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Sociologia da Família – Apontamentos 2010 2010-02-04 1. Abordagens da Sociologia da Família e Perspectivas Teóricas Conteúdos 1.1. A sociologia da Família: Emergência e Desenvolvimento 1.2.Os autores clássicos da Sociologia da Família: Émile Durkheim Georg Simmel Ernest Burguess Talcott Parsons William Goode 1.3. Sociologia da Família contemporânea 1.4. Sociologia da Família em Portugal 1.1. A sociologia da Família: Emergência e Desenvolvimento Antecedentes e Percursores Constituição Desenvolvimento Antecedentes e Percursores (desde finais do século XVIII) Inquéritos nos domicílios sobre condições de vida dos doentes. LouisRenéVillermé, Quadro Físico e Moral dos Operários que Trabalham nas Manufacturas de Algodão, Lã e Seda, 1835. Auguste Comte Frédéric Le Play Aula Nesta altura as condições de vida estavam associadas à pneumonia e tuberculose. As condições de vida precárias dos operários foram observadas e foram produzidos alguns dados no âmbito destas preocupações. Existe uma série de preocupações no quadro de vida das populações. Auguste Comte (1798 – 1857) “A verdadeira unidade social consiste sem dúvida unicamente na família”(Comte, cit. por Segalen, 1999: 22).

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Sociologia da Família – Apontamentos 2010

2010-02-04

1. Abordagens da Sociologia da Família e Perspectivas Teóricas

Conteúdos1.1. A sociologia da Família: Emergência e Desenvolvimento1.2.Os autores clássicos da Sociologia da Família:• Émile Durkheim• Georg Simmel• Ernest Burguess• Talcott Parsons• William Goode1.3. Sociologia da Família contemporânea1.4. Sociologia da Família em Portugal

1.1. A sociologia da Família: Emergência e Desenvolvimento

• Antecedentes e Percursores• Constituição• Desenvolvimento

Antecedentes e Percursores (desde finais do século XVIII)

• Inquéritos nos domicílios sobre condições de vida dos doentes.• LouisRenéVillermé, Quadro Físico e Moral dos Operários que Trabalham nas Manufacturas

de Algodão, Lã e Seda, 1835. • Auguste Comte• Frédéric Le Play

Aula

• Nesta altura as condições de vida estavam associadas à pneumonia e tuberculose. As condições de vida precárias dos operários foram observadas e foram produzidos alguns dados no âmbito destas preocupações.

• Existe uma série de preocupações no quadro de vida das populações.

Auguste Comte (1798 – 1857)

“A verdadeira unidade social consiste sem dúvida unicamente na família”(Comte, cit. por Segalen, 1999: 22).

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Dois princípios fundamentais das relações familiares: a subordinação dos sexos e a subordinação das idades.

Aula

• Surge também nesta altura alguns trabalhos de Auguste Comte;• Tinha como objectivo estudar os fenómenos sociais como se estudava os fenómenos físicos

(“Física social”);• A família era sem dúvida a célula base da sociedade;• Dá conta de uma subordinação em termos etários e em termos de sexo, os mais novos e as

mulheres deviam obediência aos mais velhos/aos homens;• Empenhou-se em denunciar o enfraquecimento da autoridade parental;• Tinha uma perspectiva muito moralista e normativa em relação à família;• Crítica-se em Comte o facto de não ter apoiado as suas afirmações em relação à família com

estudo e trabalho empírico.

Frédéric Le Play

• Faz trabalho empírico• Monografias – descrever as famílias num conjunto de dimensões • Método das “Monografias de família”• Tipologias das famílias:

*Família Patriarcal (os filhos depois de casar continuavam na casa dos pais)*Família Instável (os filhos tornam-se independentes)*Família Troncal (fica em casa apenas um dos filhos)

Perspectiva conservadora Houve uma fase de mutação no seio familiar

Perspectiva conservadora

A família troncal era a que dava mais estabilidade à sociedade Aqui associavam-se valores patrimoniais, valores de assistência e de redistribuição de rendimentos

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Constituição (Finais do Século XIX)

1. Émile Durkheim (França)2. Georg Simmel (Alemanha)

Nos EUA a Sociologia da Família só se começa a desenvolver no século XIX por volta dos anos 20.

Desenvolvimento

No Século XX:

• Ernest Burgess, Talcott Parsons e William Goode, nos EUA;• Propostas feministas woman studies(anos 70);• Autores francófonos como Jean Kellerhals, Louis Roussel, François de Singly, Jean-Claude

Kauffmanne Michel Bozone americanos como Peter Bergere H. Kellner(desde os anos 60).

1.2.Autores clássicos da Sociologia da Família

• Émile Durkheim• Georg Simmel• Ernest Burguess• Talcott Parsons• William Goode

Émile Durkheim

Passagem da família patriarcal à família conjugal:• Privatização;• Família Relacional;• Crescente dependência do Estado;• Família nuclear, contracção da família;• Valorização do indivíduo.Visão naturalista dos papéis femininos e masculinos.

Aula:

• Os factos deveriam ser tratados como coisas. Era funcionalista e positivista;• Defende que estava a haver uma transição da família patriarcal para a família conjugal, que

estava a emergir com a industrialização e urbanização;• A família torna-se num espaço fechado (privatização) ao contrário da família tradicional que

poderia interferir na vida familiar. Na família conjugal isto já não é aceitável;

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• A família começa a tornar-se um núcleo afectivo, é considerada um refúgios dos seus membros (antes era o meio de sobrevivência e de transmissão de património);

• Com a modernização, as relações afectivas é que dominam (família relacional);• Há uma crescente valorização do indivíduo (antes cada membro familiar sujeitava-se às

vontades do membro patriarcal);• Nuclearização -> famílias com menor dimensão -> contracção da família;• À medida que a regulação da comunidade diminui emerge a dependência do Estado. A própria

lei consigna que o poder paternal não é um poder sem limites;• Havia diferenças naturais que levavam que os homens e as mulheres não estivessem aptos para

realizar determinadas tarefas -> crítica-se esta posição porque não explica o social pelo social como afirmava -> é uma posição conservadora;

• Concentrou-se nas famílias urbanas e de classe média -> não teve em conta as diversas tipologias familiares;

• Esqueceu-se das relações inter-geracionais e patrimoniais.

Georg Simmel (1858 – 1918)

• Diversidade de formas de relação familiar e conjugal associadas a condições históricas diferentes:

− Propriedade privada: relação pai-filho; monogamia e fidelidade feminina;− Economia mercantilista: casamento com dote.• Divisão sexual das tarefas baseada em explicações naturalistas.

Aula

• Tinha uma perspectiva diferente da sociologia. Considera que as ciências sociais tinham uma especificidade. Não se podia estudar os fenómenos sociais como se estudava os físicos;

• Há uma diversidade de famílias associadas a condições históricas diferentes:- O surgimento da propriedade privada altera as relações familiares. Altera a relação pai-filho -> o pai tem que assegurar a legitimidade dos filhos -> fidelidade feminina surge associada a estq questão.- Transição de uma economia de subsistência para uma economia mercantilista -> Fazia mais sentido o casamento por compra da mulher. Com a economia mercantilista a mulher perde algum valor produtivo, portanto a mulher passa a ser um encargo e como tal tem que trazer o seu dote. O trabalho doméstico era desvalorizado.

• Tem a mesma perspectiva de Durkheim em relação à divisão biológica das tarefas.

Ernest Burguess (1886 - 1966)

• A sua atenção concentra-se nas acções e interacções no interior da família;• Passagem da família instituição à família companheirismo;

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• Visão naturalista das diferenças entre sexos;• Estabilidade do pós-guerra associada à maior estabilidade familiar.• Definição de família: “unidade de personalidade em interacção existindo primordialmente para

o desenvolvimento e gratificação mútua dos seus membros unidos mais por coesão interna do que por pressões externas” (Burguess, 1926, cit. por Torres, 2001: 35).

Aula

• Interaccionista simbólico da Escola de Chicago;• A sua atenção concentra-se nas interacções no seio familiar;• As suas ideias são semelhantes às de Durkheim;• A família companheirismo surge em virtude do assalariamento e urbanização. O assalariamento

permite a auto-suficiência.• Casamento por livre escolha, relações mais democráticas;• Continua a ter a mesma visão sexual da divisão do trabalho na família;• No pós – II guerra, esta estabilidade que se conheceu, permite igualmente à família uma maior

estabilidade;• Desvaloriza a dimensão económica da família, tendo em conta apenas os laços afectivos e

privados.

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Talcott Parsons (1902 – 1979)

Proposta enquadrada no estrutural – funcionalismo Relaciona as interacções familiares com as estruturas sociais e com a dimensão psicológica;

As mudanças na família decorrem das mudanças estruturais (industrialização); Perda da função produtiva, assalariamento, centralidade da conjugalidade e secundarização do

parentesco; Família transformava-se num subsistema muito especializado: funções de socialização e de

estabilização das personalidades dos adultos; Diferenciação dos papéis feminino (expressivo) e masculino (instrumental).

Aula

Corrente feminista – influencia a sociologia de família. Autor muito influente na sociologia da família. Teoria da divisão dos papéis masculino e feminino. Nos anos 50 desenvolve um importante trabalho relativamente à família. Ao contrário do interaccionismo simbólico, Parsons vai equacionar o contributo da família para o sistema social. A sua perspectiva procura articular dimensões que vão além da sociologia (introduz a questão da personalidade). A família desempenhava um papel fundamental no desenvolvimento das personalidades.

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Socialização -> Transmissão de ValoresCoesão social

• Dá conta de como as dimensões micro e macro estavam articuladas;• Explica as mudanças da família como consequência das mudanças estruturais:

- A família deixa de ser uma unidade de produção para ser uma unidade de consumo e residência;- O espaço de trabalho passa a ser no exterior;- Uma outra mudança estrutural prende-se com a complexificação da divisão social do trabalho. A família torna-se num subsistema muito especializado.

• Funções da família: socialização das crianças (integração social), estabilização das personalidades (aspecto afectivo, estabilidade emocional), expressivo (educar, contribuir para a estabilidade emocional), instrumental (recursos financeiros, não estava muito ligado aos aspectos afectivos);

• O contributo da família para o funcionamento das sociedades era uma grande preocupação de Parsons. Não se preocupa com as disfunções e conflitos;

• A família desempenha um pepel fundamental através da mulher e o seu papel de socializadora dos filhos.

