Sistema produtivo da bovinocultura leiteira na agricultura familiar do Assentamento Santa Olga em Nova Andradina, MS: alguns passos rumo à

agroecologia

Productive System of dairy bovine culturein family farming of Santa Olga Settlement in Nova Andradina, MS: some steps towards agroecology

NASCIMENTO, Jaqueline Silva1; CONCEIÇÃO, Vanderlei da2; RAMOS, Fabrícia da Silva3; OLIVEIRA, Euclides Reuter de4. 1Mestre em Agronegócios - Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, jaque24nascimento@hotmail.com; 2Especialista em Residência Agrária, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, vander-deley@hotmail.com; 3Mestre em Agronomia, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, MS,

agroramos2016@hotmail.com; 4Professor titular do Curso de Zootecnia pela Universidade

Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, euclidesoliveira@ufgd.edu.br.

Resumo: Com esse trabalho objetivou-se conhecer e compreender o sistema de criação de bovinocultura leiteira em transição agroecológica, do sítio Estrela da Manhã, localizado no Assentamento Santa Olga, no Município de Nova Andradina-MS. Para tanto, empregou-se metodologia qualitativa composta por uma série de procedimentos pautados na observação, vivência e análise, utilizando técnicas de observação e conversa com o proprietário, de natureza exploratória e descritiva. Utilizou-se um questionário semi-estruturado com questões abertas e fechadas, com o intuito de conhecer a área da propriedade, forma de distribuição das atividades produtivas, o tipo de pastagem predominante, a quantidade de animais, o levantamento dos alimentos volumosos utilizados, a principal atividade geradora de renda, o método de escoamento da produção, o manejo sanitário dos animais, a alternativa referente ao avanço tecnológico e os aspectos socioeconômicos. Os resultados apontam para a importância do processo de transição agroecológica desde o planejamento até o controle das atividades realizadas na propriedade, compreendendo a aquisição de produtos externos até a comercialização da produção, envolvendo, também, o potencial dos recursos disponíveis que possibilitam melhorias nos aspectos sociais e econômicos do agricultor familiar e na propriedade. Palavras-chave: Agricultura familiar, manejo agroecológico, produção de leite. Abstract: This study aimed to know and understand the dairy bovine culture farming system in agroecological transition, of Estrela da Manhãranch, located in the Santa Olga settlement, in the city of Nova Andradina-MS. Therefore, it was used qualitative methodology consisting of a series of guided procedures on observation, experience and analysis, using techniques of observation and conversation with the owner, of exploratory and descriptive nature. It was used a semi-structured questionnaire with open and closed questions in order to know the area of the property, distribution of productive activities way, the predominant type of pasture, the number of animals, the survey of forages used, the main income-generating activity, the method of production flow, the sanitary handling of animals, the alternative relating to technological advancement and socioeconomic aspects. The results point to the importance of agro-ecological transition from planning to control the activities carried out on the property, including the purchase of foreign products to the commercialization of the

production, involving also the potential of available resources that enable improvements in social and economic aspects of the family farmer and in property. Keywords: Family farming, agro-ecological management, milk production.

Introdução No Brasil, tem-se aumentado as áreas de pastagens degradadas, expressando uma forte influência no sistema de criação dos animais ruminantes (MACEDO et al., 2014). Os sistemas pecuários no país são caracterizados pela utilização de 90% pastagens como fonte principal de alimento para os bovinos, sendo que estas áreas são estimadas em aproximadamente 210 milhões de hectares. Desse total, cerca de 100 milhões de hectares são de pastagens cultivadas (QUADROS, 2008). A degradação das pastagens pode ser considerada um problema para pecuária brasileira, impactando no desenvolvimento do sistema produtivo dos animais (KICHEL, 1999). Em específico no estado de Mato Grosso do Sul, estima-se que 20 milhões de hectares são ocupadas com pastagem, sendo que 9 milhões são considerados degradados (MARQUES, 2013).

