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SER PEDAGOGO É SABER QUE SEMPRE TEM QUE APRENDER Celia Maria Haas Universidade Cidade de São Paulo - UNICID Elisângela Fregonezi Diniz Ribeiro Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS Resumo Esse artigo apresenta os resultados da pesquisa intitulada: “O significado de ser pedagogo para os alunos concluintes de 2012, do novo curso de Pedagogia-licenciatura da USCS”, integrada à pesquisa “Pedagogia na perspectiva do aluno: impactos da nova política educacional para o curso” tem como objetivos investigar o que significa, para os alunos do curso, ser pedagogo, buscando ainda verificar o que expressa o aluno sobre a sua decisão em se matricular e frequentar o curso de Pedagogia. Além de outros questionamentos decorrentes como: O que os motiva para tal? Quais são as suas expectativas? Qual o nível de satisfação com o curso? Foi utilizada uma metodologia centrada em uma pesquisa qualitativa, tendo como apoio a palavra de teóricos que discutem a formação de professores. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira, documental, a qual incluiu o estudo do texto legal, o exame do projeto pedagógico implantado, suas características e peculiaridades, as dificuldades para sua implantação, as reformulações concretizadas, abrangendo o contexto mais amplo que lhe deu origem; e a segunda, empírica, tendo como campo os alunos (60) concluintes de 2012 da referida Universidade, que responderam um questionário para traçar o perfil, interesse, satisfação e insatisfação pelo curso, complementado com questões dissertativas, de caráter subjetivo respondidas por esses alunos, visando conhecer o caminho da constituição do ser pedagogo. A maioria afirma interesse em buscar mais conhecimentos nessa área e desenvolver-se profissionalmente. Confiam na teoria que receberam e, através dos estágios, acreditam ter respaldo para aperfeiçoar a prática. Especificamente sobre o curso de Pedagogia, a maioria afirma que escolheu esse curso pela possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade. Eles avaliam positivamente o seu período de formação e não temem os desafios da profissão. Palavras-chave: Pedagogia, Diretrizes Curriculares, Didática. Introdução Apresentamos, nesse texto, os principais resultados da pesquisa concluída em 2013, que investigou o curso, tendo como título “Pedagogia na perspectiva do aluno: impactos da nova política educacional sobre o curso”. As preocupações acerca da formação do pedagogo cresceram após a aprovação das Diretrizes Curriculares para o curso, pela Resolução CNE nº1, de 15 de maio de 2006. Acredita-se que as diretrizes, ao estabelecerem o Curso de Pedagogia como o lócus privilegiado para a formação dos professores para a Educação Infantil e o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, provocaram uma revisão dos projetos pedagógicos de um modo geral e de um modo particular, iniciando a construção de uma nova identidade Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 06253

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SER PEDAGOGO É SABER QUE SEMPRE TEM QUE APRENDER

Celia Maria Haas

Universidade Cidade de São Paulo - UNICID

Elisângela Fregonezi Diniz Ribeiro

Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS

Resumo

Esse artigo apresenta os resultados da pesquisa intitulada: “O significado de ser

pedagogo para os alunos concluintes de 2012, do novo curso de Pedagogia-licenciatura

da USCS”, integrada à pesquisa “Pedagogia na perspectiva do aluno: impactos da nova

política educacional para o curso” tem como objetivos investigar o que significa, para os

alunos do curso, ser pedagogo, buscando ainda verificar o que expressa o aluno sobre a

sua decisão em se matricular e frequentar o curso de Pedagogia. Além de outros

questionamentos decorrentes como: O que os motiva para tal? Quais são as suas

expectativas? Qual o nível de satisfação com o curso? Foi utilizada uma metodologia

centrada em uma pesquisa qualitativa, tendo como apoio a palavra de teóricos que

discutem a formação de professores. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a

primeira, documental, a qual incluiu o estudo do texto legal, o exame do projeto

pedagógico implantado, suas características e peculiaridades, as dificuldades para sua

implantação, as reformulações concretizadas, abrangendo o contexto mais amplo que

lhe deu origem; e a segunda, empírica, tendo como campo os alunos (60) concluintes de

2012 da referida Universidade, que responderam um questionário para traçar o perfil,

interesse, satisfação e insatisfação pelo curso, complementado com questões

dissertativas, de caráter subjetivo respondidas por esses alunos, visando conhecer o

caminho da constituição do ser pedagogo. A maioria afirma interesse em buscar mais

conhecimentos nessa área e desenvolver-se profissionalmente. Confiam na teoria que

receberam e, através dos estágios, acreditam ter respaldo para aperfeiçoar a prática.

