Sobre o paradoxo de Fermi
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Transcript of Sobre o paradoxo de Fermi
E tudo fica mais estranho. Nosso Sol é relativamente jovem em
relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas muito
mais velhos e semelhantes à Terra, o que em teoria representaria
civilizações muito mais avançadas que a nossa. Por exemplo, vamos
comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético
planeta X, com seus 8 bilhões de anos.
Se o planeta X tiver uma história similar a da Terra, vamos olhar para onde sua civilização estaria hoje:
Hoje, o Planeta X estaria a 3,46 bilhões de anos de desenvolvimento
além do que temos hoje.
A tecnologia e o conhecimento de uma civilização mil anos à nossa
frente poderia ser tão chocante quanto nosso mundo seria para uma
pessoa medieval. Uma civilização um milhão de anos à frente poderia
ser tão incompreensível para nós quanto a cultura humana é para
chimpanzés. E o planeta X está a 3.4 bilhões de anos à frente de nós…
Existe algo chamado de Escala Kardashev, que nos ajuda a agrupar
civilizações inteligentes em três grandes categorias, de acordo com a
quantidade de energia que usam:
uma Civilização Tipo I tem a habilidade de usar toda a energia de seu
planeta. Nós não somos exatamente uma Civilização Tipo I, mas
estamos perto (Carl Sagan criou uma fórmula para essa escala que
nos coloca como uma Civilização Tipo 0,7);
uma Civilização Tipo II pode colher toda a energia de seu sistema
solar. Nosso débil cérebro Tipo I mal consegue imaginar como alguém
faria isso, mas nós tentamos nosso melhor, imaginando coisas como a
Esfera de Dyson.
uma Civilização Tipo III ultrapassa fácil as outras duas, acessando
poder comparável ao da Via Láctea inteira.
Se esse nível de avanço parece difícil de acreditar, lembre-se do planeta
X e de seus 3,4 bilhões de anos de desenvolvimento além do nosso
(cerca de meio milhão de vezes mais do que o tempo que a raça humana
existe). Se uma civilização no planeta X for similar à nossa e foi capaz
de sobreviver até chegar no Tipo III, é natural pensar que a essa altura
eles provavelmente já dominaram a viagem interestelar, possivelmente
até mesmo colonizando a galáxia inteira.
Como essa colonização galáctica teria acontecido? Uma hipótese: cria-
se um maquinário que pode viajar para outros planetas, passam-se uns
500 anos se auto-replicando usando os materiais que encontrarem no
novo planeta, e então enviam-se duas réplicas para fazerem a mesma
coisa.
Mesmo sem alcançar nada perto da velocidade da luz, esse processo
colonizaria a galáxia inteira em 3,75 milhões de anos, relativamente um
piscar de olhos quando estamos falando de uma escala de bilhões de
anos:
Nesta evolução exponencial, a galáxia estaria completamente colonizada
em 3,75 milhões de anos. Fonte: J. Schombert, U. Oregon
Continuando a especular, se 1% da vida inteligente sobreviver tempo
suficiente para se tornar uma colonizadora de galáxias Civilização Tipo
III em potencial, nossos cálculos acima sugerem que haveriam mil
Civilizações Tipo III só em nossa galáxia. Dado o poder de tal
civilização, sua presença provavelmente seria fácil de se notar. E, ainda
assim, nós não vemos nada, não ouvimos nada e não fomos visitados por
ninguém.
Então cadê todo mundo?
Sejam bem-vindos ao Paradoxo de Fermi.
Ainda não há uma resposta para o Paradoxo de Fermi. O melhor que
podemos fazer é conseguir “explicações possíveis”. E se você perguntar
a dez cientistas diferentes qual o palpite deles sobre a explicação
correta, você terá dez respostas diferentes. Sabe quando humanos de
antigamente discutiam se a Terra era redonda, ou se o Sol girava em
torno da Terra, ou achavam que os raios aconteciam por causa de Zeus?
Por isso, hoje eles parecem primitivos e ignorantes; no entanto, esse é
mais ou menos o ponto em que estamos neste assunto.
