Senta-te
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senta-te
A. de Almeida
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há muito papel em branco para que possa desenharse ler muito depressa (ou muito devagar) ou
para passar o tempo se não conseguir ler
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se assim fosse
vem pela porta da frente quem tropeça e me abraçapão seco e cobarde incapaz das lágrimas de desejocom abraços te desfaças bebendo o sal beijo a beijoai que eu há tanto tempo espero quem me desfaça’
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há
Há crianças tão leves que tropeçam em borboletasE caem. Pairando no ar por momentosComo uma realidade que sustém a respiração.
Há mulheres tão finas entre pingos de chuvaE caem. Como juncos levados pelos ventosE são as fitas do chapéu que atraem o chão.
Há homens tão grosseiros e belas estátuas de calE caem. Pesadamente caem como braços do aradoNa paisagem lavrada pelos dedos de uma mão.
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se um dia eu me esquecer
se num dia eu escorregar com a chuva,pelo chão dissolvido até não ser mais que a turvaçãoou iniquidade na água corrente e não puder avisar-tepara que não me bebas na corrente é porque sim
me esqueci de tudo e de ti também
vendo-me água corrente como espelho ao espelhosem mostrar sinal de te conhecer olhando-te fixamentecom os meus liquefeitos olhos presos na cabeça da águaescorrendo como as outras águas pluviais a caminho
da sáıda onde deixei de te ver até não sobrar memória de ti
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daqui a pouco é noite. . .
daqui a pouco é noite e acendem-se as luzes da fogueirapara encher praças de assombrações e máscaras confiantes
que dançam na alegria dos comı́cios das festas manifestantescontra a ganância mais podre mais cruel e carniceira
daqui a pouco é noite antes das avisadas noites que virãoadivinhadas arrogâncias de catedrais que não descansam
nem esquecem a arte das fogueiras de sombras que dançamnum fragor de derrocada do altar proclamada como sermão
daqui a pouco é noite e cá estamos despertados moribundosnão nos esqueçam que vos passámos pelas penas do perdão
ai como sempre se esqueceram de nós nas casas dos fundosnós contamos as canções mudas do pavor na vossa ressurreição
daqui a pouco é noite ainda vamos a tempo esperem um poucoainda sobra um alento ainda sopra o vento num verso rouco
ainda há gente a gritar ainda há gente a rir há gente aindaque forma a frente a unida que vos faz frente e nunca finda
daqui a pouco é a noite que à luz do dia é ainda mais linda.
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é a cor da luz do outono. . .
é a cor que os meus olhos veem,fiapos de luz levados pelo ventoe chuva de prata como espadasna lua que de mim se esquiva ebem se vê a morte na água tintabrilhos castanhos fumo e fogo osdeste outono de gumes de cobremais nada habita a vida lenta indo
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escola de voo
que farás tu de tiquando sentires que te faltaparte do que eras?
e quando nem te lembraresdo que fosteque farás tu por ti?
olharás pelo chão que pisaspedindo desculpa a cada pedrados caminhosque não podes evitar?
ou pensarás que estásem muito boa idadepara abrir asas e voardo telhado que te esconde- uma entre outras pombasda escola de voo?
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escrita e ilustração:A. A. M.
dactilógrado,
paginador eimpressor:
A.∂ ’A. M.Impressora da Casa, Aveiro, 2016
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Lista de poemas
dedicatória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
se assim fosse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4há . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5se um dia eu me esquecer . . . . . . . . . . . . 6daqui a pouco é noite. . . . . . . . . . . . . . . . 7é a cor da luz do outono. . . . . . . . . . . . . . 8escola de voo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
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