Nascimento (2011) considera que a principal causa da degradação das pastagens é advinda do manejo animal inadequado e à carência de nutrientes no solo, processo evolutivo de perda de vigor das forragens e da produtividade, e capacidade de recuperação natural das pastagens, tornando-a incapaz de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem como superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e plantas invasoras. Com isso, a degradação da pastagem faz com que haja redução na produtividade bovina e aumento do custo de produção (MACEDO, 2009).

É estratégica a adoção de práticas agroecológicas na recuperação de pastagens degradadas, destacando-se a rotação e consórcio de diferentes culturas, favorecimento da ciclagem de nutrientes, aumento do teor de matéria orgânica no solo, manejo adequado das pastagens e dos animais, a adubação do solo com materiais orgânicos, controle de plantas espontâneas entre outras práticas que favoreçam os processos naturais que contribuam para ganhos de desenvolvimento dos animais, sendo que vão influenciar diretamente na produtividade de leite ou carne (SANTOS, 2000). Há diversas práticas agroecológicas para recuperação de pastagens degradadas que contribuem na oferta de produtos de origem vegetal e animal mais sustentável e com menos impactos ao meio ambiente. Para aumentar a sustentabilidade de pastagens requer que o manejo da fertilidade do solo seja baseado em práticas que maximizem a ciclagem de nutrientes, minimizem suas perdas e priorizem o incremento da matéria orgânica do solo (PERON; EVANGELISTA et al., 2004).

Os processos de transição agroecológica da produção de animais não implicam somente numa maior racionalização econômica e produtiva com base nas particularidades de cada agroecossistema, mas também numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais, sendo um progresso técnico a partir do avanço do conhecimento científico, na busca por alternativas sustentáveis (JESUS et al., 2011). A bovinocultura leiteira em bases agroecológicas é uma atividade que contribui para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental, pois predominantemente é desenvolvida em pequenas propriedades rurais, tendo como foco a agricultura familiar e envolve um número significativo de produtores e familiares na atividade, podendo contribuir para a permanência do homem no campo, diminuindo o êxodo rural (TELLES, 2008; BROETTO et al., 2011; SILVA, 2013). Desta forma, a atividade leiteira em bases agroecológicas manejada de acordo com suas particularidades da agricultura familiar contribui ao desenvolvimento social, mediante a geração de emprego, renda e segurança alimentar, atendendo as atuais necessidades de produção, minimizando a degradação do meio ambiente (SANTOS et al., 2015). O Estado de Mato Grosso do Sul é caracterizado pela forte atividade agropecuária e sua relevada importância na economia local. Dentre as regiões de MS, pode-se destacar o Município de Nova Andradina, que possui predominância de Cerrado e da Floresta Estacional (CAMUCI, 2010). Pode-se destacar, dentre as atividades agrícolas, as culturas da soja, milho, arroz, algodão, feijão, trigo, mandioca e cana de açúcar.

No entanto, a pecuária é a principal atividade desenvolvida no município, segundo dados do IBGE (2013). Estima-se 424.336 cabeças de bovinos no município, com uma produção de leite de 15.580 mil litros/ano que gera em torno de 10.594 mil reais, sendo uma atividade que contribui significativamente para o desenvolvimento socioeconômico dos produtores, principalmente aqueles de bases familiares. No Estado de MS, a bovinocultura leiteira é desenvolvida principalmente pela agricultura familiar, que possui predominância em assentamentos rurais. Nesse contexto encontra-se o Assentamento Santa Olga, no qual a produção de leite é considerada dentre as principais atividades desenvolvidas.

Assentamento Santa Olga

É um assentamento rural implementado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, e possui área de 1448,30 ha, localizada a 15 quilômetros da área urbana do município de Nova Andradina, na rodovia 276, no sentido de

Nova Andradina a Ivinhema. Nesse assentamento foram demarcados170 lotes, com tamanho de oito hectares cada (CAMUCI, 2010).

