SWGE - OBTENDO RESULTADOS TANGÍVEIS E SUSTENTADOS … · 2014. 9. 20. · pendências, prioridades...
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OBTENDO RESULTADOS TANGÍVEIS E SUSTENTADOS COM A OTIMIZAÇÃO DE CONTROLE
REGULATÓRIO
MATHEUS LAGE MIRANDA, DANIEL CODO DE FARIA
Rua Senador Milton Campos, 145, CEP 34.000-000, Vila da Serra, Nova Lima, Minas Gerais
E-mails: [email protected], [email protected]
ROBERTO DIAS AQUINO
Mina de Alegria, s/n, Zona Rural – Cep 35420-000, Mariana, Minas Gerais
E-mails: [email protected]
Abstract During the past 2 years, Vale’s Southeast Iron Department (DIFS) has obtained more than 1 million tons of
iron ore as a result of its control loop management program, in execution at 5 of its main operational units. This pro-
gram represents a pioneering initiative for continuous monitoring of its process control performance by the application
of a robust, long-term methodology focused on improvements opportunities identification and deployment. As of now,
100% of the plants’ control loops have been audited, more than 350 control best practices have been recognised and
replicated and more than 200 advanced control strategies, associated with the traditional PID control, have been i m-
plemented. For that, more than 1900 improvement actions have been executed involving several automation and
maintenance topics. This article discusses the main pillars responsible for the program great success and presents a co n-
solidation of the most relevant results achieved. A case study illustrates the type of tangible result obtained with the ef-
forts, as well as the importance of its long-term sustainability. The program expansion to incorporate advanced process
control systems’ performance monitoring and analyses, other related automation and production assets management
and a broader process performance perspective seem to represent its natural evolution in the near f uture.
Keywords Control loop, process control, process optimization, operational excellence, sustainability .
Resumo Nos últimos 2 anos, a Diretoria de Ferrosos Sudeste (DIFS) da Vale já obteve mais de 1 milhão de toneladas
de minério como resultado do programa de gestão de malhas de controle em execução em cinco de suas principais unida-
des operacionais. Tal programa trata-se de uma iniciativa inovadora de monitoramento contínuo do desempenho do
controle de seus processos, através da aplicação de uma metodologia robusta, de longo prazo, focada na identificação e
viabilização de melhorias. Até o presente momento, 100% das malhas de controle das plantas já tiveram seu desempe-
nho auditado, mais de 350 boas práticas de controle foram mapeadas e replicadas e mais de 200 estratégias ava nçadas de
controle, associadas ao controle PID simples, foram implementadas. Para isso, mais de 1900 ações de melhoria foram
executadas, envolvendo diversas disciplinas de automação e manutenção. Este artigo discute os principais pilares respon-
sáveis pelo sucesso do programa e apresenta uma consolidação dos resultados mais relevantes alcançado s. Um estudo de
caso ilustra o tipo de resultado tangível obtido com o trabalho, assim como a importância de sua sustentabilidade no lo n-
go prazo. A expansão do programa para envolver também o monitoramento e análise de desempenho de sistemas de
controle avançado, a gestão de outros ativos de automação e produção associados, assim como uma visão ainda mais
voltada ao desempenho dos processos propriamente ditos, parece apontar como sua evolução natural num futuro pró-
ximo.
Palavras-chave Malhas de controle, controle de processos, otimização de processos, excelência operacional, susten-
tabilidade.
1 Introdução
A aplicação de programas de gestão de malhas
de controle em detrimento a projetos de otimização
isolados e de curta duração tem se mostrado uma
iniciativa viável para a consolidação da cultura de
melhoria contínua e excelência operacional nas plan-
tas industriais (Torres, 2008). Uma abordagem ade-
quada, que considera os pilares básicos de tecnolo-
gia, pessoas e metodologia (Faria, 2012), não só favo-
rece naturalmente a obtenção de resultados cada vez
mais claros e tangíveis, como também contribui para a
sustentabilidade e perenidade desse tipo de progra-
ma.
