Tac em cartaz entre a monarquia e a república

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Sumário:

Solicitação de Tombamento do Teatro Álvaro de Carvalho ...................................….… 02

Os quereres do mestre .…...........................................................................................… 02

O fantasma da monarquia ............................................................................................ 03

Depoimento de Mãe Iracema ....................................................................................... 03

Depoimento de Sebastião ............................................................................................ 04

Discreto Charme .......................................................................................................... 05

Depoimento do Tempo .............................................................................................. 05

De Isabel a Carvalho ................................................................................................... 06

Depoimento de João José Coutinho ........................................................................... 06

Depoimento do Doutor Armando Sobrinho .............................................................. 07

O suposto Escândalo ..................................…......………………....……..…………….....…….... 08

Depoimento de Fernando Rocha Pires ………………........................……………………….... 08

Depoimento de Berenice Silva …...…………………….…………………………...................……. 09

À sombra de Medéia ....................……………………………...………………………………………... 10

Depoimento de Lilian ….......……………………………...……………………......……………………... 10

Depoimento de Seu Chico ......................…………………………………………...........………... 11

Depoimento de Cícero ............................................................................................. 12

Depois dos meus quinze anos ................................................................................. 13

Depoimento de Maria das Graças .......................................................................... 13

Depoimento de Umberto Cavalcante ................................................................... 14

Seguindo pela rua de mão única …………………………………………………………............ 15

Indicações da Travessa .......................................................................................... 15

Para participar da Travessa .................................................................................... 17

Ficha Técnica .......................................................................................................... 19

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Assunto: Tombamento do Teatro Álvaro de Carvalho Parecer Técnico: n° 2 Data: julho/87

A cidade de Florianópolis vem sofrendo profundas modificações nas duas últimas décadas quando em nome de um progresso, iniciou-se um processo de desenvolvimento acelerado onde a cada dia a especulação econômica desenfreada, provoca o desaparecimento de pontos importantes na memória da cidade, em prol de construções de serviço ou habitações para a cidade-ilha que cresce. Assim como “desaparecem” as propriedades particulares, as públicas também vão sendo visadas sofrendo riscos de eliminação o que em muitas vezes se caracteriza num erro imperdoável do Poder Público, que pela sua própria natureza tem, digamos, um compromisso com a História, em guardar e preservar ao máximo o seu patrimônio cultural. Inaugurado oficialmente a 7 de setembro de 1875, o Teatro Santa Isabel (que teve seu nome alterado para Álvaro de Carvalho em 02/07/1894) abria um espaço que inicialmente fora concebido como Casa de Espetáculos Teatrais, principalmente. Ao longo de sua história, entretanto, o papel exercido por este espaço cultural ampliou-se numa gama de novas funções que passaram a ser desde apresentações teatrais, salão de bailes, espetáculos circenses e musicais até a função dupla de Cine-Teatro. Além destas atividades exerceu ainda papel de espaço político e administrativo para algumas decisões importantes a nível de Estado. [...] Importante referencial urbano incorporado ao Centro Histórico de Florianópolis, o Teatro Álvaro de Carvalho está inserido em área com sérias transformações urbanas, onde, o largo na sua lateral e a Praça Pereira Oliveira lhe conferem uma escala mais humana permitindo a sua visibilidade na íntegra. Propomos a preservação desse espaço público adjacente, como área de entorno protegida também pela legislação de tombamento. [...] O tombamento do Teatro Álvaro de Carvalho vem a garantir a sua permanência, além de lhe conferir devido valor como espaço cultural consagrado e o reconhecimento de sua importância na vida cultural catarinense.

Maria das Graças Prudêncio Lilian Mendonça Simon

Unidade de Patrimônio Cultural

Florianópolis - Abril de 2011 Travessa em Três Tempos Ano II N° 03

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Os quereres do mestre:

Blusa verde, um boné vermelho e uma mochila azul. Em sua mão, um copo de café preto sem açúcar. Andar sereno. Assim o conheci. Parecia mais uma simples pessoa – até então. Há uma virtude, nas palavras de Camus, perigosa na palavra simplicidade; bem sabia o escritor argelino. A aparência simples revelou uma grande pessoa, um grande artista: Ricardo Corrêa, Cacá. Algumas poucas palavras trocadas e ele, Cacá, o rapaz da blusa verde, boné vermelho e mochila azul, se tornara, desde então, um grande amigo, um grande mestre. Diretor, ator, aderecista, cenógrafo, artista plástico. Bailei na curva, O espantalho, Lá, no fundo do mar. Tantas experiências vividas. “Mas a vida é real e de viés…” escreve Caetano Veloso. E no dia 24 de dezembro de 2010, quando menos se esperava, o mestre Cacá partiu e nunca mais voltou... Num bilhete único, passagem de ida, apenas de ida, ele se foi para entrar na lembrança daqueles que tiveram o imenso prazer de compartilhar com ele alguns momentos. Nós da Revista Travessa em Três Tempos, em nossa terceira edição, prestamos essa singela, mas verdadeira homenagem ao Cacá.

Luccas Neves Stangler.

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O fantasma da monarquia

Já fazia algum tempo que o Teatro Santa Isabel tinha sido praticamente abandonado. Ao

que contam, sua construção foi golpe político do Presidente da Província, João José Coutinho.

Dizem que o presidente estava enrabichado por uma rapariga muito influente no meio dos

intelectuais de Desterro, e a construção do teatro foi artimanha para ganhar de vez o coração

da amada e a satisfação de uma camada da população, que há um tempo, vinha reivindicando

que a modernidade cultural chegasse à capital da província.

O Teatro Santa Isabel foi inaugurado no ano de 1871, e ao que dizem as más línguas, o

caso do Senhor Coutinho terminou tão logo a peça de inauguração do teatro foi estreada.

Parece que a moça tinha dado o seu coração para um tal de Álvaro Augusto de Carvalho. O

homem era um dramaturgo e prometera lançá-la como atriz; mas isso é outra história.

Ao que tudo indica o coração do presidente da província ruiu com o fim de seu amor

proibido, da mesma forma que ruiu a fama do Teatro Santa Isabel. Eu sei disso porque meu

avô era quem fazia a segurança noturna do teatro e por isso era conhecedor de todo esse povo

das artes, inclusive o dito Álvaro de Carvalho. Meu avô contava muitas histórias daquela

construção que, segundo ele, era assombrada.

Parece que desde a inauguração aconteciam coisas estranhas, os espectadores

reclamavam freqüentemente do barulho das cadeiras, dos problemas na iluminação, além da

fumaça dos cigarros e o calor excessivo na platéia. A desculpa era a falta de investimento da

província nas questões culturais. Muitos dos dramaturgos, diretores ou donos de companhias

teatrais tinham que bancar suas despesas com iluminação, entre outros problemas na

manutenção do teatro – se não o fizessem não haveria peça. Mas meu avô, que trabalhava

depois que as cortinas se fechavam e as luzes se apagavam, sabia que o buraco era mais

embaixo. Meu avô via as coisas acontecerem.

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Depoimento de Mãe Iracema

É, seu moço! Eu sou mãe de santo já faz mais de vinte anos e sei muita coisa que acontece entre

o céu e a terra. Vou te contar moço, sou uma pessoa informada! O povo fica falando por aí que

Umbanda é coisa de macumbeiro, mas a verdade é que nós somos gente de respeito. Sobre o

acontecido lá no teatro do centro da cidade, o que tenho pra dizer é que é bem verdade que

aquele prédio era mal assombrado. Sei disso por que meu preto velho me contou que o tal do

Horácio não ia descansar em paz enquanto não apagasse qualquer marca da tal da monarquia

que ele abominava. Parece que o moço conversou com meu preto velho pra ver se ele podia

fazer alguma coisa para resolver a situação, depois que soube daquilo, eu tentei falar com um

senhor doutor muito bem vestido, mas ele só me deu ouvidos depois que o teatro já tinha sido

fechado algumas vezes.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Vovô contava que todas as noites, via um jovem, não muito alto, cabelos escuros que

vestia uma túnica branca e uma calça marrom feita de um tecido um tanto grosseiro. A princípio

pensou que fosse algum desabrigado que aproveitava o teatro fechado para fazê-lo de pouso e

meu avô, que já passou muita necessidade nessa vida, resolveu não incomodar o sujeito. A

popularidade do Santa Isabel ia de mal a pior, não faria diferença se alguém estivesse fazendo

suas dependências de pouso.

Mas o novo inquilino nunca ia embora e também não dava sinais de que pretendia fazê-lo.

