com ela, conforme aponta
Baldissera (2008):
O domínio dos seus códigos – saber quais são e como se materializam quando das
relações de força – possibilita a construção de mensagens (versões) com menos
probabilidades de sofrer resistências. Verossimilhantes, essas mensagens tendem a
contemplar os padrões, os valores e as crenças dos públicos. Esses, ao se
reconhecerem em tais construções discursivas, inclinam-se a perceber as entidades,
não como forças em relação de disputa - na perspectiva das afirmações de Foucault
(1996a), o outro polo no processo de disputa - e, sim, como componentes da mesma
força. À medida que se aliviam as tensões, é provável que se potencializem os
processos de identificação entre as forças relacionais rumo ao idêntico, à figura do
mesmo (BALDISSERA, 2008, p. 193).
Riel (2003) esclarece que a comunicação alcança resultados quando consegue adotar
uma única história, utilizada como fonte de inspiração para as ações de comunicação internas
46
Fonte: Reputation Institute, 2010 47
Fonte site da Treta Pak. Disponível em: http://www.tetrapak.com/br/produtos_e_servicos/Pages/default.aspx.
Acesso: 19/08/ 2011.
115
e externas. Essas são passadas como significações. Ao serem percebidas, formam sentidos,
que dependendo do contexto e das experiências dos sujeitos, o reconhecimento pode ser
positivo.
Considerando a semiose organizacional, a organização apresenta suas significações,
mas não exercerá domínio sobre a percepção dos interlocutores, por mais que incorporem o
que é projetado pela comunicação organizacional. As mensagens repassadas pela organização
numa tentativa da construção de sentidos nem sempre serão capazes de construir a reputação.
A comunicação é apenas parte do processo de construção de sentidos sobre a organização.
Baldissera (2004, p. 298) confirma a hipótese ao descrever que se pode pensar que os
interlocutores tendem a realizar processos identificatórios mais consistentes quando
reconhecerem nas organizações as próprias projeções/idealizações e/ou quando conseguir ser
instituída por eles como modelo a ser seguido. Portanto, seus valores e padrões serão
assumidos.
Afirma-se que as associações possíveis entre os insumos de imagem e outras
informações, estímulos, saberes, necessidades e desejos, independentemente de se realizarem
racional e/ou emocionalmente, tendem a ser atualizadas pelos sujeitos, por mais que se
materializem mecanismos de controle. Mesmo tendo estratégias de comunicação definidas,
estas não asseguram a reputação favorável, como destaca Baldissera (2004): “À medida que
os insumos oferecidos pela entidade apresentam-se coerentes com os repertórios dos
interlocutores, não se pode dizer que os estímulos encontram um sujeito puro e passivo onde
possam imprimir-se indiscriminadamente” (BALDISSERA, 2004, p. 298).
Partindo desta afirmação, os interlocutores, por mais que recebam conteúdos bem
trabalhados pela comunicação organizacional, podem não conseguir assimilá-los totalmente,
pois a alteridade sofre alternâncias todo o tempo, por causa da sua própria identidade -
formada pela cultura, vivências, influências, saberes, fazeres - e influências contextuais.
Sabe-se que por mais que as campanhas institucionais, relatórios de sustentabilidade,
projetos culturais e sociais sejam apresentados como forma de fortalecer os valores, os
mesmos podem estar desvinculados do que realmente a organização é. “[....] isso fragiliza a
relação entre a comunicação e a reputação à medida que o discurso é um e a prática é outra
[...]” (ALMEIDA; NUNES, 2007, p.262).
Dessa forma, as estratégias de legitimidade, credibilidade e captação sofrerão
interferências pelas instabilidades que possui uma organização, pois apresentariam menor
grau de transparência, seriam pouco visíveis e não tão distintivos na percepção dos
116
interlocutores, o que interfere na construção de sentidos que gera a reputação. Quando as
estratégias - realizadas pelas práticas de comunicação - não alcançam os objetivos, os juízos
de valor serão outros.
Partindo dessa concepção, Baldissera (2007) considera que é pertinente a crítica às
empresas e às consultorias de marketing, realizada por Iasbeck (1997), ao afirmar que
experimentam “a ilusão de que seu discurso é capaz de „fabricar‟ imagem favorável,
revertendo na direção pretendida os vetores da transformação” (IASBECK apud Baldissera,
2007 – grifos do autor). Porém, se é certo o fato de que o emissor não pode produzir a
imagem mental (como conclusão), a emissão, pelo domínio dos códigos do outro (alteridade
como outra força em relação), pode articular (dispõe de tecnologia e estratégias para isso)
diferentes elementos, objetivando levar a recepção (sua instância subjetiva) a construir
imagens com as nuances desejadas (BALDISSERA, 2007).
A reputação na semiose organizacional será construída por uma comunicação que
considera as incertezas do processo e seus tensionamentos, quando se dá a relação com outro.
A construção da percepção não será somente a partir da gestão da comunicação e da
organização, alinhada aos objetivos e metas organizacionais. Na semiose organizacional, a
reputação, pelas atividades comunicacionais, se fará pelos “pontos de fuga”, isto é, os
diversos sentidos, construídos em decorrência dos “feixes de relações” das trocas
comunicativas.
