Sobre o paradoxo de Fermi

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E tudo fica mais estranho. Nosso Sol é relativamente jovem em relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas muito mais velhos e semelhantes à Terra, o que em teoria representaria civilizações muito mais avançadas que a nossa. Por exemplo, vamos comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético planeta X, com seus 8 bilhões de anos. Se o planeta X tiver uma história similar a da Terra, vamos olhar para onde sua civilização estaria hoje: Hoje, o Planeta X estaria a 3,46 bilhões de anos de desenvolvimento além do que temos hoje. A tecnologia e o conhecimento de uma civilização mil anos à nossa frente poderia ser tão chocante quanto nosso mundo seria para uma pessoa medieval. Uma civilização um milhão de anos à frente poderia ser tão incompreensível para nós quanto a cultura humana é para chimpanzés. E o planeta X está a 3.4 bilhões de anos à frente de nós… Existe algo chamado de Escala Kardashev, que nos ajuda a agrupar civilizações inteligentes em três grandes categorias, de acordo com a quantidade de energia que usam: uma Civilização Tipo I tem a habilidade de usar toda a energia de seu planeta. Nós não somos exatamente uma Civilização Tipo I, mas estamos perto (Carl Sagan criou uma fórmula para essa escala que nos coloca como uma Civilização Tipo 0,7); uma Civilização Tipo II pode colher toda a energia de seu sistema solar. Nosso débil cérebro Tipo I mal consegue imaginar como alguém faria isso, mas nós tentamos nosso melhor, imaginando coisas como a Esfera de Dyson. uma Civilização Tipo III ultrapassa fácil as outras duas, acessando poder comparável ao da Via Láctea inteira. Se esse nível de avanço parece difícil de acreditar, lembre- se do planeta X e de seus 3,4 bilhões de anos de desenvolvimento além do nosso (cerca de meio milhão de vezes mais do que o tempo que a raça humana existe). Se uma civilização no planeta X for similar à nossa e foi capaz de

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Por que parece que estamos sozinhos no universo?

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Page 1: Sobre o paradoxo de Fermi

E tudo fica mais estranho. Nosso Sol é relativamente jovem em

relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas muito

mais velhos e semelhantes à Terra, o que em teoria representaria

civilizações muito mais avançadas que a nossa. Por exemplo, vamos

comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético

planeta X, com seus 8 bilhões de anos.

Se o planeta X tiver uma história similar a da Terra, vamos olhar para onde sua civilização estaria hoje:

Hoje, o Planeta X estaria a 3,46 bilhões de anos de desenvolvimento

além do que temos hoje.

A tecnologia e o conhecimento de uma civilização mil anos à nossa

frente poderia ser tão chocante quanto nosso mundo seria para uma

pessoa medieval. Uma civilização um milhão de anos à frente poderia

ser tão incompreensível para nós quanto a cultura humana é para

chimpanzés. E o planeta X está a 3.4 bilhões de anos à frente de nós…

Existe algo chamado de Escala Kardashev, que nos ajuda a agrupar

civilizações inteligentes em três grandes categorias, de acordo com a

quantidade de energia que usam:

uma Civilização Tipo I tem a habilidade de usar toda a energia de seu

planeta. Nós não somos exatamente uma Civilização Tipo I, mas

estamos perto (Carl Sagan criou uma fórmula para essa escala que

nos coloca como uma Civilização Tipo 0,7);

uma Civilização Tipo II pode colher toda a energia de seu sistema

solar. Nosso débil cérebro Tipo I mal consegue imaginar como alguém

faria isso, mas nós tentamos nosso melhor, imaginando coisas como a

Esfera de Dyson.

uma Civilização Tipo III ultrapassa fácil as outras duas, acessando

poder comparável ao da Via Láctea inteira.

