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Sociologia – Resumão da matéria O advento da modernidade foi marcado por uma experiência social que anulou todas as fronteiras geográficas e sociais, de classe e de nacionalidade, de religião e ideologia, conhecidas até então. Tratou-se de uma experiência marcada por muitas mudanças – grandes descobertas científicas que transformaram a imagem do universo e o lugar do homem nesse mundo. Industrialização, associação tecnologia – indústria, aceleração do ritmo de vida, novas formas de poder corporativo e de luta de classes, explosão demográfica e urbanização, Estados nacionais burocratizados, sistema de comunicação de massa, movimentos sociais de massa, mercado capitalista mundial- que torna o contraste entre passado e presente absoluto. Enquanto momento historicamente novo e pleno de sentido, a modernidade foi gestada em um longo processo que atravessou três fases, a primeira marca o início da experiência da vida moderna (XVI-XVIII) e está pontuada por: a “descoberta” do novo mundo e o contato com o outro, com a diferença; o Renascimento cultural que promove deslocamento no horizonte intelectual, introduzindo o antropocentrismo; e a Reforma Protestante que estimula a emergência da individualização. A segunda fase (XVII – XIX) é uma era explosiva de convulsão em todos os níveis da vida pessoal e social. Foi uma era revolucionária com o advento do Iluminismo, que trouxe a ruptura com o passado, a universalização da razão, o primado do indivíduo e sua liberdade. Por fim, a terceira fase transforma a modernidade em modernização no século XX, fazendo o moderno fragmentar- se em múltiplos fragmentos. O pensamento sobre as pessoas e sobre a sociedade surge com a filosofia Socrático-Platônica, que privilegia o pensador Parmenes por valorizar a identidade do ser humano. Platão escreve Apologia de Sócrates, no qual Sócrates diz: a morte não é um castigo, pois a morte é um sono profundo sem sonhos, e o corpo é o cárcere da alma. Surge aí o conceito metafísico no qual o homem teorizará sobre a vida, visando a segurança. Na Antiguidade só havia incertezas, logo, na modernidade buscam-se

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Sociologia – Resumão da matéria

O advento da modernidade foi marcado por uma experiência social que anulou todas as fronteiras geográficas e sociais, de classe e de nacionalidade, de religião e ideologia, conhecidas até então.

Tratou-se de uma experiência marcada por muitas mudanças – grandes descobertas científicas que transformaram a imagem do universo e o lugar do homem nesse mundo. Industrialização, associação tecnologia – indústria, aceleração do ritmo de vida, novas formas de poder corporativo e de luta de classes, explosão demográfica e urbanização, Estados nacionais burocratizados, sistema de comunicação de massa, movimentos sociais de massa, mercado capitalista mundial- que torna o contraste entre passado e presente absoluto.

Enquanto momento historicamente novo e pleno de sentido, a modernidade foi gestada em um longo processo que atravessou três fases, a primeira marca o início da experiência da vida moderna (XVI-XVIII) e está pontuada por: a “descoberta” do novo mundo e o contato com o outro, com a diferença; o Renascimento cultural que promove deslocamento no horizonte intelectual, introduzindo o antropocentrismo; e a Reforma Protestante que estimula a emergência da individualização. A segunda fase (XVII – XIX) é uma era explosiva de convulsão em todos os níveis da vida pessoal e social. Foi uma era revolucionária com o advento do Iluminismo, que trouxe a ruptura com o passado, a universalização da razão, o primado do indivíduo e sua liberdade. Por fim, a terceira fase transforma a modernidade em modernização no século XX, fazendo o moderno fragmentar-se em múltiplos fragmentos.

O pensamento sobre as pessoas e sobre a sociedade surge com a filosofia Socrático-Platônica, que privilegia o pensador Parmenes por valorizar a identidade do ser humano.

Platão escreve Apologia de Sócrates, no qual Sócrates diz: a morte não é um castigo, pois a morte é um sono profundo sem sonhos, e o corpo é o cárcere da alma.

Surge aí o conceito metafísico no qual o homem teorizará sobre a vida, visando a segurança. Na Antiguidade só havia incertezas, logo, na modernidade buscam-se respostas, negando-se as aparências, a ilusão. De acordo com este pensamento então, o corpo, sendo cárcere da alma é algo da natureza, o que, após Sócrates, passa a ser separado da alma.

A Contradição: Dialética do esclarecimento (Theodore Adorno e Max Horckeimer): “ No sentido mais amplo do progresso, do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investí-los na posição de senhores. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber.

Um mito converte-se em esclarecimento e natureza em mera objetividade.” Os homens devem ser senhores de si.

Para Comte, no século XIX, o Estado Positivo era mais evoluído, racional, científico. O Estado Teológico ou Fictício é o menos evoluído. A Europa no século XIX passa por anarquia moral e política, por uma crise. A sociologia, ainda uma jovem ciência, está incorporando todo o conhecimento racional, objetivo e exato para poder lidar com essa crise. É uma fase transitória do metafísico - teológico ao positivo. O sacerdote e o militar ainda existem, entretanto perdem o poder para o industrial e o sociólogo.

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DurkheimDurkheim é quem transforma a sociologia em ciência. Para transformar

um conhecimento do senso comum em ciência, deve haver pesquisa e transformação da sociedade em objeto de estudo.

Augusto Comte ficou no discurso, na ideologia da sociedade, enquanto Durkheim quis sair da subjetividade, determinando um objeto de estudo focado em um ponto da sociedade. Seu método de observação é baseado em um não envolvimento, de forma impessoal, como se ele não fizesse parte da sociedade. Os fatos sociais devem ser considerados coisas.

É necessário para esta elevação um método de estudo e, sobretudo, um objeto de estudo. Esse objeto é o fato social, são as Instituições (casamento, Igreja, Estado, política, polícia).

Antes de definirmos o objeto de estudo de Durkheim, definiremos um conceito clássico do mesmo autor:

Anomia: patologia típica da sociedade capitalista industrial.Com a Revolução Industrial surgem novas expectativas nas pessoas. Surge

a tecnologia que motiva a burguesia a querer arrumar o interior de suas casas, deixando marcas. Ocorre que as Instituições não acompanham essas expectativas, bem como a sociedade em si não consegue ampará-las.

Passa a ocorrer então um aniquilamento dos elos que unem os indivíduos na sociedade moderna. Cabe ao direito cercear as vontades dos indivíduos.