Nesse aspecto, os signos, fundamentais para a comunicação se realizar, são
modificados por serem circulação nos/pelos processos de comunicação. Para Baldissera
(2009), “a comunicação pressupõe sentidos em circulação e para se realizar é preciso que os
envolvidos consigam interpretar as mensagens e isso implica reconhecer/atribuir sentidos”
(BALDISSERA, 2009, p. 143). A comunicação trará à existência os sentidos construídos na
interpretação dessas mensagens postas na rede infinita da semiose. Não serão os únicos
fatores determinantes para a reputação, mas um dos seus precedentes. Na rede semiósica, ela
será dinâmica, fluida, instável. Conforme explica Fausto Neto (2008), é contraponto à
definição comunicacional de algumas teorias tradicionais que percebem a comunicação como
prática institucional que “saneia a instabilidade e proporciona maior clareza” (NETO, 2008,
p.44).
Esta concepção deixará de existir, abrindo possibilidades para os sentidos, paradoxos,
juízos de valor e opiniões. Logo, a comunicação organizacional não garante que ações
repousem em fluxos que obedeçam a comandos, mas é precedente. A comunicação, na
117
circulação dos sentidos, irá considerar complexidades, desajustes, indeterminações e ruídos,
pois as diferentes posições de produção/recepção fazem com que efeitos (ruídos,
perturbações) se coloquem sempre no âmbito das indeterminações.
4.3.3 Influência de terceiros e contexto
Hoje, vivemos em uma era em que a força das opiniões reina sobre a sociedade, e a
cobertura da mídia e as informações advindas de terceiros (familiares, amigos, colegas,
vizinhos, conhecidos) têm papel primordial. Pesquisas de recepção comprovam que pessoas
são influenciadas pelas interações dialógicas e por aquilo divulgado nos jornais, revistas,
televisão, rádio, internet e mídias sociais, ou seja, o contexto em que ela vive.
Para explicar tal concepção, buscamos em Thompson noções sobre interações. O
autor considera três tipos de interações: aquelas que acontecem pelos indivíduos que
“partilham do mesmo sistema referencial de espaço e de tempo” (THOMPSON, 2011, p.120),
que considera face a face. Essas interações apresentam caráter dialógico, implicando ida e
volta no fluxo de informações. “Os receptores podem responder (pelos menos em princípio)
aos produtores, e estes são também receptores de mensagens que lhes são endereçadas pelos
receptores de seus comentários” (THOMPSON, 2011, p. 120).
Nas conversas existe multiplicidade de significações simbólicas para transmitir e
interpretar mensagens, como linguagens, gestos, sorrisos, entonação de voz, , que contribuem
para a construção dos sentidos. Essas interações acontecem a partir do que o autor chama de
copresença, em determinado contexto. Para ele, existem as interações mediadas, que
dependem de um dispositivo técnico - telefone, carta, computador, celular - e as interações
quase-mediadas, realizadas pela mídia - jornais, revistas, TV, rádio, internet, mídias sociais.
A partir dessa abordagem, Almeida (2008) considera que nas interações dialógicas,
como boatos, conversas com amigos, recomendações, os indivíduos recebem influências de
elementos não racionais que se retroalimentam na rede infinita da semiose. Esses elementos
modificam contextos e contribuem para a construção de sentidos, formando imagens e
reputações.
Segundo Thompson (2011), nos contextos de interação dos indivíduos eles formam
relações de intimidade. Relações recíprocas que implicam ações e expressões, perdas e
ganhos de direitos e obrigações. Berger e Luckmann (1995) destacam que a mútua
experiência dos indivíduos parte de fatos diretos ou indiretos. Os diretos podem influenciar,
118
os indiretos são as relações nas quais os indivíduos têm relação distante, não sendo
influenciados completamente. No entanto, as interações e conversas que partem das pessoas
de maior proximidade influenciariam a experiência, pois vivemos num mundo onde nos
relacionamos com parentes, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e assim por diante. Neste
mundo, experimentamos reuniões familiares, encontros profissionais, religiosos e sociais, em
que diálogos são criados e opiniões colocadas na rede infinita da semiose, promovendo
circulação de sentidos. Tudo isso contribui para o (re)tecer das impressões de mundo. “Aquilo
que todo mundo sabe tem sua própria lógica e a mesma lógica pode ser aplicada para ordenar
as várias coisas que eu sei” (BERGER; LUCKMANN, 1995, p. 65).
A experiência humana oscila todo o tempo e dependerá do contexto no qual está
inserida, pois “a sociedade é um produto humano e o homem um produto social” (BERGER;
LUCKMANN, 1995, p. 65).
O homem é biologicamente predestinado a construir e habitar um mundo com os
outros. Este mundo torna-se para ele a realidade dominante e definitiva. Seus limites
são estabelecidos pela natureza, mas, uma vez construído, este mundo atua de
retorno sobre a natureza. Na dialética entre a natureza e o mundo socialmente
construído, o homem produz a realidade e com isso se produz a si mesmo
(BERGER; LUCKMANN, 1995, p. 241).
Os sentidos são construídos a partir da relação do ser humano com o mundo, numa
circulação constante, em que opiniões se criam e desfazem continuamente, dependendo da
significação e experiências que os indivíduos vivenciam. As interações num fluxo de vida
diária do indivíduo se misturam e promovem várias percepções, que formarão os seus
conceitos, opiniões e valores. Recorremos ao exemplo citado por Thompson (1995, p. 123)
para explicar melhor esta concepção: “Os indivíduos podem discutir com outros numa sala,
enquanto assistem à televisão, combinando uma interação face a face com uma quase-
mediada na mesma situação interativa” (THOMPSON, 1995, p.123).
