SIMONY HIDEE HAMOY KATAOKA - USP · 2015. 3. 17. · SIMONY HIDEE HAMOY KATAOKA Avaliação dos...

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SIMONY HIDEE HAMOY KATAOKA Avaliação dos efeitos tardios da radioterapia na microcirculação pulpar: Taxa da %SpO 2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos intraorais e de orofaringe São Paulo 2014

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    SIMONY HIDEE HAMOY KATAOKA

    Avaliação dos efeitos tardios da radioterapia na microcirculação pulpar: Taxa da %SpO2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos

    intraorais e de orofaringe

    São Paulo

    2014

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    SIMONY HIDEE HAMOY KATAOKA

    Avaliação dos efeitos tardios da radioterapia na microcirculação pulpar: Taxa da %SpO2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos

    intraorais e de orofaringe

    Versão Original

    Tese apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Doutor, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas. Área de Concentração: Endodontia Orientador: Prof. Dr. Celso Luiz Caldeira

    São Paulo

    2014

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    Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Catalogação da Publicação Serviço de Documentação Odontológica

    Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo

    Kataoka, Simony Hidee Hamoy.

    Avaliação dos efeitos tardios da radioterapia na microcirculação pulpar: taxa da %SpO2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos intraorais e de orofaringe / Simony Hidee Hamoy Kataoka ; orientador Celso Luiz Caldeira. -- São Paulo, 2014.

    82 p. : fig., tab., graf. ; 30 cm. Tese (Doutorado) -- Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas.

    Área de Concentração: Endodontia. -- Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

    Versão original.

    1. Microcirculação. 2. Polpa dentária. 3. Radioterapia – Efeitos de radiação. I. Caldeira, Celso Luiz. II. Título.

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    Kataoka SHH. Avaliação dos efeitos tradios da radioterapia na microcirculação pulpar: Taxa de %SpO2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos intraorais e de orofaringe. Tese apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Odontológicas.

    Aprovado em: _____/_____/2014

    Banca Examinadora

    Prof(a). Dr(a).______________________________________________________

    Instituição: ________________________Julgamento: ______________________ Prof(a). Dr(a).______________________________________________________

    Instituição: ________________________Julgamento: ______________________

    Prof(a). Dr(a).______________________________________________________

    Instituição: ________________________Julgamento: ______________________

    Prof(a). Dr(a).______________________________________________________

    Instituição: ________________________Julgamento: ______________________

    Prof(a). Dr(a).______________________________________________________

    Instituição: ________________________Julgamento: ______________________

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    DEDICATÓRIA

    A Deus, pela fé que me mantém viva e fiel à vida honesta de trabalho e estudo.

    Aos meus pais Milton e Mary, que dignamente me apresentaram a importância da

    família e o caminho da honestidade e persistência.

    Aos meus irmãos Diego e Felipe Guilherme, por aguentarem meus momentos de

    ansiedade e estresse (que não foram poucos) nos meses que me dediquei a esta

    tese.

    À Maroca, nossa segunda mãe, que mesmo de longe sempre mandava mensagens

    de apoio.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador Prof. Dr. Celso Luiz Caldeira, Pela dedicação, paciência, humildade, por ter recebido meu trabalho de forma

    profissional e, pricipalmente, por ter me conduzido desde o mestrado até o

    doutorado com a calma necessária para me ajudar a transpor os momentos difícies.

    Ao Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Fregnani, Meus sinceros agradecimentos e minha admiração pela maneira competente e sábia

    com que conduziu este trabalho no âmbito do Hospital Sírio-Libanês. Pela ajuda e

    orientação dada desde o início no sentido de como caminhar corretamente para se

    chegar ao objetivo final.

    Ao meu eterno orientador e amigo Prof. Dr. Oscar Faciola Pessoa, Mais uma etapa acadêmica que chega ao fim e, felizmente, tenho a honra de poder

    contar com você! Eu não tenho como agradecer tudo e mais um pouco do que você

    faz e é capaz de fazer por mim, sei que muitas vezes (e não são poucas essas

    vezes) dou trabalho e mereço suas repreendas. Mas a vida não é só feita de flores,

    não é mesmo? E são nesses momentos, ouvindo suas impressões que mais

    aprendo com você: bom senso, jogo de cintura, lealdade... Obrigada!

    Ao meu “endo daddy” Prof. Dr. Eudes Gondim Junior, Como posso começar a lhe agradecer? Sinceramente, não sei! São tantos os

    motivos que tenho para fazer isso! Jamais caberiam em poucas linhas e, em

    verdade, nem que escrevesse uma página inteira dedicada à você conseguiria

    expressar a gratidão e o amor que tenho por você... por vocês (Andrea e as

    crianças). Sim, digo vocês porque são minha família em São Paulo, que sempre se

    fazem presente e não são apenas meros espectadores da vida

    acadêmica/profissional de mais uma aluna sua. Muito obrigada por tudo, você é O

    cara!

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    “Gratidão é a maior medida de caráter de uma pessoa. Uma pessoa grata é uma

    pessoa fiel, não te abandona, está sempre contigo. Nela você sempre pode confiar”

    – É isso!!

    Ao Prof. Dr. Giulio Gavini, Obrigada pelas oportunidades de crescimento acadêmico, não só na USP como

    também na UNISANTA! Poucos entenderão, mas basta à nós dois sabermos...

    Como dito por Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. Concordo! Pois é de

    fato burrice todos obedecerem uma ordem que vem não se sabe de onde com

    finalidades inconfessáveis. Contudo, existe a unanimidade inteligente, que requer a

    liberdade de distinguir entre o direito nosso de questionar e o dever nosso de

    comprometermo-nos. Requer, mais ainda, a capacidade de reconhecer que

    podemos estar errados. De modo que espero que sejamos unânimes, agora, quanto

    a certas ideias e valores que nos obrigam a repensar nossa conduta, pedir perdão,

    desdizer o que dissemos, enfim, melhorarmos como pessoas! - “Gentilezza corre la

    prima al perdono”

    Aos Professores da Disciplina de Endodontia da FOUSP, Agradeço pelas oportunidades de convivência e aprendizado.

    Aos médicos, radioterapêutas e funcionários do Hospital Sírio-Libanês, Através de seus conhecimentos e sensibilidade, ensinaram-me que lidar com

    pacientes portadores de neoplasias malignas não requer apenas anos de estudos,

    porém, sobretudo, amor e compaixão com o próximo!

    Aos meus colegas de doutorado: Vitor, Laila, Ceci, Cléber e Elaine. Aos colegas de

    pós-graduação, especialmente as minhas conterrâneas Laís e Amanda, aos meus

    “irmãos japoneses” Edson, Wagner e Rodrigo (CADE-Trauma), aos meuas amigos

    mais que especiais George Candeiro e Mário Leonardo, aos funcionários do

    departamento de Dentística: Aldo, Leandro, Davi e Selma, a ex-secretaria do

    Departamento Ana Maria e a todos os colegas da USP.

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    Aos alunos de Graduação da disciplina de Endodontia da FOUSP, aos alunos de

    Atualização e Especialização da APCD Vila Mariana, com os quais eu tive

    oportunidade de conviver e ensinar a mais bela das belas ciências odontológicas!

    Aos meus amigos “paraenses em São Paulo”, pois sem vocês seguramente seria

    tudo bem mais difícil!

    Aos meus grandes, verdadeiros e eternos amigos: Juliane Priante, Renata

    Tavernard, Jéssyca Fonseca, Mariana Guimarães, Manuella Belém, Karla Salame,

    Walter Gubeissi, Virgínia Balarin e Marcos Ximenes (Kiko)... Cada um de vocês, a

    sua maneira, contribuiu para o êxito deste trabalho!

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    “A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém

    ainda não pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”

    Arthur Schopenhauer

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    RESUMO

    Kataoka SHH. Avaliação dos efeitos tradios da radioterapia na microcirculação pulpar: Taxa de %SpO2 pulpar de pacientes irradiados para tumores malignos intraorais e de orofaringe. Tese apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Odontológicas [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia; 2014. Versão Original.

    O objetivos deste estudo foi avaliar a influência da radiação ionizante na vitalidade

    do tecido pulpar mensurada através dos níveis de saturação de oxigênio (%SpO2)

    em pacientes com tumores malígnos intraoral ou de orofaringe, passado de 4-6 anos

    da radioterapia (RT). Noventa pacientes com tumores malígnos intraoral ou de

    orofaringe, submetidos de 4-6 anos anteriores a RT foram selecionados para este

    estudo. Os níveis de oxigenação e sensibilidade pulpar, avaliados através do

    oxímetro de pulso e do spray refrigerante TFE (tetrafluoretano), foram analisados

    nos dentes anteriores (superior e inferior) de cada paciente selecionado (n=693),,

    indiferente do quadrante e da área irradiada. Como grupo controle foram

    selecionados noventa pacientes saudáveis (nunca submetidos a RT) e os mesmos

    testes foram empregados (n=693). Todos os dentes foram considerados vitais. 100%

    mostraram resposta positva ao teste térmico e as médias de %SpO2 foram de 92.7%

    no grupo dos pacientes irradiados (SD ± 1.83) e 92.6% no grupo dos não-irradiados

    (SD ± 1.80), sem diferença estatística observada. Houve uma tendência de valores

    de %SpO2 menores em dentes caninos comparados aos incisivos, entretanto sem

    diferença estatística significante. Passados de 4-6 anos da RT, as %SpO2 da polpa

    dental estão dentro dos padrões considerados normais para uma polpa vital e pode-

    se assumir que a RT não têm influência danosa a longo prazo sobre a vitalidade do

    tecido pulpar, assim sugerindo que este tecido pode ser apto a retornar o fluxo

    sanguíneo normal após a RT. As mudanças observadas na microcirculação pulpar

    devido a RT parecem ser temporárias, então o tratamento endodôntico preventivo ou

    a extração dental em pacientes que receberam radiação ionizante não deve ser

    necessário.

    Palavras chaves: Microcirculação. Polpa dental. Radioterapia.

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    ABSTRACT

    Kataoka SHH. Late effects evaluation of radiotherapy on dental pulp microcirculation: %SpO2 pulpal rate in patients given radiation therapy for malignant intraoral and oropharyngeal tumors [thesis]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia; 2014. Versão Original.

