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    Hamlet nesta metade de seculo

    ia d e F o rtim b ra s

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    rnam-se em torno de Hamlet. Ele e urn dos raros herois li terarios a viver forado texto, a viver fora do teatro. Seu nome tern significado inclusive para os quejamais leram ou viram uma pe

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    [...] bom sera que algum outro ouvinte, alem de sua m e (j( Ill' II n u t u r a l tcrnuraas fazparciais), escute em condicoes vantajosas a conversacz o. l 1b ide rn , 1 1 1 , 3 ]

    No castelo de Elsenor, tudo e corroido pelo medo: 0 casamento, 0 amor, aamizade.

    Que terrfveis experiencias devem ter sido as de Shakespeare a epoca docomplo e da execucao de Essex, para ter visto a maneira como funciona 0Grande Mecanismo! Escutemos 0 rei. Ele acaba de mandar chamar os jovensamigos de Hamlet:

    Peco, pois, a ambos, que fostes educados com ele desde a infancia, amigos deju-ventude e familiares de seus gostos, que aceiteispermanecer algum tempo em n05-sacorte, a fim deleva-lo emvossa companhia aos prazeres ever se,recolhendo to-dos os indicios que a ocasiao vos oferecer, conseguis esclarecer qual seja a causa,para nos desconhecida, que assim 0 aflige,para que, uma vezdescoberta, possa serremediada. [Ibidem, I I, 2 ]

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    Shakespeare era realmente genial: "Ajudai -nos, talvez possamos ainda cura-10", 0 tio assassino deve manter uma vigilancia constante sobre Hamlet. Porque nao quer deixa-lo abandonar a Dinamarca? Sua presenya na corte e tao in-comoda: ele lembra 0 que todos gostariam de esquecer. Sera que suspei ta de al-guma coisa? 0 melhor seria negar-lhe 0passaporte e te-lo sob controle? Ou tal-vez 0 rei preferisse livrar-se 0 mais depress a de Hamlet, mas tenha cedido arainha, que quer ter 0 f ilho junto de si? E ela , 0 que pensa? Sente-se culpada? 0que sabe a rainha? Ela passou pela paixao, pelo crime e pelo silencio. Precisousufocar tudo dentro de si. Pode-se senti r urn vulcao debaixo de sua calma.

    Nesse grande jogo, Ofelia tarnbem e envolvida. Espiam suas conversas, in-terrogam-na, interceptam suas cartas. E verdade que ela mesma as ent rega. Eao mesmo tempo uma peya do Mecanismo e sua vitima, Pois a politica, aqui,pesa sobre cad a sentimento e nao existe escapatoria , Todos as personagens dodrama sao asfixiados por ela. So falam de poli ti ca. E uma especie de loucura.

    Hamlet ama Ofel ia . Mas sabe que evig iado , e tem em mente out ras questoesimportan tes. Esse amor aos poucos se dissipa. Nao ha lugar para 0 amor nesse

    I tl ll ll d( ), ) gl 'l IO I nn11Ii'od'llnmll':'EnCropOI'oum onvcntol" nt S dirig'II' (II, \ j ' < J ill; I stino 1 0 tamb m

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    E significativo que Hans Reichenbach h egue a on Il lS 'S I11U ito S' I11 ( 'lhantes. Em seu ult imo l ivro publ icado em vida, 0 s ur gi me ni o d e u m a f i / u s o j 7 1 1cientijica, ele dedica de maneira inesperada duas paginas ao monologo e l l 'Hamlet. Reichenbach foi urn dos mais notaveis representantes do neopositi-vismo conternporaneo; ocupava-se da aplicacao da teoria da probabil idade adiversas disciplinas. No monologo de Hamlet, ele ve 0 dialogo interior entre 0logico e 0 homem pol it ico. Trata-se do calculo das probabil idades da justezamoral do ato. Sem as experiencias v iv idas durante e apos a guerra, jamais urnneopositivista teria escrito essas duas breves paginas,

    Mas 0 Hamlet de Crac6via e moderno nao apenas porque 0 problema eatualizado. Ele e moderno em sua psicolog~a e em seu carater dramat ico. De-senvolve-se sob pressao , assim como nossa vida. Despojado dos grandes rno-nologos, livre de todo aspecto descritivo, e1epossui a violencia dos conflitos daatualidade. Mistura de pol ftica , de erot ismo e de arriv ismo, bruta lidade dasreacoes, rapidez dos desfechos. Nesse Hamlet ha inclusive os "blecautes" domoderno cabare polit ico, e urn grande humor ironico, Releiamos Shakespeare:

    Rei> Entao, Hamlet, onde esta PoloniorHamlet> Ceando.Rei> Ceando! Onde?Hamlet> Nao onde come, mas onde esta sendo comido. [Ibidem, IV,3J

    Esse gracejo poderia figurar em urn Pequeno Dicionario do Surreal ismo.E do mesmo estilo. E comporta igualmente urn duplo sentido, urn de1eszorn-beteiro,o outro cruel.

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    Hamlet e como uma esponja. A menos que seja estilizado ou representadocomo uma antiguidade, ele absorve imediatamente todos os problemas denosso tempo. Essa e a mais estranha das pec; :asque jamais foram escritas; pre-cisamente por suas lacunas, por sua incompletude. Hamlet e urn grande rotei-

    ru uu < i l l 11 '1 1 II urn II H I i rsonu ins I iv o I" pr 'S ntar um p I , P 1 1 11 ui s O L i In,-II II II IJ I '0 ' n l I, ' L '11 ' c oisas m ag nffic as a liz r . ad a um tem uma tarefa ir-"~V(ll\ vel a .umprir.qu lh eimpostapeloautor.EsseroteiroeindependenteIII ~llISh rois: cant rior . Ele define a situacao , determina as relacoes mutuastin P'I'5 nagens, impoe-lhes os gestos e as falas, Mas nao diz quem sao esses1 1 1 ' 1 ' ( Is . ' I r a t a - s e de algo exterior a eles .Eis por que 0 roteiro de Hamletpode ser"II( ,)1 do por diferentes tipos de herois.

    () a tor sempre entra num papel pronto , escrito apenas para ele. Sob esse as-III 10 , videntemente, Hamlet nao difere em nada das outras pec;:as.No primei-III -nsai ,os atores sentam-se em volta de uma mesa. "Voce sera 0 rei", diz 0II rotor, "e a senhora, Ofelia, e voce at , Laertes . Passemos agora a le itura daII , ~ . : 'A questao e que na propria pec;:acoisas semelhantes acontecem. Hamlet,( I l i a e Laertes devem tambern desempenhar papeis que lhes sao impostos,I(Int ra as quais serevoltam. Sao os atores de urn drama que nem sempre com-III ndern ate 0 final, mas no qual se acham envolvidos. 0 roteiro dita os atosI los personagens que desempenham 0 drama, mas nao decide, nao deve obri-1 1 1 1 ' r iamente decid ir os mot ivos de seu comportamento , nem de sua psico lo-Ii"'. Isso vale tanto para 0 teat ro quanta para a vida .

    A organizacao decide cometer urn atentado. 0 plano da acao e minuciosa-1 1 1 .nte tracado: 0 lugar, os executantes, a retaguarda, os reforcos, a ret irada .P'ito isso, cumpre distr ibuir os papeis. Voce vai ficar na esquina dessa ou da-quela rua e tirara 0 lenco quando avistar urn carro cinzento. Quanto avoce, iraI II ~Z e trara uma caixa de granadas que colocara no portae de garagem mime-1'012.Voce vai disparar em direcao de w e fugira em direcao de M. As tarefas

    distribufdas, os papeis definidos. Ate mesmo os gestos sao especificados.Mas 0 rapaz que deve disparar na direcao w pode muito bern, na noite anterior,I '1' l ido Rimbaud ou se embriagado de vodca, ou ter fei to as duas coisas . Pode'r urn jovem filosofo ou urn simples desordeiro. A garota que deve trazer as

    ~ranadas pode estar perdidamente apaixonada ou ser uma mulher da vida. Ounnbas ascoisas. Nem por isso 0 plano do atentado e modificado. 0 rote iro per-manece 0 mesmo.

    Pode-se resumir Hamlet de diversas maneiras: fazer dele uma cronica his-torica, urn romance policial ou urn drama filosofico, Seguramente serao tres 75

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    I ' as difcrentes, embo ra hukosp ar tenha escrito toda as tr s. M as, S' r c su -mirmos bem, 0 rote iro dessas tres pe~as sera ident ico, Com a unica difercncad que a cada vez serao uma outra Ofelia, um outro Hamlet e um outro Laer -I' S que farao os papeis . Os papeis sao os mesmos, mas representados por di fe-I' rites personagens.