No assentamento desenvolvem-se atividades econômicas oriundas da criação de animais de forma extensiva com aptidão para leite e carne, bem como por meio de exploração de culturas agrícolas, tais como: mandioca, cana-de-açúcar, milho, banana, abacaxi, abóbora, acerola, manga, limão, laranja, melancia, maxixe, pepino, quiabo, goiaba, feijão, poncã, amendoim, batata, pimenta, café e diversas espécies de hortaliças, sendo que a produção de alimentos é para a subsistência das famílias, enquanto os excedentes são transportados até a cidade e comercializados em mercados e feiras. O assentamento foi contemplado com recursos do PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, no exercício de 2007, em um total de vinte mil reais por família (CAMUCI, 2010). Esses recursos foram, em sua maior parte, direcionados para uma miniusina de pasteurização de leite.

O panorama econômico do assentamento tem como base principal a pecuária leiteira e de corte, que proporciona o abastecimento de leite em diversos estabelecimentos comerciais e escolas do município, tornando as propriedades dos agricultores como um referencial em termos de produtividade, desenvolvimento e organização das atividades agropecuárias, sendo um trabalho em conjunto e parcerias entre agricultores e instituições do Estado de MS e do município. Atualmente, o assentamento se coloca entre os principais fornecedores de produtos para a rede municipal de ensino, por meio do PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar, sendo responsável pelo fornecimento semanal de hortaliças e leite pasteurizado às unidades educacionais.

Em função das dificuldades de trabalhar individualmente, os agricultores familiares formaram a Cooperativa dos Agricultores do Assentamento Santa Olga (COOPAOLGA), em 2010, que além de hortaliças, produzem leite e derivados, carne, ovos, doces e feijão, para serem comercializados no PNAE. Ou seja, movimenta o mercado regional de alimentos, estimulando os produtores, garantindo, minimamente, uma renda que contribui para o desenvolvimento socioeconômico das famílias.

As cooperativas de leite são modelos organizacionais importantes para garantir competitividade ao setor, pois além da importância econômica tem alto valor social, pois parte significativa dos produtores em cooperativas tem características típicas de pequena produção (TEIXEIRA et al., 2013; SANTOS; PELOSI, 2013).

No assentamento Santa Olga, as unidades de produção possuem características peculiares em relação ao manejo de bovinos leiteiros ou de corte, não seguindo normas padronizadas.

Desta forma, o manejo pode variar de acordo com o tipo de rebanho, à diversidade e mistura de raças dos animais, diferentes espécies de pastagens, diversificação de alimentação e o processo produtivo adotado. Cada família trabalha na atividade de bovinocultura e maneja de acordo com suas particularidades, sendo diferenciado conforme os recursos financeiros disponíveis, instalações e equipamentos na propriedade, disponibilidade de mão-de-obra, quantidade de animais, processamento e beneficiamento dos produtos, aquisição de insumos, sistema de produção, disponibilidade de área, piqueteamento e canais de comercialização, dentre outros. Contudo, é de suma importância conhecer o sistema de criação de bovinocultura leiteira em uma propriedade rural, com características que servirão de base para o melhor desenvolvimento da atividade em processo de transição agroecológica e se tornar uma referência na criação de animais e produção de leite orgânico, o que favorece o compartilhamento das boas experiências com outros agricultores. Com base neste contexto, desenvolveu-se um trabalho de pesquisa objetivando-se conhecer e compreender o processo produtivo da bovinocultura leiteira em transição agroecológica do sítio Estrela da Manhã, localizado no Assentamento Santa Olga, em Nova Andradina-MS. Metodologia Essa pesquisa de campo qualitativa foi composta por uma série de procedimentos pautados na observação, vivência e análise dos significados e características intrínsecas ao fenômeno estudado, através do raciocínio indutivo e dedutivo, não se limitando apenas na quantificação (MELO PEREIRA; QUEIROS, 2012; TEIXEIRA et al., 2013). O estudo de caso baseou-se na realização de uma pesquisa de campo do tipo qualitativa, no sitio Estrela da Manhã, lote 92, localizado no Assentamento Santa Olga, sob a responsabilidade do Sr. Aparecido Alves de Souza. O método utilizado para coleta de dados foi do tipo descritivo, utilizando técnicas de observação e conversa com o proprietário de natureza exploratória e descritiva, através de visitas técnicas na propriedade, o que possibilitou a utilização da metodologia de observação participativa. Vale considerar que o estudo de caso é uma análise na unidade de estudo, visando o detalhamento de um ambiente, modelo de sistema de produção em transição agroecológica, que contribui para o desenvolvimento da bovinocultura leiteira na região, sendo observado que todo sistema de criação de animais pode ocorrer