Uma situação que para o meu avô parecia temporária foi se arrastando e com medo de que

descobrissem que ele estava deixando gente dormir ali e acabasse sofrendo uma represália,

decidiu tomar uma atitude. Descobriu que se chamava Horácio e que seria muito mais difícil do

que imaginara mandá-lo embora; aliás, não agradara em nada ao inquilino noturno que alguém

o quisesse fora de lá.

Horácio tinha sido poeta e revolucionário em época que não se podia falar contra a

monarquia. Encasquetara que o novo teatro da província merecia um nome melhor do que

“Teatro Santa Isabel”, sendo que este nome fora eleito em homenagem à Princesa Isabel. Não

que Horácio tivesse algo contra a pessoa da princesa, mas como disse meu avô “não podemos

contar com muito revolucionarismo nesse tempo de república”.

As idéias do poeta foram enterradas embaixo da pedra fundamental do teatro, junto com

o seu corpo. E seu espírito se recusava a deixar o prédio sem que seu objetivo em vida fosse

alcançado. Prometera que enquanto o teatro não deixasse de ser Santa Isabel não prosperaria

como estabelecimento cultural de Desterro. Cumpriu com sua palavra e por uns anos o teatro

ficou fechado, até como prisão foi utilizado. Meu avô acompanhou todas essas fases. Mesmo

quando o Santa Isabel estava fechado para o público, ele estava lá para fazer sua ronda noturna.

Hoje dizem que tem um projeto encaminhado para mudar o nome do Santa Isabel para Álvaro

de Carvalho – sugestão do meu avô.

Historieta narrada por Maria Bonita

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Depoimento de Sebastião

Conheço Seu Irineu já é de longa data, sempre fomos muito chegados. O Irineu sempre foi

sujeito trabalhador, e eu prezo por àqueles que não são de moleza; o senhor sabe como estão

esses tempos: ninguém mais gosta de trabalhar nessa vida.

O Irineu passou a vida inteira cuidando daquele teatro que o presidente da província construiu

por causa de sua amante – pelo menos dizem que foi por isso. Mas o que interessa é que meu

amigo sempre foi homem de respeito, cuidava daquele teatro como se fosse a sua própria vida e

acho que foi por isso que ele endoideceu no final de sua vida. Quero dizer, quem é que acredita

que tem um fantasma assombrando seu local de trabalho? Isso pra mim é coisa de quem não

bate muito bem da cabeça e é bem verdade que o Irineu passava todas as noites sozinho

naquele teatro; quando a pessoa fica muito tempo sozinha ta sujeita a imaginar coisa.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Discreto charme

Ontem, charmosa; hoje, no entanto, charmoso. Um discreto charme, se assim me

permitem me apresentar. Tida (ou tido, o que pode fazer muita diferença numa tarde

chuvosa), às vezes, como luxo burguês ou brincadeira dos ociosos – o que discordo -, sou da

era daqueles considerados ‘’sem eira nem beira’’.

Com a certa idade que já apresento e que com orgulho, admito, diversos elogios

dedicados a mim já foram tecidos. Dos mais criativos aos inusitados – ‘’que patrimônio você é’’.

Soube, um a um, retribuí-los com minha dádiva: apresentações à moda teatro de variedades.

Virtudes da experiência, assim vos digo.

Shakespeare, Eurípides, Heiner Muller, Aristófanes, Bertolt Brecht, Cacá Corrêa. Desses

grandes, todos pude conhecer – pelo menos na essência da escrita e da direção. Adaptações;

dessas, das mais diversas, já presenciei. Atuações; das mais controversas já vi. E das brilhantes

também, é claro. Os atores mudaram. Os atores mudam, e o joguete da vida contínua

continua. Repete-se muito, esquece-se tudo, ou quase tudo.

Os anos se passaram... Um dia já fui Santa, creiam nisso. Santa Isabel, melhor dizendo.

Hoje, um pouco mudado, agora tombado, sou Álvaro de Carvalho, um teatro que, como parte

da história e memória da Ilha de Santa Catarina, precisa... lembrar que existe.

Historieta narrada por L.