    The aim of this study was to evaluate the influence of radioation on pulp vitality

    through the measurement of pulpal oxigenation levels (%SpO2) in patients with

    malignant intraoral and oropharyngeal tumors at 4-6 years after radiotherapy (RT).

    Ninety patients with malignant tumors in the oral cavity or oropharynx, submitted to

    RT 4-6 years prior to the study were selected. Pulp oxygenation levels and pulp

    sensitivity, measured by pulse oximetry and by cold refrigerant spray TFE

    (tetrafluoroethane), were analyzed in the anterior teeth (upper and lower) of each

    patient selected (n=693), regardless of the quadrant and the irradiated area. As a

    control group were selected ninety healthy patients (never submitted to RT) and the

    same tests were performed (n=693). All teeth were considered vital. 100% showed a

    positive response to the thermal test and the %SpO2 rates were 92.7% in irradiated

    group (SD ± 1.83) and 92.6% in non-irradiated group (SD ± 1.80), without statistical

    difference. There was a trend for lower %SpO2 values in canine teeth compared to

    incisors, however it was not statistically significant. After 4-6 years of RT the dental

    pulp %SpO2 are within the normal range considered for a vital pulp and it can be

    assumed that RT did not have a long term influence on the pulp vitality, therefore

    suggesting that the pulp tissue may be able to recover normal blood flow after RT.

    The changes observed in the pulp microcirculation due to RT seems to be temporary,

    so preventive endodontic treatment or tooth extraction in patients who will receive RT

    may not be necessary.

    Keywords: Dental Pulp, Microcirculation, Radiotheraphy

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 2.1 - Crânio humano evidenciando as partes denominadas neurocrânio e viscerocrânio, respectivamente .............................................................. 21

    Figura 2.2 - Visão posteriior das vértebras cervicais ............................................... 22

    Figura 2.3 - Localização dos músculos do pescoço .................................................. 23

    Figura 2.4 - Troncos arteriais e suas ramificações até as estruturas bucais ............ 25

    Figura 4.1 - Oxímetro de pulso e sensor modificado em “Y” ..................................... 49

  •    

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 - Comparação das diferente variáveis (contínuas e nominais) entre os gêneros ................................................................................................ 50

    Tabela 5.1 - Respostas pulpares positivas ao TSP 4 – 6 anos após a RT .............. 51

    Tabela 5.1 - Média de %SpO2 total e por elemento dental nos grupos I e II ............ 51

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Aβ fibras A beta

    Aδ fibras A delta

    CA câncer

    CD31 molécula de adesão celular endotelial (anticorpo PECAM)

    CD34 antígeno celular de superfície

    CD105 glicoproteína transmembrana

    CGRP gen peptídeo relacionado a calcitonina

    CO2 gás carbônico

    Co60 cobalto 60

    EPO eritropoetina

    FVIII fator VIII ou Fator de von Willebrand

    Gy Gray

    Hg hemoglobina

    HgO2 oxihemoglobina

    HgCO2 desoxihemoglobina

    HIF-1α fator de hipóxia induzida 1 alfa

    IL-2 interleucina 2

    IMRT radioterapia com intensidade modulada

    LED diiodo emissor de luz

    MEC matriz extracelular

    NKA neuroquinina A

    nm nanômetro

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    NPY neuropeptídeo Y

    O2 oxigênio

    OP oxímetro de pulso

    PAI-I inibidor do ativador plasminogênico

    RT radioterapia

    %SpO2 taxa de oxigenação, tensão de oxigênio ou saturação de

    oxigênio

    TNF fator de necrose tumoral

    TSP teste de sensibilidade pulpar

    VEGF fator de crescimento do endotélio vascular

    VEGF-C receptor C do fator de crescimento do endotélio vascular

    VIP polipeptídeo intestinal vasoativo

    µm micrometro

    3DRT radioterapia conformacional tridimensional

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    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 20 2.1 Considerações a respeito da anatomia e circulação sanguínea

    da cabeça e do pescoço ............................................................................................ 21 2.2 Aspectos morfofuncionais e microcirculação pulpar ............................................ 27 2.3 Efeitos da radiação ionizante na polpa dental ..................................................... 37 3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................................... 45 4 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 46 4.1 Seleção dos pacientes ......................................................................................... 47

    4.2 Critérios de inclusão ............................................................................................ 47

    4.3 Critérios de exclusão ........................................................................................... 47

    4.4 Coleta dos dados (Anamnese e exame clínico intraoral) .................................... 47

    4.5 Grupos experimentais .......................................................................................... 48

    4.6 Experimento ......................................................................................................... 48

    4.7 Análise dos dados ............................................................................................... 49

    5 RESULTADOS ...................................................................................................... 50 6 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 54 7 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62 APÊNDICES .............................................................................................................. 75 ANEXOS .................................................................................................................... 82

  • 16  

     

    1 INTRODUÇÃO

    A anatomia é a ciência médica mais antiga e data desde o Período

    Helenístico onde se destacou o médico Herófilo, o qual distinguiu nervos de

    vasos sanguíneos de nervos motores sensitivos. Na Grécia antiga, o estudo

    sistemático da anatomia começou com Alcamaeon (500 a.C.), Hipócrates

    (460-377 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C), este último que acreditava haver

    apenas ar nas artérias. Galeno (129-199 d.C) entre outras descobertas

    diferenciou veias e artérias e demonstrou, experimentalmente, que as artérias

    carregavam sangue. Em 1543, Vesalius integrou texto e desenhos de corpos

    dissecados, sendo sua obra considerada a base da medicina moderna.

    Contudo, os anatomistas passaram a considerar a integração entre estrutura

    e função somente após descrições de Harvey em 1628.

    A combinação de órgãos com função semelhante ou relacionada que

    atuam sinergicamente é a melhor definição de um sistema corporal. Assim, a

    cabeça e o pescoço são duas regiões anatômicas distintas, mas que

    possuem a inervação e irrigação relacionadas. Com relação ao sistema

    circulatório, este é controlado pelo músculo cardíaco que bombeia o sangue

    por todo o corpo através de uma rede complexa de artérias e, do arco da

    aorta suscitam artérias e veias, sendo as artérias carótidas comum direita e

    esquerda, as principais artérias do pescoço e da cabeça. A artéria carótida

    externa fornece parte da vascularização do pescoço e toda a da face, sendo

    que algumas destas ramificações estão diretamente relacionadas com o

    aporte de sangue para as estruturas bucais e o tecido pulpar.

    A polpa dental é um tecido conjuntivo frouxo especializado que possui

    um desenvolvimento fisiológico diferenciado dos outros tecidos e seu

    suprimento sanguíneo consiste de pequenos vasos com diâmetro das

    arteríolas inferior a 100 µm e o diâmetro das veias inferior a 200 µm e ainda,

    é capaz de apresentar características vasculares singulares.

    Sabido é, que o real determinante da vitalidade de qualquer tecido é a

    presença de suprimento sanguíneo oxigenado. Contudo, devido as

    características de enclausuramento do tecido pulpar entre paredes rígidas e

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    inelásticas, por vezes torna a determinação do real status pulpar uma tarefa

    árdua e/ou quase inconcebível.

    Dentre as manobras técnicas para o estabelecimento da “vitalidade”

    pulpar, um dos mais utilizados é o teste térmico a frio. Neste teste inúmeros

    podem ser os agentes empregados para dimanar o resfriamento da estrutura

    dental.

    As respostas dentais frente aos estímulos térmicos são conduzidas

    através do esmalte, da dentina e no limite da junção dentino pulpar,

    modificando a temperatura dos receptores, o suficiente para produzir

    excitabilidade. Por outro lado, forças físicas geradas pelo rápido resfriamento

    ou aquecimento dos tecidos dentais causam uma distorção da superfície da

    membrana dos receptores.

    Todavia, este teste não é fidedigno, ao contrário, é obstável, pois que

    a confirmação do status da polpa não pode ser dado em virtude da recepção

    de estímulos nervosos pelas estruturas sensoriais intrapulpares.

    Erroneamente designado “teste de vitalidade pulpar”, tal teste não é indicador

    real da vitalidade do tecido. Pois sim, vitalidade está diretamente relacionada

    com a presença de sangue, de forma que somente podem estabelecer a

    existência de suprimento nervoso viável.

    Alguns métodos verdadeiramente apresentam potencial para a

    determinação do estado microcirculatório da polpa, o que realmente

    corresponde a vitalidade deste tecido, que são chamados “testes

    fisiométricos”.

    Entre os testes que determinam o fluxo sanguíneo dos tecidos, os

    utilizados para a mensuração da microcirculação pulpar, já descritos na

    literatura, são a fotopletismografia, a termografia, a fluxometria laser Doppler,

    a oximetria de pulso, entre outros.

    Outrossim, os diferentes tipos de testes pulpares fisiométricos,

    apresentam limitações, sendo que uma das principais do oxímetro de pulso

    (OP) se dava em razão da sonda e também das características anatômicas

    dos dentes; porém, claramente desempenham uma função primordial no

    diagnóstico oral.

    Dos métodos disponíveis, a oximetria de pulso é uma possibilidade

    real para ser utilizada clinicamente na endodontia, uma vez que através deste

  • 18  

     

    pode-se determinar a taxa de pulso e a saturação de oxihemoglobina (HgO2)

    funcional presente no sangue. Os parâmetros para a utilização do OP como

    teste de vitalidade pulpar foram comprovadas pela correlação entre o nível de

    oxigenação sanguínea obtido do dedo indicador e dos dentes, incisivos e

    caninos.

    Estas similaridades entre os valores obtidos (dedo-dente) validam a

    oximetria de pulso como um método confiável no diagnóstico da vitalidade

    pulpar. As alterações vasculares na polpa dental, contínuas ou transitórias,

    são ocasionadas por inúmeros fatores. Os mais estudados são os casos de

    traumatismo dentário, que são decorrentes de uma injúria física mecânica.

    Bem como um trauma dental, a radioterapia pode causar alterações

    microcirculatórias, tendo em vista que a radiação ionizante motiva,

    geralmente sobre os tecidos, injúrias de ordem química.

    A radiação ionizante começou a ser utilizada na Medicina no início da

    década de 1930, sendo o rádio natural a fonte de energia letal de destruição

    de células cancerosas. Desde então, outros isótopos manufaturados foram

    viabilizados e, na década de 1950, o Cobalo-60 e o Césio-137 conseguiram

    aumentar as doses tumorais em pontos mais profundos e, ao mesmo tempo,

    promover uma menos absorção por estruturas ósseas vizinhas.