Neste tipo de abordagem, o uso adequado das solu-
ções tecnológicas disponíveis, incluindo ferramentas
de avaliação de desempenho de malhas de controle,
PIMS e sistemas de manutenção de instrumentação,
se faz necessário para permitir o monitoramento dos
processos produtivos como forma de verificar se os
objetivos estratégicos definidos estão sendo atingi-
dos. Em relação à estrutura de equipe, conta-se com o
alto comprometimento de um time técnico multidisci-
plinar formado por representantes das principais
áreas de uma determinada planta (automação, proces-
so, operação e manutenção) e especialistas da empre-
sa parceira para diagnosticar as condições operacio-
nais e executar as ações de melhorias mapeadas. Para
garantir uma adequada interação entre a equipe, são
estabelecidas reuniões técnicas periódicas, aumen-
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tando o nível de comprometimento e foco dos envol-
vidos e possibilitando a implantação de ações de na-
tureza complexa que envolvam diversas áreas de es-
pecialização de uma forma mais eficiente. As interde-
pendências, prioridades e impactos de cada ação são
claramente apresentadas e divulgadas para todos do
grupo (Faria, 2012). Combina-se ainda à equipe local
uma visão estratégica que representa uma centraliza-
ção dos esforços individuais de cada planta. Por fim,
a metodologia engloba a execução de ciclos periódi-
cos de melhoria baseados no conceito DMAIC, que
abrange desde o diagnóstico aprofundado até a ava-
liação de resultados, associada a um modelo de go-
vernança que define os objetivos estratégicos, com-
para o desempenho de diferentes plantas e promove
ações de divulgação e compartilhamento de boas
práticas operacionais.
O programa de gestão de malhas de controle em an-
damento nos últimos dois anos nas usinas de con-
centração de minério de ferro da Vale DIFS (Diretoria
de Ferrosos Sudeste) representa a consolidação de
uma metodologia robusta de monitoramento contínuo
do desempenho dos processos e sustentabilidade de
resultados alcançados (Faria, 2012). Este artigo abor-
da a evolução e resultados atualizados deste progra-
ma, envolvendo cerca de mil malhas de controle per-
tencentes a cinco plantas beneficiamento de minério
de ferro localizadas em Minas Gerais, Brasil.
Em relação à organização do artigo, o capítulo 2 apre-
senta a evolução das iniciativas de gestão de malhas,
enquanto que o capitulo 3 é dedicado aos esforços de
sustentabilidade dos resultados obtidos ao longo do
trabalho. Por fim, no capítulo 4 discutem-se os próxi-
mos passos e a visão de futuro do programa.
2 Iniciativas de Gestão de Malhas
A definição de ciclos operacionais e estratégicos,
cuja duração típica é de três meses, representa a base
metodológica que estrutura os esforços contínuos
para a identificação oportunidades de melhoria, exe-
cução de análises e ações corretivas priorizadas e
sustentabilidade dos resultados alcançados. A Figura
1 ilustra o conceito básico das frentes de trabalho
operacionais e estratégica implantadas (Faria, 2012),
mostrando que os ciclos de melhoria operacional são
executados em cada planta, enquanto que o ciclo es-
tratégico supervisiona e direciona a execução dos
ciclos operacionais.
Figura 1- Ciclos de melhoria e equipes operacional e estratégi-
ca
O ciclo estratégico tem como suas atribuições bás i-
cas: direcionar os recursos locais, prover suporte
técnico especializado quando necessário, promover
ações de replicação de melhores práticas e resultados
para as demais plantas e ainda garantir a correta di-
vulgação do status do programa aos seus stakehol-
ders. A seguir, são apresentadas as principais inicia-
tivas implantadas no programa de gestão de malhas
como forma de evidenciar os resultados técnicos al-
cançados até o presente momento.
2.1 Monitoramento contínuo do desempenho das
malhas de controle
O monitoramento do desempenho das ma-
lhas de controle é feito por meio de um software dedi-
cado, selecionado pela própria Vale, que possui fer-
ramentas para avaliação de desempenho, identifica-
ção de problemas e sintonia de parâmetros de contro-
ladores. A partir da coleta automática e armazenamen-
to de dados de malhas de controle, indicadores chave
de desempenho (KPIs- Key performance indicators)
são calculados para se atribuir uma “nota” para cada
malha. A partir do agrupamento das malhas, são cal-
culadas as notas de cada unidade operacional, planta,
etc (Faria, 2012).