Especificamente sobre o curso de Pedagogia, a maioria afirma que escolheu esse curso

pela possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade. Eles avaliam

positivamente o seu período de formação e não temem os desafios da profissão.

Palavras-chave: Pedagogia, Diretrizes Curriculares, Didática.

Introdução

Apresentamos, nesse texto, os principais resultados da pesquisa concluída em 2013, que

investigou o curso, tendo como título “Pedagogia na perspectiva do aluno: impactos da

nova política educacional sobre o curso”.

As preocupações acerca da formação do pedagogo cresceram após a aprovação das

Diretrizes Curriculares para o curso, pela Resolução CNE nº1, de 15 de maio de 2006.

Acredita-se que as diretrizes, ao estabelecerem o Curso de Pedagogia como o lócus

privilegiado para a formação dos professores para a Educação Infantil e o primeiro ciclo

do Ensino Fundamental, provocaram uma revisão dos projetos pedagógicos de um

modo geral e de um modo particular, iniciando a construção de uma nova identidade

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para a Pedagogia. Há uma intensa discussão sobre o tema e contribuem com as

discussões vários autores (SAVIANI, 2008; CRUZ, 2012; SILVA, 2006; GATTI;

BARRETO, 2009; LIBÂNEO, 1996, 2001).

Para Franco, Libâneo e Pimenta (2007) o texto da referida Resolução (BRASIL, 2006)

salienta o exercício docente do pedagogo na Educação Infantil e séries iniciais do

Ensino Fundamental e recusa a articulação entre as dimensões epistemológica,

disciplinar e prática da Pedagogia, em resumo, não é missão maior de o pedagogo

atender às complexas demandas da educação brasileira.

Outro aspecto que merece atenção é o fato das diretrizes ampliarem as atividades e

possibilidades de atuação para o pedagogo, vinculando a múltipla formação ao tempo de

duração do curso, ou seja, às 3200 horas estabelecidas, pois os pedagogos, além de

professores deveriam ser preparados para as funções de gestão escolar e outras tantas

atividades não-escolares. Nessa direção, é interessante ressaltar que, em pesquisa

concluída no ano de 2011, Albuquerque, Haas e Araujo (2012) procuraram conhecer

junto aos alunos o significado de ser pedagogo no novo curso de Pedagogia-

licenciatura. Identificaram que os alunos se reconhecem como professores, mas poucos

compreendem a ampla formação que as diretrizes propõem, sugerindo a urgência em se

esclarecer, no âmbito das políticas públicas, o sentido da formação do pedagogo, sem

abandonar os novos sentidos a partir do já construído.

Na pesquisa concluída em 2013, intitulada “Pedagogia na perspectiva do aluno:

impactos da nova política educacional sobre o curso”, buscou-se analisar aspectos da

trajetória da vida pessoal, escolar e profissional dos alunos, traçar o perfil dos

estudantes de Pedagogia, suas motivações para realizar o curso, como encaram o

mercado de trabalho e o desenvolvimento da atividade docente, para, a partir do olhar

do aluno, analisar o curso em seu conjunto e encontrar o profissional que está sendo

formado.