    Com os avanços e a sofisticação da engenharia da radiação,

    começaram a ser utilizados feixes eletromagnéticos de alta energia, os

    chamados “canhões de elétrons”. Assim, muitos tumores malignos de cabeça

    e pescoço são tratados através da radioterapia ou oncoterapia. O uso desta

    modalidade terapêutica é indicado pela propriedade da radiação de destruir

    células neoplásicas, porém há sempre efeitos indesejáveis sobre os tecidos

    normais.

    A radiação ionizante age sobre o ácido desoxirribonucléico (DNA)

    levando as células à morte ou à perda de sua capacidade reprodutiva,

    podendo ser de forma direta (interferência no processo de duplicação pela

    quebra nos dois lados da molécula de DNA) ou de forma indireta pela

    ionização da água do citoplasma (radiólise da água). Em sendo assim, parte

    da radiação induz defeitos terapêuticos, bem como, por outro lado, pode ser

    a base das mudanças vasculares.

  • 19  

     

    As células endoteliais são provavelmente os elementos mais

    radiossensíveis dos tecidos mesenquimais e os efeitos da irradiação podem

    incluir: degeneração das células vasculares, vasoconstrição e formação de

    trombos. Os tumores malignos de cabeça e pescoço, em geral, são tratados

    por meio da RT, entretanto, esta região é composta por inúmeras estruturas e

    cada uma apresenta resposta inerente à dose de radiação recebida.

    Durante a RT comprovadamente sabe-se que as taxas de oxigenação

    do tecido pulpar decrescem, mas isto não implica dizer que ocorre necrose

    gradual e por fim, total deste tecido. Muito pelo contrário, após alguns meses

    do termino do tratamento radioterápico, a microcirculação pulpar parece

    retornar a níveis de oxigenação muito próximos da média considerada

    normal.

    O aumento da sobrevida desses pacientes, tornou-se possível por

    causa do avanço tecnológico da engenharia da radiação, entretanto a

    elevação da taxa de cura implicou um número cada vez maior de pacientes

    com sequelas, por vezes necessitando de atendimento odontológico curativo

    e reabilitador.

    O tratamento endodôntico prévio ou mesmo a extração de dentes com

    prognóstico pobre ou duvidoso é fato comum durante a RT, indicação que é

    devida mais pela impropriedade de se avaliar corretamente o estado pulpar

    do que pelas consequências que podem advir.

    A importância deste estudo, confirmada pelas informações obtidas na

    revisão da literatura, as quais são extremamente limitadas e escassas,

    justificam esta pesquisa relacionada às alterações circulatórias tardias sobre

    a polpa dental causada pela RT, com o intuito maior de dar condições para

    que a saúde dental seja mais bem preservada.

  • 20  

     

    2 REVISÃO DA LITERATURA

    Anat

    omia

    e Fi

    siolo

    gia d

    a Ca

    beça

    e do

    Pesc

    oço

  • 21  

     

    2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Considerações a respeito da anatomia e circulação sanguínea da região de cabeça e pescoço

    O estudo das estruturas anatômicas da cabeça e do pescoço inclui o

    cérebro, os ossos, os músculos, os vasos sanguíneos, os nervos, as

    glândulas, o nariz, a boca, os dentes, a língua e o trato respiratório. E ainda,

    de acordo com Guyton e Hall (1996), não existem estruturas ou sistemas

    independentes no corpo humano.

    Um sistema corporal é uma combinação de órgãos com função

    semelhante ou relacionada que atuam sinergicamente, como uma unidade

    integrada. Assim, a cabeça e o pescoço são duas regiões anatômicas

    distintas, mas têm a inervação e irrigação relacionadas (Moses et al. 2006).

    Conforme fôra conceituado por Tortora em 2000, a arquitetura óssea

    da cabeça, considerando-se suas funções, divide-se em duas partes

    distintas: a parte maior chamada neurocrânio (póstero-superior) e uma parte

    menor (ântero-inferior), essencialmente cavitária e orificial, denominada

    viscerocrânio (Figura 2.1).

    Figura 2.1 – Crânio humano evidenciando as partes denominadas neurocrânio e

    viscerocrânio, respectivamente (www.anatomyatlases.org)

  • 22  

     

    O pescoço é a parte sustentada pela coluna vertebral que compreende

    as sete vértebras cervicais, desde o atlas (CI) até a vértebra proeminente

    (CVII). Segundo os autores Palastanga, Field e Soames (1998)

    superiormente, o CI articula-se com o côndilo occipital próximo ao forame

    magno e, inferiormente, ao processo odontóide do axial (CII). Estes autores

    salientam que além das vértebras o pescoço é sustentado por músculos e

    ligamentos, os quais proporcionam uma estrutura músculo-esquelético forte e

    flexível (Figura 2.2).

    Figura 2.2 – Visão posterior das sete vértebras cervicais

    (www.chiropracticierano.com.au/atlas.html)

    Assim como outras estruturas do corpo, para Lopes (2004) o pescoço

    também apresenta pontos de referência anatômicos e pode ser dividido em:

    trígono anterior (limitado pela mandíbula, músculo esternocleidomastóideo e

    linha média do pescoço) e trígono posterior (músculo

    esternocleidomastóideo, músculo trapézio e terço médio da clavícula).

    Muito embora o músculo escaleno anterior seja considerado por

    alguns autores como assoalho do trígno posterior, segundo Mattson (2004) e

    !

    Atlas (CI)Axial (CII)

    Proeminente (CVII)

  • 23  

     

    Kennedy e Mercer (2006), isso não é possível uma vez que o mesmo é um

    músculo profundo e não palpável (Figura 2.3).

    Figura 2.3 – Localização dos músculos de referência do pescoço que formam os trígonos

    anterior e posterior (www.chiropracticierano.com.au/atlas.html)

    Dentro do campo da fisiologia, a descoberta dos vasos sanguíneos se

    deu no ano de 1629, quando o médico William Harvey descobriu que o

    coração bombeava o sangue por todo o corpo através de artérias e o retorno

    ao coração ocorria através das veias. Por volta de 1661, Marcello Malphighi

    identificou os capilares e Casper Aselius descobriu os vasos linfáticos

    (Carmeliet. 2005).

    O surgimento dos vasos sanguíneos ocorre a partir de precursores

    endoteliais que compartilham uma origem com progenitores

    hematopoiéticios. Esta estreita ligação entre o sangue e o sistema sanguíneo

    vascular permanece importante para a angiogênese por toda a vida, mesmo

    na doença. Nos últimos 15 anos, muitos estudos foram feitos e descobertas

    realizadas, dentre elas que o fator regulador chave do “brotamento” do

    endotélio celular vascular é o VEGF e seu homólogo VEGF-C. Contuto, a

    formação dos vasos é um processo complexo, o qual requer um equilíbrio

    finamente sintonizado entre numerosos sinais estimuladores e inibidores

    (Carmeliet. 2005).

    !

    Trígono Anterior

    Trígono Posterior

  • 24  

     

    Acorde Siqueira Jr e Dantas (2000), existem três tipos principais de

    líquidos no organismo: o sangue, que consiste de dois componentes

    (glóbulos sanguíneos e plasma sanguíneo), o líquido tecidual, o qual permeia

    as substâncias intercelulares amorfas e é constituído de água livre e água de

    solvatação (proteoglicanas) e por último a linfa, que corresponde ao excesso

    de líquido tecidual não absorvido pelo organismo que drena para a luz dos

    capilares linfáticos, circulando dos órgãos para os grandes vasos linfáticos

    próximo ao coração, retornando o conteúdo líquido para o sangue.

    Conforme anteriormente já descrito por William Harvey, os autores

    Guyton e Hall (1996), ratificaram que o sistema circulatório é controlado pelo

    coração, que bombeia o sangue para todo o corpo através de uma rede de

    artérias e pode ser dividido em dois tipos de circulação – grande circulação

    ou circulação sistêmica e pequena circulação ou circulação pulmonar.

    Os eritrócitos ou hemácias são glóbulos sanguíneos anucleados em

    forma de disco bicôncavo flexível, forma esta que facilita as trocas gasosas

    entre os tecidos e evita que os eritrócitos fiquem presos em ângulos de

    bifurcação dos capilares. Para os autores Siqueira Jr e Dantas (2000); Brissot

    e De Bels (2006), aproximadamente, 1/3 de sua massa é constituída por Hb

    permitindo o transporte de O2 e CO2. Encontrada nas hemácias, a Hb é responsável pela interação e

    distribuição do O2 formando um complexo oxi-hemoglobina (HbO2), o qual

    chegando aos tecidos do organismo tem o O2 liberado. Então o sangue

    arterial, antes carregado de HbO2, transforma-se em sangue venoso devido

    ocorrer a interação Hb e CO2 resultando em carboxi-hemoglobina que,

    posteriormente, libera o CO2 nos pulmões (Steinberg et al. 2001).

    Em 2004, Giardina, Mosca e De Rosa reafirmaram que a Hb possui

    estrutura quaternária com a presença de um íon ferro no centro, o qual se

    liga à molécula de O2. Assim por adaptação fisiológica do organismo, uma

    pequena concentração de O2 estimula a produção natural de EPO, hormônio

    este que aumenta a produção de glóbulos vermelhos.

    Do arco da aorta se origina um tronco arterial intermediário

    denominado tronco braquiocefálico e deste, suscitam a artéria subclávia

    direita e a arterial carótida comum direita. Em compensação, no lado

  • 25  

     

    esquerdo originam-se, diretamente do arco da aorta, a artéria subclávia

    esquerda e a artéria carótida comum esquerda (Sobotta, 2000).

    As artérias carótidas comuns, direita e esquerda, são as principais

    artérias do pescoço e da cabeça. Cada uma se divide próximo à quarta

    vértebra cervical, a cerca de 2,0 cm do ângulo da mandíbula, em artéria

    carótida interna e externa. Sendo que a artéria carótida interna penetra no

    crânio através do canal carótido, irrigado o cérebro e o cerebelo através de

    uma anastomose poligonal (Polígono de Willis) enquanto que, a artéria

    carótida externa fornece parte da vascularização do pescoço e toda a da

    face, de acordo com Gusmão (2003).

