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    Macbeth ou os contaminados pela morte

    Q ue m s er a e st e h om em ensanquentado? [Macbeth, I , 2 J

    Em Macbeth, 0mesmo Grande Mecanismo que ja aparecia em Ricardo IIIcon-tl nua a funcionar, talvez de forma ainda mais brutal. Macbeth sufocou uma re-V l ta , e gra

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    I (' II I tYlll'1.l\lll Mtle /JI ' I I ,) I h ls l( 1 ' 1 0 < mo st ra I n a t ru v I~ I l ' l l 1 1 1 1 1 IXI' 'I'j nclajll'NIlO 11 1Illlllil 011100 1';11'.11 um a gues t< de d cis [. .. J Como va i a noi te ?Lad y Macbet h> Quase em luta com a manha [ .. . J [ Ibidem, III, 4J

    As cenas, em sua maioria.desenrolam -se durante a noite. Em todas as ho-ras da noite: tarde da noi te , a meia-noite, no pal ido clarao da aurora. A noi teesta sempre presente , e lembrada e chamada de forma con stante e obst inada;nas metaforas: "Nunca 0sol vera esse amanhal..." [ibidem, I,5J;na encenacao:tochas sao t razidas, acesas e apagadas; no desenrolar mesmo da acao e nas su-bitas pinceladas realistas, como sempre prosaicas e perturbadoras em Shakes-peare: "E quando tivermos coberto nossas frageis nudezes que sofrem frio[...]" [ibidem, IIdJ.

    E uma noi te da qual 0sono foi expulso. Em nenhuma das t ragedias de Sha-kespeare fala-se tanto do sono. Macbeth assassinou 0 sono. Macbeth nao con-segue mais dormir. Em toda a Escocia , ninguern mais consegue dormir. Naoha mais sono, ha somente pesadelos: "Quando, saturados de bebida, caiamnum sono de porcos, semelhante a morte [ .. .J " [ibidem, I, 7 J . 93

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    ;ontrn 'S~' Bono I 'Sll 10 'vis '0 11 0 n o q ual 'sM p r '8 'Ill \() ' H I 1 10 I, vi (.III > q I.' 11,,0permit' 0 .squ jill into , ont ra esse 0110qu p nsarn nto p r-Iwgllido pelo crime, contra esse sono que nao e sono mas pesadelo, Macbeth .ludy Macbeth nao sao os tinicos a se defenderem. Esse mesmo sono-pesadelolorruru Ban q u o ,

    Ul11a sono lenc ia pesada como chumbo cai sobre mim e , a p e sa r disto, n a o q ue ri alormir . .. Potencias miser icordiosas, refreai em mim os pensamentos maiditos aos1uais a natureza da passagem durante 0 sono! [Ibidem, II,lJ

    Tanto 0 sono como a comida foram envenenados. No mundo de MacbethI) Innis obsessivo dos mundos criados por Shakespeare, 0 assassinato, a ideiatit) assassinato e 0 rnedo do assassinato invadem tudo. Nessa tragedia , ha so-m en te dois grande papeis , mas 0 terceiro personagem do drama e 0mundo.l.crnbramos mais faci lmente os rostos de Macbeth e de lady Macbeth, mas to-des s rostos tern 0mesmo esgar e sao deformados pelo mesrno pavor. Todos~Hl orpos sao torturados da mesma forma. 0mundo de Macbeth e calafetado,II 0 existe escapatoria , Mesmo a natureza tem 0 aspecto de urn pesadelo. EIgualmente opaca, espessa, viscosa. E feita de lama e de miragens.

    Banquo > A te rra, como a a gua, tern bolhas e e 0que e la s sao. Para onde desapa -receramrMacbeth> No ar, e 0 que parecia corp6reo dissipou-se como a respiracao 110ven-to.. .Quisera Deus que tivessem ficado! [Ibidem, I, 3 JEm Macbeth, as feiticeiras pertencern a paisagem e sao feitas da mesma

    mat ria que 0mundo. Dao gritos agudos nas encruzilhadas e incitam ao as-rseinato. A terra ferve como se estivesse febril 0 falcao e e I A d. ' m p eno voo espe-d icado a bicadas pelo mocho, os cavalos romp em suas peias , galopam comoioucos, lanc;:am-se uns contra os outros e mordern-se N- ha d. ao a escanso noI1lUndo de Macbeth, nao ha amor nem amizade, nao ha sequer desejo. Ou me-lhor.o desejo tambern e envenenado pela ideia do assassinato. Ha algo de tur-VI) MS relacoes entre Macbeth e l ady Macbeth Cada urn dos g d. ran es persona-

