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Volume 18 número 2 Julho 2000 ISSN 0102-0536 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000. SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL Presidente Rumy Goto UNESP-Botucatu Vice-Presidente Nilton Rocha Leal UENF-CCTA 1º Secretário Arlete Marchi T. de Melo IAC 2º Secretário Ingrid B. I. Barros UFRGS-Porto Alegre 1º Tesoureiro Marcelo Pavan UNESP-Botucatu 2º Tesoureiro Osmar Alves Carrijo Embrapa Hortaliças COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Presidente Leonardo de Britto Giordano Embrapa Hortaliças Editores Antônio T. Amaral Jr. UENF-CCTA Antônio Williams Moita Embrapa Hortaliças Arminda Moreira Carvalho Embrapa Cerrado Carlos Alberto Lopes Embrapa Hortaliças César Augusto B. P. Pinto UFLA Danilo F. Silva F o INPA Eduardo S. G. Mizubuti UFV Francisco Reifschneider Embrapa Hortaliças João Carlos Athanázio UEL José Geraldo Eugênio de França IPA José Magno Q. Luz UFU Marcelo Mancuso da Cunha IICA-MI Maria Aparecida N. Sediyama EPAMIG Maria do Carmo Vieira UFMS - CEUD - DCA Maria Urbana C. Nunes Embrapa Tabuleiros Costeiros Mirtes Freitas Lima Embrapa Semi-Árido Paulo César R. Fontes UFV Renato Fernando Amabile Embrapa Cerrados Sieglinde Brune Embrapa Hortaliças CORRESPONDÊNCIA: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70.359-970 - Brasília-DF Tel.: (061) 385-9000/9051 Fax: (061) 556-5744 www.hortbras.com.br [email protected] SUMÁRIO CARTA DO EDITOR 87 ARTIGO CONVIDADO Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças. N. J. Vilela; M. M. C. Macedo. 88 Mercados diferenciados de hortaliças. A. H. Junqueira; R. F. A. Luengo. 95 PESQUISA Crescimento e produção de alcalóides totais de quebra-pedra em função da calagem e da adubação nitrogenada. L. Becker; A. E. Furtini Neto; J. E. B.P. Pinto; M. G. Cardoso; C. D. Santos; J. M. Barbosa; O. A. Lameira; E. J. A. Santiago. 100 Contêiner refrigerado: uma alternativa para a conservação pós-colheita de alface tipo americano. B. J. Teruel; L. A. B. Cortez; L. C. Neves Filho. 104 Avaliação de linhagens de melão. W. O. Paiva; H. Sabry Neto; A. G. S. Lopes. 109 Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo. C. A. V. Rossetto; E. C. Viegas; J. Nakagawa. 114 Comportamento de genótipos de cenoura para verão em localidades com diferentes etiologias da queima-das-folhas. C. A. Lopes; P. S. Ritschel; J. V. Vieira; D. B. Lima. 119 Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duas épocas de plantio, no vale do São Francisco. J. E. Flori; G. M. Resende. 122 PÁGINA DO HORTICULTOR Produtividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco. G. M. Resende; N. D. Costa. 126 Seletividade de inseticidas a predadores de pulgões. M. R. Gusmão; M. Picanço; G. L. D. Leite; M. F. Moura. 130 Adubação orgânica na produção de pimentão. L. G. Ribeiro; J. C. Lopes; S. Martins Filho; S. S. Ramalho. 134 INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE Avaliação de cultivares e híbridos de repolho no Estado do Acre. F. J. S. Lédo; J. A. Sousa; M. R. Silva. 138 Eficiência de diferentes bicos e volumes de calda no controle de tripes em cebola. P. A. S. Gonçalves; L. A. Palladini. 141 Avaliação de genótipos de batata para resistência ao vírus Y. J. Daniels. 145 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 148

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Volume 18 número 2

Julho 2000ISSN 0102-0536

Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

SOCIEDADE DEOLERICULTURA DO BRASILPresidenteRumy GotoUNESP-BotucatuVice-PresidenteNilton Rocha LealUENF-CCTA1º Secretário

Arlete Marchi T. de MeloIAC

2º SecretárioIngrid B. I. BarrosUFRGS-Porto Alegre

1º TesoureiroMarcelo PavanUNESP-Botucatu

2º TesoureiroOsmar Alves CarrijoEmbrapa Hortaliças

COMISSÃO EDITORIAL D AHORTICULTURA BRASILEIRAPresidente

Leonardo de Britto GiordanoEmbrapa Hortaliças

EditoresAntônio T. Amaral Jr.UENF-CCTAAntônio Williams MoitaEmbrapa HortaliçasArminda Moreira CarvalhoEmbrapa CerradoCarlos Alberto LopesEmbrapa HortaliçasCésar Augusto B. P. PintoUFLADanilo F. Silva Fo

INPAEduardo S. G. MizubutiUFVFrancisco ReifschneiderEmbrapa HortaliçasJoão Carlos AthanázioUELJosé Geraldo Eugênio de FrançaIPAJosé Magno Q. LuzUFUMarcelo Mancuso da CunhaIICA-MIMaria Aparecida N. SediyamaEPAMIGMaria do Carmo VieiraUFMS - CEUD - DCAMaria Urbana C. NunesEmbrapa Tabuleiros CosteirosMirtes Freitas LimaEmbrapa Semi-ÁridoPaulo César R. FontesUFVRenato Fernando AmabileEmbrapa CerradosSieglinde BruneEmbrapa Hortaliças

CORRESPONDÊNCIA:Horticultura BrasileiraCaixa Postal 19070.359-970 - Brasília-DFTel.: (061) 385-9000/9051Fax: (061) [email protected]

SUMÁRIO

CARTA DO EDITOR87

ARTIGO CONVIDADOFluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças.N. J. Vilela; M. M. C. Macedo. 88Mercados diferenciados de hortaliças.A. H. Junqueira; R. F. A. Luengo. 95

PESQUISACrescimento e produção de alcalóides totais de quebra-pedra em função da calagem e daadubação nitrogenada.L. Becker; A. E. Furtini Neto; J. E. B.P. Pinto; M. G. Cardoso; C. D. Santos;J. M. Barbosa; O. A. Lameira; E. J. A. Santiago. 100Contêiner refrigerado: uma alternativa para a conservação pós-colheita de alface tipo americano.B. J. Teruel; L. A. B. Cortez; L. C. Neves Filho. 104Avaliação de linhagens de melão.W. O. Paiva; H. Sabry Neto; A. G. S. Lopes. 109Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo.C. A. V. Rossetto; E. C. Viegas; J. Nakagawa. 114Comportamento de genótipos de cenoura para verão em localidades com diferentes etiologiasda queima-das-folhas.C. A. Lopes; P. S. Ritschel; J. V. Vieira; D. B. Lima. 119Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duas épocas de plantio,no vale do São Francisco.J. E. Flori; G. M. Resende. 122

PÁGINA DO HORTICULTORProdutividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco.G. M. Resende; N. D. Costa. 126Seletividade de inseticidas a predadores de pulgões.M. R. Gusmão; M. Picanço; G. L. D. Leite; M. F. Moura. 130Adubação orgânica na produção de pimentão.L. G. Ribeiro; J. C. Lopes; S. Martins Filho; S. S. Ramalho. 134

INSUMOS E CULTIVARES EM TESTEAvaliação de cultivares e híbridos de repolho no Estado do Acre.F. J. S. Lédo; J. A. Sousa; M. R. Silva. 138Eficiência de diferentes bicos e volumes de calda no controle de tripes em cebola.P. A. S. Gonçalves; L. A. Palladini. 141Avaliação de genótipos de batata para resistência ao vírus Y.J. Daniels. 145

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO148

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Journal of the BrazilianSociety for Vegetable Science

Volume 18 number 2July 2000

ISSN 0102-0536

Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

CONTENT

LETTER FROM THE EDITOR87

INVITED ARTICLEMarket power in agribusiness: the case of vegetable crops.N. J. Vilela; M. M. C. Macedo. 88Value addition to vegetable products.A. H. Junqueira; R. F. A. Luengo. 95

RESEARCHGrowth and production of total alkaloids of ‘quebra-pedra’ as a result of the use of limeand nitrogen fertilization.L. Becker; A. E. Furtini Neto; J. E. B.P. Pinto; M. G. Cardoso; C. D. Santos;J. M. Barbosa; O. A. Lameira; E. J. A. Santiago. 100Refrigerated container: an alternative for postharvest conservation.B. J. Teruel; L. A. B. Cortez; L. C. Neves Filho. 104Evaluation of melon inbred lines for plant and fruit characteristics.W. O. Paiva; H. S. Neto; A. G. Sabry Lopes. 109Stachytarpheta cayennesis seeds germination.C. A. V. Rossetto; E. C. Viegas; J. Nakagawa. 114Behavior of summer carrot genotypes in fields with different etiologies of the leafblight complex.C. A. Lopes; P. S. Ritschel; J. V. Vieira; D. B. Lima. 119Productivity of heat tolerant potato genotypes in two planting times in São FranciscoValley, Northeast of Brazil.J. E. Flori; G. M. Resende. 122

GROWER'S PAGEYield of processing tomato cultivars in the São Francisco Valley.G. M. Resende; N. D. Costa. 126Selectivity of insecticides to predators of aphids.M. R. Gusmão; M. Picanço; G. L. D. Leite; M. F. Moura. 130Organic fertilization in the sweet pepper production.L. G. Ribeiro; J. C. Lopes; S. Martins Filho; S. S. Ramalho. 134

PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TESTEvaluation of cabbage cultivars and hybrids in the state of Acre.F. J. S. Lédo; J. A. Sousa; M. R. Silva. 138Efficiency of different nozzle types and volume of the insecticide solution in thecontrol of thrips in onions.P. A. S. Gonçalves; L. A. Palladini. 141Evaluation of potato genotypes for resistance to Potato virus Y.J. Daniels. 145

INSTRUCTIONS TO AUTHORS148

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87Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 1999.

carta do editor

É com grande satisfação que estamos disponibilizando para os nossos caros leitores um novonúmero da Horticultura Brasileira (HB), com as inovações que julgamos ser indispensáveis paraa evolução de nosso principal veículo de comunicação científica.

A capa desta edição retrata a trajetória histórica das hortaliças no Brasil, desde a chegada daesquadra de Cabral até o presente, na concepção artística do pintor paraibano Flávio Tavares.Agradecemos ao artista pela execução desta obra, especialmente elaborada para ser capa de nos-sa revista.

Continuamos com o firme propósito de sempre publicar a HB em dia mantendo boa qualidadetécnica e bom padrão gráfico. Em virtude do aumento do número de trabalhos e da diversidadedas áreas de conhecimento, procedemos nova ampliação da Comissão Editorial da revista, cujacomposição encontra-se na página de rosto deste número.

Para atendermos inúmeras solicitações de nosso público, tanto no Brasil como no exterior, ecom a finalidade de ampliarmos nosso universo de clientes, a Comissão Editorial resolveu aceitarpublicações também redigidas em espanhol ou inglês. Acreditamos que esta seja uma das inova-ções mais importantes de nossa revista, principalmente se levarmos em conta a posição geográfi-ca do Brasil, tendo como vizinhos países de língua espanhola, e a importância da língua inglesana divulgação da ciência e da tecnologia.

Neste ano, em que estamos realizando nosso 40º Congresso Brasileiro de Olericultura, aprovei-tamos a oportunidade para enviar a todos os nossos sócios e leitores nossas cordiais saudações.

Leonardo de B. GiordanoPresidente da Comissão Editorial

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88 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

artigo convidadoVILELA, N.J.; MACEDO, M.M.C. Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças. Horticultura brasileira, Brasília, v. 18, n. 2, p. 88-94, julho 2.000.

Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças.Nirlene J. Vilela1/; Manoel M. C. Macedo2/

1/Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília - DF. E-mail: [email protected] 2/Embrapa Sede, C. Postal 040315,70.770-901 Brasília - DF. e-mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho procura abordar alguns desafios da competitividadena atual conjuntura do agronegócio. O agronegócio refere-se a umsistema empresarial, que congrega amplos processos de estratégias,com vistas à maximização de lucro. Nos últimos anos tem-se regis-trado um amplo movimento de reestruturação do agronegócio mun-dial, impulsionado principalmente pelos avanços tecnológicos nasdiferentes áreas do conhecimento O poder de persuasão social dascomunicações, ao afetar o comportamento dos consumidores, in-duz, como conseqüência, mudanças de hábitos, gerando preferên-cias para maior consumo de determinados produtos. As campanhasevidenciando os riscos de saúde causados por determinado produto,tem o poder de afetar economicamente toda a cadeia produtiva. Poroutro lado, as divulgações de pesquisas universitárias sobre o valornutricional das hortaliças na longevidade da vida humana e a capa-cidade que certas hortaliças têm de evitar doenças incuráveis, desta-cam esses alimentos como um dos mais importantes grupos de pro-dutos saudáveis, desfechando, assim, uma promoção muito favorá-vel para as hortaliças, extensivo ao conjunto da sua cadeia produti-va. As tendências dos mercados globalizados apontam perspectivasfavoráveis para as hortaliças exigindo que a uniformidade dessesprodutos seja cada vez mais obrigatória. Para atender os interessesdos consumidores (agentes ativos dos sistema) por novidades na áreaalimentar, o mercado de hortaliças vem se segmentando em diver-sos ramos, com destaque para as não tradicionais, minimamente pro-cessadas, supergeladas, congeladas, conservadas e orgânicas. Pro-curando agregar valor aos produtos, via ótima qualidade, diferencia-ção e utilização de embalagens atrativas, as atividades com hortali-ças tornam-se, desta forma, cada vez, mais dinâmicas e lucrativas.

Palavras-chave: agronegócio, hortaliças, segmentação demercados, tendências.

ABSTRACT

Market power in agribusiness: the case of vegetable crops.

This paper aims to explain some challenges in the currentsituation of the agribusiness. The agribusiness refers to theentrepreneurial system, that congregates broad strategies aimed atprofit maximization. In the last years, there has been a broadmovement to reorganize agribusiness encouraged by advances intechnology. On the one hand, the process of social persuasion hasaffected consumers and as a consequence has caused change of habitsin relation to the consumption of new products. The informationcampaigns show the potential health risks caused by certain foods,since new products could affect economically all the productivechain. On the other hand, the diffusion of scientific research aboutthe nutritional value of fruit and vegetables in relation to longevityand health hazards show the importance of consuming these productson a daily basis. The trends of the global market are to raise thestandard of vegetable crops products to attend the consumer interest.The vegetable crops products market should be segmented intovarious components such as: frozen, organic, fresh cut and processedproducts. This means adding value in the marketing and processingstage, which could become ever more profitable and dynamic.

Keywords: agribusiness, vegetable crops, market segmentation,trends.

(Aceito para publicação em 07 de abril de 2.000)

A agricultura tem sido historicamen-te um setor de grande influência

nos aspectos sociais, políticos e econô-micos do Brasil. Tradicionalmente, a ex-ploração extrativista do pau-brasil e aagricultura escravocrata, especialmen-te a produção de cana-de-açucar e café,definiram o padrão de sociedade. Aestrutura social estava constituída pelos“Barões do Café” e os “Coronéis do Nor-

deste” enquanto representantes das clas-ses dominantes, e os escravos como osexcluídos de qualquer ascensão social.

Por sua vez, a liberação da mão-de-obra escrava, obrigou a elite de então abuscar a sua substituição pelo trabalho imi-grante, e pelas primeiras iniciativas do usoainda que rudimentar da tecnologiaagropecuária. Isto significou a mudançada produção colonial para a produção ca-

pitalista. Os Imperiais Institutos de Pes-quisa Agropecuária instalados nas regiõesde café do Vale do Ribeira no Rio de Ja-neiro e de cana-de-açucar do Massapê doRecôncavo Baiano, foram os exemplosiniciais de sucesso.

O importante a considerar é que como termino da II Guerra Mundial, as in-venções científicas e tecnológicas1 sur-gem como um fator de desequilíbrio

1Ferrarotti, F. (1998) afirma que a ciência e a tecnologia derivada “sob a forma de conhecimento científico aplicado, desempenha diretamen-te um papel social e afeta a natureza quanto a distribuição de poder e recursos (e que) as sociedades avançadas de hoje caracterizam-se,portanto, pelo poder onipresente do conhecimento científico”.

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89Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

econômico, mormente no contexto dodesenvolvimento industrial. O Brasil,optou como estratégia de desenvolvi-mento, pelo processo conhecido como omodelo de substituição de importações.

Organizações de fomento, de pesqui-sa e de crédito à produção agropecuáriaforam criadas, embora o processo pro-dutivo continuasse focado nas mercado-rias de exportação e no grande latifún-dio. O importante era aumentar a pro-dução e a produtividade dascommodities a partir do uso de pacotestecnológicos, baseados em materiaisgeneticamente melhorados e mais pro-dutivos pelo uso intensivo de fertilizan-tes químicos, agrotóxicos, e irrigação.Em verdade, isto significou uma novaestratégia da acumulação de capital en-tre a agricultura e a industria. ParaGorender (1994), na produção capita-lista, a agricultura, não é somente agri-cultura, ela é também indústria, a exem-plo das indústrias textil, química e de aço.

Na perspectiva da chamada moder-nização da agricultura nos anos setenta,consequência da ideologia da Revolu-ção Verde, a agricultura foi incorporadapela lógica do processo industrial, co-mercial e financeiro em curso no Bra-sil, expresso nos chamados Planos Na-cionais de Desenvolvimento (Mueller,1988). Para Graziano da Silva (1988),isto significou a transformação da prá-tica natural de produção agropecuáriapara o chamado complexo agroindustrial(CAI), mais recentemente identificadocomo o conjunto das atividades doagronegócio (Brasil, 1998). Adotando amesma ótica, Furtuoso et al.; (1999),mostram a importância econômica docomplexo agroindustrial brasileiro, res-pondendo por cerca de 32% do ProdutoInterno Bruto (PIB) brasileiro.

É neste sentido que este texto foi ela-borado com vistas à posicionar o temada reestruturação e do fluxo de poderdo agronegócio. Nesse aspecto, o arti-go objetiva responder a seguinte ques-tão: quais são os desafios dacompetitividade na atual conjunturamundial de produção e mercado?

Características do agronegócio

O agronegócio refere-se à um siste-ma empresarial. Assim entendido comotodos os agentes que estão produzindopara o mercado, ou desenvolvendo qual-

quer empreendimento com vistas àmaximização de lucro, no âmbito do sis-tema agroalimentar.

Na atual conjuntura do agronegócio,à montante do setor produtivo situam-se os componentes de suprimento eapoio (fornecedores de insumos, máqui-nas e equipamentos) e aportes de fato-res tradicionais de produção (capital emão-de-obra). Nos componentes situa-dos à jusante do setor produtivo estãoas empresas processadoras e a rede dedistribuição representada pelos atacadis-tas e varejistas. No componente finalestão os consumidores, como agentesativos do sistema agroalimentar.

Em uma outra interpretação, o com-plexo agroindustrial é composto de qua-tro segmentos: a parte do CAI, anteriorà agropecuária, que expressa o conjun-to de setores que produzem insumosadquiridos pelos produtores rurais, de-nominada indústria para a agricultura;a agropecuária propriamente dita; porsua vez, a parte que responde peloarmazenamento, processamento e dis-tribuição da produção rural no mercadoé formada pelos segmentos denomina-dos de indústria de base agrícola e dedistribuição final (Furtuoso et al.; 1999).

No âmbito do setor produtivo, cons-tata-se a persistente presença da agricul-tura de subsistência, cujos agentes sãoexcluídos de qualquer estratégia de po-lítica pública. Isto é, na lógica produ-tivista, a agricultura de subsistência nãose constitui, em um tipo de atividadecom o nível de eficiência suficiente parase manter no sistema. Por outro lado, oextrato denominado agricultura famili-ar, que tem como característica princi-pal a capacidade de absorção de pelomenos 50% de trabalho da família ten-de a se reforçar e conquistar maior es-paço no quadro da agricultura brasi-leira.

Estratégias do agronegócio

O agronegócio congrega amplosprocessos de estratégias organizacionaispara buscar a maximização de lucro.Dentre esses processos, ressalta-se aestratégia de integração vertical para trásque agrega os fornecedores de produtosintermediários (produtores).

Normalmente, as relações entre pro-dutores e indústrias se formalizam pormeio de contratos de fornecimento ex-

clusivo, que são os instrumentos paraassegurar o abastecimento de matéria-prima, na quantidade, preços e padrõesde qualidade exigidos, dentro de prazoscombinados. Além disso, a imposiçãode um padrão tecnológico mais avança-do é estabelecido nas cláusulascontratuais formalmente acordadas en-tre os agentes transformadores e os pro-dutores. Aqui, apresenta-se a estruturado Estado, seja pela oferta de tecnologia,crédito, ou de outros mecanismos deincentivo ao fortalecimento dos agen-tes do agronegócio.

Esse tipo de integração, ainda quepossa desmotivar a prática de algumasatividades agrícolas, a vinculação exclu-siva ao agente processador, pela produ-ção contratada, possibilita a geração deemprego e renda para o produtor, elimi-nando os riscos de preços e instabilida-de de mercado. Portanto, a indústria ofe-rece certos benefícios aparentes para osprodutores, embora não assumindo osriscos da produção.

É importante acrescentar que, geral-mente, o produtor não dispõe dos mo-dernos mecanismos de comunicaçãovirtual, presentes no contexto de umaeconomia globalizada, o que possibilitaminimizar os riscos dos agentes dasprocessadoras no circuito doagronegócio.

Outro tipo comum de integração noagronegócio, é a vertical para frente.Esse processo ocorre, quando uma em-presa se une ao capital de outras pormeio de processos de associação de ca-pitais, franquias e contratos de parce-ria, com objetivo de reestruturar-se paraminimizar custos e maximizar lucros,promovendo deste modo, uma maiorconcentração do capital.

A reestruturação do agronegócio

Como mostrado inicialmente, aolongo da história do sistemaagroalimentar brasileiro, em seu primei-ro momento, o poder estava no campo.Após a segunda guerra mundial o poderfoi exercido pela indústria. Nos últimosanos, ou em seu terceiro momento, opoder e a liderança migraramgradativamente para o segmento de dis-tribuição, onde os consumidores passa-ram a representar os agentes econômi-cos ativos do processo, sendo o avançodas tecnologias de comunicação e

Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças.

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90 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

marketing, os principais veículos deconvencimento e de decisão.

Nos últimos anos, registra-se umamplo movimento de reestruturação doagronegócio mundial sedimentado prin-cipalmente nos impactos das tecnologiasnas diferentes áreas, com vistas à buscaconstante de competitividade. Nesseaspecto, a intensificação do processoocorreu a partir da década de 70, moti-vada pela modernização da agricultura emaiores incentivos à indústria, que de-sencadeou a concentração de negóciosem todos os componentes do sistema dealimentos, bebidas e fibras, tanto à mon-tante como à jusante do setor produtivo.

As alterações nos hábitos alimenta-res, gostos e preferências dos consumi-dores, no estilo de vida e a valorizaçãoeconômica do trabalho da mulher, fo-ram fenômenos sociais que produziramforte impacto no agronegócio, abrindoespaço para ampla recomposição doportfólio dos produtos. A diferenciaçãopor meio dos aspectos qualitativos, abusca de conveniência, a valorização dasaúde, da vitalidade e da individualida-de e mais recentemente a valorização docomércio ético das mercadorias, foramaspectos de natureza social que tambémtiveram influência decisiva nos movi-mentos da reestruturação do sistemaagroalimentar.

Os efeitos desses fenômenos refle-tiram-se na esfera econômica pela in-tensa competição por maiores fatias demercado entre as empresas; menor ci-clo de produtos; profusão contínua denovos lançamentos; transporte e emba-lagem; regulação institucional crescen-te do mercado; novos modos de comu-nicação com o consumidor final; regrasde mercado estabelecidas pelo consumi-dor final culminando com o fortaleci-mento do setor de distribuição.

O foco sobre o setor de distribuição

A agricultura continua sendo o ele-mento central do agronegócio, por ser afonte primária das mercadorias geradasno sistema agroalimentar. No entanto,o poder exercido pelo setor de distribui-ção sobre os setores de produção e deprocessamento resulta de vários fatorese circunstancias diversas, dentre essasvalem destacar que ao longo da histó-ria, o varejista sempre esteve próximodo consumidor final. A partir da explo-

são dos supermercados, a relação pes-soal consumidor varejista foi substituí-da pelo auto-serviço.

Atualmente, a massa de informaçõespermitida pela leitura dos códigos debarra aplicadas nas embalagens dasmercadorias está dando às organizaçõesde varejo o poder de estar dentro do ne-gócio alimentar, facilitando o acesso ainformações privilegiadas, antes dosdemais agregados do agronegócio. Ade-mais, ressalta-se a importância das leise das organizações de defesa do consu-midor, o que implica em cuidados noprocessamento, qualidade, preço e iden-tidade das mercadorias.

O adequado processamento e a aná-lise dos dados sobre o produto, capta-dos pelos códigos de barra permitem aovarejista mapear o comportamento doconsumidor e montar cenáriosprospectivos quanto à evolução da de-manda final. Desta forma, o varejo temo poder de identificar com antecedên-cia fenômenos como a decadência deprodutos, substituição de um produtopor outro similar ou substituição de pre-ço, ou modificações na fidelidade doconsumidor a determinada marca. Emoutras palavras, busca-se identificar asmudanças no comportamento do consu-midor, induzidas por promoções positi-vas ou negativas sobre o produto.

É importante observar, que em umaeconomia globalizada, as informaçõesescritas e faladas instantaneamente fluem,de diversas partes do mundo, por meiodos canais de comunicação (jornais, re-vistas, rádios, televisão, internet), comforte poder de induzir mudanças nocomportamento dos consumidores.

As campanhas evidenciando os ris-cos de saúde causados por determinadoproduto, tem o poder de afetar econo-micamente toda a cadeia produtiva. Poroutro lado, as divulgações de pesquisasuniversitárias sobre o valor nutricionaldas hortaliças na longevidade da vidahumana e a capacidade que certas hor-taliças têm, de evitar doenças até entãoincuráveis, como o câncer. Outras infor-mações positivas vinculadas à mídia,destacando as hortaliças como um dosmais importantes grupos de produtossaudáveis, têm promovido ummarketing indireto muito favorável paraesses alimentos, extensivo ao conjuntoda sua cadeia produtiva.

O poder de persuasão social das co-municações, ao afetar o comportamen-to dos consumidores, induz, como con-seqüência, mudanças de hábitos, geran-do preferências para maior consumo dedeterminados produtos. O maior consu-mo, por sua vez, causa o impulso nademanda de mercado pelo produto.

A projeção da demanda, exige aampliação da oferta, que por sua vezarrasta a produção primária, cada vezmais especializada. Enfim, os efeitossociais da informação, determinam aformação de tendências que vão fechar,ou abrir perspectivas favoráveis de mer-cado para determinado produto.

O controle de informações da redevarejista permite um gerenciamentopara trás, no sentido da reordenação domix de produtos, a partir das modifica-ções da demanda. Nessa perspectiva,torna-se necessária a coordenação dosinstrumentos de mercado, para reduziros estoques (na indústria, no atacado eno varejo) e multiplicar o giro dasmercadorias, que exige de alguns itens,especial atenção.

As relações comerciais entre osagentes de produção e distribuição sãomarcadas por grande disputa de mar-gem, em visão negocial de curto prazo.Nessa disputa, as evidências apontam osgrandes varejistas como os detentoresde maior poder de negociação. No Bra-sil, os supermercados, respondem por,aproximadamente, 85% dos alimentosadquiridos pela população (Wedekin &Neves,1995).

A grande concorrência entre as ca-deias de varejo é pela possibilidade decaptar maior parcela da renda globalgerada pelo negócio de alimentos. Nes-sa situação, a imagem dos produtos,traduzidas pela excelente qualidade éum atributo exigível. A marca própriado produtor na embalagem do seu pro-duto denota a reputação (ética, honesti-dade, transparência) servindo para re-forço da imagem do produto na mentedo consumidor.

Empresas, países, blocos econômi-cos e regiões travam impiedosas bata-lhas de competitividade, objetivandobaratear o preço e aprimorar a qualida-de das mercadorias. Nessa batalha mui-tas empresas e muitos empregos sãoexcluídos, principalmente as pequenas

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empresas e os trabalhadores menos qua-lificados.

O enfoque da competitividade doagronegócio no contexto daglobalização, das mudanças e de turbu-lências, é mais amplo do que o dos con-ceitos tradicionais. Uma empresa tem deser competitiva dentro do seu sistema eeste, por sua vez, tem de ser eficiente-mente coordenado, para que as mudan-ças no ambiente sejam imediatamenterepassadas de um lado para o outro dosistema, de forma a promover sua adap-tação à nova realidade.

O sistema de distribuição de deter-minado produto concorre em três esfe-ras principais: com os produtos substi-tutos; com os sistemas localizados emoutras regiões do País e com os siste-mas centrados em outros países.

A informação deve fluir rapidamenteentre os elos do sistema, pois é na velo-cidade das transformações que os agen-tes do agronegócio se adaptam a umanova tendência, oferecendo antes dosconcorrentes, o produto desejado peloconsumidor. Assim, será medida acompetitividade final.

A abordagem da competitividade écomplexa quando tratada em nívelsistêmico. Daí decorre a importância dadistribuição como centro gerador de in-formações para o sistema. Além da com-petição com outros sistemas tem-se acompetição entre as empresas do mes-mo ramo.

A visão de competitividade é muitoampla e envolve as chamadas relaçõesde conflito e de cooperação. Agentes dedentro do sistema cooperam entre siquando a questão é competir com ou-tros sistemas, mas conflitam quando acompetição é interna ao sistema(Drucker,1995).

A implementação de estratégias nocampo do mercado globalizado é peçafundamental da competitividade. Nes-se aspecto, o planejamento estratégicoe operacional das empresas deve apoiar-se no seguinte tripé: orientação pelomercado, orientação pela tecnologia eorientação por processos.

Entende-se por orientação pelo mer-cado que, no panorama do agronegócio,os agentes devem prestar atenção àsvariadas taxas de expansão dos diver-sos segmentos de mercado, a exemplo

dos ramos estabilizados (massas e lati-cínios) descendentes (café e fumo) eascendentes ( carnes brancas, frutas ehortaliças).

A orientação pela tecnologia podeser exemplificada pelos avanços da pes-quisa e desenvolvimento de produtos.No processo de desenvolvimentotecnológico repousam as maiores opor-tunidades para o aumento da qualidadee redução de custos dos produtos doagronegócio.

Os avanços tecnológicos seguem-seno sentido de obter maior diferenciaçãode produtos com atributos de excelentequalidade, permitindo amplamaximização de lucro via valor agrega-do. Produtos de baixa especificaçãotecnológica não tem chances de ser com-petitivos no mercado.

Na questão da orientação por pro-cessos, a gestão deixa de ser determina-da pela ênfase hierárquica, vertical efuncional e passa para uma abordagemhorizontal, com equipesmultidisciplinares atuando ao longo dociclo do produto e da atividade. No âm-bito das empresas, em um primeiro ins-tante, uma empresa inovadora desenvol-ve e lança aos consumidores um produ-to diferenciado, com componente maiorde valor agregado. Outros seguidores,atraídos pela maximização de lucros,vão entrar no negócio. A permanênciadas empresas no mercado vai dependersempre da busca da ampliação, da dife-renciação do produto e das alternativasque agreguem maior valor, prevalecen-do a transição para um mix superior deprodutos.

Fatores críticos do agronegócio

A gestão dos elos do sistema de ali-mentos é de fundamental importânciapara o sucesso dos empreendimentos.Nesse sentido, os fatores críticos essen-ciais levados em conta no agronegóciosão os sinais da demanda final, o ajus-tamento tecnológico e os custos do pro-cesso inteiro.

A expansão dos mercados resulta deampla combinação de fatores econômi-cos (renda, elasticidade-renda da de-manda, elasticidade-preço), fatoresdemográficos, como taxa de crescimen-to e estrutura etária da população, com-posição da família, padrões de consu-mo e fatores socioculturais.

Não há um consumidor médio. Asegmentação de mercado está, cada vezmais, criando oportunidades para pro-dutos dirigidos aos consumidores derenda mais elevada. Desta forma, todosos segmentos do agronegócio devemmontar verdadeiros radares sobre as ten-dências do mercado, para identificarquais os atributos dos bens que temmaior valor sob a ótica do consumidorfinal, para aproveitar as reais oportuni-dades de mercado. (Wedekin & Ne-ves,1995).

No que se refere ao impacto na es-trutura de distribuição, sobressai-se opapel das tecnologias de informação,como aliadas na busca de maximizaçãode lucro, possibilitando a combinaçãodos fatores de decisão na área gerencial.Nesse sentido, os impactos são transpa-rentes na estrutura da distribuição, princi-palmente quanto à agilidade de obtençãoe troca de dados e à redução de custo.

Observa-se que os impactos noagronegócio ocorrem para frente, emdireção aos consumidores e para trás,rumo às unidades produtoras e interna-mente nos processos de gestão. Destaforma os impactos para frente se apoiamnos recursos da informática, códigos debarras, cartões, qualidade, permitindo aovarejista, momento a momento, um re-trato das vendas e do comportamentodos consumidores. Possibilitam tambémo acompanhamento histórico dos pro-dutos, com relação a sazonalidade, efei-to de promoções, previsão de demandafutura e outras. Os impactos para trásocorrem em direção à industria deprocessamento, de transformação e daprodução primária, facilitando o contro-le integrado da qualidade e maior renta-bilidade por linha de produto.

No processo de gestão, a competi-ção agressiva do mercado exige produ-tos de qualidade e de baixo custo, sen-do importante, a gestão dos custos doprocesso inteiro. Nesse ponto, os agen-tes tem se preocupado com um aspectoessencial que é a parceria para agrega-ção de valor (PAV) com todos os agen-tes envolvidos no fluxo do produto e daatividade. No processo PAV cada agen-te do sistema depende do sucesso dooutro, devendo ser explorado o poten-cial estratégico da economia de escala eda economia de escopo. O PAV tem sido

Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças.

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92 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

usado como uma unidade de negócioscompetitivos.

Na maioria das empresas ainda pre-domina a visão de que custo + lucro =preço. Entretanto, nos mercados com-petitivos, as empresas do sistema ali-mentar são forçadas a praticar outro tipode equação: preço - lucro = custo, ouseja o custo passa a ser guiado pelo pre-ço. O preço é definido pelo mercado,sendo aquele que o consumidor está dis-posto a pagar, tendo em vista o valor queele percebe do produto. Assim o custoacaba sendo o resíduo.

No caso de produtos olerícolas, éfácil visualizar a importância do concei-to de PAV, pois são produtos de elevadaelasticidade-renda da demanda, ou sejaum aumento no poder de compra dapopulação desencadeia imediatamenteum crescimento mais do que proporcio-nal da demanda.

Nessa perspectiva, os supermerca-dos vem ampliando o espaço desses pro-dutos, tendo em vista a oportunidade deatrair maior parcela de mercado.

A tendência de aumento contínuo dademanda por frutas, legumes e verdu-ras estão fazendo com que a uniformi-dade seja cada vez mais obrigatória.Esse tipo de coordenação para trás temlevado os varejistas, no caso os super-mercados a se relacionarem diretamen-te com os produtores. Atualmente, maisde 90% dos legumes e das verduras pro-cessadas que chegam ao mercado pas-sam por trabalho de coordenação ante-rior do sistema. O esquema de coorde-nação do sistema agroalimentar é mos-trado na figura 1.

NOVAS TENDÊNCIAS DOCONSUMO ALIMENTAR

No Brasil, apesar da enormedisparidade na distribuição da renda e amarginalização de alguns segmentossociais, excluídos de uma alimentaçãoadequada, ainda existe uma minoria dapopulação com níveis de renda e de con-sumo iguais aos das sociedades desen-volvidas. No aspecto da questão alimen-tar, a renda da população ainda consti-tui um dos aspectos fundamentais naaquisição dos alimentos. Entretanto, nosúltimos anos, as tendências de consu-mo tem seguido aspectos como preocu-

pação com qualidade de vida implican-do maior consciência e atuação com re-lação à saúde, beleza, bem-estar elongevidade; aumento da média de vidada população e consequentemente maiorconsumo dos alimentos adequados à ter-ceira idade; avanços da medicina desen-volvendo uma demanda por produtospara alimentação via enteral (maior su-primento de frutas verduras e legu-mes); maior acesso às informações glo-bais pelas classes de renda mais baixa;personalização do consumo, levando àpotencialização da exploração econômi-ca de nichos de mercado e exigência pelapopulação de produtos oriundos de sis-temas éticos de produção (rejeitam-se aexploração infantil, o mau trato aos ani-mais e a exploração irresponsável dosrecursos naturais e da biodiversidadeestratégica, dentre outros).

Nesse contexto, Junqueira, (1998)ressalta que as principais tendências deconsumo, impostas ao sistema doagronegócio são: 1) tendências quan-to ao tipo de alimentos: a) opção peloconsumo de proteínas vegetais sobre asanimais. Nesse aspecto, nota-se queempresas tradicionais no ramo cárneo,vem diversificando suas atividades, paraaproveitar as oportunidades de merca-do. Como exemplo, a Sadia e a Perdi-gão, respectivamente, com introduçãodos nuggets de legumes e hortaliças con-geladas (brócolos, couve-flor, vagem eseleta de legumes); b) crescimento doconsumo de carnes brancas sobre asvermelhas; c) crescimento do consumode frutas, legumes e verduras in naturae processadas. Valorizam-se asaudabilidade, o frescor e os processosnaturais de produção (com insumos or-gânicos e sem pesticidas); d) decrésci-mo do consumo de alimentos menossaudáveis como o açúcar, café, sal e deoutros produtos considerados prejudiciaisà saúde, como o fumo e os artificial-mente produzidos; 2) tendências quan-to à composição da dieta: maior con-sumo de produtos dietéticos,emagrecedores, ricos em fibras e semcolesterol. Também é apontada uma cla-ra tendência de aumento das comidaspreparadas, a exemplo de alimentosprontos ou pré-cozidos.