    Em 1859, Sir Erasmus Wilson dissertou que abaixo dos nervos têm-se

    o plano arterial, o qual inclui as partes terminais da artéria carótida externa e

    seus ramos. A artéria maxilar é um ramo terminal da artéria carótida externa,

    de acordo com Navarro, Monteiro e Murão (1995). Ao penetrar na fossa

    infratemporal e pterigopalatina, a artéria maxilar se distribui com os ramos

    das divisões, maxilar e mandibular, do nervo trigêmeo e algumas dessas

    ramificações estão diretamente relacionadas com o aporte de sangue para as

    estruturas bucais e o tecido pulpar (Sobotta, 2000; Baptista-Silva, 2003)

    (Figura 2.4).

    Figura 2.4 – Troncos arteriais e suas ramificações desde a origem comum no arco da aorta

    até as ramificações que irrigam a face e as estruturas bucais (SmartDraw®. 2007)

    Tronco braquiocefálico

    Artéria subclávia direita

    Artéria carótida comum direita

    Artéria subclávia esquerda

    Artéria carótida comum esquerda

    Arco da aorta

    !

    !

  • 26  

     

    Polp

    a de

    ntal

    - Fi

    siolo

    gia e

    Diag

    nósti

    co

  • 27  

     

    2.2 Aspectos morfofuncionais e microcirulação pulpar

    A polpa dental é um tecido conjuntivo frouxo especializado, com alta

    atividade funcional. Os seus componentes estruturais – células progenitoras,

    células de defesa, substância intersticial amorfa e substância intersticial

    fibrosa, servem como estroma e parênquima ao mesmo tempo, pois sustenta

    a si e a dentina (Estrela, 2004).

    Circundada por uma camada de dentina e outra de esmalte, a polpa

    dental possui um desenvolvimento fisiológico diferenciado dos outros tecidos

    (Kim, 1985). Para Bergenholtz et al. (1985) os odontoblastos são células

    formadoras de dentina, portanto, sua diferenciação é regulada por interações

    epitélio-mesenquimais e, a proliferação e diferenciação das células pulpares

    são elementos essenciais no seu processo de reparação.

    Os tecidos pulpares respondem às agressões na dentina pela

    formação de uma barreira de dentina reacional, secretada por odontoblastos

    existentes (Magloire, Joffre e Bleicher. 1996). Acrescentam os autores Smith

    e Lesot (2001) e Estrela (2004) que frente a injúria de grande intensidade,

    derivados de células progenitoras primárias (odontoblastóides), novos

    odontoblastos são diferenciados e depositam uma matriz de dentina

    heterogênea caracterizando dentina reparadora.

    Magloire et al. (2001) consideram que os odontoblastos respondem,

    durante o processo de reparação, as moléculas indutivas liberadas pela

    dentina lesada bem como pelo tecido pulpar subjacente a injúria.

    Conforme descrito pelos autores Lacerda Neto, Gavini e Aun (1998), a

    polpa dental é um tecido conjuntivo constituído por inúmeros vasos

    sanguíneos e um denso sistema nervoso, o qual penetra através dos forames

    e foraminas apicais concomitantemente com os troncos vasculares em

    direção à porção coronária, de onde se ramificam fazendo com que haja uma

    concentração de fibras originando o plexo de Raschkow.

    Assim, cabe relembrar que o plexo de Raschkow, situado na região

    sub odontoblástica, é formado principalmente pelas fibras delta (Aδ) e fibras

    C. Como descrito por Bergenholtz et al. (1985) tais fibras penetram ao longo

    da polpa dental via foramina apical de maneira que na porção coronal os

    feixes se divergem e se anastomosam.

  • 28  

     

    As fibras sensórias se estendem à camada odontoblástica, pré dentina

    e dentina, acabando em terminações nervosas livres. Desta maneira, todas

    as formas de estímulo são percebidas pela polpa dental como nocivos e dão

    a sensação de dor (Trowbridge, 1986; Nair, 1995).

    Diferenças de resposta hidrodinâmica aparecem frente ao frio, jato de

    ar, ao calor e, dentre outros, correspondendo às diferenças na qualidade da

    dor clinicamente observada. Disto pode-se concluir que existem dois tipos de

    dor de dente, possivelmente, mediadas por dois tipos distintos de fibras

    nervosas (Brännstrom; Åström, 1972).

    Os dois tipos de fibras sensoriais presentes na polpa dental são

    representadas pelas mielinizadas (fibras A) e as não mielinizadas (fibras C).

    Predominantemente, as fibras A inervam a dentina e são subdivididas de

    acordo com o seu diâmetro e velocidade de condução do estímulo nervoso

    em fibras δA ou fibras A beta (Aβ) , conforme reportado por Bender (2000) e

    Gopikrishna et al. (2009).

    Neste ponto cabe ressaltar que a determinação do status pulpar serve

    de guia para os procedimentos ulteriores e, via de regra, é conseguido

    através dos testes térmicos a frio.

    A resposta nervosa é dada em virtude aos efeitos diretos da mudança

    de temperatura na polpa, causando a expansão ou pressão, ou por

    mudanças vasomotoras, as quais provocavam estímulo sobre os nervos

    (Naylor. 1964).

    As respostas dentais frente aos estímulos térmicos são conduzidas

    através do esmalte, da dentina e no limite da junção dentino pulpar,

    modificando a temperatura dos receptores, o suficiente para produzir

    excitabilidade, de maneira que os terminais poderiam funcionar como

    termoreceptores. Por outro lado, estes terminais são considerados como

    mecanoreceptores, pois forças físicas geradas pelo rápido resfriamento ou

    aquecimento dos tecidos dentais favorecem a transdução mecâno elétrica

    pela distorção da superfície da membrana dos receptores (Trowbridge et al.,

    1980).

    Em sendo assim, o uso dos gases refrigerantes, sob a forma de

    aerosol, levou a uma maior confiabilidade na avaliação da resposta pulpar,

    principalmente em dentes com grande espessura dentinária (Caldeira et al.,

  • 29  

     

    1995), independente de ser diclorodifluorometano ou tetrafluoroetano

    (Castagnola; Negro, 1972; Buckingham, 1982).

    Caldeira (1997) comparou clinicamente a resposta pulpar de dentes

    submetidos ao TSP com gelo e diclorodifluorometano. Obteve resultados

    mais eficazes com este último e, salientou que com o avançar da idade a

    resposta era mais diminuta.

    Intentando verificar a capacidade de transmissão do estímulo com frio

    da parede vestibular externa, utilizando o tetrafluoroetano, até a parede

    vestibular interna, Caldeira (1998) assegurou que em paciente com idades

    mais avançadas ocorreu um aumento gradual no tempo de resposta; houve

    um aumento da espessura do esmalte (parede vestibular interna) e ainda, um

    aumento no tempo de troca da temperatura na face vestibular interna dos

    dentes.

    Como salientado por Gopikrishna et al. (2009) é importante ter o

    conhecimento das características da inervação pulpar, com a intenção de

    compreender os mecanismos envolvidos na sensibilidade frente aos testes

    pulpares.

    Sabidamente, a duração da dor não se deve ao tipo de dente e, além

    disso, a sensibilidade da dentina é mediada pelos movimentos dos fluidos

    presentes nos túbulos dentinários que ativam as fibras A (Leffingwell et al.,

    2004). Porém, os autores Chidchuangchan et al. (2003) e Ajcharanukul et al.

    (2004) demonstraram que os estímulos sensoriais, em relação ao teste

    térmico, não dependem apenas do mecanismo hidrodinâmico.

    Linsuwanont et al. (2006) asseguraram que a estimulação térmica

    causa a movimentação de fluidos antes que ocorra uma mudança de

    temperatura na parede da polpa. Além disso, salientaram ainda que a

    contração e expansão do líquido no interior dos túbulos não poderiam ser a

    única explicação para o movimento dos fluidos e a sensação de dor em

    dentes intactos.

    Como já demonstrado nos trabalhos de Wakisaka (1990), Byers

    (1994), De Swert; Joos (2006) e Caviedes-Bucheli et al. (2008) muitos fatores

    participam do processo e transmissão da dor. E vários neuropeptídeos foram

    observados presentes nas fibras intrapulpares, entre eles se destacam:

    substância P (SP), neuroquinina A (NKA), neuropeptídeo Y (NPY),

  • 30  

     

    polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP) e gen peptídeo relacionado a

    calcitonina (CGRP). Doravante, tais proteínas também podem estar

    relacionadas e participando dos mecanismos de transmissão dolorosa.

    O suprimento sanguíneo e não a inervação é o determinante mais

    seguro da vitalidade pulpar (Fratkin et al., 1999; Radhakrishnan et al., 2002)

    pois, o dente permanente ou decíduo, pode ter suas funções sensoriais

    perdidas em virtude de alguns fatores e ser irresponsível aos TSP (Yanpiset

    et al., 2001).

    Para que haja um perfeito metabolismo pulpar acima de tudo é

    necessário um bom suprimento sanguíneo e, sobretudo, conforme enfatizou

    Edwall no ano de 1986, as fibras δA são extremamente dependentes de O2.

    Corroborando com esta assertiva, Kim (1990) assegurou que o

    aumento do fluxo sanguíneo na polpa dental causava a excitação das fibras

    δA e fibras C. Em contrapartida, a diminuição desse fluxo levava a uma

    inibição das atividades das fibras δA. Para Narhi (1990), a dor associada às

    fibras C ocorria devido a presença de mediadores inflamatórios, as mudanças

    no volume e fluxo vascular, bem como o aumento da pressão.

    De maneira que a contínua aplicação do estímulo com frio

    compromete o fluxo sanguíneo devido a uma vasoconstrição e pode acarretar

    anóxia, condição na qual as fibras mielínicas cessam suas funções (Ahlquist;

    Frazén, 1999).

    Pelo exposto, evidente está que os métodos de teste pulpares

    comumente empregados (térmico e elétrico) e erroneamente designados

    “testes de vitalidade pulpar” não são indicadores reais da vitalidade do tecido,

    uma vez que o termo vitalidade possui relação direta com a presença de

    sangue nos tecidos, assim somente podem estabelecer a existência de

    suprimento nervoso viável.