Dessa forma, um desdobramento da anomia é o excesso de desejos egoístas da sociedade e o enfraquecimento das Instituições.

Moral: dever e obrigação. Desiderabilidade, que é o bem comum, o desejo. É necessário para que haja o dever, para então haver moral. Entra a questão do altruísmo.

Na época em que Durkheim viveu surge a Lei Naquet, que legaliza o divórcio; bem como o contexto cultural valoriza o indivíduo (novamente a anomia realça a ausência de elos de ligação entre os homens).

Neste mesmo período, as escolas laicas, que introduzem o espírito de disciplina, de obrigação e de autonomia da vontade surgem, tendo o papel de incutir na criança seu papel na sociedade, que lhe é imposto sem que elas saibam o porquê.

Super-ego: é a autoridade, são as Instituições que nos cerceiam, é o Estado. É a figura da não permissão, do “não pode”.

A autonomia aparece quando já incorporamos os deveres, quando não há a coerção ou obrigação. Nós simplesmente aceitamos o que nos é imposto.

Sociedade patológica é aquela individualista em que cada ser luta contra as obrigações.

Ser Social todos os deveres e obrigações, o papel social do homem na sociedade. Direitos e costumes, imposições. A criança e o adolescente, graças às escolas laicas, será moralizado e incutido de deveres, se tornando assim o ser social.

A preocupação de Durkheim é com a moralização da criança. É incutido o espírito de disciplina, no qual a criança se submete ao grupo, deixando de lado vontades individuais, é a abnegação.

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Autonomia se dá então quando o adulto não vê a sociedade como coercitiva, ele naturaliza tudo que ocorre.

Sobre a moral“Mas, contrariamente do que disse Kant, a noção do dever não completa a

noção do que é moral. É impossível que cumpramos um ato simplesmente porque nos é ordenado, a abstração feita de seu conteúdo. Para que possamos ser seu agente, é preciso que o ato interesse, de alguma maneira, a nossa sensibilidade, que ele nos apareça, sob algum aspecto, como desejável.”

Sobre a anomia“A outra contribuição significativa de Durkheim em “O Suicídio” foi a

exposição do conceito de anomia, ao elaborar sua tipologia do suicídio. Ele assinala que o bem estar ou a felicidade do indivíduo somente são possíveis se houver um equilíbrio entre suas expectativas, suas exigências e os meios socialmente acordados. Sublinha, a propósito, que esse desencontro entre necessidades e meios verifica-se tanto em situações de crises recessivas, como também nas crises de prosperidade. Períodos de recessão e pós-guerra geram anomia.

O que é fato social: Fato social é utilizado para designar quase todos os fenômenos que se

passam dentro da sociedade. Há em toda sociedade um grupo determinado de fenômenos com características nítidas que recebemos através da educação sem termos criado os mesmos.

Esses fenômenos funcionam independentemente do uso que fazemos deles. São conhecimentos transmitidos na educação. São pensamentos exteriores ao indivíduo, dotados de um poder de coerção. Esta coerção não é sentida quando estamos conformados com ela de bom grado. É como o idioma de um país, o jeito de se vestir, de falar. Tudo isto é imposto pela sociedade, ficando claro que ninguém nos impede de utilizar outro idioma, ou de nos vestir de outro modo, porém a sociedade passa a nos ver com estranheza, nos “forçando” a ser como os outros.

Logo, o fato social constitui uma maneira de agir, de pensar e sentir que é exterior ao indivíduo, dotados de um poder de coerção. Define-se então que a maioria de nossos pensamentos e tendências não foram elaborados por nós, mas nos vieram de fora.

O fato social pode ser bem analisado quando se observa a maneira pela qual as crianças são educadas. Toda educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente. A pressão que a criança sofre é a própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão essa que os pais e professores são representantes e intermediários.

Se toda essa coerção que nos faz incutir pensamentos que não nos são natos deixa de ser sentida é porque pouco a pouco dá lugar a hábitos que do fato social derivam.

Reconhecemos o fato social pelo seu poder de coerção externa que exerce, chegando até a aplicar sanções quando algum indivíduo tenta violá-lo. Ele existe independentemente das formas indivíduais que toma ao se difundir. É o caso do direito, da moral, das crenças, dos usos e até da moda.

Os fatos sociais são baseados em maneiras de ser coletivas, são de ordem fisiológica, anatômica e morfológica.

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E por incrível que pareça, certas informações como organização política são dadas pelo Direito Público, e não, ao contrário do que se esperava, pela observação geográfica. É do Direito Público que determina nossas relações domésticas e civis.

Durkheim termina ainda seu texto dizendo: “Fato social é toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.”

A primeira regra, e mais fundamental é considerar fatos sociais como coisas. É característico do homem estar sujeito a um freio que não é físico, mas sim moral, isto é, social. Entretando, quando está conturbada, seja por uma crise dolorosa, seja por felizes mas repentinas transformações, a sociedade fica temporariamente incapaz de exercer ação. É aqui que ocorrem os suicídios. Logo, a anomia é um fator regular e específico de suicídios nas sociedades modernas.

Durkheim estabelece também a diminuição da ação reguladora da sociedade sobre os indivíduos e o aumento da taxa do suicídio.

Solidariedade mecânicaO lado da solidariedade social a que corresponde o direito repressivo é

aquele cuja ruptura constitui o crime. É todo ato que, num certo grau, determina contra seu autor a reação que se denomina pena.

Os sentimentos coletivos aos quais corresponde o crime se diferem uns dos outros por uma intensidade média. Não apenas os crimes são inscritos em todas as consciências, mas são fortemente gravados. São emoções e tendências profundamente enraizadas em nós. A prova disso é a lentidão com que o direito penal evolui. É a parte do direito mais refratária à mudança.

Ao conjunto de crenças e sentimentos comuns à media dos membros de uma mesma sociedade dá-se o nome de consciência coletiva, sendo esta difusa em toda extensão da sociedade. Ela independe das condições particulares em que se encontram os indivíduos. Ela é inteiramente diferente das consciências particulares, ainda que se realize nos indivíduos. Ela forma o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas características.

É-se levado a crer que a consciência coletiva é qualquer consciência social, estendendo-se na vida psíquica da sociedade, estando presente nas funções superiores, como governo, indústrias, direito, ciência. É um mito, pois, principalmente nas sociedades superiores só ocupa uma parte muito restrita. Todas as funções citadas acima são de ordem psíquica, porém estão fora da consciência comum.