    III til ' 1 1 d 'NIX' II" I 'Ill V r io s n sp c 'I( )S , S 'n il rc POSSLJi al LIma amb igu id ad c .I t I ' , I I I ' ( I 01 S .m fllhos, O L l I 1 1 . lhor, ujos filhos estao rnortos, lady Mac-

    III III i l l :t . U I 1 1 pn 'I de hom ' 1 1 1 . Ela exige de Macbeth que cometa 0 assassinato1 ' 1 1 1 1\ uuflrmur sua virilidade; faz essa exigencia quase como um ate de amor.1 / 1 1 1 lod IS os intervencoes de lady Macbeth, esse tema obsessivo retorna:

    I) I ~d . 'st memento ac reditarei tao fragil a ssim te u amor? [ ...J Quando tinha s a(l\1~ 1 lin de faze r i sso, e ra s entao urn homem [ ...J [Ibidem, I, 7 J

    1 \ l 1 . t r esses dois ha asfixia sexual, urn grande fracas so erotico. Mas isso naoI ..II in . ial para a in terpretacao da t ragedia, embora talvez possa ser decisive1"11'\ a interpretacao dos dais papeis principais.

    NlIoha tragico sem consciencia, Ricardo IIIe a consciencia do Grande Me-l inismo. Macbeth tern a consciencia do pesadelo. Nesse mundo em que 0 as-nssinato se impoe como destino, coercao e necessidade interna, urn iinico so-nho existe: sonhar 0 assassinato que rornpera a serie dos assassinatos, que sera1safda do pesadelo e a Iibertacao. De fato , pior que 0 assassinato e 0 pensa-11 1 nto do assassinato que pesa; do assassinato que e preciso cometer, do qualn 0 se pode escapar.

    Macbeth diz:

    Seestivesse feito quando esta feito, necessario ser ia faze- lo imediatamente . Se0as-sa ss ina to a ti ra sse a rede sobre todas a s consequenc ia s [ ...J se 0golpe fosse tudo eterminasse tudo aqui embaixo, no banco de areia e no baixio deste mundo, arris-carfarnos a vida futura ... [Ibidem, I, 7 JTchen,o terroris t a de A condicdo humana, de Malraux, diz uma das frases

    mais assustadoras que foram escritas na metade do seculo xx: "Talvez despre-zernos muito aquele que matamos. Mas 0desprezamos menos que aos outros[ . . . J os que nao matam: os vi rgens". Essa frase significa que 0assassinato e umato de conhecimento, assim como 0ate de amor e conhecimento, segundo 0Antigo Testamento, e que a experiencia do assassinato nao sepode transmitir,como tampouco a do ate de amor. Mas essa f rase significa tambern que a rea- 95

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    IIl r.n ~ ) d ' l im a sa us sln ato m o dif lc a iqu ele que mutou , IIIt'il p O I ' 1 ,'d 'Ill [.. .]Tens medo de ser 0mesmo em animo e em obras que em de-sejos? [...]Macbeth> Por favor, c ala-te! Atrevo-me aquilo a que pode a tr eve r- se urn homem;quem a mais se at reve na o 0e.Lady Macbeth> Qual foi entao 0 anima l que te levou a revelar -me esse pro je to?I Macbeth, I,7]

    Esse dialogo ocorre antes do assassinato de Duncan. Depois do assassi-n 1 1 ' 0 , Macbeth sabera a resposta. 0 homem nao apenas pode matar: 0 ho-

    It I 'Itl ( iqu 'Ie 'Il l ' n1(1I '1, r som cn t \ J '. Asslm Oll'10 0 animal que bajula e1 1 1 1 < LJ I1 1 o, Ma b th onvoca os matadores e ordena-lhes matarem Ban-Ilti O '~ LI filbo:

    F ri me it t: a ss as si no ) Somos homens, meu suserano.Macbe th ) Sirn, no catalogo, passam por homens , iguais aos galgos , lebre is , mas-tlns, perdigueiros, 0cao-d 'agua e 0 cao-lobo, chamados pelo nome de caes,1 . . . '1Segund o a s sa s si no > Faremos, meu senhor, aquilo que nos ordenardes, [Ibidem, III, 1]

    Eis ai um dos limites da exper iencia a que chega Macbeth. Poderiamos' I arna-la uma experiencia do tipo Auschwitz . Um certo l imiar foi t ranspos-La ,dai por diante tudo e facil, "Tudo e brinquedo" [ibidem, II, 3J . Mas isso elpenas uma verdade parcia l sobre Macbeth . Ele matou 0rei, pois nao podiaaceitar ser 0Macbeth que tem me do de matar 0rei. Mas 0Macbeth que ma-tou nao pode aceitar 0Macbteh que matou. Macbeth matou para sair do pe-sadelo, para dar-lhe um fim. Mas 0pesadelo e justamente essa necessidadede assassinar. 0 que faz urn pesadelo e j ustamente nao ter fim. "Terrfvel e anoite depois da qual 0 dia nao surge." A noite em que Macbeth mergulha ecada vez mais profunda. Ele matou por medo, e por medo continua a matar .Essa e a segunda parte da verdade sobre Macbeth, mas ainda nao e toda averdade.