O consumidor admite perfeitamen-te em sua dieta, a comida preparada,

desde que tenha sido elaborada com ele-mentos naturais reconhecíveis e identi-ficados. Exige-se cada vez mais quali-dade e preservação dos ingredientesnaturais. O importante, é verificar queisto, não seja entendido somente comoproduto in natura, aquele recém-colhi-do, mas sim o alimento adequadamentetratado, com embalagens, data de vali-dade ou de colheita, perfeitamenteidentificadas. Outrossim, observa-se ocrescimento da preferência por dietavegetariana, como estilo de vida, refor-çada por efeitos – demonstração; 3) ten-dências quanto à forma de apresen-tação e preparo dos alimentos: nota-se que o consumidor, busca sempre aaquisição de alimentos pela aparência,especialmente, cor, tamanho e embala-gem. Assim, com maior freqüência, nasdecisões de escolha, são observadas asseguintes atitudes: busca crescente porprodutos minimamente processados,higienizados, preparados, congelados,implicando em menor tempo de dedi-cação e preparo no âmbito domiciliar;procura por embalagens de menores ta-manhos, mais adequadas às tendênciasde diminuição no tamanho das famílias.Cada vez mais são valorizadas as em-balagens descartáveis e recicláveis;os consumidores demandam, cada vezmais, os alimentos, observando a quali-dade e durabilidade, no sentido de racio-nalizar perdas e diminuir a periodicida-de de compras e, consideram as infor-mações contidas nas etiquetas, como o

Consumidor

⇓⇓

Varejista

⇓⇓

Atacadista

⇓⇓

Indústria de Alimentos

⇓⇓

Processador Primário

⇓⇓

Produtor Rural

Figura 1. Esquema de Coordenação do Sis-tema Agroalimentar

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93Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

expoente da qualidade exigida do pro-duto; 4) tendências quanto aos locaisde compra e de consumo: afora as ten-dências identificadas quanto à origem,qualidade e apresentação dos alimentos,atualmente, apresenta-se como impor-tante no processo de distribuição ecomercialização dos alimentos, os as-pectos relacionados ao local de ofertadesses alimentos, destacando-se os se-guintes condicionantes: aumento da par-ticipação das refeições tomadas fora dodomicílio, a exemplo do crescimentodos restaurantes do tipo auto-atendimen-to e, crescimento da participação decompras por meio de equipamentos maismodernos, como serviços de entrega àdomicílio, compra por meio de paga-mentos eletrônicos, dentre outros; 5)tendências quanto a reorganização doespaço e do ambiente doméstico. Aestabilidade econômica e a crescenteabsorção do trabalho feminino pelomercado, estão entre os principais fato-res responsáveis nas transformações nocontexto da alimentação das famíliasbrasileiras, destacando-se nesse sentidoas seguintes tendências: aumento doarmazenamento doméstico de alimen-tos e também dos produtos complemen-tares e cultura de congelar e/ou comprade produtos já congelados facilita o atodiário de preparo de refeições.

No Brasil essas tendências variamde acordo com as diferenças de ordemeconômica, social e cultural. Contudoprojeção de um aumento significativono consumo personalizado e numa con-centração gradual e permanente de ven-das é situada em um amplo intervalo deconfiança.

SEGMENTAÇÃO DO MERCA-DO E SEUS REFLEXOS SO-

BRE O AGRONEGÓCIO.

As tendências dos mercadosglobalizados exigem permanentereconversão das atividades produtivase de suporte à produção agropecuária.Nesse sentido, a pesquisa pública e pri-vada, permeia os componentes do siste-ma, ajustando-se dinamicamente, comobjetivos, não só de aumentar a produ-tividade, mas também de incorporar, aosprodutos, os atributos superiores de qua-lidade e diferenciação, com vistas a con-

ferir maior competitividade à produçãointerna.

Observa-se que o mercado das hor-taliças, vem segmentando-se em diver-sos ramos: a) hortaliças não tradicio-nais: implicam no crescente interessedos consumidores por novidades na áreaalimentar para consumo in natura, ouseja, por produtos diferenciados quemuitas vezes não estão ligados a espé-cies de hortaliças desconhecidas, masapenas à variação de tamanho ou da cor.Como exemplo, temos os pimentõescoloridos, a cebola echalote, o alfaceLolo red, e a cenoura Baby carrot e flo-res comestíveis (capuxinha). b)supergelados e congelados: constitui-se no setor de alimentação que maiscresce no mundo. Estima-se no Brasil,que o faturamento com esse tipo de ali-mento tenha atingido a 100 milhões dedólares e chegou a crescer 253% nosúltimos anos (Junqueira,1998). c) mi-nimamente processadas: possuem atri-butos de conveniência e de qualidade deprodutos frescos, envolve praticidade eredução de desperdícios. Esses produ-tos vêm obtendo índices significativosde crescimento de mercado. d) enlata-das e em conservas: apresentando umexpressivo crescimento, este ramo daprodução tem o tomate na liderança, masa expansão para outras hortaliças vemsendo destacável nos últimos anos, aexemplo do milho verde, ervilhas, ce-bola, pepinos, cenouras, dentre outras.e) desidratadas e liofilizadas: utiliza-das principalmente na indústria alimen-tícia, por meio de diferentes formascomo os corantes naturais de massas,iogurtes e sorvetes (beterraba, espina-fre, tomate e cenoura), sopas e purês,esse tipo de produto vem sendo utiliza-do com intensidade na indústria cosmé-tica. A reestruturação desse segmentolevou ao fornecimento de alimentosdesidatrados e liofilizados, não só parao setor governamental, o seu principalcliente, mas também para o consumi-dor final. Ainda assim o consumo aindaé bastante baixo no Brasil, entretanto,evidencia grande potencial de expansão.f) hortaliças orgânicas: conhecida econsolidada nos países desenvolvidos,como a Alemanha e os Estados Unidos,a agricultura orgânica no Brasil, ganhouforça a partir de 1960, como respostaaos questionamentos sobre o rumo da

agricultura moderna, baseada no usointensivo de insumos químicos, para aqual tem sido indicadas correlações ne-gativas de defensivos químicos para asaúde humana. O mercado para produ-tos orgânicos atinge cotações muitoatraentes, chegando a atingir valores30% maiores que as dos produtos con-vencionais. (Junqueira, 1998). g) hor-taliças irradiadas: embora ainda pou-co divulgado no Brasil, esse processode conservação, tem sido recomendadopela FAO. Nele, os alimentos são sub-metidos à ionização (raios X e raios Y).Alguns benefícios são a inibição debrotamento e amadurecimento precoce.A adoção dessa tecnologia tem sido re-comendada para mercados dinâmicos depaíses de clima tropical, como o Brasil.

Considerações finais

No ambiente globalizado, os merca-dos exigem reconversão contínua dossistemas produtivos, incluindo maiorespecialização de mão-de-obra, ajusta-mento das atividades de pesquisa e dosetor de produção de insumos.

As atividades produtivas, necessa-riamente têm que assegurar níveis óti-mos de eficiência, associados aos cons-tantes ganhos de competitividade em qua-lidade, diferenciação, preços e custos.

A lógica do agronegócio não buscacomo prioridade os pontos presentes emagendas sociais, éticas e políticas, em-bora o mercado consumidor torne-seseletivo e exigente em variáveis, geral-mente, ausentes em funçõesmicroeconômicas de produção.

Os fatores e/ou as atividades queapresentarem baixa eficiência, são au-tomaticamente excluídos do sistema.Como também são excluídos aquelesprodutos enquadrados em certa formade decadência.

No âmbito da complexa aparelha-gem gerencial, o processo deseletividade para exclusão fica por con-ta dos mercados, que agora, já não bus-cam maiores quantidades disponíveis,mas sim a maximização de lucro, pormeio de agregação de valor ao produto,via ótima qualidade e diferenciação.

Observa-se que desde a indústria deinsumos primários, até a rede de distri-buição, a cadeia produtiva de hortaliçasvem se ajustando de forma dinâmica aonovo contexto de geração de tecnologias

Fluxo de poder no agronegócio: o caso das hortaliças.

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94 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

de produção, de colheita, de embala-gens, de pós-colheita (manuseio, trans-porte e conservação de produtos), comvistas ao atendimento adequado dasnovas exigências do mercado. O objeti-vo é promover a substituição de impor-tações, por meio da busca de maiorcompetitividade relativa aos produtosestrangeiros.

Para atender aos interesses dos con-sumidores por novidades na área ali-mentar, o mercado de hortaliças vem sesegmentando em diversos ramos, comdestaque para as não tradicionais, mini-mamente processadas, supergeladas,congeladas, conservas e orgânicas.

Na busca crescente da satisfação doconsumidor, todos os demais agentesenvolvidos no agronegócio de hortali-ças se beneficiam, procurando agregar,cada vez mais, valores aos produtos (in-corporando atributos de qualidade, di-ferenciação e utilização de embalagensmais adequadas às características doproduto e mais atrativas para os consu-midores) tornando, desta forma, as ati-vidades de hortaliças mais dinâmicas,eficientes e lucrativas.

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Cristovam Buarque daUNB agradecemos pela semente queoriginou este trabalho.

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N.J.Vilela & M.M.C. Macedo

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95Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

Assumir a fase de comercializaçãoé uma maneira decisiva do agricul-

tor aumentar sua rentabilidade econô-mica e a própria sobrevivência enquan-to produtor. O desconhecimento do mer-cado pode causar uma remuneração in-ferior ou mesmo prejuízo total por oca-sião da venda. Cabe ao produtor inves-tir para deixar de ser produtor rural etornar-se empresário agrícola. Entretan-to, assumir a fase de comercializaçãosozinho é muito difícil, porque exige co-nhecimento de mercado, ações de inves-timento e negociações constantes e pro-fissionais. A melhor maneira de ter su-cesso também na fase de comercializaçãoé através da associação de produtorescom interesse comum em associaçõesou cooperativas e passar a atuar comogrupo.

No presente trabalho são discutidasformas de agregar valor e serviço, econsequentemente aumentar a rentabi-lidade econômica, às hortaliças comênfase em atender a demanda do mer-cado crescente e cada vez mais interes-sado em alimentação saudável e práti-ca. Convém registrar a participação cres-cente das mulheres no mercado de tra-balho fora de casa também, sobrandomenos tempo para o trabalho dentro decasa, onde alimentação tem participa-ção grande, e daí a necessidade de ali-mentos de preparo mais rápido, aliada

JUNQUEIRA, A.H.; LUENGO, R.F.A. Mercados diferenciados de hortaliças. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 2, p. 95-99, julho 2000.

Mercados diferenciados de hortaliças.Antônio Hélio Junqueira1; Rita de Fátima Alves Luengo2

1/CEAGESP, Av. Dr. Gastão Vidigal, 1.946, Vila Leopoldina, 05.316-900 – São Paulo-SP; 2/Embrapa Hortaliças, Caixa postal 218,70.359-970, Brasília-DF. e-mail: [email protected].

RESUMO

Conhecimento insuficiente das práticas de mercado pode sercausa de uma remuneração inferior ou mesmo causa de prejuízototal por ocasião da venda. No presente texto são discutidas formasde agregar conveniência e serviço, e consequentemente aumentar arentabilidade econômica, às hortaliças com ênfase em atender à de-manda do mercado crescente e cada vez mais interessado em ali-mentação saudável e prática. Serão analisados diferentes segmentosde mercado para hortaliças, a saber: hortaliças não-convencionais,hortaliças supergeladas e congeladas, hortaliças minimamente pro-cessadas, hortaliças enlatadas e em conservas, hortaliças desidrata-das e liofilizadas e hortaliças orgânicas.

Palavras-chave: comercialização, distribuição, agregação de valor.

ABSTRACT

Value addition to vegetable products.

Poor profits and even complete production loss can be causedby insufficient market understanding. In the present article someways to add convenience and service are discussed with the aim ofcreating opportunities to increase profitability to the horticulturalindustry that is attending a demand of consumers with an increasinglevel of dietary healthy awareness. We will consider non-traditionalvegetables, frozen vegetables, fresh-cut vegetables, cannedvegetables, liofilizied vegetables and organic vegetables.

Keywords: commercialization, distribution, value-added products.

(Aceito para publicação em 11 de maio de 2.000)

ao aumento do número de refeições rea-lizadas fora de casa. Assim, serão dis-cutidos nichos de mercados de hortali-ças não convencionais, hortaliçassupergeladas e congeladas, hortaliçasminimamente processadas, hortaliçasenlatadas e em conservas, hortaliçasdesidratadas e liofilizadas e hortaliçasorgânicas.

Segmento das hortaliças não-con-vencionais.

Existe hoje um crescente interessedo consumidor por novidades na áreaalimentar, o que influencia também omercado das hortaliças destinadas aoconsumo in natura. Tal tendência fazcom que uma grande quantidade deespécies ou novas cultivares de hortali-ças de origem européia ou norte-ameri-cana seja cultivada comercialmente nointerior de São Paulo e em outros Esta-dos, impulsionando, em decorrência,todo o mercado nacional de sementes dehortaliças.

A diferenciação dessas hortaliçasmuitas vezes não está associada à intro-dução de uma espécie completamentedesconhecida, mas apenas a variaçõesquanto aos padrões tradicionais de co-loração (alfaces e quiabos roxos; berin-jela branca; abobrinha amarela e pimen-tões coloridos) ou de tamanho, como éo caso da mini-cenoura (baby carrot);agrião (cressonete); cebola (echalottes);alface (Lolo Red), entre outras.

As principais hortaliças exóticas deintrodução recente no Brasil são: asendíveas (chicóreas amargo-adocica-das); o mache, (alface de folhas peque-nas e arredondadas); o radicchio,(chicórea vermelho-arroxeada); aescarola frisé, (escarola crespa e clarano centro da cabeça) e a alface ‘red fire’(alface de folhas crespas eavermelhadas).

Se, por um lado, tais hortaliças exó-ticas apresentam notável crescimento noconsumo brasileiro, tanto através de im-portações, quanto de produção interna, omesmo não se verifica em relação às hor-taliças nacionais de consumo não con-vencional, como o caruru, a taioba e agroselheira. Nestes casos, embora as prin-cipais instituições de pesquisa venhamse dedicando crescentemente ao estudoe à divulgação das potencialidades ali-mentares e nutricionais desses alimentos,não se logrou qualquer resposta signifi-cativa na sua demanda interna. Sua im-portância deverá, ainda nos próximosanos, se manter circunscrita aos âmbitosdos programas regionais de educação eassistência a populações carentes.

Segmento das hortaliçassupergeladas e congeladas.

No mundo todo, o mercado de co-mida congelada é o setor de alimenta-ção que mais cresce, apontando umataxa de incremento de 25% ao ano, nosúltimos cinco anos.

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96 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

Também no Brasil, este setor, de for-ma geral, foi um dos que mais se bene-ficiou, no ramo alimentício, com a esta-bilidade econômica recente do País,contabilizando índices anuais globais decrescimento, em 1994, de 9% em volu-me e de 1,7% em faturamento. Para asmaiores empresas do ramo, desde a im-plantação do Plano Real, o crescimentotem sido da ordem de 25% a 30% aoano. Estima-se que o faturamento inter-no anual com supergelados já atinja acifra de US$ 100 milhões. Nos últimosquatro anos, a categoria de congeladoschegou a crescer 253%, segundo rela-tório do Instituto Nielsen.

No Brasil, recentemente foram ob-servadas algumas diferenças de tendên-cia em relação aos mercados de paísesdesenvolvidos. Em primeiro lugar, nota-se uma busca de incremento na partici-pação relativa da oferta dos vegetaiscongelados diretamente ao varejo, em-bora o consumo institucional ainda sejapredominante. Um forte indicador des-ta tendência foi o crescimento observa-do na oferta média de espaços degôndolas de supergelados nos supermer-cados, a qual aumentou de 1 a 3 metros,em 1993, para 15 metros lineares em1995, mantendo tendência crescente nosanos seguintes.

Ainda assim, o consumo interno ébaixo frente aos padrões internacionais,evidenciando um notável potencial deexpansão nos próximos anos. O consu-mo anual global de hortaliças congela-das, incluindo as batatas, é da ordem de4,3 milhões de toneladas nos EUA; 1,2milhões de toneladas na União Européiae de 80,2 mil toneladas no Japão. NoBrasil, esses índices são, ainda,inexpressivos. Nos mercados desenvol-vidos, como o dos EUA, a participaçãodas hortaliças no total de produtos con-gelados oferecidos ao consumo repre-senta 1/3, constituindo-se no principalgrupo de alimentos ofertados. Naquelepaís, a distribuição desses produtos sedá preferencialmente a nível do consu-mo institucional (76%), sendo o totaldestinado ao varejo de apenas 24%.

Também na Europa, o consumo devegetais congelados (incluindo os pro-dutos da batata) é o mais representativoentre todos os grupos de alimentos con-gelados (41% do total). Um dado inte-

ressante na distribuição desses alimen-tos na União Européia é a existência deum grande número de empresas atuan-tes na entrega domiciliar (cerca de 320,concentradas basicamente na França,Alemanha e Holanda).

No Brasil, o consumo no segmentode vegetais supergelados e congeladospode ser considerado recente. Entre asiniciativas pioneiras, destacam-se as rea-lizadas pela Cooperativa Agrícola deCotia, em 1987, através da colocação debatatas pré-fritas nos supermercados(com a marca Bint). A partir dos anos90, com o aumento da abertura comer-cial e, mais recentemente, com a con-quista da estabilidade econômica é quecomeçou a surgir um maior número deiniciativas setoriais, através de instala-ção de fábricas nacionais e de escritó-rios de representação comercial de em-presas mundiais de porte no ramo.

O consumo interno crescente é in-fluenciado por fatores como o aumentodo poder aquisitivo, a demanda por pro-dutos mais práticos e pela ampliação donúmero de lojas de conveniência, quese encaixam no perfil de um varejomoderno, onde os supergelados são itensrepresentativos. A expansão das com-pras de eletrodomésticos, como freezerse fornos microondas também consti-tuem-se em fortes indicadores de ten-dências do consumo desses alimentos.Contudo, esta demanda está, ainda, emfase de consolidação, sofrendo grandeinfluência da oferta e dos preços do pro-duto in natura e prevalecendo um rela-tivo desconhecimento no trato, conser-vação e preparo daqueles alimentos.

A certeza do crescimento - lento,porém consistente - do segmento noPaís, principalmente através da obser-vação das relações custo x benefício dosprodutos pelos consumidores, fica evi-dente pelo interesse demonstrado pelasmaiores empresas mundiais no merca-do brasileiro.

Empresas nacionais de grande tra-dição no mercado de perecíveis cárneostambém passaram recentemente a seinteressarem e a entrarem definitiva-mente na exploração dos vegetaissupergelados e congelados.

Por se tratar de um setor ainda emfase de consolidação, não se observamestratégias concorrenciais marcantes

entre empresas, sendo o mercado com-posto por um market share ainda osci-lante e indefinido.

No Brasil, como na maioria dos paí-ses, a liderança do grupo é conferida àbatata (diversas variedades, finalidades,cortes e preparos). Contudo, astecnologias disponíveis estão sendo ra-pidamente incorporadas na oferta deoutros produtos como brócolos, milhodoce, ervilha, cenoura, mandioca, va-gem e outras hortaliças.

Segmento das hortaliças minima-mente processadas.

As hortaliças minimamente proces-sadas são produtos que detêm os atribu-tos da conveniência e da qualidade dosalimentos frescos. O propósito do seufornecimento é o de disponibilizar umproduto pronto para usar, que não re-queira nenhuma preparação posteriorsignificativa por parte do consumidor,em termos de seleção, limpeza, lavagemou cortes. Outra grande vantagem des-ses itens é a redução praticamente totaldos desperdícios.

Nos EUA, de acordo com o ProduceMarketing Association, as vendas devegetais minimamente processados al-cançaram US$ 7,9 bilhões em 1997, pre-vendo-se um crescimento para US$ 19bilhões até 2003. Estima-se que estesprodutos já representem 10% de todasas vendas de frutas e hortaliças. Entreesses alimentos, as baby carrots são ositens mais vendidos, seguidos porbrócolos e couve-flor. As saladas mis-tas pré-embaladas já respondem porvendas de US$ 1,5 bilhões/ano, mos-trando índices anuais de crescimento de28% nos últimos anos. As vendas dire-tamente ao varejo representam 40% dasvendas totais no segmento, sendo queas hortaliças representam 75% da ofer-ta e as frutas apenas 25%.

Esses vegetais, assim processados,são, em geral, mais perecíveis que asmatérias-primas das quais procederam.As causas principais do surgimento des-ses problemas são: a) incidência de maio-res taxas de respiração dos alimentos,levando a uma intensificação das rea-ções químicas associadas à sua deterio-ração; b) maior proliferação bacteriana,e c) intensificação da evaporação deágua e a consequente aceleração domurchamento das hortaliças (DiPentima et al., 1996).

A.H. Junqueira & R.F.A Luengo

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Os avanços mundialmente observa-dos no desenvolvimento das embalagensflexíveis para o acondicionamento des-ses alimentos, principalmente no tocanteà oferta de uma extensa gama de filmesplásticos com diferentes graus depermeabilidade gasosa, muito tem con-tribuído para aumentar o interesse poresse mercado, induzindo a uma crescen-te adoção de práticas de conservação dashortaliças em atmosferas modificadasdentro das embalagens.

A embalagem de atmosfera modifi-cada é uma técnica de preservação dealimentos cada vez mais popular, ondea composição da atmosfera ao redor doalimento é diferente da composição nor-mal do ar. Em alguns aspectos, a emba-lagem à vácuo é semelhante à da atmos-fera modificada, sendo a principal dife-rença o fato de que, nestas últimas, exis-te a remoção da maior parte do ar dedentro da embalagem, sem a substitui-ção por uma outra mistura gasosa. Namodificação da atmosfera, a mistura degases deve ser escolhida conforme asnecessidades específicas do produto ali-mentício. Na maioria das aplicações,esta mistura é uma combinação dedióxido de carbono; oxigênio e nitrogê-nio (Omati & Godoy, 1996).

No desenvolvimento dos vegetaisminimamente processados tem predo-minado um alto grau de empirismo porparte dos fornecedores, havendo umgrande desconhecimento do comporta-mento de variáveis importantes como operíodo de vida útil das hortaliças e dascondições cuja alteração possa redun-dar no seu desejável prolongamento (DiPentima et al., 1996).

A observância de normas higiênico-sanitárias, a integridade da cadeia do friousada na distribuição desses alimentose a correta utilização dos filmes plásticos(adaptados às características intrínsecas decada hortaliça) são marcantes fatores dediferenciação da qualidade entre osvários fornecedores do mercado.

A tecnologia de embalagens comatmosfera modificada é uma das maisestimulantes e inovadoras concepçõespara o acondicionamento de alimentosda atualidade. O mercado mundial deconsumo desses alimentos tem eviden-ciado um elevado grau de crescimentodevido às vantagens e racionalidades

que oferecem tanto a indústrias de ali-mentos, quanto aos varejistas e aos con-sumidores finais. Embora tal tecnologiatenha sido desenvolvida inicialmentepara carnes vermelhas, é crescente o seuuso para diversos outros tipos de alimen-tos, entre os quais as hortaliças vêmnotavelmente se destacando.

O mercado brasileiro de embalagensde atmosfera modificada tem crescidosignificativamente nos últimos anos,tanto em quantidade de embalagens,quanto em diversidade de produtos em-balados com essa tecnologia. Além docrescimento da demanda de embalagensdesse tipo no mercado de varejo, elassão impulsionadas também pelas redesde fast food no país. Estas cadeias tra-zem padronizadas não apenas o menu eo layout das lojas, mas também astecnologias de conservação eparâmetros de qualidade das casas-ma-triz. Desta forma, a implantação de at-mosfera modificada como solução parao transporte de produtos resfriados dacentral de preparo até as diversas lojasda cadeia é tecnologia consolidada.

Nos últimos anos, tem havido umcrescimento significativo do mercado dealimentos resfriados na Europa. Esteaumento tem sido estimulado por umademanda crescente do consumo de ali-mentos de conveniência frescos e semconservantes. O Reino Unido lideramundialmente a expansão do mercadode alimentos resfriados, sendo que asgrandes redes varejistas daquele país –as mais concentradas do mundo – vêmdefinindo parâmetros que se traduzemna distribuição centralizada e na ima-gem de qualidade que percebem estarsendo reforçada por uma expansão dosetor de alimentos resfriados, principal-mente às custas da substituição dos itenscongelados.

No Brasil, algumas instituições,como o Instituto de Tecnologia de Ali-mentos, em São Paulo, Embrapa Horta-liças, Embrapa Agroindústria de Ali-mentos, Universidade Federal de Viço-sa, UNESP em Jaboticabal, vêm desen-volvendo projetos sobre hortaliças mi-nimamente processadas. Entre os aspec-tos fundamentais das pesquisas está oaumento do prazo de validade dessesalimentos para um período de 10 a 15dias, como já se verifica hoje nos EUA.

Entre as maiores dificuldades encontra-das para isso se destacam a utilizaçãode equipamentos e sanitizantes adequa-dos para a higienização; controle daqualidade da água empregada; reduçãodo tempo entre a colheita e oprocessamento e a manutenção da tem-peratura ideal em toda a cadeia, desde aprodução até a distribuição final.

Segmento das hortaliças enlatadase em conservas.

O processamento industrial de fru-tas e hortaliças, no país, respondeu por3,95% do faturamento total da indústriada alimentação, em 1995 (US$ 52,9 bi-lhões), mostrando um crescimento sig-nificativo em relação à participação deduas décadas anteriores (1975 = 2,53%).

A liderança absoluta do segmentoprocessador de hortaliças é conferido aotomate, cujos derivados compuseramum mercado estimado em US$ 682 mi-lhões, em 1998, com potencial para atin-gir vendas de US$ 800 milhões até oano 2000.

O consumo brasileiro de derivadosde tomate ainda é pequeno (1,9 kg percapita/ano), quando comparado ao pa-drão norte-americano (9,5 kg per capita/ano), ou mesmo ao da vizinha Argenti-na (4,0 kg per capita/ano).

Nas condições atuais de retraçãoeconômica do mercado brasileiro, ossegmentos com maior expectativa decrescimento são aqueles da linha de con-sumo mais popular como os extratos,purês e polpas. Uma das maiores evi-dências deste fato é o aumento do con-sumo de macarrão, produto alimentarbásico que impulsiona as vendas dessesalimentos. Já para os produtos da linhamais sofisticada e de maior valor unitá-rio, como os molhos prontos e Ketchup,a previsão é de estagnação, ou mesmo,de recuo de vendas.

Em termos de produção física, a in-dústria de derivados de tomate soma260/280 mil toneladas anuais.

Excetuando-se o tomate, para as de-mais hortaliças prevalece, ainda, o con-sumo in natura. A batata, tomada comoexemplo de comparação, tem um índi-ce de destinação industrial de apenascerca de 6,0% no Brasil, enquanto naHolanda chega a atingir 46%.

Um dos aspectos positivos eintegradores do segmento agroindustrial

Mercados diferenciados de hortaliças.

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na cadeia produtiva da olericultura é avocação para a contratualização diretada produção junto aos horticultores, di-minuindo riscos do mercado e induzin-do ao planejamento da produção, à re-dução de perdas, à padronização da qua-lidade e ao desenvolvimentotecnológico harmônico. Para os consu-midores, além da praticidade do produ-to oferecido, há uma maior garantia deregularidade no abastecimento durantetodo o ano, com uma conseqüente re-gularização dos preços, independente doefeito sazonal. Para o consumidor inter-mediário, representado pelo segmentoinstitucional, existem adicionalmente asvantagens logísticas decorrentes de me-nores necessidades de espaço para ma-nipulação e armazenamento de alimen-tos e menor utilização de mão-de-obra.

Segmento das hortaliças desidra-tadas e liofilizadas.

A desidratação é um dos métodosmais antigos de processamento de ali-mentos e tem como vantagem a conser-vação de características organolépticase dos valores energéticos dos alimen-tos. As hortaliças desidratadas estão sen-do utilizadas principalmente na indús-tria alimentícia, através de diferentesformas como corantes naturais de mas-sas, iogurtes e sorvetes (beterraba, es-pinafre, tomate e cenoura); condimen-tos/temperos em molhos, patês, queijosaerados, sopas, pães, tortas, biscoitos,recheios e embutidos (cebola, salsa,cebolinha, alho-porró, pimentão); purês,pães, sopas tortas, biscoitos e salgadi-nhos (batata e mandioquinha-salsa);cubos, flocos, ou pó em molhos, sopase acompanhamento de produtos cárneos(batata, cenoura, abobrinha, couve, re-polho, pimentão). Empresas que confec-cionam refeições coletivas são grandesconsumidores de hortaliças desidrata-das. Os principais produtos utilizadossão molho de tomate em pó, batata emflocos, sopas, caldos e molhos. Outrosconsumidores em potencial de vegetaisdesidratados são os laboratórios farma-cêuticos e as indústrias de cosméticos etambém programas institucionais de ali-mentação, como merendas escolares(Ribeiro, 1996).

Apesar do grande potencial das in-dústrias já instaladas no País, este temsido um mercado estável, com um con-

sumo anual da ordem de 1,3 mil tonela-das de hortaliças e frutas desidratadas,na sua maior parte destinada à fabrica-ção de sopas e de molhos. Há, contudo,uma expectativa de grande crescimentoneste mercado, até o final da década.Como indicador dessa tendência, obser-va-se que, no Brasil, o consumo de so-pas prontas cresceu 171% desde 1994,o que significa uma demanda anual por160 milhões de litros. Hoje, o mercadoglobal de refeições prontas e desidrata-das movimenta R$ 200 milhões a cadaano e deve crescer cerca de 15% em1999.

Até o início dos anos 90, as princi-pais indústrias do ramo trabalharamquase que exclusivamente com vendaspara o governo brasileiro, fornecendoprodutos direcionados para a merendaescolar. A reestruturação que se seguiu,levou-as à consolidação de novos cam-pos de atuação: institucional (vendaspara o setor público); consumidor final(varejo; desenvolvendo linhas própriasou fabricando diretamente com as mar-cas das principais redes de supermerca-dos); grandes consumidores (hospitais,hotéis, cozinhas industriais etc.) e indus-trial (fornecimento de matérias-primaspara outras indústrias).

No varejo, além da oferta crescentedas hortaliças desidratadas como com-ponentes de refeições semi-prontas (istoé, sopas e risotos), observa-se o aumen-to no volume, qualidade e formas deapresentação de diversos itens de utili-zação básica como tempero ou condi-mento de alimentos preparados domes-ticamente (salsa, cebola, alho, ervas aro-máticas diversas e cogumelos, entreoutros).

Segmento das hortaliças orgânicas.

A agricultura orgânica vem surgin-do e se consolidando, desde o início dadécada de 60, como resposta ao cres-cente questionamento dos rumos adqui-ridos pela agricultura moderna, para aqual são apontadas diversas correlaçõesnegativas, tais como nocividade à saú-de humana ocasionada por diversosinsumos químicos; eliminação de pre-dadores naturais, reduzindo abiodiversidade; desequilíbrionutricional e quebra da resistência dasplantas cultivadas; aumento da erosãodos solos e exclusão sócio-econômica

dos pequenos produtores, entre outrosaspectos (Harkaly, 1995).

A agricultura orgânica está dissemi-nada em todo o mundo, destacando-sea Europa, com cerca de 4 mil produto-res; os EUA, com outros 4 mil e 2,5 mildistribuídos entre outros países. O Es-tado de São Paulo é pioneiro nessa área,tendo a Associação de Agricultura Or-gânica (AAO) dado grande incentivo eatendido a diversos produtores quantoà orientação técnica e aocredenciamento de propriedades orgâ-nicas (Hamerschmidt, 1995).

O mercado para produtos orgânicos,que começa a ganhar corpo em algumascidades brasileiras, já é um fenômenoreconhecido e consolidado nos países doPrimeiro Mundo. Nos Estados Unidos,por exemplo, as vendas dessa categoriade produtos vêm registrando repetidastaxas de crescimento de 20% ao ano,com movimento de US$ 3,5 bilhões em1996. Na Alemanha, provavelmente omaior consumidor mundial de produtosorgânicos, eles já teriam quase 4% detodo o mercado de alimentos, devendochegar a 10% no ano 2.000. As boasperspectivas econômicas da agriculturaorgânica têm auxiliado na disseminaçãode suas técnicas e a conquistar maiorreconhecimento científico. Além disso,também motivou o estabelecimento decritérios de produção e de certificaçãopara esses artigos, cuja principal refe-rência mundial são as normas da Fede-ração Internacional de Movimentos deAgricultura Orgânica (IFOAM). Aemissão de certificados que garantem aorigem orgânica dos produtos não sófavorece os consumidores, como facili-ta as suas exportações.

No Brasil já existem entidades queemitem certificados orgânicos com basena regulamentação do IFOAM. Umadelas é o Instituto Biodinâmico, deBotucatu, que criou o seu selo em 1990.Em 1996, a AAO passou a emitir o seuselo de garantia. Os critérios para aemissão são basicamente os mesmos e,por isso, até já se pensa em unificá-los(Toledo, 1997).

A AAO nasceu em maio de 1989,tendo como objetivo defender e apoiara produção de alimentos de alto valornutritivo, por processos orgânicos. Em1990, a entidade iniciou um processo de

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estruturação de seu setor de normaliza-ção e credenciamento, visando à orga-nização de um grupo de produtores quepassaram a constituir a Feira do Produ-tor Orgânico.

No município de São Paulo, o co-mércio de hortaliças sem agrotóxicos jámovimenta anualmente mais de US$ 2milhões. Produtos orgânicos já são en-contrados nas grandes redes de super-mercados e, ainda, lojas independentesde porte médio. Há pouco mais de trêsanos atuando neste segmento, os super-mercados são responsáveis por pelomenos metade da sua comercializaçãoem São Paulo.

O mercado para os produtos orgâni-cos atinge cotações muito atraentes(chegando, em alguns casos, a represen-tar até 30% a mais que os preços obti-dos pelo equivalente produto convencio-nal) compensando, com boa margem,um eventual aumento de custos em fun-

ção de possíveis gastos com acertificação e de uma produtividademenor. Entretanto, ao contrário do quese acredita correntemente, o rendimen-to físico de uma lavoura orgânica podeser, em muitos casos, até maior do queo de uma lavoura onde se utilizeminsumos químicos (Víglio, 1996).

As limitações à expansão do consu-mo de produtos orgânicos esbarram emaspectos cruciais como a baixa durabi-lidade; aspecto ruim (produtos menores,manchados, com insetos etc.) e preçossobrevalorizados em relação aos produ-tos convencionais (Víglio, 1996).

LITERATURA CITADA

DI PENTIMA, J.H.; GUEMES, D.R.;PIROVANI, M.E.; PIAGENTINI, A.M.Estudio del comportamiento de vegetales listospara usar, envasados com diferentes láminasplásticas. La Alimentación Latinoamericana,n. 213, p. 46-50, 1996.

HAMERSCHMIDT, I. Perspectivas da agricultu-ra orgânica no mercado internacional. In:CONGRESSO BRASILEIRO DEOLERICULTURA, 35., 1995, Foz do Iguaçu,PR. Anais: Foz do Iguaçu: SOB, 1995. p. 44.

HARKALY A. Perspectivas da agricultura orgâ-nica no mercado internacional. In: CON-GRESSO BRASILEIRO DEOLERICULTURA, 35., 1995, Foz do Iguaçu,PR. Anais: Foz do Iguaçu: SOB, 1995. p. 47.

OMATI, C.; GODOY, R. O mercado de embala-gens de atmosfera modificada. Alimentos &Tecnologia, v. 11, n. 66, p. 16-17,1996.

RIBEIRO, C.S. C. Desidratação de hortaliçascomo alternativa de mercado. HorticulturaBrasileira, Brasília, v. 14, n. 2, 1996. Repor-tagem contra-capa.

TOLEDO, L.R. Hortaliças: endereço novo. Re-vista Globo Rural, São Paulo, v. 11, n. 138, p.49-52,1997.

VÍGLIO, E.C.B.L. Produtos orgânicos: uma ten-dência para o futuro? Agroanalysis , Rio deJaneiro, v. 16, n. 12, p. 8-11,1996.

Mercados diferenciados de hortaliças.

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pesquisa

Phyllanthus niruri L., popularmenteconhecida como quebra-pedra, é

uma espécie de porte erva, encontradana região amazônica e em algumas re-giões do litoral brasileiro. Nesta plantacom propriedades medicinais, foramidentificadas lignanas (Row et al., 1970;Rao & Bramley, 1971; Schneiders &Stevenson, 1982; Singh et al. , 1989;Huang et al ., 1992), compostosfenólicos (Ishimaru et al., 1992) e osalcalóides norsecurinine e ent-norsecirinine (Joshi et al., 1986). Estes

BECKER, L.; FURTINI NETO, A.E.; PINTO, J.E.B.P.; CARDOSO, M. G.; SANTOS, C.D.; BARBOSA, J.M.; LAMEIRA, O A.; SANTIAGO, E.J.A. Crescimen-to e produção de alcalóides totais de quebra-pedra em função da calagem e da adubação nitrogenada. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 2, p.100 - 104,julho 2000.

Crescimento e produção de alcalóides totais de quebra-pedra em funçãoda calagem e da adubação nitrogenada.Laura Becker1; Antônio E. Furtini Neto2; José Eduardo B.P. Pinto1; Maria das Graças Cardoso3; Custó-dio D. Santos3; Janaynna M. Barbosa1; Osmar A. Lameira4; Edson J. A. de Santiago4

1UFLA - Depto Agricultura, 2UFLA - Depto Ciências dos Solos, 3UFLA - Depto Química, C. Postal 37, 37.200-000 Lavras – MG;4Embrapa Amazônia Oriental, Belém - PA.

RESUMO

Foram cultivadas, em casa-de-vegetação, cinco plantas dePhyllanthus niruri L em vasos com volume de 3,4 dm3, tendo comosubstrato um Cambissolo Álico, com textura média, coletado nomunicípio de Nazareno - MG. As sementes de quebra-pedra foramoriundas de Belém – PA. Os tratamentos consistiram de cinco dosesde N (0, 30, 60, 100 e 150 mg/dm3) e o uso ou não de calcário, sendoque nos tratamentos com calcário visava-se a elevação do pH para6,0. O delineamento experimental foi inteiramente casualisado comseis repetições. As plantas foram colhidas aos oitenta dias de ciclo,quando foi avaliado o peso da matéria seca da parte aérea e da raiz eefetuadas as análises químicas e fitoquímicas da parte aérea das plan-tas. O quebra-pedra é uma espécie responsiva à calagem e à aduba-ção nitrogenada, apresentando na dose de nitrogênio de 77,81 mg/dm3 de solo o equivalente a 90% da produção máxima média (12,25g/vaso) de matéria seca total, quando na presença de calagem. Naausência de calagem a produção de matéria seca total decresce linear-mente (de 3,9 g/vaso a 2,0 g/vaso) com o aumento das doses de N. Oteor de P, S, Ca e Mg nas plantas foi maior nos tratamentos comcalagem, independente das doses de N. Na ausência de calagem, oconteúdo dos macronutrientes na matéria seca total foi menor emconseqüência da menor produção de matéria seca total. na presençade calagem. Na presença de calagem, observou-se aumento na ma-téria seca da parte aérea e na concentração de alcalóides à medidaque se aumentaram as doses de nitrogênio aplicadas. A máxima pro-dução de alcalóides totais foi de 0,676 mg/g de matéria seca total daparte aérea, que corresponde à dose de N equivalente a 90% paramáxima produção de matéria seca da parte aérea.

Palavras-chave: Phyllanthus niruri L, adubação, nutrição mineral.