Críticas:• Ignora a diversidade de modelos familiares: centra-se essencialmente nas classes médias;

“No caso dos anos 40 e 50 nos EUA, essa imagem seria a da dona de casa à porta da sua vivenda, nos calmos e ricos subúrbios, com os seus três filhos, de braços abertos para receber o marido que vem estafado do trabalho”(Torres, 2001: 51).

• Perspectiva ideológica e normativa;• O modelo que estudou segundo ele era o ideal - ignora a diversidade de modelos familiares

(normativa);• A sua perspectiva ideológica impedia-o de ver as mudanças que estavam a ocorrer nos anos 50;• Diversos trabalhos vieram contrariar a ideia de necessidade de diferenciação de papéis

femininos e masculinos;• Preocupação funcionalista com a homeostasia (analogia com organismos biológicos) -> quando

algo perturba os organismos biológicos seria compensado -> não permite ver a mudança;• Diversos trabalhos vieram contrariar a ideia da necessidade de diferenciação de papéis

femininos e masculinos.

William Goode• Insere-se no estrutural-funcionalismo, no entanto, demarca-se da perspectiva de Parsons;• A relação entre a industrialização e a família conjugal é biunívoca;• Critica, nos anos 60, a ideia de crise da família;• Ressalta a distância entre o padrão ideal de família e o seu funcionamento real;

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• Mostra a existência de uma diversidade de lógicas familiares, em função dos grupos sociais;• Equaciona a questão da diferenciação de papéis, em termos de direitos cívicos das mulheres.

Aula

• É diferente de Parsons porque Goode tem mais uma preocupação em apresentar uma sociologia da família menos normativa e ideológica;

• A relação entre a industrialização como uma relação bi-únivoca -> as mudanças vão contribuir para mudanças na família, mas também as mudanças da família também vão estimular o processo de industrialização – unidireccional;

• Goode vai mostrar que dentro de uma mesma sociedade existe uma pluralidade de modelos familiares em função das classes sociais - diferente de Parsons;

• Crítica a ideia de crise da família nos anos 60 – o que sustenta esta crítica e em que Goode criticava estava relacionado com o facto de valorizar-se a família do passado como sendo a ideal (na verdade não era um modelo de harmonia e felicidade);

• Havia uma dissonância entre o que era valorizado e o seu funcionamento real (era notória a interferência dos pais na vida do casal);

• Conceptualiza os papéis feminino e masculino de forma diferente – direitos cívicos das mulheres – aumento destes direitos;

• Passa-se a equacionar a questão das desigualdades de oportunidades, questão esta que muitas vezes era esquecida. Para esta evolução foi importante a entrada da mulher no mercado de trabalho e mesmo, a evolução ideológica.

1.3.Sociologia da Família contemporânea • Investigação dos anos 60 e 70 na Europa e nos EUA: mostram as fragilidades da proposta de

Parsons• As correntes femininas• Outros contributos

A sociologia vai sofrer uma importante viragem relativamente a autores clássicos (Parsons por exemplo).

Investigação dos anos 60 e 70 na Europa e nos EUA mostram as fragilidades da proposta de Parsons

• Aumento da integração das mulheres no mercado de trabalho• Alteração nas relações conjugais:

- Maior partilha de tarefas - Comunicação no casal

• Percepção mais positiva da mulher sobre a sua condição na família

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Aula

Aponta algumas conclusões e dados que vão contra a teoria defendida por Parsons; Coloca em causa a ideia de que o equilíbrio da família dependia da mulher e do papel que

desempenhava; Inicialmente a entrada da mulher no mercado de trabalho permitia um melhor nível de vida.

Esta integração contribuiu para uma alteração nas relações conjugais como a partilha de tarefas, maior comunicação do casal e maior satisfação conjugal -> percepção mais positiva da mulher;

A integração da mulher no trabalho mostra aspectos positivos ao contrário do que defendia Parsons;

As domésticas têm mais doenças do foro mental, maior número de filhos (indica insatisfação da relação conjugal), há uma maior satisfação da conjugalidade quando a mulher trabalha.

As correntes feministas (Dorothy Smith, Christine Delphy, …)

• Chama a atenção para a subordinação feminina e para a dominação masculina;• Mostram uma dimensão da vida familiar pouco estudada, o trabalho produtivo;• “O casamento é uma instituição através da qual o trabalho não pago é extorquido a

uma categoria particular da população, as mulheres - esposas”(Delphy, 1992, cit. por Torres, 2001: 67);

• Família: contexto de opressão.

Aula:

A sociedade estruturava-se a partir da dominação masculina; A subordinação da mulher representava um fenómeno que não podia ser ignorado; Elas mostram precisamente que continua a ser desenvolvido muito trabalho e outros autores

ignoravam essa ideia; Através do trabalho doméstico estavam numa relação de subordinação porque estavam

dependentes do homem, no entanto são elas que criam as condições para o homem trabalhar; A família é um contexto de opressão das mulheres. Se as mulheres não têm independência

económica não têm poder de decisão.

Outros contributos:

• Criticam-se as teorias evolucionistas para se enfatizar a pluralidade dos modelos familiares;• História e etnologia;• Pesquisas realizadas em pequenos contextos (bairros, aldeias, etc.);• A partir dos anos 80 novas questões se vão salientar: “os novos modelos familiares, o aumento

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da esperança média de vida, a percentagem crescente de pessoas idosas, as inovações biológicas no domínio da procriação, as consequências da SIDA levantam novas questões” (Segalen, 1999: 5).

Aula:• A maior parte das culturas estudadas tinham uma perspectiva evolucionista e não têm em conta

uma pluralidade de modelos familiares;• Para isso contribuíram os estudos nas áreas da história e etnologia (estuda outras formas de

funcionamento familiar).

1.4. – Sociologia da família em Portugal

• Paul Descamps (1935) realiza sessenta monografias de família, a convite de Salazar;• Encontra vários tipos de famílias, em função das regiões:

• A família “desorganizada e instável” (ou união de facto) dominante entre os assalariados agrícolas a sul do Tejo;

• A “grande comunidade” (composta por vários casais e um grande numero de parentes co – residentes) nas montanhas do Norte;

• A família “tronco” no Noroeste;• A família de “casal simples” em varias regiões.• “Pequena comunidade” (composta em geral por dois casais) em várias regiões.

Só a partir da década de 90 é que a Sociologia da Família se desenvolve de facto em Portugal.

Anos 80 - inicio da investigação sociológica sobre a família • João Ferreira de Almeida (1986), Classes sociais nos campos• José Madureira Pinto (1985), Estruturas sociais e práticas simbólico – ideológicas nos campos

No final dos anos 80 e anos 90 a Sociologia da Família é o objecto central

2010-02-11

Trabalho de Grupo: A família na actualidade está em crise; é necessário restituir a família tradicional, muito mais estável e organizada.

A família não está em crise, esta sim em mudança. A crise aqui adviria da mudança, mas não tem que ser encarada negativamente.

Le Play defendia a perspectiva conservadora (família troncal) da família como sendo o modelo mais estável para a manutenção familiar para a sociedade.

Émile Durkeim faz referência a uma transição da família patriarcal para a família conjugal fruto da emergência da industrialização. Este novo modelo caracteriza-se por valorizar a privacidade dos seus membros, a afectividade, a proximidade que advém da privatização da

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família tornando-se assim como um refúgio. Crescente valorização do indivíduo e Nuclearização da família. É de salientar que à medida que a regulação da comunidade diminui, emerge a dependência e por seu turno, o poder paternal já não é sem limites.

Simmel refere que o surgimento da propriedade privada altera as relações familiares, destacando-se: uma maior relação entre pais e filhos, devendo o pai assegurar a legitimidade deste; neste sentido surge também a importância da fidelidade feminina; a mulher é encarada como um encargo familiar, devendo trazer o seu dote.

Burguess corrobora algumas ideias de Durkheim, centrando-se nas interacções no seio familiar. Em virtude do assalariamento e urbanização surge a família companheirismo pois o assalariamento permite a independência económica. Surge o casamento por livre escolha e desvaloriza-se a dimensão económica da família, centrando-se nos laços afectivos e privados.

Segundo Parsons, a família passou de unidade de produção a unidade de consumo. A família transforma-se num subsistema muito especializado e desempenha um papel importante na socialização e da estabilização dos papéis dos adultos. Explica as mudanças da família como consequências das mudanças estruturais dadas com a industrialização. Analisa apenas os aspectos positivos da família e não tem em conta os aspectos negativos.

Goode vai procurar mostrar que dentro de uma mesma sociedade havia uma pluralidade de modelos familiares em função das classes sociais. Conceptualiza-as de forma diferente dos outros autores, os papéis feminino e masculino de forma diferente e equaciona a questão das desigualdades de oportunidades, sendo importante o aumento dos direitos cívicos da mulher. Mito de que a família do passado era harmoniosa e perfeita. Contra a ideia de crise da família.

Após esta análise, a família tradicional corresponde ao modelo que surgiu antes da industrialização, neste modelo a mulher assume o papel de dona de casa (expressivo) enquanto o homem encarrega-se do sustento da família (instrumental). Actualmente ambos têm pouco destes dois papéis. A mulher deve contribuir para os encargos da família tal como o homem, e ambos devem contribuir para a socialização dos filhos, por isso não se considera que a família tradicional seja a mais estável e organizada. Existem sim várias tipologias que foram surgindo, uma mais organizadas que outras. Esta ideia está ligada a uma perspectiva conservadora. A missão da sociologia da família não é prescrever um modelo de família, mas sim compreender as famílias. A ideia de crise está ligada à ideia de que a família está em risco e isso não é verdade. A família tradicional era a que dominava antes da industrialização, ou então a descrita por Parsons, em que a mãe trabalhava em casa (domesticidade).

2010-02-18

2. Estruturas e paradigmas familiares

2.1. Alguns conceitos

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2.2. Estruturas familiares2.3. Paradigmas familiares

2.1. Alguns Conceitos

Família; Estrutura familiar; Parentesco.

Conceito de família 1º - Definição a partir de funções universais da família (procriação, educação, prestação de cuidados e regulação da sexualidade);2º - Definição de família enquanto estrutura.

Aula:• A família existiria porque tinha um conjunto de funções essenciais a desempenhar na sociedade.

Estas funções eram vistas como universais. A família é considerada como uma unidade básica da sociedade. Esta ideia foi depois criticada no sentido destas funções não serem universais (não eram sempre desempenhadas pela família: educação por exemplo);

• Passa-se a definir a família não pelas suas funções, mas sim enquanto estrutura. O que define a família não aquilo que ela desempenha, mas quem constitui a família e os laços que unem esses membros (afinidade, casamento, descendência, consanguinidade).