Se esse nível de avanço parece difícil de acreditar, lembre-se do planeta

X e de seus 3,4 bilhões de anos de desenvolvimento além do nosso

(cerca de meio milhão de vezes mais do que o tempo que a raça humana

existe). Se uma civilização no planeta X for similar à nossa e foi capaz

de sobreviver até chegar no Tipo III, é natural pensar que a essa altura

eles provavelmente já dominaram a viagem interestelar, possivelmente

até mesmo colonizando a galáxia inteira.

Page 2: Sobre o paradoxo de Fermi

Como essa colonização galáctica teria acontecido? Uma hipótese: cria-

se um maquinário que pode viajar para outros planetas, passam-se uns

500 anos se auto-replicando usando os materiais que encontrarem no

novo planeta, e então enviam-se duas réplicas para fazerem a mesma

coisa.

Mesmo sem alcançar nada perto da velocidade da luz, esse processo

colonizaria a galáxia inteira em 3,75 milhões de anos, relativamente um

piscar de olhos quando estamos falando de uma escala de bilhões de

anos:

Nesta evolução exponencial, a galáxia estaria completamente colonizada

em 3,75 milhões de anos. Fonte: J. Schombert, U. Oregon

Continuando a especular, se 1% da vida inteligente sobreviver tempo

suficiente para se tornar uma colonizadora de galáxias Civilização Tipo

III em potencial, nossos cálculos acima sugerem que haveriam mil

Civilizações Tipo III só em nossa galáxia. Dado o poder de tal

civilização, sua presença provavelmente seria fácil de se notar. E, ainda

assim, nós não vemos nada, não ouvimos nada e não fomos visitados por

ninguém.

Então cadê todo mundo?

Sejam bem-vindos ao Paradoxo de Fermi.

Ainda não há uma resposta para o Paradoxo de Fermi. O melhor que

podemos fazer é conseguir “explicações possíveis”. E se você perguntar

a dez cientistas diferentes qual o palpite deles sobre a explicação

correta, você terá dez respostas diferentes. Sabe quando humanos de

antigamente discutiam se a Terra era redonda, ou se o Sol girava em

torno da Terra, ou achavam que os raios aconteciam por causa de Zeus?

Por isso, hoje eles parecem primitivos e ignorantes; no entanto, esse é

mais ou menos o ponto em que estamos neste assunto.

Ao analisar as hipóteses mais discutidas sobre o Paradoxo de Fermi,

vamos dividi-las em duas grandes categorias: as explicações que

supõem que não há sinal de Civilizações Tipo II e III porque elas não

existem; e as explicações que sugerem que elas estão lá, só que não

estamos vendo ou ouvindo nada por outros motivos.

Page 3: Sobre o paradoxo de Fermi

Grupo 1 de Explicações: não há sinais de civilizações superiores (Tipos II e III) porque elas não existem.Aqueles que acreditam em explicações do Grupo 1 recusam qualquer

teoria do tipo “existem civilizações maiores, mas nenhuma delas fez

qualquer tipo de contato conosco porque todas _____”. O pessoal do

Grupo 1 vê os números, entende que deveria haver milhares (ou

milhões) de civilizações superiores, e intui que pelo menos uma delas

deveria ser a exceção à regra. Mesmo se uma teoria abarcasse 99,99%

das civilizações superiores, o 0,001% restante se comportaria de

alguma outra forma e nós perceberíamos sua existência.

Por isso, dizem as explicações do Grupo 1, não entramos em contato

com civilizações superavançadas porque porque não existem. Como a

matemática sugere que existem milhares delas só na nossa galáxia,

alguma outra coisa deve estar acontecendo.

Essa “outra coisa” é o Grande Filtro.

A teoria do Grande Filtro diz que, em algum ponto entre o início da vida

e a inteligência Tipo III, há uma barreira. Há algum estágio naquele

longo processo evolucionário que é improvável ou impossível de ser

atravessado pela vida. Esse estágio é chamado de O Grande Filtro.