Voltando a falar em crime, um ato é criminoso quando ofende as condições consolidadas na consciência coletiva. Todas as características da pena então derivam na natureza do crime.

Há em nós duas consciências: uma contém os estados que são pessoais a cada um e que nos caracterizam, nossa personalidade, enquanto a outra possui os estados que abrangem toda a sociedade, o tipo coletivo, e a sociedade, sem a qual não existiria. Quando um dos elementos dessa última determina nossos atos, não é em vista do interesse pessoal que agimos, mas perseguindo fins coletivos.

Essas duas consciências são ligadas e formam uma solidariedade, daí surge a solidariedade sui generis que liga o homem à sociedade.

Baseado nesta existência, é esta solidariedade que o direito repressivo exprime. Os atos que ela proíbe e qualifica como crimes são de dois tipos: ou bem há

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uma dessemelhança muito violenta contra o agente que os executou e o tipo coletivo, ou então ofendem o órgão da consciência comum.

Em ambos os casos, a autoridade atingida pelo crime que o repele é a mesma, ela é um produto da sociedade e tem por efeito manter a coesão social. É a autoridade que o direito penal tenta proteger do enfraquecimento.

Em suma, as penas aplicadas pelo Direito Penal não servem apenas para punir e dar exemplo. Sua função é manter intacta a coesão social. A crueldade não é gratuita, é o signo que atesta que os sentimentos coletivos são sempre coletivos. Existe uma solidariedade social decorrente de um certo número de estados de consciência comuns a todos os membros da sociedade. É ela que o direito repressivo representa, é uma coerção mecânica.

Solidariedade orgânicaViu-se então que a solidariedade mecânica se faz pela semelhança do

pensamento de todos os homens, sendo que os homens se diferem pouco uns dos outros.A solidariedade orgânica é completamente oposta, pregando que o

consenso existe por ser fruto da diferenciação. Neste caso os indivíduos já não são semelhantes, mas sim diferentes. O nome utilizado por Durkheim, solidariedade orgânica é feito por analogia aos órgãos humanos, ou seja, cada um desempenha uma determinada função n oorganismo, assim como cada ser humano tem uma função na sociedade. Essas duas formas de solidariedade são formadoras da organização social.

As sociedades primitivas são caratcrizadas pela solidariedade mecânica, pois nelas cada um é o que é outro, há uma forma de pensar e ser coletiva. A oposição dessas duas formas de solidariedade combina-se com as sociedades segmentares e as sociedades onde surge uma nova divisão do trabalho.

A divisão do trabalho, para Durkheim, é oposta ao que pensam os economistas. Para estes últimos a maior divisão do trabalho advém de uma riqueza maior; quanto maior a necessidade de divisão, maior a produção de bens e maior a felicidade dos homens.

Durkheim refuta esta idéia, pois para ele os homens modernos podem até ter conhecido novas felicidades, porém estas alegrias não contrabalanceadas pelos novos sofrimentos.

Segundo os economistas a divisão do trabalho desenvolveu-se porque aumentava as vantagens econômicas e as vantagens para cada indivíduo. Para Durkheim esta é uma consequência da divisão do trabalho, e não sua causa de surgimento. Realmente é possível produzir mais, porém esta maior produção não necessariamente traz alegria. A alegria advém de um equilíbrio entre as necessidades e os meios de satisfazê-las.

Segundo Durkheim, com a divisão do trabalho emergem novos problemas, novas necessidades e novos fenômenos sociais, como o suicídio, que prova que a emergência dessas sociedades não representa um suplemento de felicidade.

Para Durkheim a causa da divisão do trabalho não pode ser vista como algo que surgiu para aumentar a produção, pois para isso seria necessário conhecer os indivíduos muito bem e estar consciente de suas diferenças, e nesta época o conhecimento dos indivíduos, bem como sua diferenciação não era plenos. Assim sendo, a causa da divisão do trabalho não é econômica, mas sim social.

Essa origem deve ser encontrada na morfologia da sociedade, na distribuição da população e na quantidade e qualidade das relações sociais. Assim sendo, a causa da solidariedade orgânica e divisão do trabalho é causa do aumento do volume e

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da densidade moral e material da sociedade. Partindo do ponto que a solidariedade mecânica apareceu antes da solidariedade orgânica percebe-se que a última nasceu quando a quantidade de integrantes da sociedade é maior e há uma maior comunicação e troca de informação entre os mesmos. A divisão do trabalho é então uma espécie de luta pela sobrevivência devido à pressão da sociedade sobre os indivíduos. Ao invés de uns serem eliminados para outros sobreviverem, a competição diminui a partir do momento em que eles mudam de função.

A solidariedade orgânica de diferenciação dos seres humano tem sua origem então na divisão do trabalho. É a desintegração da solidariedade mecânica, na qual todos pensam da mesma forma. Onde predomina a solidariedade orgânica a maior parte da consciência individual é governada por imperativos e interditos sociais. A solidariedade orgânica pressupõe então não a identidade, mas sim a diferença entre as crenças e ações. É expansão do individualismo. Segundo Durkheim então o indivíduo nasce da sociedade e não a sociedade nasce do indivíduo.

As Instituições então não nascem de um contrato firmado na sociedade nem de um acordo entre os indivíduos, mas sim de momentos de efervescência da sociedade nas quais as relações entre os indivíduos se tornam mais intensas tanto quantitativa como qualificativamente.

Basicamente, nas sociedades modernas onde predomina a solidariedade orgânica a coerção do pensamento coletivo perdeu sua força e deu lugar a individualidade.

Max Weber

Max Weber é o fundador da sociologia compreensiva que procura a interpretação das ações individuais a partir do sentido dado pelo agente. Nada mais natural que o interesse pela esfera social – na qual ele identificou a gênese da produção do sentido social – tendo a primazia do seu interesse compreensivo.

Weber construirá uma metodologia científica voltada para captar os sentidos das ações humanas de modo tipológico. A alternativa crítica de Weber a todas as perspectivas totalizantes é apropriar-se da amostragem de cultura como um contexto abstrato de ações e relações que demandam um procedimento singular de investigação científica, o qual se direciona para a tematização de individualidades históricas.