Conceito de estrutura familiar Tipo de vinculo que liga pessoas que vivem conjuntamente: vínculo de casamento,

afinidade, consanguinidade e descendência; Relações de sexo (casal) ou de gerações (pais – filhos).

Definição do INEEm Portugal no último recenseamento a definição de família: “indivíduos que residem no mesmo alojamento e que têm relações de parentesco (de direito ou de facto) entre si (incluindo) empregados domésticos residentes” (INE, 2001).

Parentesco:Sistema de descendência (genealogia): laços de sangue (vínculos biológicos);

Relações de afinidade, directas e indirectas através do casamento (vínculos sociais).

Aula:O conceito de família está associado ao parentesco, mas não são sinónimos. A família serve-se de uma rede de parentesco, mas pode ser mais abrangente.

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2.2. Estrutura familiares• Estruturas familiares no passado;• Tendências recentes das estruturas familiares.

Estruturas familiares no passado:- A ideia de que a família do passado era uma família alargada ou múltipla (mas posteriormente nuclearizou-se)- Investigação da Escola de Cambridge, nos anos 70 contraria a ideia anterior (esta investigação vem colocar em causa a ideia de que a família no passado era uma família quase sempre extensa, contudo, e geralmente no norte da Europa era comum haver famílias nucleares);- Instabilidade das estruturas familiares no passado (em virtude da morte de um dos cônjuges -> dava origem a famílias recompostas).

Tipologia das estruturas familiares da escola de Cambridge• “Sem estrutura” (não há relações nem de conjugalidade/sexo nem geracionais – família de

irmãos)• “Simples” (constituída por um casal com ou sem filhos – relações de conjugalidade/sexo e/ou

geracionais)• “Extensas” (grupos domésticos simples + outros parentes (pais, netos, irmãos) – ascendentes,

descendentes e colaterais)• “Múltiplas” (quando existem vários grupos domésticos simples)

A família nuclear do passado Escola de Cambridge (anos 70)

* Família nuclear era predominante na Europa (antes da revolução industrial)* Demarcação entre Europa ocidental a norte versus Europa do sul e do leste (famílias múltiplas)

Investigação nos anos 80 * Multiplicidade das estruturas familiares

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Aula:• Esta instabilidade que está aqui referida é muito diferente da instabilidade actual;• Antes estava relacionada com a elevada mortalidade (epidemias, mortes em partos, guerras);• As famílias recompostas eram uma realidade frequente nesta altura em virtude da elevada

mortalidade;• Esta instabilidade podia estar ligada à mobilidade das famílias -> havia necessidade de enviar os

filhos para trabalhar em casas de outras famílias. Os homens tinham muitas vezes de trabalhar longe de casa.

Tendências recentes das estruturas familiares Aumento do número de famílias (devido à diminuição dos membros que constituem as

famílias – famílias mais pequenas); Redução do número de nascimentos, famílias de dimensão mais pequena, aumento do

número de filhos fora do casamento; Nuclearização da família (redução do número de famílias extensas); Aumento da longevidade e aumento do número de idosos; Acréscimo dos divórcios e separações; Novos tipos as famílias monoparentais, recompostas, uniões de facto e unipessoais; Famílias monoparentais resultam cada vez mais de divórcios e separações; Famílias reconstituídas (resultam de pelo menos uma ruptura conjugal) podem assumir uma

estrutura bastante complexa -> introduzem novas formas de interacção complexas; Fenómenos de recohabitação, i.e., uma nova modalidade de família extensa; Família conjugal nuclear corresponde a uma fase da vida cada vez mais pequena; Aumento do tempo de permanência dos jovens em casa dos pais; Aumento das famílias unipessoais, com pessoas em diferentes fases da vida; Casamentos homossexuais (em França surge o PAC -pacto civil de solidariedade).

Aula:

Há uma tendência das famílias aumentarem, mas reduzirem a sua dimensão

Rupturas conjugais Longevidade das famílias

Tendência para a nuclearização da família

Famílias Monoparentais: maior número de mães com filhos; a percentagem de pais com filhos é muito menor; É muito frequente estarem associados a questões de explosão social. Foram associadas a famílias de risco ou marginais. É complicado para a mulher associar conciliar o trabalho com a vida familiar. As mulheres estão em desvantagem no mercado de trabalho e na sociedade em geral.

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Recompostas: também existiam no passado (em virtude das taxas de mortalidade) Agora estão associadas ao aumento do divórcio. Originaram redes complexas familiares.

Recohabitação: pessoas que voltam a cohabitar (pais que vão viver com os filhos, filhos divorciados que vão viver com os pais) -> nova modalidade de família extensa, embora estas estejam em decréscimo.

Família conjugal nuclear: constitui uma fase de vida mais curta.

Aumento da permanência em casa dos pais: está associado ao período que os filhos passam na escola, às dificuldades de transição para o mercado de trabalho e casamentos tardios.

Famílias unipessoais: pessoas idosas, pessoas que optam viver sozinhas (por vezes em virtude de uma separação).

Casamentos homossexuais: coloca em desafio as visões mais tradicionais de família. As conjugalidades heterossexuais não são necessariamente uma “obrigação”. Em França optou-se por instituir uma figura diferente para os casamentos homossexuais -> Pacto Civil de Solidariedade (formalização da conjugalidade diferente da do casamento – foi aprovado em França, mas não apenas para casamentos homossexuais).

1. Estruturas familiares em Portugal (1991 – 2001) a. Aumento do número de famílias;b. Diminuição da dimensão média da família;c. Redução do número de famílias com 5 ou mais pessoas; d. Famílias portuguesas entre as mais numerosas da UE;e. Elevado crescimento das famílias unipessoais (maioritariamente mulheres idosas;

crescente presença de homens adultos sozinhos):f. Número de famílias unipessoais em Portugal muito abaixo da UE;g. Casal com filhos é o tipo de núcleo predominante mas a sua importância decresceh. Variações regionais;i. Evoluções associadas ao número da esperança de vida, à redução da fecundidade e

ao aumento do divórcio.

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2) Conjugalidade em Portugal (1991-2001)

��Redução do número de casamentos;

��Em Portugal casa-se mais do que na maioria dos países da UE;

��O casamento tende a ser mais tardio e adiamento da saída da casa dos pais;

��Portugal é o país onde se casa mais cedo;

��Redução dos casamentos católicos e aumento dos civis;

��Aumento significativo das uniões de facto e do casamento após união de facto;

��Aumento do número de casamentos com filhos anteriores: comuns (de uniões de facto) e principalmente não comuns (famílias recompostas);

��O número de divórcios aumentou significativamente entre 1991 e 2001 (+87,6%);

��Divórcio em Portugal igual à média da UE;

��A viuvez abrange predominantemente mulheres idosas;

��Assimetrias regionais;

��Evoluções associadas a novos valores da conjugalidade(afectividade e privatização).

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Conclusão: • A evolução entre 1991 e 2001 confirma que as estruturas e os comportamentos familiares

estão a passar por uma importante mudança • Portugal, “um país europeu que, em comparação com os outros, entra tardiamente na

modernidade demográfica mas que, ao fazê-lo, parece querer avidamente recuperar o tempo

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perdido, tal é a intensidade de algumas viragens” (Almeida, 2003: 51).• A evolução, de qualquer modo, “nem sempre coloca Portugal, no presente, no ‘pelotão da

frente’da modernidade familiar em contexto da UE”(Almeida, 2003: 51).

25/ 02/ 2010

Trabalhos de Grupo

Gráfico 1Portugal encontra-se um pouco acima da média europeia. Constata-se que Portugal relativamente aos países meridionais e do leste da Europa apresenta valores semelhantes. Os países da Europa do Norte distanciam-se da média portuguesa.

Gráfico 2Segue a mesma lógica do gráfico anterior, sendo que em Portugal cerca de 17% vive sozinho. Encontra-se um pouco acima de Espanha, mas comparativamente aos países da Europa do Norte que apresenta valores acima dos 20%, está muito afastado.

Gráfico 3A maior percentagem de pessoas a viver sozinhas encontra-se no escalão etário dos 60 – 74. O menor número de pessoas a viver sozinhas encontra-se no grupo dos 15 aos 29. Relativamente à taxa europeia podemos verificar que Portugal está abaixo da média no grupo de 15 – 29, mas está acima da média no escalão 60 – 74. Os países do norte da Europa (Noruega, Suécia, Finlândia. Dinamarca, Reino Unido, Alemanha) estão acima da média europeia no grupo dos 15 – 29.

Gráfico 4Em Portugal existem poucos jovens a viverem sozinhos (2,5%). Portugal distancia-se muito dos países nórdicos, mas está dentro das tendências dos países do sul, exceptuando-se a Grécia. Relativamente aos casais sem filhos, Portugal apresenta a maior percentagem relativamente aos países do sul, mas continua aquém dos países do Norte.

Gráfico 5Portugal é o segundo pais que apresenta a maior percentagem de casados, mas aproxima-se dos países do sul. Para além disso encontra-se acima da média europeia neste aspecto. Quanto à percentagem de divorciados, Portugal está abaixo da média europeia, seguindo a tendência dos países do sul e do leste e muito distante dos países do norte. Quanto à coabitação sem casamento, Portugal esta muito abaixo da media europeia tal como os países do sul e do leste europeu. Os países do norte europeu apresentam valores acima da média europeia.

Gráfico 6Nos países nórdicos as mulheres participam mais no mercado de trabalho. Espanha, Grécia, Polónia, Itália apresentam valores mais baixos. Em Portugal, as mulheres trabalhavam mais do que

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nos outros países da Europa do sul. Os homens continuam a ser em maior número em todos os países, sendo que a diferença entre homens e mulheres é maior nos países do sul.

Conclusões ♦ Nos países escandinavos, os jovens saem mais cedo, mais pessoas a viverem sozinhas, mais

casais sem filhos, mais participação feminina no mercado de trabalho;♦ No sul agregados familiares de maiores dimensões, menos pessoas a viverem sozinhas, mais

casais com filhos; ♦ As tendências de mudança em Portugal são de aproximação aos países do norte.

