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 03/06/2013 1 Sociologia Política Dr . Pablo Ornelas Rosa Pressupostos  da Ciência Política O conceito de política possui suas raízes no adjetivo polis, que trata de tudo aquilo que se refere à cidade, ao urbano, ao civil, ao público, ao sociável e ao social. Já a sua utilização moderna designa aquelasatividades ou conjuntos de ativ idades produzidas e compostas pelo Estado. A política contemporânea, comumente chamada de ciência política, localizase principalmente nos escritos de Maquiavel, enquanto que a política clássica situase em Aristóteles, pensador grego que adotava a perspectiva de que o ser humano é um animal político que vive na  polis, ou seja, na cidade, considerada a unidade constitutiva indecomponível e a dimensão suprema da existência. É importante esclarecer que não há como pensar em política e, portanto, em ações humanas, sem considerálas como um campo permeado por relações de poder, pois quem faz política busca ou procura exerce r o poder sobre outra pessoa ou sobre um grupo social no intui to de obter alguma vantagem pessoal ou coletiva. Embora constatemos que a política é utilizada como um conjunto de esforços que visam à participação do poder ou sua influência na divisão do poder tanto entre Estados quanto no interior de um único Estado – conforme apontou Weber (1970) – é possível averiguar que a política tem oscilado entre duas interpretações opostas: Para uns, a política é essencialmente uma luta, um combate: o poder permite aos indivíduos e grupos que o detêm assegurar sua dominação sobre a sociedade e dela tirar proveito; os outros grupos e os outros indivíduos se erguem contra esta dominação e esta exploração, esforçandose por resistirlhe e destruí las. Para outros, a política é um esforço no sentido de fazer reinar a ordem e a justiça: o poder assegura o interesse geral e o bem comum contra a pressão das reivindicações particulares, conforme constatou Duverger (1968 ). Pressupostos  da Sociologia Apesa r de ser composta por dife rent es conc epçõ es polít icas, teóricas e conceituais, a sociologia é uma disciplina criada recentemente, em meados do século XIX. O gra nde res pon sáv el pel a atr ibu içã o des te nome a est e campo do conhecimento foi Augusto Comte que, em sua obra intitulada  Curso de Filosofia Positiva, escrito em 1839, propõe a alteração da física social, termo empregado pelo autor em 1830. Segundo Duverger (1968), a substituição do termo física social para sociologia ocorreu devido à constatação de Comte de que, em 1836, Quételet havia aplicado este termo no estudo estatístico dos fenômenos morais. A grande preocupação de Comte ao propor esta nova disciplina consistia em formular as bases deste campo de saberes sobre a sociedade moderna que emerg ia, ampar ando se na utilização de met od ologias validadas pel o conhecimento científico da época. Deste modo, o autor propôs que fossem utilizados às Ciências Soci ais métodos semelh antes àqueles validados pelas Ciê ncias Natur ais e Exa tas daq uel e per íod o, no int uit o de qu e fosse m abandonados os pressupostos analíticos abarcados pela filosofia política, saber que até aquele momento se dedicava exclusivamente a analisar os fenômenos sociais, por meio de especulações. Diferentes Sociologias Vimos que não é poss ível falar em uma única sociol ogia, pois o pensar soci ológ ico e polít ico pressupõ e a exis tênci a de dif erentes “escolas” e tradições. Sendo assim, apesar de Maquiavel ser comumente considerado o fun dad or da Ciê ncia Pol íti ca, e Comte o ins tit uidor da Soc iol ogi a, principalmente pelo fato de ter atribuído o nome a esta disciplina, há certo consenso entre os sociólogos acerca da maior importância dada, do ponto de vista teóricometodológico e político, a Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, dentre outros. É impor tante ressalt ar que, embora tenh am desen volv ido suas teorias sociológicas e políticas, bem como suas visões acerca da modernidade, de forma bastante distinta, não há uma unidade no pensamento desses autores. Logo, cada um acabou desenvolvendo distintamente sua teoria sociológica, sua teoria da modernidade e sua teoria política. Como ambos viveram em dif erent es momentos daquele período que se convenci onou chamar de modernidade, marcado por diversas mudan ças sociais, cultu rais, políticas e econ ômic as, sobr etudo, em deco rrênc ia do Rena scime nto, Ilumi nismo , Revo luçã o Indu strial e Revo luçã o Francesa, conforme ver emos na seq uência , cad a um del es des env olv eu sua s metod ologi as e teorias desti nadas a analisar os fenômeno s socia is que estavam à sua vol ta, pos ici onando se polit icamente dian te daque les acontecimentos. Pressupostos  da Sociologia Política Embora algun s autor es, como Bottomore (1979), cons tate que é “impo ssível estabelecer qualquer distinção teórica entre sociologia política e ciência política” uma vez que ambas versam sobre as questões referentes ao poder; outros, como Duverger (1968) , por exemplo , apesar de recon hecer em a enorme prox imida de entr e esses campos, acabam distinguindoos, na medida em que consideram a ciência política como uma ciência do Estado, e a sociologia política como uma ciência do poder, ultrapassando, assim, os limites da organização estatal. Segundo Duverger (1968), a sociologia política não deve ser tratada apenas como uma disciplina que visa analisar e corroborar com a manutenção da ordem social em proveito de todos, mas, principalmente, como uma ferramenta de combate entre indivíduos e grupos destinados a conquistarem poderes utilizados em proveito próprio ou em detrimento da coletividade. A aproximação entre a ciência política e a sociologia ocorreu a partir do século XX, em decorrência da massificação da política institucional e dos diferentes movimentos socia is que se iniciaram, sobretudo , na Europa cent ral. Foi somente a parti r da formação dos partidos de massa e da intensificação na organização de mobilizações socia is que a junção dessa s duas disciplinas foi possív el, objetivan do analisar os difer ente s elementos que compõem e influenciam não apenas o jogo político institucional, mas as demais relações sociais. A Sociologia Política de Durkheim Seguidor de Augusto Comte, mas sem perder de vista seus limites, e com a pretensão de co nf er ir à soci ol ogia uma reputa çã o verd adei ramente científic a, Émile Durk heim teve como princ ipal objetivo desenvolver um importante aspecto que faltava na sociologia criada por seu precursor: um método de análise. Dent re as influências fundamentais do pens amen to de Durkheim podemos destacar três corr ente s de pensa ment o: o positivismo , o evoluc ion ismo e o con ser vad ori smo que contribuíram par a a elabor ão da te oria sociol ógi ca fun cional ist a. O pen samento positivista, que partia das ideias de Comte, enfatiza o poder da razão oriundo do iluminismo e a sup eri ori dade da ciência atr avé s do positivismo; o evolucionismo aplicava a noção de evolução da natureza a partir de Darwin e evolução da sociedade a partir de Spencer; o conse rvado rismo de Burke, que se opunh am as tran sfor maç ões traz idas pela Revol ução France sa, criticando o racionali smo e a agitação do mundo moderno, propondo um retorno aos ideais de estabilidade da Idade Média enfatizada pela religião, que deveria ser sobreposta pela ampliação de um modelo de educação laica.