Por meio desse processo dialógico, os indivíduos recebem influências do seu meio, das
informações que têm a partir da mídia e de outros interlocutores, construindo sentidos, que
criam imagens e consolidam reputações. Como parte das construções de sentido, citamos as
interações realizadas pela mídia. Segundo Thompson (1995), além dos sujeitos buscarem
informações nas pessoas com quem convivem no dia a dia, cada vez mais buscam-nas em
conteúdos simbólicos desenvolvidos pela mídia.
Sabemos que a mídia tem efeito poderoso sobre os assuntos que chamam a atenção
dos indivíduos. Estudos sobre o impacto da mídia identificaram que ela tem o poder de ditar a
agenda, o que confirma os efeitos que moldariam a visão da recepção. Por outro lado, o
119
conteúdo da mídia pode ser afetado. Conforme a reputação que se tem da empresa, a
cobertura jornalística pode ser positiva, pois os profissionais teriam “opinião” favorável. Se
for contrária, a cobertura não seria tão boa quanto se deseja.
A reputação da organização ou instituição tem um papel importante na atração de
repórteres para cobertura de assuntos específicos e também contribui para predispor
repórteres a uma cobertura mais favorável (FROMBUN; RIEL, 2004).
De acordo com pesquisa feita pela empresa global de relações públicas Weber
Shandwick48
, em 2006, a cobertura da mídia sobre a reputação corporativa cresceu 108% nos
últimos cinco anos (ALMEIDA, 2008, p.135). Dados divulgados pelo Instituto Edelman Trust
Barometer em 2011, numa amostra de 5.075 pessoas entre 25 e 64 anos, em 23 países,
indicaram que o Brasil apresenta expressivo aumento sobre a confiança na mídia a partir de
2008, pois subiu no ranking. De 48º lugar passou para 80º, enquanto os EUA demonstraram
queda - de 53º lugar passaram para o 42º lugar na escala que mede o nível de confiança dos
países na mídia, conforme quadro abaixo.
Figura 8: Relatório Global
Fonte: Edelman Trust Barometer Findings/2011
Mesmo com oscilações em alguns países, a mídia ainda continua assumindo papel de
disseminar informações e vigiar comportamentos das organizações. Estudos de reputação
48
Fonte: Reputation Institute. Disponível em www.forbes.com.
120
sobre o papel da mídia e sua influência indicam que um dos principais aspectos é o papel de
reportar uma avaliação de diversas fontes de informação sobre a organização, consolidando
fontes intermediárias. Para Almeida (2008), a mídia reduz o grau de incertezas dos
interlocutores sobre as organizações; atua como definidora; influencia as opiniões dos
interlocutores e é determinante na inclusão de temas na agenda pública.
Thompson (2011), além de confirmar esse pensamento, esclarece que estudos de
recepção comprovam que “o sentido que os indivíduos dão aos produtos da mídia varia de
acordo com a formação e as condições sociais de cada um, e uma mesma mensagem pode ser
entendida de várias maneiras em diferentes contextos” (THOMPSON, 2011, p.66). O uso que
os interlocutores fazem dos conteúdos apreendidos da organização podem divergir totalmente
daqueles pensados por ela, caso a divulgação midiática seja negativa.
Conforme explica o autor, os conteúdos midiáticos são recebidos pelos indivíduos,
situados em contextos sócio-históricos, que se caracterizam por relações de poder e acesso
diferenciado aos diversos recursos trabalhados. As influências midiáticas mudam opiniões,
comportamentos e contribuem para os sentidos serem disputados, ressignificando-se no
processo semiósico e interferindo na construção da reputação. Se os sentidos produzidos a
partir das mensagens divulgadas pelos jornais, revistas, TV, rádio, internet e mídias sociais
forem positivos, poderão gerar percepções positivas; se negativos, a semiose criará
argumentos, fazendo com que a organização perca capital simbólico. Ao serem reforçados ao
longo do tempo impactam a reputação. A influência midiática associada aos demais fatores
que interferem na percepção dos indivíduos, quando negativa, pode desencadear uma
sucessão de crises, destruindo a reputação das empresas. Assim, os indivíduos serão
envolvidos num processo de interpretação, no qual as mensagens adquirirão sentidos.
Apoderando-se de mensagens e rotineiramente incorporando-a à própria vida, o
indivíduo está implicitamente construindo uma compreensão de si mesmo, uma
consciência daquilo que ele é e de onde ele está situado no tempo e no espaço. Nós
estamos constantemente modelando e remodelando nossas habilidades e nosso
cabedal de conhecimento, testando nossos sentimentos e gostos e expandindo os
horizontes de nossa experiência. Nós estamos ativamente nos modificando por meio
de mensagens e de conteúdo significativo oferecido pelos produtos da mídia (entre
outras coisas). Esse processo de transformação pessoal não é um acontecimento
súbito e singular. Ele acontece lentamente, imperceptivelmente, dia após dia, ano
após ano. É um processo no qual algumas mensagens são retidas e outras são
esquecidas, no qual algumas se tornam fundamento de ação e de reflexão, tópico de
conversação entre amigos, enquanto outras deslizam pelo dreno da memória e se
perdem no fluxo e refluxo de imagens e ideias (THOMPSON, 2011, p.71).