As linhas amarelas mostram saltos evolucionários comuns de serem

alcançados. A linha vermelha é o Grande Filtro. A linha verde

representa uma espécie que, passando por eventos extraordinários,

consegue ultrapassar o Grande Filtro.

Se essa teoria for real, a grande questão é: quando acontece o

Grande Filtro na linha do tempo?

Acontece que, quando o assunto é o destino da humanidade, essa

questão é muito importante. Dependendo de quando O Grande Filtro

ocorre, sobram para nós três possíveis realidades: nós somos raros; nós

somos os primeiros; ou nós estamos ferrados.

1. Nós somos raros (já passamos do Grande Filtro)

Page 4: Sobre o paradoxo de Fermi

Uma esperança é que já tenhamos passado do Grande Filtro. Nós

conseguimos atravessá-lo, portanto é extremamente raro que a vida

alcance nosso nível de inteligência. O diagrama abaixo mostra apenas

duas espécies passando por ele; nós somos uma delas.

Esse cenário explicaria por que não existem Civilizações Tipo III… mas

isso também poderia significar que nós podemos ser uma das exceções,

já que chegamos até aqui. Isso significaria que há esperança para nós.

Superficialmente, isso parece com as pessoas de meio século atrás,

sugerindo que a Terra é o centro do universo. Sugere que nós somos

especiais.

Mas se nós somos especiais, quando exatamente nos tornamos

especiais? Isto é, qual passo nós superamos, apesar de quase todo

mundo ficar preso nele?

Uma possibilidade: o Grande Filtro pode estar no comecinho de tudo;

pode ser incrivelmente raro que a vida comece. Esse é um candidato

porque demorou um bilhão de anos para a vida na Terra finalmente

acontecer, e porque nós tentamos exaustivamente replicar esse evento

em laboratórios e jamais conseguimos. Se este é mesmo o Grande

Filtro, isso significaria que não deve existir vida inteligente lá

fora – pode simplesmente não haver vida.

Outra possibilidade: o Grande Filtro pode ser o salto de células

procariontes simples para células eucariontes complexas. Após o

surgimento das procariontes, elas permaneceram dessa forma por

quase dois milhões de anos antes de darem o salto evolucionário para se

tornarem complexas e ganharem um núcleo. Se esse é o Grande Filtro,

isso significaria que o universo está repleto de células procariontes

simples e quase nada além disso.

Há outras possibilidades. Alguns acham até que nosso salto

evolucionário mais recente, alcançando nossa inteligência atual, é um

candidato a Grande Filtro. Ainda que o salto de vida semi-inteligente

(chimpanzés) até a vida inteligente (humanos) a princípio não pareça

um passo miraculoso, Steven Pinker rejeita a ideia de que a “escalada

ascendente” da evolução seja inevitável:

Uma vez que a evolução apenas acontece, sem ter um objetivo, ela usa

a adaptação mais útil para um certo nicho ecológico. O fato que, na

Page 5: Sobre o paradoxo de Fermi

Terra, até hoje isso levou a inteligência tecnológica apenas uma vez,

pode sugerir que essa consequência da seleção natural é rara e,

consequentemente, não é um desenvolvimento infalível da evolução de

uma árvore da vida.

A maioria dos saltos não se qualifica como candidatos a Grande Filtro.

Qualquer Grande Filtro possível deve ser algo que só acontece uma vez

em um bilhão, onde uma ou mais anomalias devem ocorrer para

proporcionar uma enorme exceção.

Por esse motivo, algo como pular de uma vida unicelular para uma

multicelular está fora de questão como filtro, porque isso aconteceu

pelo menos 46 vezes em incidentes isolados, só no nosso planeta. Pela

mesma razão, se nós encontrarmos uma célula eucarionte fossilizada

em Marte, ela iria tirar o salto “de-célula-simples-para-complexa” da

lista de possíveis Grandes Filtros (assim como qualquer outra coisa que

esteja antes desse ponto na cadeia evolucionária). Se isso aconteceu

tanto na Terra quanto em Marte, claramente não é uma anomalia.