2.3. Paradigmas familiares

♦ Diversidade de paradigmas familiares na actualidade

♦ Paradigmas familiares = modelos de funcionamento das famílias, i.e., lógicas de interacção na família

Tipologias(psicossociológicas e sociológicas)

Aula:Os paradigmas familiares são modelos de funcionamento familiar (lógicas de interacção no interior da família, relações concretas);

Tipologias das interacções familiares

• Quatro tipos de processos/ dimensões considerados nas tipologias das interacções familiares: Coesão interna (regulação entre os membros, a união entre pessoas) Integração externa (relações com o exterior) Orientação (objectivos mais importantes da família) Regulação (gestão dos conflitos, definição de regras a partir das quais se definem as

interacções e as situações)

Kellerhals, Jean(1987), "Les types d'interactions dans la famille", L'Anné Sociologique, nº37, pp. 153-179.

Aula:• Tipologias que procuram classificar os diferentes tipos de funcionamento familiar..

Instrumentos que procuram apreender a diversidade de modelos de funcionamento familiar cruzando várias dimensões de análise.

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• Indicadores para estudar as interacções familiares:• Articulação da profissão com outras tarefas;• Lógicas de partilha;• Importância da família para os membros.

• Estas tipologias recorrem a dimensões/eixos que permitem caracterizar as dinâmicas de grupo.

(i) Regulação e Orientação

• Ernest Burgess (Burgess, Locke e Thomes, 1960);• LouisRoussel(1986).

(ii) Integração e Coesão

• David Reiss (1981);• Jean Kellerhals (Kellerhals e Montandon, 1991).

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Environement Sensitive: Famílias cuja percepção do exterior é de confiança.

Família Bastião: é fechada e coesa; partilha ideias mas vê o exterior como uma ameaça.Família Associação: é o inverso da anterior; autónoma, respeita ideias e é muito aberta ao exterior.Família Companheirismo: centrada no nós; é aberta enquanto grupo e valoriza o consenso.Família Paralela: fechada ao exterior mas dentro de família, cada um tem espaço para o seu território.

(iii) Coesão e Regulação

Jacques Lautrey (1980); D. Olson (Olson e McCubbin, 1983).

Jacques Lautrey (1980)• Famílias de estruturação rígida;• Famílias de estruturação flexível;• Famílias de estruturação fraca.

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(iv) Orientação e integração

Relação com a classe social (Kellerhals e Montandon, 1991)

Nota: A família não está isenta do contexto onde se insere.

04/03/2010

3. Conjugalidade e condição da mulher

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3.1.Conjugalidade e Casamento3.2.Divórcio3.3.Condição da Mulher

3.1. Conjugalidade e Casamento

3.1.1.Casamento no passado3.1.2.A modernização do casamento3.1.3.Casamento e conjugalidade no presente

Aula:• Casamento tem uma formalização que a conjugalidade não tem. É uma união entre duas pessoas

reconhecida socialmente, tornando os cônjuges parentes. Os parentes dos cônjuges tornam-se parentes entre si;

• As pessoas atribuem sentidos diferentes ao casamento. O casamento assume uma grande variabilidade.

3.1.1. Casamento no passado(i) Um sacramento(ii) Central nas estratégias de transmissão do património (iii) Forma de condicionar o crescimento da população

Aula:• O casamento no passado estava ligado à procriação;• Reprodução social em termos de transmissão do património e da espécie. Tinha uma conotação

religiosa;• Era algo imposto, era mais uma aliança entre famílias;• O casamento implica regras e essas regras condicionam o crescimento da população.

(i) Um sacramento

• A partir do século XII, o casamento ficará definido no direito canónico como um sacramento;• A igreja irá regulamentar e controlar os casamentos;• A partir do século XVII começa-se a pensar que o casamento é um contrato;• Com a Revolução Francesa institui-se o casamento civil;• Em Portugal, o casamento, hoje, continua a ser predominantemente católico, mas a concepção é

laica.

Aula:• A igreja regulamenta os casamentos ao contrário do que acontece actualmente (o Estado é que

regulamenta);• Sendo um sacramento, o casamento é algo insolúvel (união feita por Deus que não deve ser

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dissolvida pelas pessoas);• Era obrigatório a conjugalidade passar pelo casamento;• A partir do século XVII alterou-se a mentalidade relativamente ao casamento. Já se fala em

casamento contrato perdendo-se a conotação religiosa;• Com a Revolução Francesa, o Estado passa a regular o casamento (casamento civil), sujeito ao

Direito Civil e não ao Direito Canónico.

(ii) Central nas estratégias de transmissão do património♦ Das famílias em geral♦ Incluindo das famílias reais (relações políticas entre Estados)

O casamento era muito mais do que a união de duas pessoas

Casamento por conveniência

Aula:• Os parentes estão sempre implicados no casamento;• Casamento por conveniência/interesse.

(iii) Forma de condicionar o crescimento da população Idade avançada do casamento (espera pela a herança); Celibato (sem herança).

Aula:• Nos países Nórdicos esperava-se pela herança para poder casar. Com a Revolução Industrial e

com o assalariamento esta situação irá mudar. Ao retardar a idade do casamento, retardava-se também o nascimento dos filhos (famílias de menor dimensão devido a este efeito);

• O celibato também era frequente em pessoas que não tinham condições para casar porque não tinham heranças -> condiciona o crescimento da população.

3.1.2. Modernização do Casamento• Classe burguesa: o ponto de partida de difusão de um modelo• Classe operária: o acesso a um salário

• “Casamento mais livre, onde o sentimento é mais importante, e onde se associam duas capacidades de trabalho, dois salários, eis a modernidade de um modelo que emana da classe operária, cuja norma não cessou de ser editada pela imagem de um modelo burguês (…).” (Segalen, 1999: 144).

Aula:• Com a industrialização (1ª fase onde as mulheres vão trabalhar para as fábricas) emergem

condições para o nascimento de um novo modelo que reflecte o que é o casamento actual (sem propriedade, assalariamento, é mais uma opção do que uma aliança entre famílias);

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• É aqui que o modelo de casamento por conveniência é colocado em causa. A classe operária tenta imitar a burguesa;

• A conjugalidade aumenta muito no século XIX (conjugalidade, casamento, união de facto).

3.1.3. Casamento e Conjugalidade no presente

(i) O casamento baseado no amor torna-se dominante (ii) O casamento baseado no amor não leva à redução da homogamia(iii) A coabitação tornou-se algo cada vez mais frequente e aceite(iv) Cada vez mais casamentos terminam em divórcios

(i) O casamento baseado no amor torna-se dominante♦ Casamento por livre escolha, baseado no amor romântico; ♦ Giddens (1995) em Transformações da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas

sociedades modernas caracteriza o amor romântico:o Historicamente localizado (desde finais do século XVIII), contrariamente ao amor

apaixonado (mais ou menos universal);o Implica um envolvimento mais permanente, uma narrativa, um romance;o Está associado ao casamento;o Está associado mulher.

Aula:• Feito por livre escolha;• Surge um conceito de amor romântico, o que não significa que não existisse amor

anteriormente;• Amor apaixonado (muito baseado na atracção);• O amor romântico surge como uma narrativa, um amor que deve durar e unir as pessoas para o

resto da vida;• A mulher deve alimentar o romantismo na relação;• Actualmente, existe mais um sentimento igualitário (amor confluente).

O amor romântico, um apanágio feminino“No século XIX, Balzac proclama que «a vida da mulher é o amor». Porque a mulher, segundo Michelet, não pode viver sem o homem e sem um lar, o seu ideal supremo só pode ser o amor: «Qual é o seu alvo por natureza, a sua missão? A primeira, amar; a segunda amar apenas um; a terceira amar sempre.»” (Lipovestky, 2000: 19-20)

«Toda a educação das mulheres deve ser relativa aos homens. Agradar-lhes, ser-lhes úteis, fazerem-se amar e honrar por eles, educá-los em jovens, tratá-los em adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce, eis os deveres das mulheres em todas as épocas» escreve Rousseau.” (Lipovestky, 2000: 20)

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Aula:• O amor é uma obrigação da mulher, por isso, exige-se a fidelidade feminina;• A citação de Rosseau poderá ser comparada com a perspectiva de Parsons;• O amor romântico entra em ruptura paralelamente à emancipação feminina -> Amor Confluente

(igualdade entre os cônjuges, modelo dominante na 2ª metade do século XX).

(ii) O casamento baseado no amor não leva à redução da homogamia• Homogamia continua a ser importante nas últimas décadas;• Homogamia = casamento com pessoas que estão próximas;• Homogamia geográfica (endogamia);• Homogamia social.

Aula:• As pessoas continuam a casar com pessoas que são próximas socialmente;• Uma em cada cinco mulheres casou-se numa situação de discrepância social;• A endogamia também é elevada, embora haja uma tendência para a diminuição (em virtude das

TIC, dos transportes e do mundo global).

Estudo nacional coordenado por Karin Wall (2005), com base num inquérito realizado em 1999, verificou-se (Rosa, 2005: 117-165):• Importante homogamia socioprofissional: apenas um em cada cinco casamentos apresenta

uma discrepância acentuada a nível dos recursos entre cônjuges;• Tendência para o casamento entre empregadas não qualificadas e operários não qualificados. E

das operárias agrícolas com operários não qualificados; • Homogamia geográfica tem uma importância comparável ou até superior à homogamia social:

sete em dez mulheres casaram com um homem que residia no mesmo concelho.

Nota: a homogamia não é contraditória à questão da livre escolha.

(iii) A coabitação tornou-se algo cada vez mais frequente e aceite A partir dos anos 70, o casamento deixará de ser a única forma de se entrar na conjugalidade. Passagem do “casamento de amor ao amor sem casamento” (Segalen, 1999: 152); Coabitação corresponde “à situação em que duas pessoas vivem em comunhão de cama, mesa

e habitação sem estarem formalmente casadas” (Amaro, 2006: 65).

(iv) Cada vez mais casamento terminam em divórcios A passagem do casamento enquanto sacramento para o casamento enquanto contrato abriu a

possibilidade desse ser quebrado; “As pessoas casam-se por causa do amor e divorciam-se por causa do amor.” (Giddens, 2004:

181); Sintoma das elevadas expectativas que se têm em relação à conjugalidade;

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“A esperança média de vida promete hoje ao casal uma existência em comum de cinquenta anos” (Segalen, 1999: 15).

Nota: o aumento dos divórcios está intimamente ligado às expectativas.

3.2. Divórcio

• Legalização do divórcio em Portugal;• Factores do aumento dos divórcios;• As razões que justificam o divorcio variam com a sociedade e modelo de casamento;• Modelo de divórcio está associado ao modelo de conjugalidade;• Formas de gestão do conflito inerente à separação conjugal;• Associação entre a taxa de actividade feminina e taxa de divórcios.Aula:• As expectativas em relação ao casamento aumentaram dando origem a divórcios, mas não

significa que não se valorize a família.