A Figura 2 ilustra o acompanhamento da evolução
temporal das notas globais de desempenho das ma-
lhas para as 5 diferentes plantas, mostrando uma vi-
são temporal ao longo dos primeiros 10 ciclos de tra-
balho (de set/2011 a abr/2014). Em função da redução
das notas médias das malhas ao longo dos ciclos de
trabalho, é possível afirmar que houve uma melhoria
progressiva significativa do desempenho das mesmas
durante este período.
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Figura 2: Monitoramento do desempenho de malhas de con-
trole
Estas informações são disponibilizadas no portal
Web da Vale e divulgadas semanalmente aos grupos
de trabalho de cada localidade para promover as dis-
cussões de possíveis ações de melhoria.
Uma boa forma de também visualizar a evolução obti-
da no desempenho das malhas de controle das uni-
dades pode ser feita a partir da comparação de dife-
rentes cenários, conforme mostrado nos gráficos da
Figura 3.
Figura 3 - Comparativo de desempenho das malhas de contro-
le
Interessante observar que, para um mesmo percentual
de malhas em funcionamento (malhas online), houve
melhoria em todos os outros 4 indicadores de desem-
penho utilizados:
• Malhas com desempenho satisfatório: au-
mento de 78% para 93%
• Malhas com erro médio aceitável: aumento
de 66% para 77%
• Malhas sem saturação: aumento de 58% para
66%
• Malhas em automático: aumento de 83% pa-
ra 97%
2.2 Auditoria das malhas de controle
O esforço de auditoria das malhas de controle in-
cluídas no trabalho foi realizado visando, primeira-
mente, classificar as malhas de acordo com a condi-
ção atual de operação para, em seguida, dar visibili-
dade ao cenário global da situação das malhas e a-
companhar a evolução deste cenário com o avanço
dos trabalhos de otimização. A partir do cenário glo-
bal, é possível direcionar esforços para solucionar
problemas críticos e/ou comuns a diversas malhas ou
plantas. As malhas foram classificadas sob os seguin-
tes critérios:
• Malhas em sustentabilidade: Malhas que já
foram otimizadas e apresentam desempenho
satisfatório. As malhas classificadas como
sustentabilidade continuam sendo monito-
radas com o intuito de garantir a continuida-
de do bom desempenho.
• Malhas em andamento: Malhas com ações
de melhoria em andamento, que por sua vez,
podem estar relacionados à manutenção
(problemas relacionados à instrumentação),
otimização (como revisão de estratégias de
controle ou sintonia de controladores) ou
condição de processo (como restrições de
desempenho por distúrbios externos ou ma-
nobras operacionais).
• Diagnóstico não realizado: malhas que ainda
não foram detalhadamente analisadas.
• Malhas offline: refere-se ao número de ma-
lhas que se encontram fora de operação, seja
devido ao comissionamento de novas uni-
dades ou por problemas de infraestrutura de
instrumentação.
A Figura 4 mostra um comparativo do cenário global
de auditoria/diagnóstico das malhas do início dos
trabalho e atual. Esta iniciativa foi implantada em
jun/2012, quando ainda se percebia o predomínio do
grupo de malhas ainda não auditadas (cor vermelha).
Após 8 meses de esforços, em fev/2013, atingiu-se o
patamar onde 100% das malhas já haviam sido audi-
tadas, passando a predominar o grupo de malhas em
sustentabilidade, ou seja, que apresentam desempe-
nho satisfatório. Em abr/2014 (situação corrente
quando da elaboração deste artigo), o comparativo
mostra que houve um expressivo avanço na auditoria
e diagnóstico das malhas, passando a predominar o
grupo de malhas em sustentabilidade. Esta evolução
gradual reforça a importância do foco e do comprome-
timento das equipes envolvidas ao longo dos meses
para se alcançar tal cenário.