Ao analisar as hipóteses mais discutidas sobre o Paradoxo de Fermi,
vamos dividi-las em duas grandes categorias: as explicações que
supõem que não há sinal de Civilizações Tipo II e III porque elas não
existem; e as explicações que sugerem que elas estão lá, só que não
estamos vendo ou ouvindo nada por outros motivos.
Grupo 1 de Explicações: não há sinais de civilizações superiores (Tipos II e III) porque elas não existem.Aqueles que acreditam em explicações do Grupo 1 recusam qualquer
teoria do tipo “existem civilizações maiores, mas nenhuma delas fez
qualquer tipo de contato conosco porque todas _____”. O pessoal do
Grupo 1 vê os números, entende que deveria haver milhares (ou
milhões) de civilizações superiores, e intui que pelo menos uma delas
deveria ser a exceção à regra. Mesmo se uma teoria abarcasse 99,99%
das civilizações superiores, o 0,001% restante se comportaria de
alguma outra forma e nós perceberíamos sua existência.
Por isso, dizem as explicações do Grupo 1, não entramos em contato
com civilizações superavançadas porque porque não existem. Como a
matemática sugere que existem milhares delas só na nossa galáxia,
alguma outra coisa deve estar acontecendo.
Essa “outra coisa” é o Grande Filtro.
A teoria do Grande Filtro diz que, em algum ponto entre o início da vida
e a inteligência Tipo III, há uma barreira. Há algum estágio naquele
longo processo evolucionário que é improvável ou impossível de ser
atravessado pela vida. Esse estágio é chamado de O Grande Filtro.
As linhas amarelas mostram saltos evolucionários comuns de serem
alcançados. A linha vermelha é o Grande Filtro. A linha verde
representa uma espécie que, passando por eventos extraordinários,
consegue ultrapassar o Grande Filtro.
Se essa teoria for real, a grande questão é: quando acontece o
Grande Filtro na linha do tempo?
Acontece que, quando o assunto é o destino da humanidade, essa
questão é muito importante. Dependendo de quando O Grande Filtro
ocorre, sobram para nós três possíveis realidades: nós somos raros; nós
somos os primeiros; ou nós estamos ferrados.
1. Nós somos raros (já passamos do Grande Filtro)
Uma esperança é que já tenhamos passado do Grande Filtro. Nós
conseguimos atravessá-lo, portanto é extremamente raro que a vida
alcance nosso nível de inteligência. O diagrama abaixo mostra apenas
duas espécies passando por ele; nós somos uma delas.
Esse cenário explicaria por que não existem Civilizações Tipo III… mas
isso também poderia significar que nós podemos ser uma das exceções,
já que chegamos até aqui. Isso significaria que há esperança para nós.
Superficialmente, isso parece com as pessoas de meio século atrás,
sugerindo que a Terra é o centro do universo. Sugere que nós somos
especiais.
Mas se nós somos especiais, quando exatamente nos tornamos
especiais? Isto é, qual passo nós superamos, apesar de quase todo
mundo ficar preso nele?
Uma possibilidade: o Grande Filtro pode estar no comecinho de tudo;
pode ser incrivelmente raro que a vida comece. Esse é um candidato
porque demorou um bilhão de anos para a vida na Terra finalmente
acontecer, e porque nós tentamos exaustivamente replicar esse evento
em laboratórios e jamais conseguimos. Se este é mesmo o Grande
Filtro, isso significaria que não deve existir vida inteligente lá
fora – pode simplesmente não haver vida.
Outra possibilidade: o Grande Filtro pode ser o salto de células
procariontes simples para células eucariontes complexas. Após o
surgimento das procariontes, elas permaneceram dessa forma por
quase dois milhões de anos antes de darem o salto evolucionário para se
tornarem complexas e ganharem um núcleo. Se esse é o Grande Filtro,
isso significaria que o universo está repleto de células procariontes
simples e quase nada além disso.