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Revisao Sociologia Política

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    SociologiaPolticaDr.PabloOrnelasRosa

    PressupostosdaCinciaPolticaO conceito de poltica possui suas razes no adjetivo polis, que trata de tudo aquilo que se refere cidade, ao urbano, ao civil, ao pblico, ao socivel e ao social. J a sua utilizao modernadesigna aquelas atividades ou conjuntos de atividades produzidas e compostas pelo Estado.A poltica contempornea, comumente chamada de cincia poltica, localizase principalmentenos escritos de Maquiavel, enquanto que a poltica clssica situase em Aristteles, pensadorgrego que adotava a perspectiva de que o ser humano um animal poltico que vive na polis, ouseja, na cidade, considerada a unidade constitutiva indecomponvel e a dimenso suprema daexistncia. importante esclarecer que no h como pensar em poltica e, portanto, em aes humanas,sem considerlas como um campo permeado por relaes de poder, pois quem faz polticabusca ou procura exercer o poder sobre outra pessoa ou sobre um grupo social no intuito deobter alguma vantagem pessoal ou coletiva.Embora constatemos que a poltica utilizada como um conjunto de esforos que visam participao do poder ou sua influncia na diviso do poder tanto entre Estados quanto nointerior de um nico Estado conforme apontou Weber (1970) possvel averiguar que apoltica tem oscilado entre duas interpretaes opostas:Para uns, a poltica essencialmente uma luta, um combate: o poder permite aos indivduos egrupos que o detm assegurar sua dominao sobre a sociedade e dela tirar proveito; os outrosgrupos e os outros indivduos se erguem contra esta dominao e esta explorao, esforandosepor resistirlhe e destrulas. Para outros, a poltica um esforo no sentido de fazer reinar aordem e a justia: o poder assegura o interesse geral e o bem comum contra a presso dasreivindicaes particulares, conforme constatou Duverger (1968).

