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  • 8/17/2019 Senta-te

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    senta-te

    A. de Almeida

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    há muito papel em branco para que possa desenharse ler muito depressa (ou muito devagar) ou

    para passar o tempo se não conseguir ler

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    se assim fosse

    vem pela porta da frente quem tropeça e me abraçapão seco e cobarde incapaz das lágrimas de desejocom abraços te desfaças bebendo o sal beijo a beijoai que eu há tanto tempo espero quem me desfaça’

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    há

    Há crianças tão leves que tropeçam em borboletasE caem. Pairando no ar por momentosComo uma realidade que sustém a respiração.

    Há mulheres tão finas entre pingos de chuvaE caem. Como juncos levados pelos ventosE são as fitas do chapéu que atraem o chão.

    Há homens tão grosseiros e belas estátuas de calE caem. Pesadamente caem como braços do aradoNa paisagem lavrada pelos dedos de uma mão.

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    se um dia eu me esquecer

    se num dia eu escorregar com a chuva,pelo chão dissolvido até não ser mais que a turvaçãoou iniquidade na água corrente e não puder avisar-tepara que não me bebas na corrente é porque sim

    me esqueci de tudo e de ti também

    vendo-me água corrente como espelho ao espelhosem mostrar sinal de te conhecer olhando-te fixamentecom os meus liquefeitos olhos presos na cabeça da águaescorrendo como as outras águas pluviais a caminho

    da sáıda onde deixei de te ver até não sobrar memória de ti

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    daqui a pouco é noite. . .

    daqui a pouco é noite e acendem-se as luzes da fogueirapara encher praças de assombrações e máscaras confiantes

    que dançam na alegria dos comı́cios das festas manifestantescontra a ganância mais podre mais cruel e carniceira

    daqui a pouco é noite antes das avisadas noites que virãoadivinhadas arrogâncias de catedrais que não descansam

    nem esquecem a arte das fogueiras de sombras que dançamnum fragor de derrocada do altar proclamada como sermão

    daqui a pouco é noite e cá estamos despertados moribundosnão nos esqueçam que vos passámos pelas penas do perdão

    ai como sempre se esqueceram de nós nas casas dos fundosnós contamos as canções mudas do pavor na vossa ressurreição

    daqui a pouco é noite ainda vamos a tempo esperem um poucoainda sobra um alento ainda sopra o vento num verso rouco

    ainda há gente a gritar ainda há gente a rir há gente aindaque forma a frente a unida que vos faz frente e nunca finda

    daqui a pouco é a noite que à luz do dia é ainda mais linda.

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    é a cor da luz do outono. . .

    é a cor que os meus olhos veem,fiapos de luz levados pelo ventoe chuva de prata como espadasna lua que de mim se esquiva ebem se vê a morte na água tintabrilhos castanhos fumo e fogo osdeste outono de gumes de cobremais nada habita a vida lenta indo

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    escola de voo

    que farás tu de tiquando sentires que te faltaparte do que eras?

    e quando nem te lembraresdo que fosteque farás tu por ti?

    olharás pelo chão que pisaspedindo desculpa a cada pedrados caminhosque não podes evitar?

    ou pensarás que estásem muito boa idadepara abrir asas e voardo telhado que te esconde- uma entre outras pombasda escola de voo?

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    escrita e ilustração:A. A. M.

    dactilógrado,

    paginador eimpressor:

    A.∂ ’A. M.Impressora da Casa, Aveiro, 2016

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    Lista de poemas

    dedicatória.   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    se assim fosse   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4há   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5se um dia eu me esquecer   . . . . . . . . . . . . 6daqui a pouco é noite. . .   . . . . . . . . . . . . . 7é a cor da luz do outono. . .   . . . . . . . . . . . 8escola de voo   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

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