Há outras possibilidades. Alguns acham até que nosso salto
evolucionário mais recente, alcançando nossa inteligência atual, é um
candidato a Grande Filtro. Ainda que o salto de vida semi-inteligente
(chimpanzés) até a vida inteligente (humanos) a princípio não pareça
um passo miraculoso, Steven Pinker rejeita a ideia de que a “escalada
ascendente” da evolução seja inevitável:
Uma vez que a evolução apenas acontece, sem ter um objetivo, ela usa
a adaptação mais útil para um certo nicho ecológico. O fato que, na
Terra, até hoje isso levou a inteligência tecnológica apenas uma vez,
pode sugerir que essa consequência da seleção natural é rara e,
consequentemente, não é um desenvolvimento infalível da evolução de
uma árvore da vida.
A maioria dos saltos não se qualifica como candidatos a Grande Filtro.
Qualquer Grande Filtro possível deve ser algo que só acontece uma vez
em um bilhão, onde uma ou mais anomalias devem ocorrer para
proporcionar uma enorme exceção.
Por esse motivo, algo como pular de uma vida unicelular para uma
multicelular está fora de questão como filtro, porque isso aconteceu
pelo menos 46 vezes em incidentes isolados, só no nosso planeta. Pela
mesma razão, se nós encontrarmos uma célula eucarionte fossilizada
em Marte, ela iria tirar o salto “de-célula-simples-para-complexa” da
lista de possíveis Grandes Filtros (assim como qualquer outra coisa que
esteja antes desse ponto na cadeia evolucionária). Se isso aconteceu
tanto na Terra quanto em Marte, claramente não é uma anomalia.
Se nós formos mesmo raros, isso pode ser por causa de um acidente
biológico, mas isso também pode ser atribuído ao que se chama de
Hipótese da Terra Rara. Ela sugere que, ainda que existam muitos
planetas similares a Terra, as condições particulares do nosso planeta o
tornam tão conveniente à vida — sejam as relacionadas a seu sistema
solar, seu relacionamento com a Lua (uma lua tão grande é incomum
para um planeta tão pequeno, contribuindo para as condições
peculiares de nosso clima e nosso oceano), ou algo sobre o planeta em
si.
2. Nós somos os primeiros
A civilização humana é representada pela linha laranja.
Para pensadores do Grupo 1, se já não tivermos passado pelo Grande
Filtro, nossa única esperança é que, do Big Bang até hoje, as condições
no universo estão alcançando um nível que permita o desenvolvimento
de vida inteligente. Nesse caso, nós podemos estar a caminho da super
inteligência, mas isso ainda não aconteceu. Por acaso, nós estaríamos
na hora certa para nos tornarmos uma das primeiras civilizações super
inteligentes.
Um exemplo de um fenômeno que poderia tornar isso realístico é o
predomínio de explosões de raios gama, detonações
absurdamente imensas que observamos em galáxias distantes. Levou
algumas centenas de milhões de anos para que os asteróides e vulcões
se acalmassem e a vida se tornasse possível.
Da mesma forma, pode ser que o começo das existências no universo
esteja cheio de eventos cataclísmicos, como explosões de raios gama
que incinerariam tudo à sua volta de tempos em tempos, evitando que
qualquer vida se desenvolva a partir de um certo estágio. Talvez
estejamos agora no meio de uma fase de transição astrobiológica, e essa
seja a primeira vez que qualquer vida tenha sido capaz de se
desenvolver ininterruptamente por tanto tempo.
3. Nós estamos ferrados (o Grande Filtro está chegando)
O Grande Filtro é representado pela linha vermelha.
Se nós não somos nem raros nem pioneiros, os pensadores do Grupo 1
concluem que O Grande Filtro deve estar no nosso futuro. Isso
implicaria que a vida frequentemente evolui até onde estamos, mas
alguma coisa impede, em quase todos os casos, que a vida vá muito
adiante e alcance a inteligência avançada — e dificilmente nós seremos
uma exceção.
Um possível Grande Filtro seria algum evento cataclísmico que ocorra
regularmente, como as já mencionadas explosões de raio gama. Só
que ela ainda não teria ocorrido e, infelizmente, é uma questão de
tempo até que ela acabe com toda a vida na Terra. Outra candidata é a
destruição possivelmente inevitável que quase todas as civilizações
inteligentes acabariam trazendo para si mesmas, uma vez atingido certo
nível de tecnologia.