Os participantes dessa pesquisa foram os alunos concluintes do curso de Pedagogia de

uma Universidade Municipal. Foram ouvidos dois grupos de concluintes, pois a

Universidade em questão tinha um curso oferecido em 4 anos e, em 2010 passou a

oferecer o curso em 6 semestres, portanto 3 anos de duração. Essa mudança curricular

fez com que, em 2012, houvesse 2 grupos de concluintes, formados por propostas

curriculares diferentes, ampliando as possibilidades de análises, na direção de também

verificarmos se a duração do curso impactou na avaliação dos alunos em relação ao

curso. Assim, definiu-se como GRUPO 1 - 38 (trinta e oito) alunos concluintes de um

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curso de três anos (ou 6 semestres), e GRUPO 2 - 22 (vinte e dois) alunos concluintes

do 4º ano, última turma de Pedagogia do período de quatro anos. Tivemos, portanto, um

total de 60 participantes da pesquisa.

A metodologia, de natureza qualitativa, contou com a coleta dos dados por meio da

aplicação de questionários que continham questões optativas e dissertativas, aplicadas

para os dois grupos.

O que dizem os alunos

Esse trabalho pautou-se em conhecer as percepções e impressões a respeito do curso,

aspectos relevantes da formação e perspectivas do exercício da profissão na visão dos

alunos do curso de Pedagogia. Buscou-se, portanto, por meio de um questionário,

conhecer quem são esses alunos, quais seus anseios, tentando compreender qual a

leitura que fazem da formação recebida.

Como já mencionado, foram 2 grupos distintos de alunos, com percursos de formação

diferentes, mas, mesmo assim, foi possível sentir a individualidade de cada um e levar

em consideração sua opinião, pois, acreditamos que o aluno diretamente envolvido no

cenário da formação de professores é aquele que pode apontar os pontos fortes e fracos

do atual curso de Pedagogia.

Segundo Gatti (2010, p. 1361),

[...] é importante considerar as características dos licenciados, uma vez que

estas têm peso sobre as aprendizagens e seus desdobramentos na atuação

profissional. Quem são os alunos das licenciaturas? Quais expectativas têm,

qual sua bagagem?

Os dados coletados permitem fazer um trabalho extenso sobre as características dos

alunos e um estudo que abrange aspectos importantes do curso de Pedagogia, mas dado

o limite desse texto serão apresentados alguns aspectos em detrimento a outros.

Quanto à idade, na comparação entre os dois grupos, vemos que há uma diferença entre

eles no que diz respeito à idade média. Enquanto o primeiro grupo apresenta idade

média de 20 anos, o segundo traz idade média de 29 anos. Os dois grupos apresentam

uma maior concentração de alunos na faixa dos 20 anos (81% do grupo 1 e 76% do

grupo 2). Há um público bem diversificado no que diz respeito à idade, característica

essa semelhante ao encontrado em outros cursos de Pedagogia pelo país. Se

observarmos a idade dos alunos que realizaram o Exame Nacional de Desempenho do

Estudante (ENADE) de 2011, para o curso de Pedagogia, podemos constatar que a

idade média é de 33,4 anos, conforme tabela 1:

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Tabela 1. Distribuição do grupo etário e por sexo em % - média das idades

Fonte: MEC/Inep. ENADE/2011

No tocante ao sexo, observamos a predominância do sexo feminino no grupo 1 (100%)

e a maioria, no grupo 2 (90,91%). Esse dado é interessante porque mostra o quanto a

profissão está ligada ao gênero. A mulher continua tendo presença marcante nos cursos

de Pedagogia, enquanto a participação masculina se reduz a cada ano.

Quanto ao estado civil, tanto o grupo 1 (78,95%), quanto o grupo 2 (72,73%)

apresentam uma maioria de alunos solteiros. Esse número pode estar ligado à faixa

etária do curso, que agrupa a maior parte dos alunos na faixa dos 20 anos. Este fator

corrobora o item seguinte, que é o número de dependentes: no grupo 1 apenas 18,42%

possuem dependentes e no grupo 2 temos 27,27%, o que também pode ser atribuído à

faixa etária dos alunos, demonstrada por um público jovem.

No grupo 1, 86,84% dos alunos concluíram o Ensino Médio em escola pública, já para o

grupo 2 esse número é de 77,27%, dados também confirmados pelo ENADE 2011, e

analisando os números com foco na Universidade, vemos que a maioria que estudou em

escolas públicas faz hoje graduação em universidades privadas.