Em um processo de semiose organizacional, as informações de terceiros, associadas às
mensagens divulgadas pela mídia, e a experiência do contexto vivenciado pelos indivíduos,
121
contribuiriam para a (des)organização e instabilidade dos sentidos construídos nas relações
entre produção e recepção, dando margem ao surgimento de novos sentidos, que construirão a
reputação.
4.4 Reputação, complexidades e circularidade dos sentidos
No processo de semiose organizacional existe uma circulação de sentidos diferida e
difusa, que irá provocar tensionamentos na interação social, promovendo uma movimentação
dos sentidos. Sob esse aspecto, a reputação, no tecer da semiose organizacional, abarca
construções de sentido dos pólos da recepção e produção, que formarão juízos de valor e
opiniões, fazendo com que o sentido seja elaborado, reelaborado e gere a reputação.
Moscovici (2007) completa o pensamento ao falar que as imagens que fabricamos são sempre
o resultado de um esforço constante de tornar real algo que é incomum (não familiar), ou que
nos dá um sentimento de não familiaridade.
E através delas nós superamos o problema e o integramos em nosso mundo mental e
físico, que é, com isso, enriquecido e transformado. Depois de uma série de
ajustamentos, o que estava longe parece ao alcance de nossa mão; o que era abstrato
torna-se concreto e quase normal (...) as imagens e ideias com as quais nós
compreendemos o não usual apenas trazem-nos de volta ao que nós já conhecíamos
e com o qual já estávamos familiarizados (MOSCOVICI, 2007, p.58).
Ainda, de acordo com o autor:
[...] buscamos compreender; abstrair significados das novas informações e fatos
produzidos constantemente em função da proliferação dos centros de pesquisas
científicas, da enorme profusão de ideias e “filosofias” escancaradas pelos meios de
comunicação de massas e também criadas pelos “sábios amadores” nas ruas, bares e
esquinas do senso comum; e operacionalizá-los, em nossos cotidianos. A criação e
transformação da informação levam a uma transformação de nossos valores, que,
consequentemente, irão influenciar as diretrizes dos relacionamentos humanos, na
forma como o ser humano se percebe no mundo e com o outro – o que era certo para
a geração anterior para a geração atual não o é. Digere-se a nova informação e a
reapresenta buscando, ao mesmo tempo, tanto enriquecer e transformar nossos
esquemas cognitivos anteriores no que for possível e aceitável à nossa
idiossincrasia; como também adaptá-la aos nossos antigos esquemas cognitivos, na
busca de manter o nosso mundo estável e seguro, “(...) a dinâmica das relações é
uma dinâmica de familiarização, onde os objetos, pessoas e acontecimentos são
percebidos e compreendidos em relação a prévios encontros e paradigmas (...) a
memória prevalece sobre a dedução, o passado sobre o presente, a resposta sobre o
estímulo e as imagens sobre a „realidade‟ (MOSCOVICI, 2007, p.55).
122
A partir da perspectiva de que as imagens seriam modificadas conforme as associações
que fazemos com os conhecimentos que adquirimos ao longo da nossa história de vida,
entendemos que na semiose organizacional, a reputação de uma empresa pode ou não correr
riscos, de acordo com a imagem construída. Bueno (2005) destaca que toda organização
gostaria de ter reputação positiva; no entanto, nem sempre os resultados são os esperados,
pois os interlocutores podem ter sua percepção modificada quando sofrem interferências das
estratégias comunicativas, contextos ou construção social de cada sujeito. Almeida (2008)
considera que uma reputação favorável pode ser entendida como crédito de confiança
adquirido pela organização, associado ao bom nome, familiaridade, boa vontade,
credibilidade e reconhecimento.
A reputação se forma das ações e comportamentos da organização a partir da
interpretação dos indivíduos que com ela se relacionam, conforme considera Iasbeck (2004).
Para o autor, a imagem – de empresa, produto ou marca – é desenhada na mente do
interlocutor com base em atributos desejáveis ou rejeitáveis, pautados em valores
considerados caros às comunidades nas quais as empresas atuam. O atendimento, o não
atendimento ou o atendimento parcial a esses requisitos serão as principais informações para –
ponderados os graus de valor entre eles - a imagem será considerada, em todas as nuances,
favorável ou desfavorável, positiva, negativa ou neutra, com todas as decorrências desse
julgamento, influenciando a maior ou menor preferência dos interlocutores.
A literatura sobre o assunto revela ainda que as organizações esperam que os
consumidores reconheçam a qualidade de seus produtos e/ou serviços; os acionistas valorizem
os resultados empresariais; os ambientalistas endossem os projetos e as ações desenvolvidas;
os empregados identifiquem-se com seus valores e cultura; e assim sucessivamente, para que
se possa beneficiar de relações mais harmônicas e saudáveis (ALMEIDA, 2008). No entanto,
por meio do dinamismo do processo interativo, juízos de valores são construídos, formando
opiniões e dando elementos para a reputação.
Na rede infinita da semiose organizacional, a reputação, conforme explica Baldissera
(2008), seria construída pelos elementos heterogêneos que circularão na rede infinita dos
sentidos, pois sujeitos julgam pessoas, comportamentos, desempenhos, ideias, produtos e
serviços, ética e moral. Como a reputação é atualizada pelos interlocutores com base em seus
repertórios, ela ultrapassaria a racionalidade, abrindo espaço para a construção de sentidos
(BALDISSERA, 2008).