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Figura 4 - Condição corrente da auditoria das malhas de con-
trole da Vale DIFS
2.3 Implementação/otimização de estratégias de
controle
Juntamente com a iniciativa de auditoria de
malhas, vem sendo realizado o mapeamento e docu-
mentação das estratégias de controle projetadas para
as malhas de controle auditadas. Dessa forma, objeti-
va-se conhecer o cenário global das principais estra-
tégias como forma de identificar melhores práticas e
planejar possíveis replicações e/ou padronizações em
diferentes plantas. A Figura 5 mostra um comparativo
da evolução da estrutura de controle desde o início
dessa iniciativa (jun/2012) até o momento atual
(abr/2014). Em jun/2012, o controle regulatório, imple-
mentado com o PID simples, representava 81% das
malhas de controle da Vale DIFS. Em abr/2014, esse
mesmo índice caiu para 61% em função do aumento
de 17% para 32% do percentual de malhas implemen-
tadas segundo o controle regulatório ass ociado a
estratégias avançadas (ex: cascata, feedforward, over-
ride, split-range) no mesmo período analisado. Vale
ressaltar que o número de malhas analisadas aumen-
tou ao longo do trabalho.
Há de se destacar ainda a implantação dos chamados
sistemas de controle avançado, como, por exemplo,
MPC, neurofuzzy que atualmente envolvem 5% das
malhas de controle.
Figura 5- Comparativo da evolução da estrutura das malhas de
controle
E convém mencionar que, com o sistema de controle
avançado ativo, as malhas PID convencionais ficam
desativadas. Portanto, estas malhas somente ass u-
mem a manipulação de seus atuadores em momentos
em que o controle avançado estiver desligado. Por
fim, há ainda 2% das malhas que estão implementadas
conforme o controle regulatório (PID simples), porém
seus setpoints são determinados por um sistema es-
pecialista.
A mudança de distribuição da estrutura de controle
de malhas, observada principalmente nas camadas
iniciais de controle regulatório, é um resultado da
implementação e/ou adequação de melhores práticas
de estratégias de controle para o processo produtivo
da Vale. Por utilizar a infra-estrutura atual dos siste-
mas de controle, esse tipo de iniciativa é considerada
de baixo custo e é capaz de proporcionar ótimos re-
sultados para o processo produtivo como, por exem-
plo, aumento de estabilidade, redução de paradas da
plantas e redução de variabilidade no processo. A
Figura 6 detalha as estratégias avançadas de controle
associadas ao controle regulatório simples, compa-
rando a evolução deste cenário ao longo do desen-
volvimento do trabalho de otimização de malhas. Ob-
serva-se que o número de estratégias implementadas
aumentou de 163 em junho/2012 para 488 em
abril/2014, o que pode ser atribuído às iniciativas de
mapeamento de oportunidades de melhoria e de di-
vulgação e replicação de boas práticas de controle,
conforme exemplificado na Figura 7.
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Figura 6 - Evolução da implementação de estratégias de con-
trole
A Figura 7 ilustra algumas das boas práticas de estra-
tégias de controle mapeadas para as diferentes plan-
tas, destacando individualmente o quantitativo de
itens mapeados e o respectivo percentual de conclu-
são. Destaca-se ainda que até abril/2014, já haviam
sido mapeadas mais de 350 boas práticas de estraté-
gias, das quais aproximadamente 75% foram concluí-
das.
Figura 7 - Mapeamento e replicação de boas práticas de estra-
tégias de controle em cada planta industrial
2.4 Execução e acompanhamento das ações de me-
lhoria
Uma das principais iniciativas de Gestão de Malhas
se refere ao levantamento e execução de ações de
melhoria. Primeiramente, nas fases de definir, medir e
analisar do ciclo DMAIC, são realizadas atividades de
diagnóstico de malhas e de processo, reuniões e
workshops para levantamento e validação de ações
de melhoria. Na sequência, inicia-se a fase de imple-
mentação, na qual novas estratégias de controle são
implementadas, malhas de controle PID são reajusta-
das, instrumentos de campo são calibrados, os pro-
blemas de instrumentação de campo são corrigidos e
até mesmo novos procedimentos operacionais são
estabelecidos. A inclusão e o acompanhamento des-
sas ações são feitos por meio de um plano de ação
padronizado, onde qualquer item crítico pendente é
monitorado e escalado se necessário. Para isso, todas
as oportunidades levantadas durante as reuniões são
registradas no plano de ação, além de revisar e atuali-
zar o cronograma de trabalho, prazos e recursos ne-
cessários para cada item listado (Faria, 2012).