ABSTRACT

Growth and production of total alkaloids of ‘quebra-pedra’as a result of the use of lime and nitrogen fertilization.

Five plants of Phyllanthus niruri L. were cultivated in a greenhousein 3.4 dm3 pots with Alic Cambisol (medium texture) as substrate.Soil samples were collected in Nazareno – MG and seeds from ‘que-bra-pedra’ were originated from Belém, Brazil. The treatmentsconsisted of five concentrations of N (0,30,60,100 and 150 mg/dm3 ofN), two levels of liming (with and without limestone, aiming at raisingthe pH to 6.0). The experimental design was completely randomizedwith 6 replications. Plants were harvested eighty days aftertransplanting. Root, stem and leaves dry matter production wereevaluated and chemical and phytochemical analysis of stems and leaveswere performed. ‘Quebra-pedra’ is a plant species responsive to limingand nitrogen fertilization showing, in the presence of liming, theequivalent to 90% of the maximum total dry matter yield (12.25 g/pot) for the nitrogen level of 77.81 mg/dm3 of soil. In the absence ofliming the total dry matter decreased linearly (from 2.0 g/pot to 3.9 g/pot) with an increase in doses of N. Higher contents of P, S, Ca, andMg were observed in plants from treatments with liming, independentlyof the doses of N used. In the absence of liming the content ofmacronutrients in the dry matter was small, as a consequence of asmaller production of dry matter. An increase in dry matter and totalalkaloids was observed when the dose of nitrogen was increased. Themaximum production of total alkaloids was of 0.676 mg of alkaloidper gram of stems and leaves dry matter that corresponds to the doseof N responsible for 90% of the maximum production dry matter.

Keywords: Phyllanthus niruri, mineral nutrition.

(Aceito para publicação em 04 de abril de 2.000)

compostos conferem atividadeshepatoprotetivas (Bhaumik & Sharma,1994), inibem a formação de vasosconstritores (Hussain et al., 1995), ini-bem o vírus de hepatite B em marmotae pato (Thyagarajan et al., 1988) e a li-gação entre o vírus HIV com a proteínaVER (Qian-Cutrone et al., 1996).

Os princípios ativos das plantas me-dicinais podem ser influenciados pelascondições ambientes, como fertilidadedo solo, pH, umidade, temperatura equalidade de luz. Em pH abaixo de 4,0,

algumas espécies de Phyllanthus nãosobreviveram mais que duas semanas(Unander & Blumberg, 1990).

Trabalhando com Lathyrustingitanus e Mimosa sp, Nowacki &Waller (1975), citados por Nowacki etal. (1976) sugeriram que com o aumen-to da adubação nitrogenada houve sín-tese desproporcional do aminoácidolisina, o qual uma vez acumulado tor-na-se tóxico, por isso essas espécies ati-vam o metabolismo dos alcalóides comoum tipo de adaptação. Ocorreu a con-

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versão de lisina em tingitanina e latirinaem Lathyrus tingitanus e em mimosinaem Mimosa sp. Por outro lado, em Atropabelladonna L, um aumento no suprimen-to de N promoveu maior acúmulo de pro-teínas e compostos nitrogenados nos te-cidos, enquanto os níveis de alcalóidesencontrados foram relativamente baixos,sugerindo portanto, não haver relaçãodireta entre alcalóides e proteínas(Schermeister et al., 1960).

O objetivo deste trabalho foi avaliaro crescimento e a produção das plantas,além do teor de alcalóides totais emquebra-pedra em resposta à calagem eadubação nitrogenada.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido emcasa de vegetação do Depto de Agri-cultura, da Universidade Federal deLavras. As plantas foram obtidas a par-tir da germinação de sementescoletadas em Belém – PA, em dezem-bro de 1995. Foram identificadas comosendo Phyllanthus niruri L. e umaamostra foi colocada sob nº ID 84/96,no Laboratório de Botânica-Herbáriona Embrapa Amazônia Oriental.

O semeio foi feito em sacos plásti-cos contendo solo de baixa fertilidadecom areia (2:1). Aos dez dias após aemergência foram transplantadas oitomudas com aproximadamente 5,0 cm dealtura para vasos com capacidade de 3,4dm3 de solo, e aos sete dias após o trans-

plante foi feito um desbaste, deixando-se cinco plantas/vaso. O substrato utili-zado foi um Cambissolo Álico, com tex-tura média, do município de Nazareno(MG), com as seguintes característicasquímicas: pH 4,7 (em água); 2,0 mg/dm3

P; 1,0 mmolc/dm3 K+; 8,0 mmol

c/dm3

Ca+; 2,0 mmolc/dm3 Mg+2 e 7,0 mmol

c/

dm3 de Al +3. Entre as característicastexturais encontrou-se 17 g/kg de maté-ria orgânica, 660 g/kg de areia e 170 g/kg de argila.

O experimento consistiu de cincodoses de N ( 0, 30, 60, 100 e 150 mg/dm3 ) e o uso ou não de calcário, visan-do à elevação do pH para 6,0, arranja-dos em fatorial 5x2, no delineamentoexperimental inteiramente casualizado,com seis repetições. Foram aplicadosCaCO

3 e MgCO

3 na forma de sais p.a.

na proporção 4:1 de Ca:Mg, sendo asquantidades definidas por meio de umacurva de incubação. Os vasos foram ir-rigados diariamente com águadeionizada e tinham sua umidade rea-justada a 60% do volume total de poros(VTP), que era monitorado por pesagensperiódicas. O ciclo da cultura foi de 80dias, sendo o final do ciclo indicado pelaqueda de folíolos. No momento da co-lheita, foram avaliados os pesos dasmatérias secas de partes aéreas e deraízes, além dos teores demacronutrientes e alcalóides totais damatéria seca da parte aérea das plantas.

As partes aéreas das plantas foramcolhidas cortando-se rente ao solo e

acondicionando-as em sacos de papel.As raízes foram cuidadosamente retira-das do solo, lavadas com águadeionizada e acondicionadas em sacosde papel. Todos os materiais foram le-vados à estufa com aeração forçada àtemperatura aproximada de 45ºC parasecagem até peso constante. A produ-ção de matéria seca total foi obtida dasoma da matéria seca das partes aérease de raízes.

Foram realizadas determinações deN, P, K, Ca, Mg e S na matéria seca daparte aérea das plantas, segundoMalavolta et al. (1997), sendo P deter-minado por colorimetria, Ca e Mg porespectrofotometria de absorção atômi-ca, K por fotometria de chama e S porturbidimetria. Os teores de N foram de-terminados pelo método semi-microKjeldahl.

A extração dos alcalóides totais foirealizada na matéria seca da parte aéreadas plantas, segundo metodologia defi-nida por Calixto et al. (1984), nas amos-tras dos tratamentos onde foi realizadacalagem, no laboratório do Dep. Quí-mica da UFLA. As análises deespectrofotometria de Infravermelho(IV) foram realizadas no laboratório doDepartamento de Química da UFMG,em Belo Horizonte. Posteriormente, asfrações obtidas das cromatografias fo-ram analisadas em espectrofotômetroem comprimento de ondas de 270 nm eos alcalóides totais foram quantificadosutilizando curva padrão. Os dados ava-liados foram submetidos à análise porregressão polinomial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A calagem e a adubação nitrogenadainfluenciaram no crescimento e desen-volvimento de quebra-pedra. A produ-ção da matéria seca total (Figura 1) emsolo sem calagem decresceu à medidaem que se aumentaram as doses de N,demonstrando a sensibilidade dessa es-pécie a solos ácidos e confirmando anecessidade de calagem para o cultivode quebra-pedra. As restrições ao cres-cimento do sistema radicular e da parteaérea, na ausência de calagem, prova-velmente devem ter resultado do fato deterem sido afetadas a divisão eelongação celular das regiõesmeristemáticas (Reding & Taylor,

Figura 1. Matéria seca total de plantas de quebra-pedra submetidas à adubação nitrogenada,na presença e ausência de calagem. Lavras, UFLA, 1997.

Crescimento e produção de alcalóides totais de quebra-pedra em função da calagem e da adubação nitrogenada.

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1989). Estudando os efeitos ambientaisno crescimento e produção de princípioativo de algumas espécies dePhyllanthus, Unander & Blumberg(1990) relataram que as plantas não so-breviveram mais que duas semanas a pHabaixo de 4,0.

Com calagem (Figura 1), a dose deN equivalente a 90% da produção máxi-ma média (12,25 g/vaso) de matéria secatotal foi de 77,81 mg/dm3 de solo. Tra-balhando com Phyllanthus stipulatus, emexperimento de campo, Silva Filho et al.(1996) encontraram o máximo de maté-ria seca de 546,0 g/m2 de solo, adubandocom 10 kg/m2 de composto orgânico. Em

estudos semelhantes com Menthaarvensis, Kothari et al. (1987) encontra-ram 159,9 kg/ha de N como a dose demáxima eficiência econômica de nitro-gênio para o genótipo MA2.

As plantas tiveram maior teor dosmacronutrientes P, S, Ca e Mg nos tra-tamentos onde realizou-se a calagem(Tabela 1). O mesmo não foi observadopara o K, cuja maior absorção ocorreunos tratamentos sem calagem. O nitro-gênio foi absorvido em quantidadescrescentes na ausência e presença decalagem. Em trabalho semelhante commudas de jaborandi (Pilocarpusmicrophyllus, Starf.) Brasil (1996) en-

controu a máxima produção de matériaseca com adubação nas doses 180 mg/kg de N e 120 mg/kg de P. EstudandoArtemisia annua L., Figueira et al.(1996) encontraram a máxima produçãode matéria seca, de artemisinina e ácidoartemisinínico, com a dose de 280 mg/L de N em cultivo hidropônico.

Nos tratamentos sem calagem, o con-teúdo dos macronutrientes foi menor (Ta-bela 2), em conseqüência da diminuiçãona produção de matéria seca total (Figu-ra 1) e da crescente diminuição da absor-ção dos nutrientes pelas plantas, excetode K, que apresentou absorção crescentecom o aumento das doses de N.

Doses de Nmg/dm3 Calagem*

N P K S Ca Mg

g/kg de MSPA

0 0 13,4 2,4 18,9 2,2 12,8 1,5

30 0 23,5 3,4 25,1 2,7 13,7 1,9

60 0 24,2 2,6 25,5 2,2 14,4 1,5

100 0 24,8 2,4 23,7 1,8 13,8 1,4

150 0 30,0 2,8 28,2 1,7 14,6 1,4

0 1 13,5 3,7 14,3 2,3 15,6 3,5

30 1 16,9 3,6 14,1 2,7 16,6 3,5

60 1 21,9 3,8 16,2 2,8 18,3 3,9

100 1 23,9 4,2 15,6 2,7 18,0 3,8

150 1 25,2 4,0 16,0 2,7 17,8 3,5

DMS (1%) - Cal x N 0,23 0,05 0,16 0,03 0,10 0,03

Tabela 1. Teor de macronutrientes na matéria seca da parte aérea (MSPA) de plantas de quebra-pedra submetidas a doses crescentes de N,com ou sem calagem. Lavras, UFLA, 1997.

* 0 e 1 indicam ausência e presença de calagem, respectivamente.

Doses de Nmg/dm3 Calagem*

N P K S Ca Mgmg/vaso

0 0 42,8 7,5 60,3 7,2 40,8 4,930 0 73,0 10,7 78,3 8,4 42,4 5,860 0 31,2 3,5 33,1 2,8 18,6 1,9

100 0 54,8 5,4 52,5 4,0 30,6 3,1

150 0 52,0 4,8 49,1 2,9 25,4 2,30 1 99,8 27,6 105,6 17,1 115,2 25,730 1 165,1 34,5 136,8 26,3 160,9 33,860 1 250,2 43,7 185,5 32,2 209,5 45,0

100 1 301,2 53,4 196,8 33,8 229,2 47,9

150 1 343,8 54,4 217,7 37,1 243,6 47,8DMS (1%) - Cal x N 10,47 2,91 7,52 1,55 7,93 2,29

Tabela 2. Conteúdo de macronutrientes na matéria seca da parte aérea (MSPA) de plantas de quebra-pedra submetidas a doses crescentes deN com ou sem calagem. Lavras, UFLA, 1997.

* 0 e 1 indicam ausência e presença de calagem respectivamente.

L.Becker et al.

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O efeito positivo do conteúdo de N,P, K, S, Ca e Mg na matéria seca da par-te aérea das plantas de quebra-pedraocorreu principalmente nos tratamentosem que foi realizada calagem e à medi-da em que aumentaram-se as doses deN (Tabela 2). Este aumento no conteú-do de nutrientes foi ocasionado tantopelo aumento nos teores (Tabela 1),como pela maior produção de biomassapelas plantas de quebra-pedra nesta con-dição (Figura 1).

Observou-se aumento gradual naconcentração de alcalóides na matériaseca da parte aérea à medida que aumen-taram as doses de nitrogênio aplicadas(Figura 2), na presença de calagem. Aprodução máxima de alcalóides totais nadose de N equivalente a 90% da produ-ção máxima de matéria seca da parteaérea (77,81 mg N/dm3 solo) foi de0,676 mg, justificando, portanto, adu-bação nitrogenada até certo nível, visan-do maior produção de matéria seca, jun-tamente com maior produção dealcalóides totais. Esses resultados cor-roboram aqueles obtidos por Nowackiet al. (1975) que investigando o efeitoda disponibilidade de N para síntese dealcalóides em Nicotiana sp e Datura sp,encontraram acréscimo no conteúdo deN na matéria seca e aumento nos teoresde alcalóides das plantas com o aumen-

Figura 2. Alcalóides totais na matéria seca da parte aérea (·), matéria seca da parte aérea (µ)e produção máxima de alcalóides totais na dose de nitrogênio equivalente a 90% da produ-ção máxima de matéria seca total das plantas de quebra-pedra submetidas à calagem e adu-bação nitrogenada. Lavras, UFLA, 1997.

to da adubação nitrogenada. Estudandoo conteúdo de alcalóides nas folhas deTabernaemontana pachysiphon Stapfsob três concentrações de um fertilizantede liberação lenta no solo (T

0= contro-

le; T1= 3 kg/m3 de Osmocote e T

2= 6

kg/m3 de Osmocote), em casa de vege-tação, Höft et al. (1996) também encon-traram maior acúmulo de alcalóidesindólicos sob moderada fertilizaçãonitrogenada.

Apesar do pouco conhecimento dasexigências e requerimentos nutricionais,a correção do solo e a fertilizaçãonitrogenada mostraram-se importantesna produção de biomassa e no aumentodo teor de alcalóides de quebra-pedra.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEMIGe FINEP pelo financiamento deste tra-balho. A Maria de Fátima Arrigoni-Blank, Ester Solange Cerqueira e Flá-via Dionísio Pereira pela ajuda na ins-talação e condução do experimento emcasa de vegetação. Ao Eng.º AgrônomoJoaquim Avanir Gomes pela ajuda naidentificação da espécie. Aos colegas doLaboratório de Química Orgânica e aoslaboratoristas do Laboratório de Análi-se Foliar e do Solo da UFLA pela ajudanas análises fitoquímicas e químicas.

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Contêiner refrigerado: uma alternativa para a conservação pós-colheitade alface tipo americano.Bárbara J. Teruel1; Luís A. B. Cortez2; Lincoln C. Neves Filho3

1 UNICAMP-FEM, Área Interdisciplinar de Planejamento de Sistemas Energéticos, C. Postal. 6122, 13.081-970. Campinas - SP;2 UNICAMP-FEAGRI, Depto de Construções Rurais, C. Postal 6011; 3 UNICAMP-FEA, Depto de Engenharia dos Alimentos, C. Postal6121. e-mail: [email protected]

RESUMO

A refrigeração é um excelente método para o armazenamentoprolongado de produtos frescos. O uso de contêineres na agriculturaé uma tecnologia simples e de fácil utilização que permite a manu-tenção da qualidade de produtos frescos, como frutas e hortaliças e adiminuição das perdas pós-colheita. Neste trabalho foram desenvol-vidos uma série de experimentos com um contêiner frigorífico sub-metido a dois regimes de operação: vazio e com produto. Foramavaliadas as seguintes variáveis: temperatura, velocidade e umidaderelativa do ar, além da pressão do sistema de refrigeração. Foi deter-minado o tempo de meio resfriamento de alface tipo americano(Latuca sativa L.), submetido a uma temperatura de 1ºC. Nas super-fícies que recebem maior radiação solar o desvio da temperatura éde 1,5 ± 1ºC, com respeito às paredes que recebem menor radiação.A velocidade do ar variou de 2,1; 1,7 e 0,3 m/s, nos três planosestudados. O tempo de meio resfriamento da carga de alface variouentre 530 min (» 8 h), e 1.080 min (» 18 h), dependendo da posiçãodas cabeças de alface no interior do contêiner. A umidade relativado ar foi de 81-86% ± 1% e de 90-91 ± 1%, para o contêiner vazio ecom carga, respectivamente.

Palavras-chave: Latuca sativa L., armazenamento, refrigeração,eficiência.

ABSTRACT

Refrigerated container: an alternative for postharvestconservation.

Refrigeration is an excellent method for storing horticultural freshproducts such as fruits and vegetables. The use of refrigerated containersis a simple and ready-to-use technology allowing better quality anddecreasing postharvest losses. In this work some experiments wereconducted with a refrigerated container in two operating conditions:with and without load. The following variables were evaluated: airtemperature, air velocity, air relative humidity, and pressure of therefrigeration system. The lettuce (Latuca sativa L.) half-cooling timewas also determined when this product was stored at 1ºC. It was observedthat the container surfaces receiving more radiation presentedtemperature increases of 1,5 ± 1ºC in contrast to the surfaces that wereless exposed. Air speed ranged from 2.1; 1.7 and 0.3 m/s for the threestudied surfaces. The lettuce half-cooling time varied from 530 min and1.080 min, depending on the position of the head of lettuce in thecontainer. The relative humidity of the air was 81-86% ± 1% in theempty container and 90-91 ± 1%, for the loaded container.

Keywords: Latuca sativa L., storage, refrigeration, efficiency.

(Aceito para publicação em 02 de maio de 2.000)

O Brasil é um dos maiores produto-res de frutas e hortaliças, mas apre-

senta um pequeno volume de exporta-ção. A safra de 1990 representou deacordo com dados da FAO (1991), 8%

da produção mundial. Mesmo assim, osvalores das perdas pós-colheita são sig-nificativamente altos, reportando-seuma média de 30-40% da produção to-tal, com um valor estimado de mais de

US$ 1/kg (Brasil, 1993). Entre as prin-cipais causas destas perdas estão o usode embalagens inadequadas, falta detransporte adequado e a ausência de re-frigeração para o armazenamento, ex-

L.Becker et al.

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105Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

pondo os produtos a condições desfa-voráveis (Neves Filho. et. al., 1995).

O armazenamento de produtos agrí-colas em câmaras móveis e modulares(contêineres frigoríficos), é uma tecno-logia interessante visto as vantagens quepossui, como possibilidade de ser trans-portado de um local para outro, sistemade aluguel (sistema leasing) durante asafra, ampla faixa de temperaturas deoperação do sistema (entre -25 e 25ºC)e facilidade de operação. Estes con-têineres também podem ser usados notransporte dos produtos já refrigerados(Figueredo, 1995). Tais vantagens repre-sentam menores custos, possibilitandoo armazenamento dos produtos durantea safra, quando os preços são mais bai-xos, para sua posterior comercialização,diminuindo assim as flutuações do mer-cado e colaborando na formação de umestoque regulador. O uso de contêineresfrigoríficos na agricultura é uma alter-nativa técnica e econômica interessantequando se trata de curtos períodos deestocagem, em função da diminuição dotempo de exposição dos produtos a con-dições desfavoráveis de temperatura eumidade (Figueredo, 1995).

No presente trabalho avaliou-se umcontêiner para determinar as possibili-dades de seu uso diretamente no localde colheita, para possível armaze-namento ou resfriamento de produtosagrícolas.

MATERIAL E MÉTODOS

Para atingir os objetivos propostosforam desenvolvidas duas etapas: avalia-ção do comportamento da temperatura,umidade e velocidade do ar no interiordo contêiner e dos principais parâmetrosde trabalho do sistema frigorífico (como contêiner vazio), e uma segunda eta-pa, onde foi feita a avaliação do compor-tamento da temperatura e da umidade doar com o contêiner submetido à carga real(resfriamento de alface tipo americano).Também foi determinado o tempo demeio resfriamento, o que permitiu avali-ar o comportamento do contêiner parafins de resfriamento rápido. Para atingiros objetivos foram realizadas as seguin-tes medidas:

- temperatura e pressão de trabalho dosistema frigorífico do contêiner (etapa I);

- velocidade do ar no interior docontêiner (etapa I);

- temperatura do ar no interior docontêiner e no centro dos produtos(etapa II);

- temperatura de bulbo úmido no in-terior do contêiner (para a determinaçãoda umidade relativa do ar) (etapa I e II).

Para o desenvolvimento da pesqui-sa foi usado um contêiner refrigeradocom um volume interno de 26 m3, deprocedência inglesa, marca G9 NU,modelo 137B- 234, e construção exteriorde painéis de aço. O isolamento tér-mico é poliuretano expandido com umaespessura de 76 mm e o piso é de alu-mínio com canaletes que permitem acirculação e distribuição do ar, insufladopela parte inferior, retornando aoevaporador pela parte superior docontêiner (evaporador com 2 ventilado-res; 0,43 kW [1,4 A/ 220 V]; sistema dedegelo com resistência elétrica de 0,5 kW).

A unidade frigorífica (marcaCARRIER, compressor 06 DR 337semi-hermético; 5kw [22,2 A/220 V];1.750 rpm; capacidade frigorífica Qo=10.500 W). A condensação é a ar ope-rando com refrigerante R-12, instaladana parte traseira do contêiner (1 venti-lador; 0,74 kW; [1 A/220 V]; 1.425rpm). Os sistema está equipado com umcontrolador-registrador de temperaturaacoplado ao termostato de forma a re-gistrar a temperatura no interior docontêiner durante 31 dias.

O contêiner foi colocado sob condi-ções de intempérie, ao lado do Labora-tório de Máquinas da Faculdade de En-genharia Agrícola (FEAGRI), ficandoassim exposto às radiações solares, si-mulando as condições reais em que po-deriam ser usados.

Para realizar a medição da tempera-tura foram utilizados termopares tipo“T” (Cobre-Constantan) AGW No. 24,revestidos de PVC, construídos e cali-brados (± 0,10 ºC), no Laboratório deRefrigeração da Faculdade de Engenha-ria dos Alimentos, FEA (Teruel, 1996).

Foram instalados 11 termopares nointerior do contêiner, distribuídos entreas paredes, piso, teto, porta, insu-flamento do ar frio e retorno do ar aoevaporador (Figura 1). Um termopar foicolocado na parte exterior do contêiner,

para medir a temperatura do ar ambien-te, ou exterior (text).

Para a avaliação do desempenho dosistema frigorífico foram instalados 5termopares nos seguintes pontos: saídada válvula de expansão termostática(temperatura de evaporação, to), linhade sução do compressor (temperatura desução, ts), linha de descarga do refrige-rante (temperatura de descarga do com-pressor, td), linha de saída do refrige-rante do condensador (temperatura decondensação, tcond).

O monitoramento da temperatura foifeito utilizando um sistema de aquisi-ção de dados por computador, que cons-ta de uma placa analógica digital PCX0802 e um conversor de sinais CAD 12/32 (com 32 canais de aquisição). O sis-tema de aquisição de dados foi instala-do num computador AT 486. A leitura earmazenamento dos dados foi feito como software AQDADOS (fornecido pelaLYNX Tecnologia Eletrônica Ltda.).Para facilitar o ordenamento da coletados dados, os termopares foram nume-rados para ser conectados ao conversorde sinais.

Para a medição das pressões de tra-balho do sistema de refrigeração, foiinstalado um conjunto de manômetrosda marca Imperial, com escala de até3.447 kPa (500 psi) na descarga(manômetro de alta pressão) e 1.378 kPa(200 psi) na sucção (manômetro de bai-xa pressão).

Para avaliar o desempenhotermodinâmico do sistema frigoríficoalguns parâmetros foram calculados,usando os dados de temperatura e pres-são determinados experimentalmente nosistema, e as equações datermodinâmica. Destes parâmetros ofabricante não possuía informações,

Figura 1. Distribuição dos pontos em queforam colocados os termopares no interior docontêiner. Campinas, UNICAMP, 1995.

Contêiner refrigerado: uma alternativa para a conservação pós-colheita.

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106 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

dentre eles, a eficiência volumétrica docompressor ( ) :

ην

νv

dr

dt

=

• (1)

onde, ν•

dr e ν

dt são o volume de

deslocamento real e teórico do R-12 no

compressor (m3/ s ) , [ν ω υ• •

=dr r] ,

ω•

re o fluxo mássico de R-12 (kg/s), u

é o volume específico (m3/kg);

[ νπ•

=dtpd 2

240], d

p é o diâmetro do pis-

tão do compressor (m).

Eficiência do ciclo de refrigeração(Performance Coefficient, COP):

COPh

ho

comp

=∆

∆ (2)

onde, ∆ho e ∆h

comp, são as diferenças

de entalpia na entrada e saída doevaporador e do compressor (kJ/kg). Aentalpia foi determinada traçando o ci-clo termodinâmico no diagramatermodinâmico Mollier.

Foi determinado também o grau desuperaquecimento do refrigerante, en-tre a saída do evaporador e a sução docompressor, a diferença de temperaturaentre a condensação do refrigerante e atemperatura do ar exterior, e a diferen-ça entre a temperatura de evaporação dorefrigerante e a temperatura do ar nointerior do contêiner (∆T= tc - to).

A velocidade do ar foi medida comum anemômetro eletrônico digital deventoinha, marca Lutron, modelo AM-4201. As leituras foram tomadas em 9pontos, em três planos diferentes obti-dos da divisão do contêiner em três áre-as iguais (I, II, III). Os pontos 1, 2 e 3estão no nível inferior (na linha deinsuflamento do ar do evaporador, limitecom as canaletes do piso, plano I); ospontos 4, 5 e 6 na linha média (centrodo contêiner, plano II) e os pontos 8, 9 e10 na parte superior do contêiner (coin-cidindo com a porta, no sentido do re-torno do ar ao evaporador, plano III)(Figura 2). Essa distribuição permitiu

obter um perfil do comportamento davelocidade do ar no interior docontêiner. O piso foi coberto em 70%de sua área com lâminas metálicas parasimular a circulação do ar com ocontêiner carregado e evitar o retornodo ar ao evaporador logo após oinsuflamento.

Para a determinação da umidade re-lativa, foram utilizados dois termoparesmedindo as temperaturas do bulbo úmi-do no insuflamento do ar frio e no re-torno ao evaporador, e dois termoparesnestes mesmos pontos medido a tempe-ratura do ar (bulbo seco). Para a medi-ção da temperatura do bulbo úmido foicolocada uma mecha de tecido na pontado termopar e introduzida num bulbocom água destilada. Este método já ti-nha sido testado com bons resultados(Teruel, 1996). Com os valores da tempe-ratura de bulbo úmido e de bulbo seco,obtidos durante o monitoramento, foramdeterminados os valores da umidade rela-tiva do ar no interior do contêiner, comauxilio do software Plus (Albright, 1990).

Os ensaios foram realizados no mêsde julho, iniciando-se às 11:00 h e comduração de 26 horas, fazendo-se duasrepetições, porém os valoresreferenciados neste trabalhocorrespondem às médias das mediçõesexperimentais. A temperatura fixada notermostato do contêiner foi de 0ºC (tc).As condições psicrométricas do ar ex-terior ao início do ensaio foram: tbs =25ºC e UR = 50%. Note-se que o horá-rio escolhido para o experimento per-mitiria um período de maior incidênciasolar. O sistema de degelo foi progra-mado para operar a cada 12 horas.

O cálculo da carga térmica docontêiner foi desenvolvido seguindo ametodologia proposta pela ASHRAE(1994). A capacidade frigorífica docompressor foi obtida da curva de ca-pacidade fornecida pelo fabricante, sen-do de 10.500 W (to = -3ºC). A correçãoda temperatura correspondente aos va-lores da radiação solar sobre superfíciesexternas de cor claro foram as seguin-tes: paredes Leste - Oeste, 3ºC; Norte,2ºC; Sul, 2ºC e para o teto, 5ºC(ASHRAE, 1992). Estes valores foramadicionados aos diferenciais de tempe-ratura para as referidas superfícies. Fo-ram consideradas 18 horas de trabalho

para o compressor e as seguintes condi-ções: temperatura no interior docontêiner (1ºC), produto considerado(alface, C

p = 4,02 kJ/kg ºC), quantidade

(3.289 kg), temperatura de entrada(30ºC), tbu = 24ºC.

Para a determinação do tempo deresfriamento da carga de alface tipoamericano (etapa II), foi feito um expe-rimento (com duas repetições). Os pro-dutos foram colhidos no período damanhã (aproximadamente 160 caixas),perto de Campinas, e os mesmos já ti-nham sido classificados por tamanho eponto de colheita. Os produtos foramtransportados em caixas plásticas de 528x 335 x 310mm até o Laboratório deProdutos Perecíveis da FEAGRI. De-pois da chegada foram escolhidas deforma aleatória três amostras por caixa,as quais foram pesadas numa balançadigital. O peso médio foi de 0,9 ± 0,01kg(as caixas continham entre 10 a 12 ca-beças de alface).

A distribuição das caixas no interiordo contêiner foi em pilhas de 8x4 cai-xas, e com uma altura equivalente de 5caixas, deixando um espaço livre entreo teto e a ultima fileira de caixas, o quepossibilita o retorno do ar insuflado aoevaporador (simulando a forma em quedevem ser colocadas para garantir umeficiente resfriamento).

Para monitorar a temperatura ostermopares foram inseridos no centro dealgumas cabeças de alface, escolhidasaleatoriamente, dispostas nas seguintesposições: a) cabeça do centro da caixacoincidindo com a pilha média docontêiner, b) cabeça colocada no cen-tro da caixa coincidindo com a pilha pró-xima à porta. Estas posições permitiramconhecer o comportamento da tempe-

Figura 2. Representação esquemática dospontos e planos em que foi medida a veloci-dade do ar no interior do contêiner. Campi-nas, USP-UNICAMP, 1995.

B.J. Teruel et al.

ηv =

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107Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

ratura do produto em áreas distintas comrelação ao insuflamento do ar resfriadono evaporador. Se manteve um termoparmedindo a temperatura do ar (de bulboseco e bulbo úmido) no interior docontêiner. O ensaio desenvolveu-se nomês de outubro, iniciando-se às 12 h 50min, e com duração de 1.560 min.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A temperatura do ar no insuflamentodo evaporador (tc, ponto 8, figura 1)atingiu 0ºC após 3 horas do início doexperimento. Em seguida a este perío-do o compressor começou ciclos de ar-ranque e parada com aproximadamente5 a 8 minutos de duração, em intervalosde 25 a 30 minutos (Figura 3).

Como esperado, os maiores desviosdos valores da temperatura ocorrerampara os pontos mais distantes doinsuflamento do ar frio do evaporador.Ou seja, nas paredes I (tparede I-1, pon-tos 1, 2, 3) e II (tparede II-1, pontos 7,9, 10), na porta (tporta, pontos 4 e 5) eno teto (tteto, ponto 6, figura 1), man-tendo diferenças muito pequenas para opiso (tpiso, ponto 11). Constatou-se quena parede I existe uma diferença de tem-peratura maior que na II (1,5 ±1ºC), vis-to que tal superfície recebe maior radia-ção solar.

Durante o período diurno a diferen-ça de temperatura entre o insuflamentodo ar do evaporador e os diferentes pon-

tos monitorados, foi maior (3 ± 1,5ºC),que no período noturno (2 ± 0,7ºC). Ascurvas mostradas na figura 3,correspondem-se com os valores médiosde temperatura, entre os diferentes pon-tos monitorados.

Estes resultados demonstram o efei-to da incidência solar sobre o compor-tamento da temperatura interior nocontêiner; mesmo assim, consideramosque o contêiner possui um isolamentotérmico adequado que permite ser utili-zado à intempérie (diretamente no cam-po, ou em outra situação similar).

O nível de sobreaquecimento entrea temperatura na saída do evaporador ea temperatura de sução (ts), atingiu va-lores entre 18-23ºC, o que coincide comos valores referidos para sistemas fri-goríficos de média capacidade que uti-lizam o refrigerante R-12 (entre 15 a20ºC, ASHRAE, 1992).

Os valores da ∆T, diferença entre atemperatura no interior do contêiner (tc)e a temperatura de evaporação (to), per-maneceram entre 6 e 8ºC. A ASHRAE(1992), recomenda valores de ∆T entre7 e 8ºC, para tais sistemas.

A diferença de temperatura entre oar ambiente (text) e a temperatura decondensação (tcond), apresentou umvalor médio de 10ºC, o que coincidecom os valores recomendados pelaASHRAE (1992), que estabelece entre8 e 11ºC para condensação a ar.

Os dados experimentais empregadospara o traçado do ciclo termodinâmicono diagrama Mollier foram: pressão desução do R-12 (277 kPa, 2,32 kgf/cm2),pressão de descarga do R-12 (958 kPa,9,77 kgf/cm2), temperatura de descargado R-12 (90ºC), temperatura de saída doR-12 do condensador (22ºC) e nível desobreaquecimento após a saída doevaporador (18ºC).

A avaliação termodinâmica do sis-tema de refrigeração do contêiner de-monstrou que os parâmetros de opera-ção estão dentro dos limites recomenda-dos, o valor do COP foi de 3, a eficiênciavolumétrica do compressor (η

v) de 0,73.

Valores do COP entre 3 e 5 são ade-quados para ciclos de compressão devapor, assim como valores de η

v entre

0,4 e 0,7, demonstram que o desempe-nho energético da instalação é adequa-do (Koshkin, 1981).

A medição da velocidade do ar nointerior do contêiner demonstrou que osvalores mais altos correspondem aospontos 7, 8 e 9 dos planos I e II, visto aproximidade da área do insuflamento doar. Nos planos I e II os valores médiosda velocidade do ar foram de 2,1 e 1,7m/s, respectivamente. Estes valores fo-ram obtidos no plano coincidente como insuflamento do ar pelo evaporador eno meio do contêiner (Figura 2). Noplano III (pontos mais perto da porta), avelocidade se manteve mais estável,com um valor médio de 0,3 m/s. AASHRAE (1992), indica que a veloci-dade do ar no interior das câmaras deresfriamento não deve exceder 2,5 m/s.

O valor da umidade relativa variouna faixa de 80-85±1%. A ASHRAE(1992) sugere que, para valores de ∆Tentre 7 e 8ºC, a umidade relativa deveestar entre 81-86%. Foi comprovado queos ciclos de degelo do sistema de refri-geração não afetam significativamenteos valores da umidade relativa no inte-rior do contêiner.

Com o desenvolvimento do cálculoda carga térmica se obtiveram os seguin-tes resultados: carga por transmissão decalor de 587 W, carga devido a infiltra-ção de 360 W, carga devido aos moto-res de 1.948 W, carga térmica a ser reti-rada dos produtos (para resfriá-los até1ºC) de 5.030 W. Observa-se que o va-lor da carga térmica a ser retirada dos

Figura 3. Comportamento da temperatura no sistema de refrigeração e no interior do contêinervazio. Campinas, UNICAMP, 1995. tparedeI-1: temperatura na parede I, nos pontos 1, 2 e 3da figura 1; tparedeII-1: temperatura na parede II (pto 7, 9 e 10, figura 1); tporta: temperatu-ra na porta (pto 4 e 5, figura 1); tteto: temperatura no teto (pto 6, figura 1); tpiso: temperaturano piso (pto- 11, figura 1); tc: temperatura do ar na câmara (pto- 8, figura 1); to: de evapora-ção do refrigerante; ts: temperatura de sução do refrigerante; td: temperatura de descarga dorefrigerante; tcond- de condensação do refrigerante.

Contêiner refrigerado: uma alternativa para a conservação pós-colheita.

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108 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

produtos representa, aproximadamente,42% da carga térmica total a ser retira-da do contêiner, sendo que a carga tér-mica devido à radiação solar representa0,76% da carga térmica total a ser reti-rada do contêiner. Como nas condiçõesconsideradas a capacidade disponível docompressor é de 10.500 W, pode-se su-por que o sistema frigorífico docontêiner é capaz de retirar carga térmi-ca total sem dificuldades (8.717 W),supondo que o mesmo seja carregadocom o volume de produtos que foi con-siderado nos cálculos.

Nos experimentos com carga real(etapa II), constatamos que o ar atingiu1ºC após aproximadamente 370 min deiniciado o experimento, partindo de umatemperatura inicial de 16ºC. Isto foi de-vido ao fato de que a abertura da portapara a colocação das caixas e a monta-gem dos termopares, fizeram com quea temperatura do ar interior que já esta-va a 1ºC, subisse.

A temperatura inicial na superfíciedo produto foi de 26ºC e no centro de23ºC. O tempo de meio resfriamento foiatingido quando no centro das cabeçasem que foram inseridos os termoparesatingiu-se 11,5ºC, e isto aconteceu apro-ximadamente aos 530 ± 3,5 min (8 ho-ras) de iniciado o experimento, para ascabeças situadas na pilha 1 (centro docontêiner). Já para a pilha 2 (posiçãomais desfavorável com respeito ainsuflamento do ar frio), o tempo demeio resfriamento foi de 1.080 ± 3,5 min(18 horas), ou seja um tempo 2 vezesmaior que para a pilha 1, ponto próxi-mo ao insuflamento do ar (Figura 4).

Os resultados obtidos demonstramque a posição dos produtos com respei-to ao insuflamento do ar é muito influen-te em relação ao tempo de meioresfriamento, ou seja, produtos em maiorcontato com o fluxo de ar resfriam emmenos tempo e vice-versa.

A umidade relativa permaneceu en-tre 90-91 ± 1%, valores 5 a 10% maio-

res que os obtidos nos ensaios com ocontêiner vazio (81-86 ± 1%). Esta di-ferença demonstra a existência de trans-ferência de massa entre os produtos e oar frio, responsáveis pela perda de peso,devido ao déficit de pressão entre a su-perfície do produto e o ar frio. Pode-sedizer então que, o contêiner deve ser usa-do com cuidado para a estocagem pro-longada de produtos agrícolas que exi-gem umidade relativa maior que 85%.

O valor do tempo de meio res-friamento, unido à velocidade do ardemostram que, o contêiner não deveráser utilizado como câmara de res-friamento rápido. No entanto estes equi-pamentos, poderão operar satisfatoria-mente como sistema de estocagem deprodutos já resfriados. Contêineresiguais ao modelo estudado, poderão serusados na intempérie, ou seja diretamen-te no campo de colheita, com uma ade-quada eficiência.

AGRADECIMENTOS

À CAPES e à FAPESP pelo apoiofinanceiro. À Empresa Paulista deContêineres Marítimos Ltda.(PCML),que cedeu o contêiner para o desenvol-vimento da pesquisa.

