SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO Revista de Adultos da EBD...2.1 - A Classificação dos Dons...

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INSTITUTO PENTECOSTAL DE EDUCAÇÃO CRISTÃ “Integrando Vida e Serviço Através das Escrituras” CNPJ n°. 41.541.873/0001-99 SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2 RESUMO O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 2º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Elinaldo Renovato. Este breve subsídio de apoio à Lição 03, Os Dons de Revelação”, faz uma abordagem bíblica e teológica sobre três dons dos nove espirituais de 1 Coríntios 12.8-10, classificados como “dons de revelação”. Por meio desse conteúdo, busca-se: explicar a classificação dos dons da “palavra de sabedoria”, “palavra de conhecimento” e “discernimento de espíritos” como dons de revelação; descrever bíblica e teologicamente os dons de revelação; e, ressaltar princípios bíblicos que regulam a compreensão e o cultivo dos dons de revelação na Igreja. 1. INTRODUÇÃO. A fé e teologia Pentecostal concentram grandes esforços na compreensão e cultivo dos dons espirituais, reconhecendo essas dádivas como indispensáveis para a Igreja até a Volta de Jesus Cristo, estando intimamente relacionados ao serviço. Na teologia Pentecostal, os dons espirituais citados em 1 Coríntios 12.8-10 são considerados como manifestações diretas, extraordinárias e momentâneas do Espírito Santo na vida de um crente, para atender propósitos úteis à Igreja e desenvolvimento da obra do Senhor. Nesse contexto, foram adotadas classificações para facilitar a exposição desses nove dons espirituais. No presente texto auxiliar, será trabalhada a classificação teológica de “dons de revelação” aplicada aos dons de “palavra de sabedoria”, “palavra de conhecimento” e “discernimento de espíritos”. Bom estudo e boa aula! 2. O SIGNIFICADO DE “REVELAÇÃO” E “DONS DE REVELAÇÃO”. 1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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INSTITUTO PENTECOSTAL DE EDUCAÇÃO CRISTÃ “Integrando Vida e Serviço Através das Escrituras”

CNPJ n°. 41.541.873/0001-99

SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD

Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2

RESUMO

O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 2º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Elinaldo Renovato. Este breve subsídio de apoio à Lição 03, “Os Dons de Revelação”, faz uma abordagem bíblica e teológica sobre três dons dos nove espirituais de 1 Coríntios 12.8-10, classificados como “dons de revelação”. Por meio desse conteúdo, busca-se: explicar a classificação dos dons da “palavra de sabedoria”, “palavra de conhecimento” e “discernimento de espíritos” como dons de revelação; descrever bíblica e teologicamente os dons de revelação; e, ressaltar princípios bíblicos que regulam a compreensão e o cultivo dos dons de revelação na Igreja.

1. INTRODUÇÃO.

A fé e teologia Pentecostal concentram grandes esforços na compreensão e cultivo dos dons

espirituais, reconhecendo essas dádivas como indispensáveis para a Igreja até a Volta de Jesus Cristo, estando intimamente relacionados ao serviço.

Na teologia Pentecostal, os dons espirituais citados em 1 Coríntios 12.8-10 são considerados como manifestações diretas, extraordinárias e momentâneas do Espírito Santo na vida de um crente, para atender propósitos úteis à Igreja e desenvolvimento da obra do Senhor. Nesse contexto, foram adotadas classificações para facilitar a exposição desses nove dons espirituais.

No presente texto auxiliar, será trabalhada a classificação teológica de “dons de revelação” aplicada aos dons de “palavra de sabedoria”, “palavra de conhecimento” e “discernimento de espíritos”.

Bom estudo e boa aula!

2. O SIGNIFICADO DE “REVELAÇÃO” E “DONS DE REVELAÇÃO”.

1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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As doutrinas são formuladas com palavras tomadas em sentidos específicos, para expressar o mais exato possível o conteúdo da fé bíblica; pelo que, faz-se necessário identificar como as palavras bíblicas e doutrinárias devem ser usadas para comunicar aquilo que a Igreja crer e professa.

