Super et al
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Módulo 7
A teoria do espaço e do curso de vida da carreira de Donald
Super
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• Super sublinha que não propôs uma teoria do desenvolvimento
da carreira, mas vários segmentos teóricos que uma futura teoria
da carreira deveria integrar.
•Entre os segmentos que contemplou salientam-se os
relacionados com os aspetos diferenciais, desenvolvimentistas,
sociais e fenomenológicos do comportamento vocacional.
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Síntese da teoria
• A escolha de uma ocupação é um processo que se desenrola
ao longo do tempo e não um acontecimento estático e pontual.
• A ênfase é colocada na continuidade do desenvolvimento
humano e incide na progressão da escolha, entrada,
adaptação, e transição para uma nova escolha através de todo
o ciclo de vida.
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Premissas/proposições fundamentais (14)1. As pessoas diferem em termos das suas capacidades e personalidades,
necessidades, valores, traços e autoconceitos.
2. As pessoas estão qualificadas, por virtude dessas características, cada uma
para um certo número de ocupações.
3. Cada profissão requer um padrão característico de capacidades e de traços de
personalidade, com níveis de tolerância suficientemente amplos, por forma a
permitir uma certa variedade de ocupações para cada indivíduo assim como
alguma variedade de indivíduos em cada ocupação.
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4. As preferências e as competências vocacionais, as situações nas
quais as pessoas vivem e trabalham, e portanto os seus
autoconceitos modificam-se com o tempo e as experiências, embora
os autoconceitos enquanto produtos da aprendizagem social sejam
crescentemente estáveis desde o final da adolescência e durante os
anos da vida adulta, providenciando dessa forma alguma
continuidade nas escolhas e na adaptação.
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5. Este processo de mudança pode ser sumariado numa série de estádios de vida
(um “maxi-ciclo”) caracterizado como uma sequência de Crescimento,
Exploração, Estabelecimento, Manutenção e Descompromisso, e estes
estádios podem por sua vez subdividir-se em períodos caracterizados por
tarefas de desenvolvimento. Um ciclo menor (mini) tem lugar durante as
transições de carreira de um estádio para o seguinte ou em cada vez que a
carreira dos indivíduos é desestabilizada por doença ou incapacidade, redução
da força do trabalho pelo empregador, mudanças sociais nas necessidades de
recursos humanos, ou outros acontecimentos sócio-económicos ou pessoais.
Estas carreiras instáveis ou de ensaio múltiplo envolvem a reciclagem de novo
crescimento, re-exploaração, e re-estabelecimento.
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6. A natureza do padrão da carreira - isto é, do nível ocupacional
atingido e da sequência, frequência e duração de empregos de ensaio
e estáveis – é determinado pelo nível sócio-económico parental do
indivíduo, capacidade mental, educação, habilidades, características
da personalidade (necessidades, valores, interesses e autoconceitos),
maturidade da carreira e pelas oportunidades às quais está exposto.
7. O sucesso para enfrentar as exigências do ambiente e do organismo
inserido nesse contexto em qualquer um dos estádios de vida,
depende da prontidão (readiness) do indivíduo para lidar com essas
necessidades (isto é, da sua maturidade de carreira).
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8. A maturidade de carreira é um construto psicossocial que denota o
grau de desenvolvimento vocacional de um indivíduo ao longo do
contínuo dos estádios de vida e dos subestádios do Crescimento até
ao Descompromisso. De uma perspetiva social, a maturidade da
carreira pode definir-se operacionalmente através da comparação das
tarefas de desenvolvimento que estão a ser encontradas com aquelas
esperadas com base na idade cronológica do indivíduo. De uma
perspetiva psicológica, a maturidade da carreira pode definir-se
operacionalmente comparando-se os recursos de um indivíduo, tanto
cognitivos como afetivos, para lidar com uma tarefa atual com os
recursos necessários para dominar essa tarefa.