Se nós formos mesmo raros, isso pode ser por causa de um acidente

biológico, mas isso também pode ser atribuído ao que se chama de

Hipótese da Terra Rara. Ela sugere que, ainda que existam muitos

planetas similares a Terra, as condições particulares do nosso planeta o

tornam tão conveniente à vida — sejam as relacionadas a seu sistema

solar, seu relacionamento com a Lua (uma lua tão grande é incomum

para um planeta tão pequeno, contribuindo para as condições

peculiares de nosso clima e nosso oceano), ou algo sobre o planeta em

si.

2. Nós somos os primeiros

A civilização humana é representada pela linha laranja.

Para pensadores do Grupo 1, se já não tivermos passado pelo Grande

Filtro, nossa única esperança é que, do Big Bang até hoje, as condições

no universo estão alcançando um nível que permita o desenvolvimento

de vida inteligente. Nesse caso, nós podemos estar a caminho da super

inteligência, mas isso ainda não aconteceu. Por acaso, nós estaríamos

na hora certa para nos tornarmos uma das primeiras civilizações super

inteligentes.

Page 6: Sobre o paradoxo de Fermi

Um exemplo de um fenômeno que poderia tornar isso realístico é o

predomínio de explosões de raios gama, detonações

absurdamente imensas que observamos em galáxias distantes. Levou

algumas centenas de milhões de anos para que os asteróides e vulcões

se acalmassem e a vida se tornasse possível.

Da mesma forma, pode ser que o começo das existências no universo

esteja cheio de eventos cataclísmicos, como explosões de raios gama

que incinerariam tudo à sua volta de tempos em tempos, evitando que

qualquer vida se desenvolva a partir de um certo estágio. Talvez

estejamos agora no meio de uma fase de transição astrobiológica, e essa

seja a primeira vez que qualquer vida tenha sido capaz de se

desenvolver ininterruptamente por tanto tempo.

3. Nós estamos ferrados (o Grande Filtro está chegando)

O Grande Filtro é representado pela linha vermelha.

Se nós não somos nem raros nem pioneiros, os pensadores do Grupo 1

concluem que O Grande Filtro deve estar no nosso futuro. Isso

implicaria que a vida frequentemente evolui até onde estamos, mas

alguma coisa impede, em quase todos os casos, que a vida vá muito

adiante e alcance a inteligência avançada — e dificilmente nós seremos

uma exceção.

Um possível Grande Filtro seria algum evento cataclísmico que ocorra

regularmente, como as já mencionadas explosões de raio gama. Só

que ela ainda não teria ocorrido e, infelizmente, é uma questão de

tempo até que ela acabe com toda a vida na Terra. Outra candidata é a

destruição possivelmente inevitável que quase todas as civilizações

inteligentes acabariam trazendo para si mesmas, uma vez atingido certo

nível de tecnologia.

É por isso que o filósofo Nock Bostrom, da Universidade de Oxford, diz

que “boa novidade é não haver novidade“. Se descobrirem vida em

Marte, mesmo que simples, isso seria devastador, porque eliminaria

diversos potenciais Grandes Filtros no passado. E se encontrarmos

fósseis de vida complexa em Marte, Bostrom diz que “seria a pior

notícia já impressa em uma primeira página de jornal”, porque

significaria que o Grande Filtro está quase que definitivamente à nossa

frente, condenando toda nossa espécie de uma vez. Bostrom acredita

Page 7: Sobre o paradoxo de Fermi

que, quando se trata do Paradoxo de Fermi, “o silêncio do céu noturno é

ouro”.