O estudo dos dons espirituais requer especial atenção quanto aos termos e classificações usados. A importância de compreender bíblica e teologicamente essa classificação é bem colocada por Frank M. Boyd: “a menos que os dons do Espírito sejam claramente definidos e cuidadosamente classificados e, primeiro lugar, seu propósito não será entendido e poder ser mal-usados; a glória do Senhor pode ser roubada; e a Igreja pode deixar de receber grandes benefícios que esses dons devem trazer”3.

O propósito desse tópico visa ajudar no esclarecimento desses dois pontos: o sentido da palavra “revelação” na doutrina cristã e a classificação em “dons de revelação”.

2.1 - A Classificação dos Dons Espirituais como “Revelação”.

Na tradição Pentecostal, têm sido propostas várias formas de classificações4 dos dons espirituais

listados em 1 Coríntios 12.8-10; sendo que cada classificação tem um caráter teológico e didático, agrupando os dons divinos quanto à forma e propósito (aqui será adotada a tradicional classificação dos dons espirituais em três grupos: dons de revelação, dons de poder e dons de elocução)5.

A expressão “dons de revelação” é usada para classificar três manifestações espirituais: a palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento e o discernimento de espíritos. O ensino bíblico é:

1 Coríntios 12.8,10: “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento... a outro, discernimento de espíritos” (NAA).

Neste caso, a palavra “revelação” descreve uma particularidade elementar desses três dons

espirituais: quando esses dons são operados pelo Espírito Santo no crente, então, ocorre uma manifestação do “saber de Deus” sobre algo que não poderia ser conhecido de outra forma.

Por meio dos dons da palavra da sabedoria, palavra do conhecimento e discernimento de espíritos, o Espírito concede ao cristão e/ou à congregação o desvendamento sobre uma situação incomum e ocasional, capacitando a vencer os obstáculos e ter suprido necessidades ímpares6. O cristão é capacitado, segundo o poder e sabedoria do Espírito Santo, a reconhecer verdades acerca de algumas circunstâncias e para servir no suprimento de determinadas necessidades.

3 Apud OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de. As grandes doutrinas da Bíblia. 10ª ed. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2007, p.134. 4 As classificações variam na divisão dos dons de 1 Coríntios 12.8-10 em dois grupos: 1) Existe a classificação que leva em consideração o uso das palavras gregas heterō e allō, que indicam uma divisão dos nove dons em três grupos: 2-5-2; e, 2) Existe a classificação que leva em consideração mais a função do dom, geralmente dividindo os nove dons em três grupos iguais: 3-3-

3. O teólogo pentecostal David Lim adota a seguinte divisão dos dons espirituais: 1) Dons de Ensino: palavra da sabedoria e palavra do conhecimento; 2) Dons do Ministério à Igreja e ao Mundo: fé, dons de curar, operação de maravilhas, profecia e discernimento de espíritos; e, 3) Dons de Adoração: variedade de línguas e interpretação de línguas, como consta em: HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia sistemática. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 1996, p.472. 5 Tradicionalmente, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil tem adotado em seus ensinos bíblicos dominicais a classificação abaixo:

Dons de Revelação Dons de Poder Dons de Elocução

Palavra de sabedoria Palavra de conhecimento

Discernimentos de espíritos

Fé Dons de curar

Operações de milagres

Profecia Variedade de línguas

Interpretação de línguas 6 STORMS, Sam. Dons espirituais: uma introdução bíblica, teológica e pastoral. São Paulo, SP: 2016, p.48.

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Esses dons trazem mensagens faladas que, por sua vez, trazem à tona soluções, instruções, informações, consciência sobre realidades espirituais, entre outros aspectos, tanto no âmbito pessoal como congregacional, tanto na obra de edificação como de evangelização.