adaptações de acordo com as necessidades e potencialidades do produtor, o que pode-se observar alguns gargalos ou dificuldades no sistema de criação. Para o levantamento das informações, foi utilizado um questionário semiestruturado composto por questões abertas e fechadas, o que possibilita que as questões que não estavam previstas, mas que são úteis durante a pesquisa, possam ser acrescentadas (RICHARDSON, 1999), com o intuito de conhecer o processo de transição agroecológica da criação de bovinocultura leiteira na propriedade. Optou-se pela coleta dos seguintes dados: área da propriedade, forma de distribuição das atividades produtivas, tipo de pastagem predominante, quantidade de animais, levantamento dos alimentos volumosos e concentrados que utiliza na suplementação bovina, principal atividade geradora de renda, forma de escoamento da produção, manejo sanitário dos animais, além de informações expressas espontaneamente pelo produtor referente ao avanço do processo de transição agroecológica. Para avaliação dos resultados foi realizado uma Análise Descritiva Qualitativa-ADQ, com o objetivo da interpretação dos dados do conhecimento de um fenômeno e a compreensão da realidade em comparação com outros estudos. Resultados e discussões A propriedade possui área de 8 ha, destinando 0,5 à atividade de horticultura e 7,5 ha à bovinocultura leiteira, onde são criados 15 animais, sendo 3 machos (2 bezerros e 1 touro adulto) e 12 fêmeas (7 vacas e 5 bezerras), tendo os animais mestiços de girolando leiteiro. Pode-se verificar que a principal atividade geradora de renda na propriedade é a produção de leite, com 1.200 litros/mês, sendo que a perspectiva é aumentar a produção para 1.700 litros/mês. Toda essa produção de leite é conduzida para a miniusina de pasteurização e o empacotamento, a qual, em seguida, é levada para os pontos de comercialização de Nova Andradina. O entrevistado é um dos 22 cooperados da Coopaolga, que busca suprir a demanda da produção de leite e diversificação de produtos, proporcionado a melhoria na infraestrutura da miniusina, para melhor aproveitamento do leite, com a agregação de valor. Diante disso, surgiu o interesse do produtor em buscar práticas alternativas, de base agroecológica, para o estabelecimento de processos de desenvolvimento rural sustentável, a partir da produção orgânica de leite. Assim, pautou-se na utilização de práticas e técnicas que contribuem para o processo de transição agroecológica, como o aperfeiçoamento e gestão do manejo dos animais, principalmente relacionado à alimentação oriunda das pastagens,