No protestantismo ascético tem-se a clara primazia da ética sobre o mundo. A coerência e a disciplina da influência do comportamento prático pela mensagem religiosa puderam, então ser muito maiores. O desafio é o de a ética querer deixar de ser um eventual e ocasional (que exige dos virtuosos religiosos quase sempre uma fuga do mundo como ocorreria na prática monástica cristã medieval) para tornar-se efetivamente uma lei prática e cotidiana dentro do mundo.

A doutrina calvinista da predestinação pressupõe uma compreensão tal da divindade que, em se considerando o sentido que esta possui no Velho Testamento, imprima um daísmo intransponível entre Deus e os homens trazendo como consequência

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uam extrema intensificação da experiência humana de solidão. Um outro efeito é a eliminação de toda mediação sociomental entre Deus e os homens.

Contexto HistóricoSéculo XIX: feudalismo, desunião entre os estados do país, atraso

econômico. A convivência com os aristocratas e intelectuais trazia acomodação. Os protestantes também foram influência.

Sociologia Compreensiva: valoriza o indivíduo. “Ação social” é toda ação do indivíduo, dotada de sentido e significado para o autor que a executa, direcionado à ação dos outros. Sua análise não parte das totalidades, mas sim das individualidades na história.

Ex: ação do protestante na história. É um agente histórico. Seu modo de pensar é contrário ao de Durkheim, que parte do geral, das Instituições.

Weber estuda história com o surgimento das Instituições. Seu foco era principalmente a doutrina calvinista. Segundo este sociólogo, as religiões influenciadas pelo calvinismo eram mais abastadas, mais desenvolvidas no capitalismo do que as outras. O motivo deste maior desenvolvimento se deve ao fato do calvinismo ser mais rígido, mais disciplinado, predestinado, trabalhador, com vocação profissional. Todos os atos eram executados com vista aos ganhos e reinvestimentos em sua produção. Era necessário gastar pouco consigo mesmo e dizer não ao ócio (ócio é representado pelo negócio). Pecado para os protestantes é descansar e não produzir.

O objetivo é enriquecer para se salvar.Trabalhar então passa a ser um ato social, pois o homem trabalha para se

salvar. É um pensamento totalmente individualista.Sua tese se baseia em: até que ponto esta doutrina contribui para o

acúmulo de riqueza?

Existem quatro tipos de ações sociais:-Afetivo-Tradicional-Ação racional orientada por valores-Ação racional orientada por seus fins.Relação social: dois ou mais atores numa reciprocidade.

Textos da maldita apostilaAção social orienta-se pelas ações dos outros, que podem ser passadas,

presentes ou esperadas como futuro.Ação social é todo comportamento cuja origem depende da reação ou da

expectativa de reação de outras partes envolvidas. Essas “outras partes” podem ser indivíduos ou grupos, próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos por quem realiza a ação. A idéia central da ação social é a existência de um sentido na ação: ela se realiza de uma parte (agente) para outra. É uma atitude sobre a qual recai ao menos um desejo de intercâmbio, de relacionamento. Como toda relação social , é determinada não só pelos resultados para o agente, mas também pelos efeitos (reais ou esperados) que pode causar ao outro.

Uma divisão clara entre ações que podem e não podem ser consideradas como sociais é impossível de ser feita. Na verdade, para entendermos se uma ação é social devemos prestar atenção no contexto em que ela ocorre. A mesma ação pode ora

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ser classificada como social, ora não. Tomemos o ato de escrever como exemplo. Escrever uma carta certamente é uma ação social, pois ao fazê-lo o agente tem esperança que a carta vai ser lida por alguém. Sua ação só terá significado enquanto envolver outra pessoa. No entanto escrever uma poesia, na medida em que ela envolve apenas a satisfação ou a expressão das sensações do poeta, não é uma ação social (v. individualismo ) . A reação dos outros ao seu conteúdo não foi levada em conta para sua construção. Ainda que a carta se extravie e ninguém a leia, escrevê-la continua sendo uma ação social porque ao agente continua interessando a reação do (neste caso inexistente) do leitor. Enquanto isso, um poema será entendido como produto de uma ação social apenas se ao escrevê-lo o poeta já tinha em mente mostrá-lo a outras pessoas e provocar com isso alguma manifestação. Portanto dependendo da situação em que é feita, uma ação pode ser tratada apenas em parte como social.

Classificação dos tipos de ação social, de acordo com os motivos que a geram. São eles: (1) ação tradicional, cuja realização se deve a um costume ou um hábito enraizado (v. Tradição ); (2) ação afetiva ou emocional, motivada por sentimentos do agente pelo seu(s) interlocutor(es); (3) ação racional com relação a valores , atitudes que envolvem um planejamento orientado pelos princípios do agente; (4) ação racional com relação a fins, atitudes cujo planejamento é orientado pelos resultados que serão alcançados com sua realização. Deve ficar claro a diferença fundamental entre o primeiro e o segundo par de tipos: no segundo par o indivíduo consegue visualizar muito mais claramente os motivos da sua ação que no primeiro, o que em equivale a dizer que ele tem maior controle sobre elas. O indivíduo pode escolher como vai agir racionalmente, calculando os custos e prevendo as conseqüências de suas atitudes. Mas é muito difícil que ele escolha que tradição ou costume vai seguir, e mais difícil ainda escolher a quem nos ligaremos emocionalmente. Essa dificuldade é em virtude da pessoa executora e a pessoa objeto dessas duas ações geralmente entenderem-se como partes da mesma unidade. Já nas ações racionais o individualismo é marcante. Segundo esta ótica, podemos classificar os dois primeiros como ações comunitárias e os dois últimos como ações associativas.

Essa classificação baseia-se em modelos ideais, cujos exemplos puros raramente podem ser encontrados na sociedade. Muitas vezes são vários os motivos de uma ação, o que cria a possibilidade dela ser incluída em mais de um daqueles tipos. O caso de um professor é bem ilustrativo dessa complexidade: sua atitude de dar aula pode ser determinada pelo seu desejo receber o salário (ação com relação a fins), como também pela importância que ele atribui a educação (ação com relação a valores) ou ainda pelo prazer que ele sente ao ver seus alunos aprenderem (ação afetiva), ou ainda porque toda a sua família é composta de professores e ele sempre viveu no meio educacional (ação tradicional).