    Examinemos portanto 0 roteiro. Pois, afinal de eontas, Shakespeare escre-veu ou pelo menos transformou um velho roteiro.' E escreveu os papeis. MasI,nao os dist ribuiu: e a epoca que distr ibui os papeis, Cada epoca, sucessiva-m nte. Ela e que envia seus Polonios, seus Fortimbras, seus Hamlets e suas

    ~ l ias ao palco. Antes, eles devem se aprontar nos eamarins. Mas nao porrnuito tempo. Podem colocar enormes perucas, raspar 0 bigode ou por umaI arba postica, enfiar calcoes medievais ou jogar sobre 0 ombro um manto aByron , representar vestindo uma armadura ou roupas comuns. Isso nao altera' 111 grande coisa 0 fundo da questao. Contanto apenas que nao se maquiemmuito exageradamente. Pois devem ter 0 rosto de hoje . Caso contrario, nao re-presentarao Hamlet , mas uma peca de costumes.

    Em seu P eq ue no o rg an on p ar a 0 teatro, Bertolt Brecht escreveu:o teatro deveria estar sernpre consciente das necessidades de sua epoca. TomernosHamlet, essa pe

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    /llIIlIle/. llam! l 0 d ram a d as sh uac '8 i r np o st as . E I 1 iH ~ () l l i 1 1 1 1 1 '1 1 [ ' III \ I"HI I ' h a v de su a com pr ensao m od erna,o r .i, a rainha, Polonio, Rosenkrantz e Gui ldensterrr' sao definidos sem'qll(voco por sua situacao. Essa situacao pode ser tragica, como no caso daru inha , OLl grotesca , como para Polonio. Mas, entre a situacao e 0 personagem,I) 0 existe hiato. Claudio nao desempenha 0 papel de urn assassino e de umI' 1 . Ele e assassino e rei. Polonio nao desempenha 0 papel de um pai despots e10 onselhei ro do rei. Ele e um pai despota e conselheiro do rei.

    om Hamlet se passa algo diferente. Hamlet nao e apenas 0 herdeiro dotron que busca a vinganca porque seu pai foi assassinado. Tal situacao naod "R n Hamlet, pelo menos nao 0 define ao ponto de suprimir toda ambigui -[nd .Tal situacao lhe e imposta. Hamlet ace i ta essa situacao, mas ao mesmo

    t mpo se revolta contra ela.Aceita 0 papel, mas eleproprio e exterior ao papel.I I s t e alem e acima dele .

    Durante seus anos de estudante, 0 Hamlet de Shakespeare leu Montaigne.II com esse Montaigne nas maos que ele persegue 0 fantasma medieval nost . rracos do caste lo de Elsenor. Assim que 0 fantasm a desaparece, ele anota amargem do livro que e possfvel "sorrir, sorrir e ser velhaco!". Shakespeare Ian-ou 0 mais atento dos leitores de Montaigne no mundo feudal. E tambern ar -rnou-lhe uma emboscada.

    "Urn pobre rapaz, com um livro na mao . .." E assim que Stanislas Wyspians-ki , pintor , dramaturgo e encenador , chamado por Gordon Craig 0 mais uni-versal dos hom ens de teatro, definia Hamlet em 1904. Wyspianski fazia 0IIamlet polones percorrer as galerias renascent is tas do caste lo real de Crace-via. 0 rotei ro da historia queria que 0Hamlet polones do inicio do seculo lu-tasse pela libertacao do povo. Esse Hamlet lia os romanticos poloneses eNietzsche. Ele sentia sua impotencia como um fracas so pessoal.