    Psicologicamente, Macbeth e talvez a mais profunda das tragedias de Sha-kespeare . Mas Macbeth nao e propriamente urn personagem. Pelo menos naoda manei ra como 0 compreendia 0 seculo XIX. Lady Macbeth e que e um per -sonagem desse t ipo. Tudo esta consumido dentro dela , exceto a exigencia dopoder. Vazia, e la cont inua a queimar. Vinga-se de seu fracasso como amante ecomo mae. Lady Macbeth nao tem imaginacao . Eis por que desde 0inicio estade acordo consigo, nao podendo depois escapar de si mesma. Macbeth, po-rem, tern imaginacao; des de 0 primeiro instante, desde 0 primeiro assassina-to, coloca-se as mesmas questoes que Ricardo III.

    Ser rei nada significa; e preciso ser tranquilo! [Ibidem, I II , 1] 97

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    I) sd ' IN I rimcir IS' 11 IS Mo b 'lh d ,f in '- s' I: ' \ 1 11 \l '1 I 1 ~ 0 ; II I I' I t m 'SI 1 0 ,n o S aqu 'I,que , m IS 0 ~ lI 'I, que 11.0 e . Estelmergulhu lo no mund 01110no nada, ixiste ap nas pot J 1 ialmente. Macbeth passa 0 tempo a escolher-se,mas depois d cada LImadessas escolhas e cada vez mais estranho e cada vezmais assustador aos pr6prios olhos. "Tudo 0que existe nele tern vergonha d1< 1 encontrar-se" [ibidem, v, 2] . Asformulas pelas quais Macbeth tenta definir-s parecem-rne estranhamente sernelhantes a linguagem dos existencialistas.'Ser" possui para Macbeth uma significa\ao rmiltipla, ou pelo menos dupla; euma contradicao constante, dilacerada, entre a existencia e a essencia, entre 0S r "para si" e 0 ser "em si".

    Ele diz:

    [ . . . J e somenteexiste para mim aquilo que nao existe! [Ibidem, I, J

    Num sonho mau, somos e nao somos ao mesmo tempo; nao podemos es-tar de acordo conosco mesmos, pois aceitar-nos significaria aceitar a realida-de do pesadelo, admitir que fora do pesadelo nao ha nada, que depois da noi-te 0 dia nao surge.

    Macbeth, depois do assassinato de Duncan, diz: "Conhecer 0 que fiz, seriamelhor que nao me conhecesse!" [ibidem, II, 2]. Macbeth vive da aparencia desua propria existencia , ja que nao quer reconhecer que 0mundo no qual vivee inelutavel, Esse mundo e urn pesadelo para ele. Ser, para Ricardo,significaconquistar a coroa e assassinar todos ospretendentes. Para Macbeth, ser signi-fica fugir, viver num outro mundo:

    NaoIevantes a cabeca, morte rebelde [...J nosso grande Macbeth vivera ate 0 ter-mo normal detoda vida, soltando 0ultimo suspiro nahora em que toda pessoa ti-ver que solta-lo. [Ibidem, IV, 1J

    A intriga e a ordem da historia nao diferem em nada nos dramas histori-cos e em Macbeth. Mas Ricardo admite a ordem da historia e aceita seu papel .Macbeth sonha com urn mundo no qual nao havera mais assassinatos e noqual todos os assassinatos terao sido esquecidos, no qual os mortos terao sido

    IIII.II I 10 de um I v ' ~ .p u r 10II 'Ill lo r \ om '< ran i d sd 0 inf io , Ma beth1 1 I 1 1 t I xun () Ii11 1 d I ' S < t I 10 t1 1 ' rgu Ih a ca la v ez m a is no pesadelo. Macbeth1 1 1 1 1 1 I (Hl1 UInJ1 I Und se rn rim' e se atola cada vez mais profundamente noI I 1 1 1 1 " II ultima esp ranca de Macbeth e que os mortos nao ressuscitarao./ 'I Il I )' M t l . cb e t h > Mas nao serao capias eternas da natureza.It l 'b th > Ainda ha esperan

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    i\ 11111 ' 1 '\I 11 -m ' a u n: pO I" , 11aO posso fugir,mas, como urn urso, devo fazer fl' n l' (' I ~l uvcs tt dn. I Ib i dem , v,71