Figura 4. Tempo de resfriamento de uma carga de alface do tipo americano (Latuca sativaL.). Campinas, UNICAMP, 1995. tcent.prod-1: temperatura no centro da cabeça de alfacena pilha no meio do contêiner; tcent.prod-2: temperatura no centro da cabeça de alface napilha perto da porta do contêiner; tinsuf: temperatura do insuflamento do ar (temperatura nacâmara). ‘

LITERATURA CITADA

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109Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

A atividade comercial que envolvea produção do melão no Nordeste

apresenta diferentes perfis. De um lado,existem empresas de grande e médioporte que são responsáveis por cerca de90 % da produção e da exportação e que,para atender as exigências do mercado uti-lizam sementes híbridas, geralmente im-portadas, e tecnologia de cultivo apropria-da para alcançar alta produtividade. Deoutra parte há um número elevado de pe-quenos produtores, autônomos ou orga-nizados em associações e cooperativas,muitos dos quais utilizam materiaissegregantes por não ter acesso àtecnologia. Em conseqüência, a produçãoé baixa e os frutos não têm qualidade co-mercial. O alto custo da semente híbridaimportada é um obstáculo à inserção dosprodutores de baixa renda no mercado.Portanto, é necessário aumentar a ofertade semente melhorada de cultivares adap-tadas às condições do Nordeste.

No melhoramento genético do me-loeiro deve-se considerar os aspectos

PAIVA, W.O.; SABRY NETO, H.; LOPES, A.G.S. Avaliação de linhagens de melão. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18 n. 2, p. 109-113, julho, 2.000.

Avaliação de linhagens de melão.Waldelice Oliveira de Paiva; Hassan Sabry Neto; Alfredo Gasparim Saraiva LopesEmbrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761 60.511-110 Fortaleza-CE. e-mail: [email protected]

RESUMO

Com o objetivo de produzir híbridos de melão adaptados à re-gião Nordeste do Brasil, foi avaliado, em Pacajús-CE o comporta-mento de 29 linhagens, sendo 23 do grupo cantalupensis, cinco doinodorus e uma do grupo momordica. Para efeito de comparação,foram utilizadas cultivares comerciais: o híbrido Hy-mark e a culti-var Eldorado-300. Na avaliação da precocidade a maturação das li-nhagens do grupo cantalupensis levaram em média 35,1 dias, as dogrupo inodorus 30,6 dias e as do grupo momordica 24,4 dias. Aconcentração da produção, estimada aos 70 dias, foi mais elevada(75,8%) numa linhagem que não produz frutos comerciais. A pro-dução das linhagens variou de 16,2 t/ha a 65,1 t/ha, enquanto a mé-dia das testemunhas comerciais foi de 28,4 t/ha. Três linhagens dogrupo cantalupensis e todas do grupo inodorus mostraram-se maisprodutivas que as testemunhas. O teor de sólidos solúveis entre li-nhagens e testemunhas foi semelhante (8,6%), sendo que uma daslinhagens, M46-00 se destacou pelos altos teores (Brix=12,2%). Emgeral, os frutos das linhagens tardias mostraram elevado teor de só-lidos solúveis.

Palavras-chave: Cucumis melo L., variabilidade, melhoramento.

ABSTRACT

Evaluation of melon inbred lines for plant and fruitcharacteristics.

In order to obtain melon hybrids adapted for growing in theNortheast of Brazil, 29 inbred lines (23 belonging to thecantaloupensis group, 5 to the inodorus and 1 to the momordicagroup) were evaluated in Pacajus, in the state of Ceará. Twocommercial varieties, the hybrid Hy-mark and the cultivar Eldorado-300, were used as checks. It was observed that the average periodfor fruit ripening was 35.1 days for the cantalupensis group, 30.6days for the inodorus group and 24.4 days for the momordica group.The highest yield concentration (75.8%), evaluated 70 days aftersowing, was attained in a inbred line that does not producecommercial fruits. The yield of the lines ranged from 16.2 t/ha up to65.1 t/ha, whereas the two commercial varieties produced 28.0 t/ha.Three of the cantalupensis group and all inbred lines of the inodorusgroup were more productive than both varieties used as check. Theaverage inbred lines soluble solid content was similar to that observedin the two commercial varieties (Brix = 8.6). However, the IM46-00inbred line was outstanding with a high content of soluble solid (Brix= 12.2%). In general, late inbred lines produced fruits with highersoluble solids content.

Keywords: Cucumis melo L.; variability; breeding.

(Aceito para publicação em 03 de abril de 2.000)

relacionados ao ciclo, resistência àsdoenças e pragas, capacidade produtivae qualidade de fruto. Genótipos preco-ces são desejáveis porque agregam va-lor ao produto tanto pela oferta anteci-pada como pela chance de escape aoataque de pragas e microorganismospatogênicos. Além disso as plantas pre-cisam ser altamente produtivas para per-mitir maior ganho pelo produtor. Essascaracterísticas devem estar associadasàquelas que conferem qualidade ao fru-to. Em melão a qualidade é constituídapor um conjunto de caracteres que aten-de às exigências de uma determinadapopulação. Estas exigências são diferen-tes e seguem hábitos locais. Maynard& Elmstron (1991) indicaram treze ca-racterísticas essenciais que deveriam sertrabalhadas pelos melhoristas, naFlórida, das quais dez eram relativas aofruto. Peso, tamanho, formato, colora-ção da epiderme e da polpa, sabor e aro-ma são características que conferem aqualidade ao fruto. A quantidade de açú-

car é medida pelo teor de sólidos solú-veis, parâmetro que tem sido utilizado,como indicativo da qualidade e do está-dio de maturação dos frutos. Por sua vez,Alenbach & Wortington (1974) consi-deram que, além do refratrômetro, tes-tes sensoriais deveriam ser utilizadospara avaliar a qualidade do fruto. Naavaliação de linhagens para obtenção dehíbridos F

1, todos estes aspectos preci-

sam ser considerados.Linhagens de melão são

freqüentemente avaliadas para resistên-cia às doenças e pragas (Floris &Alvarez, 1996; McGreigh, 1994;) e ape-sar da importância de se conhecer osgenótipos quanto a produção e qualida-de do fruto, são poucos os trabalhos queexploraram estas características. O com-portamento de linhagens frente ao am-biente para o qual foram desenvolvidas,serve como indicador de combinaçõescom maiores chances de sucesso. Linha-gens desenvolvidas para cultivo emcampo não produziram híbridos adap-

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110 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

tados ao cultivo protegido, indicando anecessidade de um programa de seleçãoe melhoramento específico para cultivoprotegido (Nerson & Burger, 1996).

O presente trabalho teve como ob-jetivo estudar a variabilidade existenteem linhagens homozigotas de melão efornecer subsídios para a escolha dascombinações híbridas superiores.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 29 linhagens demelão, classificadas de acordo comMunger & Robinson (1991) e Robinson& Decker-Walters (1997), como sendo23 do grupo cantalupensis, cinco do gru-po inodorus e uma do grupo momordica,pertencentes ao programa de melhora-mento genético da EmbrapaAgroindústria Tropical, exceto PI414.723. As linhagens foram obtidas pormeio de autofecundações sucessivas dehíbridos e cultivares procedentes de di-versas instituições e, portanto, conside-radas como homozigotas. Como teste-munhas, foram utilizadas as cultivarescomerciais Hy-mark (híbrido F

1) e

Eldorado 300.

A avaliação foi efetuada no períodode setembro a dezembro/97 em experi-mento instalado no Campo Experimen-tal de Pacajus, da EmbrapaAgroindústria Tropical, no município dePacajus-CE. O delineamento utilizadofoi blocos ao acaso, com 3 repetições e5 plantas por parcela. As distâncias en-tre linhas e plantas foram, respectiva-mente, de 2 m e 0,5 m. A irrigação foifeita por gotejamento e a semeadura foiefetuada por plantio direto (3 sementes/cova) deixando-se uma planta por cova.O manejo cultural foi feito de acordocom as práticas locais recomendadaspara o cultivo comercial. Não foi efetua-da aplicação de pesticidas.

Foram marcadas três plantas por re-petição em cada um dos tratamentos eanotados o número de dias da semeadu-ra à abertura da primeira flor femininaou hermafrodita (floração), da semea-dura à colheita do primeiro fruto(frutificação) e da polinização da florfeminina ou hermafrodita à colheita dofruto (maturação).

A concentração da produção foi es-timada pela porcentagem de frutos

produzidos aos 70 dias em relação aototal produzido por tratamento. Ao fi-nal do ciclo estimou-se a produção e onúmero de frutos por planta e com a re-lação entre eles obtido o peso médio dosfrutos.

Nos frutos maduros de nove plantaspor tratamento foram tomadas as seguin-tes medidas: comprimento longitudinale transversal e obtida a relação entre eles(formato). Foi considerado como forma-to redondo, os frutos com valor de rela-ção igual ou inferior a 1,00; oval, comvalor da relação entre 1,01-1,50 e com-prido, com valor superior a 1,50. Os fru-tos foram cortados e medido o diâmetrotransversal interno (cavidade da semen-te) e a espessura da polpa. Em uma fatiacortada longitudinalmente foi extraídoo suco e com um refratrômetro, obtidoo valor do sólidos solúveis totais (SST),quantificado em ºBrix.

As análises genético-estatísticas fo-ram realizadas utilizando-se o Progra-ma GENES (Cruz, 1997). Os dados re-ferentes à floração, frutificação ematuração foram transformados para

e os de concentração da produção

para arc sen . Os tratamen-

tos foram comparados com a média dastestemunhas pelo teste de ‘t’ , confor-me Steel & Torrie (1960).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observando-se os dados da Tabela1 verifica-se que, nas condições do Es-tado do Ceará, os genótipos avaliadosfloresceram em média, aos 35 dias apósa semeadura. Algumas linhagens mos-traram-se precoces, florescendo a partirde 29,3 dias e outras tiveram comporta-mento tardio, com florescimento aos42,0 dias. Entretanto, essas diferençasnão foram significativas quando com-paradas com as variedades comerciaisusadas como testemunhas.

A frutificação ocorreu aos 61 diasna linhagem mais precoce (IM55-00) eaos 79,2 dias na mais tardia (IM46-00).Treze linhagens mostraram diferençassignificativas e, destas, cinco (IM55-00,IM47-00, IM49-00, IM49-01, IM 61-00) foram mais precoces. Observa-seque o melão cultivado no Nordeste e atémesmo na América do Sul mostra ten-

dência à precocidade. Nos catálogos dasfirmas de sementes os híbridos melãodo tipo amarelo iniciam a produção aos92 dias e os tipos cantaloupes aos 82-85dias nos Estados Unidos, enquanto noBrasil a produção se inicia aos 60-67dias para os tipos amarelos e de 56-65dias para os cantaloupes. Na Venezuela,Perez et al. (1996), verificaram que oshíbridos precoces podem ser colhidosaos 63 dias.

A maturação foi alcançada, em mé-dia, aos 34,8 dias após a antese sendoque, na linhagem mais tardia (IM 46-00), ocorreu aos 46,4 dias e na linha-gem mais precoce (PI 414 723), aos 24,4dias. Esta última pertence ao grupomomordica, e tem resistência ao oídio eao cancro da haste nas condições decultivo no Ceará (Paiva & Felipe, 1997),porém, não produz frutos de valor co-mercial. De acordo com o grupo a quepertencem, as linhagens apresentaram oseguinte comportamento quanto àmaturação do fruto: cantaloupensis, 35,1dias; inodorus, 30,6; dias e momordica,24,4 dias. Estes valores foram inferioresaos observados por Wolf & Dunlap (1995)que observaram nos genótipos de melãocultivados no Texas (USA), maturidadede 40 dias para os do tipo cantalupensis ede 50 dias para os tipo inodorus.

No Nordeste brasileiro as exigênci-as edafo-climáticas para o cultivo domelão são atendidas. Precipitaçõespluviométricas que dificultam o cultivocomercial do melão ocorrem por umcurto período, cerca de três meses noano. Com as cultivares disponíveis épossível colher até três safras/ano.Genótipo com produção concentrada édesejável porque permite economia demão-de-obra durante a colheita e tam-bém nos tratos fitossanitários, amplian-do-se o número de safras comerciais porano em uma mesma área. A maioria daslinhagens testadas não diferiu da médiadas testemunhas, com exceção de novelinhagens. Oito foram muito tardias(IM33-00, IM02-00, IM45-02, IM33-00, IM35-00, IM03-05, IM45-01, IM39-01, PI714.423) e uma (IM49-00) muitoprecoce, alcançando dois terços da pro-dução aos 70 dias. Esta linhagem, en-tretanto, não produz frutos comerciais.

As variedades utilizadas como tes-temunhas produziram em média de 2,7

W.O. Paiva et al.

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111Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

frutos por planta com produção estima-da em 28,0 t/ha. Entre as linhagens, va-riou de 1,5 (IM09-00) até 6,2 (IM49-01) frutos por planta e a produção va-riou de 16,2 t/ha (IM45-02) a 65,1 t/ha(IM27-00). Quatro linhagens do grupocantalupensis se diferenciavam, sendoque ‘IM03-04’ e ‘IM09-00’ apresenta-

ram menor número de frutos por planta‘M05-00’ e ‘IM18-00’ apresentarammaior número de frutos. O grupoinodorus apresentou a maiorprolificidade, com uma linhagem(IM49-01) produzindo 6,2 frutos/plan-ta. A produtividade média foi de 35,0 t/ha, enquanto nas testemunhas a média

foi de 28,4 t/ha. Na região Nordeste,dependendo da tecnologia adotada, aprodutividade média por hectare pode-rá variar de 17 a 30 toneladas (Dias,1998). Portanto, a produtividade dasduas testemunhas está coerente comaquelas verificadas na região. Pelo me-nos três linhagens do grupo

Linhagem1)

Característica da planta

Floração(dias)

Frutificação(dias)

Maturação(dias)

Concentração daProdução (%)

Frutos porplanta

Produção(t/ha )

1 IM02-00 37,2 71,9 34,7 8,9** 2,7 33,6

2 IM03-02 32,4 69,1 36,6 40,2 2,9* 40,2

3 IM03-04 40,2 71,3 31,0 65,0 1,6* 20,6

4 IM03-05 37,8 74,8* 37,0 15,2** 2,9 2,07

5 IM04-00 32,6 67,1 34,4 51,8 3,1 20,9

6 IM05-00 32,2 66,4 34,2 48,3 4,0* 41,9

7 IM07-00 34,4 71,8 37,3 42,6 3,2 49,0**

8 IM09-00 34,1 65,0 30,9 61,9 1,5* 20,7

9 IM10-00 37,4 72,8** 35,3 64,3 2,8 31,3

10 IM13-00 33,3 66,9 33,5 46,9 1,8 25,1

11 IM41-00 30,4 64,4 34,0 65,7 3,7 32,3

12 IM45-01 31,1 77,5** 46,5** 24,8** 2,7 24,9

13 IM45-02 36,5 73,4** 36,9 14,0** 1,9 16,2**

14 IM46-00 32,7 79,2** 46,4** 4,5** 2,7 18,7 15 IM47-00 33,2 65,9 32,6 50,3 3,9 27,0 16 IM14-00 35,2 71,8 36,6 42,5 2,3 51,4** 17 IM14-01 33,4 69,2 35,8 50,0 1,9 46,9* 18 IM18-00 42,0 72,8** 30,8 65,9 3,2* 52,0**

19 IM27-00 35,0 70,3 35,3 38,7 2,3 65,1** 20 IM33-00 42,0 75,9** 33,9 4,9** 1,6 50,5** 21 IM35-00 36,0 72,3** 36,3 25,5** 2,1 53,9** 22 IM39-01 35,7 71,5 35,8 39,4* 2,4. 48,6*

23 IM49-00 36,3 62,3** 25,9** 75,8** 5,0** 38,4 24 IM49-01 36,1 62,4** 26,0** 61,4 6,2** 46,0* 25 IM50-00 36,5 71,0 34,4 51,6 3,0 26,5 26 IM54-00 36,0 68,7 32,6 36,3 2,7 21,7

27 IM55-00 30,2 61,0** 30,8 61,2 3,8 29,8

28 IM57-00 29,3 62,9** 33,6 59,3 3,0 33,9 29 PI 414723 38,4 62,9** 24,4* 40,6* 3,1 28,1

Média 35,0 69,8 34,8 41,4 2,6 35,03

Hy Mark 32,3 64,8 33,1 66,3 3,4 35,7

Eldorado-300 35,4 69,6 34,2 73,3 2,1 21,1

Média 33,9 67,2 33,7 69,8 2,7 28,4CV% 8,8 3,8 7,6 29,6 15,1 29,5

Tabela 1. Características agronômicas em linhagens de melão, avaliadas em Pacajús (CE). Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 1997.

1) 1 a 23 - C. melo cantalupensis Naud.;24 a 28- C. melo inodorus Naud.;29- C. melo momordica Naud* e ** significativo ao nível de 5% e 1% pelo teste ‘t’

Avaliação de linhagens de melão.

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112 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

cantalupensis mostraram produção maiorque a testemunha ‘Hy-mark’, um hí-brido do mesmo grupo, enquanto todaslinhagens do grupo inodorus mostrarammelhor desempenho que ‘Eldorado-300’, também do grupo inodorus.

Foi efetuado um levantamento dasituação fitossanitária do experimento,

dado que avaliações mais precisas des-tas linhagens já foram efetuadas porSantos et al. (1999). Observou-se quequatro linhagens (IM02-00, IM46-00,IM54-00 e IM55-00) se mostraram mui-to infectadas por oídio (Oidium sp), omesmo acontecendo com ‘Eldorado300’. Sintomas severos de cancro da

haste, causados por Didymella bryoniae,foram verificados em IM45-00. Em qua-tro linhagens (IM05-00, IM49-00,IM49-01 e PI 414.723) não foram ob-servados sintomas de doenças.

Quanto à avaliação do formato dofruto nas testemunhas (Tabela 2), ‘Hy-mark’ produziu frutos com formato re-

LinhagemCaracterística da planta

Espessura dapolpa (cm)

FormatoCavidade da

semente (cm)S.ST. (0Brix)

Peso médio(kg)

1 IM02-00 3,6 1,1 7,0 7,9 1,21

2 IM03-02 4,2 1,1 6,1 8,1 1,27

3 IM03-04 3,5 0,9* 5,7 5,3* 1,26

4 IM03-05 3,1 0,9* 5,9 7,3 0,73

5 IM04-00 3,5 1,1 4,9 8,9 0,68

6 IM05-00 4,0 1,0 5,4 8,5 1,05

7 IM07-00 4,2 1,0 6,1 9,6 1,54**

8 IM09-00 4,1 1,2 6,9 9,1 1,26

9 IM10-00 3,8 1,1 6,5 11,3 1,18

10 IM13-00 4,2 1,1 6,4 7,8 1,33**

11 IM41-00 3,4 1,1 5,1 8,4 0,87

12 IM45-01 3,1 1,0 5,5 10,1 0,94

13 IM45-02 2,6** 1,0 6,7 9,9 0,79

14 IM46-00 2,1** 0,9** 5,6 12,2** 0,85 15 IM47-00 3,2 1,0 4,9 8,9 0,70 16 IM14-00 4,5 1,2 10,3** 8,2 2,27* 17 IM14-01 4,5 1,2 8,2** 7,9 2,5** 18 IM18-00 4,5 1,0 7,9** 8,8 1,70**

19 IM27-00 5,1** 1,2 7,9** 9,5 2,77** 20 IM33-00 4,3 1,0 12,0** 6,9** 3,34** 21 IM35-00 4,4 1,1 9,9** 8,2 2,52** 22 IM39-01 4,2. 1,1. 8,2** 6,5** 2,02**

23 IM49-00 2,4** 1,9** 5,3 7,3 0,77 24 IM49-01 3,1 1,2** 5,2 8,8 0,75 25 IM50-00 3,0 1,1 4,8 10,5 0,84 26 IM54-00 3,6 1,0 5,8 9,9 0,81

27 IM55-00 4,0 1,0 5,0 11,0 0,79

28 IM57-00 2,8 1,8* 5,5 7,9 1,14 29 PI 414723 1,8** 2,2** 4,5 5,6** 2,68

Média 3,6 1,2 6,5 8,6 1,40

Hy Mark 4,2 1,0 5,4 9,8 1,04

Eldorado-300 3,5 1,2 5,8 9,6 1,01

Média 3,9 1,1 5,6 9,7 1,02CV% 12,2 7,3 12,3 14,4 3,5

1) 1 a 23 - C. melo cantalupensis Naud.;24 a 28- C. melo inodorus Naud.;29- C. melo momordica Naud* e ** significativo no nível de 5% e 1% pelo teste ‘t’

Tabela 2. Características qualitativas de fruto em linhagens de melão avaliadas em Pacajús (CE). Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 1997.

W.O. Paiva et al.

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113Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

dondo (F=1,0), peso médio de 1,04 kg,polpa com 4,2 cm de espessura, cavida-de da semente com 5,2 cm de diâmetroe ºBrix= 9,8%. Os frutos de ‘Eldorado-300’ apresentaram formato oval(F=1,2), com peso médio de 1,02 kg,polpa com espessura de 3,5 cm, cavida-de da semente com 5,8 cm e ºBrix=9,65(Tabela 2). Os frutos das linhagens va-riaram de redondo a comprido. Sete li-nhagens mostraram diferenças signifi-cativas quando comparadas à média dastestemunhas. IM03-02, IM03-05 eIM46-00 com valores de F<1,00 e asdemais (IM49-00, IM49-01, IM57-00 ePI717473), com valores de F> 1,50.

Polpa espessa e cavidade da sementepequena são atributos que conferem qua-lidade ao fruto. Essas características pro-porcionam maior resistência ao manuseioe ao transporte, impedindo o deslocamen-to da placenta, fator que acelera a deterio-ração do fruto. Em geral, as linhagensproduziram frutos com espessura de pol-pa semelhante à das testemunhas, excetouma do grupo cantalupensis, IM27-00,com polpa de 5,1 cm de espessura. Asmédias do diâmetro da cavidade da se-mente do fruto das linhagens foram se-melhantes às das testemunhas, com ex-ceção de IM14-00, IM14-01, IM18-00,IM33-00, IM35-00 e IM39-01, cujasmédias foram superiores.

O teor de sólidos solúveis, é outracaracterística indicadora da qualidadedo fruto. Nos Estados Unidos da Amé-rica, o teor de SST exigido para os me-lões inodorus, tipo ‘Honey Dew’ é de10% (Pratt et al., 1977) enquanto paraos tipos cantaloupes, pertencentes aogrupo cantalupensis, o teor mínimo é de9% (Bleinroth, 1994). A cultivarEldorado-300, quando cultivada emMossoró-RN, apresentou 10,3% de só-lidos solúveis (Lopes, 1991), enquantoque nas condições do Ceará esse valorfoi de 9,6%. Entre as linhagens, ‘IM46-00’ se destacou pelo alto teor de açúcar,com 12,2% enquanto as demais não di-feriram das testemunhas, com médiasem torno de 8,6% (Tabela 2).

Combinações híbridas favoráveis,podem resultar em genótipos com resis-tência a doenças importantes, mas tam-bém devem ser precoces, produtivos efrutos com boa qualidade. Existem evi-dências de que ocorre heterose para o teorde sólidos solúveis (Lopes, 1991). Porém,para precocidade na floração, há dúvi-das de que os efeitos de dominância se-jam os principais responsáveis pela re-dução do período de início da floração.Híbridos precoces e com altos teores desólidos solúveis não são freqüentes. Ob-serva-se que as linhagens do grupocantalupensis, que produziram frutoscom os maiores teores de sólidos solú-veis foram as mais tardias. É possível quea combinação entre algumas linhagensdo grupo cantalupensis como IM05-00,IM10-00, IM45-01 e IM 46-00 resulte emhíbridos com boas características. Alémdestas, duas linhagens IM50-00 e IM54-00, do grupo inodorus, pelas caracterís-ticas de frutos muito próximas do tipoAmarelo, são recomendadas para a pro-dução de sementes híbridas. A linhagemPI 414723 não é indicada porque o frutonão é comercial mas é precoce e comresistência a inúmeras doenças (Paiva &Felipe,1997; Munger & Robinson, 1991)sendo de interesse para transferência des-tes atributos em métodos deretrocruzamentos ou genealógicos.

AGRADECIMENTOS

Ao Banco do Nordeste pelo auxíliofinanceiro prestado ao desenvolvimen-to deste trabalho.

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Avaliação de linhagens de melão.

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114 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

Para as primeiras atividades organi-zadas na exploração e no estudo de

plantas medicinais no Brasil, não haviaa necessidade do cultivo, pois a simplescoleta e o extrativismo de material ve-getal, mais abundante na época, satisfa-ziam as necessidades da pesquisa, douso e da comercialização. O crescenteuso de plantas medicinais, por parte daindústria farmacêutica, estimulou o cul-tivo de hortas medicinais com a finali-dade de atender a preservação da espé-cie, a seleção de variedades ou de clonesmais adequados, a produção de materialdestinado ao estudos e à reproduçãoda planta (Ming, 1994). É o caso dogervão-roxo [Stachytarpheta cayennesis(L.C. Rich) Vahl], cujas sinonímias, sãocitadas por Kissmann & Groth (1995)como sendo Verbena cayennensis L.C.Rich, Verbena jamaicensis (L.) Vahl,Verbena jamaicensis Vell.,Stachytarpheta australis Mold.,

ROSSETTO, C.A.V.; VIEGAS, E.C.; NAKAGAWA, J. Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 2,p. 114-118, julho 2.000.

Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo.Claudia Antonia V. Rossetto1; Elson de C. Viegas2; João Nakagawa2

1/UFRRJ - IA, Departamento de Fitotecnia, 22.851-970 Seropédica - RJ; 2/UNESP - FCA, Departamento de Agricultura e MelhoramentoVegetal, C. Postal 237, 18.603-970 Botucatu -SP. e-mail: [email protected]

RESUMO

Foram conduzidos dois experimentos com o objetivo de estudara germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo[Stachytarpheta cayennesis (L.C. Rich) Vahl], removidas de espi-gas que haviam sido armazenadas após terem sido colhidas em doisestádios de maturação. As unidades de dispersão foram removidasde espigas que se encontravam armazenadas por seis ou 18 meses eque haviam sido colhidas com a coloração verde ou palha. No pri-meiro experimento, as unidades de dispersão, incubadas no interiorde caixas plásticas ”tipo gerbox”, foram distribuídas em folhas depapel germitest umedecidas com água destilada, sob temperatura de20oC (noite) e 30oC (dia), na presença ou ausência de fotoperíodo de12 horas, por 28 dias. No segundo experimento, as unidades de dis-persão, incubadas no interior de caixas plásticas, foram distribuídasem folhas de papel germitest umedecidas com água destilada oucom solução de KNO3, sob temperatura de 20oC (noite) e 30oC (dia),na presença ou ausência de fotoperíodo de 12 horas, por 28 dias. Amaior germinação foi obtida a partir de unidades de dispersão pro-venientes de espigas colhidas com a coloração palha e que se en-contravam armazenadas por seis meses. A presença da luz, e o empre-go de nitrato na ausência de luz, favoreceram a germinação das unida-des de dispersão retiradas da parte apical e basal de espigas colhidascom a coloração verde ou palha e, armazenadas por seis ou 18 meses.

Palavras-chave: Stachytarpheta cayennesis; produção desementes, qualidade fisiológica.

ABSTRACT

Stachytarpheta cayennesis seeds germination.

Two experiments were carried out to study Stachytarphetas[Stachytarpheta cayennesis (L.C. Rich) Vahl] seeds (seedlike nutlets)germination. After harvesting, green and mature spikes were storedfor 6-18 months. Seeds were removed from the spikes just after eachstorage period. In the first experiment, the seeds were incubated inplastic boxes with sheets of filter paper moistened with deionizedwater, set at 20o (night) and 30oC (day), with or without a photoperiodof 12h, for 28 days. In the second experiment, those seeds wereincubated in plastic boxes with sheets of filter paper moistened withdeionized water or KNO3, set at 20o (night) and 30oC (day), with orwithout a photoperiod of 12 h, during 28 days. The best germinationwas observed in seeds from mature spikes stored for 6 months. Lightand nitrate favored the germination of seeds from proximal and distalposition in the spikes previously stored for 6 or 18 months.

Keywords: Stachytarpheta cayennesis, seed production,physiological quality.

(Aceito para publicação em 04 de abril de 2.000)

Stachytarpheta dichotoma (Ruiz &Pav.) Vahl e Stachytarpheta polyuraSchauer. Esta espécie é conhecida pe-los seguintes nomes vulgares: gervão-azul (Kissmann & Groth, 1995), gervão-das-taperas, rinchão, verbena-falsa (PioCorrea, 1926), gervão-do-campo (Cas-tro & Chemale, 1995), mocotó, richão,erva-gerbão, folha-de-verônica,ogervão, vassourinha-de-botão,urgebão, origão, oribão, verviene e chá-do-Brasil (Almeida, 1993).

Esta planta é originária da AméricaTropical, com ocorrência na Austrália,no Havaí, na Índia (Dias Filho et al.,1995) e no Brasil, onde tem ampla dis-tribuição, desde a Amazônia até o RioGrande do Sul (Pio Correa, 1926; Cas-tro & Chemale, 1995), em particular naAmazônia Brasileira, em áreas conside-radas mais secas (Dias Filho et al., 1995)e com uma cobertura de vegetação po-

bre (Dias Filho, 1994b; Kissmann &Groth, 1995). Tem sido consideradainfestante de pastagens e de áreas decultivo (Caribé & Campos, 1991;Kissmann & Groth, 1995).

O estudo farmacológico dessa espé-cie foi realizado por Costa (1960), quan-do determinou os seus princípios ativos(estarquitarina, citral, geraniol,verbecalina, dextrina e ácido ascórbico).Entre as virtudes da planta, tanto dasfolhas quanto das raízes, são a de com-bater as dores do peito e do estômago,bem como a de ser estimulante,febrífuga (Pio Corrêa, 1926), sudoríficae diurética (Almeida, 1993). Posterior-mente, Caribé & Campos (1991) eViegas (1996) relataram que o decoctodas folhas apresenta também proprieda-des inseticidas.

A propagação do gervão-roxo ocor-re somente por reprodução sexuada, por

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115Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

meio de sementes produzidas, geral-mente, aos pares dentro de frutos secosque desenvolvem-se em cavidades aolongo de espigas (Dias Filho, 1994b).Segundo Lopez-Palacios (1977), ogervão-roxo apresenta espigas longascom até 38 cm de comprimento e frutocapsular ovóide-lanceolado que se par-te quando maduro em duas cocas, cadauma com uma semente (ereta, linear esem endosperma). No entanto, para Cas-tro & Chemale (1995), os frutos degervão-roxo são do tipo indeiscente,constituídos de esquizocarpos, cujassementes são aderidas internamente aofruto, contendo cada fruto uma só se-mente. Para Kissmann & Groth (1995),a semente de gervão-roxo está inclusano carcerulídio; o fruto desta espécie édenominado artrocarpáceo, apresenta-secom dois carcerulídios e está inseridoem espigas lineares; os carcerulídios sãodenominados de unidades de dispersão.

Certos fatores físicos e químicos, aosquais as sementes dessa espécie estãonaturalmente expostas no campo, afe-tam os padrões de sobrevivência e ger-minação, sugerindo que as práticas decultivo que impedem as sementes dereceberem luz, tal como o cultivo da ter-ra, podem reduzir a ocorrência destaespécie temporariamente, pois quandoestas são expostas à luz, elas germinam(Dias Filho, 1994a). Por outro lado, quan-do ocorre a roçagem, o número de ramospor planta é afetado negativamente, maso número de espigas por ramo e o núme-ro de sementes por espiga e por ramo sãofavorecidos (Dias Filho et al., 1995).

Não foi observado nenhum efeito denitrato na germinação de sementes degervão-roxo, quando na presença de luz;no entanto, na ausência, foi verificadobaixa germinação, o que sugere haverum mecanismo de estímulo do nitrato àgerminação (Dias Filho, 1994a). Alémdisso, para sementes de Plantagolanceolata, Pons (1989) constatou que-bra de dormência das sementes na pre-sença de alta concentração de nitrato,quando o solo apresenta-se sem cober-tura vegetal.

Em relação à longevidade das se-mentes de gervão-roxo, Dias Filho(1994a) observou que ocorreu uma per-da de viabilidade de 55%, 52% ou 24%quando na superfície, a 5cm e a 10cm,

respectivamente, indicando que esta es-pécie pode compor o banco de semen-tes do solo.

O objetivo deste trabalho foi o deavaliar a germinação das unidades dedispersão de gervão-roxo, colhidas deespigas em dois estádios de maturaçãoapós um período de armazenamento.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho, conduzido no Laborató-rio de Sementes do Departamento deFitotecnia do Instituto de Agronomia daUniversidade Federal Rural do Rio deJaneiro, em julho de 1997, constituiu-se de dois experimentos.

No primeiro experimento, foram uti-lizadas espigas (infrutescência) degervão-roxo [Stachytarpheta cayennesis(L.C. Rich) Vahl] que foram colhidas,em 19 de janeiro de 1997, quando apre-sentavam-se com a coloração ainda ver-de ou palha e, que, posteriormente, fo-ram armazenadas por seis meses, emcondições de ambiente sem controle detemperatura e umidade relativa do ar.

O delineamento experimental em-pregado foi inteiramente casualizado,em esquema fatorial 8x2 (fatores xmetodologias de condução do teste),com quatro repetições. Tanto as espigasverdes como as maduras foram dividi-das em suas duas porções, apical e basale, dessas foram retirados os frutos in-teiros (artrocarpáceo). Cada fruto foi ounão separado em suas duas metades,denominadas, segundo Kissmann &Groth (1995), de unidades de dispersão(carcerulídios) e, a seguir, foram sub-metidos à duas metodologias de condu-ção do teste de germinação.

Para o teste de germinação, quatrorepetições de 50 frutos inteiros ou 50metades dos frutos foram conduzidas empapel germitest, umedecido com águadestilada na proporção de 2,5 vezes opeso do papel, e colocadas no interiorde caixas plásticas transparentes. Essasforam mantidas em germinador sob tem-peratura alternada de 20 a 30oC, comfotoperíodo de 12 horas. Outras quatrorepetições foram conduzidas em outrogerminador sob temperatura alternadade 20 a 30oC, na ausência de luz.

As contagens foram realizadas aos10 e 28 dias após a instalação do teste,

sob as condições de presença ou ausên-cia de luz, com base nas recomendaçõesencontradas nas Regras para Análise deSementes (Brasil, 1992), para algumasespécies da família Verbenaceae. Quan-do foram empregados os frutos, que sãocompostos por duas metades, foi consi-derada a presença de pelo menos umaplântula normal (com comprimento mí-nimo de 2,0 cm).

O vigor foi determinado na primei-ra contagem do teste de germinação,pela avaliação das porcentagens deplântulas normais. Além disso, em cadatratamento determinou-se o grau deumidade dos frutos utilizando-se qua-tro repetições de 50 frutos, com base nasRegras para Análise de Sementes (Bra-sil, 1992).

No segundo experimento, foram uti-lizadas espigas de gervão-roxo colhidas,em 01 de janeiro de 1996, quando apre-sentavam-se com a coloração palha, eque encontravam-se armazenadas por 18meses em condições de ambiente e, es-pigas colhidas, em 19 de janeiro de1997, quando apresentavam-se com acoloração verde ou palha, e que encon-travam-se armazenadas por seis mesesnas mesmas condições de ambiente, semcontrole de temperatura e umidade re-lativa do ar.

O delineamento experimental em-pregado foi o inteiramente casualizado,em esquema fatorial 6x3 (fatores xmetodologias de condução do teste),com quatro repetições. Tanto das espi-gas verdes e armazenadas por seis me-ses, como das de coloração palha, queencontravam-se armazenadas por seisou 18 meses, foram retirados os frutosinteiros (artrocarpáceos), sendo que es-ses foram ou não separados em suasduas metades, unidades de dispersão eem seguida foram submetidas a três con-dições do teste de germinação.

Para o teste de germinação, quatrorepetições de 50 frutos ou 50 metadesdos frutos foram colocadas em papelgermitest, umedecido com água desti-lada na proporção de 2,5 vezes o pesodo papel e, depositadas no interior decaixas plásticas. Estas foram mantidasem germinador sob temperaturas alter-nadas de 20 a 30oC, com fotoperíodo de8 horas. Outras quatro repetições foramconduzidas sob temperatura alternada de

Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo.

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116 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

20 a 30oC, na ausência de luz e, aindaoutras quatro repetições foram testadasem papel umedecido com solução deKNO

3, preparada de acordo com as Re-

gras para Análise de Sementes (Brasil,1992), e levadas para germinador sobtemperatura alternada de 20 a 30oC, naausência de luz.

As contagens foram realizadas aos10 e 28 dias após a instalação do teste,sob as três situações distintas, com basenas recomendações para a famíliaVerbenaceae, encontradas nas Regraspara Análise de Sementes (Brasil, 1992).Quando foram empregados os frutos,que são compostos por duas metades,foi considerada a presença de pelo me-nos uma plântula normal (com compri-mento mínimo de 2,0 cm).

O vigor foi avaliado na primeira con-tagem do teste de germinação, conside-rando-se a porcentagem de plântulasnormais nessa contagem. Além disso,determinou-se o grau de umidade dosfrutos de cada tratamento utilizando-se,quatro repetições de 50 frutos com basenas Regras para Análise de Sementes(Brasil, 1992).

Foi realizada a análise de variânciados dados obtidos nos dois experimen-tos separadamente, sendo que os dadosem porcentagem foram transformadospreviamente em arco seno (x/100)1/2. Asmédias foram comparadas pelo teste de

Tukey, a 5% de probabilidade. Os da-dos de grau de umidade não foram ana-lisados estatisticamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grau de umidade dos frutos intei-ros (cada um composto por doiscarcerulídios) e das metades destes fru-tos (um carcerulídio), retirados das espi-gas que estavam armazenadas, apresen-tavam-se entre 9,1 e 9,5% (Tabela 1).

A maior germinação foi obtida quan-do empregaram-se frutos inteiros oumetades desses retirados da parte basaldas espigas colhidas com a coloraçãopalha, portanto, possivelmente, estasunidades de dispersão encontravam-semais desenvolvidas por ocasião da co-lheita, uma vez que a maturação na es-piga ocorre da porção basal para a por-ção apical. No entanto, a germinaçãonão diferiu da obtida dos frutos inteirosou de metades destes retirados da parteapical das espigas colhidas com a mes-ma coloração ou, ainda, da parte basalde espigas colhidas com a coloraçãoverde (Tabela 1).