    Cada um dos Hamlets tem um livro na mao. Mas qual e 0 l ivro lido peloHamlet de hoje? 0 Hamlet do espetaculo cracoviano, do final do outono de1956, lia apenas jornais. Bradava que "a Dinamarca e uma prisao" e queria con-s .rtar 0 mundo. Era um ideologo revoltado, consurnia-se inteiramente naHf L 0.0 Hamlet do ana de 1959 j a se mostra consumido pela duvida. Voltou aIi r 0 "rapaz triste, com urn livro na mao .. ", Como nos e facil imagina-lo deII

    I l I i l f l V I ' 1 l' 1 ' 1 1 1 ' 0 ' j( '(llIsIOllvl 'o [uc scguru nao r n a i s Montaiai i .mas Sartrc,1 1 1 1 1 1 1 IOll tin I, I I I1,u. II"l S 'LIS studos em Paris OLl Bruxelas, ou talvez ate,

    1 1 1 1 1 1 1 ( I V '1 '1 1 I iro r larnl t, ern Wittenberg. Retornou a Polonia ha cerca deII 1 ' 1 1 1 1 qtllltl'O anos. T 1 1 1 muitas duvidas de que 0 mundo possa reduzir-se a111111 ' II II ' 11 0 niimcro de teorernas simples. As vezes e atormentado pela ideiad , 1 1 1 1 1 ,1 surdo fundamental da existencia.

    I( e ultirno Hamlet, 0 mais conternporaneo , vol tou a seu pais em pleno pe-I,tllll de I' ns: .0 espirito de seu pai exige dele vinganca. Seus amigos espe-1 1 1 1 1 1 t [1 I ' ini i e [eve a cabo a luta pela sucessao do trono. Ele quer partir de1 1 1 1 I ) 1 1 l l 1 S nao consegue. Todos 0 envolvem na politica. Deixou-se pegar numaIIIIII~ 0 que lhe e imposta . Numa situacao coercit iva que ele nao aceita, pois

    1 1 1 1 ( , 1 I I 'm l iberdade interior, nao quer se deixar enquadrar, defini r. No final ,III II I , 1 sscolha que the impoem, Mas aceita-a apenas na esfera da acao. Esta

    1 1 1 1 1 1 ) 1 ' 0 1 1 1 tido, mas apenas naquilo que faz, nao naquilo que pensa. Ele sabeII'Il toda acao tem um sentido unico, mas recusa que seu pensamento sejaIIII 1 1 m nte limitado. Nao admite que a pratica e a teoria se equivalham.

    I\l' sta faminto fm seu foro intimo. Considera a vida um caso perdido de1 11 1 ' l1 1l O . Preferiria livrar-se desse grande jogo, mas observa lealmente suas re-

    l i l t .Sabe que "embora 0 homem nao faca 0 que quer, ele e responsavel porIII IVida" . E que "pouco importa 0 que fizeram de nos, somente importa 0 queI'/l'm s daquilo que fizeram de nos". As vezes julga-se um existencialista. Ou-II HIv zes,apenas um marxista revol tado . Mas sabe que "amorte t ransform a a\ ' 1 1\ indestino", Ele leu A condicao human a de Malraux.

    A ati tude desse Hamlet conternporaneo e uma defesa de sua l iberdade in-I , ,) Of' que ele chama sua margem. Esse Hamlet teme, mais que tudo, ser defi-I I (10sern arnbiguidade. Mas ele precisa agir. Ofelia pode perfeitamente estarI t'nl ada como a Dama com arminho de Leonardo da Vinci, ou ter os cabelosIlll s , Ou ainda usar trancas, ou um rabo de cavalo. 'Iambern ela sabe que a

    V I 1 sta perdida de anternao . Enao quer fazer uma grande aposta em sua par-I d u contra a vida. Os acontecimentos forcam-na a atuar acima de suas possi-II lldades. Seu Hamlet viu-se envolvido na grande polf tica. Ela dormiu com1 ,1 " Mas e filha de ministro, e filha obediente. Aceita que seu pai escute suaIunversa com ele. Talvez queira salvar Hamlet. Mas ela propria cai na arrnadi- 79

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    HIIIl' o nf li to n a. o s e d 'S mrola M v a zi o. D e sd e a. orlg 11'l, 'in I to (! Cressida'I" ll ima pe

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    1I1llil ,,%1l'llllt'LlnoH.PrJVl1l'lm.11\ I todu po sia.Logo 1 0 1 11 11 nh 'r ,\ ,p 6S Hpr tm iro noire OJ)) 'Iroilo, a .g u er ra su rp re e nd e C re ssid a:

    1'01' favor, sperai UJ11 pOLlCO.Vos, hornens, nao gostais nunca de espera r, 0 Iouca' rl .! ~ si cl a l . .. Devia ter re si st ido a inda e ,entao , seneis obrigado a esperar . [ Ibidem,rV,2 ]