123
Baldissera (2008) ressalta que o sujeito é tecido por uma teia simbólica que o
constitui, carregada de coisas, saberes, experiências, avaliações, valores e padrões, fazendo
com que nessa rede da semiose organizacional apareçam novas impressões, que se
transformarão em opiniões ao serem somadas a esses elementos. Isso poderá provocar
instabilidades, desorganizando o que foi construído. Essas novas impressões poderão ser
falsas, verdadeiras ou neutras, e se somarão aos sentidos constituídos, fazendo com que haja
uma nova circulação dos sentidos, que disputarão em ação e reação, construído um novo
repertório. Novas apreciações, associações e apropriações acontecerão (BALDISSERA,
2008).
No (re) tecer da reputação na semiose organizacional é importante considerar o que
Baldissera (2008) fala sobre a reputação ser mais resistente aos impactos negativos do que a
imagem. O autor lembra que a reputação não se trata de um simples processo, “pois
experimenta a embriaguez da semiose”, e completa: “A efervescência desorganizada de
estímulos provenientes da identidade é organizada pela semiose que constrói a reputação”
(BALDISSERA, 2008, p.183). Por estar presente nos processos de significação (semiose), a
reputação depende da construção da identidade, como das várias percepções dos
interlocutores que com ela se relacionam, podendo ser precedentes para sua construção e sua
consistência.
A reputação será construída pelos sentidos formados pela semiose, retroalimentada
pela cultura, imaginário e construções de sentido do indivíduo ou grupo social a que se refere.
As imagens criadas deste processo semiósico podem ser mais consistentes a partir do
reconhecimento. No contexto das organizações, quanto mais a identidade projetada for
instituída pelos interlocutores, mais consistente será a reputação. Baldissera (2008) explica
que isso não impede a imagem de tomar novos contornos na semiose organizacional, pois a
construção de sentidos não é solitária e acontece a partir daquilo que os indivíduos idealizam.
A reputação na semiose organizacional será dinâmica e transformada a cada novo
sentido que lhe for associado, podendo ser sempre restabelecida por mais que a organização
quiser fixá-la. Iasbeck (2005) completa este pensamento ao destacar que a reputação está
condicionada aos vários fatores, e, especialmente, à opinião dos outros, que pode mudar de
acordo com a circulação dos sentidos. “Uma imagem favorável ou desfavorável não tem um
fim em si mesma” (IASBECK, 2005, p.11). A reputação tende a sofrer mudanças de acordo
com os estímulos ou os novos argumentos postos na rede infinita da semiose.
124
Ela será construída no (re) tecer da semiose organizacional. Segundo Iasbeck (1997),
na circulação de sentidos a reputação de uma organização tende a oscilar a todo instante. “A
imagem instável não pode ser consumida como uma perene reputação” (IASBECK, 1997,
p.10), podendo existir graus incertos, não previsíveis, entre os interesses de quem produz e os
interesses de quem os recebe. “Este grau incerto precisa ser ocupado pelo discurso
organizacional. O discurso deverá fornecer elementos necessários para transformar
espontaneamente imagem em novas imagens, criando um ciclo renovável de expectativas
duradouras e satisfações provisórias” (IASBECK, 1997, p.10).
Consideramos que os níveis de simpatia, confiança, estima e admiração de uma
organização serão proporcionais à construção de sentidos estabelecida pelos sujeitos. Por isso,
conforme Baldissera (2008), é importante não pensar apenas na definição de imagem e
reputação, mas saber como os interlocutores percebem a identidade e como as informações
são retroalimentadas na rede infinita da semiose organizacional.
A partir das abordagens apresentadas por Iasbeck (1997) e Baldissera (2008),
consideramos algumas inferências que caracterizam a reputação na construção da semiose
organizacional:
a) Realiza-se na alteridade;
b) Exige significação e sentidos;
c) Constrói-se a partir do que é comunicado pela identidade organizacional e pelas
impressões, dos estímulos diretos e indiretos, das percepções, e das diferentes
capacidades e dos domínios do interlocutor em articular e processar esses
elementos;
d) Refere-se a juízos de valor;
e) Tem na comunicação um potencializador (da ordem do estratégico);
f) É atualizada na mente dos inúmeros interlocutores;
g) É constantemente (re)tecida em processos interativos;
h) É uma percepção mais duradoura, que parte das imagens construídas ao longo dos
anos, mas que pode ser atualizada pela (re)construção dos sentidos;
i) Em sua construção, consideram-se a produção e disputa de sentidos, isto é, os
tensionamentos e instabilidades do processo comunicativo;
j) É circular e se retroalimenta pela significação dos discursos produzidos e pelo
reconhecimento, podendo ressignificar;
125
k) Depende do contexto em que os interlocutores estão inseridos, das experiências de
mundo e da cultura.
A reputação, no tecer da semiose organizacional, é complexa e acontece a partir
do que Baldissera (2008) discorre sobre forças que se atraem e repelem, concentram e
dispersam, catalisam/esterilizam, misturam/separam, num processo contínuo de semiose
que envolve percepção, apreciação, julgamentos e construção de sentidos. A reputação na
semiose organizacional considera a circulação de sentidos, as instabilidades do processo e
se construirá em opiniões, que podem ou não reforçar o que a organização é.