(Observação: obviamente, todas as mensagens dos dons espirituais não estão no mesmo patamar de autoridade da Bíblia; não são divinamente inspiradas como foram os escritores bíblicos; e, logo, devem sempre ser submissas à avaliação bíblica).

2.2 - O Significado de “Revelação” Aplicada aos Dons Espirituais.

No Pentecostalismo, a palavra “revelação” tem sido cercada de incompreensões; essa falha de

entendimento provoca controvérsias entre os pentecostais e acusações vindas das outras correntes do Protestantismo.

A palavra “revelação” deve ser compreendida em dois sentidos básicos e distintos: 1) O primeiro e principal significado é aquele que descreve a “revelação” que Deus fez de si mesmo e de sua vontade aos homens, visando a salvação; e, 2) O segundo é aquele usado em relação a alguns dos dons espirituais à disposição da Igreja para o serviço.

O quadro descritivo abaixo sintetiza esses dois sentidos de uso da palavra “revelação”:

A “Revelação” Relacionada ao Plano de Salvação A “Revelação” Relacionada aos Dons Espirituais

Esse sentido é reconhecido em todo o ramo Protestante como o sentido mais básico e mais abrangente da palavra “revelação”, pois se relaciona com os fundamentos doutrinários da salvação.

Esse sentido é usado de modo específico no Pentecostalismo, na descrição de alguns dos dons espirituais de 1 Coríntios 12.8-10.

A palavra “revelação” é tomada em dois sentidos: 1) Revelação Geral, que descreve a “comunicação que Deus faz de si mesmo a todas as pessoas, em todas as épocas e em todos os lugares”,7 por meio da criação (natureza) e da consciência humana (Sl 19.1-6; Rm

1.19-20; 2.14-15); e, 2) Revelação Especial, que descreve a revelação do plano da salvação pela manifestação de Jesus Cristo (Deus se fez homem e habitou entre os homens) e revelado por inspiração divina nas Escrituras, a Palavra escrita de Deus (Sl 19.7-11; Jo 1.1,14,17-18; 14.8-9; Cl 2.9; 1 Tm 3.16; 2 Tm

3.14-17; Hb 1.1-3; 2 Pe 1.20-21; 1 Jo 1.1-3).

Nesse caso, a palavra “revelação” é usada para descrever as manifestações instantâneas e sobrenaturais do Espírito Santo na vida de um crente, capacitando-o a servir acima das suas capacidades humanas8 (1 Co 12.7-11,30; 14.26).

A Bíblia é a revelação escrita e especial de Deus, que foi dada pelo Espírito Santo, mediante a inspiração divina, que capacitou os escritores bíblicos a receberem e transmitirem a mensagem divina sem mistura de erro (Sl 19.7-11; 2 Tm 3.14-17; 2 Pe 1.20-

21). Essa inspiração divina não mais se repete após a completude do cânon bíblico (Ap 22.18-19).

Os dons chamados de “revelação” vêm pela ação capacitadora instantânea e sobrenatural do Espírito Santo no e através de um crente; porém, essa ação do Espírito Santo no crente hoje não é a mesma coisa que inspiração divina, que foi operada somente nos escritores bíblicos; devendo ser, por conseguinte, em tudo, subordinada ao exame bíblico (1 Co 14.29-33).

A Bíblia, revelação escrita e especial: é completa, suprema em autoridade, perfeita, inerrante e

Os dons chamados de “revelação” são momentâneos, extraordinários e voltados para

7 ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo, SP: Vida Nova, 2015, p.140. 8 LIM, David. Os dons espirituais. In. HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia sistemática: perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 1996, p.470 (p.465-500).

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suficiente para fazer o homem salvo em Cristo e ter comunhão com Deus (Sl 19.7-11; 2 Tm 3.14-17; 2 Pe

1.20-21; Ap 22.18-19).

atender necessidades distintas que surgem no serviço da obra do Senhor (1 Co 12.7,11; 14.26-33).