    No que tange o suprimento sanguíneo da polpa dental, este consiste

    de pequenos vasos com diâmetro das arteríolas inferior a 100µm e o

    diâmetro das veias inferior a 200µm. Ainda conforme Kim (1985) existe

    numerosos capilares que se ramificam a partir de arteríolas para formar um

    denso plexo capilar subodontoblástico, que na polpa dental apresenta

    características vasculares singulares como: anastomoses arterovenosa,

    anastomose venovenosa e arteríolas emaranhadas em forma de “U”

  • 31  

     

    A rede vascular é ligada por condutos de vasos sanguíneos que, como

    descrito pelos autores Bou-Gharios et al. (2004), são compostos pelo

    endotélio (camada de células que circunda o lúmen do vaso); células

    mesenquimais (dão o suporte estrutural e contratibilidade vascular); e a

    matriz extracelular (regula adesão celular, diferenciação e proliferação).

    Na polpa dental de adultos jovens, foi demonstrada a presença de

    microvasos bem definidos, com o reconhecimento intenso da expressão do

    antígeno CD34 no endotélio celular, indicando uma habilidade de

    remodelação e vasculogênese pelos vasos da polpa dental (Trubiani et al.,

    2004; Digka et al., 2006).

    Essa habilidade de remodelação da polpa, em virtude da presença do

    CD34, é sustentada pelos achados de Nagatsuka et al. (2005) os quais

    asseguraram que vasos sanguíneos tumorais positivos para CD31, CD34 e

    CD105 são considerados representantes de novos vasos com forte atividade

    remodeladora.

    O CD34 é uma proteína de superfície (proteína trans-membrana)

    expressa seletivamente por células progenitoras hematopoiéticas e

    endoteliais (Lanza, Healey, Sutherland. 2003). Para Kuwana et al. (2004) as

    proteínas trans-membrana apresentam campo de ação contendo citocinas

    variáveis e servem como ligantes para L-selectinas no endotélio celular.

    Segundo os autores Digka et al. (2006) o CD34 é largamente utilizado

    como marcador endotelial para identificação da vasculatura e, de acordo com

    esses mesmos autores, o endotélio vascular da polpa dental mostrou

    manchamento positivo para CD34, sendo os capilares da camada sub-

    odontoblástica mais positivos.

    Entre polpas jovens e adultas velhas foram observadas diferenças

    celulares significativas, porém não houve perda de populações celulares

    apenas transformação das células, sendo que os corpúsculos de Weibel-

    Palade não apresentaram qualquer variação (Espina et al., 2003).

    Corpúsculos de Weibel-Palade são organelas de armazenamento do

    Fator de von Willebrand (o qual funciona como um carreador do fator VIII) e

    são estruturas encontradas frequentemente em lesões que exibem natureza

    angiogênica, porquanto são considerados como marcadores de crescimento

    rápido de capilares sanguíneos (Abreu et al, 2003).

  • 32  

     

    As alterações das funções microcirculatórias, como o fluxo de sangue,

    pressão intra e extra vascular, volume de sangue e permeabilidade capilar,

    tem importante papel nos transtornos pulpares iniciais (Iijima; Zhang, 2002).

    Para Okamura et al. (1994), os capilares e as vênulas que apresentam

    uma maior permeabilidade recebem uma inervação mais fraca dos nervos

    vasomotores, e esta íntima relação entre nervos e arteríolas está relacionado

    a função pulpar em circunstâncias fisiológicas normais e patológicas.

    Em 2013, Steiniger et al. através do manchamento positivo para CD34

    de vasos da polpa dental demonstraram uma associação única entre os

    feixes de fibras nervosas mielinizadas com as arteríolas. As fibras nervosas

    não apenas acompanhavam o trajeto das arteríolas, mas também envolviam-

    as parcial ou totalmente. De maneira que este arranjo parece apoiar

    mecanicamente as arteríolas e também aliviar a detecção ou regulação do

    seu estado de contração pelas fibras nervosas.

    A determinação do real status pulpar é a primeira das etapas

    relacionadas a terapia endodôntica, sendo esta de suma importância uma

    vez que serve de referencial para os procedimentos subsequentes.

    Comumente têm-se empregado o teste térmico a frio, o qual promove a

    excitação das fibras nervosas A. Todavia, não são testes fidedignos e

    erroneamente chamados de teste de vitalidade pulpar.

    É imperioso salientar que alguns métodos, os quais não são utilizados

    corriqueiramente, verdadeiramente apresentam potencial para a

    determinação do estado microcirculatório da polpa, o que realmente

    corresponde a vitalidade deste e de qualquer outro tecido.

    Através de testes fisiométricos é determinado o fluxo sanguíneo dos

    tecidos, estando estes menos sujeitos as limitações e variáveis impostas aos

    TSP. Dentre os utilizados para a mensuração da microcirculação pulpar

    foram descritos na literatura: a fotopletismografia, a termografia, a fluxometria

    laser Doppler, a oximetria de pulso, entre outros (Calil, 2003).

    Através da oximetria de pulso é possível determinar a taxa de pulso e

    a saturação de oxihemoglobina (HgO2) funcional presente no sangue. Essa

    saturação funcional significa que a Hg sem função (desoxihemoglobina

    [HgCO2] e metahemoglobina [HgM]) não é incluída no cálculo; assim, dentre

  • 33  

     

    outros e por esse motivo, se diferencia das anteriores (Novametris Medical

    Systems Inc®.).

    O OP utiliza os princípios da lei de Beer-Lambert, a qual atesta que

    uma concentração desconhecida de soluto (Hg) dissolvida em um solvente

    conhecido (sangue) pode ser taxada pela absorção de luz pelo soluto

    (Schnapp; Cohen, 1990; Benaron et al., 1992; McMarrow; Myther, 2006).

    A partir de um diiodo emissor de luz (LED) dois comprimentos são

    medidos, em faixas vermelha (± 640nm) e infravermelha (900 – 940nm). Essa

    luz é recebida por um fotodetector, sendo que a mudança pulsátil no volume

    de sangue causa mudanças periódicas na quantidade das duas luzes

    absorvidas pelo leito vascular antes de alcançar o detector. A relação entre

    as mudanças pulsáteis na absorção das luzes é taxada pelo aparelho e junto

    com as curvas de absorção de HgO2 e HgCO2 conhecidas é determinado a

    tensão de oxigênio (%SpO2) (Alexander, 1989; Bowes, 1989).

    No uso médico, Bennett e Kinnear (1999) atestaram que o OP gera

    dados significantes a um baixo custo. Entretanto, na odontologia seu uso não

    é completamente o mesmo que na medicina, o que para os autores Oikarinen

    et al. (1996) se devia a algumas limitações inerentes ao aparelho.

    Essas limitações poderiam ser intrínsecas, as quais incluíam o

    excessivo fluxo de CO2 no sangue interferindo com os valores de HgCO2,

    pacientes com baixa perfusão, hemoglobinemias, vasoconstrição,

    hipotensão, ou extrínsecas, como esmaltes de unha escuros interferindo nas

    leituras digitais, interferências da luz do ambiente, da movimentação do

    paciente e da sonda em razão das características anatômicas dos dentes

    (Schnetter; Wallace, 1991; Gandy, 1995; Petterson et al., 2007).

    Os diferentes tipos de testes pulpares, sensoriais ou fisiométricos,

    apresentam limitações, porém, claramente desempenham uma função

    primordial no diagnóstico endodôntico. Dentre os métodos disponíveis, a

    oximetria de pulso é uma possibilidade real para ser utilizada clinicamente,

    uma vez que a SpO2 do tecido é detectada por esse aparelho determinando a

    vitalidade do tecido.

    Comparando a acurácia do OP com sonda modificada, TSP e o teste

    elétrico foi encontrado que a probabilidade de resultados negativos aos testes

    (indicando vitalidade pulpar) foi de 100%, 81% e 74%, respectivamente.

  • 34  

     

    Enquanto que a probabilidade de resultados positivos (indicando necrose

    pulpar) foi de 95% para o OP, 92% para o TSP e 91% para o teste elétrico

    (Gopikrishna et al. 2007a).

    A customização da sonda do OP realizada por Gopikrishna et al.

    (2007b) demonstrou uma maior sensibilidade e capacidade para se sobrepor

    ao TSP com frio e ao teste elétrico, por isso, asseveraram os autores que

    este é um método seguro e confiável para identificar dentes desvitalizados,

    recentemente traumatizados.

    Visando o estabelecimento de parâmetros para a utilização do OP

    como teste de vitalidade pulpar, Calil (2003) avaliou os níveis de %SpO2

    obtidos entre os dentes clinicamente sem alteração inflamatória e comparou-

    os aos níveis obtidos do dedo indicador dos mesmos pacientes. O autor

    verificou uma correlação entre o nível de oxigenação sanguínea obtido do

    dedo indicador do paciente e dentes testado. Aliás, observou ainda, a não

    ocorrência de diferença estatisticamente significante entre o nível de

    oxigenação sanguínea obtida em dentes incisivos e caninos superiores.

    As similaridades entre os valores obtidos no dedo e no dente validam o

    OP como um método confiável no diagnóstico da vitalidade pulpar,

    principalmente em dentes traumatizados, bem como apresenta potencial para

    a análise do estágio de processos patológicos da polpa (Schnetter, Wallace,

    1991).

    Baseado nessa correlação (dedo-dente), Setzer et al. (2012)

    conseguiu determinar as médias de %SpO2 em três situações clínicas

    distintas, a saber: dentes com alteração inflamatória reversível (média de

    87.1%); alteração inflamatória irreversível (82.4%) e dentes com necrose

    pulpar (74.2%).

    O OP, pelo monitoramento das mudanças de %SpO2, o pode ser

    capaz de detectar inflamação pulpar ou necrose parcial em dentes que ainda

    respondem sensivelmente a outros testes (Goho, 1999; Rajkuman et al.,

    2006; Calil et al., 2008).

    Contudo, é imprescindível que exista um fluxo sanguíneo arterial

    normal. Quando esse fluxo é baixo, as mensurações não são obtidas e, isso

    pode ocorrer, durante a hipovolemia, hipotermia ou vasoconstrição periférica

    intensa (Wilson, Shapiro, 2001).