especialmente no período de seca, fornecendo suplementação de alimentos produzidos na propriedade. De acordo com Finkler (2010), considera que no sistema de produção de leite a alimentação do rebanho é o principal componente no custo da produção, representando cerca de 40 a 60%, e para manter uma alimentação adequada é de fundamental importância tanto do ponto de vista nutricional quando econômico. A adoção de técnicas de base agroecológica, como manejo rotacionado dos piquetes, irrigação de pastagem, melhoria na fertilidade do solo e melhoramento do sistema de manejo dos animais, possibilitam a obtenção de resultados significativos na produtividade do leite orgânico (MOURO et al., 2016) Como a principal atividade desenvolvida na propriedade é produção de leite, a melhoria da pastagem é importante como estratégia para aumentar a autonomia do produtor melhorar a produtividade dos animais. De acordo com o relato do entrevistado, parte das áreas da propriedade está com a pastagem com deficiência de manejo, proporcionado aos animais o efeito sanfona, ou seja, com chuvas há boa disponibilidade de forragem e boa produção de leite, mas no período de seca os animais ficam magros, reduzindo drasticamente a produção de leite. Como alternativa, durante o período de seca é incorporada a cana de açúcar na dieta alimentar dos animais, associado à oferta da pastagem. Martin (1997) considera a cana-de-açúcar como um volumoso muito utilizado para alimentação de bovinos na época da seca, sendo uma espécie que apresenta características como forrageira, que contribui para o aumento da produtividade animal e fonte de energia. De acordo com o produtor, uma técnica agroecológica eficiente e de baixo custo para suplementação alimentar dos animais e a manutenção da produtividade na seca é aumentar a área de forrageira para a suplementação alimentar, incorporando 0,5 ha de Napier (Pennisetum purpureum). Trata-se de mais uma alternativa de volumoso, aliado à cana de açúcar, como fonte de nutrientes para os animais no período de seca. A forrageira predominante na propriedade, utilizada diariamente para a alimentação dos animais, é a Brachiaria decumbens. Silva et al. (2010) considera o gênero bastante importante devido a facilidade na aquisição de sementes de boa qualidade, tolerância a solos de baixa fertilidade, alta competição com plantas invasoras e boa eficiência na proteção do solo contra erosão. De acordo com o produtor, a propriedade não possui um plano de manejo de gestão dos animais. Assim, não possui um controle individual da parição de cada animal, exceto as vacinas obrigatórias, como de raiva e aftosa, previstas no calendário do IAGRO - Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal. Então, sugere-se que seja realizado um plano de manejo, no qual poderá realizar um controle mais

eficiente do período de parição e os tipos de vacinas, alimentação, número de animais, dentre outros. Segundo Finkler (2010), a falta de gerenciamento adequado da produção é um fator decisivo na obtenção de baixos índices de produtividade. Os cuidados com animais durante o manejo são fundamentais para que não sofram danos. Devem ser observados os bebedouros que precisam ser limpos com frequência e desinfetados, ou seja, os animais necessitam consumir água limpa para diminuir a incidência de infestação de verminose. Nessa propriedade, as novilhas são enxertadas com idade de dois anos e meio através do método tradicional, ou seja, monta natural. Após a parição, os (as) bezerros (as) recém-nascidos (as) recebem tratamento do umbigo que é cortado na medida de dois dedos e imerso em solução de tintura de iodo, até a cura total, evitando a contaminação e o aparecimento de doenças que podem resultar na morte do animal. A idade do desmame está relacionada ao estado nutricional da vaca, conforme recomenda Vaz et al. (2013), podendo variar entre 8 a 9 meses. O controle dos carrapatos nos bovinos pode ser realizado através da utilização de óleos essenciais e concentrado de eucalipto, nim e timbó que mostram-se eficazes no controle desse ácaro. Além disso, ainda como parte do manejo agroecológico, é fundamental a manutenção de predadores naturais como as aves, sapos, formigas, garça e as galinhas domésticas, que contribuem para o controle natural dos carrapatos (SANTOS et al., 2015). Considerando que o produtor precisa ter conhecimento referente a inovações tecnológicas, como o gerenciamento geral da atividade, técnicas de melhoramento genético e de manejo reprodutivo, a alternativa sugerida ao agricultor é o uso da inseminação artificial, agregando maior qualidade ao plantel dos animais, visto ser uma alternativa eficiente, segura e econômica de melhorar a qualidade genética dos animais em menor tempo e com baixo custo e controle de doenças (FARIA, 1999). No âmbito particular de cada produtor familiar, ele pode optar por diferentes alternativas para dinamizar seu sistema produtivo orgânico, visando seu desenvolvimento sociocultural, porém é fundamental o acesso a informações qualificadas, a inovações e à disponibilidade de recursos financeiros (BEZERRA et al., 2011). Uma estratégia agroecológica importante para melhorar a alimentação e produtividade do gado durante o período da seca é o processo de ensilagem, pois facilita a alimentação complementar para bovinos de leite na época de escassez de alimentos, uma vez que armazena matéria seca e nutriente para disponibilização aos animais em períodos em que a pastagem encontra-se com baixa qualidade.