    PressupostosdaSociologiaApesar de ser composta por diferentes concepes polticas, tericas econceituais, a sociologia uma disciplina criada recentemente, em meados dosculo XIX.O grande responsvel pela atribuio deste nome a este campo doconhecimento foi Augusto Comte que, em sua obra intitulada Curso de FilosofiaPositiva, escrito em 1839, prope a alterao da fsica social, termo empregadopelo autor em 1830. Segundo Duverger (1968), a substituio do termo fsicasocial para sociologia ocorreu devido constatao de Comte de que, em 1836,Qutelet havia aplicado este termo no estudo estatstico dos fenmenos morais.A grande preocupao de Comte ao propor esta nova disciplina consistia emformular as bases deste campo de saberes sobre a sociedade moderna queemergia, amparandose na utilizao de metodologias validadas peloconhecimento cientfico da poca. Deste modo, o autor props que fossemutilizados s Cincias Sociais mtodos semelhantes queles validados pelasCincias Naturais e Exatas daquele perodo, no intuito de que fossemabandonados os pressupostos analticos abarcados pela filosofia poltica, saberque at aquele momento se dedicava exclusivamente a analisar os fenmenossociais, por meio de especulaes.

    DiferentesSociologiasVimos que no possvel falar em uma nica sociologia, pois o pensarsociolgico e poltico pressupe a existncia de diferentes escolas etradies. Sendo assim, apesar de Maquiavel ser comumente considerado ofundador da Cincia Poltica, e Comte o instituidor da Sociologia,principalmente pelo fato de ter atribudo o nome a esta disciplina, h certoconsenso entre os socilogos acerca da maior importncia dada, do ponto devista tericometodolgico e poltico, a Karl Marx, mile Durkheim e MaxWeber, dentre outros. importante ressaltar que, embora tenham desenvolvido suas teoriassociolgicas e polticas, bem como suas vises acerca da modernidade, deforma bastante distinta, no h uma unidade no pensamento desses autores.Logo, cada um acabou desenvolvendo distintamente sua teoria sociolgica,sua teoria da modernidade e sua teoria poltica.Como ambos viveram em diferentes momentos daquele perodo que seconvencionou chamar de modernidade, marcado por diversas mudanassociais, culturais, polticas e econmicas, sobretudo, em decorrncia doRenascimento, Iluminismo, Revoluo Industrial e Revoluo Francesa,conforme veremos na sequncia, cada um deles desenvolveu suasmetodologias e teorias destinadas a analisar os fenmenos sociais queestavam sua volta, posicionandose politicamente diante daquelesacontecimentos.

    PressupostosdaSociologiaPolticaEmbora alguns autores, como Bottomore (1979), constate que impossvelestabelecer qualquer distino terica entre sociologia poltica e cincia poltica umavez que ambas versam sobre as questes referentes ao poder; outros, como Duverger(1968), por exemplo, apesar de reconhecerem a enorme proximidade entre essescampos, acabam distinguindoos, na medida em que consideram a cincia polticacomo uma cincia do Estado, e a sociologia poltica como uma cincia do poder,ultrapassando, assim, os limites da organizao estatal.Segundo Duverger (1968), a sociologia poltica no deve ser tratada apenas como umadisciplina que visa analisar e corroborar com a manuteno da ordem social emproveito de todos, mas, principalmente, como uma ferramenta de combate entreindivduos e grupos destinados a conquistarem poderes utilizados em proveito prprioou em detrimento da coletividade.A aproximao entre a cincia poltica e a sociologia ocorreu a partir do sculo XX, emdecorrncia da massificao da poltica institucional e dos diferentes movimentossociais que se iniciaram, sobretudo, na Europa central. Foi somente a partir daformao dos partidos de massa e da intensificao na organizao de mobilizaessociais que a juno dessas duas disciplinas foi possvel, objetivando analisar osdiferentes elementos que compem e influenciam no apenas o jogo polticoinstitucional, mas as demais relaes sociais.