Estatísticas do progresso dos planos de ação são
periodicamente preparadas para fornecer uma visão
geral e possibilitar o direcionamento estratégico das
ações, esforços e/ou recursos pelo patrocinador do
projeto para uma determinada planta, como ilustrado
na Figura 8. O gráfico superior da figura mostra a evo-
lução do percentual acumulado de conclusão das
ações de melhoria ao longo dos meses. Em abril/2014,
mais de 1900 ações de melhoria de processos haviam
sido mapeadas, sendo que 83% haviam sido concluí-
das. Já o gráfico inferior mostra a evolução temporal
do quantitativo de ações em aberto (backlog) bem
como o número de novas ações mapeadas e ações
concluídas. Nota-se neste gráfico a tendência de es-
tabilização do backlog em aproximadamente 200 a-
ções, cuja causa pode ser atribuída principalmente as
ações pendentes relativadas à revitalização da ins-
trumentação e/ou do sistema de controle. Importante
comentar também a dinâmica observada nos primeiros
meses do gráfico, gerada pelo grande esforço inicial
de consolidação e padronização das configurações
do sistema de monitoramento do desempenho das
malhas, estruturação da equipe de trabalho e forte
identificação de novas oportunidades. Além disso,
por este gráfico é possível também perceber o aumen-
to de produtividade (número de novas ações mapea-
das e número de ações concluídas) com o aumento da
equipe dedicada ao projeto. Durante os meses de
Nov/2012 a Jan/2013, por demanda da Vale, a equipe
em campo da empresa parceira foi praticamente do-
brada, incluindo até mesmo profissionais mais experi-
entes. Isso gerou o salto significativo observado na
produtividade geral da equipe.
Em relação ao tipo de ações mapeadas, a Figura 9
destaca que a maior parte das ações são direcionadas
para manutenção (instrumentação e atuadores) com
34% ou estão relacionadas a estratégias de controle,
sintonia de controladores ou melhorias nas lógicas de
programação com 45%.
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Figura 8 - Monitoramento das ações de melhoria
Figura 9 - Distribuição de ações conforme o tipo
3 Sustentabilidade dos resultados alcançados
Uma vez finalizada a execução das ações
previstas, deve-se verificar se o resultado esperado
foi obtido. A comprovação do resultado pode não ser
imediata e dependendo do tipo de ação pode ser ne-
cessário acompanhar o desempenho do processo por
alguns dias ou semanas para se chegar a uma conclu-
são. Em geral, adota-se uma abordagem de classifica-
ção dos resultados em resultados técnicos (associa-
dos às variáveis operacionais da planta) e resultados
de negócio (associados a valores financeiros). Espe-
ra-se atingir uma melhoria no resultado técnico em
função das ações realizadas, sendo que em alguns
casos, é observado que uma melhoria de resultado
técnico contribui para a obtenção de um resultado de
negócio. Uma vez comprovado e validado um resulta-
do tangível, passa-se a adotar a abordagem de sus-
tentabilidade, na qual se assume a responsabilidade
pela atualização periódica e monitoramento contínuo
visando garantir que tal resultado se sustente ao lon-
go do tempo dentro de limites aceitáveis de controle.
Tipicamente, a implementação de melhoria operacio-
nal por si só não é suficiente para assegurar que os
benefícios esperados sejam mantidos ao longo do
tempo uma vez que o processo produtivo tende a
sofrer mudanças e/ou deteriorar com o tempo (Faria,
2012). Por esse motivo, programas de monitoramento
contínuo são essenciais para atingir resultados sus-
tentados, pois em caso de uma provável ocorrência
de desvios para fora dos limites, inicia-se um esforço
focado de diagnóstico, que busca identificar as cau-
sas dos problemas e mapear as possíveis medidas
corretivas. Dentre as boas práticas de sustentabilida-
de, citam-se: a necessidade de se estabelecer uma
periodicidade adequada para atualização e monitora-
mento dos dados; definição de fluxos de comunica-
ção eficientes para divulgação e alinhamento das in-
formações; definição dos responsáveis para direcio-
namento da análise e das medidas corretivas diante
da ocorrência de desvios de controle; e documenta-
ção e registro de todos os eventos ocorridos que
ajudem a entender e/ou justificar qualquer comporta-
mento da variável de interesse do resultado.