Legalização do divórcio em Portugal• Instituído em 1910;• Restringido após 1940, na Concordata;• Em 1975, uma revisão da Concordata permitiu os divórcios civis de casamentos católicos.

Nota: Implica uma formalização ao contrário da separação.

Factores do aumento dos divórcios (Giddens, 2004) ♦ O casamento já não tem como fundamento a transmissão do património;♦ Independência económica das mulheres;♦ Melhor nível de vida permite que as pessoas;♦ Divórcio é mais aceite (banalizou-se);♦ Casamento passou a estar associado à satisfação pessoal do casal;

Aula:• São as transformações que o casamento conheceu que vão fazer aumentar os divórcios;• O casamento e a família são vistos como uma forma de realização pessoal.

As razões que justificam o divórcio variam com a sociedade e modelo de casamento Esterilidade ou infidelidade – Culpa (geralmente da mulher); Falta de entendimento, falta de amor – Consenso.

Em Portugal, Anália Torres (1992) mostra que o modelo de divórcio está associado ao modelo de conjugalidade• Modelo da conjugalidade associativa (“forma moderna de encarar o casamento, em moldes

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pouco rígidos e normativos”) – modelo de divórcio desencontro (falta de bem – estar na relação e procura-se reencontra-lo noutro contexto conjugal ou relacional);

• Modelo de conjugalidade fusional (o casamento significa o cumprimento de obrigações, mesmo que estas impliquem o sacrifício individual) – divórcio como a culpa do outro;

• Modelo de conjugalidade institucional (casamento está na base da identidade das mulheres enquanto donas de casa e mães) – Divórcio fatalidade (factores que atribuídos ao destino).

09-03-2010

Formas de gestão do conflito inerente à separação conjugal (Barbagli e Saraceno, 1998, cit. por Saraceno e Naldini, 2003)

♦ Uma investigação realizada em Itália (Barbagli e Saraceno, 1998, cit. por Saraceno e Naldini, 2003), de natureza extensiva, mostra que:

♦ As separações tendem a ser mais conflituosas nos casais menos escolarizados;♦ “Mais repetido e quase ritualizado o conflito, envolvendo também progressivamente,

as relações com os filhos e desembocando muitas vezes em fenómenos de abandono por parte do pai, sendo menor a capacidade de gerir em conjunto uma distanciação e uma continuidade nas co-responsabilidades parentais. Culturas de género que marcam mais claramente as competências e as expectativas, a par de hábitos e recursos menos desenvolvidos para a «conversa» matrimonial, deixam mais do que nas outras classes ambos os ex-cônjuges sem instrumentos para gerirem adequadamente a separação.” (p. 169-170).

Aula:• Quando a negociação está desenvolvida associa-se a famílias com mais recursos;• Há um impacto negativo no desenvolvimento das crianças quando há conflitos no casamento,

comparativamente ao fenómeno da monoparentalidade. Contudo o divórcio continua a ser algo muito dolorosa.

Associação entre a taxa de actividade feminina e taxa de divórcios A independência económica dá poder negocial às mulheres; Quando as mulheres não têm independência económica o divórcio pode comportar custos

elevados para as mulheres.

Aula:• O divórcio não implica o mesmo para homens e mulheres, sendo que provoca alguma

desvantagem para mulheres que não têm independência económica;• O facto de haver correlação entre as taxas de actividade feminina e divórcio tem a ver com a

independência da mulher. Por outro lado, caracteriza o que é a conjugalidade actual (mais democrática e também uma outra forma de viver essa conjugalidade porque o que mantém a mulher numa situação de conjugalidade já não é a dependência económicas. A conjugalidade é uma opção.

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Divórcio é uma transição dolorosa na vida das pessoas Anália Torres (1996) inicia assim o seu livro Divórcio em Portugal: ditos e interdito:

“O tema do divórcio é áspero, tem arestas. Sugere mal-estar, sofrimento. Representa o oposto da ideia positiva associada ao enamoramento e à paixão. Significa o fim de uma promessa, de um projecto, da partilha de um ciclo de vida. Julgo que quase ninguém duvida de que os processos de ruptura conjugal são emocionalmente dolorosos.” (p. 1).

“Quando surge o divórcio, ou ele se impõe, é como se essa caixa negra onde fomos lentamente inscrevendo a nossa história se abrisse. Dela saem monstros e demónios, os do próprio e os do outro. Com a sua abertura revelam-se dimensões que se encontravam pouco evidentes e os diferentes tipos de investimento tornam-se mais claros: todas essas contas são difíceis de dividir…tirar um quadro ou um poster da parede, levar ou deixar um objecto e olhar o seu vazio, dar um beijo num filho sabendo que no dia seguinte nada será como dantes, são gestos e momentos difíceis de viver e de esquecer. É a revelação do negativo da fotografia que era o casamento.” (pp. 1-2).

Aula:• Na prática a experiência do divórcio não é algo tão fácil como mostram os números.

Condição da mulher Conquistas formais (quadro jurídico-constitucional); Democratização das relações conjugais; Indiferenciação de papéis; Entrada no mercado de trabalho; A vida conjugal traduz-se num custo para as mulheres que afecta a sua carreira profissional.

Aula:• Houve mudanças fundamentais na família e na conjugalidade. Essas mudanças vão também

originar evoluções/mudanças na condição dos géneros (ver questão do divórcio e taxa de actividade feminina).

Entre 1974 e 1979, a condição social das mulheres foi formalmente alterada em vários domínios (Ferreira 1998: 200):

Acesso a todas as carreiras profissionais; Direito de voto; Retiram-se aos maridos os direitos de lhes violar a correspondência; não autorizar a sua

saída do país e de anular contratos de trabalho por elas celebradas; Alargamento da licença de maternidade para 90 dias; Reconhecimento constitucional da igualdade de direitos entre homens e mulheres em todas

as áreas; Aprovação de um novo Código Civil em que desaparece a figura de chefe de família.

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Aula:• Antes do 25 de Abril as mulheres estavam subjugadas/dependentes dos homens.

O assalariamento das mulheres: ruptura com o modelo da mulher dona de casa

♦ Nas sociedades tradicionais, as mulheres trabalham normalmente na exploração familiar;♦ O modelo da mulher dedicada ao lar e aos filhos é uma construção do século XIX

(Lipovestky 2000; Saraceno, 1992);♦ Entrada massiva no mercado de trabalho a partir dos anos 60.

Aula:• Com a entrada da mulher no mercado de trabalho nos anos 60, a condição e a identidade da

mulher alterou-se. Hoje, ser mulher é cada vez menos ser dona de casa.Participação feminina no mercado de trabalho em Portugal e nos Açores

Nota: Nos Açores a taxa de actividade feminina cresce mais do que em outras regiões.

A vida conjugal traduz-se num custo para as mulheres

Singly (1987, 2004) em Fortunee infortunede la femme mariée, refere que a vida conjugal se traduz num custo para as mulheres (porque é um obstáculo à sua carreira profissional) e um benefício para os homens.

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Quadro 4.2. – Finalidades segundo a escolaridade• Maior independência económica da mulher;• Quanto maior as habilitações literárias das mulheres, menor é o seu desejo de constituir família

e dedicação a esta e maior preocupação com os projectos profissionais;• As mulheres com baixa escolaridade tem uma ambição muito maior de constituir família,

devido aos valores transmitidos, do que as mulheres licenciadas, visto que têm um projecto de vida.

Quadro 4.5. – finalidades segundo a idade e a entrada na conjugalidadeÀ medida que a idade vai aumentando, o desejo de constituir família e ter filhos vai diminuindo, ao passo que a vontade de ter um companheiro em caso de alguma necessidade aumenta a partir dos 30 anos, visto que a mulher precisa de estabilidade sócio-afectiva. Quadro 1.5. Perfis de conjugalidade• Predomina a primeira conjugalidade de ambos;• A percentagem de homens com conjugalidades anteriores e com filhos anteriores é superior às

mulheres;• Continua a predominar o casamento religioso;• A idade da mulher na entrada da conjugalidade situa-se entre os 20 – 24 anos;• A duração média dos casamentos é de 16,5 anos.

Quadro 1.22 – domínios de gratificação da mulher• Quanto à gratificação da mulher, podemos dizer que predomina a relação com os filhos e a vida

em casal. Posteriormente vem as tarefas domésticas, a relação com parentes e a profissão/ estudos.

Quadro 1.23. – principais domínios de gratificação da mulher por escolaridade• Quanto a este quadro há uma grande discrepância entre mulheres com baixa escolaridade e de

alta escolaridade. Quanto às tarefas domésticas e relação com os parentes próximos, podemos verificar que as mulheres com baixa escolaridade valorizam mais este tipo de actividade. Contrariamente, as mulheres com maior nível de escolaridade, valorizam mais a profissão/ estudos e o convívio com os amigos e colegas de trabalho.

Quadro 4.26. – norma situada de divisão de trabalho doméstico • No que respeita à participação do marido/ companheiro no trabalho doméstico podemos

concluir que as mulheres têm tentado ter alguma ajuda do marido.

Quadro 4.29. – divisão do trabalho segundo a escolaridade da mulher• As mulheres com menores níveis de escolaridade não tentam dividir ou obter alguma ajuda do

marido, ao contrário das mulheres com maiores níveis de escolaridade. As mulheres com baixa escolaridade tentam poupar o marido às tarefas domésticas.

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Correcção:* A família não está em crise. O facto de as mulheres não valorizarem as tarefas domésticas não significa que não valorizem a família;* Ainda existem traços tradicionais (casamentos religiosos);* As mulheres com mais idade valorizam a dimensão instrumental; * A igualdade existe mais como ideal;* A família continua a ser valorizada mas não só pelos aspectos instrumentais, valorizam-se também os aspectos relacionais;* Família companheirismo – casamento por afinidade (Burguess);* Família instituição – centrada nas questões do património (Burguess);* Valoriza-se os aspectos de reciprocidade e da dimensão afectiva (companheirismo);* Conjugalidade caracterizada pela estabilidade, ainda predomina o casamento religioso;* As famílias portuguesas aproximam-se mais da família companheirismo, mas existem aspectos da família instituição (nível financeiro, pressão social).