Quando entramos no perfil profissional dos alunos, tanto para o grupo 1 quanto para o

grupo 2 a porcentagem de alunos que trabalham com Educação é alta (73,53% no grupo

1 e 90,48% no grupo 2).

Desse número, a escola particular é a que mais emprega esses alunos (74, 07% no

primeiro grupo e 57,14% no segundo). Quanto ao nível de ensino, a maioria atua na

Educação Infantil (66,67% no grupo 1 e 60% no grupo 2).

Gráfico 1. Trabalho em escola pública ou

privada – Grupo 1

Fonte: Autoras da pesquisa

Gráfico 2. Atuação na Educação Básica –

Grupo 1

Fonte Autoras da Pesquisa

25,93%

74,07%

Pública

Privada

66,67%

29,63%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

3,70%

Educação Infantil

Fundamental I

Fundamental II

Ensino Médio

Auxiliar de Creche

Auxiliar …

Gestor Escolar

Outra

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Gráfico 3. Trabalho em escola pública ou

privada – Grupo 2

Fonte: Autoras da pesquisa

Gráfico 4. Atuação na Educação Básica –

Grupo 2

Fonte Autoras da Pesquisa

Ao analisarmos a carga horária da jornada de trabalho vemos que a maioria, nos dois

grupos, trabalha até 6 horas por dia, e que eles conseguiram emprego através de teste e

entrevista (44,44% do grupo 1 e 60% do 2). Quanto à contratação, 87,50% dos alunos

do grupo 1 e 85,71% do 2 foram contratados pela escola em que faziam estágio

remunerado antes de concluir o curso. Isso mostra que a empregabilidade para quem

começou como estagiário é alta, para os grupos em estudo. Esse fato parece indicar a

alta empregabilidade para os pedagogos, mesmo que isso não represente,

necessariamente, ganhos salariais representativos, pois a renda mensal é um tema

preocupante na educação. Segundo o guia de consulta do Sindicato dos Professores de

São Paulo (Sinpro-SP), o piso salarial para os professores está estabelecido da seguinte

forma:

Tabela 2. Piso Salarial na Educação Básica

Fonte: Sinpro/SP

Como a maioria dos alunos dessa pesquisa trabalha na Educação Infantil, a faixa salarial

que mais se destaca nos dois grupos é a de um a dois salários mínimos (65,71% no

grupo 1 e 70% no grupo 2). Esse número coincide com o piso salarial proposto para

professores da Educação Infantil.

Quando inqueridos a avaliar a atuação profissional docente para os alunos licenciados

(numa escala de 0 a 6, sendo 6 a maior nota) , os grupos 1 e 2 deram as seguintes notas:

3 e 4 para o mercado de trabalho para o licenciado em Pedagogia, acredita-se que

33,33%

57,14%

4,76% 4,76%

Pública

Privada

ONG

Mista

60,00%

35,00%

5,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Educação Infantil

Fundamental I

Fundamental II

Ensino Médio

Auxiliar de Creche

Auxiliar …

Gestor Escolar

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motivados pelos baixos salários; nota 6 à atividade profissional em termos de

importância social; 6 e 5 em termos de realização pessoal; 3 e 4 em termos de ganhos

financeiros e nota 5 em termos de realização profissional (respostas do Grupo 1 e 2,

consecutivamente).

Tabela 3. Avaliação do mercado de trabalho e atividade profissional do Grupo 1

Fonte: Autoras da pesquisa

Tabela 4. Avaliação do mercado de trabalho e atividade profissional do Grupo 2

Fonte: Autoras da pesquisa.

Para avaliar seu preparo para enfrentar o mercado de trabalho após a conclusão do

curso, os grupos deram nota 4 e 5 (Grupo 1 e 2 respectivamente). Freire (1991, p. 58)

nos traz uma reflexão importante sobre o fato de estar preparado ou não para o exercício

da docência:

[...] Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas

da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se

faz educador, a gente se forma como educador, permanentemente, na prática

e na reflexão sobre a prática.