Grupo 2 de Explicações: civilizações inteligentes dos Tipos I e II existem, mas há razões lógicas para que não tenhamos ouvido falar delas.As explicações do Grupo 2 abandonam qualquer ideia de que nós somos

raros, especiais ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário, elas

acreditam no Princípio da Mediocridade: ou seja, até que se prove o

contrário, não há nada de especial ou incomum em nossa galáxia,

sistema solar, planeta ou nível de inteligência. Além disso, elas são mais

cautelosas antes de assumir que, se não há evidências de uma

inteligência superior, ela não existe. Elas enfatizam o fato de nossas

buscas por sinais só alcançarem mais ou menos até 100 anos-luz de nós

(0,1% da galáxia) e só terem ocorrido há menos de uma década, o que é

pouquíssimo tempo.

Pensadores do Grupo 2 têm uma ampla gama de possíveis explicações

para o Paradoxo de Fermi. A seguir, eis as nove mais discutidas:

Possibilidade 1: a vida superinteligente pode ter visitado a Terra

antes de estarmos aqui. Humanos sencientes só estão por aí há uns

50 mil anos, um piscar de olhos se comparado à existência do universo.

Se o contato ocorreu antes disso, deve ter assustado alguns patos e só.

Além disso, nossa história documentada só vai até uns 5.500 anos atrás.

Por isso, talvez tribos humanas de caçadores-coletores pode ter passado

por algumas experiências loucas com aliens, mas não tinham

como contá-las para as pessoas do futuro.

Possibilidade 2: a galáxia foi colonizada, mas nós moramos em

uma área despovoada. As Américas podem ter sido colonizadas pelos

europeus muito antes de qualquer um daquela pequena tribo Inuit ao

norte do Canadá ter percebido o ocorrido. Pode haver um elemento de

urbanização nas moradias estelares das espécies mais avançadas: todos

os sistemas solares de uma certa área são colonizados e estão em

comunicação, mas seria pouco prático e inútil pra qualquer um deles vir

até o canto distante e aleatório em que vivemos.

Page 8: Sobre o paradoxo de Fermi

Possibilidade 3: todo o conceito de colonização física é

comicamente atrasado para uma espécie mais

avançada. Uma Civilização Tipo II consegue usar toda a energia de sua

estrela. Com toda essa energia, eles podem ter criado um ambiente

perfeito para eles, satisfazendo todas as suas necessidades. Eles podem

ter meios hiperavançados de reduzir a necessidade de recursos, e

interesse zero em deixar sua utopia feliz para explorar um universo frio,

vazio e pouco desenvolvido.

Uma civilização ainda mais avançada poderia ver todo o mundo físico

como um lugar horrivelmente primitivo, tendo há muito dominado sua

própria biologia e feito upload de seus cérebros para uma realidade

virtual, um paraíso da vida eterna. Viver em um mundo físico de

biologia, morte, desejos e necessidades pode soar para eles da mesma

forma como nos soam as espécies primitivas vivendo no oceano escuro e

gelado.

Possibilidade 4: há civilizações predatórias e assustadoras lá

fora, e as formas de vida mais inteligentes sabem que não

devem transmitir sinais e divulgar sua localização. Essa é uma

ideia desagradável, mas que ajudaria explicar a falta de sinais recebidos

pelos satélites SETI. Ela também significaria que, ao transmitir nossos

sinais lá pra fora, estamos sendo novatos inocentes e descuidados. Há

um debate envolvendo METI (Mensagem às Inteligências Extraterrestes

na sigla em inglês; o inverso de SETI, que só escuta). Basicamente,

deveríamos mesmo enviar mensagens para o universo? A maioria das

pessoas diz que não.

Stephen Hawking adverte: “se aliens nos visitarem, o resultado pode

ser parecido com a chegada de Colombo nas Américas, que não

terminou bem para os nativos”. Mesmo Carl Sagan, que geralmente

acredita que qualquer civilização avançada o bastante para viagens

interestelares seria altruísta, não hostil, diz que a prática de METI

é “profundamente imprudente e imatura“, e recomendou que “as

crianças mais novas de um cosmo estranho e incerto deveriam ouvir em

silêncio por um longo tempo, aprendendo pacientemente e tomando

notas sobre o universo, antes de gritar para uma selva desconhecida

que não conseguimos compreender”. Assustador.