18/03/2010

4. O lugar dos filhos na família e as relações geracionais

4.1. A descoberta da infância4.2. A redução da fecundidade4.3. Uma nova lógica procriativa4.4. O impulso da escolarização na transformação das relações pais-filhos

4.1.A descoberta da Infância

Primeira fase de modernização da família:

*Alteração na relação pais-filhos;*Nova forma de olhar a criança (elemento afectivo e simbólico).

Ariés, 1960Nota: • Os filhos não são pessoas abstractas, são pessoas com necessidades específicas;• A criança deixa de ser vista como um recurso, como uma garantia de transmissão do património

e passa a ser enfatizados os aspectos relacionais e afectivos, a criança é vista como uma pessoa;• No passado a criança era vista como um adulto em miniatura.

A descoberta da infância

A partir do século. XVIII nas famílias burguesas

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• Consciencialização de uma personalidade infantil e de uma fase de desenvolvimento (requerendo cuidados);

• Criança-brinquedo, encarada como fonte de prazer para os pais.

A partir do século XVIII o Estado começa a preocupar-se com a prestação de cuidados às crianças.

Aula: Nos finais do século XIX, a classe operária começa a ganhar melhores condições de vida, as

mulheres deixa de trabalhar fora e passa a ser dona de casa e cuidadora dos filhos; Desenvolvem-se conhecimentos que se vão difundir pelas famílias mais abastadas. A

infância corresponde a uma fase de desenvolvimento e tem que ter uma série de cuidados específicos. O Estado vai assumir alguns desses cuidados. A mortalidade ainda era elevada.

4.2. A redução da fecundidade

Os reguladores da fecundidade tradicionais:

• Mortalidade;• Idade do casamento e celibato feminino;• Práticas com efeito contraceptivo (amamentação prolongada; abstinência sexual em

determinadas datas; aborto; abandono dos recém-nascidos e infanticídios, práticas contraceptivas tradicionais baseadas na ingestão de infusão de plantas).

Regista-se uma redução da fecundidade a partir de finais do século XVIII, em França

• Antes do recuo da mortalidade;• Possível com a difusão de práticas de contracepção (coito interrompidos): 1ª Revolução

contraceptiva.

Nota: mas ainda não havia métodos anti-concepcionais.

Interpretações da 1ª Revolução contraceptiva

Nova forma de olhar a criança leva a um investimento individualizado nos filhos e à limitação do seu número (Ariès);

Moda parisiense de entregar os filhos a amas conduz à hiperfecundidade e à necessidade de contracepção (outros autores). Nesta situação, as mulheres deixam de amamentar os filhos e deixa de haver o efeito inibidor da gravidez da amamentação.

2ª Revolução Contraceptiva

Redução acentuada da fecundidade na Europa entre 1965 e 1975;

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Difusão dos métodos de contracepção modernos (pílula e dispositivo DIU) a partir dos anos 60 e sua generalização só a partir dos anos 80;

O surgimento destes novos métodos não explicam directamente a redução da fecundidade, as pessoas é que já tentavam controlar os nascimentos.

4.3 Uma nova lógica procriativa

A natalidade diminui a partir dos anos 60/65 do século XIX

Dissociação entre casamento e procriação:

• O casamento não implica ter filhos necessariamente;• Ter filhos é uma opção (planeamento);• A opção implica, por vezes, ter filhos “à força” (concepção artificial).

Redução do número de filhos:• Os filhos deixaram de ser vistos como um recurso para ser encarados como um

custo (racionalidade económica);• Generalização do padrão do modelo de família com dois filhos.

4.4 O impulso da escolarização na transformação das relações pais-filhos

A família perde o poder legítimo de transmissão da herança social (Bordieu, 1989).

A escola vai introduzir-se no processo de transmissão das heranças sociais (heranças de pais para filhos).

Investimento afectivo nos filhos

A escola adquire um lugar central na vida das famílias

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2010-03-23

Visualização de um filme sobre os filhos únicos; Tendência para ter menos filhos; Há uma massificação da escolarização dos filhos e as famílias sentem a necessidade de

investir nesta educação.

O que a escola faz às familias - 12 modalidades de influência/ interferência Perrenoud, Philippe (1987), "Ce que l'école fait aux familles: inventaire", in Montandon, Cléopâtre e Perrenoud, Philippe (1987), Entre parents et enseignantes: un dialogue impossible? Berne, Peter Lang, pp. 89 – 168.

1. Tempo: A escola ritma, estrutura, organiza o tempo dos alunos e das famílias (horários do dia-a-dia, calendário anual, as fases da vida...).2. Relação com o espaço: A escola condiciona a mobilidade geográfica das famílias (mudanças de residência, distância à escola, deslocações diárias, viagens, férias...).3. Rendimento: A escola obriga as famílias a dispensar uma parte do seu rendimento para pagar despesas escolares directas (material, mensalidades...) e indirectas (vestuário, alimentação, visitas de estudo, explicações...).4. Tarefas: A escola obriga a família a um conjunto de tarefas como prestar determinados cuidados à criança para chegar nas melhores condições à escola; acompanhar a criança à escola; conferir o material escolar; enquadrar o trabalho de casa (apoiar, motivar...); e subtrai a criança do trabalho familiar.5. Controlo social: A escola exige aos pais o controlo dos comportamentos dos filhos (motivação, disciplina...), de acordo com as regras escolares, de modo a que esse seja adequado na escola.6. Acção educativa: A escola espera que a criança seja socializada desde o início de uma forma adequada para quando entrar na escola corresponda às expectativas da escola.7. Domínio sobre a criança: A escola não só priva a família da sua presença como a transforma.8. Ambiente quotidiano: A dinâmica e ambiente familiares são influenciados diariamente pela experiência escolar da criança e pelo estado em que chega a casa (apatia, agressividade...).9. Imagem de si: A escola emite julgamentos sobre a criança e indirectamente sobre a família que os sente como julgamentos sobre toda a família. 10. Protecção da esfera privada: Os professores recolhem (directamente através de questionários ou mais indirectamente através da conversa com os pais e com a criança) todo um conjunto de informações sobre as famílias (situação financeira, problemas de saúde, desvios dos pais, aspectos sobre o modo devida familiar...).11. Relação com o futuro: As famílias sabem que o sucesso na vida depende do sucesso na escola, embora muitas vezes interiorizem a ideia de que o sucesso é pouco provável.12. Inserção social e aprendizagem de papéis sociais: A escola insere a criança cada ano num novo sistema relacional e dessa forma alarga a rede de sociabilidades da família, assim como transforma os pais em pais de alunos.

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2010-03-25

5. Relação Escola-Família

5.1. Escola e família: as interdependências5.2. Dinâmicas familiares, envolvimento dos pais na escolaridade dos filhos e sucesso escolar5.3. Participação dos pais e novas formas de regulação do sistema educativo5.4. As interacções entre pais e professores no quadro de uma relação entre culturas e depoder

5.1. Escola e família: as interdependências

• As interdependências no passado• O incremento das interdependências• As interferências da escola na família• As interferências da família na escola

Antes da escola se generalizar

As crianças eram socializadas pela família e comunidade local. Este cenário começa a modificar-se quando a escola se começa a generalizar.

A partir da idade moderna a escolarização avança (1º Igreja; 2º Estado)

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As crianças e os jovens passam a contar com uma outra agência de socialização que é a escola.

Quando há interacções pode haver conflitos (Modelo de socialização por áreas de influencia sobrepostas – presente)

Um processo de escolarização precoce é vantajoso para as crianças (Almeida, 2005)

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5.2. Dinâmicas familiares, envolvimento dos pais na escolaridade dos filhos e sucesso escolar

• Da perda do poder legítimo de transmissão da herança social ao investimento das famílias em capital escolar;• Do ambiente familiar e educativo à relação com a escola: uma influência estrutural;• A educação das crianças na família é uma educação de classe mas também um reflexo do paradigma familiar;• Estilos educativos e relação com a escola em famílias com pertenças étnicas diferentes;• Contextos familiares e educativos plurais nas classes populares.

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Como se articulam estes diferentes níveis de modo a que a família possa contribuir para o sucesso escolar?Existem múltiplos estudos que nos dão algumas pistas e nos permitem compreender algumas dessas relações.

Da perda do poder legítimo de transmissão da herança social ao investimento das famílias em capital escolar

O capital escolar tornou-se determinante para a família, no sentido de que é importante para as posições sociais futuras, o acesso aos empregos depende também dos diplomas.

Isto não significa que as famílias não queiram influenciar este processo de escolarização.

Nas escolas continuam a influenciar a herança familiar. Actualmente a transmissão do capital cultural poderá influenciar o desempenho escolar.

Segundo Bordieu a cultura da escola é a cultura das classes dominantes.

Outros autores colocam a ênfase na transmissão da cultural.

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Por osmose: Facilidade com que a cultura é transmitida na família (osmose – quase sem esforço)

Acções específicas: A transmissão cultural não é um processo automático. O envolvimento das famílias exige esforço, trabalho.Formas de controlo da escolaridade por parte de pais com filhos no 6º ano de escolaridade (Establet, 1987)

O envolvimento na escolaridade implica esforço e trabalho dos pais. Não nos podemos ficar pela ideia de Bordieu no qual a transmissão do capital cultural é quase automático.

No contexto actual as famílias têm que se esforçar. Há uma preocupação na busca da distinção social, viabilizada pelo sucesso escolar e pela integração no melhor contexto.

Até que ponto as famílias influenciam a escolaridade das crianças?• Em que medida o sucesso escolar (em sentido mais restrito ou mais global) depende da relação

que as famílias estabelecem com a escola?• E em que medida a relação das famílias e o próprio percurso escolar dos alunos depende de

todo o ambiente familiar e educativo?

Do ambiente familiar e educativo à relação com a escola: uma influência estrutural – Basil Bernstein

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Famílias posicionais: os papéis estão definidos de forma e são desempenhados de acordo com esta definição. A socialização irá ser baseada de acordo com o estatuto da criança face aos adultos (subordinação). Controlo imperativo dos comportamentos (a criança tem que obedecer a ordens) ou por apelas posicionais (apelam à posição que a criança ocupa – Deves pedir por favor aos mais velhos). Associadas a classes populares. Utilizam um código sócio-linguístico restrito (tipo de comunicação mais fechado, mais difícil de entender por quem está fora do contexto – exemplo grupo 2 - usam poucos substantivos). O código linguístico é restrito porque não há negociação.

Famílias orientadas para a pessoa: é nas situações que se vai definindo o que cada um vai fazer. A socialização é baseada nas suas especificidades. Têm-se em conta as características de cada criança, por isso é que são famílias orientadas para a pessoa. O controlo é feito por apelo às características pessoais. Associadas às classes média/alta. Utilizam um código mais elaborado.