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Depoimento Do Tempo

Eu faço o mundo girar e vejo as coisas mudarem, através de mim os anos vem e vão. Vi o

nascimento da tragédia e o efeito que ela causava no coração daqueles que a assistiam. Dei vida

aos maiores dramaturgos, os vi sendo agraciados e, por vezes, esquecidos. Vi a comédia se erguer

sobre a sombra de sua irmã mais velha - pobre comédia, por anos foi considerada coisa inferior –

mas encontrou seu espaço. Vi teatros serem construídos, alguns passaram por mim - sempre

imponentes - outros não resistiram a minha ação e tombaram junto com a memória daqueles que

os construíram. Alguns mudaram se adaptando as minhas novas idéias, novos pensamentos, novo

jeito de levar a vida. Outros tentaram permanecer tal como eram; uma reforma aqui, outra ali,

mas sempre retomando àquilo que eram desde o início. Como se quisessem provar que não tenho

influência sobre eles. Não se iluda, eu sempre tenho influência sobre todos.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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De Isabel a Carvalho

Revirando algumas gavetas no quarto de meu avô, deparo-me com uma carta que me

parecia muito velha. Com o intuito de resgatar este documento fiz algumas cópias à mão, já

que máquinas de escrever não entram em casa de desfavorecidos. Eis um trecho da carta:

“É inadmissível, Senhor Presidente João José Coutinho, que a cidade de Desterro não

tenha um entretenimento aos cidadãos desta Ilha. O Senhor bem sabe do meu apoio ao seu

Governo, entretanto como um bom amigo, devo lhe alertar para o descontentamento da classe

nobre da cidade para com o Senhor. O Centro da Cidade está abandonado, e os poucos que

vivem aqui, ameaçam a retirada da ilha caso o Senhor não tome alguma atitude...”

Lendo a Carta, não consegui fazer relação alguma com o meu avô, até porque o nome do

remetente estava comido pelas traças. Entretanto, fui achando outros documentos antigos,

onde o conteúdo continuava político:

“É com imensa alegria que a pequena população de Desterro apóia o Governo do Senhor

Presidente João José Coutinho. Dentre os seus maiores feitos está uma das maiores obras que

os cidadãos desta Ilha já viram: “O Teatro Santa Isabel” - que é um dos motivos do envio desta

Carta. Gostaríamos de contar com a presença do ilustre Presidente desta Província para a

primeira peça que ocor...”

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Depoimento de João José Coutinho

Como todos sabem sou Presidente da Província e tudo o que faço é pensando no bem do povo

de minha amada Desterro. Existe entre nós homens que querem ver meu governo cair, estes não

medem esforços para difamar meu nome espalhando calúnias pela província. Dizem que mandei

construir o Santa Isabel por conta de barganha política, pois meu governo estaria ameaçado. Isso

é um absurdo! O Santa Isabel é uma conquista do povo dessa cidade, as famílias de bem de

Desterro merecem um lugar para se entreterem junto com seus filhos. Mandei construir nosso

glorioso teatro, meus queridos, porque quero ver o povo de Desterro feliz. Por preocupação do

bem estar social de meu povo e não por medo dessa escória que difama meu nome. O Santa

Isabel é uma conquista de cada cidadão de bem desta ilha.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Repentinamente a carta acaba. Então como curioso que sou, busquei informações sobre

este Teatro, e descobri que ele se chama hoje “Álvaro de Carvalho”. Dizem que o nome foi

mudado para apagar os fantasmas da Monarquia. De qualquer modo, analisando estas duas

migalhas de documento, que foram os únicos fragmentos que consegui juntar, deu a entender

que o tal do João José Coutinho usou o Teatro como moeda de troca, para sua fama de bom

governante. Essa malandragem política, eu pensava que era algo atual. Pelo menos o teatro

está de pé e serve de entretenimento pra muita gente. O Senhor Irineu fez radicais mudanças,

e o Teatro nem parece com aquela velharia da Monarquia; agora tem Vitral na escadaria, tela

de artista, uma finura digna de uma República. Pros que dizem que a Ilha é Terra só de

Pescador, enganam-se; e muito.

Historieta narrada por Cevador de Solidões

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Depoimento do Doutor Armando Sobrinho

Aquele João José Coutinho que se diz Presidente da Província só está interessado nas vantagens

que o cargo tem a lhe oferecer. O que dizem é o que o sujeito não dá ponto sem nó, envolveu se

com uma rapariga dada as artes do teatro e resolveu construir o Santa Isabel. A moça ficou

achando que foi por amor a ela que o Senhor Presidente ofereceu um teatro para a cidade, mas

na realidade foi a elite intelectual da ilha que estava reivindicando a construção para continuar

apoiando o governo de Coutinho, e estou falando de apoio financeiro além de apoio político.