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9. O desenvolvimento ao longo dos estádios de vida pode ser guiado,
em parte facilitando a maturação das capacidades, interesses, e
recursos de coping e em parte ajudando no teste da realidade e no
desenvolvimento dos autoconceitos.
10. O processo do desenvolvimento da carreira é essencialmente o de
desenvolver e o de implementar os autoconceitos ocupacionais. É um
processo de síntese e de compromisso no qual o autoconceito é um
produto da interação das aptidões herdadas, da constituição física,
oportunidade para observar e para desempenhar vários papéis, e das
avaliações da extensão em que os resultados do desempenho de
papéis vão ao encontro da aprovação dos supervisores e dos pares.
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11. O processo de síntese ou de compromisso entre o indivíduo e os fatores
sociais, entre os autoconceitos e a realidade, é um processo de desempenho
de papéis e de aprendizagem com retro-informação, quer o papel seja
desempenhado em fantasia, na entrevista de consulta, ou em atividades da
vida do dia-a-dia como nas aulas, clubes, trabalho em tempo parcial, e em
empregos iniciais.
12. As satisfações com o trabalho e as satisfações com a vida dependem da
extensão em que um indivíduo encontra saídas adequadas para as
capacidades, necessidades, valores, interesses, traços da personalidade, e
autoconceitos. As satisfações dependem do estabelecimento num tipo de
trabalho, uma situação de trabalho, e um modo de vida no qual uma pessoa
pode desempenhar o papel que as experiências de crescimento e de
exploração levaram a considerar congénitas e apropriadas.
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13. O grau de satisfação que as pessoas atingem no trabalho é proporcional ao
grau em que elas foram capazes de implementar os autoconceitos.
14. O trabalho e a ocupação providenciam um ponto focal para a organização da
personalidade da maioria dos homens e das mulheres, embora para alguns
indivíduos este foco seja periférico, incidental, ou mesmo inexistente. Então
outros focos, tais como atividades de tempos livres e domésticas, podem
revelar-se centrais. Tradições sociais, tais como estereótipos e modelos
relacionados com os papéis sexuais, enviesamentos raciais e étnicos, e a
estrutura de oportunidades, assim como as diferenças individuais são
determinantes importantes das preferências para tais papéis como os de
trabalhador, estudante, usuário de tempos livres, casa e família, e cidadão.
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Espaço da Vida, Curso da Vida e o Self
• A teoria do espaço de vida e do curso de vida estabelece uma junção
entre a psicologia dos estádios de vida (psicologia do
desenvolvimento) a teoria dos papéis sociais (sociologia), e a
fenomenologia (relativa ao papel do self no comportamento), desta
forma oferecendo uma imagem compreensiva das carreiras com
múltiplos papéis, conjuntamente com os seus determinantes e
interações.
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Espaço da Vida, Curso da Vida e o Self
•Para disponibilizar essa imagem graficamente, Super criou o Arco-
Íris da Carreira.
•O arco-íris tem duas dimensões primárias, curso da vida e espaço
da vida, ou abreviadamente, tempo (dimensão longitudinal) e espaço
(dimensão latitudinal).
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Espaço da Vida, Curso da Vida e o Self
•A dimensão respeitante ao espaço da vida revela os “teatros” e os
papéis da vida. Ou seja, preocupa-se com a descrição e a
interpretação da situação social na qual vive o indivíduo.
•A dimensão longitudinal, o curso da vida, descreve os estádios da
vida e delimita-os de modo a que estes coincidam com a infância,
adolescência, adultez, meia idade e a velhice. A dimensão temporal
adiciona uma perspetiva desenvolvimental que incide sobre o modo
como as pessoas mudam e como fazem as transições à medida que
se preparam, envolvem e refletem sobre os seus papéis de vida,
especialmente sobre o papel de trabalho.
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Espaço da Vida, Curso da Vida e o Self
•O integrador da experiência, o self é o terceiro segmento da teoria.