A educação das crianças na família é uma educação de classe mas também um reflexo do paradigma familiar – Kellerhals e Montandon (1991)

• Valorização de objectivos instrumentais (autonomia e disciplina, auto-regulação e acomodação) em detrimento de objectivos expressivos (cooperar com os outros, cooperação e sensibilidade);

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Estilos Educativos das famílias (Kellerhals e Montandon)

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Os papéis têm a ver com o desempenho de tarefas, se há divisão de papéis e de que forma os desempenham.

A coordenação tem a ver com a abertura ou não com outros agentes de socialização.

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Nota:• Mostra que os estilos educativos são condicionados pela classe social;• O estilo estatutário é mais frequente nas classes populares e médias;• A educação reflecte o funcionamento das famílias.

Estilos educativos e relação com a escola em famílias com pertenças étnicas diferentes (Seabra, 1997)

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2010-04-07

Contextos familiares e educativos plurais nas classes populares – B. Lahire (1995)

Bibliografia: Lahire, B. (1995) “Sucesso escolar no meio popular – As razões do improvável”.

Procura estudar as singularidades. Vai estudar não só as condições de existência mas também as condições de coexistência.

Dimensões da configuração familiar: 1. A relação que os diferentes membros da família têm com a cultura escrita;2. As condições e disposições económicas (não foca apenas o rendimento económico da família, mas a forma como gerem o capital económico);3. A ordem moral doméstica;4. As formas do exercício da autoridade familiar;5. Os modos familiares de investimento pedagógico (o envolvimento mais directo na escolaridade dos filhos).

Conclusões acerca da diversidade de configurações familiares nas classes populares (Lahire, 1995)

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• Não é possível generalizar a diversidade de situações que caracteriza as classes populares;• As configurações familiares raramente são lugares de consenso;• A existência de capital cultural só tem efeitos positivos na escola se se verificarem condições

para esse ter transmitido (contraria a ideia de Bordieu que a transmissão é feita quase automaticamente – é necessário interacção);

• A intensificação sexual realizada na família tem interferências no percurso escolar;• Embora possam não comparecer no espaço escolar, quase todos os pais valorizam a escola no

futuro dos filhos;• Há casos de sobre-investimento dos pais na escolaridade dos filhos, com efeitos

contraproducentes;• A demissão parental é um mito.

5.3.Participação dos pais e novas formas de regulação do sistema educativo

• O reforço da participação dos pais no sistema educativo na Europa e em Portugal;• A participação dos pais no quadro de uma nova forma de regulação do sistema educativo.

O reforço da participação dos pais no sistema educativo na Europa e em Portugal

Na Europa (UE)

Afirmação doso direitos dos pais a nível individual (Eurydice, 1997):• Escolha da escola (Bélgica, Suécia, Reino Unido); Ensino Público / Privado;• Informação• Recorrer (na avaliação e orientação)

Afirmação dos direitos dos pais ao nível colectivo (Eurydice, 1997):• Associativismo dos pais:

• Participação no sistema educativo: No estabelecimento;

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No local e/ou regional; Nacional.

A participação dos pais nos países Europeus é ainda limitada:

− Minoritária (paridade em alguns países);− Consultiva (sobretudo nos níveis nacional e intermédio).

Em Portugal:

• Afirmação da participação dos pais (legislação) desenvolve-se a partir do 25 de Abril de 1974 em 3 fases (Silva, 1999):

1º Período: 1974/1975

• Período de criação de condições (instauração do regime democrático);• Não há progressos.

2º Período: 1976/1985

• Fase de arranque da participação dos pais;• É aprovada legislação;• Surge a primeira lei (1977) relativa à associação de pais.

3º Período: desde 1986 (desde a aprovação da lei de bases):

A sucessiva legislação que culmina no D.-L. Nº 115-A/98 (Regime de Autonomia, Gestão e Administração das escolas e agrupamentos de escolas):• Consagra a participação real dos pais em todos os níveis do sistema educativo (com direito

de voto);• Engloba todos os níveis de ensino.

Participação dos pais em vários níveis do sistema educativo em Portugal:

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A participação dos pais nas escolas é muito limitada

• “(...) alguns dados disponíveis apontam para uma composição da Assembleia que explora a participação docente até ao limite máximo permitido (50%) e mantém os pais no limite mínimo exigido (10%).” (Sá, 2002: 76).

• “Apesar de haver recomendações no sentido de atribuir esta competência [elaboração do projecto educativo] ao órgão de representação e participação da comunidade educativa, neste caso a Assembleia, optou-se por lhe conferir apenas o direito de aprovar o referido documento estratégico. Esta opção tem sido interpretada como uma limitação importante à afirmação da Assembleia como órgão político por excelência, remetendo-a ao estatuto de mera assembleia geral, que reúne esporadicamente, mais para cumprir certos procedimentos ritualísticos do que para tomar decisões estratégicas.” (Sá, 2002: 77).

• Haverá “um aparente reforço do poder doa pais no interior da escola num quadro em que os poderes da escola se mantêm basicamente os mesmos?”

Os pais com assento em órgão escolares:

• Apresentar uma participação pouco activa:

Faltam às reuniões Nas suas intervenções fazem referência a questões muito pontuais

• São detentores de capitais social, cultural e simbólico suficientes para investir no campos escolar.

(Silva, 1994)

A participação dos pais no quadro de uma nova forma de regulação do sistema educativo

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Reforço da autonomia dos contextos e actores locais

• = Transferência de poderes para o contexto escolar local

“De um modo geral, pode dizer-se que essa alteração vai no sentido de transferir poderes e funções do nível nacional e regional para o nível local, reconhecendo a escola como um lugar central de gestão e a comunidade local (em particular os pais dos alunos)”

Este movimento de transferência inscreve-se em planos diferentes:

• Transformações globais e profundas a nível societal;• Mudanças no plano económico;• Mudanças ao nível do Estado.

Transformações globais e profundas a nível societal

O Estado-nação nasce para unificar as diferenças e com a globalização vemos o oposto, pois há uma revalorização das identidades comunitárias.

Mudanças no plano económico

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Também no sentido da valorização das diferenças

Mudanças ao nível do Estado

O Estado-Providência entra em crise porque percebe-se que não tem capacidade para resolver todos os problemas. Há uma necessidade de transferir mais poder para o mercado e sociedade civil.

Novo modelo de regulação do sistema educativo

O estado exerce um controlo mais remoto, mais à distância, através da avaliação.

2010-04-13

5.4. As interacções entre pais e professores no quadro de uma relação entre culturas e de poder

• 1. As interacções entre a escola e os pais assumem uma diversidade de formas• 2. Uma relação dominada pela escola• 3. Uma relação entre culturas • 4. Uma relação entre actores com posicionamentos diferentes

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• 5. Uma relação entre actores do género feminino• 6. A promoção da relação escola-família

1. As interacções entre a escola e os pais assumem uma diversidade de formas

• A relação entre escola e a família existe de facto. Esta relação sempre existiu-se mas pautava-se de diversas formas ao longo do tempo.

• Hoje entende-se que as escola e a família devem estar próximas.• Os pais podem envolver-se na escola, apenas no espaço doméstico, ou então, mesmo no espaço

escolar.• Individuais: os pais actuam tendo em conta os interesses do filho (envolvimento).• Colectivas: defendem os interesses colectivos (participação).• Envolvimento: acção de carácter individual.• Participação: acções de carácter colectivo.• O envolvimento dos pais com a escola faz-se de diversas formas:

• Diálogo;• Controlo externo através da supervisão dos TPC (famílias menos escolarizadas) -> estas

famílias têm dificuldade em acompanhar o trabalho escolar dos filhos e em alguns caso (estudo de Vila Franca do Campo) recorrem às explicações para o efeito. Recorrem mais às explicações em grupos;

• Acompanhamento pedagógico (famílias mais escolarizadas) -> recorrem às explicações individuais;

• Actividades extra-curriculares;• Escolhas escolares (os pais devem estar informados destas escolhas -áreas, disciplinas,

escolas)

Interacções não intencionais,através da criança

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Go-between (Perrenoud, 2000):

• Mesmo quando não há comunicação pais-professores, professores, a criança é um elo de ligação.• É um actor social e pode funcionar como agente duplo.

As crianças são mensageiras mas também podem ser actores sociais. A criança não é apenas um receptáculo como fazia crer a sociologia funcionalista. A criança funciona como mensageira na medida em que os pais observando as crianças, deduzem sobre o que se passa na outra instituição em que a criança está.

Envolvimento e/ou participação dos pais na escola

• Contactos pais-professores (os pais ocupam uma posição passiva nestes contactos, alguns autores chamam mesmo uma “pseudo-informação”);• Colaboração nas actividades da escola (geralmente tem pouca expressão);• Participação na associação de pais (difere em função do capital escolar dos pais, grande parte dos que participam são os próprios professores; as associações de pais funcionam por oposição e em conflito com os professores; são intervenções pontuais);• Participação em órgãos escolares

Os pais tendem a envolver-se mais ao espaço familiar (em casa). Este envolvimento é pouco visível para a escola.

Tipologia de Joyce Epstein (1992)

• (1) As obrigações básicas da família• (2) As obrigações básicas da escola• (3) Envolvimento dos pais na escola• (4) Actividades de aprendizagem dos filhos• (5) Participação no governo da escola

Enfatiza que os pais não se envolvem da mesma forma na escola e deve ser guardada esta especificidade, não estar à espera que se envolvam da mesma forma

• Uma relação dominada pela escola

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A relação entre a escola e a família é assimétrica, quer seja nos contactos com os professores, quer em outros aspectos. É a escola a definir as regras de como esses contacto vai acontecer.Na participação dos órgãos escolares os pais estão em minoria.Quanto ao envolvimento em actividades, os pais têm um papel subordinado em relação ao que foi definido pela escola.Mesmo em casa, alguns autores, falam que em casa, os pais são como assistentes dos professores.

Algumas razões que explicam a assimetria:

• Os pais não foram incluídos nas escolas, tal como a escola foi tradicionalmente organizada;• Resistência das organizações à mudança;• Relação professores-pais é uma relação entre profissionais e leigos (os pais sendo os leigos têm de se sujeitar).

(Silva, 2003)3. Uma relação entre culturas

• A relação entre as famílias e a escola é uma relação de culturas.

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• A escola funciona para um modelo ideal de família (classe média, urbana), para a etnia dominante.