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Theodore Adorno

A coisificação se traduz numa feroz intolerância, uma vez que suprime, por princípios, a capacidade de refletir criticamente. Perdemos qualidades de sujeito, convertido num dado ou numa quantidade manipulada socialmente. O indivíduo mais facilmente torna-se um vetor e reprodutor da violência.

Adorno identifica a formação de uma personalidade arbitrária no sujeito coisificado, muito comum da época atual, cuja investigação de sua natureza psíquica é essencial, mas cuja dissolução corresponde a um empreendimento social. Entre outras características de desumanização, esta demonstra a capacidade de manipular e ser manipulado, de desfazer-se do medo e de ser frio, de aceitar a dor e o sofrimento físico, e reproduzí-los (sadomasoquismo), de ser incapaz de experiências diretas e com elas aprender, de fazer coisas irrefletidamente em nome da eficiência e estar disponível ao poder. Assim, dissolvendo-se acriticamente em coletivas torna-se suscetível à prática da violência, tendo em geral como objeto os socialmente fragilizados.

O autor destaca como tarefa primordial da educação evitar o retorno a Auschwitz, quer dizer, de modo mais genérico, combater os fundamentos sociais da violência na sociedade moderna (descoisificação do sujeito).

Síntese do texto “Educação Após Auschwitz”Adorno, em seu texto analisa os genocídios. Para ele Auschwtiz foi o

auge da crueldade, entretanto é este um fato que tenta ser esquecido e apagado da memória dos seres humanos, é algo que nos causa vergonha. Esse esquecimento, na visão do autor é completamente equivocado, e deve terminantemente ser evitado, já que deve-se observar a natureza dos genocídios, atentando para os autores dos mesmos. Para Adorno a sociedade continua a mesma da época em que ocorreu o campo de concentração, e é de extrema importância que evitemos os mesmos devido aos seus desdobramentos na educação dos seres humanos.

Não se devem analisar os sofredores de tais atos, mas sim os autores, e devemos analisá-los a fundo, é preciso fazer uma “volta ao sujeito” para conhecer os mecanismos que tornam os homens assim. Esses mecanismos devem ser mostrados aos assassinos para evitar que eles se tornem assim novamente e promover uma conscientização geral dos macanismos.

Culpados são aqueles que fora de si deram vazão ao seu ódio, à sua fúria. Essa inconsciência deve ser acabada, devemos voltar os mesmos à auto-reflexão. É neste ponto que entra a educação, voltando os homens para a reflexão interna. Esta educação, para evitar a reincidência, deve se concentrar na primeira infância.

Freud entra então na tese de Adorno, com o mal-estar na cultura. Para ele a pressão civilizatória multiplicou-se até a insuportabilidade. Há uma claustrofobia da humanidade no mundo administrado, uma sensação de clausura em um mundo densamente estruturado. Isso aumenta a raiva contra a civilização e essa raiva gera mais violência.

A educação após Auschwitz então tem dois focos: a educação infantil primeiramente; e o esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê margem à repetições. Os motivos que levam ao terror devem ser revelados e tornados conscientes.

O autor discorda da posição de que o vínculo social seria responsável pelos acontecimentos. Ele concorda com o fato de que a perda da autoridade, uma das

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condições do horror sado-autoritário, prende-se a este contexto. A idéia do “não pode” pode gerar raiva.

Observa-se, antes de mais nada, que será preciso nos ocuparmos do impacto dos modernos meios de comunicação de massa sobre uma personalidade que ainda não alcançou, nem de longe, o liberalismo cultural do século XIX. É importante também levar um sistema escolar diferente para o campo. Sistema esse que abra discussões que visem preencher as lacunas mais aterrorizantes. Não só nas escolas rurais, mas em todas, deve-se retirar os costumes folclóricos de iniciação que causam dor a um indivíduo, como prêmio por pertencer a uma coletividade.

A educação pela dureza também é um conceito totalmente errado, pois esse masoquismo criado pela dureza na educação se reverte em sadismo. Esse tipo de doutrina tenta formar pessoas imunes a dor. As pessoas que não podem sentir suas próprias dores se revoltam se vingam desta nos demais, pois ele precisa descarregar aquela dor que reprimiu. Mais repressão gera mais dor, que gera mais violência. O medo também não deve ser reprimido, pois se nos permitirmos sentir este medo real seu efeito destrutivo desaparecerá.

Há pessoas que se enquadram cegamente em coletividades e transformam-se em algo análogo a matéria bruta, omitindo-se como seres auto-determinantes. É o tipo com consciente coisificado. Essas pessoas se equiparam a coisas e consideram os outros como coisas. Elas rejeitam tudo o que é consequência e aceitam incondicionalmente o que está dado.

A tecnologia ocupa posição chave na vida das pessoas. Elas não se sentem mais capazes de amar e então repassam sua “falta de capacidade” para os aparelhos eletrônicos. As pessoas têm se sentido sozinhas na multidão, e foi isso que deu chance de algo como Auschewitz existir. Há uma falta de amor. Se os pais dão mais calor humano aos filhos esse amor pode ser negado, por ser artificial.

O que o professor disse:Adorno se preocupa com uma educação que forme indivíduos críticos,

auto-determinados e autônomos. Para isso a criança deve aprender a contar a sua história (seu país, seu povo, seus pais, sua cultura, tradições). Um povo não morre culturalmente quando ele consegue contar suas histórias e seus atos.

Escola de Frankfurt: Adorno junto com Benjamin observa que os soldados que voltaram das trincheiras, chegaram mudos, sem contar suas histórias. É uma guerra tecnológica que coisifica o homem. Sua principal meta é fortalecer o homem. Baseia-se em Freud. Ele sai do império sociológico e dialoga com outras ciências a fim de evitar a violência.

Não se deve esquecer o que ocorreu nos campos de concentração. O fato de ter escapado dos campos acarreta culpa nos judeus, pois eles acham que fizeram concessões para poderem escapar.

O homem moderno valoriza mais uma adaptação ao meio para sobreviver a tecnologia do que criar a vida. Não se reflete mais sobre algo que desagrade, só há consumo. Isso torna o homem frio. A cultura se torna uma mercadoria.

É necessário o mistério da vida. Se você dominar todo o futuro, a natureza e os acontecimentos, você se torna violento.

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Michel Foucault

Este autor preocupa-se com as loucuras, diferenças das minorias. Ele fala de dentro de asilos, das escolas, dos manicômios, dos lugares onde as pessoas se sentem mais sujeitadas a algo externo. Preocupa-se com os poderes que incidem sobre si. Foi largamente influenciado por Nietzsche.