  • 35  

     

    Cânc

    er e a

    Rad

    ioter

    apia

    (Rad

    iaçã

    o io

    niza

    nte)

  • 36  

     

    Conforme Plakova (1966) vários processos patológicos podem

    influenciar na sensibilidade dos nervos pulpares; frente a isto, Reiss e Furedi

    (1933) sugeriram uma maior resistência das fibras às afecções patológicas.

    Porém, em 1970, Mullaney et al. concluíram que era improvável que as fibras

    nervosas pulpares resistissem à necrose como especulado no passado.

    Seguido ao trauma, a vitalidade pulpar pode existir sem a viabilidade

    do suprimento nervoso, todavia, o dente vital não responderá ao estímulo

    sensorial. Para Bhaskar e Rappaport (1973) isto ocorre porque

    diferentemente dos vasos, os nervos são esticados e mais capazes de injúria

    em decorrência de um trauma.

    A vitalidade e manutenção do suprimento vascular posterior ao trauma

    dental podem ocorrer porque este permanece intacto ou passa por um

    processo de arterogênese e vasculogênese, iniciando a formação de novos

    vasos em um ambiente de baixa SpO2, sendo o fator de crescimento do

    endotélio vascular (VEGF) considerado a citocina vital (Lin et al., 2008).

    A falta de resposta neural nem sempre indica morte pulpar. Essa falta

    de correspondência é quase sempre vista em casos de trauma, tal método

    [oximetria de pulso] poderia levar a um diagnóstico objetivo e imediato da

    integridade vascular sem induzir estimulação dolorosa (Schnetter; Wallace,

    1991).

    Sabidamente, as alterações vasculares na polpa dental, contínuas ou

    transitórias, são ocasionadas por inúmeros fatores e, quanto a possíveis

    processos de recondutibilidade sanguínea, tem-se estudado os casos de

    traumatismo dentário, comumente decorrentes de uma injúria física

    mecânica. Neste momento é válido ressaltar que a RT, bem como um trauma

    dental, pode causar alterações microcirculatórias, com um ligeiro diferencial,

    já que a radiação ionizante motiva, geralmente sobre os tecidos, injúrias de

    ordem química.

  • 37  

     

    2.3 Efeitos da radiação ionizante na polpa dental

    Ainda hoje, o câncer ee uma das doenças que mais causa morte,

    mutilação e estragos psicológicos nos indivíduos. A estimativa global do CA

    continua a crescer largamente por conta do aumento da estimativa de vida e

    também em virtude do crescimento da adoção de comportamentos favoráveis

    ao CA, particularmente o cigarro (Jemal et al. 2011).

    Em geral, o tratamento contra as neoplasias malignas de cabeça e

    pescoço pode ser realizado por três métodos terapêuticos: cirurgia,

    quimioterapia e radioterapia (braquiterapia ou teleterapia). A prescrição da

    terapia está baseada em alguns princípios que incluem a localização do

    tumor, o grau histológico da malignidade, o estadiamento clínico e o volume

    do tumor e as estruturas normais presentes na região, além das condições

    físicas do paciente (Perez. 1977, Andrade et al. 2003).

    O valor da compreensão dos efeitos da radiação aos tecidos normais e

    nos tumores força o desenvolvimento de uma radioterapia curativa. A teoria

    da célula radiossensível é baseada na proliferação, diferenciação e no tempo

    de vida celular (Rubin. Casarret. 1968).

    Murad, Katz (1996) ressaltam que a radiossensibilidade está

    relacionada com o grau e a velocidade de resposta dos tecidos à irradiação.

    E ainda, quanto mais indiferenciado e proliferativo o tecido, o mesmo se

    apresenta mais sensível à radiação.

    Os valores de PO2 (tensão de O2) correspondendo a hipóxia

    radiobiológica foi observado nos tumores e isso pode desempenhar um papel

    em resposta à radioterapia (Lartigau et al. 1993).

    Para Terris (2000) a oxigenação como uma variável independente é

    incapaz de predizer prognósticos, provavelmente refletindo a natureza

    multifatorial do comportamento biológico dos cânceres de cabeça e pescoço.

    Explicam os autores Salvajolli, Souhami, Faria (1999) que a dose de

    irradiação recebida pelo paciente é medida em Grays (Gy), onde 1Gy

    equivale a 100 rads ou 1J/Kg de dose absorvida.

    Antes do início do tratamento radioterápico são confeccionadas

    máscaras, individualmente moldadas, para a imobilização do paciente

    durante as aplicações garantindo a precisão na topografia irradiada (Figura

  • 38  

     

    12). Acrescenta Abreu, Silva (2000) que o fracionamento clássico prescreve

    doses diárias de 1,8 – 2,0 Gy, cinco dias por semana, com dose final

    variando de 45 – 50 Gy para tumor microscópico, e até 70 Gy para os

    macroscópicos.

    Os primeiros pesquisadores a mencionarem os efeitos da radiação no

    desenvolvimento dentário foi Tribondeau e Recannier, em 1905, quando

    irradiaram pele e maxila de gatos (Esteves, 2002).

    Para Kimmeldorf et al. (1963) o dente era mais radiossensível durante

    o primeiro período do seu desenvolvimento, sendo os odontoblastos maduros

    relativamente mais resistentes à radiação.

    As células odontoblásticas apresentavam a função secretora

    diminuída, de acordo com Baker (1982) e isto poderia estar relacionada com

    a obliteração dos vasos pulpares, o que é rotineiramente observado em

    tecidos irradiados.

    Grötz et al. (2001) afirmaram que ocorre uma rápida destruição dos

    tecidos duros dentais em decorrência da RT e após os primeiros dias que se

    seguiram do tratamento, 1/3 dos pacientes relataram hipersensibilidade fato

    que poderia estar relacionado a uma hiperemia pulpar. Contudo, valendo-se

    apenas de observações clínicas, Schüle (1967) afirmou que a

    hipersensibilidade dental após a RT desaparecia sem a necessidade de

    intervenção endodôntica.

    A injúria vascular é um mediador dos danos nos tecidos normais e os

    dados indicam que parte da radiação induz efeitos terapêuticos, bem como

    pode ser a base das mudanças vasculares (Denekamp, 1990). Todavia, a

    lesão celular produzida pela radiação ionizante depende da presença de O2

    nos tecidos no momento da exposição (Bean et al., 1972).

    As mudanças provocadas pela radiação nos tecidos ósseos e

    vasculares da mandíbula em pacientes tratados de câncer (CA) oral foram

    avaliadas, baseadas no sangramento durante o acesso endodôntico, e os

    resultados indicaram sérios danos sobre a vitalidade pulpar (Kotirant et al.,

    2004).

    A polpa de dentes de macacos submetidos à radiação com cobalto60

    (Co60) não apresentou diferença entre os tecidos pulpares irradiados e não

    irradiados, o que implicaria dizer que ocorre uma resistência da polpa frente à

  • 39  

     

    radiação ionizante devido a proteção exercida pelo esmalte, cemento e

    dentina (Hutton, 1974; Nickens et al., 1977).

    Conforme argumentado por Shenoy et al. (2007) sobre os dentes, os

    dados disponíveis são mínimos, mas a polpa dental parece sofrer um

    decréscimo na sua vascularização, com fibrose e atrofia.

    Em sendo assim, Vier-Pelisser et al. (2007) avaliaram os efeito

    primários e tardios da radiação com Co60 em polpa de dentes de ratos,

    fracionadas a 200cGy/dia por 30 dias. Em nenhum grupo se observou reação

    inflamatória ou modificações da MEC; o conteúdo de colágeno também não

    apresentou mudanças significativas como resultado do tratamento; alterações

    nucleares mais significantes foram observadas como efeito primário. Em

    conclusão, os autores afirmaram que as células pulpares são modificadas em

    consequência da RT, entretanto, isso poderia ser transitório, já que as

    mudanças observadas no grupo sacrificado um mês após o final da RT foram

    menos significativas quando comparado ao grupo sacrificado no final dos 30

    dias de radiação.

    Não obstante, Kataoka et al. (2011) através do OP, observaram que

    de 4 a 5 meses depois da radiação ionizante as médias da %SpO2 revelaram

    um decréscimo no fluxo sanguíneo pulpar, quando comparado às médias

    iniciais, entretanto, isso não significa que exista também um decréscimo na

    vascularização causado pela RT.

    Em 2004, Pistóia et al. aventaram a possibilidade de danos no leito

    vascular gerarem uma incapacidade de reação óssea normal frente à

    infecção e ainda, o dano vascular poderia resultar em endoarterite

    progressiva, como efeito tardio da radiação.

    Hellman (1993) sugeriu que os efeitos tardios são resultados de

    manifestações progressivas, radioinduzindo injúrias em células parenquimais.

    Além disso, a irradiação provoca efeitos adversos na vasculatura e, através

    de evidências histológicas e ultraestruturais, foi verificado um padrão geral de

    mudanças vasculares em tecidos normais irradiados (Law, 1981).

    Dados publicados por Knowles et al. (1986) indicaram que as taxas e a

    nutrição pelo fluxo sanguíneo estavam relacionadas ao tempo de tratamento,

    e ainda os neurônios pareciam ser relativamente radiorresistentes. Além

  • 40  

     

    disso, ocorreu uma diminuição imediata de sensibilidade dos dentes

    mandibulares, mesmo os distantes e fora do campo de irradiação.

    Em decorrência dos relatos de hipersensibilidade e, posteriormente,

    perda de sensibilidade pulpar, apresentados por pacientes submetidos à RT,

    Rodrigues e Franzi (2007) avaliaram as respostas pulpares ao TSP de

    pacientes irradiados e não irradiados. Concluíram os autores que existe

    diferença significativa entre os dois grupos com relação as respostas

    negativas apresentadas, sendo o grupo dos pacientes irradiados menos

    responsivos ao TSP.

    Corroborando com esta assertiva, Kataoka et al. (2012) observaram

    que havia uma diminuição no número de dentes responsíveis ao TSP após

    doses entre e maiores do que 30 – 35Gy. E ainda que após 4 – 5 meses

    passados a RT os dentes testados ainda continuavam sem resposta positiva

    ao TSP.

    Muitos pacientes portadores de CA de cabeça e pescoço

    apresentaram alterações metaplásicas, com fibrose e degeneração hialina

    como consequência ao tratamento radioterápico (Anneroth et al., 1985). E

    para os autores Mathes e Alexander (1996) o aumento da fibrose e a

    diminuição da vasculatura são efeitos tardios da RT.