    ASociologiaPolticadeDurkheimSeguidor de Augusto Comte, mas sem perder de vista seus limites, ecom a pretenso de conferir sociologia uma reputaoverdadeiramente cientfica, mile Durkheim teve como principalobjetivo desenvolver um importante aspecto que faltava na sociologiacriada por seu precursor: um mtodo de anlise.Dentre as influncias fundamentais do pensamento de Durkheimpodemos destacar trs correntes de pensamento: o positivismo, oevolucionismo e o conservadorismo que contriburam para aelaborao da teoria sociolgica funcionalista. O pensamentopositivista, que partia das ideias de Comte, enfatiza o poder da razooriundo do iluminismo e a superioridade da cincia atravs dopositivismo; o evolucionismo aplicava a noo de evoluo da naturezaa partir de Darwin e evoluo da sociedade a partir de Spencer; oconservadorismo de Burke, que se opunham as transformaestrazidas pela Revoluo Francesa, criticando o racionalismo e aagitao do mundo moderno, propondo um retorno aos ideais deestabilidade da Idade Mdia enfatizada pela religio, que deveria sersobreposta pela ampliao de um modelo de educao laica.

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    RelaoentreindivduoeSociedadeemDurkheimAo averiguar que a sociedade incide sobre os indivduos,Durkheim, influenciado pelo positivismo, verificou que aexplicao da realidade est condicionada pelo objeto.Portanto, a sociedade (objeto) tem precedncia sobre oindivduo (sujeito).Segundo o autor, a sociedade deve ser tratada como algopara alm da soma dos indivduos que a compem, poisuma vez vivendo em sociedade, os indivduos do origems instituies sociais que possuem dinmica prpria: osseres humanos passam pela sociedade, mas ela fica. ParaDurkheim, a sociedade que age sobre o indivduo,modelando suas formas de agir, influenciando suasconcepes e modos de ver, condicionando epadronizando o seu comportamento. Assim, a noo deque somos pessoas ou sujeitos individuais nada mais doque uma construo social.

    FatosSociaisEm relao ao mtodo cientfico elaborado por Durkheim na construo da teoriasociolgica funcionalista a partir de sua obra As Regras do Mtodo Sociolgico, o autorafirmou que a primeira e a mais importante regra da sociologia considerar os fatossociais como coisas. Essa concepo parte do princpio de que a realidade social seaproxima da realidade da natureza. Assim, tal como as coisas da natureza funcionamde forma independente da ao humana, cabendo ao cientista apenas mostrar suasregularidades; as coisas da sociedade, chamadas de fatos sociais, tambm seriamuma realidade distinta da ao humana.Para Durkheim, o objeto da sociologia so os fatos sociais, que consistem emdiferentes maneiras de agir capazes de exercer sobre o indivduo uma coero exteriorgeneralizante do ponto de vista do conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmotempo, uma existncia prpria que independe de suas manifestaes individuais.Segundo o autor, a forma como o ser humano age sempre condicionada pelasociedade, j que essas formas de agir chamadas de fatos sociais possuem um trplicecarter: so exteriores (provm da sociedade e no do indivduo), coercitivos (soimpostas pela sociedade ao indivduo) e objetivos (tem uma existncia independentedo indivduo). Um professor, por exemplo, ao fazer a chamada em sala de aula nointuito de verificar os alunos presentes e os ausentes ou ao aplicar uma simples prova,no o faz necessariamente por ser seu prprio desejo, mas sim porque coagido pornormas e regimentos objetivos que so exteriores a ele, provenientes da instituio deensino da qual faz parte. Portanto, este ato pode ser tratado, sob um visfuncionalista, como um fato social, exatamente tambm por pressupor elementosexteriores, coercitivos e objetivos.

    FunoSocialeSolidariedadeSocialEmbora tenha desenvolvido o conceito de fato social deforma mais aprofundada somente em sua segunda obraAs Regras do Mtodo Sociolgico (1895), foi em suaprimeira obra intitulada Diviso do Trabalho Social, queDurkheim (2010) centrou suas anlises sobre a funo dadiviso do trabalho nas sociedades modernas. Nestetrabalho, o autor adotou a tese de que a sociedade haviapassado por um processo de evoluo caracterizado peladiferenciao social, partindo de uma sociedadedemarcada por laos de solidariedade mecnica caracterizada pela conscincia coletiva, pelas sociedadesfragmentadas e pelo direito repressivo para outrademarcada por laos de solidariedade orgnica assinalada pela diviso social do trabalho, pelassociedades diferenciadas e pelo direito restitutivo.