Foucault diz que as coisas são inventadas, levando em conta uma correlação de forças que embatem a verdade. Já a origem remete ao núcleo que estava presente nos homens. Seria um sentimento metafísico dado de forma implícita.

Foucault não fala do registro do sujeito, mas de sua morte. Ele pesquisava para buscar dados históricos e basear suas explicações nisto. Sua fonte de pesquisa era os livros velhos, os livros que mais ninguém queria ler. Ali estavam as verdades.

Síntese do texto ‘A verdade e as Formas Jurídicas”Existe uma tendência que poderíamos chamar de marxismo acadêmico,

que consiste em procurar de que maneira as condições econômicas de existência podem refletir-se e expressar-se na consciência dos homens. Ela é defeituosa, pois supõe que o sujeito humano, o sujeito de conhecimento, e as formas de conhecimento são dados previa e definitivamente, e que as condições econômicas depositam-se ou imprimem-se neste sujeito previamente dado.

Uma das proposições do autor é, baseado no parágrafo acima, mostrar como no século XIX se formou o saber de um homem, a individualidade, mesmo com as práticas sociais, a vigilância e o controle. O saber individual do homem não se impôs a nenhum outro homem, ele fez nascer um novo sujeito de conhecimento.

Seu segundo eixo é o discurso, sendo este um conjunto regular de fatos linguísticos em determinado nível, e polêmicos e estratégicos em outro.

Terceira proposição: o sujeito, suas prioridades, seu papel. Há dois ou três séculos atrás o sujeito era o núcleo central de todo o conhecimento. Posição absoluta do sujeito. Atualmente, quando se faz história, o sujeito é o ponto de partida a partir do qual o conhecimento é possível e a verdade aparece. O autor então quer tentar ver como se constrói um sujeito que não é dado definitivamente, um sujeito que se constitui no interior da história. Deve-se acabar com a visão marxista acadêmica e constituir um sujeito de conhecimento através do discurso tomado como um conjunto de estratégias que fazem parte das práticas sociais.

Há no fundo duas histórias da verdade: uma é a história interna da verdade, que se corrige a partir de seus próprios princípios de regulação; a outra formação da verdade se dá na sociedade, onde regras de um jogo são definidas – regras de jogo a partir das quais vemos surgir subjetividades, tipos de saber – e podemos assim fazer uma história externa da verdade.

As práticas judiciárias – maneiras pelas quais os homens podiam ser julgados em função dos erros que haviam cometido, a maneira como se impôs a reparação de algumas ações e a punição de outras – são formas pelas quais a sociedade definiu tipos de subjetividade, formas de saber e relações entre o homem e a verdade.

Diante de suas pretensões de estudo, Foucault vê as formas jurídicas e sua evolução no campo do direito penal como formas de verdade. O direito penal serve como forma de verdade. O inquérito surge como forma de busca e afirmação da verdade.

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Baseado nas obras de Nietzsche, que diz que o homem, em determinado ponto e lugar do universo, inventou o conhecimento, Foucault define que o termo invenção Erfindung é oposto ao termo origem Ursprung. Nietzsche, critica Schoppenhauer quando este fala da origem da religião. Se a religião fosse Ursprung esta estaria presente em todos os homens e conteria, por antecipação, o núcleo de toda religião. Seria a religião algo que estaria dado, um sentimento implícito e metafísico. Nietzshe diz que a religião foi inventada – Erfindung- a religião foi fabricada, ela não existia anteriormente. Outros exemplos são dados, como por exemplo a poesia. A poesia não tem uma origem, mas sim uma invenção. O ideal também foi fabricado.

O conhecimento foi, portanto, inventado; ele não está em absoluto na natureza humana, não é um instinto tão pouco.

O conhecimento tem relação com os instintos, mas não está presente neles. É simplesmente o resultado do jogo, do afrontamento, da junção, da luta e do compromisso entre os instintos. É porque os instintos se encontram, se batem e chegam ao término de suas batalhas, a um compromisso, que algo se produz. Este algo é conhecimento.

Logo, o conhecimento tem por base os instintos, mas instintos em confronto entre si, daí ele é inventado. É o efeito dos instintos. O conhecimento atua com, contra, entre, comprime, traduz efeito de tensão ao apaziguar os instintos. Mesmo com toda essa relação com os instintos, ainda sim não se pode deduzir o conhecimento do instinto. O conhecimento não faz parte da natureza humana. É a luta, o combate, o risco e o acaso que dão lugar ao conhecimento.

O conhecimento não tem relações de afinidade com o mundo a conhecer. Para Nieztsche o caráter do mundo é um caos eterno, não devido a ausência de necessidade, mas devido a ausência de ordem, de encadeamento, de formas, de beleza e de sabedoria. O mundo não procura imitar o homem, ele ignora toda a lei. Digamos pois, que o conhecimento aparece para lutar contra esse mundo caótica. O conhecimento não se habilita a conhecer o mundo, a natureza.

O Pensamento de Michel FoucaultA genealogia é cinza, ela é meticulosa, pacientemente documentária. Ela

trabalha com pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes reescritos.Paul Rée se engana, como os ingleses, ao descrever gêneses lineares, ao

ordenar, por exemplo, toda a história da moral através da preocupação com o útil. Como se as palavras tivesses guardado seu sentido, seus desejos, sua direção, as idéias, sua lógica, como se esse mundo de coisas ditas e queridas não tivesse conhecido invasões, lutas, rapinas, disfarces, astúcias. Daí, para a genealogia, um indispensável demorar-se: marcar a singularidade dos acontecimentos, longe de toda finalidade monótona.

Trecho extraído de A Genealogia e a História, de Nitzsche.

NietzscheTal autor, na verdade, não será estudado a fundo, pois nosso interesse está

na influência de sua doutrina nos textos de Michel Foucault. É Foucault quem faz as análises explicativas de seus textos.