É por isso que o filósofo Nock Bostrom, da Universidade de Oxford, diz
que “boa novidade é não haver novidade“. Se descobrirem vida em
Marte, mesmo que simples, isso seria devastador, porque eliminaria
diversos potenciais Grandes Filtros no passado. E se encontrarmos
fósseis de vida complexa em Marte, Bostrom diz que “seria a pior
notícia já impressa em uma primeira página de jornal”, porque
significaria que o Grande Filtro está quase que definitivamente à nossa
frente, condenando toda nossa espécie de uma vez. Bostrom acredita
que, quando se trata do Paradoxo de Fermi, “o silêncio do céu noturno é
ouro”.
Grupo 2 de Explicações: civilizações inteligentes dos Tipos I e II existem, mas há razões lógicas para que não tenhamos ouvido falar delas.As explicações do Grupo 2 abandonam qualquer ideia de que nós somos
raros, especiais ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário, elas
acreditam no Princípio da Mediocridade: ou seja, até que se prove o
contrário, não há nada de especial ou incomum em nossa galáxia,
sistema solar, planeta ou nível de inteligência. Além disso, elas são mais
cautelosas antes de assumir que, se não há evidências de uma
inteligência superior, ela não existe. Elas enfatizam o fato de nossas
buscas por sinais só alcançarem mais ou menos até 100 anos-luz de nós
(0,1% da galáxia) e só terem ocorrido há menos de uma década, o que é
pouquíssimo tempo.
Pensadores do Grupo 2 têm uma ampla gama de possíveis explicações
para o Paradoxo de Fermi. A seguir, eis as nove mais discutidas:
Possibilidade 1: a vida superinteligente pode ter visitado a Terra
antes de estarmos aqui. Humanos sencientes só estão por aí há uns
50 mil anos, um piscar de olhos se comparado à existência do universo.
Se o contato ocorreu antes disso, deve ter assustado alguns patos e só.
Além disso, nossa história documentada só vai até uns 5.500 anos atrás.
Por isso, talvez tribos humanas de caçadores-coletores pode ter passado
por algumas experiências loucas com aliens, mas não tinham
como contá-las para as pessoas do futuro.
Possibilidade 2: a galáxia foi colonizada, mas nós moramos em
uma área despovoada. As Américas podem ter sido colonizadas pelos
europeus muito antes de qualquer um daquela pequena tribo Inuit ao
norte do Canadá ter percebido o ocorrido. Pode haver um elemento de
urbanização nas moradias estelares das espécies mais avançadas: todos
os sistemas solares de uma certa área são colonizados e estão em
comunicação, mas seria pouco prático e inútil pra qualquer um deles vir
até o canto distante e aleatório em que vivemos.
Possibilidade 3: todo o conceito de colonização física é
comicamente atrasado para uma espécie mais
avançada. Uma Civilização Tipo II consegue usar toda a energia de sua
estrela. Com toda essa energia, eles podem ter criado um ambiente
perfeito para eles, satisfazendo todas as suas necessidades. Eles podem
ter meios hiperavançados de reduzir a necessidade de recursos, e
interesse zero em deixar sua utopia feliz para explorar um universo frio,
vazio e pouco desenvolvido.
Uma civilização ainda mais avançada poderia ver todo o mundo físico
como um lugar horrivelmente primitivo, tendo há muito dominado sua
própria biologia e feito upload de seus cérebros para uma realidade
virtual, um paraíso da vida eterna. Viver em um mundo físico de
biologia, morte, desejos e necessidades pode soar para eles da mesma
forma como nos soam as espécies primitivas vivendo no oceano escuro e
gelado.
Possibilidade 4: há civilizações predatórias e assustadoras lá
fora, e as formas de vida mais inteligentes sabem que não
devem transmitir sinais e divulgar sua localização. Essa é uma
ideia desagradável, mas que ajudaria explicar a falta de sinais recebidos
pelos satélites SETI. Ela também significaria que, ao transmitir nossos
sinais lá pra fora, estamos sendo novatos inocentes e descuidados. Há
um debate envolvendo METI (Mensagem às Inteligências Extraterrestes
na sigla em inglês; o inverso de SETI, que só escuta). Basicamente,
deveríamos mesmo enviar mensagens para o universo? A maioria das
pessoas diz que não.