José Coutinho quando viu a possibilidade de perder o apoio da elite tratou de construir o teatro

e ainda ganhou o coração da rapariga de lambuja. Pobre moça que ficou achando que a

construção do Santa Isabel foi mérito dos seus olhos cor de mel.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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O suposto escândalo

Excelentíssimo Senhor Governador

Venho tratar de um assunto que tem me deixado de cabelo em pé, é um tal falatório de

que o TAC será tombado, como assim tombar aquela espelunca? Quero saber quem está por

trás desta patifaria, quem é o traidor, quero saber quem é que não quer o progresso de nossa

Ilha, afinal Sr. Governador como ficarão os americanos?

Vossa Excelência sabe, nem preciso repetir, que o que foi negociado ano passado com a

Cia Mcfewill, não pode ser desfeito, só por que um bando de desocupados que só quer saber

de poeira e século XIX, resolveu que é hora de tombar o TAC! Basta! E me responda uma coisa,

o dinheiro que o senhor recebeu para garantir o local que hoje é o TAC como fica? Onde é que

a Mcfewill vai construir o shopping center?

E a minha comissão? Eu não vou devolver nada, que isso fique bem claro! O senhor seu

Governador que se resolva com os gringos! Só digo uma coisa essa história vai dar muito pano

pra manga, creio que uma meia dúzia desses patifes corre sérios riscos de amanhecer com a

boca cheia de formiga e o senhor nem te digo nada, sabes do risco que corre...

Admira-me um homem da sua envergadura política deixar um descabimento desses vir a

público, daqui a pouco vai ter até passeata de gente que não tem o que fazer querendo ver o

TAC tombado. Pergunto: tombado pra quê? Pra preservar o quê? Quem sabe o que é bom pra

Florianópolis somos nós! Nós que temos contato com o Tio San! Até prisão esse teatro já foi,

façam meu favor! Isso é uma palhaçada com a moral de nossa gente, com as boas famílias que

merecem ter um lugar decente pra passear e fazer suas compras e não uma prédio cheirando a

mofo que se diz das artes, mas que no fundo serviu pra escória ficar guardada, essa é a história

que querem legar pras próximas gerações?

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Depoimento de Fernando Rocha Pires

Meu irmão Caio é um sujeito afoito, já andou enviando cartas para o Senhor Governador, o dois

tem uma amizade de alguns anos, mas se continuar desse jeito eu não sei se essa história vai ter

resolução. Tá certo que o governador recebeu uma nota preta pela venda do local da construção

do TAC, mas agora ele está sofrendo uma pressão imensa. Se ele não tombar o TAC vai ser

obrigado a dar boas razões para isso, e suponho que a notícia de que ele vendeu o local de uma

construção considerada patrimônio histórico da cidade às escuras não vai ser uma boa notícia.

Mas se ele não entregar a posse do terreno para a McFewill, ele fica sujeito a romper as relações

amistosas com os norte-americanos por um bom tempo. Eu sinceramente prefiro que aquele

velho teatro seja demolido de uma vez para o bem do progresso e da modernização desta

cidade, mas é uma questão complicada. Certamente uma questão complicada.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Senhor Governador sei que seu papel nessa questão não é nada fácil, porém, esse

envelope que segue anexo com esta carta tem para o senhor um presente ofertado pelos

nossos amigos americanos e, eles pediram para Vossa Excelência agir com a razão nesse

delicado caso, e eu peço ao senhor que tenha compaixão por mim, pela minha família, afinal

tenho um dossiê com todas nossas negociatas a respeito desse caso, o TAC.

Por hora me despeço e aguardo ansioso por sua resposta, mande abraço pra família e

saiba que prezo muito pela nossa amizade, seria uma lástima qualquer ruptura que colocasse

em jogo nossos tão felizes anos de convivência.

Florianópolis 24 de agosto de 1987

Caio Raul da Rocha Pires*

*Carta supostamente escrita ao governador em exercício à época que corria o processo de

tombamento do Teatro Álvaro de Carvalho, esta carta foi encontrada por Francisca

Catarina da Silveira integrante do conselho de preservação do patrimônio histórico de Santa

Catarina no ano de 1988, ano em que o TAC foi tombado. A carta original foi extraviada.

Florianópolis 13 de outubro de 1995

Lavro e dou fé

Santiago Nonato Jr.