    Macbeth de ant s do 1 r imei ro crime, 0Macbeth que nao havia ainda as-suss inado Duncan, a redit ava que a morte poderia vir demasiado cedo ou en -t 0 demasiado ta rde. "Se tivesse eu morrido uma hora antes deste aconteci -m nto, ter ia t ido uma vida fel iz! .. ." [ ibidem, II, 3]. Agora Macbeth sabe que arnorte nao aIte ra nada , que e la nada pode a lt erar, que ela e tao absurda como avi la o Nem mais, nem rnenos. Pe la primeira vez, Macbeth nao tem medo. " J aluase me esquec i do sabor do medo" [ibidem, v, 5 ].Ele nao tem mais nada a temer. Pode finalmente estar de acordo consigo

    mesmo, pois compreendeu que cada escolha e absurda - ou melhor, que naoha nenhuma escolha.

    Apaga-te, apaga-te, fugaztocha! A vida nada mais e do que uma sombra que pas-sa,urn pobre histriao que sepavoneia e seagita uma bora em cena e,depois, nadamais se ouve dele.E uma historia contada por urn idiota, cheia de furia e tumulto,nada significando. [Ibidem, v, slNas primeiras cenas da tragedia, fala-se do barao de Cawdor, que traiu

    Duncan e se aliou ao rei da Noruega . Sufocada a revolt a, ele fora capturado eondenado a morte.Nada em sua vida pode tanto honra-Io como a maneira de abandona-la. Morreucomo alguern que estudasse a propria morte, para rejeitar 0 dom mais preciosoque possuisse como futil bagatela. [Ibidem, I, 4 l

    o barao de Cawdor nao aparece em Macbeth. Sabemos apenas que traiu efoiexecutado. Por que sua morte e descri ta tao enfat icamente e com tantos de-talhesr Por que Shakespeare considerou isso necessario? Afinal, ele nao come-te e rros em suas exposicoes, A morte de Cawdor, que abre a peya , e indi spen-savel. Ela sera comparada a de Macbeth. A morte do barao de Cawdor e dignale um Seneca, de um estoico, ela comporta uma fria indiferenca. Diante da

    1 11 11 11 1, : I W 1 01 su lvu 0 III iln Iq 0 I ' s a lv e r: 0 g sto e a digni.dade. Para Ma -111111,I K " 10. n (l t m irnportancia, de n3 .0 ere mais na dignidade humana,~lill 1t!'11t )1 1 1 irn '1 0 l imite d todas as exper iencias. Nao the res ta senao 0des-I' Ililt ) on 'it o de homem se esbo roou e nada subsist e. No fina l de Macbeth,II III ( l) 11 1 0 11o fina l de T r 6i lo e C r e ss id a , no fina l de Re i L e a r, nao ha ca tarse. 0

    II ti l I) \ P,'0t este ou confi ssao de culpa . Macbeth nao se sente culpado e nadaII III runtrn que protesta r. Pode apenas, antes de morrer e le proprio, a rrastar1 1 1 1 I ( ) nada rnaior numero poss ivel de seres vivos . Tal e a ult ima conclu~aoI 1 1 1 1 1 , 1 0 absurdo do mundo. Macbeth e ainda incapaz de fazer explodlr 01 I1 \l lI d( Mas pode continuar assass inando ate 0 fim.

    POI'qu imitar 0 louco romano e perecer vit ima de minha propr ia espada? En-11IIH1toir seres vivos,as feridas estarao melbor neles. [Ibidem, v, 7

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    Os dois paradoxos de Otelo

    l i l H O I[... e e u c on ti nu o a ije re s ( De us b en diq a a t itu lo ) d e S ua S en ho ri a m ou ra .I ntlrlgo, Pe lo c eu! Te r ia p r e fe r ido set c a rr a sc o d e le . [ O te lo , I ,1)I II' r c la n o . O s t or me nto s a br ir ao t eu s i ab io s. [ I bi d em , v , 2)In 1 0 ' Este e a qu el e q ue [ o! O te lo : e si ou a qu i. [ Ib idem, v, 2)

    1\11' Otelo , muitas coisas nos desagradam. Antes de tudo, 0 que ainda recente-11 1 nte mais se apreciava." Otelo nao e a maior obra de Shakespeare, mas e sua me-lhor peca", escreveu ha pouco urn comentador, acrescentando: "[... J no sentidoistrito da palavra teatro, e provavelmente a melhor",' Talvez, mas para qual teatro?P rvolta do final do seculo XVII, Thomas Rymer, que tinha gostos classicos no, n tido frances do termo, escrevia:

    Sem diivida, a moral dessa fabula e muito edificante. Primeiro: pode ser uma ad-vertencia asmocas deboa familia a nao fugirem com mouros sem 0consentimen-to dos pais. Segundo: pode ser urn aviso a todas asesposas fieis a vigiarem bernsuasroupas debaixo. Terceiro:pode ser uma licao aos maridos deque, antes deseuciume tornar-se tragico, tenham provas maternaticas da traicao. [...] Mas0certo eque a parte tragica nao passa deuma Farsa Sangrenta, sem sal nem sabor.? 103

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    II I s , q ue 'Ill 17 ' i p r ~ .ntou '111 PHis l i m o 1 1 11 )1 1( , ( ) Ii(\ Ido,li l lhnrta rn en te u rn a o pin if 0 S .m ,I h a n r a d R ym e r. E ra 0 11110 I II R I u bli u ,

    mas Ducis achava que Shak speare continuava sendo muito violento para osfranceses, muito brutal. A despeito da tradicao inglesa, transformou 0negrom moreno; seu Otelo era bronzeado a fim de nao escandalizar as mulheres,como ele confessou . Desdemona nao perdia seu lenco: fazendo 0Ienco partedo enxoval feminino, era impossivel que tal palavra fosse pronunciada emc en a , A Desdemona da Convencao podia apenas perder seu diadema. Otelonao a sufocava, teria sido muito primitivo; Ducis substituia 0 travesseiro porLImpunhal. Restava a questao do final. Os espectadores revolucionarios naogostavam de cenas sangrentas. No momenta em que Otelo ergue a mao paraferir mortalmente Desdemona, 0enviado de Veneza entravano quarto de dor-mir e exclamava: "Barbaro, que fazes?". Ducis escreveu dois finais para a pe

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    Ilnl t il 'W I ' 01 '1 1 " 1t tl J' iW I p O l' ll 0 8 u t o r '8, \1 ' c l \$ I \ I l l u l i v n sd ' R o dr ig o junto a J sd mona, b '111 01110 os encontros .ntr a jo v .m e I ,-In no domingo de manha, quando ela volta da missa de gondola. Ele sab .in-.lustv quais sao as flores que Otelo lancava em sua gondola e como termina-v u tl sc rena ta oferecida pOl' Rodrigo sob a jane la de Desdemona. Sabe tudos ob rc Desdemona e Otelo , absolutamente tudo, desde 0 dia de seu nascimen-10 a te 0 momenta da tragedia.

    Depois da opera, veio 0romance; depois do Otelo de Verdi, a de AlexandreI) LImas. S6 que no Otelo lido a maneira de um romance todas as l icencas, todasHI obscuridades, todas as contradicoes da intriga sobressaiam bruscamente.()H .specialistas de Shakespeare as conheciam de longa data. Granville- Barkerl' Stoll.utilizaram 0exemplo dessa pe

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    !Iss' lip e simultaneo do Sol e da Lua e 0 fim do mundo tal como 0ve ap ln tu ra b ar ro c a. A noite cai sobre Otelo. E nao apenas uma noite desprovidaI 'Sol 'de Lua. Como em R e i L e ar e em Macbeth , 0ceu e vazio: "S6 existem no'ell as pedras que servem para 0 trovao?" [ibidem, v, 2].

    01 ' 1 0 , assim como R e i L e ar e Macbeth , e a tragedia do hom em sob urn ceuv nz to , N o final, Iago e entregue aos suplicios. Mas, em realidade, a partir do se-gUll 10ato, e Otelo que e torturado. Como Lear, como Macbeth, como Gl6ces-1 ( ' " , 'I desce a encosta e ,como eles, e levado a uma situacao sem saida. Chega10 fund de uma das experiencias humanas. Em Otela, como em Macbeth eN I ' / L e a r , e lancado urn fio de prumo no abismo, sao sondadas as trevas. As' II I ' HI ' '$ fundamentals , rela tivas ao sentido ou ao absurdo do mundo, s6 po-d l ' l l l M 'I" respondidas no final da viagem, na profundeza do abismo.

    C.W.Knight' foi 0primeiro a revelar a musica de Otela . No entanto, recusou-lilt' I universalidade. Comparado a Re i Lea re aMacbe t h, O t el a e para ele urn dra-1111 III nao alcanca as dimensoes do simbolo e que permanece encerrado em\11 1t .ralidade. Nao se trata, para Knight, de uma tragedia c6smica. Apesar daIn, til ortav Iret6rica do romantismo, prefiro 0julgamento de Victor Hugo:

    !lIlt. 0,0 que e Otelo? E a noite . Imensa figura fatal. A noite e apaixonada pelo dia .1 \ '~llideo ama a aurora. 0 a fricano adora a mulhe r branca. Desdemona e a cla-I'ldud' a loucura de Otelo. E ass im 0 ciume the e facil. Ele e poderoso, augusto,ruujcstoso, esta acima de todas as cabeca s, tern por c ortejo a bravura, a batalha, a1'0 n , r r n , a bandeira, 0renome, a gloria, e0br ilho de v inte vi to rias , e sta repleto del ' N t r 'las, esse Otelo, e le e escuro, Assim tambern, ciumento, 0heroi logo vira Limmonstrol esc uro vira negro. Como a noite acena de pressa para a morte!