A Bíblia é a revelação especial constituída em única regra infalível de fé e prática (Sl 19.7-11; 2 Tm 3.14-17;

2 Pe 1.20-21).

Os dons chamados de “revelação” devem estar sob a autoridade absoluta e normativa da Bíblia (1 Co 14.37-

38), sempre sob exame bíblico.

Conclui-se que os dons de revelação são fundamentados, normatizados e submissos às Escrituras. Os

dons de revelação são de uma “revelação subordinada e secundária à revelação especial atestada nas Escrituras”9. E, além disso, esses dons são úteis e suprem necessidades reais pelo poder do Espírito.

3. OS DONS DE REVELAÇÃO: Breve Descrição Bíblica e Teológica. Os “dons de revelação” tratam de um tipo de iluminação espiritual distinta e restrita, operada pelo

Espírito Santo no e através do crente. Por meio desses dons, são tornadas manifestas situações que não poderiam ser conhecidas de outra forma e cuja revelação são fundamentais para o bom andamento da obra do Senhor e edificação da Igreja.

Esses dons de revelação podem ser abusados, ou pela falta de entendimento bíblico, ou com propósitos espúrios e/ou com falsificações. Em todo o caso, se mal exercidos na Igreja, esses dons podem provocar confusão, em vez de solução; causar mais ignorância, em vez de entendimento; e provocar destruição, em lugar de edificação. As consequências negativas provocadas pelo abuso das coisas espirituais são sempre mais graves e incalculáveis.

Os tipos de mensagens que esses dons de revelação trazem não devem ser considerados frutos de

qualquer tipo de capacidade humana; antes, são resultados da ação direta do Espírito Santo. Nesses três dons, as mensagens são proferidas sob a ação capacitadora do Espírito Santo; assim, trata-se “de uma condição procedente de uma iluminação mais elevada”10, ou seja: a capacidade manifestada está muito além de qualquer capacidade humana. Vêm do e pelo Espírito.

Note mais uma vez, a distinção elementar desses três dons espirituais: pelo Espírito Santo, trazem mensagens verbais/faladas que manifestam o “saber de Deus” sobre algo que não poderia ser conhecido de outra forma. Logo, a ênfase desses dons da sabedoria, do conhecimento e discernimento de espíritos está na manifestação da mensagem verbal. Eles são manifestados, quando a mensagem verbal é proferida. Nas palavras de Rodman Williams:

Os dons não são a sabedoria e o conhecimento, mas a fala ou a mensagem de sabedoria e conhecimento. Sabedoria e conhecimento são os conteúdos do dom; no entanto, o próprio dom não é sabedoria ou conhecimento, mas a declaração disso11.

A ênfase desses dons está na concessão de uma mensagem revelada para ser proferida e fornecer os

conhecimentos necessários para o crente e a Igreja. Assim, não é que é dado a sabedoria, o conhecimento e a capacidade de discernimento de modo pleno e absoluto para um crente; o que o Espírito Santo faz é conceder, em determinada ocasião e momentaneamente, uma mensagem que revela sabedoria e conhecimento divino e que deve ser proferida.

Isso posto, é importante fazer uma breve descrição desses três dons de revelação:

9 WILLIAMS, J. Rodman. Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo, SP: Editora Vida, 2011, p.37. 10 HERMAN, Olshausen apud WILLIAMS, ibid., p.661. 11 WILLIAMS, ibid., p.667.