Stephen Hawking adverte: “se aliens nos visitarem, o resultado pode
ser parecido com a chegada de Colombo nas Américas, que não
terminou bem para os nativos”. Mesmo Carl Sagan, que geralmente
acredita que qualquer civilização avançada o bastante para viagens
interestelares seria altruísta, não hostil, diz que a prática de METI
é “profundamente imprudente e imatura“, e recomendou que “as
crianças mais novas de um cosmo estranho e incerto deveriam ouvir em
silêncio por um longo tempo, aprendendo pacientemente e tomando
notas sobre o universo, antes de gritar para uma selva desconhecida
que não conseguimos compreender”. Assustador.
Possibilidade 5: existe apenas uma única inteligência superior,
uma civilização “superpredadora” (mais ou menos como os
humanos aqui na Terra) que é muito mais avançada que todas as
outras e mantém as coisas assim, exterminando qualquer
civilização que ultrapasse um certo nível de inteligência. Isso
seria um saco. Poderia funcionar se o extermínio de todas as
inteligências emergentes fosse um desperdício de recursos, já que a
maioria se mata sozinha. Mas, ultrapassado um certo ponto, esses super
seres agiriam porque, para eles, uma espécie inteligente emergente se
tornaria um vírus, conforme começasse a crescer e se expandir. Essa
teoria sugere que a vitória é de quem foi o primeiro a alcançar a
inteligência superior. Ninguém mais tem chance. Isso explicaria a falta
de atividade lá fora, porque o número de civilizações superinteligentes
seria 1.
Possibilidade 6: há muito barulho e atividade lá fora, mas nossas
tecnologias são muito primitivas e nós estamos procurando
pelas coisas erradas. É como entrar em um prédio de escritórios,
ligar um walkie-talkie (que ninguém mais usa) e, ao não ouvir nada,
concluir que o prédio está vazio. Ou talvez, como apontou Carl Sagan,
pode ser que nossas mentes trabalhem exponencialmente mais rápido
ou mais lentamente do que a de qualquer outra forma de vida lá fora.
Ou seja, eles levam 12 anos pra dizer “oi” e, quando nós ouvimos essa
comunicação, isso parece apenas ruído.
Possibilidade 7: civilizações mais avançadas sabem sobre nós e
estão nos observando, mas se ocultam de nós (a “Hipótese do
Zoológico”). Até onde sabemos, civilizações super inteligentes existem
em uma galáxia controlada rigidamente, e nossa Terra é tratada como
parte de um safári amplo e protegido, e planetas como o nosso estão
sob uma estrita regra de “olhe, mas não toque”. Nós não estamos
cientes deles porque, se uma espécie muito mais inteligente quisesse
nos observar, ela saberia como fazer isso sem nos deixar saber. Talvez
haja uma regra similar à “Primeira Diretriz” de Jornada nas Estrelas,
que proíbe seres super inteligentes de fazerem qualquer contato aberto
com espécies inferiores como a nossa, ou de se revelarem de qualquer
forma, até que a espécie inferior alcance um certo nível de inteligência.
Possibilidade 8: civilizações superiores existem à nossa volta,
mas somos primitivos demais para percebê-las. Michio Kaku
resumiu isso assim:
Digamos que há um formigueiro no meio da floresta. Ao lado do
formigueiro, estão construindo uma super autoestrada de dez faixas. E a
questão é, “as formigas seriam capazes de entender o que é uma super
autoestrada de dez faixas? Elas seriam capazes de entender a tecnologia
e as intenções dos seres construindo a autoestrada a seu lado?”
Então não é que, usando nossa tecnologia, não sejamos capazes de
receber os sinais do planeta X. É que nós não conseguimos sequer
entender o que são os seres do planeta X, ou o que eles estão tentando
fazer. É tão além de nós que mesmo se eles quisessem nos esclarecer,
seria como tentar ensinar às formigas sobre a internet.