    N o xintcm essa passagem urn dom de videncia teatral? Ela parece aplicar-I' qu 1 M ' i x a t a rn e n te a ultima criacao de Laurence Olivier no papel de Ote l o ,

    vlcror 1Iugo prossegue:

    I i l f l ( ) P -rto I; 0 1 , I ( ) ~ 0 PI ' icip f io p .rro clu tIl'tili. PIli 1 1 1 (1 " 1 1 1 1 1 ,I, ~111 vo z hiliXII, 1\ UI'111ulllh I ucons ' 1 1 1 1 1 II 'cj,llIl'il'II,I\N t l ' I I V I I I I I \ 1 I 1 1 I 1 I 1 It' 1 1 1 1 1 1 , 1 1 "lIli lliS I ' '11 '11'1'1'1 \ 1 1 I I I ' d ll II, 1 I 1 \ l l I n ~ ' O ( ) 'I" ' 1I n o ll " n l' I' I' II N 1 1\ ,1 ) I I 1 1 11 1 1 '1 1 1 1 1 1 11 1 '1 1 11 1 11 1 I1 1 I I I 1 \ '1 (l I I ' l ' (' I ~ (\ '

    Contra a brancura e0candor, Otelo 0negro, Iago 0t ra idor - 0que pode haver demais terrivel? Essas ferocidades da sombra se entendem. Essas duas encarnacoes doecl ipse con dens am, uma rugindo, a out ra zombando , a tr agica sufocacao da luz .

    Pensem nesta coisa profunda: Otelo e a no ite. E sendo a noi te , e que rendo rna -tar,o que ele pega para matar? 0 veneno? A maca? 0 machado? A faca ?Nao,0tra-vesseiro. Matar e adormecer. 0 proprio Shakespea re talvez nao tenha sedado con-ta disso. 0 criador, as veze s quase sem 0 sabe r, obedece a seu t ipo , tamanho e 0poder desse tipo. E a ss im que Desdemona , e sposa do homem Noi te , morre sufoca -da pelo travesseiro, que acolheu 0primeiro beijo e recolhe 0ultimo suspire."

    o Otelo de Olivier entra em cena dancando: tern uma rosa na boca. 0Ote-10de Olivier sufoca Desdemona em meio aos beijos.

    I Ig e aquele que sempre apresentou mais dificuldades aos comentadores. Para(IS r manticos, era simplesmente 0 genic do mal. No entanto, mesmo Mefist6fe-I's d rv possuir suas raz6es de agi r, Sobretudo no teatro. Iago detesta Otelo , as-lm omo detesta 0mundo todo. Ha mui to os comentadores assinalaram que

    II'S"' odic existe algo de desinteressado; Iago comeca por odiar e s6 depois pa-, 1(" dcscobrir asrazoes de seu odio. A definicao de Coleridge vai ao centro mes-Illll In questao: "caca de motivo da malignidade sem motivo". Maldade sem ra-'" 0, 'In bu ea das razoes de ser mau. Ambicioso desiludido, invejoso de suaIlltill! 'I",d D sdemona, de todas as mulheres, de todos os homens: seu 6dio1 1 \ 1 l'\ I I'P tuamente urn novo alimento e nunca encontra 0 suficiente. Mas seII I d II) bus l ra ZQ s,quais sao as pr6prias razoes desse 6dio?

    J l . x l i l l ' 1 1 1 duas outras definicces excelentes de Iago. Carlyle charnou-o "urnII I 1 1 ' 1 I dl'. 11'1 i "U lade". Hazlitt , "urn amante de tragedias na vida real". Nao bas-III II ' ' '110 \ 1 1 ' 1 1 1 ' it r a g dia , e le quer tambern encena-la ate 0 firn, distribuir osl ' l l l 1 M IllIdo, U H 'U rc lor; I mesmo atuar.

    hll1ll lIlI1 till' 'lor 1\ 1 'a1'1' infer: ali us ria melhor dizer: um diretor rna-I I l 1 l 1 v l l l '11,, ' \11, 1 '1' 1 ,11 ' 11 t i l ' Il\il' ~l\llln1b(fI\ll1ti 'd issi l11ul,1 1 , , : - 1 ; SU , \S r a zo e s i nt e- 109