    AnomiaeMoralidadeAssim como Comte, Durkheim (2010) acreditava que a Frana seencontrava imersa em uma enorme crise moral devido ao vazio trazidopelo desaparecimento dos valores e das instituies que zelavam,protegiam e envolviam o mundo feudal como as organizaes deofcios, por exemplo. Para Durkheim, os conflitos e as desordens queocorriam na Frana do sculo XIX eram considerados sintomas daanomia jurdica e moral presentes na vida econmicas, uma vez que osprogressos ocorridos no haviam acompanhado o desenvolvimentodas instituies capazes de regular os interesses e limites.A constatao de que a sociedade francesa de sua poca estava imersaem um estado doentio provocado pela ascenso da modernidadeacabaram levandoo a enfatizar em sua tese de doutorado intitulada ADiviso do Trabalho Social tanto a importncia dos fatos morais naintegrao e coeso dos indivduos vida coletiva, quanto preocupao com as possveis consequncias ocasionadas peladesintegrao social, chamada por Durkheim (2010) de anomia.

    APolticaemDurkheimVimos que a Teoria Funcionalista elaborada por Durkheim no trata somentede concepes sociolgicas, mas tambm de vises polticas construdas pormeio de referenciais tericos centrados em perspectivas tangenciadas peloevolucionismo, conservadorismo e, principalmente, pelo positivismo deComte que buscava garantir certa ordem social. A teoria desenvolvida porDurkheim pressupe que os fenmenos sociais devem ser tratados comocoisas objetivas, exteriores e coercitivas que, a princpio, cumpririam umafuno social. Entretanto, caso no cumpram essa suposta funo socialgeraro a chamada anomia, entendida como uma patologia social. Ao analisara diviso do trabalho social em sua tese de doutoramento, o autor constatouque a emergncia da modernidade possibilitou da ascenso de laos desolidariedade demarcados pela solidariedade orgnica que se sobreps solidariedade mecnica, sendo a primeira demarcada pela conscinciaindividual e a segunda pela conscincia coletiva. J no que se refere sperspectivas polticas, Durkheim verificou que o fator que garante esses doistipos de solidariedade social no necessariamente o Estado, mas sim dadiviso do trabalho, pois sua utilidade seria possibilitar a introduo de certostipos de reflexes sobre a vida social que garantiriam certa normalidade nasociedade permeada pela manuteno da ordem.

    SociologiaPolticadeWeberContrapondose aos pressupostos do positivismo iniciado com Comte, MaxWeber desenvolveu uma anlise pautada na ideia de que a razo humana, naverso encarnada pela economia capitalista e pela burocracia do Estado, seriauma fora que, ao mesmo tempo em que desencanta o mundo, invadetodas as esferas da vida humana, ocasionando a perda da liberdade e osentido da vida.Dentre as correntes tericas que mais influenciaram o pensamento de Weberpodemos citar: a filosofia moderna a partir de Kant, que afirmava que oconhecimento no capta a essncia da realidade, mas apenas os fenmenosque nos so transmitidos atravs dos sentidos, de Nietzsche, do qual herdouuma viso pessimista da sociedade moderna e de Marx, que props umaanlise rigorosa sobre o chamado modo de produo capitalista.Weber ainda foi influenciado pelos filsofos neokantianos, como Dilthey,Windelband e Rickert, que insistiam na necessidade da distino entre ascaractersticas das cincias sociais (chamadas de cincias do esprito/cultura)das demais cincias da natureza, contrapondose s ideias positivistasdesenvolvidas por Comte, e pelo pensamento social alemo de diferentesautores contemporneos a ele.

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    RelaoentreSujeitoeObjetoemWeberA ideia de que o indivduo o elemento fundante na explicao darealidade social atravessa a produo tanto epistemolgica quantometodolgica do autor, culminando com uma verdadeira revoluo nascincias sociais. Assim, Weber acabou inaugurando na sociologia umnovo caminho de interpretao da realidade chamada de teoriasociolgica compreensiva ou hermenutica.Weber atacou o pensamento de Comte a partir da absoro da grandepreocupao dos filsofos neokantianos, que buscavam combater opressuposto positivista de que as cincias naturais e as cincias sociaisdeveriam adotar o mesmo mtodo.Weber no apenas criticou os positivistas, dizendo que a realidade infinita, logo, no pode ser explicada totalmente a partir de leiscientficas, como tambm deferiu suas criticas aos neokantianos,defendo a tese de que a Sociologia deveria utilizar os dois mtodossupracitados (individualizante/ compreensivo egeneralizante/explicativo), dependendo da finalidade da pesquisa,entendendo, ainda, que as leis cientficas seriam apenasprobabilidades de ao social.