Possibilidade 5: existe apenas uma única inteligência superior,

uma civilização “superpredadora” (mais ou menos como os

humanos aqui na Terra) que é muito mais avançada que todas as

Page 9: Sobre o paradoxo de Fermi

outras e mantém as coisas assim, exterminando qualquer

civilização que ultrapasse um certo nível de inteligência. Isso

seria um saco. Poderia funcionar se o extermínio de todas as

inteligências emergentes fosse um desperdício de recursos, já que a

maioria se mata sozinha. Mas, ultrapassado um certo ponto, esses super

seres agiriam porque, para eles, uma espécie inteligente emergente se

tornaria um vírus, conforme começasse a crescer e se expandir. Essa

teoria sugere que a vitória é de quem foi o primeiro a alcançar a

inteligência superior. Ninguém mais tem chance. Isso explicaria a falta

de atividade lá fora, porque o número de civilizações superinteligentes

seria 1.

Possibilidade 6: há muito barulho e atividade lá fora, mas nossas

tecnologias são muito primitivas e nós estamos procurando

pelas coisas erradas. É como entrar em um prédio de escritórios,

ligar um walkie-talkie (que ninguém mais usa) e, ao não ouvir nada,

concluir que o prédio está vazio. Ou talvez, como apontou Carl Sagan,

pode ser que nossas mentes trabalhem exponencialmente mais rápido

ou mais lentamente do que a de qualquer outra forma de vida lá fora.

Ou seja, eles levam 12 anos pra dizer “oi” e, quando nós ouvimos essa

comunicação, isso parece apenas ruído.

Possibilidade 7: civilizações mais avançadas sabem sobre nós e

estão nos observando, mas se ocultam de nós (a “Hipótese do

Zoológico”). Até onde sabemos, civilizações super inteligentes existem

em uma galáxia controlada rigidamente, e nossa Terra é tratada como

parte de um safári amplo e protegido, e planetas como o nosso estão

sob uma estrita regra de “olhe, mas não toque”. Nós não estamos

cientes deles porque, se uma espécie muito mais inteligente quisesse

nos observar, ela saberia como fazer isso sem nos deixar saber. Talvez

haja uma regra similar à “Primeira Diretriz” de Jornada nas Estrelas,

que proíbe seres super inteligentes de fazerem qualquer contato aberto

com espécies inferiores como a nossa, ou de se revelarem de qualquer

forma, até que a espécie inferior alcance um certo nível de inteligência.

Possibilidade 8: civilizações superiores existem à nossa volta,

mas somos primitivos demais para percebê-las. Michio Kaku

resumiu isso assim:

Digamos que há um formigueiro no meio da floresta. Ao lado do

formigueiro, estão construindo uma super autoestrada de dez faixas. E a

questão é, “as formigas seriam capazes de entender o que é uma super

Page 10: Sobre o paradoxo de Fermi

autoestrada de dez faixas? Elas seriam capazes de entender a tecnologia

e as intenções dos seres construindo a autoestrada a seu lado?”

Então não é que, usando nossa tecnologia, não sejamos capazes de

receber os sinais do planeta X. É que nós não conseguimos sequer

entender o que são os seres do planeta X, ou o que eles estão tentando

fazer. É tão além de nós que mesmo se eles quisessem nos esclarecer,

seria como tentar ensinar às formigas sobre a internet.

Seguindo essa linha, essa pode ser uma resposta para “se existem

tantas exuberantes Civilizações Tipo III, por que ainda não entraram em

contato conosco?”. Para responder isso, vamos nos perguntar: quando

Pizarro chegou ao Peru, ele parou um tempo em um formigueiro e

tentou se comunicar com ele? Ele foi magnânimo, tentando ajudar as

formigas? Ele foi hostil e atrasou sua missão original só para esmagar e

destruir o formigueiro? Ou, para Pizarro, o formigueiro era completa e

absoluta e eternamente irrelevante? Essa pode ser a nossa situação

nesse caso.