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    1 ( 1 1 ' 1in I ! I II 'I~ 'p I ' '~ IN lS , 1 \ 1 ' os l ' o ! , l I 1 u l o jt 1 1 < 1 SI r l l l l l ' l ! ' I t ' II I ,Illon 1 1 0 01 1 1 0'III v o~ 1 1 1 1 ' 1 :"5 6 1 ' 1 1 ( s lU'S!110S d pend e se r de L im a mun 'il'l. OLi d outrn,NOIII lOS io rp os s< 0 jardins e no 'sa v n ta de e 0 jardineiro" [ibidem, 1 , 3 .1 .o lngo demoruaco foi inventado pelos romanticos, Iago nao e urn demo-, I~ . .1 1IO , - ' urn arrrvista contemporaneo, assim como Ricardo III. S6que nurna ou-11'0 S 1.1a.Tamb e r n de qu er p or em marcha 0verdadeiro rnecanisrno, explo-I'UI'O il verdadeiras paixoes. Nao quer sedeixar enganar. "Nern todos podem serI 1 1 1 O S , nem todos os amos podem ser fie lmente servidos" [ibidem, I, 1J .

    t ss o n a d a tem de demoniaco; em sua evidencia, ta l declaracao seria antes11'1inl . 1\ p ro rn oc ao e conseguida por afeto ou reco men da ca n [ ... J [ibidem, I, 1].I Ii O til rnpouco t e r n dgo de demoruaco. Iago e um empirista, n a o e r e em ideo-IOlliH~,!laOtem ilusces: "Areputacaos um preconceito VaGe falacioso que seIt! luire, comumente, sern merito, e,sem razao, se perde" [ibidem, II, 3J .Iago e evidentemente maquiavelico , mas isso nao e para ele senao a gene-

    I ')Ji~aC;aode sua experiencia pessoal. Os imbecis creern na honra e no arnor,JIm verdade, ha aperas 0 egoismo e 0 desejo . Os fortes sao capazes de subor-dinar as paixoes as ambi

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    VO I l1 dO um a usa P 'ilttl nil. ' luuuu I" 111-40 t o d o s IS :lUI.' n b s '11. '01110. 'It , n p u d e s s e s u b tr a ir - s u rn S { 1 1 1, 11 1 11 ' v is 0 d m a a sed , bo I s, d 11 'S l'udclas obscenos. "T ro ca - r ne pOI" lim bod ," [ibidem, III, 3], ele diz. Mesmo 11 -quauto sedesenrola a visita protocolar de Ludovico, ele nao consegue controlar-s : "Bern-vindo a Chipre, senhor! ... Bodes e macacos!" [ibidem, IV, 1].

    Caroline Spurgeon, em seu catalogo das imagens de Shakespeare, compara-v a osbestiaries de Cteio e de Re i L e a r.6Nas duas tragedies, os animais aparecemno dominio semantico da dor e da crueldade, dos sofr imentos pelos quais e pre-iso passar, dos torrnentos que infligimos. Em Re i L e a r, sao os animais ferozes,b ' los e perigosos: tigres, abutres, javaIis; em Otelo, repteis e insetos. A tragedia1 1 ' 0 nscorre no espa [ . . . J S6continuo sob asordens delepara servir meus prop6sitos a seu respei-to. [Ibidem, I , 1J

    Otelo ) [ .. .J Minha dignidade, minha estirpe eminha consciencia integra me mos-trarao exatamente como sou. [Ibidem, I, 2J

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    I I ' . w l 1 1 / 0 / 1 1 1 > Il o 1110i lC , bo I 1 10 1 1 ' I ( U ' ( ) dl l In i ns ] I I" o s tu m 's q u ' 111 'I ' 1 " 1 1 1i11l11111l0 t i r u r o m al 10 l 1 1 a l ,I 1 1 1 1 S S ' l' v ll '- 1 1 1 , Io m a l p a r m Ih rar. j lbidcm.rv.y]

    01 10naO e apenas transplantado para 0dominic sernantico de I a go . B r a d -I 'Y dlsse gue sua tragedia era "a antecamara das torturas" . Otelo , assim como() I ' 'i L .ar, sera entregue aos suplicios e conduzido a loucura.