Os autoconceitos permitem dar conta da perspetiva subjetiva do
indivíduo acerca da sua carreira e suplementar as perspetivas
objetivas (identidade vocacional) dos seus valores, interesses e
talentos ocupacionalmente relevantes.
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Espaço da Vida
• Representado como a dimensão vertical do arco da carreira, o espaço da vida
providencia a dimensão referente ao contexto na teoria, denotando as
constelações das posições sociais ocupadas e dos papéis desempenhados por
um indivíduo.
• O papel do Trabalho, apesar de ser um papel crítico na sociedade
contemporânea, é apenas um entre os muitos papéis que um indivíduo ocupa.
Ou, na expressão dos proponentes da teoria:
“Enquanto ganham a vida, as pessoas vivem uma vida”
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Espaço da Vida• Os múltiplos papéis do indivíduo interagem modelando-se reciprocamente. Os
indivíduos tomam decisões acerca do comportamento no papel de trabalho, tais
como escolhas ocupacionais ou grau de compromisso organizacional, adentro
das circunstâncias impostas pela constelação das posições sociais que dão
sentido e direção às suas vidas.
• Três conceitos importantes acerca do espaço da vida: Estrutura da Vida (o
arranjo dos elementos sociais que constituem a vida num padrão de papéis
centrais e periféricos); Interações de Papéis (A descrição das interações entre
os papéis. Estas podem ser extensas ou mínimas, de suporte, suplementares,
complementares ou neutras) e Redesenho da Vida (A ocasião para o
redesenho pode ser previsível [transição escola-trabalho] ou imprevista,
desenvolvimental ou traumática[desemprego involuntário]).
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Curso da Vida• A estrutura da vida uma vez estabelecida não é estática; percorre um curso
desenvolvimental e necessita de ser redesenhada. Para dar conta das séries de
decisões e das mudanças previsíveis na estruturação da vida ao longo do
tempo, Super desenvolveu o segmento do “curso da vida” ou a perspetiva
desenvolvimental sobre a carreira de um indivíduo no papel do trabalho.
• Este segmento incide sobre o desenvolvimento da carreira – o curso da vida de
adaptação ao trabalho e às condições de trabalho. Graficamente o curso da
vida é representada na banda exterior do arco-íris da carreira e contempla os
principais estádios da vida, a sua sequência normal mas não invariável e as
idades aproximadas da sua localização: Crescimento ou infância, Exploração
ou adolescência, Estabelecimento, ou jovem adultez, Manutenção ou média
adultez, e Descompromisso ou idade avançada.19
Curso da Vida• O nome de cada estádio indica qual é a principal tarefa do estádio da
vida. Todavia, cada uma destas tarefas principais pode subdividir-se
em três ou quatro tarefas de desenvolvimento importantes, estas
podem definir-se como expectativas sociais acerca de como preparar-
se para o trabalho, como envolver-se neste e, ainda, refletir sobre
como ter uma produtiva vida de trabalho. A estas tarefas de
desenvolvimento podemos fazer corresponder outras tantas etapas,
que estão esquematizadas no modelo da “escada da carreira” (Super,
1990).
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Curso da Vida (O maxi-ciclo)
Crescimento
• Durante o estádio do crescimento (0-14 anos) começa a desenvolver-se o
autoconceito vocacional da criança através de múltiplos processos, tais como a
identificação. Este estádio inclui quatro tarefas de desenvolvimento: começar a
preocupar-se com o futuro, aumentar o controlo pessoal sobre a própria vida,
convencer-se da importância de ter sucesso na escola e no trabalho, e adquirir
hábitos e atitudes competentes de trabalho. Embora as necessidades
expressas através das fantasias sejam importantes numa idade mais precoce
deste estádio, os interesses e as capacidades (durante os anos do primeiro e
do segundo ciclo do ensino básico) vão ganhando progressivamente um papel
predominante.