    AoSocialO objeto de estudo da sociologia para Weber a aosocial. Para o autor que prope o pressuposto filosficodo individualismo metodolgico perpassado pelapreponderncia do sujeito sobre o objeto, ao socialsignifica uma ao que, quanto a seu sentido visado peloagente ou pelos agentes, se refere ao comportamento deoutros, orientandose por este em seu curso.Assim, a tarefa da sociologia para o autor consistiria emdeterminar qual o sentido ou significado da ao. Ofundamento para explicar a ao social, portanto, o seumotivo, pois para a sociologia o importante seriarecuperar a razo e a finalidade que os prpriosindivduos conferem s suas atividades bem como ssuas relaes com os demais indivduos e com asociedade.

    TiposdeAoSocial AoRacionalReferenteaFins Aodeterminadapor

    expectativasquantoaocomportamentodeobjetosdomundoexterioredeoutraspessoas.

    AoRacionalReferenteaValores Aodeterminadapelacrenaconscientenovalor tico,esttico,religiosoouqualqueroutroquesejasuainterpretao absolutoeinerenteadeterminadocomportamentocomotal,independentedoresultado.

    AoSocialAfetiva Aodeterminadaporummodoafetivo,especialmenteemocional,atravsdeafetosouestadosemocionaisatuais.

    AoSocialTradicional Aodeterminadaporcostumesarraigados.

    TipoIdealPara Weber, o socilogo no pode tratar dos seus conceitos esuas teorias como se fosse uma mera reproduo darealidade, como propunham os positivistas. Adotando afilosofia kantiana, o autor parte do princpio de que oconhecimento humano no uma reproduo da essncia darealidade. Pelo contrrio, o conhecimento humano s capta asrelaes entre as coisas existentes, de acordo com a estruturada mente humana. Reconhecendo os limites das cinciassociais, Weber dir que a sociologia no capta toda a essnciada realidade, mas sim alguns de seus elementos que socondicionados pela cultura no qual o socilogo est inserido.Desta forma, o sujeito teria um papel ativo na construo doconhecimento sociolgico, na medida em que o socilogoque determina os traos ou aspectos da realidade que seroanalisados e qual a relao existente entre eles. Ser esteaspecto que chamar de tipo ideal.

    CinciaePolticaUma das caractersticas fundamentais do pensamento de Weber consiste naseparao radical entre a figura do cientista e do poltico, ou seja, entre asesferas da cincia e da poltica. Entretanto, isso no o impediu de sepronunciar vrias vezes sobre os problemas polticos de sua poca. Herdadode Rickert, filsofo alemo neokantiano, a convico de que as cinciashumanas so cincias relacionadas com os valores, Weber insistiu que ascincias humanas so cincias subjetivas e que dependem do ponto devista adotado pelo autor. Assim, esta questo acaba levando Weber a refletirsobre a questo da objetividade nas cincias humanas e/ou sociais.No intuito de resolver este dilema, o autor afirmar que a cincia devercuidar para distinguir rigorosamente entre os juzos de fato e os juzos devalor, pois na conduo da pesquisa, todas as consideraes pessoais doautor (ou os seus juzos de valor ou axiolgicos) deveriam ser colocadas delado. Na pesquisa, o socilogo s poderia emitir os seus juzos de fato,mostrando rigorosamente o desenvolvimento de um determinado fenmenosem julglo, no tomando posies sobre o problema.Ao invs de dizer qual o melhor sistema poltico, por exemplo, o socilogodeve apontar quais as consequncias da adoo deste, pois fazer a escolha uma tarefa da sociedade.

    TiposdeDominaoPara Weber, o poder entendido como a capacidade deimpor a prpria vontade dentro de uma relao social,enquanto que a dominao entendida como aprobabilidade de encontrar obedincia a umdeterminado mandato. O autor distinguiu trs tipos purosde dominao, certamente uma das categorias maisutilizadas pela sociologia weberiana: dominao legalracional, na qual a obedincia apoiase na crena dalegalidade da lei e dos direitos de mandos das pessoasautorizadas a comandar a lei; dominao tradicional, naqual sua legitimidade se apoia na crena de que o poderde mando tem um carter sagrado, herdado dos temposantigos; e a dominao carismtica, na qual alegitimidade da autoridade do lder carismtico lhe conferida pelo afeto e confiana que os indivduosdepositam nele.