Possibilidade 9: nós estamos completamente enganados sobre

nossa realidade.Há muitas maneiras pelas quais nós podemos estar

totalmente iludidos em tudo que pensamos. O universo pode parecer ser

de um jeito e ser de outro completamente diferente, como um

holograma. Ou talvez nós sejamos os alienígenas e fomos plantados aqui

como um experimento. Há até mesmo a chance de que sejamos parte de

uma simulação de computador de algum pesquisador de outro mundo, e

outras formas de vida simplesmente não foram programadas na

simulação.

ConclusãoConforme continuamos em nossa possivelmente inútil busca por

inteligência extraterrestre, eu não tenho certeza o que queremos

encontrar. Francamente, tanto faz saber se estamos oficialmente

sozinhos no universo ou se estamos oficialmente na companhia de

outros, ambas são opções assustadoras. É um tema recorrente em todos

os enredos surreais acima: qualquer que seja a verdade, ela é de

enlouquecer.

Page 11: Sobre o paradoxo de Fermi

Além de seu chocante ingrediente de ficção científica, o Paradoxo de

Fermi também me deixa profundamente humilde. Não só lembra

que sou microscópico e minha existência dura uns três segundos, algo

que me vem à cabeça sempre que penso sobre o universo. O Paradoxo

de Fermi traz à tona uma humildade mais mordaz, mais pessoal, do tipo

que só acontece depois de passar horas de pesquisa ouvindo os mais

renomados cientistas de nossa espécie apresentando as teorias mais

insanas, mudando de ideia e contradizendo um ao outro freneticamente.

Ele nos faz lembrar que as futuras gerações olharão para nós da mesma

forma que nós olhamos para os antigos, que tinham certeza que as

estrelas estavam sob o domo do céu; no futuro, lembrarão de nós

dizendo “uau, eles não tinham ideia nenhuma do que estava

acontecendo”.

E ainda temos mais outro golpe à autoestima com todo esse assunto de

Civilizações Tipos II e III. Aqui na Terra, nós somos os reis de nosso

pequeno castelo, comandando os rumos do planeta mais do que

qualquer outra espécie. Nessa bolha, sem competição e sem ninguém

para nos julgar, é raro que sejamos confrontados com a ideia de sermos

uma espécie inferior a qualquer outra. Mas não somos nem uma

Civilização Tipo I!

Dito isso, toda essa discussão é maravilhosa para mim. Sim,

tenho minha perspectiva de que a humanidade é uma órfã solitária em

uma pequena rocha no meio de um universo solitário. Mas as hipóteses

apontam que provavelmente não somos tão espertos como pensamos.

Além disso, muito do que temos certeza pode estar errado. Tudo isso me

deixa esperançoso em conhecer e descobrir mais, nem que seja um

pouquinho, porque existem muito mais coisas do que nós temos

consciência.

Entendo a indignação que os assassinatos na França causaram, tb me entristece profundamente esse tipo de violência cega, desmedida e odiosa que vitimiza inocentes por conta de uma manifestação de pensamento.

Contudo, tb fico triste com quem vê na guerra uma solução, com quem acha que o inimigo é a religião islâmica como um todo e ignora a existência de islâmicos pacíficos.

Page 12: Sobre o paradoxo de Fermi

Antes de falar em guerra, se pergunte: essa guerra seria contra quem? Contra toda uma religião? Qual a diferença disso para uma cruzada? Qual a diferença disso para o Jihad?

Se de fato queremos nos colocar em uma posição de superioridade moral, em primeiro lugar é preciso entender que o problema não é o Islã -- o problema é o terrorismo, os assassinatos e a violência. Há islâmicos pacíficos neste mundo, e dirigir contra eles o nosso ódio só nos torna iguais ao terrorismo, que, de tão descontrolado, não faz distinção entre quem lhe representa uma ameaça e quem apenas exerce

Transformar essa justa indignação