(Analista documental da Secretaria de Segurança do Patrimônio do Estado de Santa Catariana)

Carta transcrita por Flor do Cerrado

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Depoimento de Berenice Silva

Sou secretaria do Senhor Governador desde antes de iniciar-se seu mandato, acompanhei toda

sua campanha eleitoral e seu trabalho como governador deste estado e posso afirmar que é

impossível que um homem de bem como ele tenha feito uma coisa dessas. Esse é um homem de

princípios, fiel ao seu povo, um homem honesto. Ele nunca que ia fazer um negócio desses,

vender o TAC pros americanos construírem um shopping Center. Mas aquele tal de McFewill,

dono da CIA McFewill, aquele sim é um homem sem caráter. Já faz alguns meses que ele vem

aqui no gabinete do Senhor Governador querendo implantar os negócios dele por aqui. O

governador já mandou ele embora mais de cem vezes e o sujeito continua insistindo. Para mim

isso é invenção deste McFewill para conseguir colocar as mãos no TAC.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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À sombra de Medéia

O sol levantou mais cedo naquela terça-feira. As vozes corriam às ruas anunciando que o

dia já estava servido, e eu só queria saber de dormir. Enroscada por entre os lençóis, girei meu

corpo e tentei abafar os sons que penetravam o quarto, pressionando um pesado travesseiro

de plumas brancas sobre minha cabeça. Eram luz e som tentando me arrancar do conforto do

sono; era o burburinho da cidade tentando me contaminar. Cinco minutos depois de decidir

me entregar aos caprichos da preguiça, Adélia entrou sem cerimônia, escancarou as cortinas e

me levantou num puxão. Disse que este era o grande dia e que eu devia aproveitá-lo desde as

primeiras horas. Meu corpo mole pendia e a camisola dava ares fantasmagóricos aos meus

contornos, mas mesmo assim cedi e comecei a me aprontar. Mais um ensaio, talvez o último

antes da estréia. Eu já não agüentava mais repassar as falas, coreografar o gestual, tudo

parecia sem sentido. Encontrar os outros atores da companhia me era um sacrifício sem

tamanho, afinal, o que eu, Ana Rita Gonzalo, atriz digna dos mais importantes palcos deste

mundo, com sangue cigano correndo nas veias, estava fazendo nessa cidade? Não me

pergunto mais como vim parar aqui. Coisas do coração, diriam os tolos. Eu mesma desconfio

que foi feitiço.

O convite exigia traje de gala, nada menos justo. Eu estava acostumada à presença de

gente graúda assistindo a meus espetáculos, por isso o aviso de que a peça daquele dia seria o

evento da cidade não me amedrontava. Todos os jornais estampavam o cartaz. Um jovem

jornalista d’O Estado fez o que pôde para me entrevistar, mas o tempo que eu não passava nos

camarins era dedicado a conversas com figurões locais. Contatos são tudo na vida de uma

pessoa, dizia Cícero, meu único e querido diretor.

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Depoimento de Lilian

Estive presente pessoalmente na cerimônia de tombamento de nosso querido Teatro Álvaro de

Carvalho. Seria uma noite especial, tinham trazido uma conhecida atriz para fazer o papel de

Medéia; Ana Rita Gonzalo. Os comentários eram de que a estrela tinha várias exigências

esquisitas, o tipo de estrela esnobe que gostam de trazer para inaugurações e cerimônias

importantes. Não criei grandes expectativas para a cerimônia de abertura por conta disso,

provavelmente mal lembrariam de que aquele era o dia do tombamento do TAC – a verdadeira

estrela da noite. Mas me surpreendi com a gentileza de Ana Rita que abriu mão da encenação da

noite para que o mestre de cerimônias fizesse as devidas homenagens ao TAC. Realmente uma

moça muito generosa cujo nobre espírito lhe permite reconhecer a importância de momentos

como esse. Ah, como aquela noite foi linda.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Já passava do meio da tarde quando voltei para casa, para buscar meu filho. Faltavam

quatro horas para o início da peça, tempo suficiente para esticar as pernas e meditar um

pouco, não fosse a apreensão que tomou conta de minhas veias, meu ventre e minhas coxas.

Tudo em mim pulava de excitação. Sentir algo parecido com o que me acontecia no início da

carreira poderia ter me imobilizado, já que o medo tem esse poder congelante. Mas, ao

contrário; dei risada desse delírio juvenil e voltei para o teatro. Para chegar ao camarim, tive

de passar por uma nuvem de fumaça e cruzar o salão esbarrando naquela gente que parecia

ter ido apenas para aparecer.