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    TeoriadaEstratificaoSocialA grande novidade da teoria da estratificao social de Webercentrase na busca pela compreenso das diferentes posiesdo indivduo em relao sociedade, no a partir de um nicocritrio, mas a partir de sua insero em vrias esferas darealidade. Assim, do ponto de vista econmico as pessoas soseparadas por classes sociais. Do ponto de vista poltico, seencontraro divididas nos partidos, e enquanto o ponto devista cultural, as pessoas podero se diferenciar em diferentestipos de estamentos. A classe diz respeito aos interesseseconmicos das pessoas em relao s diferenas na possedos bens. O partido se relacionar com a diferentedistribuio do poder e o estamento relacionado com osdiferentes estilos de vida das camadas sociais, juntamentecom o prestgio e a honra conferida a cada uma.

    SociologiaPolticadeMarxMarx produziu uma vasta obra que permeou diferentes reas. Dentre as suasmaiores influncias esto: filosofia alem iniciou suas anlises fazendo partede um grupo de pensadores alemes chamados de esquerda hegeliana, daqual faziam parte Bauer, Stirner e Feuerbach. Embora adotassem o mtododialtico elaborado por Hegel que, grosso modo, consistia em pensar asrelaes sociais por meio de suas contradies, possuam uma atitude crticaem relao ao pensamento deste autor do qual eram estudiosos; socialismoutpico, pois, embora Marx j tivesse conhecimentos sobre o socialismo, foina Frana que aproximou o seu contato com este movimento de intelectuaisdo qual fazia parte Fourier, Saint Simon e Proudhon. Estes foram chamadospor Marx de socialistas utpicos, devido a no elaborarem anlises maisaprofundadas sobre o funcionamento do capitalismo e no reconhecerem aclasse operria como a nica possibilidade de construo do socialismo,embora fossem eles crticos severos do capitalismo de sua poca; economiapoltica, uma vez que o seu contato com a cincia econmica se ampliou e seaprofundou, quando Marx passou um perodo na Inglaterra buscandodemonstrar as leis do funcionamento do modo de produo capitalista eapontando as possibilidades de sua superao. Neste estudo, aproveitou acontribuio de vrios economistas ingleses, principalmente Adam Smith eDavid Ricardo que apontavam o trabalho como elemento chave para oentendimento do sistema econmico.

    TeoriaePrticaApesar de no ter a mesma preocupao de Comte emfundar uma disciplina cientfica que reivindicasse asupremacia em relao no somente aos demais saberes,mas tambm em relao s outras cincias como amatemtica, a fsica, a qumica, a astronomia e a biologia,por exemplo, Marx elaborou uma ampla teoria socialatravs da utilizao de elementos da filosofia, dahistria, da economia e da poltica. Embora Marx,diferentemente de Comte, Durkheim e Weber, no tenhasido um socilogo de profisso, ele foi um exemplo depensador que soube unificar a teoria com a prtica, poistanto a sua vida quanto as suas obras estiveram marcadaspelo pensamento voltado para a classe proletria,buscando construir um novo tipo de sociedade.

    MaterialismoHistricoeDialticoA dialtica marxista consiste em adotar a aorecproca e a unidade polar, pressupondo quetudo se relaciona; pressupe certa mudana,onde ocorre negao da negao amparada naconcepo de que tudo se transforma;pressupe a passagem da quantidade qualidade, amparada na mudana qualitativa; ea interpenetrao dos contrrios, contradio ouluta dos contrrios, atravs de um processofundamentado na passagem da tese, anttese esntese.