Diante disso, é possível que imagens positivas passem a ser negativas, e as
negativas passem a ser positivas, na rede infinita da semiose organizacional, modificando
a reputação, construída pela formação de imagens ao longo do tempo. Para os níveis de
estima, confiança, simpatia e admiração não sofrerem alterações, cabe às organizações
qualificarem-se, garantindo legitimidade, credibilidade e captação de seus interlocutores,
retroalimentando a circulação de sentidos, que não deixará de ser complexa, muito menos
instável e fluida. Pela relação desse processo comunicativo entre as organizações e seus
interlocutores, a semiose acontecerá, e ao mesmo tempo transformará os sentidos, em que
estes serão produzidos, construídos e disputados no (re) tecer da semiose organizacional,
criando imagens e formando reputações.
126
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procuramos entender como se dá a construção de sentidos no contexto das
organizações. Assim, a nossa abordagem foi elaborada a partir de um olhar sobre as
organizações, consideradas ambientes complexos, instáveis, em constantes mudanças e
incertezas, nas quais os sentidos circulam, construindo e reconstruindo-se, pela interação entre
os indivíduos, mediadas pelas praxis de comunicação. Segundo Berger e Luckmann (1995), a
realidade da vida cotidiana é partilhada com outros. Nessas relações, em determinado
contexto, os sentidos são produzidos, construídos e disputados.
A produção contínua de sentidos realiza o que chamamos de semiose organizacional,
ou seja, a circulação contínua dos sentidos dentro das organizações. A construção do termo
semiose organizacional surgiu das inquietações durante a investigação desta análise.
Chegamos ao entendimento de que as imagens, para serem construídas, passam, inicialmente,
por um processo de semiose (circulação infinita de sentidos), que acontece na/pela relação
entre sujeitos.
A reputação, ou seja, a construção de imagens ao longo dos anos, seria formada na rede
tecida pela semiose organizacional. Nessa perspectiva, o trabalho foi conduzido no intuito de
se buscar aportes para a fundamentação do termo semiose organizacional e o entendimento de
como a reputação é construída nessa circulação contínua de sentidos, já que de acordo com as
teorias da área de conhecimento, a reputação parte da consolidação das diversas imagens que
uma organização constrói em suas relações com os diversos interlocutores ao longo dos anos.
Logo, na construção de sentidos que nortearam a pesquisa, surgiu a pergunta: como a
reputação seria tecida na semiose organizacional, pois os sentidos envolvem inconstância,
incerteza, fluidez, instabilidade, ordem e desordem, tensionamentos e dispersões, e nada seria
estável e muito menos sólido? A partir dessa inquietação buscamos, primeiramente, aportes
para a fundamentação do termo semiose organizacional e, depois, para a construção da
reputação na rede de sentidos que permeia o processo comunicativo nas organizações. Diante
disso, baseamo-nos em três premissas, consideradas importantes para a continuidade da
investigação proposta. Primeiramente, que deveríamos entender as relações entre sujeitos e
suas construções de sentidos.
Buscamos no paradigma relacional bases para a fundamentação com o objetivo de
mostrar que os sentidos acontecem na/pela relação entre indivíduos em situação de
comunicação e determinado contexto. Como nos diz França (2006), a comunicação somente
127
seria estudada como uma globalidade; por isso, pela abordagem relacional, as organizações
são consideradas “sujeitos sociais enunciadores ou leitores de discursos cuja ação no mundo
institui um contexto específico de interação que enquadra ainda enunciações e leituras de
sujeitos sociais” (LIMA, 2008, p.114). Tentamos apresentar os engendramentos que
permeiam os processos comunicativos no contexto das organizações nessa pesquisa.
A nossa construção voltou-se para a necessidade de nos ancorar nos estudos de
linguagem e buscar a compreensão sobre as instâncias de produção e recepção, e por
posicionamentos de enunciação do discurso para entender como os sentidos são produzidos,
construídos e disputados no contexto das organizações, pois o ser humano fabrica o mundo
por meio da linguagem, construindo sentidos quando em relação com a alteridade.
Os sentidos são renovados no momento em que a relação entre sujeitos experimenta a
semiose formada pelas experiências, vivências, construções de mundo, contextos e outras
variáveis tão importantes para as interpretações advindas dos jogos entre “consciências”.
Chegamos ao conceito de que a linguagem constrói sentidos, e esses sentidos, para
serem entendidos, devem ir além do sistema da língua. Portanto, viu-se a necessidade de
buscar nos estudos da semiótica de Peirce a compreensão para os efeitos de sentidos e o
processo semiósico, mostrando as organizações como um lugar no qual, por meio das
relações, acontece a semiose organizacional. As interações são construídas por aqueles que
produzem os discursos e aqueles que os interpretam. A comunicação organizacional, além de
ser um processo de comunicação, isto é, da fala, usa a lógica midiática para mediar essas
interações, contribuindo para a produção e construção de sentidos, que envolverão a produção
e a recepção.
Segundo Lima (2008), a dimensão simbólica da comunicação está materializada nos
discursos dos interlocutores, que trazem marcas do contexto em que a interação se dá,
características dos interlocutores e da própria relação. Em Peirce, os rumos da investigação
apresentaram noções de como a relação entre interlocutores é carregada de sentidos,
constituindo o que o teórico denominou “semiose”, ou seja, a relação do signo com o objeto e
do signo com o interpretante, que acontece a cada novo experimentar da linguagem.
Assim, a linguagem é signo e a semiose permeia a linguagem, fazendo com que
sentidos sejam postos e disputados durante a interação entre produção e recepção, em ação e
reação, transformando aquilo que é certo em incerto, organizado em desorganizado, estável
em instável, duradouro em fluido e assim por diante, numa circulação contínua de sentidos.