Em relação à metodologia do testede germinação, não houve efeito signi-ficativo da luz na germinação dos fru-tos inteiros e das metades destes, inde-pendente da parte e da coloração dasespigas em que foram retirados. Toda-

via pode-se verificar que a menor por-centagem de plântulas anormais foiconstatada na presença de luz, quandoforam empregados frutos inteiros oumetades destes retirados de espigas co-lhidas com a coloração palha. Assim,com a luz, provavelmente, houve supe-ração dos problemas de dormência, quecausaram demora na germinação, poispode-se verificar que as anormalidadescaracterizaram-se pelo menor desenvol-vimento das plântulas (Tabela 2).

A porcentagem de plântulas normaisna primeira contagem (considerada paraavaliar o vigor) foi maior quando em-pregaram-se frutos inteiros ou metadesdestes retirados da parte basal das espi-gas colhidas com a coloração palha,embora esta porcentagem não tenha di-ferido da obtida de frutos ou de meta-des destes, retirados da parte apical dasespigas colhidas com a mesma colora-ção ou, ainda, da parte basal das espi-gas colhidas com a coloração verde, àsemelhança do observado para a germi-nação (Tabela 1).

Em relação à metodologia de con-dução do teste de germinação, a maiorporcentagem de plântulas normais naprimeira contagem foi constatada napresença de luz, a qual pode ter ocasio-nado a superação dos problemas dedormência dos frutos ou das metadesdestes (Tabela 1). Tal resultado concor-

FatoresGrau deumidade

GerminaçãoPrimeira

ContagemFruto Parte da espigaColoração da

espiga

Inteiro Basal Verde 9,3 60,8 ab 28,8 a

Metade Basal Verde 59,0 ab 21,8 ab

Inteiro Apical Verde 9,5 48,0 b 4,0 c

Metade Apical Verde 47,8 b 8,5 bc

Inteiro Basal Palha 9,1 65,0 a 36,0 a

Metade Basal Palha 63,2 a 27,2 a

Inteiro Apical Palha 9,2 57,2 ab 18,8 ab

Metade Apical Palha 54,0 ab 20,2 ab

Com Luz 58,9 A 23,6 A

Sem Luz 56,1 A 17,7 B

C.V.(%) 14,67 22,09

Tabela 1. Dados médios, em porcentagem, de grau de umidade, de germinação e de primeira contagem (vigor) das unidades de dispersão degervão-roxo, coletados no Experimento I, em Seropédica. Rio de Janeiro, UFRRJ, 1997.

* Médias seguidas da mesma letra maiúscula (para metodologia do teste) e minúscula (para unidades de dispersão) não diferem entre si, peloTeste de Tukey, a 5 % de probabilidade.

C.A.V. Rossetto et al.

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117Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

da com os obtidos por Dias Filho(1994a), onde o cultivo da terra impedeas sementes de receberem luz e podereduzir a ocorrência desta espécie tem-porariamente, pois quando estas semen-tes são expostas à luz, elas germinam.

No segundo experimento, o grau deumidade dos frutos e das metades des-tes, retirados das espigas que estavamarmazenadas, apresentavam-se entre 9,0e 9,5% (Tabela 3).

Verificou-se pela Tabela 3, que hou-ve aumento da porcentagem de germi-nação dos frutos inteiros ou das meta-des desses retirados de espigas colhidascom a coloração verde ou palha e, ain-da, armazenadas por seis meses, quan-do o teste foi conduzido na presença de

luz. Tal resultado concorda com os ob-tidos por Dias Filho (1994a), onde assementes dessa espécie apresentamcomportamento fotoblástico positivo,pois as mesmas germinam na presençade luz.

Quando foi empregado o KNO3, na

ausência de luz, também ocorreu o mes-mo, mas, provavelmente, pela ação donitrato que segundo Bewley & Black(1992), o nitrato pode superar adormência de muitas espécies, sozinhoou em combinação com alternância detemperatura e, ou, luz. Mas, no caso degervão-roxo, Dias Filho (1994a) nãoobservou efeito do nitrato na germina-ção das sementes, na presença de luz,após 14 dias da instalação; no entanto,

FatoresGrau deumidade

Plântula Anormal

Fruto Parte da EspigaColoração da

espigaCom Luz Sem Luz

Inteiro Basal Verde 9,3 15,5 Aab 17,5 Aab

Metade Basal Verde 22,5 Aab 28,5 Aa

Inteiro Apical Verde 9,5 27,0 Aa 15,5 Bab

Metade Apical Verde 17,5 Aab 16,0 Aab

Inteiro Basal Palha 9,1 3,0 Bc 19,5 Ab

Metade Basal Palha 5,0 Bbc 14,5 Ab

Inteiro Apical Palha 9,2 2,5 Bc 16,0 Ab

Metade Apical Palha 7,5 Bbc 12,0 Ab

C.V.(%) 30,90

Tabela 2. Dados médios, em porcentagem, de plântulas anormais das unidades de dispersão de gervão-roxo, coletados no Experimento I,em Seropédica. Rio de Janeiro, UFRRJ, 1997.

* Médias seguidas da mesma letra maiúscula (para metodologia do teste) e minúscula (para unidades de dispersão) não diferem entre si, peloTeste de Tukey, a 5 % de probabilidade.

Fatores Graude

umi-dade

Germinação Plântula Anormal Primeira Contagem

FrutoArmaze-namento(meses)

Coloraçãoda espiga

ComLuz

(água)

Sem Luz(água)

SemLuz

(KNO 3)

ComLuz

(água)

Sem Luz(água)

SemLuz

(KNO 3)

Com Luz(água)

SemLuz

(água)

SemLuz

(KNO3)

Inteiro 6 Palha 9,5 82,0 Aa 65,0 Ba 73 Aa 1,0 Ca 17,0 Abc 12,0 Ba 44,0 Aa 6,0 Ca 15,0 Ba

Metade 6 Palha 62,0 Ac 55,0 Bb 67 Aa 1,0 Ba 23,0 Ab 22,0 Aa 30,0 Aab 4,0 Ca 8,0 Ba

Inteiro 6 Verde 9,4 75,0 Ab 54,0 Bb 76 Aa 2,0 Ba 13,0 Abc 13,0 Aa 44,0 Aa 10,0 Ba 12,0 Ba

Metade 6 Verde 75,0 Ab 48,0 Bbc 76 Aa 4,0 Ba 11,0 Ac 15,0 Aa 37,0 Aab 4,0 Ca 9,0 Ca

Inteiro 18 Palha 9,0 60,0 Ac 36,0 Bcd 71 Aa 1,0 Ca 23,0 Ab 10,0 Ba 17,0 Ab 0,0 Ca 8,0 Ba

metade 18 Palha 40,0 Bd 29,0 Bd 52 Ab 4,0 Ba 51,0 Aa 33,0 Aa 17,0 Ab 0,0 Ca 8,0 Ba

C.V.(%) 14,66 15,25 19,20

Tabela 3. Dados médios, em porcentagem, de grau de umidade, de germinação, de plântulas anormais e de primeira contagem (vigor) dasunidades de dispersão de gervão-roxo, coletados no Experimento II, em Seropédica. Rio de Janeiro, UFRRJ, 1997.

* Médias seguidas da mesma letra maiúscula (para metodologia do teste) e minúscula (para unidades de dispersão) não diferem entre si, peloTeste de Tukey, a 5 % de probabilidade.

na ausência de luz, foi verificada algu-ma germinação, sugerindo haver ummecanismo de estímulo deste à germi-nação. Resultado semelhante ocorreupara sementes de Plantago lanceolata,que germinaram na presença do nitratoe ausência de luz (Willians, 1983).

Com o armazenamento das espigaspor 18 meses, observou-se que houveredução mais acentuada da germinaçãodos frutos ou das metades desses, prin-cipalmente, na ausência de luz. Alémdisso, constatou-se que houve diminui-ção da germinação das metades dos fru-tos retirados de espigas colhidas com acoloração palha, provavelmente, emfunção destas terem sido submetidas adano mecânico ocorrido por ocasião da

Germinação das unidades de dispersão de gervão-roxo.

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118 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

separação dos frutos, momentos antesda instalação do teste de germinação(Tabela 3).

As menores porcentagens deplântulas anormais foram observadasquando avaliaram-se as unidades de dis-persão na presença de luz ou ainda quan-do foi empregada a solução de KNO

3,

durante a condução do teste de germi-nação. Cabe salientar que estasplântulas classificadas como anormais,ocasionadas provavelmente pelo atra-so de sua germinação, causada por pro-blema de dormência, na presença de luzou de KNO

3, puderam ser superadas,

resultando em maior percentual deplântulas normais.

As maiores porcentagens de plântulasnormais na primeira contagem foramobservadas quando avaliaram-se as uni-dades de dispersão na presença de luz ouapós o emprego de KNO

3, na ausência

de luz (Tabela 3). Assim, a primeira con-tagem neste caso pode representar umamanifestação de superação de dormência,e por isso, as unidades de dispersão ger-minaram mais rapidamente.

Em concordância com os resultadosobtidos, a maior germinação foi obtida apartir de unidades de dispersão provenien-tes de espigas colhidas com a colora-ção palha e armazenadas por seis meses;

a presença da luz e o emprego de nitrato,na ausência de luz, favoreceram a ger-minação das unidades de dispersão reti-radas da parte apical e basal de espigascolhidas com a coloração verde ou palhae, armazenadas por seis ou 18 meses.

AGRADECIMENTOS

A Profa Dra Margarida GoréteFerreira do Carmo, do Departamento deFitotecnia da UFRRJ, pelas sugestõesapresentadas.

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C.A.V. Rossetto et al.

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119Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

A queima-das-folhas, causada pelocomplexo patológico formado por

Alternaria dauci (Kuhn) Groves &Skolko, Cercospora carotae (Pass)Solheim e Xanthomonas campestris pv.carotae (Kendrick) Dye é o fator maislimitante à cultura da cenoura (Daucuscarota L.) cultivada no verão brasilei-ro. Os três patógenos podem ocorrer aomesmo tempo na planta e causam sin-tomas similares, mesmo quandoinfectando individualmente a folhagem(Reifschneider, 1980; Reifschneider etal., 1984).

Na busca de informações para o con-trole da doença por meio da resistênciagenética, cultivares de cenoura têm sidoavaliadas para resistência à queima-das-folhas em diferentes localidades no Bra-sil. Na maioria destas avaliações, entre-tanto, faz-se referência à presença deapenas um dos patógenos, A. dauci,como em trabalhos realizados emBrasília, DF (Boiteux et al., 1983;Aguilar et al., 1986); em Uberlândia,MG (Oliveira Filho et al., 1990); emBandeirantes, PR (Juliatti et al., 1987);

LOPES, C.A.; RITSCHEL, P.S.; VIEIRA, J.V.; LIMA, D.B. Comportamento de genótipos de cenoura para verão em localidades com diferentes etiologias daqueima-das-folhas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18 n. 2, p. 119-122, julho 2.000.

Comportamento de genótipos de cenoura para verão em localidades comdiferentes etiologias da queima-das-folhas.Carlos Alberto Lopes; Patrícia S. Ritschel; Jairo V. Vieira; Dejoel B. LimaEmbrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70.359-970 Brasília - DF. e-mail: [email protected]

RESUMO

Treze genótipos de cenoura de verão foram avaliados em 1997 e1998 para a resistência ao complexo etiológico da queima-das-fo-lhas em seis localidades apresentando infecção natural com os dife-rentes componentes deste complexo. Alternaria dauci foi o patógenomais frequente, presente em todas as localidades e predominandoem quatro delas. Cercospora carotae foi encontrado em três dosseis locais, prevalecendo em um deles. Estes dois patógenos esta-vam presentes em proporções similares em um dos locais.Xanthomonas campestris pv. carotae foi observada em todas as lo-calidades, porém em intensidade sempre menor do que os dois fun-gos, sempre que estes últimos se encontravam presentes. Os genótipos‘Brasília’, ‘Alvorada’, ‘Tropical’, ‘Carandaí’ e ‘Kuronan’, foram osmais resistentes, independentemente da composição local do com-plexo etiológico da doença. As cultivares Nova Kuroda e Prima fo-ram as mais suscetíveis à doença.

Palavras-chave: Alternaria dauci, Cercospora carotae, Xanthomonascampestris pv. carotae, Daucus carota, resistência a doenças.

ABSTRACT

Behavior of summer carrot genotypes in fields with differentetiologies of the leaf blight complex.

Thirteen carrot genotypes were evaluated for their resistance tothe leaf blight complex in six locations in Brazil. The assessmentswere carried out under field conditions, in the summer of 1997 and1998, in plots where each of the pathogens were involveddifferentially in the composition of the complex. Alternaria dauciwas the most frequent pathogen, being found in all locations andpredominating in four of them. Cercospora carotae was found inthree out of the six locations, predominating in one of them. Thesetwo species were found in equal proportions in one field.Xanthomonas campestris pv. carotae was present in all sampled plots,but in lower intensity when compared to the two fungi. The cultivarsBrasilia, Alvorada, Tropical, Carandai and Kuronan were the mostresistant, independently of the composition of the pathologicalcomplex. ‘Nova Kuroda’ and ‘Prima’ were the most susceptible.

Keywords: Alternaria dauci, Cercospora carotae, Xanthomonascampestris pv. carotae, Daucus carota, disease resistance.

(Aceito para publicação em 09 de março de 2.000)

em Goiânia, GO (Sonnenberg et al.,1979); em Guaramiranga, CE (Muniz &Ponte, 1988), em Mogi das Cruzes, SP(Costa et al.,1974) e em Vitória de SantoAntão, PE (Melo et al., 1979). Já nosmunicípios de Guaramiranga, CE (Muniz& Magalhães, 1984) e Uberlândia, MG(Brito et al., 1997), as avaliações foramfeitas em campos onde A. dauci e C.carotae participavam do processo infec-cioso, embora, no último caso, A. daucitivesse alta predominância.

Apesar de A. dauci ter se mostradoo mais freqüente e o mais agressivo dostrês patógenos em cenoura, C. carotaetem predominado em algumas áreas decultivo (Reifschneider, 1983), podendorequerer estratégia de controle diferen-ciada para a doença.

O objetivo deste trabalho foi inves-tigar a etiologia da queima-das-folhas eavaliar um conjunto de cultivares decenoura recomendadas para o cultivo deverão em seis regiões produtoras de ce-noura no Brasil, visando orientar o pro-cesso de seleção de cultivares resisten-

tes à doença bem como a produção desementes destas cultivares.

MATERIAL E MÉTODOS

A severidade da doença e a contri-buição individual dos patógenos Alter-naria dauci (AD), Cercospora carotae(CC) e Xanthomonas campestris pv.carotae (XCC) na manifestação da quei-ma-das-folhas foi avaliada em 13genótipos de cenoura cultivadas, duranteo verão, em 1997 e 1998. Essesgenótipos consistiram de duas popula-ções, cinco cultivares e seis seleções dacv. Brasília, que é hoje cultivada emmais de 70% da área produtora de ce-noura no Brasil. Os experimentos foramrealizados em campos sob infestaçãonatural dos patógenos em seis localida-des: Embrapa Hortaliças, Brasília, DF;Núcleo Rural da Vargem Bonita,Brasília, DF; Núcleo Rural de Alexan-dre Gusmão, Brasília, DF; São Gotardo,MG; Carandaí, MG e Irecê, BA, comoparte de um ensaio regional de cultiva-

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120 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

res conduzido pela Embrapa Hortaliças.Cada parcela foi constituída de 4 m2 decanteiro contendo aproximadamente360 plantas, com três repetições. A se-veridade da doença foi avaliada em cadaparcela segundo uma escala de notas quevariou de 1 a 5, onde 1 representavaausência de sintomas e 5 queima totaldas folhas. A avaliação foi feita por doisavaliadores, e os valores representadospela média das duas leituras.

Para a análise etiológica, entre cin-co e dez folhas com sintomas caracte-rísticos da doença foram colhidas dasplantas em cada local de plantio, porocasião da colheita das raízes, de modoque diferentes idades de folha das plan-tas fossem amostradas, quando possível.As folhas foram levadas em sacos depapel para o laboratório e submetidaspor 24-48 horas à câmara úmida forma-da em sacos de plástico vedados con-tendo um chumaço de algodão umede-cido em água destilada esterilizada emseu interior. A seguir, dez lesões indivi-duais de cada amostra foram cortadaspela metade com bisturi flambado, emseções de aproximadamente 2 x 2 mm,e examinadas em microscópio óticoOlympus com objetiva 10 e ocular 12,5para determinar a presença de esporosdos fungos e de exsudação de fluxobacteriano. Para cada localidade, foramexaminadas 30 seções de folíolos porgenótipo, em três repetições.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise etiológica, verificou-se apredominância de AD em quatro dasseis localidades amostradas em 1997 e1998 (Tabela 1), indicando que este é opatógeno mais freqüente do complexo.Este resultado está em concordânciacom o relato de Reifschneider (1983) ejustifica os maiores esforços dos progra-mas de melhoramento visando resistên-cia à doença com esta etiologia (Boiteuxet al., 1983). CC prevaleceu sobre ADsomente no Núcleo Rural de AlexandreGusmão, no Distrito Federal, emborativesse alta incidência também no cam-po experimental da Embrapa Hortaliças.Proporções similares dos patógenos fo-ram encontradas quando estas mesmaslocalidades do Distrito Federal foramamostradas neste trabalho e no levanta-

mento feito há mais de 15 anos(Reifschneider, 1983). Isto indica que apressão de seleção sobre o patógeno,pela adoção de uma cultivar resistente,como a ‘Brasília’, não provocou altera-ções discerníveis nas populações doscomponentes do complexo.

Observou-se ainda que, baseado nosdados obtidos na Embrapa Hortaliças,somente se pode inferir sobre a resis-tência à “queima” causada por CC ouXCC em genótipos resistentes a AD.Isto porque a presença destes patógenossomente pode ser observada na dispo-nibilidade de tecido foliar resultante daresistência a AD, patógeno mais agressi-vo e que ataca a planta em estádios decrescimento menos avançados. Este fatopode ser comprovado quando as parce-las testemunhas da cultivar Nantes fo-ram totalmente destruídas por AD naEmbrapa Hortaliças, em 1997 (dadosnão publicados), enquanto outrosgenótipos avaliados apresentaram osdois fungos em proporções similares.Em ‘Nantes’, que é extremamente sus-cetível ao ataque de AD, não foi possí-vel detectar CC, por falta de área foliardisponível ao ataque deste último, em-bora se soubesse que este estava presen-te no campo. Como consequência, a re-sistência a AD incorporada nas cultiva-res de lançamento mais recente têm pro-porcionado observações mais freqüen-

tes de CC e XCC, dando até uma idéiasuperestimada da importância econômi-ca destes agentes etiológicos.

Embora quase sempre presente naslocalidades, a incidência de XCC sem-pre foi bem menor do que a do fungomais frequente. Como não foi observa-da interação significativa entre cultivarX patógeno na análise estatística, aprevalência do patógeno por localidadeé representada pela média das cultiva-res (Tabela 1). A alta prevalência de ADem São Gotardo, Irecê, Carandaí eVargem Bonita (DF) e de CC em Ale-xandre Gusmão (DF) indicam quegermoplasma eventualmente seleciona-do nestas localidades em programas demelhoramento podem acumular diferen-tes freqüências de genes de resistênciaa estes patógenos. Nos campos experi-mentais da Embrapa Hortaliças, ambosCC e AD encontram ambiente favorá-vel, tendo sido encontrados em propor-ções similares (Tabela 1). É provávelque esta situação tenha sido favoráveldurante a seleção da cultivar Brasília,que tem mostrado alto nível de resistên-cia ao complexo queima-das-folhas emdiferentes localidades do Brasil, inde-pendente do patógeno prevalecente (Ta-bela 2). Entretanto, estudo visando ava-liar a independência de genes de resis-tência para cada um dos patógenos docomplexo necessita ser melhor avalia-

Localidade1/ano

N° de lesõesanalisadas2

N° decontagens3

Freqüência (%)

AD CC XCC

S. Gotardo/97 420 341 98,2 0,0 1,8

S. Gotardo/98 420 397 97,7 0,0 2,3

CNPH/97 390 416 37,3 57,7 5,0

CNPH/98 420 650 48,2 45,5 6,3

V. Bonita/97 420 398 98,0 1,3 0,7

A. Gusmão/97 420 398 13,8 79,9 6,3

Irecê/98 390 79 90,0 0,0 10,0

Carandaí/98 420 455 88,4 0,0 11,6

Tabela 1. Freqüência da ocorrência de Alternaria dauci (AD), Cercospora carotae (CC) eXanthomonas campestris pv. carotae (XCC) em lesões de folhas de cenoura cultivada noverão em diferentes localidades/anos. Valores em porcentagem do número de contagens.Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997/1998.

1 S. Gotardo = São Gotardo, MG; CNPH = Embrapa Hortaliças, Brasília, DF; V. Bonita =Núcleo Rural de Vargem Bonita, Brasília, DF; A. Gusmão = Núcleo Rural Alexandre Gusmão,Brasília, DF; Irecê, BA; Carandaí, MG.2 Número de lesões foliares analisadas para a presença dos patógenos da queima-das-folhas.3 Número de lesões contendo cada patógeno. Obs. uma lesão foi contada mais de uma vezem caso de infecção com mais de um patógeno

C.A. Lopes et al.

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121Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

da no Brasil, e estudos neste sentidoencontram-se em andamento naEmbrapa Hortaliças.

O fato de ‘Brasília’ ter sido selecio-nada basicamente na Embrapa Hortali-ças permitiu que, além da resistência aAD, seleção fosse feita também para CCe XCC, patógenos que também encon-tram condições ambientais favoráveispara desencadear epidemias no verãodesta localidade. Entretanto, esta culti-var apresenta alguma suscetibilidade aCC em condições de campo(Reifschneider, 1984).

Houve uma tendência de osgenótipos mais resistentes assim se com-portarem nas diferentes localidades (Ta-bela 2), independentemente da compo-sição etiológica do complexo patológi-co. Por exemplo, foi observada umacorrelação de 69 % quando se compa-raram os 13 genótipos em Vargem Bo-nita e em Alexandre Gusmão, onde pre-dominaram AD e CC, respectivamente.Embora não muito alta, esta correlaçãopode ser parcialmente explicada pelo“pool” gênico utilizado no melhoramen-to genético, que provavelmente confereresistência do tipo horizontal a mais de

uma doença (Vieira & Casali, 1984).O comportamento diferenciado dos

genótipos derivados da cultivar Brasília(Tabela 2) sugere que o processo de se-leção utilizado na obtenção destes foiexecutado em localidades com diferen-tes intensidades da doença; sem a devi-da pressão de seleção, a frequência dealelos desejáveis é diminuída, com re-flexo no nível de resistência.

Os resultados apresentados fortale-cem a necessidade de se avaliarem po-pulações avançadas, de programas demelhoramento, em diferentes localida-des. Além disso, para fins de produçãode sementes, a manutenção da popula-ção (cultivar) também requer exposiçõestemporárias à doença, de modo a garan-tir a estabilidade da frequência gênicadesejável nos indivíduos selecionados.

AGRADECIMENTOS

À Emater-MG, Emater DF, EPABAe COOPADAP-São Gotardo pelo apoiona instalação e avaliação das parcelasexperimentais; a Joaquim Olímpio, peloapoio laboratorial, a João Lopes peloapoio na condução do experimentos e a

GenótipoLocalidade1 / ano

MédiaSG/97 SG/98 CNPH/97 CNPH/98 VB/97 AG/97 IR/98 CAR/98

Brasília2 2,5 c3 2,8 a 1,8 d 3,0 e 2,6 c 2,2 de 2,4 a 3,8 bc 2,6

L 971275 2,6 c 3,5 a 2,1 d - 3,2 bc 2,1 e 3,4 a 4,0 b 3,0

Carandaí 2,6 c 3,3 a 3,7 abc 4,0 bcd 2,9 c 2,7 cde 3,0 a 3,1 c 3,2

Alvorada 2,6 c 3,1 a 2,2 d 4,2 bcd 3,1 bc 2,4 de 3,6 a 4,0 b 3,2

L 931175 3,0 c -4 2,2 d 4,1 bcd 3,4 bc 2,6 cde - - 3,1

Kuronan S 2,7 c 3,4 a 2,6 cd 3,9 cd 3,8 abc 3,1 bcde 2,8 a 3,9 bc 3,3

Brasília AS 2,9 c 4,0 a 2,3 d - 3,5 abc 2,8 cde 2,8 a 3,9 bc 3,2

Brasília RL 2,9 c 3,3 a 2,8 bcd 3,8 d 3,3 bc 3,4 bcd 3,0 a 3,6 bc 3,4

Tropical 3,1 c 3,6 a 2,8 bcd 4,5 abc 3,3 bc 3,0 cde 2,4 a 4,0 b 3,3

Brasília2 3,0 c 3,6 a 2,7 bcd 3,9 cd 3,4 bc 2,2 e 2,8 a 3,6 bc 3,2

Brasília S 3,4 bc 3,9 a 2,8 bcd 4,6 ab 3,4 bc 3,6 bc 3,0 a 4,3 ab 3,6

N Kuroda 4,1 ab 4,4 a 3,9 ab 5,0 a 4,5 ab 4,9 a 3,3 a 5,0 a 4,4

Prima 4,4 a 3,9 a 4,4 a 5,0 a 4,8 a 4,2 ab - 4,1 b 4,4C.V. 11,51 17,21 14,42 6,31 15,87 15,03 17,96 8,77

Tabela 2. Reação de genótipos de cenoura à infecção natural da queima-das-folhas em diferentes localidades e anos. Brasília, EmbrapaHortaliças, 1997/1998.

1: SG = São Gotardo, MG; CNPH = Embrapa Hortaliças, Brasília, DF; VB = Núcleo Rural de Vargem Bonita, Brasília, DF; AG = NúcleoRural Alexandre Gusmão, Brasília, DF; IR = Irecê, BA; CAR = Carandaí, MG.2: Cultivar Brasília produzida por firmas diferentes.3: Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si (Tuckey,P=0,05).(Média das notas de dois avaliadores, de 1 a 5, onde 1 representou ausência de sintomas e 5 queima total da folhagem).4: Avaliação não realizada.

Francisco Reifschneider e LeonardoBoiteux , pela leitura crítica do manus-crito e sugestões.

LITERATURA CITADA

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Comportamento de genótipos de cenoura para verão em localidades com diferentes etiologias da queima-das-folhas.

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122 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

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A batata (Solanum tuberosum L.), emtermos mundiais, é considerada a

terceira fonte alimentar da humanidadesendo suplantada apenas pelo arroz etrigo. No Brasil, ocupa o primeiro lugarentre as olerícolas em área cultivada emtermos de produção e valor econômico

FLORI, J.E.; RESENDE, G.M. Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duas épocas de plantio, no vale do São Francisco.Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18 n. 2, p. 122-125, julho 2.000.

Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duasépocas de plantio, no vale do São Francisco.José Egídio Flori; Geraldo Milanez de ResendeEmbrapa Semi-Àrido, C. Postal 23, 56.300-000 Petrolina-PE. e-mail: [email protected]

RESUMO

Com o objetivo de avaliar diferentes genótipos de batata tole-rantes ao calor em duas épocas de plantio (inverno e primavera),instalaram-se dois experimentos no Campo Experimental de Bebe-douro da Embrapa Semi-Árido, Petrolina (PE). O delineamento ex-perimental foi blocos ao acaso com quatro repetições, utilizando-seos genótipos LT-9, 301251-1, 311320-1, 301217-1, 301159-1, Ser-rana x DTO-33 e a variedade comercial Baraka como testemunha.Na condição de clima quente (média de 25,8°C), o genótipo LT-9apresentou a maior produtividade comercial (10,3 t/ha), seguido pelosdemais tratamentos que não mostraram diferenças estatísticas entresi, à exceção de Serrana x DTO-33 que apresentou a menor produti-vidade (2,7 t/ha). O cultivo na condição de clima mais frio (médiade 24,7°C), a produtividade total variou de 17,5 t/ha a 23,3 t/ha,sendo que o genótipo 301251-1 alcançou a maior produtividade (23,3t/ha), não se verificando diferença estatística entre os tratamentos.Pelos resultados preliminares obtidos há indicação que os genótipos301251-1, 311320-1; 301217-1 e 301159-1 podem ser plantados deabril a agosto como alternativas de cultivo à cultivar Baraka, neces-sitando, porém, de maiores investigações.

Palavras-chave: Solanum tuberosum, genótipos, adaptação.

ABSTRACT

Productivity of heat tolerant potato genotypes in two plantingtimes in São Francisco Valley, Northeast of Brazil.

The experiments were carried out at the Bebedouro Experimen-tal Field of Embrapa Semi-Àrid Research Center in Petrolina, Brazil,to evaluate different heat tolerant potato genotypes under two climaticconditions. The experimental design was of randomized completeblocks with seven genotypes (LT-9, 301251-1, 311320-1, 301217-1, 301159-1, Serrana x DTO-33 and cv. Baraka) and four replications.Under hot climatic condition (28°C) the genotype LT-9 showed thehighest commercial yield (10.3 t/ha), followed by the other treatmentsthat didn’t show statistical differences in relation to each other, exceptthe genotype Serrana x DTO-33 which showed the lowest commercialyield (2.7 t/ha). Under favorable condition (23°C), the commercialyield varied from 17.5 to 23.3 t/ha, whereas the genotype 301251-1showed the highest yield (23.3 t/ha) but there were no statisticaldifferences between the different treatments. The results indicatedthat the genotypes LT-9, 301251-1, 311320-1 and 301217-1 couldbe cultivated during the hot season and the genotypes 311251-1,301217-1 and 311320-1 could be cultivated under favorableconditions as an alternative to the Baraka variety. However moreinvestigation is needed.

Keywords: Solanum tuberosum, yield, adaptation.

(Aceito para publicação em 17 de maio de 2.000)

(Filgueira, 1995). O rendimento médionacional é de 14,48 t/ha, sendo que oEstado de Pernambuco apresenta umprodutividade média de 9,25 t/ha, parauma área cultivada de 4.830 hectares.No Nordeste e no Norte do Brasil o con-sumo por habitante/ano é ainda muito

baixo, em torno de 2,4 kg, sendo que naregião Sul e Sudeste é de aproximada-mente de 15 kg (ANUÁRIO ESTATÍS-TICO DO BRASIL, 1996).

A batata é originária da regiãoAndina e foi melhorada, geneticamen-te, nos países de clima temperado em

C.A. Lopes et al.

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123Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

condições de dias longos, sendo, por-tanto, as variedades cultivadas atual-mente intensamente influenciadas peloclima. No Brasil como não há grandesvariações no comprimento do dia,exceto na região sul, as maiores produ-tividades são obtidas sob condição dedias frios (Antunes & Fortes, 1981).Trabalho realizado por Wolf et al.(1991) identificaram a influência nega-tiva da alta temperatura na produtivida-de da cultura da batata, manifestada peloaumento do metabolismo da planta e,consequentemente, pela perda da eficiên-cia fotossintética. Sabe-se que a tempe-ratura tem influência direta natuberização. A temperatura variando de14 a 18°C, é indispensável para umacompleta e perfeita tuberização, ao con-trário das temperaturas acima de 30°Cque inibem e, até mesmo, impedem quea mesma aconteça (Bittencourt et al. ,1985; Lopes et al., 1996).

Trabalhos que visam a adaptação decultivares às condições de altas tempe-raturas têm sido relatados por diferen-tes autores (Levy, 1986; Manrique &Bartholomew, 1991; Midmore & Roca,1992). Apesar de se produzir melhor emclima frio, com temperatura média in-ferior a 23ºC, é possível cultivar a bata-ta em regiões de temperaturas mais ele-vadas no Nordeste brasileiro; entretan-to, é esperado um rendimento menor dacultura. Em condições experimentaistem-se conseguido até 30 t/ha (Silva etal., 1993); sendo que em relação aosprodutores têm-se verificado produçõesde 15 a 20 t/ha (Silva et al., 1993; Pe-reira et al., 1993). Rendimentos de 17,8t/ha foram obtidos por Flori (1995) coma cultivar Baraka, com plantio no mêsde maio. Salientando-se que todos estes

trabalhos foram conduzidos em épocasmais frias destas regiões.

Avaliando-se cultivares de batata noEstado da Paraíba, Silva (1987) obteveprodutividades variando de 4,0 a 14,5 t/ha, destacando-se a cultivar Baraka comoa mais produtiva. Esta cultivar tambémfoi recomendada por Filgueira (1984)para condições de temperaturas mais ele-vadas. Vale ressaltar que a produtivida-de média estadual de 9,25 t/ha é muitobaixa (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL, 1996). Embora o níveltecnológico da maioria dos produtorespernambucanos seja o principal fator res-ponsável pela baixa produtividade doEstado, as altas temperaturas tambémcontribuem para a redução da produção.

Este trabalho teve o objetivo de ava-liar a produção de seis clones de batatainglesa tolerantes ao calor, em duas épo-cas do ano, visando uma maior produti-vidade no Vale do São Francisco.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram conduzidos dois experimen-tos na Estação Experimental de Bebe-douro do Centro de PesquisaAgropecuária do Trópico Semi-Árido –Embrapa Semi-Árido, Petrolina - PE. Aanálise química prévia do solo da áreaexperimental apresentou as seguintesconcentrações na camada de 0-20 cm:K = 0,12, Ca = 1,4; Mg = 0,4; Na = 0,17,H+Al = 0,05 em cmolc /dm³ de solo; P= 55,80 mg/kg; matéria orgânica = 0,44% e pH = 6,5 em H

20, utilizando-se a

metodologia descrita pela EMBRAPA(1979). Os dados climáticos registradosno período de execução dos experimen-tos são apresentados na Tabela 1.

Utilizou-se o delineamento em blo-cos ao acaso com sete tratamentos e qua-tro repetições. Os genótipos avaliadosforam selecionados para tolerância aocalor pela Embrapa Hortaliças, sendo osseguintes: LT-9, 301251-1, 311320-1,301217-1, 5301159-1, Serrana x DTO-33 e a cultivar Baraka que foi emprega-da como testemunha. O espaçamentoempregado foi de 80 cm entre linha e 20cm entre plantas, sendo que a área útildas parcelas de 9,6 m² e 4,8 m², respecti-vamente para o plantio nas épocas outo-no/inverno e inverno/primavera.

O plantio da batata na época maisquente, safra inverno/primavera, foi rea-lizado em 22/08/95. Neste experimen-to foram utilizados todos os genótiposdescritos anteriormente. O plantio da ba-tata na época mais fria, safra outono/in-verno, foi realizado em 22/04/96, sen-do empregados os mesmos genótipos doplantio anterior com exceção dogenótipo Serrana x DTO-33.

As batatas-semente empregadas noexperimento instalado em 1995, safrainverno/primavera, foram oriundas decultura de tecidos, as quais após o pri-meiro cultivo foram colhidas e armaze-nadas em câmara frigorífica e posterior-mente utilizadas no plantio do expe-rimento instalado em 1996, safra outo-no/inverno. A adubação de plantio foiequivalente a 1.000 kg/ha do aduboformulado 6-24-12, sendo realizada umade cobertura equivalente a 100 kg/ha deN e 150 kg/ha de K

2O aos 20 dias do plan-

tio. Aplicou-se 2 kg/ha do princípio ati-vo Phorate a 5% no sulco de plantio.

As irrigações foram realizadas atra-vés de aspersão convencional, duas ve-zes por semana, com lâmina de água

Variável climática1995 1996

Agosto Setembro Outubro abril Maio junhoTemp. média mensal (°C) 24,4 25,7 27,3 25,6 25,0 23,5Temp. mínima mensal (°C) 18,6 19,9 21,8 19,9 18,5 17,8Temp. máxima mensal (°C) 31,4 32,9 35,2 31,0 30,9 29,7Precipitação (mm) 1,20 0,00 0,00 87,7 25,5 17,1Umidade relativa (%) 57 56 51 83 85 74Evaporação diária (mm) 7,2 8,8 9,2 5,0 5,5 5,3Insolação média diária (h) 7,2 9,0 9,1 6,0 4,4 7,4

Tabela 1. Dados climáticos no período de cultivo da cultura da batata inglesa na Estação Experimental de Bebedouro. Petrolina, EmbrapaSemi-Árido,1996.

Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duas épocas de plantio, no vale do São Francisco.

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calculada com base na evaporação do tan-que classe “A” e o coeficiente da culturacorrespondente ao estádio fenológico dacultura, conforme Doorembos & Kassam(1994). Os tratos fitossanitários foramrealizados com intervalos de quinze diassempre alternando-se os princípios ati-vos dos produtos para controle de pragase doenças na a cultura.

Na colheita as seguintes caracterís-ticas foram avaliadas: produtividade to-tal e comercial (tubérculos maiores que28 mm de diâmetro), formato, cor e as-pecto da película dos tubérculos e cicloda cultura. Posteriormente, foi feita aanálise de variância, aplicando-se o tes-te Tukey no nível de 5% de probabili-dade para comparação das médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se que a produtividade dosgenótipos, no período mais quente da

região que começa a partir de agosto,variou de 6,3 t/ha a 12,3 t/ha e 2,7 t/ha a10,3 t/ha, respectivamente, para produ-tividade total e comercial (Tabela 2).Neste cultivo destacou-se o genótipoLT-9 como a maior produtividade co-mercial (10,3 t/ha), não havendo dife-renças estatísticas em relação aos de-mais, à exceção de Serrana x DTO-33,que apresentou a menor produtividade(2,7 t/ha), mostrando-se totalmenteinadaptado às condições locais de culti-vo. Apesar de não se observar diferen-ças estatísticas entre os genótipos maisprodutivos, salienta-se que os genótiposLT-9, 301251-1 e 311320-1 foram 45%,36% e 21%, respectivamente, mais pro-dutivos que a cultivar Baraka, que é avariedade mais recomendada para re-giões com temperaturas altas, segundoFilgueira (1984). Estes resultados indi-cam a possibilidade de ganhos por sele-ção, demonstrando que um correto

direcionamento na estratégia de melho-ramento poderá resultar na obtenção degenótipos mais tolerantes ao calor.

Com relação à cor e ao aspecto dapelícula, bem como ao formato do tu-bérculo, verificou-se uma similaridadede comportamento dos genótipos emrelação à cultivar Baraka, excetuando-se LT-9, que mostrou a película maisáspera (Tabela 2).

A produtividade no experimento,cultivado sob condições de clima maisfrio, variou de 17,5 t/ha a 23,3 t/ha e de14,5 t/ha a 17,2 t/ha, respectivamente,para produtividade total e comercial, nãomostrando diferenças estatísticas entreos tratamentos. Contudo, para osgenótipos 301251-1 e 301217-1, verifi-caram-se níveis de produtividade supe-riores à cultivar Baraka, de 16,5 e 9,5%,respectivamente. Estes resultados sãosuperiores aos encontrados por Silva(1987) e Flori (1995), assim como amédia nacional, que é de 14,48 t/ha, su-plantando ainda a produtividade médiaestadual em 100%, no caso do genótipomais produtivo (301251-1 com 18,9 t/ha).