    Pandaro vendeu Cressida como uma mercadoria. Agora, como uma mer-'o,doria ela sera ent regue aos gregos em troca de urn general troiano feito pri-Io n ir o, Ela deve partir imediatamente, na mesma rnanha, apos essa primeira

    l10lt .Cressida tern dezessete anos. Urna tinica experiencia desse genero basta.:r ' ss lda sera dada aos gregos. Mas ja e out ra Cressida. Ate entao, 0 que ela sa-

    hit do amor era pura imaginacao, Agora, numa tinica noite, conheceu 0 am or.1 \ ! O J brutalrnente despertada. Descobre que 0mundo evil e cruel demais paraq u . v alh a a pena defender 0 que quer que seja. Durante 0 trajeto ate 0 acam-pum nto grego, Diomedes ja Ihe faz uma declaracao bruta l. A seguir , sucessi-varnente , os chefes mili tares, os ancioes e os reis beijam-na. Os poderosos, as'1 bridades: Nestor, Agamenom, Ulisses. Ela descobre que e bela e que provo-, I 0 desejo. Ainda e capaz de ironizar. Mas ja sabe que setornara uma puta . S6!. U antes tera de destruir tudo, para que nao subsista sequer a Iembranca doumor . Ela e logica.

    Antes de entregar-se aos gregos, ela trocou com Tr6ilo uma luva por urnI 1I11ho.Que importancia tern esses acessorios medievais? Eles poderiamigL1.ahnenteter trocado aneis. Nao sao os objetos que contam, mas somente apromessa da fidelidade. Nessa mesma noite, Diomedes exigira de Cressida queIh d~ 0punho de Troi lo. E Cressida lho dara, Ela nao era obrigada a faze-lo .P o lia tornar-se a amante de Diomedes sem isso. Mas nao consegue. Antes,1 ) 1 ' xisava matar tudo dentro dela. Cressida vai deitar-se com Diomedes assim' 01110 lady Ana com Ricardo, que havia matado seu marido e seu pai.

    H .i nessa tragicornedia dois grandes papeis de bufao: 0 adocicado Panda-ro .cm Troia, e 0 amargo Tersites , no acampamento grego. Pandaro e um irn-I! " jJ de born coracao que deseja tornar os ceus favoraveis a cada um e prepa-I' II' Wl1 Ieito para cada casal. Ele vive como se 0 mundo fosse uma imensa

    tOI1'1b 1m 0 atingira. E sse v e lh o alc ov ite ir o ir a c ho rar ,'li 'hom 1 '1 0 d 'B E erta Hem pie dade, n 111 compaixao,

    So rn i nt o 0 amargo Ters i t es e isento de qualquer i lusao. Esse misant ropo veJlO 1 11U n do u rn a r ea lid ad e sornbria e grotesca:

    1 1 ' I I s l 1 t 1 l ' i . a . c omo corvo; seria urn mau agouro, seria urn mau agouro. Pa troclo meI U I ' < 1 0qlle quiser, se0puse r em relacoes com essa prost ituta. 0 papagaio nao fa riamais por LIma amendoa do que ele por uma rameira cornoda. Luxiiri a, Iuxurial

    S mpre gue rr as e luxurial S6e las e stao sempre na rnoda. Que urn d iabo flamejan-te a s carr egue . [ Ib idem, v, 2]

    Imaginernos um outro f inal para Otelo. Ele nao mata Desdemona. SabeILL' Japode te-Io enganado, e sabe igualmente que seria incapaz de mata-la.III concorda com Iago: se Desdemona pede trai-Io, se ele pode acredi tar emua traicao, se ele e capaz de ~ata- la, entao 0 mundo evi l e covarde. 0 assas-

    sinato nao e mais necessario. Basta partir.Nas tragedies , os hero is morrern mas a ordem etica e salva . Sua morte con-

    firma a existencia do absoluto. Nessa pecrasurpreendente, Tr6ilo nao morre, naorna ta a infiel Cressida. Nao h a catarse. Mesmo a morte de Hei tor nao e in te ira-mente t ragica , Esse hero i paga por um belo gesto ; morre cercado pelos mirrni -loes, degolado por urn poltrao fanfarrao. Essa morte e igualmente irrisoria,o grotesco e mais cruel que a t ragedia, Tersi tes esta certo . Mas que impor-tancia tem isso? Tersites e tambern ign6bil .