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Dom Espiritual Descrição

Palavra da sabedoria

Por meio desse dom, o Espírito Santo traz uma mensagem cuja sabedoria supre suficientemente para as resoluções de dificuldades e problemas extraordinários que podem surgir na vida do crente, da Igreja, obra de proclamação do Evangelho e plantação de novas igrejas. Jesus prometeu que seu Espírito auxiliaria seus discípulos quanto ao que responder e dizer diante de situações dificílimas (Mt 10.17-20; Lc 21.14-15; At 4.8). Trata-se de “‘um modo sábio de falar’ ou ‘falar sabiamente’. ‘Em uma situação difícil ou perigosa, uma palavra de sabedoria pode solucionar a dificuldade ou silenciar o oponente’”12. “Não se deve confundi-lo, portanto, com a sabedoria num sentido amplo e geral. Não depende da habilidade cultural humana de solucionar problemas, pois é uma revelação do conselho divino”13. Exemplo bíblico: O CONCÍLIO EM JERUSALÉM. A difícil questão que levou os apóstolos a reunirem o concílio em Jerusalém foi resolvida por meio da sabedoria dada pelo Espírito Santo (At 15.1-29). Os lados opostos, com suas visões opostas, diante de um grande problema, que dizia respeito à expansão do Evangelho entre os gentios, foram suplantados pelo conselho da sabedoria divina (At 15.28).

Palavra do conhecimento

Por meio desse dom, o Espírito Santo traz uma mensagem que manifesta um certo tipo de conhecimento sobre determinadas situações que, de outra forma, ficariam desconhecidos. “Através deste dom, segredos do mais profundo do coração são revelados, enquanto que obstáculos ao desenvolvimento da Igreja são manifestos, e desmascarada toda e qualquer hipocrisia”14. Exemplo bíblico: O CASO DE ANANIAS E SAFIRA. A Igreja primitiva estava caracterizada por fé, verdade e amor (At 4.32); contudo, Ananias e Safira, voluntária e intencionalmente menosprezaram o caráter do Espírito Santo na vida deles e da Igreja, levando adiante um plano de engano e autopromoção. Esse plano secreto racionalizou o pecado; foi um pecado obstinado contra o Espírito Santo da Verdade e contra a unidade da Igreja. Assim, essa situação oculta, que manchava a pureza inicial da Igreja e tinha grande potencial contaminador, foi trazida à tona, quando o Espírito Santo usou o apóstolo Pedro com uma mensagem que revelava ao conhecimento público o que tinha sido praticado em secreto (At 5.1-11). Foi dada uma resposta ao problema e houve a promoção do Evangelho (v.11-12).

Discernimento de espíritos

Por meio desse dom, o Espírito Santo traz uma mensagem que deixa em evidência o tipo de espírito, intenção e/ou a natureza do que está por trás de determinado fato e situação. Toda a expressão está no plural “discernimentos de espíritos”, indicando que esse dom se manifesta de muitas formas para a percepção dos muitos tipos de espíritos (humano e demoníaco). Assim, o Espírito Santo concede “uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de satanás e dos espíritos malignos”15, bem como dos ímpios.

12 PALMA, Anthony. 1 Coríntios. In.: ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento: vol. 2: Romanos – Apocalipse. 1ª ed. 4ª reimp. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019, p.209 (p.206-260). 13 OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de. Ibidem, p.134. 14 OLIVEIRA, id. 15 LIM, David. Ibidem, p.475.

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Exemplo bíblico: DISCERNINDO ESPÍRITOS ÍMPIOS E MALIGNOS. Atos 8.9-23 registra um exemplo sobre o discernimento da operação de espírito ímpio humano. Em Samaria, o recém-convertido Simão estava agindo, movido puramente por seu espírito carnal de orgulho, egoísmo e avareza, ao tentar obter para seu próprio uso as coisas espirituais. E, Atos 16.16-18 registra a tentativa de demônios de se associarem à obra missionaria dirigida pelo apóstolo Paulo, criando embaraço ao Evangelho na cidade de Filipos. Em ambos os casos, o Espírito Santo capacitou seus servos a discernirem e repreenderem os espíritos enganosos.

É importante notar que as operações do Espírito Santo são dinâmicas e múltiplas; de modo que essas

descrições bíblicas servem como bases de fundamentação e orientação; mas, não são exaustivas e nem devem ser consideradas como imposições que limitam as ações espirituais legítimas na Igreja.