    O certo é que a extensão dos danos ao tecido é dependente da média

    e dose de radiação, da radiossensibilidade de um órgão em particular e do

    tipo celular. O endotélio, tecido hematopoiético, gônadas e trato

    gastrointestinal são altamente sensíveis, enquanto que osso, músculo e

    nervos periféricos são relativamente radiorresistentes à injúria produzida por

    radiação (Quarmby et al., 1999).

    Conforme observado no trabalho de Hashmonai et al. (1988), as

    artérias maiores e menores podem ser afetadas dentro do campo de

    radiação, com comprometimento da circulação colateral, enquanto que os

    vasos fora do campo permanecem normais, visto em CA de mama.

    Mudanças arterioscleróticas são limitadas ao campo de irradiação.

    Morbidade ou mortalidade associada com a ruptura da carótida, seguida de

    RT e dissecação radical cervical não foi observada. Tais achados podem ser

    dose relativos e, a oclusão ou entupimento da artéria carótida, pode ser

    silenciosa se houver uma boa circulação colateral (Silverberg et al., 1978).

  • 41  

     

    Dib et al. (2000) citaram, porém sem comprovar suas afirmações, que

    algumas manifestações clínicas pulpares apresentam evidências de

    alterações vasculares, como o aumento da permeabilidade capilar e

    congestão dos vasos sanguíneos, associados à diminuição da reprodução

    tecidual normal.

    Um estudo realizado em células endoteliais da vesícula de ratos, os

    quais foram irradiados, evidenciou em seis horas há vasodilatação dos

    capilares similar a um quadro agudo de inflamação. Contudo, os autores

    Abbas et al. (1990) asseguraram que seus achados eram sugestivos de um

    eritema transitório e ainda, mudanças ultraestruturais associadas as

    mudanças físicas não deflagraram morte endotelial em larga escala, porém a

    capacidade funcional dos vasos era alterada.

    Seguindo a irradiação da pele de ratos, um aumento significante no

    rolamento e adesão leucocitária ao endotélio foi observado. A quantificação

    de rolamento, adesão e migração de leucócitos mostrou que a radiação

    aumenta a regulação destes três fatores (Wu et al., 1994; Kimura et al., 1995;

    Panes et al., 1995).

    Hallahan et al. (1995) reportaram que a expressão da molécula de

    adesão E-selectina radioinduzida ocorre em células endoteliais, in vitro e in

    vivo, sendo o aumento desta expressão dose dependente.

    A necrose ou a fibrose de tecidos normais pode ser uma séria

    complicação tardia da RT, mas o processo que leva a tais ocorrências ainda

    não é claro (Quarmby et al., 1999). Aproximadamente seis meses após a RT,

    os capilares podem começar uma proliferação anormal de células endoteliais

    resultando em protrusão para dentro do lúmen, a ponto de obliterar o vaso

    (Hopewell, 1974).

    É bem provável que as células endoteliais sejam os elementos mais

    radiossensíveis dos tecidos mesenquimais e os efeitos da irradiação poedm

    incluir: degeneração das células vasculares, vasoconstrição e formação de

    trombos. (Fajardo; Berthrong, 1988). A formação de trombos foi apresentada

    por Smith et al. (1989) como sendo o fator responsável pela obstrução de

    pequenos vasos após a RT.

    Visando determinar se a radiação pode causar mudanças na

    expressão de genes, os quais podem promover a formação de trombos nas

  • 42  

     

    veias, os autores Halle et al. (2010) acharam uma resposta inflamatória

    aguda com ativação e sustentação da expressão PAI-1, sugerindo que isso

    pode explicar os efeitos adversos observados anos após a RT, como por

    exemplo, a oclusão microvascular.

    Análises feitas em pulmões irradiados mostraram que os níveis de

    HIF-1α ao lado do estresse oxidativo, da hipóxia tecidual e do acúmulo de

    macrófagos, são consistentes com uma resposta inflamatória. Suportando a

    hipótese de que o estresse oxidativo e a hipóxia tecidual servem de gatilho

    para a atividade do HIF-1α, relacionado a inflamação, angiogênese e fibrose

    induzida por radiação (Rabbani et al., 2010).

    Considerando a prevalência de terapia oncológica, relativamente,

    poucos casos de estreitamento ou oclusão dentro do campo de tratamento de

    radiação terapêutica foram notados e, os casos em que se observou oclusão

    estavam relacionados a grandes vasos (St Louis et al., 1974; Fajardo; Lee,

    1975; Comony; Kellermeyer, 1975).

    A estenose carotídea extracraniana é uma complicação da RT para

    tumores malignos de cabeça e pescoço. Os efeitos crônicos da RT levam a

    diminuição da vascularização e aumento da fibrose, o que por sua vez

    aumentos os riscos de necrose tecidual e ulceração (Magne et al. 2012).

    O desenvolvimento da oclusão plaquetária ou trombo pode ocorrer em

    razão da tendência das plaquetas em aderir a MEC exposta, seguindo a

    desnudação das células endoteliais (Verheij et al., 1994).

    Após a irradiação, as mudanças nas funções vasculares são

    inconclusivas até agora. Alterações nas propriedades de transportes

    vasculares seguintes a radiação fracionada até 40 Gy são inconsistentes.

    Doses acima de 45 Gy podem danificar microvasos tumorais, contudo deve-

    se salientar que a tradução de dados experimentais para o ambiente clínico

    precisa ser feito com um cuidado especial (Multhoff. Vaupel. 2012).

    O dano aos tecidos normais é um fator limitante da aplicação clínica da

    RT, uma vez que não é este tecido o alvo. Em 2012, Zawaski et al. testaram

    a hipótese de que a presença de um tumor malígno alterava a resposta dos

    tecidos normais a RT e, para tal, usaram camundongos. Os resultados

    mostraram que a simples presença do tumor aumentava a permeabilidade,

    mas tinha mínimo efeito sobre a interação leucócito-endotélio; os níveis mais

  • 43  

     

    elevados de permeabilidade vascular e adesão célular foram observados na

    combinação tumor e radiação; e que a RT reduz a presença de VEGF em

    tecidos normais peritumorais, sem contudo afetar a quantidade de apoptose.

    Além de sua eficácia no tratamento de CA, a RT induz degenerações

    em tecidos saudáveis dentro do campo de irradiação. Os dados mostraram

    uma inflamação crônica nos tecidos irradiados (IL-2 e TNF-), além da

    expressão persistente de VEGF. Concluiram então os autores Gallet et al.

    (2011) que é grande a complexidade e multiplicidade de alterações induzidas

    pela RT.

    Alguns estudos repoortam o uso de um “stent” intraoral durante as

    sessões de RT com o intuito de separar o tecido adjacente normal dos tecido

    da área de radiação e prevenindo algumas complicações (Bodard et al.

    2009). Em 2012, Verrone at el. através de análises dosimétricas mostraram

    que a dose de radiação era diminuida quando do uso do “stent”.

    A RT induz alterações e alguns de seus efeitos são transitórios. Os

    resultados primários da radiação são a xerostomia, a cárie de radiação e a

    hipersensibilidade dental, porém faltam estudos mais específicos para

    averiguar os danos sobre os tecidos pulpares (De Moor, 2000).

    A região de cabeça e pescoço é composta por inúmeras estruturas e

    cada uma apresenta resposta inerente à dose de radiação recebida. Ainda

    assim, são extremamente limitados e escassos os estudos relacionados às

    alterações circulatórias sobre a polpa dental causada pela RT (Cooper et al.,

    1995).

    Kielbassa et al. (1995) demonstraram a efetividade do tratamento

    endodôntico realizado em uma criança de 9 anos portadora de um CA e

    apresentaram, através de releituras, o índice de sucesso de tratamentos

    endodônticos empregados em animais e em pacientes irradiados (±18% –

    100%) salientando não ter ocorrido, em nenhum dos casos, o

    desencadeamento da osteorradionecrose.

    Em vista da literatura, pode-se observar que existem inúmeros

    estudos, contraditórios, relatando as possíveis alterações sofridas pela

    vasculatura frente à radiação ionizante, estas que podem ser de ordem

    estrutural, ultraestrutural ou mesmo funcional. Todavia, fica evidente a falta

    de estudos mais precisos no que diz respeito as respostas da polpa dental

  • 44  

     

    após passados alguns anos do tratamento radioterápico; em sendo assim,

    descrições mais detalhadas são requeridas, uma vez que o tratamento

    endodôntico evita “mutilações” (causada pela extração dental) e abre novas

    possibilidades terapêuticas, tendo em vista as perspectivas atuais de

    revascularização e organogênese dental.

     

  • 45  

     

    3 PROPOSIÇÃO

    Visando a multidisciplinaridade no manejo de pacientes portadores de

    tumor maligno intraoral e de orofaringe, justifica-se este estudo uma vez que

    não são completamente conhecidos os efeitos da RT sobre a polpa dentária

    a longo prazo, principalmente no que diz respeito a manutenção da vitalidade

    deste tecido.

    Neste sentido, o propósito desta pesquisa é determinar os níveis de

    saturação de oxigênio da polpa dental, através de mensurações com o uso

    do OP, em pacientes anteriormente submetidos a RT com dose de radiação

    variando entre 60Gy – 70Gy entre 4 e 6 anos após o término da RT.

  • 46  

     

    4 MATERIAL E MÉTODOS

    4.1 SELEÇÃO DOS PACIENTES

    Este estudo foi realizado no âmbito do Hospital Sírio Libanês (HSL),

    em 90 pacientes que foram portadores de tumor maligno intraoral e de

    orofaringe, tratados com RT com dose entre 60 – 70Gy, de ambos os

    gêneros, com faixa etária entre 35 e 65 anos, sendo variável o número de

    dentes de cada paciente.

    Do número total de dentes presentes (n= 2.260), foram selecionados

    para o estudo os dentes da bateria anterior, de canino a canino, superior e

    inferior (#13-23 e #33-43), resultando num total de 1.080 dentes disponíveis

    para a avaliação. Quando foram excluídos os dentes que já haviam sido

    tratados endodonticamente, os dentes com restaurações em áreas imediatas

    ao posicionamento das ponteiras do OP, dentes girovertidos, dentes em que

    não se conseguiu um correto posicionamento do OP para a leitura e aqueles

    em que o posicionamento da ponteira gerou desconforto pro paciente, os

    demais dentes foram avaliados (n = 693).