128
Nos jogos e negociações do processo comunicativo, os sentidos se transformarão em
imagens, e ao longo do tempo, na reputação. Na semiose organizacional, a reputação será
tecida de acordo com a produção discursiva existente, pelas impressões e opiniões daqueles
que criam e recriam os sentidos a partir do discurso. A partir daí, buscamos nas teorias da área
do conhecimento de reputação os fundamentos para investigar o (re)tecer da reputação na
semiose organizacional, reafirmada em opiniões que surgirão dos processos semiósicos,
construídos na interação entre os indivíduos. Conforme a rede infinita da semiose
organizacional for retroalimentada, a reputação das organizações poderá ou não ser
fortalecida como positiva ou negativa.
Como a pesquisa científica é marcada pelo olhar do pesquisador, temos que seus
resultados não podem ser assumidos como “verdades” absolutas, mas uma probabilidade de
compreensão e explicação do processo estudado. Isso quer dizer que as verdades precisam ser
continuamente reavaliadas pela busca do conhecimento e das maneiras de conhecê-las. As
discussões nessa investigação se propõem a olhar a comunicação no contexto das
organizações com o suporte das teorias da linguagem e do discurso; da semiótica, do
paradigma relacional e dos estudos de imagem e reputação. São interfaces e subsídios teóricos
que nos ajudam a questionar e reavaliar conceitos, ao mesmo tempo em que reforçam alguns
caminhos.
A semiose organizacional foi construída à medida que avançamos na análise das
diversas teorias. Não foi um caminho linear. Apresentou-se com novas direções,
posicionamentos, possibilidades, e às vezes foi interrompido. O nosso percurso foi pleno de
desvios, complexidades, incertezas e algumas certezas, novas trilhas, experimentos e análises.
Fizemos várias articulações com linhas teóricas que, a priori, causarão alguns estranhamentos,
ao serem observadas pelo olhar de distintas correntes teóricas.
O que parecer inadequado ou contraditório teve como intuito buscar nas divergências
elementos que permitissem desentranhar o objeto de estudo de nossa análise. Optamos pela
flexibilidade e multiciplidade do conhecimento para buscarmos uma maior compreensão de
algo tão instável e flexível, quanto os sentidos que permeiam os processos comunicativos. A
partir da semiose estabelecida na construção desta pesquisa, no interpretante final, chegamos
à semiose organizacional.
Pelas noções basilares e heterogêneas dessa construção, chegamos aos objetivos para
compreender e explicar a semiose organizacional. Para isso, foi imprescindível apresentar
reflexões inter-relacionadas e interdependentes. Antes de tecer considerações sobre a semiose
129
organizacional, importa recuperar algumas noções estudadas e articuladas.
Partimos do pressuposto de que o processo comunicativo não seria mais entendido
como interação linear (emissor/mensagem/receptor), como apresenta o modelo tradicional de
comunicação, que vem do paradigma da informação. Os sentidos se constroem pelo viés
relacional e da complexidade de forma complexa, difusa, fluida e incerta. Como
apresentamos, o paradigma relacional neste trabalho contempla as interações nas
organizações. Essas interações partem das construções de mundo, a partir da cultura dos
sujeitos em interação, marcada pelas vivências, experiências e conhecimentos. A
complexidade foi vista na/pela relação e estudada a partir das interações, contextos e
construções de mundo do indivíduo.
Chegamos ao entendimento de que nas relações entre a organização e seus
interlocutores, a noção de linguagem é tida como mediadora e construtora de sentidos. Pela
linguagem, os sujeitos elaboram estratégias e se posicionam na enunciação discursiva, ou seja,
criam os modos de dizer e enunciar o discurso. A concepção de estratégia, assumida neste
trabalho foi proposta por Charaudeau (2010), em que o produtor do discurso concebe,
organiza e encena suas intenções com o objetivo de produzir efeitos de sentidos na
interpretação. Pelas estratégias, que podem ser legitimidade, credibilidade e captação, ele
tentará produzir sentidos. Assim, o produtor do discurso é propositor, e espera que as
estratégias produzam o efeito desejado no interpretante. No entanto, essas estratégias serão
revistas, que, ao recebê-las, na sua interpretação, gerará uma semiose, construindo os sentidos
e as imagens para a reputação.
Como enunciadora, a organização elaborará estratégias para captar os interlocutores de
seu relacionamento e promover graus de simpatia, admiração, respeito e confiança. A
comunicação surge como prática discursiva, tentando promover a legitimidade, credibilidade
e captação dos interlocutores. Por isso, deve ser revista e repensada, pois os sentidos são
fluidos e instáveis, e a sua dimensão simbólica modificada de acordo com ambientes culturais
e mudanças dos meios. Como processo comunicativo, ou pelas praxis, a comunicação se
atualiza na semiose organizacional; e a mídia potencializa a semiose ao construir significados
transformados em sentidos. No processo semiósico, a comunicação será construtora de
sentidos, pois convive com a reprodução do discurso organizacional e como processo social
fundado na linguagem, promovendo a articulação entre as instâncias de produção e recepção,
numa constante interação.
130
As formas de rever a comunicação, como prática discursiva, mudaram e não podem
mais advir da ordem do controle e do planejado. A análise comunicacional busca a
compreensão de como se dá o compartilhamento do sentido.