4. CONCLUSÃO – Princípios Reguladores dos Dons de Revelação. A completude e fechamento do cânon bíblico do Antigo e Novo Testamento é uma realidade que

impõe a suprema e absoluta autoridade divina das Escrituras: “Cremos na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (2 Tm 3.14-17)”16. Esse fato doutrinário é essencial e fundamenta os princípios reguladores para o exercício dos dons de revelação na Igreja.

É importante enfatizar os seguintes princípios bíblicos que regulam os dons espirituais de revelação:

1) São dons cujas mensagens estão subordinadas ao exame bíblico. A atualidade dos dons de revelação deve ser cultivada diante da autoridade divina das Escrituras, que é a regra autoritativa e normativa de fé e prática. Toda mensagem proferida, por meio desses dons (da sabedoria, do conhecimento e de discernimento de espíritos), deve ser considerada secundária, diante do que Deus já falou e continua a falar na Bíblia. Desse modo, essas mensagens devem ser recebidas com equilíbrio e sempre à luz das verdades bíblicas.

2) São dons cujas concessões não criam “super-crentes”. Esses dons de revelação não devem ser tomados como se fossem critério de maior espiritualidade ou de superior sabedorias e conhecimentos espirituais. Absolutamente não! Um crente que, por graça divina, for usado com a manifestação de um desses dons não deve considerar a si mesmo como superior aos seus irmãos e a seus líderes, não deve querer dar “consultoria espiritual” em assuntos de noivado, casamento, profissão, investimentos e outras questões do cotidiano. Isso é grave pecado, com consequências indefinidas. No que diz respeito aos dons espirituais, os crentes são canais por meio dos quais manifesta-se o poder do Espírito Santo de forma momentânea, extraordinária e para o que for útil.

3) São dons extraordinários para necessidades extraordinárias. O Espírito Santo concede esses dons para atender a necessidades decorrentes do desenvolvimento da obra do Senhor. Os dons espirituais são manifestados no contexto das necessidades espirituais que surgem na obra de edificação e proclamação do Evangelho. Não são capacidades a serem manifestadas todos os dias e para situações banais; não são os crentes quem escolhem em quais situações esses dons devem ser manifestados. A soberania é do Espírito Santo. Ele é quem decide quando e para o

16 1º artigo de fé do CREMOS das Assembleias de Deus no Brasil.

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quê; Ele escolhe a quem conceder uma manifestação de mensagem de sabedoria, conhecimento e/ou discernimento de espíritos. É preciso confiar e estar aberto à soberania do Espírito Santo.

4) A prioridade cristã é cultivar o conhecimento dos princípios e verdades bíblicas. A Bíblia é suficiente para a salvação, para santificar e capacitar o cristão, segundo a boa e perfeita vontade de Deus. As Escrituras comunicam, de forma perfeita e segura, verdades inteligíveis que devem ser conhecidas e obedecidas todos os dias, de modo ordinário e a todas as áreas da vida. Essa é a necessidade mais elementar da vida cristã: conhecer a Verdade (Dt 4.1-2; 6.1-9; 32.47; Sl 19.7-11; Jo 17.17; 2 Tm 3.14-17; Tg 1.18-25; 1 Pe 1.22-25; 2 Pe 3.17-18; Ap 22.6-7,18-19). Conquanto a prioridade diária do cristão seja conhecer a Bíblia, quanto aos benefícios vindos dos dons espirituais de revelação, é preciso confiar na soberania do Espírito Santo. É preciso descansar nas Escrituras e na fiel direção do Espírito Santo, que, na sua soberania e sabedoria, sabe quando auxiliar seu povo com a concessão dos dons espirituais.

O Espírito da Verdade não deixa seu povo no engano e confusão. Verdade, orientação e proteção

fazem parte do ministério do Espírito na Igreja e os dons de revelação são apenas alguns dos meios pelos quais Ele opera!

APOIO:

Comissão de Educação da CEADEMA

Conduzindo a Educação Através do Reino