O professor se faz na prática, no dia a dia do seu trabalho. É importante que eles se

sintam confiantes e positivos em relação à sua preparação para o mercado de trabalho.

Uma das questões pedia para os alunos justificarem o seu preparo para enfrentar o

mercado de trabalho após a conclusão do curso. Destacamos algumas falas que apontam

a compreensão desses alunos do processo formativo vivenciado e de como enfrentam a

atuação profissional: “No curso aprendi muito conhecimento teórico. Tive também

experiências em escolas que me auxiliaram no entendimento prático, com certeza vai

ajudar muito na minha prática. Sei que a dinâmica de uma escola é complexa e

trabalhando vou aprender, no dia a dia” (Grupo 2, aluno 1). “Penso que teoricamente

fomos preparados, mas em relação à prática ainda precisamos de mais formação”

(Grupo 1, aluno 2). “Sinto-me preparada, pois os conteúdos estudados foram

significativos” (Grupo 2, aluno 10). “Sinto que ainda não estou muito preparada”

(Grupo 2, aluno 14). “Acredito que o curso tenha me oferecido uma ótima formação

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para enfrentar novos desafios” (Grupo 2, aluno 15). “Acredito no meu preparo

profissional, pois trabalho na área há um tempo e aprendi muito com a faculdade”

(Grupo 2, aluno 22).

Quando questionados sobre suas prioridades em relação ao futuro profissional, a

maioria aponta o crescimento e aprimoramento profissional, seguido pela opção de

cursar pós-graduação (dados semelhantes para os dois grupos, apenas com variação nas

porcentagens). Apenas um aluno do grupo 2 manifestou desejo de exercer atividade de

pesquisa.

Na visão dos dois grupos, trabalhar durante a graduação não prejudica o desempenho,

pois eles podem combinar teoria e prática. Os estágios são fontes enriquecedoras,

oportunidades para questionar a teoria e refletir sobre sua aplicação na prática:

[...] O estágio pode ser compreendido como um espaço de formação que

possibilita ao acadêmico uma aproximação à realidade em que será

desenvolvida a sua futura prática profissional , permitindo que o mesmo

possa refletir as questões ali percebidas sob a luz das teorias. (PIMENTA;

GONÇALVES 1992 apud CASTRO; SALVA, 2012, p.3 )

Especificamente sobre o curso de Pedagogia, a maioria, nos dois grupos, afirma que

escolheu esse curso pela possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade.

Eles avaliaram o curso com as seguintes notas: 5 para a formação teórica; 5 para a carga

horária das disciplinas teóricas; 5 e 4 para a carga horária das disciplinas teóricas-

práticas; 4 e 6 para a realização de estágio curricular obrigatório; 5 para os os contatos

realizados com os colegas do curso; 3 e 5 para os contatos profissionais que obtiveram

durante o curso e 6 para a realização de Iniciação Científica ou experiência em pesquisa

(PIBID, Bolsa Alfabetização) – notas do grupo 1 e 2 consecutivamente.

Tabela 5. Avaliação do curso pelo Grupo 1

Fonte: Autoras da pesquisa.

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Tabela 6. Avaliação do curso pelo Grupo 2

Fonte: Autoras da pesquisa

Já na avaliação das disciplinas, a grande maioria avaliou muito bem esse quesito, com a

nota 6 (em uma escala de 1 ruim a 6 ótima) e vale mencionar que o curso, tanto o de 4

anos como o de 6 semestres de duração, conta com uma carga significativa de Didática

(480 horas). Ainda sobre as disciplinas, quando questionados se as mesmas foram

interessantes, a maioria, nos dois grupos, afirmou que sim. Apenas o Grupo 1 teve

disciplinas em Educação à Distância (EAD), grupo que cursou a graduação em três

anos, e para esses alunos o conteúdo dessas disciplinas também foi suficiente. A

maioria, nos dois grupos, também acredita que as disciplinas estavam integradas entre

si.