Nesse sentido, o capim-elefante se destaca, podendo ser utilizado para ensilagem, uma vez que tem alta produtividade de massa em períodos chuvosos, elevado número de variedades, grande adaptabilidade, facilidade de cultivo, boa aceitabilidade pelos animais e bom valor nutritivo, quando no estádio inicial de desenvolvimento, podendo proporcionar a melhoria dos índices de produtividade, com baixo custo de produção (ÍTAVO, 2006). Na propriedade, objeto da pesquisa, seria necessário ampliar em 0,5 ha a área de cana-de-açúcar e de napier para suprir a escassez de alimento na época de seca, pois estas campineiras podem contribuir como alimentação alternativa, proporcionando a diminuição do uso constante da pastagem, ou seja, auxiliando a rebrota da área de forrageiras. Assim, buscam-se alternativas agroecológicas para suplementação alimentar e também possibilitar a recuperação das áreas de pastagens degradadas. Outra prática importante nesse processo é o piquetiamento da área de pastagem, podendo ser realizado na divisão do espaço com 0,25 ha cada piquete totalizando, 24 piquetes. Com o manejo rotacionado, utilizando em pastejo de 1 dia cada piquete, terá um intervalo de 23 dias para retornar ao primeiro piquete, possibilitando a rebrota da pastagem e manutenção da sua qualidade. A redução da quantidade de dias por piquete evita a degradação do pasto. A irrigação da pastagem de maneira artificial é uma garantia de produção e rentabilidade, mas requer um bom planejamento do sistema. O pastejo rotacionado tem sido uma alternativa bem sucedida na transição agroecológica, pois garante o sucesso da renda mensal do leite a baixo custo, disponibilização de matéria orgânica de alta qualidade ao solo, ou seja, o esterco bovino, além da melhoria da fertilidade do solo, facilitando a integração com diversas atividades agropecuárias na propriedade. A produção animal agroecológica é baseada na utilização de tecnologias dominadas e aplicáveis de acordo com a realidade do agricultor e da propriedade de modo a cumprir exigências necessárias de acordo com a Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, implicando na associação vegetal e animal, devendo ser realizada sob novos conceitos de rotação e associação de culturas, redução até a completa eliminação de agroquímicos, utilizando o pasto como alimento básico ou parcial para os animais.

Conclusões Devido à propriedade possuir características da maioria dos sistemas de criação do assentamento Santa Olga e ser uma referência no local, o agricultor familiar busca se fundamentar no processo produtivo da bovinocultura leiteira em bases agroecológicas, o que é estratégico no âmbito econômico, social e ambiental.

Para que o desenvolvimento local aconteça, é necessário identificar os gargalos de produção leite em bases agroecológicas, destacando, em conjunto, a necessidade da mobilização dos demais agricultores em ampliar os arranjos organizacionais para favorecer o processamento agroindustrial do leite, além de viabilizar assistência técnica eficaz em todas as linhas da cadeia produtiva. Destaca-se, ainda, a importância do planejamento e controle de toda a propriedade, desde a aquisição de produtos externos até a comercialização da produção, aliados ao potencial dos recursos disponíveis possibilitarem trabalhos de melhorias nos aspectos sociais, econômicos e ambientais na propriedade. Nesse contexto, o fortalecimento do processo de transição agroecológica contribuirá para a recuperação das pastagens degradadas, melhoria dos índices de produtividade animal, e do meio ambiente, além da melhoria da qualidade de vida da família envolvida. Agradecimentos Ao Sr. Aparecido Alves de Souza que não mediu esforços e nos receberam com muito carinho e dedicação. Á Universidade Federal da Grande Dourados, em específico ao curso de Especialização em Residência Agrária: Agroecologia, Produção e Extensão Rural por ter proporcionado a oportunidade de conclusão desse trabalho. Referências bibliográficas

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