    TrabalhoeLutadeClasseSe a matria (mundo natural) representa a tese, temos o trabalho querepresenta a anttese da matria, que uma vez modificada pelo serhumano gera a sociedade, que a sntese; a sociedade justamente asntese do eterno processo dialtico pelo qual o indivduo atua sobre anatureza e a transforma. Para o autor, o trabalho um processo deque participa o ser humano, e a natureza, processo em que oindivduo, com sua prpria ao, impulsiona, regula e controla ointercmbio material com a natureza. Atuando assim, sobre a naturezaexterna e modificandoa, ao mesmo tempo modifica a sua prprianatureza.Assim, o trabalho no s uma condio indispensvel da vida social,mas tambm o elemento determinante para a formao do serhumano, seja como indivduo, seja como ser social. Sem trabalho nohaveria ser humano, nem relaes sociais, nem sociedade e nemhistria. Por tudo isso, podemos dizer que a categoria trabalho oconceito fundante e determinante de toda construo tericamarxista.

    Estado,IdeologiaeAlienaoAo consolidar o domnio dos proprietrios (burgueses) sobre os no proprietrios dosmeios de produo (proletariado), a classe dominante (proprietrios) intensificou suafora por meio do Estado. De modo geral, Marx afirmou que o Estado uminstrumento criado pelas classes dominantes para garantir o seu domnio econmico,pois suas leis e determinaes esto sempre voltadas para o interesse da classe dosproprietrios, garantindo o domnio da classe burguesa sobre o proletariado. Quandoas leis e normas do Estado falham, o poder estatal ainda tem o recurso da fora,principalmente das foras armadas, que garantem os interesses da classe dominante.Um segundo elemento que compe a superestrutura e que tambm busca garantir odomnio das classes proprietrias ocorre atravs da fora das ideias e chamada deideologia. Para Marx, as ideias da sociedade so as ideias da classe dominante. Istoquer dizer que, quando uma classe se torna dominante (do ponto de vista econmicoe poltico), ela tambm consegue difundir a sua viso de mundo e os seus valores.Assim, uma classe impe os seus preceitos sobre as demais, que adotam as suasconcepes e acabam sendo exploradas sem perceberem a sua condio. A ideologia,portanto, vista por Marx como um conjunto de falsas representaes da realidade,que servem para legitimar e consolidar o poder das classes dominantes.Marx constatou que o capitalismo aliena os seres humanos de sua prpria condiohumana, que o trabalho. Em outros termos, o fundamento do capitalismo, que seriaa propriedade privada, provocaria a separao dos seres humanos de seu prprio ser,ou seja, de sua prpria natureza.

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    ConcepesdePoderAs concepes subjetivistas so aquelas que entendem o poder comoum fenmeno interindividual (entre indivduos e sujeitos); asconcepes objetivistas entendem o poder como um efeito socialobjetivo, externo e geral, que produz efeitos polticos visveis quepodem ser apreendidos por meio das hierarquias sociais ou dasrelaes de dominao .o poder, para os pensadores subjetivistas, pressupe uma relao deconflito na qual h indivduos portadores de vontades que, utilizandose de determinados recursos (meios de poder), impem ou procuramimpor sua vontade contra qualquer tipo de resistncia. Por exemplo,um indivduo pode usar sua beleza, seu dinheiro ou seu capital culturalpara influenciar outros no intuito de obter algum benefcio ou alcanarseus interesses.Para os defensores das concepes objetivistas, o poder visto comofenmenos sociais relativamente independentes das vontadesindividuais, na medida em que invertem a relao de causalidade.Logo, o poder tratado como determinadas vontades individuais quedependem e so determinadas pelos fenmenos sociais e coletivos eno o contrrio.

    ParticipaoPolticaVimos que o modelo poltico republicano e presidencialista em vigor no Brasilse fundamenta em uma democracia representativa. Ao constatar que aparticipao poltica pode ocorrer de forma coletiva ou individual, verificamosque tambm h possibilidade de que a participao poltica ocorra demaneira eventual ou organizada, sendo esta ltima a mais eficaz.Alm disso, tratamos no somente de questes que perpassam a participaopoltica eleitoral, como de concepes que as ultrapassam, atravs dequestes tangenciadas pela conscientizao que pode culminar em algumtipo de organizao poltica institucionalizada ou no institucionalizada. Destemodo, vimos que ambas as organizaes supracitadas so realizadas por meiode aes coletivas que resultam de movimentos sociais que se amparam emrelaes abertas ou fechadas, conforme apontou Weber.Por conseguinte, esses movimentos sociais perpassados por aes coletivasinstitucionalizadas ou no institucionalizadas se baseiam em diferentes visesde mundo que resultam em lutas sociais pela defesa de suas distintasconcepes polticas concretizadas em ideologias polticas, conformeapresentaremos no captulo seguinte.