4. Uma Relação entre actores com posicionamento diferentes

Percepções e atitudes negativas dos professores em relação aos pais

• Acusam os pais de condição social baixa de desinteresse;

Antropologicamente todas as

culturas são iguais.

Sociologicamente não é assim, porquequem tem umadeterminada cultura há a

possibilidade de aceder a certos bens.

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• Acusam os pais de condição social mais elevada de intromissão (os pais pressionam demasiado);

Há aqui uma contradição, mas é evidente que estão a falar de pais diferentes

• A participação na escola quando não há problemas é uma perda de tempo;• A escola não é um espaço dos pais.

Percepções e atitudes negativas dos pais em relação à escola

• Sentem-se discriminados na escola• Sentem dificuldade em acompanhar os filhos e corresponder àexigências da escola• Sentem-se insatisfeitos com a escola actual e criticam oempenho dos professores

Entre os professores também há diversidade. É uma tipologia construída por uma autora suíça. Dentro da escola há entendimentos diferentes.

5. Uma relação entre actores do género feminino

6. A promoção da relação escola-família

• (i) Não devemos cair na ilusão que é possível erradicar todos as dificuldades/os conflitos entre a

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família e a escola;• (ii) Pode ser desenvolvida de uma forma redutora, sem impacto real no status quo;• (iii) Nenhuma medida só por si representa uma solução milagrosa• (iv) o perigo de aproximar mais os que já estavam próximos e afastar mais os que já estavam afastados;• (v) O perigo de desenvolvimento de projectos numa lógica compensatória;• (vi) A mera participação na escola não conduz necessariamente ao sucesso escolar.

2010-04-15

Trabalho Prático

1. Tendo em consideração as tendências de mudança que marcam as famílias contemporâneas, como se caracteriza a etnia cigana no que respeita ao funcionamento familiar e à socialização dos filhos?

Do ponto de vista da socialização e educação familiares, as crianças desenvolvem-se num ambiente familiar e comunitário pouco sensível (embora não hostil) à escola onde esta aparece com uma importância relativamente face às restantes actividades do quotidiano. Isto não significa que não gostem da escola, mas é algo que não faz parte do seu projecto de vida. Neste sentido, podemos referenciar que, o ritmo de vida das crianças é pautado pelo ritmo de vida dos adultos, as suas formas de vivência do quotidiano são pautadas pelas formas e conteúdos de vivência do quotidiano dos adultos: ao nível do ritmo das feiras, das festas, dos horários das refeições, das horas para dormir, das redes de sociabilidade, etc. Deste modo a criança desenvolve-se ao seu próprio ritmo que é diferente do ritmo que é valorizado pela escola. Estas crianças são precocemente orientadas para um trabalho específico (feirante), para casamentos precoces, o que leva ao abandono escolar. As famílias de etnia cigana defendem que basta saber ler, escrever e saber fazer cálculos simples para exercerem actividade de feirante.

Casamentos precoces – tendência diferente das outras famílias; Há uma socialização dentro da própria família e comunidade, aspecto também distinto das

famílias contemporâneas; Defendem que basta saber ler e escrever por isso não investem numa escolaridade prolongada; As crianças adaptam-se ao ritmo dos adultos – as famílias contemporâneas condicionam o seu

funcionamento ao ritmo da escola – não se impõe uma disciplina rígida (a criança acorda espontâneamente);

A questão das desigualdades de género bastante demarcadas: as raparigas não podem prosseguir os estudos como os rapazes, a questão mais importante é o casamento;

Há uma diferença de papéis entre homem e mulher é muito notória nestas famílias, mas já se começa a valorizar o seu trabalho (trabalhar nas feiras). O papel da mulher é importante mas é diferente (as mulheres é que podem dissolver o casamento).

Estes são sinais que evidenciam que estas famílias são fechadas e opõem-se à mudança.

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1.1 Uma ideia que se tem é que a etnia cigana é muito fechada. Em que medida os dados da investigação apoiam e/ou contrariam essa ideia?

• As relações de sociabilidade são intra-étnicas – mesmo no casamento verificamos isso, pois referem que embora não sejam racistas, contudo não se equaciona casar com uma pessoa de outra porque é outra “cabeça”;

• É um grupo muito impermeável à mudança, mas consideramos alguns sinais de abertura: “Eu não casava com nenhum cigano atrasado”, “Alguém tem de quebrar isto” - relativamente aos casamentos combinados, a escola surge valorizada para alguns, existem mulheres que falam na questão;

2. Como se caracteriza a relação da etnia cigana com a escola? Que razões são apontadas pelos actores sociais que interagem com este grupo e que razões sociológicas são apontadas no texto?

A relação da etnia cigana com a escoa é distante que depois se materializa no elevado insucesso escolar, elevado absentismo, elevado abandono escolar e analfabetismo;

Existem países que criam escolas especiais para crianças de etnia cigana; Os actores sociais (professores) atribuem razões do género: são malandros, mentirosos; Transformam a diferença cultural em deficiência; Em termos sociológicos:

1. As crianças estão numa relação de subordinação em relação à escola;2. Os próprios padrões culturais e o facto de as meninas terem que casar cedo têm que

abandonar a escola;3. A distância cultural evidenciada na escola: a cultura dos ciganos é uma cultura

ágrafa, não letrada e virada para o pensamento concreto, enquanto a cultura da escola é uma cultura letrada virada para o pensamento erudito.

4. Os próprios ciganos não acreditam nas suas capacidades para prosseguir os estudos: essa imagem é interiorizada por eles próprios mas é também transmitida pelos outros (pela escola, professores)

3. A etnia cigana é alvo de estereótipos por parte de pessoas pertencentes a outros grupos.

• “Esta etnia tem comportamentos delinquentes”;• “São malandros, mentirosos”;• Há uma culpabilização do grupo.

3.1.Que limites pode ter a intervenção de profissionais que têm um conhecimento estereotipado sobre este grupo? Exemplifique com o texto.

Os professores e mesmo os assistentes sociais têm de lutar contra estereótipos;

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3.2. Conhecem-se situações similares com outros grupos?

• Raça Negra;• Brasileiras;• Rabo-de-Peixe.

4. Se tivessem que esboçar um projecto de intervenção com o objectivo de promover a integração da etnia cigana na escola, o que levaria em linha de conta tendo em consideração o texto.

Tentar valorizar a imagem da etnia cigana; Trabalhar com as famílias; A autora encontra casos em que há valorização da escola a par de uma etnicidade forte

(esquema) – para haver proximidade teríamos que esperar uma mudança cultural, no entanto há casos da valorização da escola e a valorização da cultura – integrar na escola valorizando a cultura cigana.

2010-04-27

6. Família, trabalho e classes sociais

Conteúdos 6.1.Unidade familiar e classes sociais;6.2.Trabalho familiar, trabalho doméstico e trabalho profissional: articulações e conflitos;6.3.Trabalho e economia familiares e relação entre gerações: prestação de cuidados e redistribuição.

Aula:• Os autores clássicos (Durkheim, Parsons – a verdadeira família tradicional em sociologia é a

família interior ao século XVIII) salientam o facto da família deixar de ser unidade de produção para ser a família conjugal (amor, casamento por livre escolha). Parsons destaca a função expressiva da família (a família serve para socializar as crianças);

• A partir dos anos 70, começa-se a desenvolver estudos sobre a dimensão económica da família – associado a isto estão as teorias feministas (a família era um local de trabalho e de

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exploração da mulher);

6.1. Unidade familiar e classes sociais♦ (1) Família enquanto espaço de produção de desigualdades;♦ (2) A questão da definição da classe social da família.

Aula:• A família foi caracterizada pelas correntes clássicas da sociologia da família como um família

que se privatiza, que se sentimentaliza-se;• A família torna-se um refúgio de afectividade e isto faz-nos pensar que a família é um espaço

fechado – apesar da pessoas quererem preservar a sua privacidade há sempre uma relação desta com o exterior (escola, trabalho, etc).

1. Família como espaço de desigualdades

Parsons referia em 1955 (Esteves, 1955, p.59)

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Aula:• A família perdeu muitas funções;• O envolvimento é individual – terá havido uma redução da intervenção da família enquanto

colectivo.

Bravermann (1974):(cit. por Esteves, 1955, pp 59-60)

Aula:• Perspectiva marxista muito semelhante à funcionalista;

A família com o desenvolvimento da industrialização

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Propostas que destacam as interdependências entre a família e estruturas sociais:

Daniel Bertaux

Aula: Segundo este autor a família não existe. A família assume diversidade de formas que tem a ver

com a classe, com a posição da estrutura social; Salienta dimensão colectiva da família.

Daniel Bertaux

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Aula:As famílias assumem-se como famílias de classe e que a posição na estrutura social é determinante para o posicionamento, educação e mobilidade dos seus membros;A família é condicionada pela estrutura social.

Aula:A família será um reflexo da estrutura de desigualdades;As desigualdades existem num nível macro e a família é um reflexo destas estruturas sociais (Bertaux);Por outro lado, a família é vista também como um espaço gerador de desigualdades -> a família tem uma autonomia relativa face ao exterior.

A família com espaço gerador de desigualdades

Aula:• As famílias não são um todo homogéneo. No seu interior existem sub-grupos e relações de

poder. São desenvolvidas estratégias que não vão beneficiar todos da mesma forma;• Dentro de cada família, os diferentes membros não são tratados da mesma forma (pela

distribuição de recursos, oportunidades) -> é por isso que a família se torna num espaço de

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desigualdades.

Aula:• A ideia de que a família não está isolada da sociedade;• A família é um espaço de afectividade, mas também contribui para a produção de

desigualdades. A redistribuição de recursos não é feita de forma homogénea (há um investimento diferente na fratria).

2. Família como espaço de desigualdades

A definição da classe social pode ser feito a nível individual ou a partir do grupo doméstico.

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• Problema quando vamos definir a classe social a partir do indivíduo: muitos indivíduos podem não ter profissão e a profissão é um dos principais indicadores para se definir a classe social de um indivíduo;

• Definindo a classe social a partir da família, enquadramos estes indivíduos que não têm profissão.

• A família é um espaço de estratégias de distribuição de recursos -> contribui para a reprodução das desigualdades.

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• Apenas se tinha em conta a posição do chefe de família -> é uma visão limitada porque existem outras pessoas na família que também são activas;

CSP: Categoria Sócio-Profissional

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• O trabalho doméstico é apenas uma dimensão do trabalho familiar;• Trabalho de relação: interacções dentro e fora da família.

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• As mulheres tendem a dar prioridade à família.

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