Seguindo essa linha, essa pode ser uma resposta para “se existem
tantas exuberantes Civilizações Tipo III, por que ainda não entraram em
contato conosco?”. Para responder isso, vamos nos perguntar: quando
Pizarro chegou ao Peru, ele parou um tempo em um formigueiro e
tentou se comunicar com ele? Ele foi magnânimo, tentando ajudar as
formigas? Ele foi hostil e atrasou sua missão original só para esmagar e
destruir o formigueiro? Ou, para Pizarro, o formigueiro era completa e
absoluta e eternamente irrelevante? Essa pode ser a nossa situação
nesse caso.
Possibilidade 9: nós estamos completamente enganados sobre
nossa realidade.Há muitas maneiras pelas quais nós podemos estar
totalmente iludidos em tudo que pensamos. O universo pode parecer ser
de um jeito e ser de outro completamente diferente, como um
holograma. Ou talvez nós sejamos os alienígenas e fomos plantados aqui
como um experimento. Há até mesmo a chance de que sejamos parte de
uma simulação de computador de algum pesquisador de outro mundo, e
outras formas de vida simplesmente não foram programadas na
simulação.
ConclusãoConforme continuamos em nossa possivelmente inútil busca por
inteligência extraterrestre, eu não tenho certeza o que queremos
encontrar. Francamente, tanto faz saber se estamos oficialmente
sozinhos no universo ou se estamos oficialmente na companhia de
outros, ambas são opções assustadoras. É um tema recorrente em todos
os enredos surreais acima: qualquer que seja a verdade, ela é de
enlouquecer.
Além de seu chocante ingrediente de ficção científica, o Paradoxo de
Fermi também me deixa profundamente humilde. Não só lembra
que sou microscópico e minha existência dura uns três segundos, algo
que me vem à cabeça sempre que penso sobre o universo. O Paradoxo
de Fermi traz à tona uma humildade mais mordaz, mais pessoal, do tipo
que só acontece depois de passar horas de pesquisa ouvindo os mais
renomados cientistas de nossa espécie apresentando as teorias mais
insanas, mudando de ideia e contradizendo um ao outro freneticamente.
Ele nos faz lembrar que as futuras gerações olharão para nós da mesma
forma que nós olhamos para os antigos, que tinham certeza que as
estrelas estavam sob o domo do céu; no futuro, lembrarão de nós
dizendo “uau, eles não tinham ideia nenhuma do que estava
acontecendo”.
E ainda temos mais outro golpe à autoestima com todo esse assunto de
Civilizações Tipos II e III. Aqui na Terra, nós somos os reis de nosso
pequeno castelo, comandando os rumos do planeta mais do que
qualquer outra espécie. Nessa bolha, sem competição e sem ninguém
para nos julgar, é raro que sejamos confrontados com a ideia de sermos
uma espécie inferior a qualquer outra. Mas não somos nem uma
Civilização Tipo I!
Dito isso, toda essa discussão é maravilhosa para mim. Sim,
tenho minha perspectiva de que a humanidade é uma órfã solitária em
uma pequena rocha no meio de um universo solitário. Mas as hipóteses
apontam que provavelmente não somos tão espertos como pensamos.
Além disso, muito do que temos certeza pode estar errado. Tudo isso me
deixa esperançoso em conhecer e descobrir mais, nem que seja um
pouquinho, porque existem muito mais coisas do que nós temos
consciência.
Entendo a indignação que os assassinatos na França causaram, tb me entristece profundamente esse tipo de violência cega, desmedida e odiosa que vitimiza inocentes por conta de uma manifestação de pensamento.
Contudo, tb fico triste com quem vê na guerra uma solução, com quem acha que o inimigo é a religião islâmica como um todo e ignora a existência de islâmicos pacíficos.
Antes de falar em guerra, se pergunte: essa guerra seria contra quem? Contra toda uma religião? Qual a diferença disso para uma cruzada? Qual a diferença disso para o Jihad?
Se de fato queremos nos colocar em uma posição de superioridade moral, em primeiro lugar é preciso entender que o problema não é o Islã -- o problema é o terrorismo, os assassinatos e a violência. Há islâmicos pacíficos neste mundo, e dirigir contra eles o nosso ódio só nos torna iguais ao terrorismo, que, de tão descontrolado, não faz distinção entre quem lhe representa uma ameaça e quem apenas exerce
Transformar essa justa indignação