Síntese de A Genealogia e a História

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Foucault, nesse texto recolhido de Microfisica do Poder, trabalha com o conceito de genealogia nietzschieano, e se apropria dele para fundamentar sua propria analise genealogica.Como ponto de partida, Foucault nos coloca que a finalidade da genealogia é trabalhar com aquilo que nao é historico e encontrar-lhe as lacunas, as descontinuidades, se opondo assim a metafisica enquanto pesquisa da origem. Mas que origem é essa? Foucault traça assim, filologicamente, o sentido da palavra em Nietzsche, que passa por diversas apropriações, sendo por fim adotado o nome de Ursprung (origem). Foucault então começa a desenvolver seu pensamento postulando três significados da origem ( sob o prisma historico e nao metafisico: 1- A origem das coisas nao está na pureza, na essencia exata, mas sim na discordia, no disparate entre as coisa.2-Nao há solenidade na origem, como nos faz crer a metafisica, toda origem é baixa.3- Rejeicao da verdade como fim último, uma vez que se trata somente de um erro que nao pode ser refutado.

Começa entao Foucault a definir os objetos de estudo proprio da genealogia, começando pela Herkunft (proveniência), que se trataria de uma rede de significancias, formadoras de um tronco, rede essa que seria uma dissociação do Eu, a pesquisa de proveniência vem a revelar também que na origem não está a pureza, mas sim o acidente, a descontinuidade. Foucault associa tambem a herkunft ao corpo, na forma de marcas e hábitos que nos foram deixados pelos ancestrais, articulando assim o corpo com a história, que inscreveria no corpo a marca dos acontecimentos.

Foucault agora analisa a Entestehung (emergência), sem tomá-la por ponto final, mas sim um não-lugar onde as forças se colocam em combate, revelando seu jogo de dominação,dominação essa que se expõe através de regras, impostas pelos dominadores aos dominados. Foucault coloca que as regras em si não dizem nada, mas permitem fazer violência, então será dominador aquele que subverter a regra e fazer violência a violência e, portanto, perverter o próprio sistema de regras, ascendendo assim a condição de dominador.

Agora, Foucault diferencia duas interpretações de devir para a humanidade, do ponto de vista metafísico seria colocar em foco uma significação oculta na origem das coisas, já numa interpretação genealógica, o devir da humanidade é uma série de interpretações, de regras que foram subvertidas e usadas ao contrário, criando assim uma história que analisaria a emergência de interpretações distintas.

Relacionando a história tradicional e a genealogia, Foucault evidencia as críticas de Nietzsche ao sentido supra-histórico, que se apóia sobre absolutos, e considera o sentido histórico como ideal para a genealogia trabalhar aquele que não se apóia sobre nenhum absoluto, mas sim trabalha em perspectiva, dissociando o que antes se achava puro e reintroduzindo o absoluto no devir, acreditando assim na inconstância do ser humano. Retoma assim o conceito de Historia Efetiva, que passará a opor ao conceito de História Tradicional, demonstrando que a História Efetiva trabalha com a singularidade do acontecimento, colocando-o sob o domínio do acaso e fruto de uma inversão de uma dominação de forças.

Enquanto o historiador tradicional trabalha de baixo para cima, tentando alcançar o cume sempre inacessível da origem, o historiador efetivo trabalha de cima para baixo, apreendendo tudo e deixando operar as singularidades características do objeto, sempre trabalhando com uma temática próxima (o corpo, as energias,etc.) associando assim de forma marcante a genealogia à medicina.

Continuando, Michel Foucault aponta uma mesma origem para as duas histórias, porém colocando a proveniência (Herkunft) do historiador tradicional muito próximo da demagogia ateniense e sua emergência no séc.XIX, século de fraqueza de forças por excelência, para o surgimento dessa história tradicional. E assim como Platão

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tentou fazer com a filosofia de Sócrates, Foucault propõe que se tente tomar à força a história tradicional , despedaçá-la para que se transforme em história genealógica.

Por fim, Foucault conclui apontando as bases do que seriam as suas categorias de análises, fundamentando-as nas análises de Nietzsche, assim, a veneração aos antigos monumentos transforma-se na historia como paródia (Carnaval); o respeito as antigas continuidades transforma-se na dissociação sistematica do Eu (como resgate da individualidade); e por fim a crítica as injustiças do passado transforma-se em sacrifício do sujeito de conhecimento.

Questão proposta pelo professor: A partir dos textos de Foucault e de Nietzsche, explique as diferenças entre origem e invenção.

Pensemos primeiramente no texto de Foucault, quando nos são apresentados os termos urprung e erfindung. A origem seria algo que já nasceu no homens. Seria um conceito implícito no homem, ligado à religião. Usando o exemplo do conhecimento, se este tivesse uma “origem” diríamos que o homem foi abastecido com o conhecimento, que fora incutido nele não se sabe como. Nietzsche e Foucault não aceitam esta idéia, e inclusive Niezsche é mais incisivo ao caracterizar a origem (ursprung), dizendo que esta não possui nada de glamurosa, mas pelo contrário, o começo histórico, a origem, é baixo, derrisório, irônico. A origem seria o lugar da verdade, ponto anterior e recuado ao ao conhecimento positivo. A verdade seria uma espécie de erro que tem ao seu favor o fato de não poder ser refutada, pois o longo cozimento da história a tornou inalterável.

A origem negligencia como inacessíveis todos os episódios da história. A origem não foca nas meticulosidades e nos acasos dos começos. Baseando-se nessa explanação então, veremos que a origem nos remete a conceitos equívocos, que escondem o que é puro, que é a sujeira por trás de todo o começo, a disparidade entre as coisas, que é o que inicia, é que dá “origem”.

Já o termo invenção (erfindung) parte do estudo completo, da genealogia. Da investigação, de buscar não só a história, mas os sentimentos ligados à época. Baseados no conceito de invenção, podemos retomar o conhecimento, e sob esta ótica veremos que o conhecimento, tendo sido inventado, nasceu da necessidade de controlar instintos. O conhecimento, a poesia, a religião. Estas foram “coisas” inventadas pelo homem, para satisfazer vontades, controlar desejos. O início de tudo isso foi caótico, e para chegar ao seu início a pesquisa foi intensa, tentou buscar lacunas na história.

Segundo os textos de Nietzsche e Foucault, como os autores analisam a história?

A história é uma invenção. É um embate de forças, é construída a parttir de invasões, o homem é vio, é mesquinho. A história efetiva é estudada, ela se difere da história estudada pelos historiadores pelo fato de que ela não se apóia em nenhuma constância: nada no homem é bastante fixo para compreender outros homens e se reconhecer neles. Tudo em que o homem se apóia para se voltar em direção à história e apreendê-la em sua totalidade, tudo o que permite retraçá-la como um paciente movimento contínuo: deve-se destruir tudo isso. A história será efetiva quando ela dividir nossos sentimentos, dramatizar nossos instintos. A história efetiva lança seus

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olhares sobre o que está próximo, ela perscuta das decadências. Esse olhar sobre o próximo é para se separar bruscamente e se apoderar à distância.