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Curso da Vida (O maxi-ciclo)
Exploração
• O estádio da exploração (15-24 anos) prolonga-se desde a adolescência ao início da
adultez. Durante este estádio os indivíduos exploram o seu próprio self, os papéis
ocupacionais das outras pessoas, e o mundo do trabalho. Fontes de dados sobre o
autoconceito vocacional são os contactos com os outros, atividades, experiências, e o
desempenho de papéis na casa, na escola e no trabalho a tempo parcial. De início as
escolhas ocupacionais são experimentais e ensaiadas na fantasia, nas conversas com os
outros e através da experimentação de papéis. Na fase de transição as considerações da
realidade tornam-se mais importantes à medida que o jovem procura implementar o
autoconceito vocacional. Segue-se um período destinado ao ensaio da implementação do
autoconceito na ocupação escolhida. Cristalização, especificação e implementação da
escolha vocacional são as principais tarefas deste estádio.
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Curso da Vida (O maxi-ciclo)
Estabelecimento
• Durante o estádio do estabelecimento (25-44 anos) podem advir problemas
relacionados com os ensaios e a “deambulação” enquanto o jovem adulto
procura ganhar um autoconceito vocacional seguro. Podem existir mudanças de
empregos, que podem conduzir à descoberta por parte da pessoa da sua vida
de trabalho ou serem precursoras de uma série de novos empregos. À medida
que o autoconceito fica mais firme, assiste-se a um esforço para avançar e para
estabelecer um lugar seguro no mundo do trabalho. Este estádio requer que se
cumpram as tarefas de estabilização, consolidação e avanço na posição
ocupacional.
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Curso da Vida (O maxi-ciclo)
Manutenção
• No estádio da manutenção (idade 45-64) o indivíduo provavelmente estará bem
estabelecido no plano do seu self vocacional e a tarefa crucial poderá ser
menos a de abrir um novo caminho do que a de preservar com sucesso um
autoconceito existente. Todavia, podem surgir novos desafios. A questão da
meia idade - “Quero continuar a fazer isto durante os próximos vinte e cinco
anos?”- pode impor-se com insistência. Geralmente, o estádio de manutenção
(Savickas, 2002, propõe que mudemos o nome para “management”) é um
período de fruição e de autorealização. Todavia, para aqueles que não
conseguiram estabilizar numa ocupação adequada, o estádio de manutenção
pode ser vivido como uma frustração. Este estádio inclui as tarefas de
desenvolvimento de conservar, de cuidar e de inovar. 25
Curso da Vida (O maxi-ciclo)
Descompromisso
• O estádio de descompromisso (anteriormente denominado de declínio) (idade
superior a 65 anos) envolve as tarefas de desenvolvimento da carreira de
desaceleração, planeamento da aposentação, e vida como aposentado. Este
estádio caracteriza-se por um abrandamento dos processos físicos e mentais e
uma diminuição energia. A tarefa principal é, provavelmente, adaptar-se a um
novo self através das mudanças no autoconceito existente, preparando-se para
a assunção de novos hábitos de vida. No período de desaceleração o indivíduo
pode adotar uma carga mais ligeira e, de um modo geral, mudar os padrões de
trabalho correspondendo ao declínio das capacidades. Trabalhos de tipo parcial
e os “hobbies” podem substituir a ocupação a tempo inteiro.
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Curso da Vida (O maxi-ciclo)
• Embora existam grandes variações na idade da aposentação e na paragem
completa do trabalho, esta tarefa pode ser manuseada construtivamente por
alguns enquanto outros vêem-na como um período de dificuldade e de
desapontamento. O planeamento da reforma será cada vez mais uma tarefa
central que poderá conduzir à separação da ocupação e ao começar de uma
vida de aposentado com os desafios inerentes à organização de uma nova
estrutura de vida e de um novo estilo de vida.
Em suma, o espaço de vida e o curso de vida podem ser usados como
coordenadas com base nos quais poderemos reconhecer o estatuto atual
do indivíduo e a partir dos quais poderemos projetar a sua trajetória de
carreira.
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