Importa dizer que a concepção de sentido apresentou-se diferenciada de significado,
pois o sentido é um vir a ser, como nos apresenta Pinto (2008), e o significado é algo dado,
preestabelecido. Nesse aspecto, consideramos que no processo semiósico, a emissão produz
sentido quando constrói o discurso que será projetado, pois essas práticas de produção são
realizadas com sujeitos em interação. No entanto, quando o discurso é projetado, ele é
repassado para os interlocutores como significados. Na recepção, os sentidos serão
construídos e disputados, sendo ressignificados, voltando à instância de produção. Ao receber
os sentidos realizados no processo semiósico, a produção construirá novos sentidos, numa
circulação infinita. No contexto das organizações se configurará a semiose organizacional.
É importante dizer que a semiose organizacional possui características que podem
ampliar o olhar do observador para os processos de construção de imagens e reputação. São
elas: circulação, instabilidades, desvios, impressões e opiniões dos interlocutores.
Por circulação entende-se que os sentidos “passeiam” ou “flutuam” constantemente,
renovando a rede semiósica. Por isso, são complexos e instáveis, modificando-se a cada novo
experimentar do discurso. Transformar-se-ão em impressões ou opiniões, formando a imagem
mental, retroalimentada na rede semiósica, moldando-se em reputação.
Consideramos a noção de identidade e imagem. O conceito de identidade
organizacional nesta pesquisa se constrói na relação da organização com os interlocutores,
constituindo aspectos centrais, distintivos e duradouros como definidores da essência do “ser
organizacional”. Mas, ao mesmo tempo frágeis, fragmentados, mutáveis e flexíveis, na
disputa constante de significados que deem sentido às ações, comportamentos e símbolos que
representem o que é a organização. Os sentidos que circulam na produção discursiva dão
forma às mensagens, construídas na interpretação. No processo de compreensão, durante a
interação, os aspectos culturais apoiarão o processo e darão elementos para os sentidos se
atualizarem.
A cultura forma a identidade dos indivíduos e das organizações. Na nossa abordagem,
os conceitos de cultura, identidade e imagem são interdependentes. Assim, para sabermos
como somos vistos, é imprescindível entender primeiramente quem somos como organização.
Sob esse prisma, consideramos a imagem mental, isto é, aquela construída na mente de
um indivíduo e que pode ser transformada pelo processo semiósico em impressões (juízos de
131
valor) e opiniões que serão determinantes para a formação da reputação. Em nosso
entendimento, a reputação são imagens elaboradas ao longo do tempo e que se referem às
opiniões alheias, boas ou ruins. No entanto, a partir destas concepções, ao ser retroalimentada
na rede infinita da semiose organizacional, a reputação poderá ser alterada e novos capitais
simbólicos constituídos, modificando-a e dando outros contornos para ser pensada.
Em sua formação, a reputação se relaciona à identidade e à imagem, pois depende do
que é dito pela organização, como ela diz e o que os outros dela dizem. A partir da produção
do sentido, a reputação será uma elaboração simbólica, intangível, mediada, filtrada e
influenciada pelas óticas de mundo dos sujeitos partes do processo semiósico.
Sob essa perspectiva, evidencia-se que a semiose organizacional é complexa, plena de
obstáculos provocados pela circulação dos sentidos, que envolvem interações, desvios, dúvidas,
fugas, dispersões e tensões, em um trajeto não linear, menos ainda passivo, no qual os sentidos
circulam em meio à complexidade de distintos e múltiplos fatores. Circulação própria dos
sistemas semiósicos, podendo ser retroalimentada por novos insumos advindos das impressões e
julgamentos dos interlocutores desse processo, e que continuam a circular na rede infinita da
semiose organizacional.
Apresentamos nesta pesquisa a discussão das abordagens da comunicação no contexto
das organizações e dos estudos de reputação. Buscamos na interdisciplinaridade dos estudos
da linguagem, dos discursos, do paradigma relacional e da semiótica elementos que nos
permitissem a conversação entre abordagens distintas. E que nos levaram ao ponto de vista da
semiose organizacional. O propósito é contribuir com os estudos sobre a comunicação nas
organizações e a construção da reputação organizacional.
A partir de nossas investigações nos deparamos com outros questionamentos: como a
praxis lida com a semiose organizacional? Como o excesso de informações e as novas
interações midiáticas (re) tecem a reputação na semiose organizacional? Instiga-nos saber
quais outras possíveis articulações seriam pensadas a partir da semiose organizacional e quais
outras abordagens de pesquisas surgiriam?
A semiose organizacional, como conceito, coloca-se aberto a discussões, olhares e
construções de sentido, que enriqueçam os temas estudados.
132
REFERÊNCIAS
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ALMEIDA, A. L. C. A Construção de Sentido sobre “quem somos” e “como somos
percebidos”. In: MARCHIORI, Marlene. Faces da Cultura e da Comunicação
Organizacional. São Paulo: Difusão, 2006.
ALMEIDA, A. L. C. Reputação organizacional: a importância de parâmetros para o seu
gerenciamento. Organicom, ano 2, n. 2, 2005.
ALMEIDA, A. L. C; NUNES, Dário Arantes. Mensagens corporativas e a construção de
sentido sobre as organizações. Organicom, ano 4, n. 7, 2007.
ALMEIDA, A. L. C. Uma reflexão sobre a tangibilidade da reputação. In: ZANINI, Marco
Túlio (Org.). Gestão Integrada de Ativos Intangíveis. Rio de Janeiro: Qualitimark, 2008.
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