Nos dois grupos os alunos defendem que houve relação entre as disciplinas estudadas e

a prática da profissão, fator esse importante para concluirmos que houve uma

aproximação entre a teoria e a prática. Mas, é preciso mencionar que nas repostas

subjetivas há falas que apontam uma distância entre teoria e prática: “Acredito que

precisava de mais aulas práticas” (Grupo 1, aluno 9). “A prática é muito diferente do

conceito. A realidade da sala de aula e o convívio com os alunos requerem muito mais

que conceitos e palavras acadêmicas” (Grupo 1, aluno 31).

É interessante conhecer o que os alunos pensam sobre o seu preparo para trabalhar nos

diferentes níveis da Educação Básica. Tivemos respostas diferentes entre os grupos: o

Grupo 1 se diz preparado para atuar principalmente na Educação Infantil, enquanto o

Grupo 2 afirma estar preparado para atuar na Educação Infantil e no Ensino

Fundamental I. Enquanto no Grupo 1 não temos alunos que se acham preparados para

trabalhar nos dois níveis citados anteriormente, incluindo a Gestão Escolar, no Grupo 2

15% dos alunos afirmam estar preparados para esse desafio. Essa diferença pode dar-se

porque os alunos do 2º Grupo tiveram uma graduação de 4 anos, ou seja, isso traduz-se

em mais tempo para estudar e aprofundar seus conhecimentos sobre gestão,

desmitificando a crença que o pedagogo está preparado só para ser professor.

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Entrando na questão da identidade do pedagogo, também buscamos conhecer como o

aluno está pensando sua atuação profissional. Historicamente, a ideia de pedagogo está

ligada à educação e não é raro limitar seu campo de trabalho apenas à escola.

Entretanto, o pedagogo não se limita ao professor, mas abrange a pesquisa, a reflexão

sobre a educação em vários âmbitos, não só na escola. Apoiados por essa ideia,

procuramos investigar como os alunos veem o mercado de trabalho para o pedagogo.

No Grupo 1, os alunos posicionam a empresa em primeiro lugar, e a escola em segundo.

Já no Grupo 2, a maioria entende o lócus de atuação do pedagogo como sendo a escola,

seguida pela empresa. É curioso observar a maioria do Grupo 1 posicionar a empresa

em primeiro lugar, visto que a escola sempre aparece como um território tão demarcado

para o pedagogo. E a porcentagem de alunos que trabalha em escola neste grupo é de

73,53%. Este resultado mostra que o grupo consegue ampliar as funções do pedagogo e

enxergar outro universo para a profissão, mas por outro lado, destoa de números

analisados neste e em outros projetos de pesquisa ligados à área. É muito interessante

observar que os dois grupos fazem parte da mesma universidade, tiveram uma formação

semelhante e pontuam a atuação profissional de forma diferente.

Após a análise de todos os argumentos e a comparação entre os dois grupos, podemos

concluir que, ainda que com divergências em várias respostas, os grupos estão seguros

em relação ao seu futuro profissional e à carreira que escolheram. A maioria afirma

interesse em buscar mais conhecimentos nessa área e desenvolver-se profissionalmente.

Confiam na teoria que receberam e, através dos estágios, acreditam ter respaldo para

aperfeiçoar a prática. Eles avaliam positivamente o seu período de formação e não

temem os desafios da profissão.

Considerações Finais

Ao serem abordados com a questão: Para você, o que é ser Pedagogo?, entre as

inúmeras respostas ricas destacamos a fala de um aluno do Grupo 2 que diz: “Ser

pedagogo é ensinar, ou motivar o aluno a querer aprender, sempre aprendendo com

ele, buscando a transformação social. Vale à pena porque temos em nossas mãos o

futuro do país” (Grupo 2, aluno 22). Também é importante ressaltar a fala de outro

aluno do Grupo 1 que afirma: “É saber que tem sempre que aprender”.