Pouco antes de dar os retoques finais na maquiagem, o produtor apareceu com uma

cara de poucos amigos. O pobre fora avisado de que a prefeitura decidira, em caráter

excepcional, promover a cerimônia de tombamento do teatro como patrimônio histórico-

cultural antes de a peça começar. Seria o momento perfeito, afinal, as pessoas mais influentes

estavam ali reunidas. Apesar da minha relutância em ceder um espaço na minha noite para

uma formalidade, não tivemos escolha. Florianópolis é mesmo conhecida por entrelaçar arte e

política de maneira peculiar e, dessa vez, eu pude testemunhar. Fiquei nos bastidores por

quinze, trinta, quarenta minutos, até que comecei a ficar irritada. O discurso laudatório

proferido pela boca mole daquele mestre de cerimônias revolveu meus sentimentos mais

baixos e deixou meu azedume a ponto de ebulição. No fundo, eu ria de tudo aquilo com um

riso cruel daqueles que perceberam que qualquer esforço humano por guardar lembranças,

tombar monumentos e fixar sentidos é quase uma bobagem. O tempo é cruel e não há meios

de represá-lo. A inundação é inevitável.

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Depoimento de Seu Chico

Eu estava no bar do Seu João, como faço todos os dias desde que consigo me lembrar. Meu

estomago já começava a dar sinais de que precisava de alimento e pedi meu quibe de sempre.

Como de costume recebi meu prato acompanhado de um copo de cerveja pra refrescar minha

garganta. O quibe estava delicioso como sempre, nem tão gorduroso que você vê a banha

escorrendo pelo guardanapo, nem tão seco que você não consegue engolir. Mastigava com

gosto meu alimento quando uma mulher usando uma peruca que dava a impressão de ser feita

de cobras sentou-se do meu lado; levei um susto com aquela figura que se aproximava de mim,

não é que era feia, mas usava tanta maquiagem que mais parecia com um palhaço de um circo

que teve pela cidade há um tempo atrás. Pediu uma bebida esquisita e ficou soltando uns bufos

e gritinhos histéricos, pensei que ela devia ta passando por algum problema de saúde. Coitada!

Depoimento transcrito por [M.B.]

Page 14: Tac em cartaz entre a monarquia e a república

Uma hora, uma hora e quarenta, duas horas... saí pela porta dos fundos, atravessei a

praça ainda vestida como Medéia e sentei ao lado de um homem que devorava um quibe com

as duas mãos. Pedi um Martíni para adoçar a vida e o garçom pôs uma azeitona ao invés da

cereja no centro da taça. Não fosse o sono, seria a gota d’água para eu encenar a maior

tragédia grega já vista em Florianópolis em plena praça pública.

O mundo girou e estou de volta a essa cidade. É noite de espetáculo no Álvaro de

Carvalho. Hoje já bebo cerveja e, do mesmo ângulo de anos atrás, espero a noite descer

enquanto avisto o prefeito saindo do carro em frente ao teatro, acompanhado de nossa

primeira dama decorativa. Uma pequena multidão começa a se acumular nas escadarias,

jornalistas procuram quem fotografar para ilustrar a coluna social de amanhã. Algo me diz que

devo ficar mais um tempo nessa mesa; é capaz de logo uma outra Medéia atravessar a praça

querendo conversar.

Historieta narrada por Ana Embriagada

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Depoimento de Cícero

Florianópolis realmente é uma cidade que não sabe receber seus convidados. Vocês não sabem a

dificuldade que é levar um espetáculo meu para algum lugar, eu valorizo meu trabalho e cobro

caro. Aninha, minha paixão, também é uma estrela que merece os palcos de Hollywood; ela se

dispôs a vir para essa cidade provinciana e olha o que acontece?! Olha o descaso dos

governantes deste lugar para com minha estrela, isso é um absurdo! Tudo isso por conta do

tombamento de um prédio do século XIX, quem vive de passado é museu. Essa cidade poderia

ter gravado meu nome em sua história, e em vez disso preferiu tombar um prédio velho.