Com relação ao ciclo da cultura, ve-rificou-se para o experimento em con-dições de clima mais quente um ciclode 75 dias, enquanto para cultivo reali-zado na época mais fria o ciclo médiofoi de 80 dias. A pequena diferença ob-servada entre os ciclos foi influenciadapelo estado fisiológico das batatas-se-mente no momento do plantio. Enquan-to as batatas-semente do plantio reali-zado na época mais quente estavam jo-vens fisiológicamente, as batatas-se-mente cultivadas na época mais fria

GenótiposProdutividade Total

( kg/ha)Produtividade

Comercial (kg/ha)Cor e aspecto da

PelículaFormato

LT-9 12,3 a 10,3 a Amarela-aspera Arredondado

301251-1 12,2 a 9,7 a Amarela-lisa Arredondado

311320-1 10,0 a 8,6 a Amarela-lisa Arredondado

301217-1 11,2 a 8,0 a Amarela-lisa Arredondado

301159-1 9,0 a 7,4 a Amarela-lisa Arredondado

Baraka 12,3 a 7,1 a Amarela-lisa Arredondado

Ser.x DTO-33 6,3 b 2,7 b Amarela-lisa Arredondado

Média 10,5 7,7

Tabela 2. Produção total e comercial, cor e aspecto da película e formato de seis genótipos de batata tolerantes ao calor, cultivados na épocamais quente, no vale do São Francisco. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1995.

*Médias seguida da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a (p=0,05) 1Tubérculos com diâmetro acima de 28 mm.

GenótiposProdutividade (Kg/ha)

Total comercial 2

LT-9 17,5 a 14,5* a

311320-1 20,8 a 17,3 a

301217-1 21,9 a 18,4 a

301251-1 23,3 a 18,9 a

301159-1 18,2 a 14,8 a

Baraka 20,0 a 17,2 a

Média 16,8 20,3

Tabela 3. Produtividade total e comercial de seis genótipos de batata, tolerantes ao calor, cultiva-dos na época mais fria, no vale do São Francisco. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1996.

* Médias seguida da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p=0,05)² tubérculos acima de 28 mm de diâmetro

J.E.Flori & G.M. Resende.

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125Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

encontram-se fisiológicamente mais ve-lhas. É sabido que a idade fisiológicaafeta o ciclo da cultura da batata, de for-ma que quanto mais velha, mais curtoserá o ciclo da cultura. Dessa forma quea idade fisiológica mais avançada noexperimento plantado no época maisamena contrapôs a temperatura maisamena diminuindo o ciclo da cultura.Por outro lado as batatas-semente culti-vadas no período mais quente por se-rem mais jovens fisiológicamente pro-piciaram um ciclo cultural mais longo.

Comparando-se a produtividademédia nas duas épocas de plantio, veri-ficou-se que o cultivo no período maisfrio suplantou em 118% a produtivida-de obtida no cultivo sob condições declima mais quente. Este diferencial deprodutividade respalda o efeito depre-ciativo da alta temperatura na produti-vidade da cultura nas condições do Valedo São Francisco. A diminuição da pro-dutividade observada neste trabalho cor-robora com os autores Antunes & For-tes (1981), Bittencurt et al. (1995) eLopes (1996), que correlacionam a di-minuição da produção com aumento datemperatura.

Pelos resultados preliminares obti-dos, nas duas épocas de cultivo avalia-dos, os genótipos 301251-1, 311320-1,301217-1 e 301159-1 poderão ser usa-dos como alternativa de plantio à culti-var Baraka, necessitando, porém, demais avaliações em cultivos demonstra-tivos ou mesmo em escala comercial.

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Produtividade de genótipos de batata inglesa tolerantes ao calor em duas épocas de plantio, no vale do São Francisco.

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126 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

página do horticultor

No Nordeste do Brasil, o cultivo dotomateiro coloca-se como uma

atividade agrícola de expressiva relevân-cia socio-econômica. Nos estados dePernambuco e Bahia, maiores produto-res de tomate industrial da região Nor-deste, a produtividade média obtida nosperímetros irrigados é considerada bai-xa (40,0 t/ha), tendo em vista o grandepotencial existente para a tomaticulturana região (Embrapa, 1994). Entretanto,essa cultura tem contribuído efetiva-mente para viabilizar a exploração dosperímetros irrigados no Vale do SãoFrancisco, fornecendo matéria primapara funcionamento das indústrias ins-

RESENDE, G.M.; COSTA, N.D. Produtividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18. n 2, p.126-129, julho 2.000.

Produtividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco.Geraldo M. de Resende; Nivaldo Duarte CostaEmbrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56.300-000 - Petrolina-PE. e.mail: [email protected]

RESUMO

Com o objetivo de selecionar cultivares de tomate industrial maisprodutivas e com melhor qualidade, instalou-se dois ensaios emlatossolo no Campo Experimental de Bebedouro em Petrolina-PE,no período de maio a outubro de 1996 e 1997. O delineamento ex-perimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições e dezoitocultivares (IPA-5, XPH-5720, XPH-12066, XPH-12045, XPH-12068, XPH-12044, Spectrum-151, Spectrum-153, Spectrum-385,Nema-512, Nema-1435, Hypeel-153, Hypeel-108, PSP-58494, PSP-22210, Latino, Zenith e Condor). A produtividade comercial varioude 70,85 a 96,68 t/ha, destacando-se as cultivares IPA-5, XPH-5720,Spectrum-151, Nema-512, XPH-12044, Spectrum-385, Hypeel-153e XPH-12066, com rendimentos acima de 86,0 t/ha, sendo o menordesempenho apresentado pela cultivar Spectrum-579 com 70,85 t/ha. Quando se ajustou a produtividade em função do ºBrix, verifi-cou-se resultados similares aos anteriores, incluindo-se as cultiva-res Zenith e XPH-12045, entre as cultivares mais produtivas. O pesomédio de frutos oscilou entre 78,75 e 110,96 g, com especial desta-que para as cultivares Nema-1435 (110,96 g/fruto) e Hypeel-108(101,54 g/fruto). Para o ºBrix, observou-se uma oscilação de 4,3º a6,0º, onde todas as cultivares híbridas superaram a cultivar depolinização aberta IPA-5, que apresentou o mais baixo ºBrix (4,3),tendo os híbridos ‘PSP-22210’ (6,0º) e ‘Zenith’ (5,8º) se destacadodos demais. Os resultados obtidos em termos de produtividade equalidade de frutos permitem indicar como orientação geral parauso dos produtores as cultivares XPH-5720, Spectrum-151, Nema-512, XPH-12044, Spectrum-385, Hypeel-153, XPH-12066, XPH-12045 e Zenith, além da cultivar tradicionalmente plantada (IPA-5).

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, tomate rasteiro,rendimento, sólidos solúveis, desempenho.

ABSTRACT

Yield of processing tomato cultivars in the São Francisco Valley.

Two field trials were carried out to evaluate processing tomatocultivars in the Experimental Field of Bebedouro, Petrolina, Brazil,in the periods of May to October 1996 and 1997. The experimentaldesign consisted of randomized blocks with 18 cultivars (IPA-5,XPH-5720, XPH-12066, XPH-12045, XPH-12068, XPH-12044,Spectrum-151, Spectrum-153, Spectrum-385, Nema-512, Nema-1435, Hypeel-153, Hypeel-108, PSP-58494, PSP-22210, Latino,Zenith and Condor), with four replications. The commercial yieldranged from 70.85 to 96.68 t/ha. The cultivars IPA-5, XPH-5720,Spectrum-151, Nema-512, XPH-12044, Spectrum-385, Hypeel-153and XPH-12066 showed the highest commercial yields above 86.0t/ha, the lowest yield being shown by the cultivar Spectrum-579,with 70,85 t/ha. When the yield was adjusted in function of ºBrix,similar results were observed, ‘Zenith’ and ‘XPH-12045’ beingincluded among the highest yielding cultivars. The cultivars Nema-1435 (110.96g/fruit) and Hypeel-108 (101.54 g /fruit) showed thehighest average weight of fruits. The soluble solids (Brix) contentsranged from 4.3% to 6.0%, and all hybrids showed higher contentsthan the open-pollinated variety IPA-5, which showed the lowestbrix (4.30), the highest contents being from ‘PSP-22210’ (6.00) and‘Zenith’ (5.80). The results regarding fruit yield and quality allow usto recommend the cultivars XPH-5720, Spectrum-151, Nema-512,XPH-12044, Spectrum-385, Hypeel-153, XPH-12066, XPH-12045and Zenith for the farmers, besides the traditional cultivar IPA-5.

Keywords: Lycopersicon esculentum, processing tomato, yield,soluble solids, performance.

(Aceito para publicação em 03 de maio de 2.000)

taladas no polo Juazeiro/Petrolina, ge-rando divisas e empregos para a região.

No mercado, são encontradas diver-sas cultivares com diferentes caracterís-ticas agronômicas e industriais. Na es-colha de uma cultivar, deve-se levar emconsideração entre outras característi-cas, o teor de sólidos solúveis (ºBrix),coloração, cobertura foliar, firmeza, re-sistência a doenças, retenção dopedúnculo na planta e principalmenteprodutividade. É muito difícil encontrarcultivares cujas plantas apresentem to-das as características em níveis ideais.Assim, dentre as cultivares disponíveisno mercado, deve-se escolher as que

combinem maior produtividade comqualidade e que atendam às demandasdas indústrias. A avaliação de novas cul-tivares tem por finalidade estudargenótipos nacionais e estrangeiros, quetêm sido introduzidos no mercado bra-sileiro de sementes. Assim, espera-sepoder realizar melhor o trabalho de re-comendação de cultivares produtivas,buscando preferencialmente, aquelascom maior resistência a doenças e queapresentem boa qualidade paraprocessamento (Peixoto et al., 1999).

As cultivares mais tradicionalmen-te plantadas no Brasil são: H 2710,Zenith, Rio Orinoco, Andino, XPH

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127Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

12068, XPH 12045, Nema 512, Nema1401, U 370 e U 373 (Barbosa, 1996).Na região Nordeste, as mais utilizadassão as cultivares IPA-5 e UC-82(Embrapa,1994).

Os sólidos solúveis ou ºBrix é umadas principais características da maté-ria prima. Quanto maior o teor de sóli-dos solúveis, maior será o rendimentoindustrial e menor o gasto de energia noprocesso de concentração da polpa. Emtermos práticos, para cada aumento deum grau brix na matéria prima, há umincremento de 20% no rendimento in-dustrial (Silva et al., 1994). SegundoCerne & Resnik (1994), o conteúdo desólidos solúveis (ºBrix) em tomate de-pende muito das condições ambientais,do manejo cultural e da cultivar.Ashcroft & Gurban (1989) observaramque o ºBrix foi maior nas cultivares hí-bridas do que nas cultivares depolinização aberta, sendo que a produ-tividade foi inversamente proporcionalao ºBrix. Stevens (1994) também afir-ma que há uma relação inversa entreprodutividade e conteúdo de sólidossolúveis. Stevens & Rudich (1978), re-latando resultados similares, atribuemesta relação negativa entre produtivida-de e ºBrix, à limitação da capacidadefisiológica das plantas de tomate paraproduzir altos rendimentos com o mes-mo incremento na qualidade de frutos.

O objetivo do presente trabalho foide avaliar o desempenho de cultivaresde tomate industrial disponíveis no mer-cado, visando identificar e recomendaras mais produtivas e com melhor quali-dade de frutos, nas condições do Valedo São Francisco.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em umlatossolo no Campo Experimental deBebedouro da Embrapa Semi-Árido/Petrolina-PE, no período de maio a ou-tubro dos anos de 1996 e 1997. O deli-neamento experimental foi de blocos aoacaso com quatro repetições e dezoitocultivares (IPA-5, XPH-5720, XPH-12066, XPH-12045, XPH-12068, XPH-12044, Spectrum-151, Spectrum-153,Spectrum-385, Nema-512, Nema-1435,Hypeel-153, Hypeel-108, PSP-58494,PSP-22210, Latino, Zenith e Condor).

Salienta-se que somente a cultivar IPA-5 é de polinização aberta, as demais sãocultivares híbridas.

O preparo do solo constou de umaaração, gradagem e sulcamento. A se-meadura foi realizada em bandejas deisopor e o transplante ocorreu 25 diasapós a semeadura. O espaçamento foi1,20 x 0,20 m, com área útil da parcelade 9,6 m2.

O transplante foi realizado em 23/05/96 e 18/05/97, sendo que a aduba-ção básica constou de 60 kg/ha de N,120 k/ha de P

2 O

5 e 60 kg/ha de K

2 O, de

acordo com as recomendações da aná-lise de solo. Foram aplicados 45 kg/hade N e 30kg/ha de K

2O em cobertura,

aos 20 e 40 dias após o transplante. Asirrigações foram feitas duas vezes porsemana, através de sulcos de infiltração.A cultura foi mantida no limpo por ca-pinas manuais e os demais tratos cultu-rais foram os recomendados para a cul-tura do tomate industrial na região(Embrapa, 1994).

A colheita foi realizada em duas eta-pas, sendo a primeira quando 70% dosfrutos estavam completamente madurose a segunda, dez dias após a primeira.

Foram avaliadas as características deprodutividade comercial e ajustada (t/ha), peso médio de frutos (g) e ºBrix. Aprodutividade ajustada foi em função doºBrix pago pela indústria, a qual em1995 fez um acordo com os produtores,sendo pago um percentual de 1,25%para cada décimo de ºBrix que supera opadrão de 4,7º a partir de 3,75%. Os efei-tos dos fatores estudados sobre as ca-racterísticas avaliadas foram conhecidosmediante a análise de variância conjun-ta dos anos em estudo e a comparaçãodas médias pelo teste de Tukey, ao ní-vel de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados evidenciaram, na aná-lise conjunta, efeitos significativos en-tre cultivares, com nenhum efeito paraos anos em estudo, para as característi-cas avaliadas.

A produtividade comercial variou de70,85 a 96,68 t/ha (Tabela 1), destacan-do-se as cultivares IPA-5 e XPH-57200com rendimentos acima de 96,0 t/ha,seguida pelas cultivares Spectrum-151,

Nema-512, XPH-12044, Spectrum-385,Hypeel-153, XPH-12066 que não mos-traram diferenças das anteriores. O me-nor desempenho foi apresentado pelacultivar Spectrum-579 com 70,85 t/ha.Salienta-se que todas as cultivares apre-sentaram produtividades bem superio-res à média nacional e da região Nor-deste que se situam 43,41(AGRIANUAL, 1999) e 40,0 t/ha(Embrapa, 1994), respectivamente, as-sim como as relatadas por Braz et al.(1991) que constataram produtividadesoscilando de 14,07 a 46,52 t/ha; DiCandilo & Dal Rio (1995), que verifi-caram variações de 44,7 a 59,5 t/ha ePeixoto et al. (1999) que relatam umamáxima produtividade de 36,16 t/ha.Todavia, foram semelhantes as obtidaspor Saturnino et al. (1993), Cerne &Resnik (1994) e Taborda et al. (1997)que observaram produtividades varian-do de 54,47 a 100,37 t/ha.

Quando se ajusta a produtividadecomercial em função do prêmio emºBrix, verifica-se que os resultados sãosimilares aos anteriores, incluindo-se ascultivares Zenith e XPH-12045, quetambém não mostraram diferenças sig-nificativas da cultivar XPH-5720 maisprodutiva (105,48 t/ha). Salienta-se que,mesmo não havendo diferenças signifi-cativas, as cultivares XPH-5720,Spectrum-151 e Nema-512, mostraram-se superiores em produtividade comer-cial ajustada (9,1; 4,0 e 0,3%, respecti-vamente), em função do seu maior teorde sólidos solúveis (ºBrix), à cultivarIPA-5. A boa produtividade da cultivarNema-512 é também informada porGomes & Alarze (1992), assim comopara a cultivar IPA-5 por Marouelli &Silva (1993); Coelho et al. (1994) e Fa-ria et al. (1996).

O peso médio de frutos (Tabela 1)oscilou entre 78,75 a 110,96 g, com es-pecial destaque para as cultivares Nema-1435 (110,96 g/fruto) e Hypeel-108(101,54 g/fruto), que apesar do bomdesempenho não se mostraram produti-vas, possivelmente pelo menor númerode frutos por planta. A cultivarSpectrum-385, apesar de produtiva,apresentou um baixo peso médio com75,42 g/fruto, assim como a maioria dascultivares de melhor desempenho pro-dutivo. Saturnino et al. (1993) observa-ram pesos médios de frutos variando de

Produtividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco.

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128 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

35,0 a 67,7 g/fruto e Peixoto et al. (1999)entre 30,0 e 90,0 g/fruto.

Avaliando-se o ºBrix, verifica-seque houve uma oscilação de 4,3º a 6,0º;onde todas as cultivares híbridas supe-raram a cultivar IPA-5 de polinizaçãoaberta, que apresentou o mais baixoºBrix (4,3º), tendo a ‘PSP-22210’ (6,0º)e ‘Zenith’ (5,8º) se destacado das de-mais (Tabela 1). Coelho et al. (1996),verificaram também um baixo conteú-do de sólidos solúveis para a cultivarIPA-5. Ashcroft & Gurban (1989), tam-bém observaram ºBrix mais altos nascultivares híbridas comparativamenteàs cultivares de polinização aberta. Noentanto, Cerne & Resnik (1994), cons-tataram maior ºBrix médio para as cul-tivares de polinização aberta (4,6º) emrelação às cultivares híbridas (4,1º).Verificou-se ainda que as cultivarescom ºBrix mais alto apresentaram me-nores produtividades, concordandocom Stevens (1994), que afirma umarelação inversa entre produtividade e

conteúdo de sólidos solúveis (ºBrix).Deve-se salientar que esta é uma ca-racterística de grande importância paraa industrialização, uma vez que alémde ser responsável pela consistência doproduto processado, está também re-lacionada ao maior rendimento industrial,principalmente quando se visa a concen-tração e/ou desidratação (Yamaguchi etal., 1960).

Um fato importante a se considerar,além da produtividade e qualidade, é odiferencial de preço de sementes de cul-tivares híbridas e de polinização aberta.O preço da semente no mercado regio-nal, da cultivar IPA-5 é de R$ 70,00/kge de uma cultivar híbrida é de R$3.240,00/kg. O custo das sementes emtoneladas/ha de frutos (R$ 68,00/t),equivalente a um gasto de 200g de se-mentes/ha é de 0,21 t/ha de tomates (R$14,00) para a cultivar IPA-5 e de 9,53 t/ha para as cultivares híbridas (R$648,00) em produtividade comercialajustada. Portanto, avaliando-se o cus-

to das sementes/ha (os demais insumosforam equalitários para todas as culti-vares) verifica-se que retirados os cus-tos das sementes, somente a cultivarXPH-5720 com uma produtividade co-mercial ajustada de 95,96 t/ha, apresen-taria rendimentos similares à cultivarIPA-5 (96,47 t/ha). Porém, com maiorqualidade industrial em função do ºBrix,sendo que as demais cultivares apresen-taram produtividades elevadas, poreminferiores a IPA-5 e XPH-5720.

Os resultados obtidos em termos deprodutividade e qualidade de frutos per-mitem recomendar, como orientaçãogeral para uso dos agricultores, além dacultivar tradicionalmente plantada (IPA-5), as cultivares XPH-5720, Spectrum-151, Nema-512, XPH-12044,Spectrum-385, Hypeel-153, XPH-12066 e Zenith, que apresentaram ele-vadas produtividades comerciais ajus-tadas (acima de 90,0 t/ha), como novasalternativas de plantio para o Vale doSão Francisco.

CultivaresProdutividade comercial (t/ha) Peso médio de

frutos (g)oBrix

Normal Ajustada**

IPA-5 96,68 a* 96,68 abc 79,16 de 4,3 g

XPH-5720 96,12 a 105,48 a 79,47 de 5,1 ef

Spectrum-151 91,55 ab 100,56 ab 93,93 bc 5,5 bcde

Nema-512 91,76 ab 96,71 abc 96,80 bc 5,0 f

XPH-12044 89,42 abc 94,80 abc 78,70 de 5,2 ef

Spectrum-385 87,18 abcd 95,08 abc 75,42 e 5,4 cdef

Hypeel-153 86,86 abcd 95,54 abc 81,20 de 5,6 bcd

XPH-12066 86,07 abcd 93,43 abc 75,55 e 5,3 cdef

Zenith 83,62 bcd 91,60 abcd 80,22 de 5,8 ab

XPH-12045 83,65 bcd 90,59 abcd 80,75 de 5,2 ef

XPH-12068 82,28 bcde 84,45 bcd 76,79 de 5,0 f

Condor 81,43 bcde 88,57 bcd 95,51 bc 5,3 def

Nema-1435 81,41 bcde 88,48 bcd 110,96 a 5,3 defPSP-58494 78,89 cde 86,20 bcd 87,99 cde 5,3 cdef

Latino 75,71 de 82,55 cd 89,08 bcd 5,7 bcPSP-22210 75,72 de 83,14 cd 80,26 de 6,1 aHypeel-108 74,51 de 82,61 cd 101,54 ab 5,4 cdef

Spectrum-579 70,85 e 77,14 cd 78,75 de 5,5 bcdeC.V.(%) 8,33 9,26 8,48 4,1

Tabela 1. Produtividade comercial, peso médio de frutos e ºBrix de cultivares e híbridos de tomate industrial. Petrolina-PE, Embrapa Semi-Árido, 1996/1997.

*Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.** Produtividade ajustada em função do percentual de prêmio pago pelas indústrias pelo ºBrix.

G.M.Resende & N.D. Costa.

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129Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

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Produtividade de cultivares de tomate industrial no Vale do São Francisco.

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130 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

GUSMÃO, M.R.; PICANÇO, M.; LEITE, G.L.D.; MOURA, M.F. Seletividade de inseticidas a predadores de pulgões. Horticultura Brasileira, Brasília, v.18, n. 2, p. 130-133, julho 2.000.

Seletividade de inseticidas a predadores de pulgões.Marcos Rafael Gusmão1/; Marcelo Picanço1/; Germano L.D. Leite2/; Marcelo F. Moura1/

1/UFV - Dept° de Biologia Animal 36.571-000 Viçosa - MG. e.mail: [email protected] 2/UFMG - NCA - CEA, C.Postal 135, 39.444-006 Montes Claros - MG. e-mail: [email protected]

RESUMO

Estudou-se a seletividade dos inseticidas cipermetrina, diclorvós,diazinon, etion, fenitrotion, malation, metamidofós, paration metílico,permetrina, pirimicarbe e vamidation para adultos dos predadoresCycloneda sanguinea (L.) e Eriopis connexa (Germ.)(Coleoptera:Coccinellidae). Folhas de tomateiro foram imersas em caldas inseti-cidas nas doses utilizadas para o controle dos pulgões Myzus persicae(Sulzer) e Macrosiphum euphorbiae (Thomas) em tomateiro e tam-bém na metade das doses recomendadas. Os fatores em estudo fo-ram os inseticidas, as doses, as espécies de predadores e o sexo paraC. sanguinea. Vamidation e o pirimicarbe foram os inseticidas maisseletivos a C. sanguinea seguidos do etion e diclorvós (3,2; 6,7;49,7 e 52,5% de mortalidade, respectivamente). Para E. connexa opirimicarbe foi o mais seletivo seguido pelo etion e cipermetrina(1,96; 71,28 e 81,92% de mortalidade, respectivamente). Os ma-chos de C. sanguinea foram mais tolerantes que as fêmeas ao etion(33 e 66,5% de mortalidade) e permetrina (61 e 100% de mortalida-de, respectivamente). A toxicidade da permetrina a E. connexa e doetion às fêmeas de C. sanguinea foi menor quando estes inseticidasforam aplicados em subdose (74,4 e 25% de mortalidade, respecti-vamente) do que quando estes foram aplicados na dose recomenda-da (100 e 66,5% de mortalidade, respectivamente) para o controlede pulgões no tomateiro.

Palavras-chave: Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, tomate,pirimicarbe, vamidation.

ABSTRACT

Selectivity of insecticides to predators of aphids.

The selectivity of cypermethrin, dichlorvos, diazinon, ethion,fenitrothion, matathion, methamidophos, methyl parathion,permethrin, pirimicarb, and vamidathion to adults of Cyclonedasanguinea (L.) and Eriopis connexa (Germ.) (Coleoptera:Coccinellidae) was studied. Tomato leaves were submerged ininsecticide solution at recommended rate for controlling Myzuspersicae (Sulzer) and Macrosiphum euphorbiae (Thomas) intomatoes. The effect of insecticides, doses, predator species, andsex of C. Sanguinea in insecticide selectivity was evaluated .Pirimicarb and vamidathion were the most selective insecticides forC. sanguinea followed by ethion and dichlorvos (3.2, 6.7, 49.7, and52.5% mortality, respectively). Pirimicarb was the most selectiveinsecticide for E. connexa, followed by ethion and cypermethrin (2,71.3, and 81.9% mortality, respectively). Males of C. sanguinea weremore tolerant to ethion (33 and 66.5% mortality, respectively) andpermethrin (61 and 100% mortality respectively) than females.Permethrin toxicity to E. connexa and ethion toxicity to C. sanguineafemales were lower when those insecticides were applied at halfdose (74.4 and 25% mortality, respectively) than when they wereapplied at their full dose (100 and 66.5% mortality, respectively).

Keywords: Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, tomato,pirimicarb, vamidathion.

(Aceito para publicação em 15 de maio de 2.000)

Dentre as principais pragas que ata-cam a cultura do tomateiro em sua

fase inicial, são destacados os pulgõesMyzus persicae (Sulzer) e Macrosiphumeuphorbiae (Thomas) (Homoptera:Aphididae). Estes insetos atacam as fo-lhas e ramos novos, sugando seiva ten-do como conseqüência a deformação dasfolhas. Além dos danos diretos, os pul-gões são vetores de doenças viróticas,como o vírus Y, topo amarelo, amarelobaixeiro e mosaico comum (Basky,1983; Antonelli et al., 1992; Hassan etal., 1993; Miranda 1997).

O método químico é o mais empre-gado no controle de pulgões, sendo quepiretróides, fosforados e carbamatosestão entre os principais inseticidas uti-lizados (Andrei, 1996).

No manejo destas pragas o controlebiológico natural é de grande importân-cia para o equilíbrio das populações,reduzindo o uso de inseticidas. Dentreos agentes de controle biológico destas

pragas as joaninhas Eriopis connexa eCycloneda sanguinea (Coleoptera:Coccinellidae) ocupam papel de desta-que (Obrycki et al. , 1983; Ferran &Larroque, 1984; Imenes et al. , 1990;Halima-Kamel & Hamauda, 1993;Nakata, 1995). Clausen (1962), verifi-cou que um adulto de C. sanguinea ,consome de 16 a 17 pulgões/dia, poden-do chegar a consumir até mil pulgõesdurante toda a sua vida. Entretanto, ouso indiscriminado de inseticidas nacultura do tomateiro reduz as popula-ções destes inimigos naturais ocasionan-do a ressurgência da praga ou a erupçãode pragas secundárias. Para preservaçãodos inimigos naturais, é essencial o usode inseticidas seletivos. A seletividadeecológica é obtida pela aplicação sele-tiva de inseticidas não seletivos ao lon-go do tempo e espaço, de modo a redu-zir a exposição de espécies não alvosaos inseticidas e a seletividade fisioló-gica é alcançada com o emprego de inse-

ticidas seletivos (substâncias mais tóxi-cas às pragas que aos seus inimigos na-turais) (Hollingworth, 1938; Pedigo,1989).

Apesar da importância daseletividade na preservação do controlebiológico praticamente nada se conhe-ce a este respeito em tomateiro (Imeneset al., 1990). Neste trabalho, estudou-se a seletividade dos inseticidaspiretróides cipermetrina e permetrina,dos fosforados diazinon, diclorvós,etion, fenitrotion, malation,metamidofós, paration metílico evamidation e do carbamato pirimicarbea adultos de C. sanguinea e E. connexapredadores de pulgões na cultura do to-mateiro. Foram utilizadas as doses re-comendadas para o controle da praga e50% destas. O uso de subdose teve comoobjetivo observar o impacto dos inseti-cidas sobre os predadores, quando osinseticidas forem decompostos à meta-de de suas concentrações originais.

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131Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi conduzida no la-boratório de Manejo Integrado de Pra-gas da Universidade Federal de Viçosa(UFV), de janeiro de 1995 a fevereirode 1996. Os insetos utilizados foramcoletados em plantações de tomate noCampus da UFV, em locais em que nãoeram utilizados inseticidas. Foramcoletados 1.750 insetos, os quais se en-contravam na fase adulta, com idadeindeterminada.

Os inseticidas utilizados no experi-mento e suas respectivas doses (mg deingrediente ativo/ml de calda) foram:cipermetrina (0,025 e 0,05), permetrina(0,025 e 0,05), diazinon (0,25 e 0,5),diclorvós (0,25 e 0,5), etion (0,375 e0,75), fenitrotion (0,5 e 1), malation(0,625 e 1,25), metamidofós (0,3 e 0,6),paration metílico (0,21 e 0,42),vamidation (0,12 e 0,24) e pirimicarbe(0,125 e 0,25). Estas concentraçõescorresponderam a 50 e 100% das dosesrecomendadas para o controle de pul-gões na cultura do tomateiro (Andrei,1996). Foi usado espalhante adesivo N-dodecil benzeno sulfonato de sódio 320CE na dose de 0,096 mg do ingredienteativo/ml de calda.

A parcela experimental era consti-tuída de dez insetos adultos sexados para

a espécie C. sanguinea (Santos & Pin-to, 1981) e não sexados para E. connexa(devido a não existência de caracteresmorfológicos externos que possibilitema sexagem dos adultos desta espécie).O delineamento experimental foi intei-ramente casualizado com quatro repeti-ções, em arranjo fatorial 11 x 2 x 2 (in-seticidas x espécies x doses dos inseti-cidas), sendo que para C. sanguinea ain-da estudou-se as diferenças de tolerân-cia entre os sexos. Os resultados de mor-talidade foram transformados em arco-seno (x/100), para a realização da análi-se de variância e teste de média de Scott-Knott a p < 0,05 (Scott & Knott, 1974).

Para instalação dos bioensaios, fo-lhas de tomateiro da cultivar Santa Cla-ra foram imersas nas caldas inseticidaspor cinco segundos, sendo que na teste-munha estas foram imersas em água. Asfolhas foram colocadas para secar porduas horas e após a secagem foramacondicionadas em placas de Petri (9 cmde diâmetro por 2 cm de altura). Em cadaplaca foram colocadas dez joaninhas paraexposição, por contato, dos predadoresaos inseticidas. As placas de Petri foramtampadas e levadas para estufa incuba-dora a 25 ± 0,5oC e umidade relativa de75 ± 5%. Vinte e quatro horas após, fo-ram realizadas avaliações da mortalida-de. Os resultados foram corrigidos em

relação à mortalidade ocorrida na teste-munha, usando-se a fórmula de Abbott(1925), sendo que a mortalidade máxi-ma tolerada na testemunha foi de 10%.

O critério de avaliação daseletividade foi baseado no conceito deseletividade fisiológica, no qual o inse-ticida é considerado como seletivo secausar mortalidade na população do ini-migo natural menor do que na popula-ção da praga. Ele é considerado comonão seletivo se causar mortalidade napopulação do inimigo natural superiorou igual à ocorrida na população da pra-ga; estando o inseticida em situação in-termediária a estes dois extremos, ele éconsiderado como medianamente sele-tivo. Complementarmente utilizou-senos critérios de avaliação da seletividadedos inseticidas o valor de 80% de mor-talidade. Já que no Brasil para registrodestes em uso agrícola, este é o valormínimo de eficiência exigido (Yu, 1988;Pedigo, 1989; Guedes et al., 1992;Faleiro et al. 1995; Suinaga et al., 1996).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mortalidade média na testemunhafoi 0% para Cycloneda sanguinea e2,33% para Eriopis connexa. Detectou-se pela análise de variância (coeficientede variação de 19,29%), diferenças sig-

Tabela 1. Percentagem de mortalidade (média ± erro padrão) de adultos de Cycloneda sanguinea (fêmeas e machos) e Eriopis connexacausada por duas doses de onze inseticidas utilizados no controle de pulgões em tomateiro. Viçosa, UFV, 1995/6.

Inseticidas

E. connexa (machos + fêmeas)) C. sanguinea

Subdose DoseDose paramachos +

fêmeas

Dose paraMachos

Dose paraFêmeas

Subdose paraFêmeas

Pirimicarbe 0,00 ± 0,00 aC 1,96 ± 1,96 aCα 6,70 ± 2,28 Ca 8,39 ± 0,70 Cα 5,00 ± 5,00 aCa 14,09 ± 4,09 aC

Cipermetrina 69,64 ± 6,69 aB 81,93 ± 5,75 aBα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 aA

Permetrina 74,40 ± 14,96 bB 100,00 ± 0,00 aAα 80,50 ± 14,15 Aa 61,00 ± 21,00 Bβ 100,00 ± 0,00 aAα 81,00 ± 1,00 aB

Diazinom 91,47 ± 8,53 aA 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 aA

Diclorvós 97,44 ± 2,56 aA 100,00 ± 0,00 aAα 52,50 ± 9,46 B β 60,00 ± 20,00 Bα 45,00 ± 5,00 aBα 65,00 ± 25,00 aB

Etiom 58,22 ± 21,06 aB 71,28 ± 11,24 aBα 49,75 ± 19,01 Bβ 33,00 ± 22,00 Cβ 66,50 ± 33,50 aAα 25,00 ± 5,00 bC

Fenitrotiom 100,00 ± 0,00 aA 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 aA

Malatiom 100,00 ± 0,00 aA 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 69,00 ± 31,00 aB

Metamidofós 94,31 ± 3,29 aA 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 aA

Paratiom metílico 100,00 ± 0,00 aA 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 Aa 100,00 ± 0,00 Aα 100,00 ± 0,00 aAα 100,00 ± 0,00 aA

Vamidatiom 100,00 ± 0,00 aA 100,00 ± 0,00 aAα 3,25 ± 3,25 Cβ 6,50 ± 6,50 Cα 0,00 ± 0,00 aCα 0,00 ± 0,00 aC

As médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna, minúscula (para comparações entre dose recomendada e subdose para E.connexa e fêmeas de C. sanguinea) ou do alfabeto grego (para comparação entre espécies e sexo de C. sanguinea quando submetidas àsdoses recomendadas) não diferem, entre si, pelo teste de Scott - Knott a p < 0,05.

Seletividade de inseticidas a predadores de pulgões.

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132 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

nificativas nas interações entre insetici-das e espécie de predador, inseticidas esexo de C. sanguinea, inseticidas e dosepara E. connexa e fêmeas de C.sanguinea a p < 0,05.

Para C. sanguinea os inseticidasvamidation e pirimicarbe foram os pro-dutos menos tóxicos nas duas doses ava-liadas e os menos tóxicos para machose fêmeas (Tabela 1); sendo portanto osmais seletivos. Os resultados obtidosconcordam com os de Eichler & Reis(1976) e Gravena & Batista (1979) queobservaram ser o pirimicarbe um inse-ticida altamente seletivo para C.sanguinea. Mustafa et al. (1989) verifi-caram boa eficiência do pirimicarbe nocontrole de M. persicae em pimentão ebaixo impacto deste inseticida sobrepredadores e parasitóides. Para E.connexa o pirimicarbe foi o inseticidamais seletivo seguido pelo etion ecipermetrina (Tabela 1).

A seletividade do pirimicarbe aosdois predadores pode estar associada àmaior velocidade com que a enzimaacetilcolinesterase catalisa a hidrólise doneurotransmissor acetilcolina no preda-dor do que nos pulgões, possibilitandoaos mesmos tolerarem maiores doses dopirimicarbe (Silver et al., 1995). Já aseletividade de vamidation a C.sanguinea pode estar associada à me-nor sensibilidade da acetilcolinesterasedo predador ao inseticida (Zon & Helle,1966; Tripathi & O’Brien, 1973; Voss,1980). A seletividade destes inseticidaspode também estar associada à menortaxa de penetração do inseticida no ini-migo natural e a desintoxicaçãooxidativa catalizada por enzimasmonooxigenases (Rathman et al., 1992;Cho et al., 1997).

C. sanguinea foi mais tolerante asdoses recomendadas dos inseticidasdiclorvós, etion e vamidation que E.connexa (Tabela 1). Verificou-se que osmachos de C. sanguinea foram maistolerantes ao etion e permetrina que asfêmeas (Tabela 1). Entretanto, para amaioria das espécies de inimigos natu-rais, existem mais relatos de maior to-lerância de fêmeas do que machos a in-seticidas (Critchley, 1972; Rathman etal., 1992; Suinaga et al., 1996; Picançoet al., 1997). Estes autores hipotetizamque tal diferença, estaria associada ao

maior tamanho das fêmeas e adesintoxicação oxidativa catalizada porenzimas monooxigenases. Entretantoníveis similares de suscetibilidade en-tre sexos tem sido registrados quandodiferenças entre tamanhos são mínimas(Respicio & Forgash, 1984).

A toxicidade da permetrina a E.connexa e do etion às fêmeas de C.sanguinea foi menor quando estes inse-ticidas foram aplicados em subdose doque quando estes foram aplicados nadose recomendada para o controle depulgões no tomateiro (Tabela 1). Tal fatomostra que o impacto destes inseticidassobre estes dois predadores diminui coma decomposição destes às concentraçõesque correspondam à metade das suasdoses recomendadas. Suinaga et al.(1996) também verificaram fato seme-lhante para o percevejo predador P.nigrispinus, quando aplicoudeltametrina e malation. A verificaçãode tal fato para apenas um dospiretróides testados, a permetrina e nãopara o outro a cipermetrina, deve estarrelacionado ao fato destes pertencerema subgrupos diferentes. A permetrina édo subgrupo I e a cipermetrina dosubgrupo II. Os piretróides do subgrupoII possuem grupo ciano na porçãoalcóolica da molécula, já os do subgrupoI não apresentam tal característica(Naumann, 1990). Os piretróides dosubgrupo II geralmente são mais poten-tes do que os do subgrupo I, por mante-rem os canais de sódio abertos por maistempo, levando ao bloqueio da produ-ção de potencial de ação sem induzirdescargas elétricas repetitivas (Eto,1990). Assim, tais diferençasmoleculares e de propriedades fisioló-gicas nos insetos destes inseticidas, pos-sivelmente, explicam as diferenças nasuscetibilidade de C. sanguinea a estes.

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134 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

O pimentão (Capsicum annuum L.)é uma das dez hortaliças de maior

importância econômica no mercado bra-sileiro. É uma planta bastante exigentenas características químicas e físicas dosolo, com boa resposta à adubação or-gânica, sendo que as maiores produtivi-dades são obtidas através da combina-ção de adubos orgânicos e minerais(Horino et al., 1986; Souza, et al., 1991).A aplicação de adubos e corretivos nacultura do pimentão é uma prática agrí-cola onerosa que representa em média23,4% do custo total de produção. Autilização de estercos e outros compos-tos orgânicos apresenta-se como alter-nativa promissora capaz de reduzir asquantidades de fertilizantes químicos aserem aplicados (Almeida et al., 1982;Silva Júnior, 1986; Munis et al.,1992).