    Sim,que ela apodreca, que elapere,

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    via, "a paixao de uma bela mulher por urn negro feio e I"PI", 'lit It !1 'om, 1 a r-ticular deleite". 7

    Desdemona tern dois ou talvez quat ro anos mais que Julieta, pode ter a ida-de de Ofelia. Mas ela ebern mais mulher que essas duas. Desdemona e ao mes-mo tempo docil e obstinada. Doci l a te 0ponto onde a paixao come

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    do ' iu 'I lJ ( ;l l 'IO , b is to l ' lu 1 1 1 1 i 1 lo 1 0 go , 1 0 do I t ' I 1 < ) 1 : 1 irn n to , r ra n sf or n a- sm o r al ld a dc m e d ie va l,

    ( 1 lo ) E st a b e rn . Quem es tu?f)'S I Bm .o na ) Vossaesposa, meu senhor; vossa f ie l e leal esposa.

    t L a ) Vamos,jura isto e condena-te! Estao semelhante a urn anjo do ceu que osproprios demonios temeriam apoderar-se de ti. Portanto, condena-te duplarnen-t I Juraque es honesta!I e sd emo na ) 0 ceu sabe perfeitamente disto.

    tela) 0ceu sabeperfeitamente que es tao falsaquanta 0 inferno! [Ibidem, IV, 2]

    anjo torna-se diabo. Depois do simbolismo animal dent ro do qual 0 ero-I sm o foi encerrado, eis af 0 segundo e mais frequente dornfnio sernant ico daII'tgedia. A paisagem de Otelo foi primeiro uma terra sem est relas nem lua; de-pols , um mundo de repte is e de insetos; agora, 0cenario, como no teatro me-di val, e feito de duas portas: a celeste e a infernal. Mesmo a criada Emil ia, queI \ 1 1 1 a c ab e c a fria e os pes no chao, t ransforma-se em porte ira do inferno:

    V6s, dama, que tendes 0oftcio contrario ao de sao Pedro e que guardais asportasdo inferno! [Ibidem, IV, 2]

    e diante dessas duas portas que Otelo lanca suas ultimas grandes questoesmt c s do suicidio:

    uando nos encontrarmos no tribunal de Deus, teu aspecto presente bastara paraprecipitar rninha alma fora do ceue sera elaapanhada pelosdemoniosl [Ibidem,V , 2 ]

    Mas, em verdade, Otelo nao e nem uma moralidade nem urn misterio, as-st m como nao e uma opera nem urn melodrama. A natureza e corrupta e nao\ poderia confiar nela. Eros e a natureza, e tampouco sepoderia confiar nele.

    N 0 ha referencia possivel a natureza nem a suas leis. Ela e r n a , eO telo nao e 0( 1 1 1 i 0 a pensar assim. Ela e r n a para Shakespeare. Tao louca e tao cruel como ah ls to r ia . A natureza e corrupta como numa moralidade da Idade Media, mas

    ']11 u () It"Ilmi I),N 0 1I \m ex . ~ 0:

    6 L 1 11 jO S trunsf01'1'l1am-se em diabos. Todos.

    M II 10d co r COI l1 semelhante ideia. Paciencia, jovem querubim de labios roseos, eIi f1 om urn infernal aspecto sinistro! [Ibidem, IV, 2]

    As quencia, e Lear enlouquecido que a dira:on:templai aquela dama de sorriso afetado, cujo rosto faz pensar que tern neve

    11a forquilha das coxas;afeta virtudes e balanca a cabeca ao ouvir 0 nome dopra-zeroNem 0 furao nem 0cavalo na engorda seentregam a mais desenfreados ape-tites, Embora da cintura para cima sejam mulheres, da cintura para baixo saoentauros; os deuses nelas so reinam da cabeca it cintura; desta para baixo, estaoinferno, trevas, po

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    )1 '/0 u rn a t e a di 1 1 ' 1 - 1 I l u . , I . o t u m b < 1 1 1 fa z part 1 0 Barre o. M n ~ ' S S )" t id o , SL l pen s o no or . '10 10$, por lim instante, s im o bil iza rn . o sta ria

    que os ultimos gestos de Otelo ficassem suspensos do mesrno modo. Qu- el'II' uproxirnassedo leito de Desdemona, e recuasse.Acaso eleja nao sabe que as, ' o z C ' > e s ultimas pertencem a I a g o i 0 mundo e realmente vil,seelapede trair,seIt crcd i tam na sua traicao, semesmo elepode acreditar nisso."[...] ficar em du-v i la e ficar resolvido" [ibidem, III, 3}.

    telonao deve obrigatoriamente matar Desdemona. Se,nesse ultimo e de-'islv mornento, ele se afastasse, a peca seria ainda mais cruel. Cressida naoper e depois de sua traicao e Troilonao semata. Tudo termina em sarcasmo.

    telo mata Desdemona para salvar a ordem moral. Para que voltem 0imo r e a fidelidade. Mata Desdemona a fim de poder perdoa-la. A fim de queI. ' contas sejam acertadas e 0mundo retorne a norma. Otelo nao hesita. Querd sesperadamente salvar0sentido da vida,0sentido de sua propria vida, tal-V zate 0 sentido do mundo.

    [ . .. J e dizei, alern do mais, que, certa vez,em Alepo, vendo urn turco, urn impio deturbante, batendo num veneziano e insultando 0Estado, agarrei pelo pesco,