    Foram realizados testes também em outros 90 pacientes, em

    consultório particular, que não eram portadores de tumor maligno intraoral e

    de orofaringe, de ambos os gêneros, com faixa etária entre 35 e 65 anos, dos

    quais também foram selecionados 693 dentes das arcadas superior e inferior

    (13-23 / 33-43), tentando-se buscar uma similaridade na escolha dos dentes

    em relação ao grupo de pacientes irradiados, quanto ao número e tipo de

    dente avaliado.

  • 47  

     

    4.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

    Como critério de elegibilidade os pacientes deveriam consentir

    participar da pesquisa, os dentes selecionados deveriam apresentar

    clinicamente coroas íntegras ou com restaurações de diâmetro não maior que

    2mm, localizadas em regiões distantes daquelas onde seriam realizados os

    testes de vitalidade.

    4.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

    Pacientes sindrômicos, dentes que apresentavam qualquer relato de

    sintomatologia dolorosa, dentes com história de traumatismo dentário, bem

    como aqueles com processos cariosos ou alteração cromática da coroa

    dentária; alterações periodontais com presença de bolsa profunda, edema ou

    mobilidade acentuada e dentes que apresentavam sensibilidade dolorosa à

    palpação apical, e à percussão vertical ou horizontal.

    4.4 COLETA DOS DADOS (ANAMNESE E EXAME CLÍNICO INTRAORAL)

    A seleção dos casos foi iniciada com a coleta dos dados pessoais

    referentes a cada paciente, em ficha apropriada à coleta das respostas

    referentes aos testes pulpares, fisiométrico e de sensibilidade pulpar (gás

    refrigerante propano e butano Endo Frost - Roeko®- Langeau- Alemanha)

    onde foi anotado: data, nome, idade, sexo, dentes que foram examinados e

    os resultados obtidos (Apêndice B).

    O exame radiográfico foi realizado através de radiografias periapicais

    digitais (Schick CDRelite, FONA® - DDM, representante Brasil) e os dentes

    selecionados pela análise clínica não deveriam apresentar processos

    degenerativos ou reabsortivos na câmara pulpar ou canal radicular,

  • 48  

     

    rompimento da lâmina dura, espessamento do espaço pericementário ou

    alterações periapicais como rarefação ou condensação óssea.

    4.5 GRUPOS EXPERIMENTAIS

    Grupo I – 90 pacientes que foram portadores de tumor maligno intraoral e de

    orofaringe, tratados com RT há 4 a 6 anos, com dose variando entre 60 70Gy

    (n=693 dentes).

    Grupo II – 90 pacientes que nunca apresentaram tumor maligno intraoral e de

    orofaringe, nunca tratados com RT (n=693 dentes).

    4.6 EXPERIMENTO

    Após o preenchimento da ficha de anamnese as mensurações foram realizadas. Inicialmente, no dedo indicador do paciente, através da utilização

    do aparelho Oxygraph (System Partner®), o qual possui um sensor em “Y”

    (Figura 4.1) desenvolvido por Calil (2003), sendo os dados anotados em ficha

    apropriada (Apêndice B).

  • 49  

     

    Figura 4.1 – Aparelho de oximetria de pulso e o sensor modificado em “Y”

    Após esse procedimento, foram realizadas as mensurações nos

    dentes selecionados, no mesmo paciente, sendo os quadrante submetido a

    isolamento relativo com roletes de algodão e presença do sugador de saliva.

    O sensor é especialmente adaptado para o uso odontológico, posicionado na

    face vestibular (diodo emissor) e palatina (diodo receptor), obedecendo-se o

    paralelismo entre os dois diodos.

    Por fim, eram realizados os TSP a frio valendo-se do gás refrigerante

    propano e butano Endo Frost, nos mesmos dentes que tiveram sua %SpO2 mensurada.

    4.7 ANÁLISES DOS DADOS

    Os dados obtidos pelo oxímetro de pulso foram tabulados e

    submetidos à análise estatística (Teste t Student).

  • 50  

     

    5 RESULTADOS

    Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, foram

    seguidos os princípios éticos da Resolução nº 196/1996 com aprovação do

    Comitê de Ética em Pesquisa sob o Protocolo 130 concedido pelo HSL

    (Anexo A).

    Para responder aos objetivos do estudo, foram descritas as taxas da

    %SpO2 de cada elemento dental analisado (Apêndice C) e, frente aos dados

    obtidos, os resultados foram calculados com o uso do teste t (dados

    independentes), como auxílio do GraphPad’s.

    Os dados referentes ao número de espécimes avaliados (dentes),

    idade, quantidade de dentes presentes, Gy rad total e tipo de aparelho de

    entrega de RT (IMRT ou 3DRT), estão expressos na tabela 5.1. Tabela 5.1 – Dados sumarizados comparando as diferentes variáveis, contínuas e nominais,

    entre os gêneros

  • 51  

     

    Respostas pulpares positivas ao TSP após 4 - 6 anos da RT

    Masculino

    Feminino

    11 12 13 21 22 23 31 32 33 41 42 43

    51 (100%)

    43 (100%)

    41 (100%)

    43 (100%)

    42 (100%)

    40 (100%)

    42 (100%)

    53 (100%)

    46 (100%)

    52 (100%)

    37 (100%)

    41 (100%)

    20 (100%)

    16 (100%)

    11 (100%)

    13 (100%)

    12 (100%)

    12 (100%)

    7 (100%)

    18 (100%)

    12 (100%)

    15 (100%)

    16 (100%)

    10 (100%)

    Dentes

    No gráfico 5.1 são demonstrados os percentuais de sítios anatômicos

    de CA observados nesta pesquisa. Predominantemente têm-se os CA de

    orofaringe, representando 66% do total. Em seguida os CA’s de cavidade

    oral, hipofaringe e nasofaringe.

    As respostas ao TSP com frio estão expressas (números inteiros e

    porcentagens) na tabela 5.2. Claramente nota-se que todos os 693

    elementos dentais testados apresentaram resposta positiva ao TSP após 4 –

    6 anos da RT.

    Tabela 5.2 – Porcentagem das respostas positivas aos TSP com frio

    O gráfico 5.2 mostra as médias de %SpO2 obtida de cada elemento

    dental para os pacientes do gênero masculino. Enquanto que o gráfico 5.3

    mostra as médias obtidas no grupo de pacientes do gênero feminino.

    Masculino Feminino

    Espécimes 66 (73.3%) 24 (26.6%)

    Idade 50.3 48.5

    N. dentes presentes 1653 (89.4%) 607 (90.3%)

    Gy rad 61.6 61.3

    IMRT 66 (100%) 24 (100%)

    3DRT 0 (0%) 0 (0%)

    Comparação entre os gêneros

  • 52  

     

    20%

    66%

    7%8%

    Cavidade Oral Orofaringe HipofaringeNasofaringe

    Sítios prevalentes de Câncer

    Média de %SpO2 total e por elemento dental no GI e GII

    GRUPO I

    GRUPO II

    11 12 13 21 22 23 31 32 33 41 42 43

    94,3 94,1 91,2 93,9 94,9 91,8 92,6 92,4 91,4 92,8 92,3 91,0

    93,8 94,0 92,9 93,9 93,3 91,8 92,5 92,4 91,0 92,6 92,3 91,0

    Dentes Média

    92,7

    92,6

    A média obtida no G1 foi de 92.7% (SD=1.83) de SpO2 e no G2 de

    92.6% (SD=1.80), na comparação entre as %SpO2 pulpar não foi observado

    através do teste t de Student diferença estatisticamente significante,

    conforme tabela 5.3.

    * Teste t de Student p≤0.01

    Assim, é plausível afirmar que a radiação local (cabeça e pescoço)

    para o tratamento de tumores malignos intraorais e de orofaringe, passados

    de 4 – 6 anos da RT, não altera as taxas de SpO2 pulpar, visto que as

    mesmas encontram-se dentro dos padrões considerados normais.

    Gráfico 5.1 – Percentuais de CA por sítios anatômicos

  • 53  

     

    Média da oxigenação pulpar messurada pelo oxímetro de pulso

    89.000%

    90.750%

    92.500%

    94.250%

    96.000%

    11 12 13 21 22 23 31 32 33 41 42 43

    Masculino

    Média da oxigenação pulpar messurada pelo oxímetro de pulso

    90.000%

    91.500%

    93.000%

    94.500%

    96.000%

    11 12 13 21 22 23 31 32 33 41 42 43

    Feminino

    Gráfico 5.2 – Porcentagem média da %SpO2 dos pacientes do gênero masculino

    Gráfico 5.3 – Porcentagem média da %SpO2 dos pacientes do gênero feminino

  • 54  

     

    6 DISCUSSÃO

    O CA é uma doença crônico-degenerativa que se desenvolve em

    razão de um distúrbio no processo de proliferação celular. Este processo é

    múltiplos passos e vias, sendo descrito frequentemente como evolução

    somática e, na tentativa de debelar a célula tumoral, alguns meios

    terapêuticos podem ser empregados, dentre eles, a RT externa.

    Com os avanços conseguidos pela engenharia da radiação, o índice

    de sobrevida dos pacientes aumentou e, por conseguinte, o estudo minucioso

    da fisiologia humana e celular tumoral é de suma importância, especialmente

    para a ciência endodôntica, em razão da sua capacidade de atender as

    exigências que alicerçam os conceitos de multidisciplinaridade.

    A utilização do OP como uma ferramenta objetiva para a determinação

    da vitalidade do tecido pulpar já se mostrou bastante efetiva e segura,

    principalmente, em casos relacionados a traumatismos dentários como

    descrito e demonstrado por Schnetter e Wallace (1991) e Gopikrishna et al.

    (2007a) e para a determinação do status pulpar (Setzer et al. 2012).

    De maneira muito semelhante ao que ocorre nos casos de trauma

    dental, os pacientes submetidos ao tratamento oncológico através de RT

    externa, tem geradas injúrias químicas, as quais podem comprometer os

    tecidos saudáveis e, possivelmente, acarretam alterações microcirculatórias.

    Para o correto funcionamento do OP é imperioso haver um fluxo

    sanguíneo arterial normal, pois em quadros de hipovolemia, hipotermia ou

    vasoconstrição periférica intensa, a