Historicamente o curso de Pedagogia passou por muitas modificações. Regulamentado

pela primeria vez, nos termos do Decreto-Lei n. 1.190/1939, foi definido como lugar de

formação de “técnicos em educação.”

Segundo Brito (2006),

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[...] Estes eram, à epoca, professores experientes que realizavam estudos

superiores em Pedagogia para, mediante concurso, assumirem funções de

administração, planejamento de currículos, orientação à professores, inspeção

de escolas, avaliação do desempenho dos alunos e dos docentes, de pesquisa

e desenvolvimento tecnológico da educação, no Ministério da Educação, nas

secretarias de estado e dos municípios.

Com a promulgação dos Pareceres seguintes (CEF nº 292/1962 e CEF 252/1969), e a

partir dos anos 80, começaram as reformas curriculares do curso de Pedagogia a fim de

formar profesores para atuarem na Pré-escola e nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Posteriormente, com a extinção dos cursos de Magistério, a formação do

docente recaiu sobre o curso de Pedagogia, que perdeu o seu caráter técnico, caráter este

proposto para Especialização ou Pós-graduação.

Todas as essas mudanças fizeram com que o perfil do aluno também mudasse ao longo

do tempo. Se antes tínhamos os alunos especialistas no curso, hoje temos o aluno que

busca uma formação docente.

Como objetivo central dessa pesquisa, que era o de analisar o perfil do aluno e o seu

preparo para o mercado de trabalho, podemos concluir que eles acreditam na sua

profissão como uma forma de contribuição para a melhoria da sociedade, escolheram a

área porque gostam do que fazem e se sentem satisfeitos por isso. Quando vemos o

interesse da maioria dos alunos em ter uma formação continuada e manifestarem o

desejo de realizar Pós-graduação na área, percebemos que os mesmos se sentem

motivados em continuar trilhando esse caminho. Embora a maioria reconheça que a

remuneração inicial não é atrativa, pensam em seguir se especializando para alcançar o

patamar desejado.

Embora os dois grupos apresentem nuances semelhantes em várias respostas, fica claro

a característica de cada grupo e a influência do tempo de formação, pois analisamos um

grupo de graduação de quatro anos e outro de três. Quando o Grupo 2 afirma estar

preparado para atuar na gestão escolar, acredita-se que é porque teve mais tempo de

estudar e entender essa área, ao contrário do Grupo 1, que teve essa disciplina na

modalidade à distância, sentindo-se muitas vezes longe do conceito real.

Mesmo assim, a maioria se auto avaliou positivamente, assim como também a

Universidade, os professores, disciplinas cursadas, a profissão e estabeleceu relação

entre o conteúdo estudado e a prática pedagógica. Essa ponte entre a teoria e a prática,

sempre tão criticada pelos alunos de algumas Universidades, é fundamental para

conseguir desempenhar bem o seu papel. Segundo Houssaye (2004 apud CRUZ, 2012,

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p.163): “[...] só será considerado pedagogo aquele que fizer surgir um plus na e pela

articulação teoria-prática em educação. Esse é o caldeirão de fabricação pedagógica”.

A profissão, embora esteja atraindo poucos talentos, é amada pelos sujeitos da nossa

pesquisa. São eles que vão para as escolas, aplicar e aperfeiçoar o que aprenderam nessa

Graduação. Muitos não estão esperando pela valorização para irem para o mercado de

trabalho. Eles vão lutar pela sua valorização atuando na profissão. É preciso que a

sociedade entenda que um professor é fundamental, porque o que move o mundo é o

conhecimento. E a maior parte do conhecimento aprendemos na escola, com a figura do

professor.

Referências bibliográficas

ALBUQUERQUE, H. M. P., HAAS, C. M. E ARAUJO, R. M. B. O significado de ser

pedagogo para os alunos concluintes de 2012, do novo curso de Pedagogia-

licenciatura da USCS, Relatório Final de Pesquisa, PUC-SP, 2012.

BRASIL. Censo da Educação Superior. INEP/MEC, 2011.

______. Exame Nacional de Cursos – Enade 2011. Brasília, DF: MEC/INEP, 2011.

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