RIBEIRO, L.G.; LOPES, J.C.; MARTINS FILHO, S.; RAMALHO, S.S. Adubação orgânica na produção de pimentão. Horticultura Brasileira, Brasília, v.18, n. 2, p. 134-137, julho 2.000.

Adubação orgânica na produção de pimentão.Luiz G. Ribeiro; José Carlos Lopes; Sebastião Martins Filho; Silvano S. Ramalho.CAUFES, Caixa Postal 16, 29.500-000 Alegre-ES. E.mail: [email protected]

RESUMO

Com o objetivo de avaliar os efeitos da adubação orgânica naprodução de pimentão (Capsicum annuum L.), cultivar Nacional AG506, foram conduzidos dois experimentos: um em casa-de-vegeta-ção e outro a campo na área experimental do Centro Agropecuárioda UFES em Alegre (ES), no período de março a outubro de 1994.Em casa-de-vegetação foram avaliados seis níveis de vermicomposto(0, 200, 400, 600, 800 e 1000 g por vaso) associados à ausência epresença de adubação química. O delineamento experimental utili-zado foi o inteiramente casualizado com cinco repetições de umaplanta por vaso. Após 45 dias foram avaliados o peso da matériaseca da parte aérea e da raiz. No campo, 12 t/ha de vermicomposto(600 g/cova) foram comparados com 20 t/ha (1000 g/cova) de ester-co de curral, na ausência e presença de adubação química. Os trata-mentos foram distribuídos em blocos ao acaso com quatro repeti-ções de dez plantas por parcela. Por meio de regressão linear, deter-minou-se que em casa-de-vegetação, a máxima produção de maté-ria seca da parte aérea foi obtida com a aplicação de 561,9 g/vaso devermicomposto e das raízes com 323,1 g/vaso, ocorrendo pequenosdecréscimos em doses mais elevadas. No experimento de campo aadubação orgânica aumentou a produção em 7,0 t/ha em relação àtestemunha adubada apenas com adubo químico. Não houve dife-renças significativas entre as fontes de matéria orgânica(vermicomposto e esterco de curral).

Palavras-chave: Capsicum annuum L., esterco de curral, aduboorgânico, vermicomposto.

ABSTRACT

Organic fertilization in the sweet pepper production.

With the objective of evaluating the effects of the organicfertilization in the production of sweet pepper (Capsicum annuumL.) cultivar Nacional AG 506, two experiments were carried out:one experiment in the greenhouse and other at the Agricultural Centerof the Federal University of Espirito Santo (CAUFES) Experimen-tal Station, in the city of Alegre, Brazil, from March to October,1994. In the greenhouse six levels of earthworm compost were tested(0, 220, 400, 600, 800 and 1000 g/pot) associated with the absenceor presence of chemical fertilization. The experiments were set upin a complete randomized blocks design, with five replications. Onlyone plant was used per pot. After 45 days the dry matter productionof plant tops and roots was evaluated. In the field 12 t/ha of earthwormcompost (600 g per pot) were compared with 20 t/ha (1000 g perpot) of cattle manure, in the absence and presence of chemicalfertilization. The experiment was laid out in a complete randomizedblock design, with four replications of ten plants per plot. Ingreenhouse the maximum top dry weight was obtained with 561.9g/pot of earthworm compost and with 323.1 g/pot for maximum rootdry weight. Decrease in dry weight production was observed whenhigher amounts of earthworm compost were used. In a fieldexperiment, sweet pepper production with organic fertilization was7.0 t/ha higher when compared to chemical fertilization. There wasno significant difference among sources of organic fertilization(earthworm compost and cattle manure),

Keywords: Capsicum annuum L., cattle manure, organic fertilizer,earthworm compost.

(Aceito para publicação em 18 de maio de 2.000)

O vermicomposto é um fertilizanteorgânico produzido por decomposiçãoaeróbica controlada que envolve inicial-mente fungos e bactérias, e na fase fi-nal as minhocas que aceleram a decom-posição. O produto é um composto dequalidade, rico em nutrientes, cuja uti-lização, além de restaurar o ciclo bioló-gico do solo, reduz as infestações depragas, doenças e uso de agrotóxicos,conferindo maior resistência e melhordesenvolvimento às plantas (Harris,1990 citado por Ricci et al., 1994; Lon-go, 1992).

O trabalho teve como objetivo estu-dar os efeitos da aplicação de estercode curral e vermicomposto como fontede adubação orgânica na produção depimentão.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi conduzido em casa-de-vegetação e a campo na área experi-mental de Rive, pertencente ao CentroAgropecuário da Universidade Federaldo Espírito Santo (CAUFES), no perío-do de março a outubro de 1994.

O primeiro experimento foi condu-zido em casa de vegetação coberta comtela sombrite (40%), onde foram testa-dos seis doses de vermicomposto (0,200, 400, 600, 800 e 1000 g/vaso) asso-ciados à ausência e à presença de adu-bação química utilizando-se 2,0 g de Ncomo sulfato de amônia; 7,0 g de P

2O

5como superfosfato simples e 4,0 g deK

2O como cloreto de potássio por vaso,

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135Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

misturados uniformemente ao solo. Uti-lizou-se como substrato um solo tipolatossolo vermelho-amarelo, textura ar-gilosa, cuja análise química revelou asseguintes caraterísticas: pH: 5,4; Altrocável: 0,0 cmol dm-3; Ca: 0,8 cmoldm3; Mg: 0,7 cmol dm-3; P: 8 mg kg-1;K: 27 mg kg-1 e MO:15,5 g kg-1. O deli-neamento experimental utilizado foi in-teiramente casualizado com 5 repetições

de uma planta por vaso. As mudas dopimentão cultivar “Nacional AG 506”,produzidas em bandejas tipo “plantagil”,foram transplantadas para os vasos comcapacidade de 7,85 dm3 30 dias após asemeadura, e 45 dias após avaliaram-sea matéria seca da parte aérea e matériaseca da raiz.

O segundo experimento foi instala-do na área experimental do CAUFES,

em um solo tipo podzólico vermelhoescuro, cuja análise indicou a seguintecomposição: pH: 6,30; Al trocável: 0,00cmol

c dm-3; Ca: 3,10 cmol

c dm-3; Mg:

1,30 cmolc dm-3; P: 8,00 mg kg-1; K: 0,75

cmolc dm-3; e MO: 42,60 g kg-1. Os tra-

tamentos consistiram de 12 t/ha devermicomposto (600 g/cova); esterco decurral na dose de 20 t/ha (1000 g/cova),na ausência e na presença de adubaçãoquímica utilizando-se 3,5 g de N comouréia; 9,8 g de P

2O

5 como superfosfato

simples e 4,6 g de K2O como cloreto de

potássio por cova. As adubações de co-bertura foram realizadas aos 15, 30 e 45dias após o transplantio, utilizando-se5,7 g de N e 1,2 g de K

2O por planta. O

delineamento experimental utilizado acampo foi o de blocos ao acaso comquatro repetições. Cada parcela constoude 10 plantas em uma única fileira, noespaçamento de 1,00 m X 0,50 m.

As mudas foram produzidas em co-pos de papel e transplantadas para ocampo 30 dias após a semeadura. Após90 dias foram colhidas 15 folhas do ter-ço médio das plantas por parcela paraanálise dos conteúdos de nitrogênio,fósforo, potássio, cálcio e magnésio eos frutos a cada sete dias para análisedas variáveis peso, comprimento médioe produção comercial.

O vermicomposto utilizado nos tra-balhos em casa-de-vegetação e a cam-po apresentava as seguintes caracterís-ticas: pH: 7,70; N: 1,72%; Ca: 2,65%;Mg: 0,34%; P: 1,30%; K: 0,85% e MO:188,00 g kg-1.

Os dados obtidos em casa de vegeta-ção foram submetidos à analise de regres-são, selecionando o modelo significati-vo de maior coeficiente de correlação eos de campo à análise de variância, e asmédias comparadas pelo teste de Tukeyao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em casa de vegetação, não houveinteração entre doses de vermicompostoe adubação química. Observou-se umacréscimo na produção de matéria secada parte aérea da plantas (Figura 1), Y= 5,22 + 2,15.10-2X - 1,91.10-5 X2; R2 =0,91, à medida que se aumentou a dosede vermicomposto em mistura com osubstrato. Nos tratamentos que recebe-

Figura 1. Efeito das doses de vermicomposto na presença e ausência de adubação químicasobre a produção de matéria seca da parte aérea de pimentão produzido em casa de vegeta-ção. Alegre (ES), CAUFES, 1994.

Figura 2. Efeito das doses de vermicomposto na presença e ausência de adubação químicasobre a produção de matéria seca da raiz de pimentão produzido em casa de vegetação.Alegre (ES), CAUFES, 1994.

Adubação orgânica na produção de pimentão.

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136 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

ram adubação orgânica na presença eausência de adubação química, a máxi-ma produção de matéria seca da parteaérea (11,25 g/planta) foi obtida comdose de 561,96 g/vaso devermicomposto, ocorrendo pequenosdecréscimos nas doses mais elevadas.

A maior produção de matéria secada raiz (2,4 g/planta), na presença e au-sência de adubação química, foi obtidacom a dosagem de 323,1 g/vaso devermicomposto (Figura 2), Y = 1,1864

+ 0,1356 X - 0,00377X; R2 = 0,95,

ocorrendo leve queda na produção emdoses mais elevadas, analogamente aopadrão de comportamento ocorrido paramatéria seca da parte aérea.

A produção média de matéria secada parte aérea e da raiz nos tratamentosque receberam adubação química (14,1g e 2,6 g), diferiram significativamentedos dados de produção na ausência doadubo químico (3,80 g e 1,36 g), o quepode ser atribuído à boa eficiência daplanta de pimentão na absorção de nu-trientes colocados à sua disposição noplantio e em cobertura.

No experimento de campo, as análi-ses estatísticas não revelaram interaçõessignificativas entre as fontes de varia-ção para as características avaliadas. Ostratamentos feitos com adubação orgâ-nica e adubação orgânica + química (Ta-bela 1) determinaram aumento signifi-cativo no peso médio dos frutos, comdestaque para o tratamento feito comvermicomposto na presença de aduba-ção química, onde o peso médio de fru-tos foi maior (76,6 g/fruto), diferindoestatisticamente da testemunha sem adu-bação e com adubação química. Emmédia, os tratamentos que receberamadubação orgânica proporcionaram umganho adicional de 6,5 g/fruto em rela-ção à testemunha que só recebeu adu-bação química.

Os tratamentos feitos com adubaçãoorgânica utilizando esterco de curral,esterco de curral + adubação química,vermicomposto e vermicomposto + adu-bação química, embora não tenham au-mentado significativamente o compri-mento médio dos frutos, resultaram emaumento significativo no peso dos fru-tos, o que pode ser atribuído ao maiordiâmetro ou espessura do fruto, ocor-

rendo uma tendência de maior ganho deprodutividade. Esses resultados indicamque as fontes de matéria orgânica utili-zadas no experimento de campo,vermicomposto e esterco de curral, nãoapresentaram diferenças significativasentre si para todas as características ana-lisadas.

Em média, a aplicação de adubo or-gânico na ausência do adubo químicoproporcionou um ganho adicional de 3,5t/ha em relação à testemunha química,enquanto na presença de adubo quími-co este ganho adicional foi de 7,0 t/ha.Nestes tratamentos, a diferença de pro-dução obtida pode ser atribuída àmelhoria nas características físicas equímicas do solo pela utilização dovermicomposto e esterco de curral quealém da estrutura do solo e aumento naCTC, proporcionaram maior disponibi-lidade de nutrientes para as plantas(Gras, 1987; Trehan & Wild, 1993).Esses resultados corroboram a afirma-ção de Haag et al. (1970), de que a pro-dução de pimentão está altamente asso-ciada com os teores de nutrientes nasfolhas. As análises foliares revelaramlimites mínimos de 31,2; 4,1; 25,5; 24,3e 7,2 gramas por quilo de matéria secapara nitrogênio, fósforo, potássio, cál-cio e magnésio, respectivamente. Por-tanto, para todos os tratamentos, os va-lores obtidos estão acima dos teores demacronutrientes considerados comoadequados na análise foliar das hortali-ças proposto por Magalhães (1988). Osvalores considerados elevados, inclusi-ve nas plantas controle, podem estar

associados à alta fertilidade do soloamostrado por se tratar de áreas de pro-dução vegetal com acidez corrigida eelevada porcentagem de matéria orgâ-nica. Haag et al. (1970) também suge-rem que para uma produção de frutosde boa qualidade há necessidade de queos teores de nitrogênio, fósforo, potás-sio, cálcio, magnésio e enxofre em gra-mas por quilo encontrados na matériaseca da parte vegetativa da planta se-jam de 27,9; 3,0; 35,0; 18,4; 2,3 e 4,5,respectivamente.

Com base nos resultados apresenta-dos e condições em que foi realizado otrabalho, conclui-se que a matéria orgâ-nica foi eficiente na produção de pimen-tão aumentando a produtividade. Nãoexiste diferenças entre o uso de estercode curral e vermicomposto para as ca-racterísticas de produção analisadas. Ouso de matéria orgânica dispensa a adi-ção de fertilizantes químicos.

LITERATURA CITADA

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TratamentosPeso médiode frutos (g)

Comprimentomédio de

frutos (cm)

Produção(t ha-1)

Sem adubação 65,5 c 8,9 a 13,6 ab

Adubação química 67,8 bc 9,0 a 13,1 b

Esterco de curral 73,6 ab 9,1 a 17,2 ab

Esterco + química 74,1 ab 9,4 a 20,1 a

Vermicomposto 72,9 abc 9,3 a 16,0 ab

Verm. + A. química 76,6 a 9,2 a 20,1 a

CV (%) 4,3 4,1 14,1

Tabela 1. Valores médios de peso de frutos, comprimento médio de frutos e produção depimentão obtidos em condições de campo, em função da adubação orgânica associada àausência e presença de adubo químico. Alegre (ES), CAUFES, 1994.

*/As médias seguidas de mesma letra minúscula, na coluna, não diferem significativamente,a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

L.G. Ribeiro et al.

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137Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

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Adubação orgânica na produção de pimentão.

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138 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

insumos e cultivares em teste

O repolho (Brassica oleracea var.capitata L.) é considerada a

hortaliça mais importante da famíliaBrassicaceae, destacando-se pela suaalta taxa de crescimento e valor nutriti-vo, sobretudo pelo teor de cálcio e devitamina C (Silva Júnior & Yokoyama,1988). No Estado do Acre é umahortaliça muito consumida, no entanto,no período chuvoso, a produção local épraticamente inexistente, e na época

LÉDO, F.J. S.; SOUSA, J.A.; SILVA, M.R. Avaliação de cultivares e híbridos de repolho no Estado do Acre. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 2, p.138-140, julho 2.000.

Avaliação de cultivares e híbridos de repolho no Estado do Acre.Francisco J. da S. Lédo; João A. de Sousa; Marcos R. da SilvaEmbrapa Acre, C. Postal 392, 69.901-180 Rio Branco-AC. e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo do trabalho foi avaliar a produtividade e a qualidadede duas cultivares de polinização aberta (Louco de Verão e União) enove cvs. híbridas de repolho (Caribe, Fuyutoyo, Kenzan, MasterAG-325, Matsukaze, Rookie, Saikô, Sooshu e YR Park), na épocaseca. O ensaio foi realizado no campo experimental da EmbrapaAcre, em Rio Branco-AC, no período de junho a outubro de 1996,em um solo do tipo Argissolo Vermelho-Escuro, textura argilosa.As parcelas foram compostas de duas fileiras de dez plantas, espa-çadas de 0,80 m entre elas e de 0,40 m entre plantas. O delineamen-to experimental foi o de blocos casualizados, com três repetições.Foram avaliadas a produção total e o peso médio das cabeças, índicede formato, relação C/D (comprimento do coração/diâmetro longi-tudinal), compacidade da cabeça, ciclo de colheita e porcentagemde cabeças apresentando podridão bacteriana. Os híbridos Saikô,Fuyutoyo, Sooshu e YR Park apresentaram as maiores produçõestotal de cabeças (41,8, 41,3, 39,3 e 38,7 t/ha, respectivamente), en-quanto ‘Louco de Verão’, ‘Fuyutoyo’, ‘Saikô’, ‘Sooshu’, ‘MasterAG-325’, ‘Caribe’ e ‘YR Park’ resultaram em maiores pesos médiosde cabeças, com médias variando de 1410 a 1632 g. Os híbridos YRPark e Sooshu apresentaram cabeças achatadas e os demais, leve-mente achatadas, com índice de formato variando de 0,90 a 0,77.Para a relação C/D, os híbridos Master AG-325, Sooshu, Rookie,Saikô e Fuyutoyo, e a cv. União tiveram os menores valores, varian-do de 0,48 a 0,57. Com relação à compacidade da cabeça, com exce-ção do híbrido YR Park, todos os demais tiveram boa compacidade.Os híbridos Sooshu e YR Park apresentaram ciclo de produção maisprecoce, com o inicio da colheita aos 63 dias após o transplantio, e‘Rookie’, o mais tardio (91 dias). Os híbridos Saikô e Sooshu desta-caram-se dos demais, apresentando cabeças com peso, formato, uni-formidade, relação C/D e compacidade adequados para acomercialização, sendo considerados promissores para cultivo naépoca seca em Rio Branco-AC.

Palavras-chave: Brassica oleracea var. capitata L., híbridos,compacidade, podridão bacteriana.

ABSTRACT

Evaluation of cabbage cultivars and hybrids in the state of Acre.

The objective of this work was to evaluate yield and quality oftwo cultivars (Louco de Verão e União) and nine cabbage hybrids(Caribe, Fuyutoyo, Kenzan, Master AG-325, Matsukaze, Rookie,Saikô, Sooshu and YR Park), during the dry season. The experimentwas carried out at the experimental field of Embrapa Acre, in RioBranco, Brazil, from June to October 1996, in a dark-red claysoilsoil, of clay texture. Each experimental plot was made up of twolines of ten plants, distanced 0.8 m from each other and 0.4 m betweenplants. The experimental design was of randomized complete blocks,with three repetitions. The total yield and average head weight, formatindex, C/D ratio (core lenght/longitudinal diameter), headcompactness, harvest cycle and percentage of heads presentingbacterial rot were evaluated. The hybrids Saikô, Fuyutoyo, Sooshuand YR Park presented the greatest total production of heads (41.8,41.3, 39.3 and 38.7 t/ha, respectively), while ‘Louco de Verão’,‘Fuyutoyo’, ‘Saikô’, ‘Sooshu’, ‘Master’, ‘Caribe’ and ‘YR Park’had the greatest average weight per heads, with averages varyingfrom 1,410 to 1,632 g. The hybrids YR Park and Sooshu presentedflat heads and the others slightly flat heads, with format index varyingfrom 0.90 to 0.77. For the C/D ratio, Master AG-325, Sooshu, Rookie,Saikô and Fuyutoyo hybrids and União cultivar had the smallestvalues, varying from 0.48 to 0.57. In relation to the head compactness,with the exception of YR Park hybrid, all the others showed goodcompactness. Sooshu and YR Park hybrids presented the mostprecocious production cycles, with harvest beginning 63 days aftertransplanting, and ‘Rookie’ the latest (91 days). Saikô and Sooshuhybrids stood out from the others, presenting heads with uniformityof weight and format, C/D ratio and compactness appropriate formarketing. They were considered promising for cultivation in thedry season, in Rio Branco.

Keywords: Brassica oleracea var. capitata L., hybrids,compactness, bacterial rot.

(Aceito para publicação em 04 de abril de 2.000)

seca, a pequena produção local disputao mercado com importações provenien-tes de outras regiões do País (Sá &Sousa, 1996). Os principais fatores quecontribuem para a pequena produção noEstado são a falta de cultivares adapta-das, temperaturas elevadas, alta preci-pitação e a ocorrência de doenças. Tem-peraturas elevadas retardam o cresci-mento e desenvolvimento das cabeças,afetando a sua qualidade e contribuin-do para uma maior incidência de pragas

e doenças (Silva Júnior & Yokoyama,1988). Geralmente as cultivares de re-polho cultivadas no Acre não apresen-tam boa resistência à podridão-negra(Xanthomonas campestris pv.campestris); aliado a isso, as condiçõesedafoclimáticas do Estado favorecem oataque intenso da podridão-negra, oca-sionando grandes perdas, principalmen-te na época chuvosa (Angeletti & Fon-seca, 1988; Utumi et al., 1998).

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139Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

Novas cultivares e híbridos de repo-lho têm sido constantemente desenvol-vidos pelos órgãos de pesquisa públicae firmas privadas, colocando à disposi-ção dos produtores materiais mais adap-tados ao cultivo sob alta temperatura, ecom maior resistência às principaisdoenças e pragas da cultura (Giordanoet al., 1985; Silva Júnior & Yokoyama,1988; Mello et al., 1994; Cardoso,1998). Como existem poucas informa-ções no Estado em relação ao compor-tamento dessas novas cultivares, torna-se necessária a sua avaliação nas condi-ções edafoclimáticas do Acre. Este tra-balho teve o objetivo de avaliar o de-sempenho de dois cultivares e nove hí-bridos de repolho, na época seca, em RioBranco-AC.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no cam-po experimental da Embrapa Acre, noperíodo de junho a outubro de 1996 (pe-ríodo seco), em solo tipo Argissolo Ver-melho-Escuro, textura argilosa, com asseguintes características químicas: pHH

2O = 5,6; P = 1,0 mg.dm-3; K = 9

mg.dm-3; Ca+2 = 2,30 cmolc.dm-3; Mg+2

= 3,30 cmolc.dm-3; Al+3 = 0,20 cmol

c.dm-

3; H + Al = 3,80 cmolc.dm-3 e matéria

orgânica = 5,3 g.dm-3. A temperaturamédia em oC, a precipitaçãopluviométrica em mm e a umidade re-lativa em % do período foram, respecti-vamente: junho – 22,9; 41,1 e 83; julho- 24,8; 45,2 e 78; agosto – 26,0; 99,7 e80; setembro – 26,3; 29,3 e 79; outubro– 26,8; 109,3 e 82.

Foram utilizadas duas cultivares(Louco de Verão e União) e nove híbri-dos de repolho (Caribe, Fuyutoyo,Kenzan, Master AG-325, Matsukaze,Rookie, Saikô, Sooshu e YR Park). Osemeio foi feito em 10/06/96, em ban-dejas de isopor de 128 células, utilizan-do-se como substrato o produto comer-cial à base de vermiculita e matéria or-gânica (“Plantimax”).

O solo foi arado e gradeado, em se-guida foram feitos sulcos que recebe-ram adubação orgânica de 20 t/ha decama de frango, quinze dias antes dotransplantio. Com base na análise quí-mica do solo e exigência da cultura, fo-ram distribuídos nos sulcos, três dias

antes do transplantio, 300 kg/ha de P2O

5,

240 kg/ha de K2O e 60 kg/ha de N, uti-

lizando-se como fontes superfosfatosimples, cloreto de potássio e uréia, res-pectivamente.

Aos 23 dias após a semeadura, asmudas foram transplantadas para o lo-cal definitivo, em parcelas compostas deduas fileiras de dez plantas, espaçadasde 0,80 m entre elas e de 0,40 m entreplantas. As parcelas foram dispostas nodelineamento de blocos casualizados,com três repetições. Foram considera-das como úteis as oito plantas centraisde cada fileira, totalizando 16 plantas.

Foram realizadas três adubações emcobertura: aos 15, 30 e 45 dias após otransplantio, utilizando-se 20 kg/ha deN (incorporado ao solo), 4 g de bórax/litro d’água e 1 g de molibdato de sódio/litro d’água (pulverizado), sendo a pul-verização com molibdato suprimida nasduas últimas adubações.

Durante a condução do experimento,quando necessários, foram realizados tra-tamentos fitossanitários, capinas e irriga-ções complementares. A colheita foi rea-lizada semanalmente, à medida que ascabeças de repolho atingiam o ponto decolheita, sendo iniciada aos 86 dias apósa semeadura e finalizada aos 128 dias.Foram feitas as seguintes avaliações: pro-dução total de cabeças (foram considera-das apenas cabeças com mais de 300 g);peso médio das cabeças (g); índice de for-mato (relação entre os diâmetros longitu-dinal e transversal da cabeça); relação C/D (comprimento do coração/diâmetro lon-gitudinal) que expressa o comprimento docoração em relação à profundidade dascabeças; compacidade da cabeça, avalia-das por notas (1=fofa; 2=média e 3=fir-me); ciclo (número de dias após otransplantio até a primeira e última colhei-tas); porcentagem de cabeças com podri-dão bacteriana devido ao ataque das bac-térias Xantomonas campestris pv.campestris e/ou Erwinia carotovora pv.carotovora e porcentagem de plantasperfilhadas e com florescimento prema-turo. Para comparar as médias das carac-terísticas avaliadas empregou-se o teste deScott-Knott a 5% de probabilidade, excetopara o ciclo, porcentagem de cabeças compodridão bacteriana, plantas perfilhadas ecom florescimento prematuro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os híbridos Saikô, Fuyutoyo,Sooshu e YR Park apresentaram as maio-res produções total de cabeças (Tabela1), enquanto ‘Louco de Verão’, ‘União’,‘Master AG-325’ e ‘Rookie’ forammenos produtivos. A baixa produtivida-de verificada nas cultivares União eLouco de Verão deve-se à alta ocorrên-cia de plantas com florescimento pre-maturo (17 e 11%, respectivamente) ede cabeças com podridão bacterianaocasionada pelo ataque de xantomonase erwinia, indicando má adaptação des-sas cultivares às condições locais.‘Caribe’ e ‘Master AG-325’ tiveramgrande número de plantas perfilhadas(15,7 e 14,3%, respectivamente) e decabeças com podridão bacteriana.

Os maiores pesos médios de cabe-ças foram obtidos pelos ‘Louco de Ve-rão’, ‘Fuyutoyo’, ‘Saikô’, ‘Sooshu’,‘Caribe’, ‘YR Park’ e ‘Master AG-325’,com médias variando de 1,4 a 1,6 kg(Tabela 1). Os híbridos YR Park eSooshu apresentaram cabeças achatadase os demais, cabeças levemente achata-das, com índice de formato variando de0,90 a 0,77.

Com relação à compacidade da ca-beça, apenas o híbrido YR Park apre-sentou baixa compacidade, o que é in-desejável, por comprometer a durabili-dade pós-colheita e resistência ao trans-porte. As demais cultivares e híbridosapresentaram boa compacidade. Emensaios realizados no Amazonas,‘Sooshu’ e ‘União’ apresentaram baixacompacidade (Cardoso, 1998 e 1999)discordando dos resultados obtidos nestetrabalho e em avaliações realizadas emRondônia (Utumi et al., 1998), nos quais‘Sooshu’ e ‘União’ obtiveram boacompacidade.

Para a relação entre o comprimentodo coração e o diâmetro longitudinal (C/D), os híbridos Master AG-325, Sooshu,Rookie, Saikô e Fuyutoyo e a cv. Uniãoapresentaram os menores valores, nãocomprometendo, no entanto, a qualida-de das cabeças (Tabela 1). O híbridoSaikô destacou-se pela excelente unifor-midade das cabeças formadas. Nos de-mais genótipos os valores elevados darelação C/D (comprimento do coração

Avaliação de cultivares e híbridos de repolho no Estado do Acre.

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140 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

em relação à profundidade das cabeças)indicam depreciação da qualidade dacabeça, podendo predispor ao rompi-mento, afetando também a duração doproduto após a maturação comercial(Silva Júnior & Yokoyama, 1988). Oshíbridos Sooshu e YR Park apresenta-ram ciclo de produção mais precoce,com o inicio da colheita aos 63 dias apóso transplantio, e ‘Rookie’, o mais tardio(91 dias).

Apesar do peso da cabeça ser umindicativo do potencial produtivo, naseleção das melhores cultivares deve-selevar em consideração a preferência doconsumidor por cabeças pesando na fai-xa de 1,0 a 1,5 kg, bem como a unifor-midade de produção e aspecto paracomercialização. Assim, os híbridosSaikô e Sooshu destacaram-se dos de-mais, apresentando cabeças com peso,formato, relação C/D e compacidadeadequados para a comercialização. Ohíbrido ‘Saikô’ apresentou bons resul-tados também, em avaliações realizadas

no Amazonas (Cardoso, 1998 e 1999) eRondônia (Utumi et al., 1998), e‘Sooshu’ no Amapá (Alves et al., 1998),comprovando a boa adaptação desseshíbridos ao cultivo em condições tropi-cais úmidas, como a da região Amazô-nica. Conclui-se que os híbridos Saikôe Sooshu foram os mais promissorespara cultivo na época seca em Rio Bran-co, Acre.

LITERATURA CITADA

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Cultivares/Híbridos PTC (t/ha) PMC (g)Índice deformato

C/D CCCiclo1

(dias)PB (%)

Saikô 41,8 a 1598, a 0,77 a 0,56 b 2,88 a 84-91 6,98

Fuyutoyo 41,3 a 1631, a 0,83 a 0,57 b 2,84 a 84-98 7,14

Sooshu 39,3 a 1436, a 0,67 b 0,54 b 2,56 a 63-77 4,55

YR Park 38,7 a 1417, a 0,59 b 0,65 a 1,90 b 63-77 0,00

Matsukaze 27,5 b 1080, b 0,85 a 0,60 a 2,92 a 84-105 2,50

Caribe 25,7 b 1419, a 0,82 a 0,65 a 3,00 a 77-84 26,32

Kenzan 24,0 b 1280, b 0,78 a 0,60 a 2,75 a 84-105 9,38

Rookie 18,8 c 976, b 0,90 a 0,55 b 3,00 a 91-105 6,45

Master AG-325 18,0 c 1410, a 0,86 a 0,48 b 2,90 a 84-105 40,00

União 12,6 c 1249, b 0,87 a 0,52 b 2,83 a 77-105 30,43

Louco de Verão 10,6 c 1632, a 0,88 a 0,62 a 2,87 a 70-98 62,96

CV (%) 22,85 15,20 6,94 8,53 6,08 - -

Tabela 1. Produção total de cabeças (PTC), peso médio de cabeças (PMC), índice de formato, relação comprimento do coração e diâmetrolongitudinal (C/D), compacidade da cabeça (CC); ciclo e porcentagem de cabeças de repolho com podridão bacteriana (PB). Rio Branco,Embrapa Acre, 1996.

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade.1/ Número de dias desde a semeadura até a primeira e última colheitas, respectivamente.

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141Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

O tripes, Thrips tabaci Lindeman, éa principal praga da cultura da ce-

bola no Estado de Santa Catarina. Esteinseto alimenta-se principalmente dasfolhas, causando danos na região da bai-nha. Para o seu controle os produtoresestão utilizando tecnologia de aplicaçãode agrotóxicos bastante diversificadaprincipalmente quanto ao volume decalda de inseticidas, variando-se deaproximadamente 200 L/ha com pulve-rizador costal a 800 L/ha com pulveri-zadores tratorizados, utilizando tantobicos tipo leque quanto cone. Nos tra-balhos experimentais de controle quími-co de tripes em cebola, os volumes decalda também apresentam variações:Lorca (1958) utilizou 760 L/ha; Sharma& Srivastava (1965) 371 a 494 L/ha;Howland & Wilcox (1966) 110 L/ha,com pulverizador de alta pressão e 550L/ha, com pulverizador manual; Raheja(1973) 110 L/ha; Mote (1976) 500, 600

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Eficiência de diferentes bicos e volumes de calda no controle de tripesem cebola.Paulo Antônio de S. Gonçalves1; Luiz A. Palladini2

1 EPAGRI - Estação Experimental de Ituporanga, C. Postal 121, 88.400-000, Ituporanga - SC;

2 EPAGRI - Estação Experimental de Caçador, C. Postal 591, 8.9500-000, Caçador - SC. e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes vo-lumes de calda e tipo de bico no controle químico de Thrips tabaciem cebola. Dois experimentos foram conduzidos na EPAGRI, Esta-ção Experimental de Ituporanga, SC, no período de agosto a dezem-bro de 1996 e 1997. Os tratamentos com bico leque e respectivosníveis de vazão foram XR 110 015 VS® - 236 L/ha, XR 110 02 VS®

- 316 L/ha, XR 110 03 VS® - 472 L/ha, XR 110 04 VS® - 632 L/ha,XR 110 05 VS® - 788 L/ha, TJ 60 110 02 VS® - 316 L/ha, TJ 60 11004 VS® - 632 L/ha; com bico cone foram Conejet TSVS® - 236 L/ha,Conejet TXVK 18® - 472 L/ha, Conejet TXVK 26® - 632 L/ha, D6Difusor V5® - 600 L/ha, além da testemunha, sem tratamento. Odelineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso com qua-tro repetições. O tamanho de parcela foi de 2,8 m x 3,0 m. O inseti-cida usado foi clorpirifós 0,72 g. i.a./ha. A amostragem de ninfas deT. tabaci foi realizada no campo em cinco plantas escolhidas ao aca-so em cada parcela. A redução populacional de tripes foi semelhan-te entre os diferentes volumes de calda e tipos de bico utilizados.Portanto, os bicos cone e leque aplicando volumes de calda entre236 a 788 L/ha, apresentaram a mesma eficiência no controle de T.tabaci em cebola.

Palavras- chave: Allium cepa, tripes, controle químico, bicos,volumes.

ABSTRACT

Efficiency of different nozzle types and volume of theinsecticide solution in the control of thrips in onions.

The objective of this work was to evaluate the efficiency ofdifferent nozzle types and volume of the insecticide solution incontrolling thrips (Thrips tabaci) in onions. The work was carriedout from August to December, 1996 and 1997. The treatmentsconsisted of different nozzle types (fan and cone) and different flowrates. Fan nozzles were XR 110 015 VS® - 236 L/ha, XR 110 02VS® - 316 L/ha, XR 110 03 VS® - 472 L/ha, XR 110 04 VS® - 632 L/ha, XR 110 05 VS® - 788 L/ha, TJ 60 110 02 VS® - 316 L/ha, TJ 60110 04 VS - 632 L/ha; and cone nozzles were Conejet TSVS® - 236L/ha, Conejet TXVK 18® - 472 L/ha, Conejet TXVK 26® - 632 L/ha, D6 Difusor V5® - 600 L/ha. Besides these treatments there wasan untreated check. The experimental design was of randomizedcomplete blocks with four replications. The insecticide used waschlorpyrifos 0.72 g.a.i./ha. The evaluation of the number of nimphsof T. tabaci was made weekly in the field using five plants per plot.The fan or cone nozzle applying 236 L/ha to 788 L/ha of theinsecticide solution (chlorpyrifos) gave similar thrips control.

Keywords: Allium cepa, thrips, chemical control, nozzles,volumes.

(Aceito para publicação em 16 de maio de 2.000)

e 800 L/ha; Rossiter & Geisemann(1976) utilizaram no primeiro ano 1685L/ha, reduzindo para 1120 L/ha no anoseguinte; Mayer et al . (1987) 151 L/ha;Saini et al. (1989) 746 L/ha. SegundoRossiter (1980) citado por Sato (1989)os inseticidas devem ser aplicados comuma quantidade de água suficiente paramolhar toda a planta, preferencialmen-te, esta quantidade não deve ser inferiora 600 L/ha, para atingir as ninfas queficam alojadas na parte interna das fo-lhas. Em seus trabalhos, Sato (1989)utilizou o volume de 500 L/ha. Gonçal-ves & Guimarães (1995), para tentaratingir os insetos alojados na parte in-terna das folhas, utilizaram aproxima-damente 600 L/ha, recomendando bicosleque 80.03 ou 110.04, pois apresenta-ram controle eficaz em experimentosrealizados na EPAGRI, Estação Expe-rimental de Ituporanga, SC. Em relaçãoao tipo de bico, Guedes et al . (1982) e

Cavalcante et al. (1986) também utili-zaram bicos leque e obtiveram reduçãopopulacional significativa de T. tabaci.

O objetivo deste trabalho foi deter-minar o volume de calda e o tipo de bicoadequado para o controle químico detripes na cultura da cebola, para as con-dições do Alto Vale do Itajaí, SC.

MATERIAL E MÉTODOS

Dois experimentos foram conduzi-dos na Estação Experimental deItuporanga, EPAGRI (latitude 27°, 22”S, longitude 49°, 35” W), no período deagosto a dezembro de 1996 e 1997. Ostransplantes foram realizados em 12/08(1996) e 26/08 (1997), e a colheita em04/12 (1996) e 15/12 (1997). Utilizou-se mudas de cebola da cultivar Crioula,em parcelas de 2,8 m x 3,0 m, comespaçamento de 40 cm x 7,5 cm,totalizando 280 plantas por parcela. A

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142 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

condução da cultura seguiu o propostopor EMPASC/ACARESC (1991). O de-lineamento experimental foi blocos aoacaso com 12 tratamentos e quatro re-petições. As aplicações foram realiza-das com pulverizador manual em pres-são constante com CO

2, a três bares. Os

bicos e os volumes de calda utilizadosforam: tipo leque, 1 - XR 110 015 VSâ -236 L/ha; 2 - XR 110 02 VSâ - 316 L/ha; 3 - XR 110 03 VSâ - 472 L/ha; 4 -XR 110 04 VSâ - 632 L/ha; 5 - XR 11005 VSâ - 788 L/ha; 6 - TJ60 110 02 VSâ- 316 L/ha; 7 - TJ60 110 04 VSâ - 632L/ha; tipo cone, 8 - Conejet TXVS - 8â- 236 L/ha; 9 - Conejet TXVK - 18â -472 L/ha; 10 - Conejet TXVK26â - 632L/ha; 11 - D6 Difusor V5â - 600 L/ha;12 - Testemunha sem tratamento. O in-seticida usado foi clorpirifós na dosa-gem de 0,72 g.i.a./ha. Os tratamentosforam realizados nas seguintes datas 16/10, 24/10, 30/10, 06/11, 12/11 e 20/11para o primeiro ensaio, em 1996 e 28/10, 11/11, 24/11 e 03/12 para o segundoensaio, no ano de 1997.

O número de ninfas de tripes foi de-terminado no campo em todas as folhas,com lupa manual 75 mm, aproximada-mente 24 horas após as pulverizações.Para o cálculo da eficiência do inseticida

utilizou-se a fórmula de Abbott (1925).A produtividade foi avaliada em 60

bulbos por parcela, previamente deter-minados, selecionando-se dentre estesapenas aqueles com padrão comercial,ou seja com diâmetro acima de 4 cm.