Para exemplificar o processo de sustentabilidade de
resultados, considera-se um estudo de caso onde as
equipes de operação, manutenção e automação priori-
zaram uma oportunidade para estudo de melhoria na
unidade de Britagem da usina de Brucutu. Finalizada a
etapa de análise, foram realizadas diversas ações de
levantamento das condições de equipamentos de
campo, configuração e parametrização de instrumen-
tos, melhoria da lógica de programação e intertrava-
mentos e implementação de estratégias avançadas de
controle visando reduzir o número de paradas do pro-
cesso, que por sua vez, impactava na produtividade
da unidade.
Nos períodos subsequentes ao término da execução
das ações, foi possível observar uma melhoria signifi-
cativa no comportamento de variáveis operacionais
importantes para o desempenho da unidade (grupo de
KPIs técnicos). A Figura 10 ilustra parte do painel de
acompanhamento desses KPIs ao longo do tempo,
sendo que, para cada variável, foram estalecidos limi-
tes inferiores e superiores de controle de referência
em caso de desvios de comportamento. Vale destacar
ainda a inclusão de um gráfico de tendência auxiliar
(gráfico em linha azul) para evidenciar a média de cada
KPI dentro de cada ciclo de trabalho do programa de
otimização. Além disso, KPIs são sinalizados na cor
amarela nos gráficos de acompanhamento para evi-
denciar a ocorrência de desvios e disparar o processo
de análise e verificação das possíveis causas-raiz. O
monitoramento de KPIs técnicos visa garantir que as
variáveis técnicas importantes para o desempenho da
unidade fiquem dentro de limites aceitáveis e anteci-
par uma tendência de desvio antes que tais KPIs im-
pactem negativamente um KPI de negócio.
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Figura 10 - KPIs técnicos do resultado de aumento de produti-
vidade de Britagem
A Figura 11 mostra o monitoramento da variável as-
sociada ao KPI de negócio, que determina o desem-
penho global da unidade. Comparando a média histó-
rica do período anterior com a média observada no
período posterior à implementação das ações de me-
lhoria, observa-se um aumento da produção média
diária da unidade, sendo que desse deslocamento
total, foi capturado um percentual de melhoria de
1,5% devido às otimizações. Vale destacar que para
este resultado, dos 18 meses posteriores ao término
das ações iniciais de melhoria, em apenas 4 meses, a
produção média ficou abaixo do limite inferior de con-
trole, sendo que para todos esses 4 meses, as princi-
pais causas-raiz estavam associadas à disponibilidade
da unidade, o que foi diagnosticado com grande efe-
tividade de forma a assegurar o retorno para a condi-
ção desejada.
Figura 11 - KPI de negócio do resultado de aumento de produ-
tividade da Britagem
Uma visão geral da condição de sustentabilidade dos
resultados tangíveis obtidos pelo programa ao longo
dos 10 ciclos iniciais de trabalho (32 meses) pode ser
visualizada na Figura 12. Importante mencionar que,
dos 21 resultados tangíveis validados, 12 (57%) estão
atualmente sustentados em valores próximos aos va-
lidados imediatamente após o término das ações de
melhoria, 4 (20%) estão fora dos limites aceitáveis,
mas com previsão de retomada no próximo ciclo, s e-
gundo os diagnósticos realizados, e 5 (23%) perderam
sua contribuição, o que é geralmente causado pela
mudança do ponto operacional da planta (exemplo:
grande mudança no teor de alimentação do minério)
para uma nova condição na qual o impacto das ações
de melhoria é menor ou nulo.
Figura 12 - Acompanhamento de sustentabilidade dos princi-
pais resultados
Por fim, a Figura 13 mostra a capitalização dos resul-
tados tangíveis relacionados ao aumento de produti-
vidade das plantas ao longo dos ciclos de melhoria
do trabalho, os quais totalizam atualmente um ganho
de cerca de 1,2 milhão de toneladas de minério de
ferro. Tais quantitativos são (re)calculados ao final de
cada 3 meses (ciclo de melhoria) e revalidados com os
responsáveis da Vale. Importante destacar também
que o ritmo atual de retorno já se encontra próximo a 1
milhão de toneladas de minério de ferro por ano.