Essa também é a forma genealógica de análise.

Texto dado pelo professor“Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente

contemporâneo aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões, e é, portanto, nesse sentido inatual; mas exatamente por isso, exatamente através deste deslocamente e deste arcaímo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e aprender seu tempo.” (Agambén)

O que é o homem da atualidade? É o homem que se posiciona de forma intempestiva. Ele tem a dúvida, o problema da investigação e vai atrás do objeto de pesquisa.

Nietzsche, por exmeplo, partiu da idéia de que Deus era o pai do mal, e com essa dúvida ele seguiu com sua pesquisa.

Logo, em resposta à pergunta, o homem contemporâneo é aquele que, com posicionamento crítico, contrói o problema da investigação e o objeto de estudo. Esse homem se afasta de sua época para entendê-lo.

Foucault, baseado nisso, chega à idéia de que não há origem, não há um poder relacionado à origem. Há sim a invenção. Foucault conta as histórias pelo contra-pelo, sem a visão das Instituições. Ele foca na visão de como os poderes manipulam a liberdade dos indivíduos.

Para acompanhar o monopólio dos poderes sobre a liberdade ele observa os deslocamentos:

Nietzsche escreveu: A Genealogia da Moral. Cap I: “Bom”, “Mau”.“Não existe bem em si; é relativizado, tem perspectivas. Originalmente o

homem bom era o vencedor, e o ruim era o servo, escravo. Com a moral cristã (monopólio da Instituição) o bom é o obediente, altruísta, enquando o mau é o dominador da antiguidade.”

Cabe ao intelectual acompanhar esses deslocamentos dos sentidos e dos valores, variados com a história.

Esse deslocamento então é o que faz Foucault, quando por exemplo fala da mudança no Direito Penal. Somente sendo meticuloso é possível acompanhar o deslocamento e não se deve aceitá-lo sem questionamentos.

Segundo Simmel, para Nietzsche “originalmente considerava-se ‘bom’ vencer, dominar, desenvolver forças e aptidões; ‘mau’ era o vencido, o ´debil , o vulgar. Esses valores foram alterados pela tendências democrático-altruístas, que se expressam com clareza no cristianismo. Desde então o ‘bom’ tornou-se o não egoísta, o que renuncia a se impor, o que quer viver para os outros, para os débeis, os pobres, os decaídos. Esses, os que sofrem, os que carecem, o que não conseguem se impor, tornam-se os ‘bons’, os bem aventurados, a quem estava reservado o reino do senhor.”

Vigiar e PunirO enfoque genealógico de “Vigiar e Punir” de 1975 permite que Foucault

ensair uma crítica a política da sociedade moderna. Analisa o que chamou de sociedade disciplinar, que fabricou indivíduos dóceis e úteis.

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Panóptico: é uma arquitetura anelar. Permite uma vigilância permanente. Esse poder, para Foucault, pe mais eficaz do que os suplícios em praça pública, pois sua liberdade é constantemente vigiada, podendo sofrer sanções.

Roger Pol-Droit“Supliciava-se com aplicação, seguindo um código preciso de torturas.

Marcavam-se, amputavam-se, deslocavam-se os corpos. Da fogueira ao patíbulo, do pelourinho à forca, o sofrimento físico era encenado... Para que ninguém o ignorasse. Tudo isso chegou ao fim de modo bastante brusco, na segunda metade do século XVIII.

O barulho monótono das fechaduras, a sombra das celas, ocupam o lugar do grande cerimonial da carne e do sangue. Não se exibe mais o corpo do condenado, ele é escondido. Não se quer mais assassiná-lo: ele é adestrado. Sua alma é reeducada.

[...] O criminoso, na monarquia absoluta, desafia o poder do rei, e este poder o esmaga, lembrando a todos, com estardalhaço, sua força infinita. Para os teóricos das luzes, o homem que comete um crime rompe o contrato que o liga a todos os seus semelhantes: a sociedade o afasta e o adestra, regulando com precisão cada fato, casa gesto e cada momento na vida carcerária.”

Essa citação representa o suplícioe o adestramento de “Vigiar e Punir”. Foucault percebe que a sociedade aparece de forma concentrada no século XVIII. Esta passagem liga-se ao corpo sendo atingido pelo poder no soberano através do carrasco. Se o poder do soberano era cruel e físico e precisava de encenação, este poder deixava escapar pequenos delitos. A partir do século XVIII passa-se a controlar muito mais o indivíduo, não deixando escapar seus pequenos crimes.

Bio Poder: poder sobre a vida das populações. O controle surge para substituir o suplício. Quanto mais os corpos são disciplinados, adestrados e dóceis, mais produtivo é este corpo. Quanto mais produtivo, menos político, e se menos político, ele se revolta menos contra o controle. As pessias ficam mais passivas com a sociedade mais controladora. O homem não consegue mais nem a liberdade na obra de arte, que é o que escape. Não há mais liberdade de criação, ela é fechada.

Peter PelbartNa teoria clássica da soberania, lembra Foucault, a vida e a morte não são

consideradas como fenômenos naturais, exteriores ao compo político – elas se vinculam ao soberano, ao poder, ao direito: o súdito deve sua vida e sua morte à vontade do soberano. Mais do que a vida, porém, é a morte que ele mais deve ao soberano.

A passagem do direito de “fazer morrer e deixar viver” para “fazer viver e deixar morrer” deve-se a uma mudança geral do poder. No regime da soberania, o poder, no fundo, é mais um mecanismo de retirada, de subtração, de extorção, seja da riqueza, dos produtos, bens, serviços, trabalho, sangue. É um direito de apropriar-se das coisas, de tempo, de corpos, de vida, culminando com o privilégio de suprimir a própria vida.

Já na época clássica, no século XVIII, o poder deixa de basear-se predominantemente na retirada, para funcionar na base da incitação, do reforço, da vigilância, visando, em suma, à otimização das forças que ele submete.

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O soberano não quer mais matar, ele quer utilizar este corpo no capitalismo. Foucault não defende isso, pelo contrário, ele critica. Ele é oposto ao controle exacerbado, reivindicando a liberdade.