Na análise dos dados o número mé-dio de ninfas de tripes foi transformadoem log x + 0,5 e a produtividade em t/ha. Os resultados foram submetidos aanálise de variância e as médias com-paradas pelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As avaliações prévias do número deninfas de tripes, para os anos de 1996 e1997, não apresentaram diferenças es-tatísticas, indicando uniformidade nadistribuição de ninfas em todas as par-celas experimentais. Após a primeirapulverização, verificou-se que a densi-dade populacional do inseto permane-ceu semelhante em todos os tratamen-tos, nos dois ensaios (Tabelas 1 e 2), àexceção do tratamento XR.110.04 VS -632 L/ha que apresentou menor núme-ro de ninfas no segundo ensaio, quandocomparado à testemunha (Tabela 2).Com as pulverizações subsequentes os

bicos XR, TJ, CONEJET e D6, nos di-ferentes volumes, obtiveram níveis decontrole não diferindo estatisticamenteentre si, nos dois anos de avaliação (Ta-belas 1 e 2). Portanto, os bicos leque econe aplicando volumes de calda entre236 a 788 L/ha, apresentaram a mesmaeficiência para o controle químico detripes em cebola. Estes resultados dife-rem da recomendação de Darcádia(1980) citado por Sato (1989) e Gon-çalves e Guimarães (1995), que reco-mendaram volumes de calda acima de600 L/ha, para o controle de tripes em ce-bola. Mayeux & Wene (1950) utilizandoinseticidas clorados (atualmente com seuuso proibido), concluíram que aplicaçõeslíquidas a baixo volume, tanto para equi-pamentos terrestre quanto aéreo foram tãoeficientes quanto as formulações pó. Deacordo com Carman (1975) no controlede ácaros e tripes deve-se considerar queestes não necessitam ser atingidos direta-mente pelas gotas, pois durante os seusintensos movimentos eles entrarão emcontanto com o produto, possibilitandoassim, a redução de volumes de calda nostratamentos.

A aplicação sucessiva de inseticidasno controle de tripes, não provocou re-duções populacionais significativas em

Tratamentos

Datas de avaliação

14/10(prévia)

17/10 25/10 31/10 07/11 13/11 21/11

N N %EF* N %EF* N %EF* N %EF* N %EF* N %EF*

XR.110.015 VS - 236 L/ha 15,4 a 12,7 a 34,5 11,0 ab 52,6 6,9 ab 69,7 16,3 ab 52,1 25,5 ab 49,7 8,5 ab 76,7

XR.110.02 VS - 316 L/ha 14,6 a 10,7 a 44,9 6,4 b 72,4 3,4 b 85,1 13,4 b 60,6 28,5 ab 43,8 9,2 ab 74,8

XR.110.03 VS - 472 L/ha 14,1 a 10,2 a 47,4 9,5 ab 59,1 4,1 b 82,0 7,6 b 77,7 20,3 b 60,0 8,3 ab 77,3

XR.110.04 VS - 632 L/ha 20,0 a 9,2 a 52,6 9,0 ab 61,2 4,1 b 82,0 17,8 ab 47,7 23,7 ab 53,3 4,2 b 88,5

XR.110.05 VS - 788 L/ha 18,3 a 14,5 a 25,3 8,9 ab 61,6 4,9 b 78,5 7,3 b 78,5 21,6 ab 57,4 6,6 ab 81,9

TJ60 110.02 VS - 316 L/ha 16,5 a 9,4 a 51,6 6,1 b 73,7 7,7 ab 66,2 16,9 ab 50,3 18,0 b 64,5 5,5 b 84,9

TJ60 110.04 VS - 632 L/ha 16,0 a 8,6 a 55,7 8,9 ab 61,6 6,1 ab 73,3 14,7 ab 56,8 29,2 ab 42,4 7,8 ab 78,6

CONEJET TXVS 8 - 236 L/ha 7,4 a 9,2 a 52,6 11,9 ab 48,7 7,1 ab 68,9 15,1 ab 55,6 34,1 ab 32,7 12,2 ab 66,6

CONEJET TXVK 18 - 472 L/ha 12,3 a 9,2 a 52,6 16,0 ab 31,0 7,0 ab 69,3 16,9 ab 50,3 26,4 ab 47,9 10,9 ab 70,1

CONEJET TXVK 26 - 632 L/ha 14,7 a 12,6 a 35,1 11,9 ab 48,7 4,6 b 79,8 13,6 b 60,0 33,8 ab 33,3 7,5 ab 79,5

D6 DIFUSOR V5 - 600 L/ha 10,5 a 9,2 a 52,6 8,2 ab 64,7 4,9 b 78,5 10,3 b 69,7 23,4 ab 53,9 5,4 b 85,2

Testemunha 12,1 a 19,4 a - 23,2 a - 22,8 a - 34,0 a - 50,7 a - 36,5 a -

C.V. (%) 19,1 26,7 20,7 27,2 13,9 10,8 32,7

Tabela 1. Número médio de ninfas de Thrips tabaci Lind. por planta (N) e percentagem de eficiência (%EF*), em cebola cultivar Crioula,para diferentes bicos e volumes de calda de inseticidas. Ituporanga, EPAGRI, 1996.

OBS: Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).* Porcentagem de eficiência corrigida pela fórmula de Abbott (1925).

P.A.S. Gonçalves & L.A.Palladini

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143Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

relação à testemunha (Tabelas 1 e 2). Ocontrole químico foi dificultado prova-velmente devido às condicões climáti-cas observadas nos meses de outubro enovembro em Ituporanga (SC), (altastemperaturas e baixas precipitações)

serem favoráveis ao rápido desenvolvi-mento populacional do inseto (Gonçal-ves, 1997 b). Além disso, “pode” estarocorrendo resistência do inseto, comaplicação exagerada de inseticidas pe-los agricultores da região do Alto Vale

Tratamentos

Datas de avaliação

27/10(prévia)

31/10 12/11 25/11 04/12

N N %EF* N %EF* N %EF* N %EF*

XR.110.015 VS - 236 L/ha 34,5 a 3,8 ab 66,1 14,8 b 55,4 9,4 b 75,1 10,7 ab 42,2

XR.110.02 VS - 316 L/ha 27,8 a 4,7 ab 58,0 15,9 b 52,1 10,4 b 72,5 8,6 ab 53,5

XR.110.03 VS - 472 L/ha 20,2 a 4,3 ab 61,6 17,6 ab 47,0 6,6 b 82,5 3,3 b 82,2

XR.110.04 VS - 632 L/ha 21,2 a 2,4 b 78,6 14,8 b 55,4 11,1 b 70,6 6,9 ab 62,7

XR.110.05 VS - 788 L/ha 29,3 a 4,9 ab 56,3 15,5 ab 53,3 5,0 b 86,8 4,5 ab 75,7

TJ60 110.02 VS - 316 L/ha 31,6 a 6,0 ab 46,4 16,0 b 51,8 14,9 ab 60,6 6,0 ab 67,6

TJ60 110.04 VS - 632 L/ha 33,5 a 7,0 ab 37,5 16,2 ab 51,2 5,0 b 86,8 4,0 b 78,4

CONEJET TXVS 8 - 236 L/ha 22,7 a 6,3 ab 43,8 21,8 ab 34,3 10,5 b 72,2 8,9 ab 51,9

CONEJET TXVK 18 - 472 L/ha 23,9 a 7,4 ab 33,9 21,2 ab 36,1 11,4 ab 69,8 5,2 ab 71,9

CONEJET TXVK2 6 - 632 L/ha 26,2 a 6,7 ab 40,2 15,3 ab 53,9 8,5 b 77,5 5,0 ab 73,0

D6 DIFUSOR V5 - 600 L/ha 19,7 a 5,7 ab 49,1 21,6 ab 34,9 8,4 b 77,8 5,3 ab 71,4

Testemunha 26,6 a 11,2 a - 33,2 a - 37,8 a - 18,5 a -

C.V. (%) 11,2 31,1 10,6 22,9 32,2

Tabela 2. Número médio de ninfas de Thrips tabaci Lind. por planta (N) e percentagem de eficiência (%EF*), em cebola cultivar Crioula,para diferentes bicos e volumes de calda de inseticidas. Ituporanga, EPAGRI, 1997.

OBS: Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).* Porcentagem de eficiência corrigida pela fórmula de Abbott (1925).

do Itajaí, SC, exercendo uma pressão deseleção sobre a praga. Lewis, 1973, ob-servou que T. tabaci apresentou resis-tência aos clorados no passado, portan-to não deve ser descartada a possibili-dade que o mesmo esteja ocorrendo compiretróides e fosforados.

Os tratamentos com volume reduzi-do de calda proporcionam diversas van-tagens para o produtor, como menorcusto de aplicação pela diminuição dotempo gasto no deslocamento para abas-tecimento, no tempo para o tratamentoda área, na circulação do equipamentodentro da área, possibilidade de redu-ção do número de equipamentos, e peladisponibilidade do trator para outras ati-vidades na propriedade, além de redu-zir a depreciação do conjunto trator pul-verizador e consequentemente o custode produção.

A produtividade média e o pesomédio de bulbos comerciais (acima de4 cm de diâmetro) não apresentaramdiferenças estatisticamente significati-vas entre os diferentes tratamentos quí-micos em relação à testemunha (Tabela3). Resultados semelhantes foram obti-dos por Gonçalves (1996) que não ob-servou aumento de produtividade paraa cultura da cebola, com o uso de con-

TratamentosProdutividade

(t/ha)Peso médio de

bulbos (g)1996 1997 1996 1997

XR.110.015 VS - 236 L/ha 9,3 a 16,9 a 58,7 a 61,1 abXR.110.02 VS - 316 L/ha 10,0 a 17,4 a 60,0 a 60,3 ab

XR.110.03 VS - 472 L/ha 9,9 a 16,0 a 63,6 a 60,1 ab

XR.110.04 VS - 632 L/ha 12,0 a 16,1 a 59,2 a 60,5 abXR.110.05 VS - 788 L/ha 9,0 a 18,8 a 58,5 a 63,7 aTJ60 110.02 VS - 316 L/ha 10,9 a 14,6 a 60,2 a 57,0 b

TJ60 110.04 VS - 632 L/ha 9,5 a 16,1 a 60,0 a 57,6 b

CONEJET TXVS 8 - 236 Ll/ha 11,8 a 17,3 a 62,3 a 62,2 ab

CONEJET TXVK 18 - 472 L/ha 11,7 a 16,3 a 61,9 a 59,5 abCONEJET TXVK 26 - 632 L/ha 11,0 a 17,7 a 60,1 a 61,9 abD6 DIFUSOR V5 - 600 L/ha 10,1 a 17,5 a 60,9 a 60,0 ab

Testemunha 7,9 a 17,1 a 56,4 a 59,8 ab

C.V. (%) 23,6 10,1 7,0 5,1

Tabela 3. Produtividade comercial média e peso comercial médio de bulbos de cebola,cultivar Crioula. Ituporanga, EPAGRI, 1996 e 1997.

OBS: Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey(P<0,05).

Eficiência de diferentes bicos e volumes de calda no controle de tripes em cebola.

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144 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

trole químico para tripes. Lorini &Ferreto (1991) também não obtiveramdiferenças de produtividade em cebolausando intervalos de aplicação de inse-ticida a 3, 7, 14 e 21 dias. Em trabalhosrealizados no Brasil com nível de danoeconômico de tripes em cebola tem-seobservado que a planta pode tolerar ní-veis populacionais entre 15 a 25 tripes/planta (Domiciano et al. 1993); 15ninfas/planta antes de bulbificar e 30após essa fase (Gonçalves, 1997a); e seistripes/folha (Dória et al. 1998) sem pre-juízos à produtividade. Portanto, apesarda presença da praga é possível obterprodução de bulbos com padrão comer-cial e, nem sempre, o controle químicoaumenta a produtividade da cultura. Estaquestão tem sido discutida comextensionistas e agricultores da regiãodo Alto Vale do Itajaí, SC, no sentidode reduzir o uso de inseticidas ou atémesmo suprimí-lo num contexto deprodução orgânica da cultura.

AGRADECIMENTOS

Ao técnico Agrícola Marcelo Pitz esua equipe pelo apoio e dedicação nacondução do trabalho.

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145Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

Para que o cultivo de batata atinjaaltas produtividades, a sanidade da ba-tata-semente é fundamental. Nas prin-cipais regiões produtoras de batata dopaís a ‘semente’ degenera muito rapi-damente, exigindo freqüentes renova-ções dos tubérculos para o plantio, sen-do que a principal razão dessa degene-ração é a infecção por vírus, com desta-que para o vírus do enrolamento da fo-lha da batata (Potato leafroll virus ouPLRV) e para o vírus Y da batata (Potatovirus Y ou PVY) (Daniels, 1995; Figuei-ra, 1995; Souza Dias, 1995). Este fatofaz com que o custeio da lavoura de ba-tata seja muito elevado, pois as ‘semen-tes’ representam de 30 a 50% do seuvalor, encarecendo a produção. Por ou-tro lado, principalmente os produtoresdo segmento agricultura familiar nãofazem a renovação das ‘sementes’ coma freqüência necessária, e plantam tu-bérculos com altos índices de infecçãopor viroses, resultando em baixas pro-dutividades.

A infecção pelo PVY em lavourasde batata de Minas Gerais e de São Paulovem crescendo em importância (Figuei-ra, 1995; Souza-Dias, 1995) e, mesmono Rio Grande do Sul, onde a incidên-

DANIELS, J. Avaliação de genótipos de batata para resistência ao vírus Y. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 2, p. 145-147, julho 2.000.

Avaliação de genótipos de batata para resistência ao vírus Y1 .Julio Daniels2

Embrapa Clima Temperado, Caixa Postal 403, 96.001-970 Pelotas – RS. e.mail: [email protected]

RESUMO

O vírus Y da batata (Potato virus Y ou PVY) é uma das princi-pais causas da degenerescência da batata no Brasil. Com o objetivode determinar, nas condições do Rio Grande do Sul, a resistência decampo de genótipos de batata à infecção pelo PVY, avaliaram-se, napresença de infectores e durante dois plantios consecutivos de pri-mavera, quinze cultivares e clones de batata. A detecção de PVY foiefetuada por meio de testes sorológicos (DAS-ELISA). As cultiva-res e clones avaliados comportaram-se da seguinte forma: Cristal e2CRI-1149-1-79, resistentes; Astrid, Baraka, Baronesa, Catucha,Macaca, Monte Bonito, Santo Amor, Trapeira e 2AC-917-7-80, re-sistência intermediária; Bintje, Cerrito Alegre e Monalisa, suscetí-veis; e Achat, muito suscetível.

Palavras chave: Solanum tuberosum L., Potato virus Y, PVY.

ABSTRACT

Evaluation of potato genotypes for resistance to Potato virus Y.

Potato virus Y (PVY) is considered one of the main causes ofpotato degeneration in Brazil. To determine the field resistance ofpotato genotypes to PVY, in Rio Grande do Sul, Brazil, fifteen clonesand cultivars were tested during two consecutive spring plantingseasons. PVY detection was done by serological tests (DAS-ELISA).Cultivars and lines performed as follows: Cristal and 2CRI-1149-1-79, resistant; Astrid, Baraka, Baronesa, Catucha, Macaca, MonteBonito, Santo Amor, Trapeira and 2AC-917-7-80, intermediateresistance; Bintje, Cerrito Alegre and Monalisa, susceptible; andAchat, extremely susceptible.

Keywords: Solanum tuberosum L., Potato virus Y, PVY.

(Aceito Para Publicação em 26 de maio de 2.000)

cia deste vírus era praticamente nula(Daniels & Castro, 1984), o problema vemaumentando consideravelmente (Daniels,1996). O controle desta virose é dificulta-do pela ausência de invernos rigorosos nopaís, o que favorece a multiplicação dosafídeos vetores, cujo combate é ineficientena contenção da doença.

As estirpes de PVY podem ser divi-didas em três grupos principais, reco-nhecidos como PVY0, PVYN e PVYC.As estirpes de PVY0, ou comuns, por-que são mundialmente disseminadas,causam sintomas típicos em batata, in-cluindo mosaico, necrose das nervuras,senescência e queda das folhasinfectadas. As estirpes de PVY N, ounecróticas em fumo, são mais restritasna sua distribuição geográfica, e causammosqueado leve nas folhas de batata,que passa muitas vezes despercebido aoserradicadores e certificadores de bata-ta-semente (Rose et al., 1987). As estir-pes de PVYC tem a sua distribuição maisreduzida do que os dois grupos citadose a sua caracterização é ambígua. Al-guns isolados de PVYC causam reaçõesde hipersensibilidade em cultivares debatata e outros não são transmissíveispor afídeos, fatores que limitam sua dis-

seminação, influenciando aepidemiologia desta virose (Ellis et al.,1997). Embora alguns autores tenhamobservado variabilidade serológica en-tre estes grupos, não encontraram dife-renças consistentes nos testesserológicos quando utilizaram anti-so-ros policlonais. Porém, com a disponi-bilidade de anticorpos monoclonais, foipossível caracterizar serologicamente amaioria dos isolados (Rose et al., 1987;McDonald & Kristjansson, 1993; Elliset al., 1997).

A resistência ao PVY é baseada nosgenes N e R, que conferem reações dehipersensibilidade ao hospedeiro. Osgenes Ny são de expressão variável eparecem ser dependentes da estirpe dovírus, ao contrário do gene Ry que con-fere imunidade (Foxe, 1992).

Para determinação da resistência re-lativa ao PVY em batata, também cha-mada de resistência de campo, foramutilizados experimentos de exposição àinfecção, conforme descrições deBagnall & Tai (1986). O objetivo destetrabalho foi determinar a resistência re-lativa de quinze cultivares e clones debatata ao PVY sob as condições natu-rais da Região Sul do RS.

1 Trabalho parcialmente financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS).2 Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).

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146 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

MATERIAL E MÉTODOS

Os tubérculos das cultivares e clonesselecionados utilizados nesta pesquisa(Tabela 1), isentos de infecção peloPVY, foram obtidos na Embrapa ClimaTemperado, conforme tecnologia já des-crita (Costa et al., 1989; Daniels, 1994),multiplicados em áreas isoladas e arma-zenados por cerca de oito meses em câ-mara fria (4ºC, 85% de umidade relativa),para equilíbrio do estado fisiológico.

Os tubérculos infectados natural-mente com as estirpes PVY0 e PVYN,foram selecionados de plantas de batataoriundas de experimentos realizados naEmbrapa Clima Temperado e em lavou-ras da Região Sul do RS. Após a confir-mação da infecção através de testesserológicos (DAS-ELISA), os tubércu-los foram multiplicados em áreas isola-das e armazenados conforme descritoanteriormente para os tubérculos sadi-os. A caracterização dos isolados foirealizada biologicamente, através deinoculação mecânica nas plantasindicadoras Chenopodiumamaranticolor Coste & Reyn., C. quinoaWilld. e Nicotiana tabacum L. ‘Hava-na’, conforme indicações de Delhey(1982) e de McDonald & Kristjansson(1993), e serologicamente, com um kitpara análise de estirpes de PVY, forne-cido por Agdia (Elkhart, Indiana, Esta-dos Unidos) e utilizado conforme a re-comendação do fabricante.

A metodologia de Bagnall & Tai(1986) foi utilizada para a avaliação daresistência de campo de batata à infec-ção pelo PVY, com algumas modifica-ções. Os experimentos foram instaladosnos períodos de primavera, setembro adezembro, de 1996 e 1997, em campoda Embrapa Clima Temperado, em áre-as isoladas. Cada parcela foi constituídapor vinte tubérculos em uma linha de seismetros. O delineamento experimental,com quatro repetições, foi totalmentecasualizado. A cada duas linhas de plan-tio, distanciadas de 80 cm, e nas exter-nas, foram plantados os tubérculosinfectados. O plantio e o manejo dos ex-perimentos foram efetuados conformeBisognin (1996), com exceção do con-trole de pragas, que não foi efetuado, fa-vorecendo-se a proliferação de insetos.

No final de cada ciclo de cultivo foiefetuada uma amostragem das parcelas,colhendo-se, aleatoriamente, de cincoplantas por parcela, uma folha centralpara análise serológica através de DAS-ELISA (Clark & Adams, 1977), comanti-soro para detecção do PVY dispo-nível na Embrapa Clima Temperado(Daniels et al., 1987). Os tubérculosforam colhidos, classificados e armaze-nados por cerca de oito meses em câ-mara fria (4ºC, 85% de umidade relati-va), para o plantio seguinte.

A avaliação foi efetuada nospercentuais de infecção acumulados nosegundo ano de plantio, após um dosgenótipos analisados ter atingido o li-mite máximo de cem por cento. Usou-se a análise da variância dos percentuaisde infecção, transformados em arco senoda raiz de X/100, e a análise de agrupa-mentos, conforme Scott & Knott (1974).Os genótipos assim agrupados foramdenominados de resistente, resistenteintermediário, suscetível e muito susce-

tível, conforme denominação utilizadapor Reifschneider et al. ( 1989).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os testes biológicos não foram efe-tivos para a caracterização das estirpesde PVY presentes nos cinco grupos deinfectores, porque em alguns, conformeficou demonstrado serologicamente, tra-tava-se de infecção dupla por duas es-tirpes. Entretanto, o kit serológico foisatisfatório para o fim proposto, reve-lando a ocorrência de estirpes do grupoPVY0 em três fontes de inóculo e demistura das estirpes PVY0 e PVYN emduas, confirmando a inexistência de pro-teção cruzada entre estirpes do PVY(Salazar, L. F., Informações Pessoais).

As cultivares e clones testados com-portaram-se da seguinte forma: Cristale 2CRI-1149-1-79, resistentes; Astrid,Baraka, Baronesa, Catucha, Macaca,Monte Bonito, Santo Amor, Trapeira e2AC-917-7-80, resistentes intermediá-

Cultivar/CloneInfecção por

PVY1 Duncan2/ (5%) 'SKCA3/

ACHAT 70 a MS

BINTJE 51 ab SCERRITO ALEGRE 49 b S

MONALISA 45 bc S

SANTO AMOR 32 cd RI

ASTRID 24 de RI

MACACA 24 de RI

2 AC 917-7-80 24 de RI

BARAKA 22 de RI

CATUCHA 22 de RI

TRAPEIRA 21 de RI

BARONESA 18 de RI

MONTE BONITO 14 def RICRISTAL 6 ef R

2 CRI 1149-1-79 6 f R

Tabela 1. Índices de infecção de genótipos de batata pelo vírus Y (Potato virus Y - PVY),após dois plantios consecutivos de primavera, na presença de infectores, em Pelotas, EmbrapaClima Temperado, 1998.

1/ Índice com médias de infecção de quatro parcelas, com dados transformados em arco senoda raiz quadrada de X/100. Detecção efetuada por DAS-ELISA, em cinco amostras porparcela, coletadas no final do ciclo de cultivo.2/ Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade, peloteste de Duncan.3/ Análise de agrupamento das cultivares e clones de batata para resistência à infecção peloPVY, conforme o método de Scott & Knott (1974). MS = Muito suscetível; S = Suscetível;RI = Resistente intermediário; R = Resistente.

J. Daniels.

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147Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

rios; Bintje, Cerrito Alegre e Monalisa,suscetíveis; e Achat, muito suscetível(Tabela 1). Os dados obtidos não con-cordam com as observações realizadaspara a cultivar Achat por Reifschneideret al. (1989), que classificaram-na comoresistente ao ‘Mosaico’. A discrepânciapoderia ser explicada por uma maiortolerância da cultivar à infecção, o quetornaria os sintomas menos evidentes epassíveis de serem ignorados em obser-vações visuais. Em relação às cultiva-res holandesas Bintje, Monalisa eBaraka, classificadas no país de origem,para resistência ao PVYN, com índicesde 5 ½, 8 ½ e 8 em uma tabela que variade 9 (para resistente) a 2 (para muitosuscetível) (Catálogo, 1997), as duasprimeiras comportaram-se, neste estu-do, como resistentes intermediárias e aúltima como suscetível. O clone 2CRI-1149-1-79 revelou-se isento de infecçãopelo PVY e foi classificado como resis-tente, porém pode apresentar imunida-de, hipótese que deverá ser testada bre-vemente.

O objetivo deste trabalho foi deter-minar a resistência relativa de genótiposde batata ao PVY sob as condições na-turais da Região Sul do RS, e não sim-plesmente selecionar os que apresentas-sem algum grau de resistência. Emboratenha-se utilizado de um pequeno nú-mero de cultivares e clones, ametodologia, embora demorada e traba-lhosa, revelou-se eficaz para o objetivoproposto e deverá ser utilizada, também,para acessar a resistência de genótiposde batata ao vírus do enrolamento dafolha da batata.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos colegas VeraOsório da Fonseca, pela análise estatís-tica dos resultados, Claiton do AmaralKhun e José Idalino do Amaral, peloapoio técnico na execução dos experi-mentos a campo e nos testes serológicos,respectivamente.

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Avaliação de genótipos de batata para resistência ao vírus Y.

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148 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

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da anuência à publicação de todos ao autores, e será avaliadopela Comissão Editorial, Editores Associados e/ou Assesso-res ad hoc, de acordo com a seção a que se destina.

Submissão dos trabalhos

Os originais deverão ser submetidos em três vias, em pro-grama Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fontearial tamanho doze. O disquete contendo o arquivo deveráser incluído. Todas as cópias de figuras e fotos deverão ser deboa qualidade.

Os artigos serão iniciados com o título do trabalho, quenão deve incluir nomes científicos, a menos que não haja nomecomum no idioma em que foi redigido. Ao título deve seguiro nome, endereço postal e eletrônico completo dos autores(veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últi-mos volumes da Horticultura Brasileira).

A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Re-sumo em português ou espanhol, com palavras-chave ao final.As palavras-chave devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s)científico(s) da(s) espécie(s) em questão e nunca devem repetirtermos para indexação que já estejam no título; 2. Abstract, eminglês, acompanhado de título e keywords. O abstract, o títuloem inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus simi-lares em português ou espanhol; 3. Introdução; 4. Material eMétodos; 5. Resultados e Discussão; 6. Agradecimentos; 7. Li-teratura Citada; 8. Figuras e Tabelas. Este roteiro deverá ser uti-lizado para a seção Pesquisa. Para as demais seções veja padrãode apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes daHorticultura Brasileira. Para maior detalhamento consultar a homepage da HB: www.hortbras.com.br

Referências à literatura no texto deverão ser feitas confor-me os exemplos: Esaú & Hoeffert (1970) ou (Esaú & Hoeffert,1970). Quando houver mais de dois autores, utilize a expres-são latina et alli, de forma abreviada (et al.), sempre em itálico,como segue: De Duve et al. (1951) ou (De Duve et al., 1951).Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es),no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após adata de publicação do trabalho, como segue: 1997a, 1997b.

Na seção de Literatura Citada deverão ser listados apenasos trabalhos mencionados no texto, em ordem alfabética dosobrenome, pelo primeiro autor. Trabalhos com dois ou maisautores devem ser listados na ordem cronológica, depois detodos os trabalhos do primeiro autor. A ordem dos itens emcada referência deverá obedecer as normas vigentes da Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Exemplos:

a) Periódico:VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat

production of vegetables during refrigerated storage. Journalof the American Society for Horticulture Science, v. 97, n. 3,p. 431-432, Mar.1972.

b) Livro:ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New

York: John Willey, 1979. 632 p.c) Capítulo de livro:ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F.,

ed. Corn and corn improvement. New York: Academic Press,1955. p. 465-536.

agreement for publication signed by the authors. Allmanuscripts will be evaluated by the Editorial Board,Associated Editors and/or ad hoc consultants in accordancewith their respective sections.

Manuscript submission

Manuscripts should be submitted in triplicate (originaland two copies) typed double-spaced (everything must bedouble spaced) and printed. Use of the “Arial” font, size 12,is required. Include a copy of the manuscript on computerdiskette at submission. The Editorial Board will only accept3.5 inch diskette which have the files copied on them usingthe program Word 6.0 or superior.

The title page should include: title of the paper (scientificnames should be avoided); name(s) of author(s) andaddress(es). Please refer to a recent issue of HB for format.

The structure of the manuscript should include: 1. Abstractand Keywords. Keywords should start with scientific namesand it should not repeat words that are already in the title; 2.Summary in Portuguese (a translation of the abstract will beprovided by the Journal for non-Portuguese-speaking authors)and Keywords (Palavras-chave). 3.Introduction; 4. Materialand Methods; 5. Results and Discussion;6.Acknowledgements; 7. Cited Literature and 8. Figures andTables. This structure will be used for the Research section.For other sections please refer to a recent issue of HB forformat.

Bibliographic references within the text should have thefollowing format: Esaú & Hoeffert (1970) or (Esaú & Hoeffert,1970). When there are more than two authors, use a reducedform, like the following: De Duve et al. (1951) or (De Duveet al., 1951). References to studies done by the same authorin the same year should be noted in the text and in the list ofthe Cited Literature by the letters a, b, c, etc., as follows: 1997a,1997b.

In the Cited Literature, references from the text should belisted in alphabetical order by last name, without numberingthem. Papers that have two or more authors should be listedin chronological order, following all the papers of the firstauthor, second author and so on. Please refer to a recent issueof HB for more details. The order of items in each bibliographyshould follow the examples (Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas – ABNT):

a) Journal:

VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heatproduction of vegetables during refrigerated storage. Journalof the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3,p. 431-432, Mar. 1972.

b) Book:

ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. NewYork: John Willey, 1979. 632 p.

c) Chapter:

ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J.,ed. Corn and corn improvement. New York: Academic Press,1955. p. 465-536.

Page 66: SOCIEDADE DE ISSN 0102-0536 OLERICULTURA DO BRASIL Julho ... · Volume 18 número 2 Julho 2000 ISSN 0102-0536 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000. SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL

150 Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

d) Tese:SILVA, C. Herança da resistência à murcha de

Phytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba:ESALQ, 1992. 72 p. Tese mestrado.

e) Trabalhos apresentados em congressos (quando nãoincluídos em periódicos):

HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.

Para a citação de artigos ou informações da Internet(URL, FTP) ou publicações em CD-ROM, consultar as ins-truções para publicação disponíveis na home page da HB(www.hortbras.com.br) ou diretamente com a ComissãoEditorial.

Uma cópia da prova tipográfica do manuscrito será envia-da eletronicamente para o autor principal, que deverá fazer aspossíveis e necessárias correções e devolvê-la em 48 horas.Correções extensivas do texto do manuscrito, cujo formato econteúdo já foram aprovados para publicação, não são acei-táveis. Alterações, adições, deleções e edições implicarão novoexame do manuscrito pela Comissão Editorial. Erros e omis-sões presentes no texto da prova tipográfica corrigido e de-volvido à Comissão Editorial são de inteira responsabilidadedo(s) autor(es).

Em caso de dúvidas, consulte a Comissão Editorial ouverifique os padrões de publicação dos últimos volumes daHorticultura Brasileira.

Os originais devem ser enviados para:

Horticultura Brasileira

C. Postal 190

70.359-970 Brasília – DFTel.: (0xx61) 385 9051 / 385 9073 / 385 9000

Fax: (0xx61) 556 5744E-mail: [email protected] relacionados a mudanças de endereço, filiação

à Sociedade de Olericultura do Brasil, pagamento de anuida-de, devem ser encaminhados à Diretoria da Sociedade deOlericultura, no seguinte endereço:

Sociedade de Olericultura do BrasilUNESP – FCAC. Postal 23718.603-970 Botucatu – SPTel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203Fax: (0xx14) 6802 3438E-mail: [email protected]

d) Thesis:

SILVA, C. Herança da resistência à murcha dePhytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba:ESALQ, 1992. 72 p. Tese mestrado.

e) Articles from Scientific Events (when not publishedin journals):

HIROCE, R; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.

For examples of cited literature from Internet (URL, FTP)or CD – ROM, please consult the HB home page(www.hortbras.com.br) or the Editorial Board.

A copy of the galley proof of the manuscript will be sentto the first author who should make any necessary correctionsand send it back within 48 hours. Extensive corrections of thetext of the manuscript, whose format and content have alreadybeen approved for publication, will not be accepted.Alterations, additions, deletions and editing implies that a newexamination of the manuscript must be made by the EditorialBoard. Errors and omissions which are present in the text ofthe corrected galley proof that has been returned to the EditorialBoard are entirely the responsability of the author.

Orientation about any situations not foreseen in this listwill be given by the Editorial Board or refer to a recent issueof Hoticultura Brasileira.

Manuscripts should be addressed to:

Horticultura BrasileiraC. Postal 190

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E-mail: [email protected] in address, membership in the Society and

payment of fees should be addressed to:Sociedade de Olericultura do Brasil

UNESP – FCAC. Postal 23718.603-970 Botucatu – SPTel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203Fax: (0xx14) 6802 3438

E-mail: [email protected]

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151Hortic. bras., v. 18, n. 2, jul. 2000.

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Programa de apoio a publicações científicas

A revista Horticultura Brasileira é indexadapelo CAB, AGROBASE, AGRIS/FAO,TROPAG e sumários eletrônicos/IBICT.

Horticultura Brasileira, v. 1 nº1, 1983 - Brasília, Sociedade deOlericultura do Brasil, 1983

Quadrimestral

Títulos anteriores: V. 1-3, 1961-1963, Olericultura.V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.

Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.

Periodicidade até 1981: Anual.de 1982 a 1989: Semestrala partir de 1999: Quadrimestral

1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos.I. Sociedade de Olericultura do Brasil.

CDD 635.05

Tiragem: 1.000 exemplares

Hortaliças no Brasil: 500 Anos deSabor, Aroma e SaúdeA Horticultura Brasileira alia-se, nestaedição, ao ímpeto celebratório dos 500anos do Brasil, retratando a evolução docultivo e uso das hortaliças, da chegadaCabral ao litoral sul da Bahia, em 22 deabril de 1500, até os dias de hoje.Com a expansão dos contatos inter-continentais, em pouco tempo opanorama alimentar do velho mundoexperimentaria uma revolução semprecedentes na história da humanidade,através da introdução de recursosvegetais exógenos tais como o milho, abatata, o cacau, as pimentas Capsicum,as abóboras, o feijão, o amendoim, oabacate, o tomate e muitas outrasespécies. Há quem afirme que a intro-dução desses “novos” alimentos naculinária universal, produziu maisriqueza para a Europa do que a explo-ração de ouro e de pedras preciosas, alvoprioritário das expedições ultramarinasde lusos e espanhóis.Na cultura alimentar dos indígenas, talqual Caminha relata a El-Rei, em maiode 1500, as hortaliças não tinhamnenhum papel destacado, salvo o uso depimenta que era condimento essencial ede inhame, que mais tarde ficou sesabendo que era, na verdade, a mandioca.Em meados do século XVI, quando aCoroa de Portugal decidiu efetivamentetomar posse e colonizar as novas terrasdistantes, há relatos de que os padresjesuítas tiravam, para o sustento, ver-duras, legumes e “cheiros” das hortasque mantinham ao lado das igrejas. Oseuropeus que chegavam à Bahia noinício dos tempos colônias, também,traziam sementes de olerícolas, indis-pensáveis à cozinha portuguesa, paraplantar nas hortas ao redor de suasmoradias. Gabriel Soares de Souza, emseu “Tratado Descritivo do Brasil”(1587), assinala que, na Bahia, em 1557,“as hortaliças são de fazer inveja àsmelhores de Portugal”. O jesuíta FernãoCardim, em sua viagem de 1583-1585,de Pernambuco a São Vicente, relata que“nas hortas dos colégios e residências da

Companhia de Jesus haviam em cultivonumerosas espécies hortenses de Por-tugal. Para o pesquisador Luis da CamaraCascudo, o português levou a horta paraonde vivia, sendo um disseminadorincomparável de espécies olerícolas.A expansão da agromanufatura do açúcarno século XVII intensificou o tráfico deescravos trazidos da África desde operíodo pré-colonial e que só terminariatrês séculos mais tarde. Durante todo essetempo, foram sendo incorporados aoregime alimentar do brasileiro, diversosingredientes indispensáveis na ali-mentação dos escravos, muitos delestrazidos de suas regiões de origem naÁfrica, entre os quais diversas olerícolas:quiabo, maxixe, feijão Vigna, inhame,cará, jiló, bredo (caruru), vinagreira ouquiabo-da-guiné, entre outras. Logo osquitutes africanos ou africanizados,preparados pelas negras escravas, foramintroduzidos nas mesas senhoriais dacolônia. Para Gilberto Freyre, os escravosforam os reais agentes da originalidadeda comida do período colonial sendo acozinha baiana a mais influenciada pelasraízes afro.A chegada do século XIX trouxe grandestransformações nos modos e costumesvigentes na colônia. Com efeito, atransferência para o Rio de Janeiro dafamília real e de 15. 000 nobres por-tugueses, em 1808, e a abertura dos portosdo país estimulando a vinda de europeusde variadas etnias, acabaram introduzindonovos gostos e hábitos na dieta alimentar,especialmente do centro-sul. Com oprocesso de europeização da cozinhacolonial, intensificaram-se o cultivo e usode hortaliças no país.Em 1850 é aprovada a lei que põe fim aotráfico de escravos que trabalhavamarduamente nas lavouras de café, oprincipal produto de exportação do Brasil.Para garantir a mão-de-obra empregadanas fazendas de café, foi incentivada avinda de imigrantes europeus e, maistarde, japoneses. Assim, a cozinhabrasileira começou a sofrer influênciasmarcantes de italianos, alemães,espanhóis, japoneses entre outros povosque aqui aportaram. É importante ressal-tar que as hortaliças estavam semprepresentes nas receitas mais tradicionais etípicas da cozinha dos imigrantes. Mas,lamentavelmente, apesar da diversidadede espécies olerícolas introduzida nesses500 anos, o consumo per capita deverduras e legumes no Brasil (34 kg/comensal) é, ainda, muito inferior secomparado ao de países do mundodesenvolvido (80-100 kg/comensal/ano).Digno de pesar, também, é a perda dohábito de consumo das hortaliças nativase introduzidas, ditas não-convencionais,de grande importância na cultura alimen-tar, sobretudo, da parte norte do país.Foram cinco séculos de intenso inter-câmbio de alimentos, incluindo hortaliçase condimentos, entre portugueses, indí-genas, africanos e vários grupos étnicos

da Europa e Ásia que aqui chegaram, mais recentemente, e fincaramraízes. Com todas essas influências e em vista das peculiaridadesregionais existentes, nossa arte de comer foi elaborando, ao longodesses 500 anos, um mosaico culinário exuberante e personalíssimocom pratos saborosos, cheirosos e nutritivos.(Paulo César Tavares de Melo, PhD Fitomelhorista, IICA/Embrapa Hortaliças)

Nossa capa:Flavio Tavares é considerado um dos mais importantes artistas,tipicamente brasileiros vivos. Nesta tela ele expressa toda sua arte ecriatividade retratando a atmosfera idílica do encontro da esquadrade Cabral com os nativos nas praias do sul da Bahia, adornado pelaexuberância da flora tropical e das hortalicas nativas e introduzidasao longo de 500 anos de história do Brasil.