Reforça-se que estas e outras iniciativas de sustenta-
bilidade somente são bem sucedidas quando são
consideradas dentro de um programa contínuo e de
longo prazo, onde a metodologia de trabalho está bem
definida e alinhada com a equipe responsável por
conduzir as atividades de melhoria contínua nas plan-
tas industriais.
Figura 13 - Evolução de resultados tangíveis em produtividade
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4 Próximos passos e visão de futuro
O próximo passo mais imediato para o trabalho é a
incorporação de novas unidades produtivas da Vale,
aumentando para aproximadamente 1500 o número de
malhas de controle continuamente monitoradas. O
software já foi atualizado para permitir tal monitora-
mento e se iniciaram os trabalhos de mapeamento de
melhores práticas de controle e isso certamente au-
mentará a demanda de execução de atividades, abrin-
do novas oportunidades para alavancar mais resulta-
dos tangíveis.
Após quase 3 anos de contínuo aprendizado e ama-
durecimento, considera-se que a evolução natural
desse trabalho é a sua expansão para um programa
mais amplo de “Gestão de Controle de Processos”,
que englobe também o monitoramento e análise de
desempenho de sistemas de controle avançado e a
gestão de outros ativos de automação e produção
associados (como instrumentação, sistemas de con-
trole, redes de campo, equipamentos de produção),
com uma visão ainda mais voltada para o desempe-
nho dos processos propriamente ditos. Nesse senti-
do, encontra-se em andamento a iniciativa de acom-
panhamento de indicadores de processo e de malhas
de controle por meio de um portal Web como forma
de disponibilizar e divulgar tais informações para todo
o ambiente corporativo. Além disso, como forma de
complementar esse programa, tem-se procurado de-
senvolver e implantar ferramentas analíticas de análi-
se de condição e problemas do processo produtivo,
que visem ampliar a visibilidade aos dados de variá-
veis de processo e antecipar a identificação e análise
de desvios e sua consequente tomada de decisão
para ações corretivas.
5 Conclusão
Este artigo apresentou o conceito e a evolução de
algumas das iniciativas mais relevantes que compõem
a abordagem de gestão de malhas de controle nos
cinco diferentes sites da Vale DIFS em Minas Gerais.
Mais de mil malhas de controle e suas estratégias
associadas vêm sendo monitoradas e aprimoradas por
uma equipe dedicada em um programa de otimização
de longo prazo, focado na identificação e viabilização
de oportunidades de melhoria de processos.
Um dos fatores de sucesso desse programa está na
continuidade e sustentabilidade do próprio trabalho,
uma vez que existe um grande desafio de manutenção
das equipes focadas no monitoramento contínuo do
desempenho de processos e no constante debate
para se identificar e executar ações de melhoria. Uma
vez que esta estrutura de trabalho esteja funcionando
adequadamente, os resultados tendem a aparecer
naturalmente. São vários os depoimentos pos itivos
das equipes locais, confirmando o engajamento al-
cançado pelo trabalho e a contribuição para a diss e-
minação da cultura de melhoria contínua de fato den-
tro da companhia. Como consequência, os resultados
tangíveis ficam evidentes através da comprovação de
redução de baixa variabilidade do processo, maior
eficiência de manutenção e redução número de inter-
venções manuais, aumento de produtividade e otimi-
zação de consumo de matéria-prima. Ao final do 10º
ciclo de trabalho (32 meses) atingiu-se o patamar de
1,2 milhão toneladas de minério de ferro capitalizadas
ao longo do projeto e mantém-se um ritmo esperado
de aproximadamente 1 milhão toneladas a cada ano.
Agradecimentos
Agradecemos à Vale e à Accenture pela oportunidade
de desenvolvimento deste trabalho inovador e de
grande valor para processo produtivo.
Referências Bibliográficas
Faria, D. C., Miranda, M. L., Aquino, R. D. and Torres,
B. S. (2012). Gestão e Otimização de malhas de
controle em plantas de concentração de minério
de ferro da Vale. 16° Seminário de Automação de
Processos – ABM.
Torres, B. S., Faria, D. C. and Pessali, G. L. A. (2008).
Operational Intelligence Center - The Path for
Operational Excellence, Expertune Users
Conference, Houston, Texas, 23-25 de abril.
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