Prometo que nunca mais colocarei meus pés nesse lugar sem cultura. Florianópolis ainda tem

muito de aprender acerca de como tratar um verdadeiro artista.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Depois dos meus quinze anos

Há aproximadamente seis meses eu esperava por aquele dia, 20 de maio de 1953, meu

aniversário de quinze anos. O momento onde eu seria apresentada oficialmente para a

sociedade, todas as minhas amigas sonhavam com seu baile de debutante, eu não era

diferente. Tente entender fazer quinze anos significava muita coisa naquela época,

passávamos meses desenhando o vestido, montando uma bela lista de convidados, e

escolhendo o local do baile. Sonhei com cada detalhe, tudo tinha de ser perfeito.

A maioria dos preparativos já tinha sido resolvida, minha mãe tinha encomendado um

vestido de um estilista estrangeiro, meu pai havia preparado a lista de convidados – com o

nome de todas as figuras importantes da cidade, as quais não poderiam faltar no evento.

Tínhamos contratado um buffet de Blumenau – minha mãe tinha uma queda por quitutes

alemães. A decoração, minha tia trouxera de sua última viagem ao Rio de Janeiro. O que

faltava a ser resolvido era o local do baile, a princípio seria realizado no Clube 12 de Agosto,

mas eu queria um lugar maior.

Meu pai, que tinha contatos conseguiu reservar o Teatro Álvaro de Carvalho para a noite

de meu baile. Não fiquei muito satisfeita, é certo que o prédio era uma construção imponente

no meio da cidade. Mas para mim não passava de uma coisa velha, dizem que até de prisão

aquele lugar serviu. Eu nunca vi um teatro onde não se realiza nenhuma peça. Nos derradeiros

anos o TAC tem servido para qualquer tipo de apresentação, menos uma peça teatral.

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Depoimento de Maria das Graças

Quando eu tinha quinze anos eu era uma menina revolucionária, queria que as coisas fossem de

um jeito diferente da maneira que era naquele tempo. Vocês sabem que as décadas de 60 e 70

foram fundamentais para a mulher perante a sociedade, mas eu queria ver as coisas

acontecerem ainda em 50 e eu era só uma garota, mas uma garota de fibra. Debutei no Teatro

Álvaro de Carvalho, naquela época ele estava sendo usado para eventos completamente

aleatórios. Por mais um tempo observei as discussões dos destinos que o teatro tomaria até que

em 55 novos investimentos foram feitos e o teatro voltou a andar para frente. Como me prometi

em razão dos meus quinze anos, me empenhei em fazer com o que a população de Florianópolis

desse valor para o bem que tinha, e em 1987 entrei com o pedido de tombamento do Teatro

Álvaro de Carvalho junto com a Fundação Catarinense de Cultura.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Mês passado um político de São Paulo ministrou uma palestra lá; quero dizer, o cara era

importante, mas realizar meu baile de debutante num lugar onde realizam palestras?! Isso

parece tão chato.

Existe um movimento na cidade que pretende elevar o velho TAC ao lugar o qual ele não

deveria ter saído, o de um verdadeiro teatro. Já outro grupo acredita que a melhor solução

para aquela velharia é fechar as portas e derrubar o prédio. Entretanto, acredito que essa

discussão ainda vai se alongar por alguns anos; as coisas aqui em Florianópolis demoram a se

resolverem, especialmente se envolverem política. Meu pai não gosta que eu fale de política,

mas eu conheço os amigos dele. Os figurões de Florianópolis estão preocupados com o seu

prestígio, já ouvi histórias de que a própria construção do teatro foi artimanha política do

presidente da província. Mas isso não é conversa para garotas, pelo menos segundo meu pai.

Por isso quero debutar, vou ser apresentada oficialmente à sociedade, vou ter uma

opinião perante ela – pelo menos eu espero. Um momento importante assim merece um baile

magnífico, imagine se ele se realizasse num lugar que é demolido dois meses depois?

Depois dos meus quinze anos vou poder me posicionar, vou fazer uma faculdade e ser

alguém na vida. Depois dos meus quinze anos, ninguém mais vai poder me dizer que política

não é coisa para meninas. E se meu baile de debutante for mesmo no TAC, vou dar um jeito

desse teatro ser reconhecido pelo povo dessa cidade.

Historieta narrada por Maria Bonita

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Depoimento de Umberto Cavalcante

Participei de bailes esplendorosos no âmbito do Teatro Álvaro de Carvalho, fazia questão de

conseguir convites para os eventos que aconteciam naquele lugar. Eram sempre de muito luxo e

bom gosto e como vocês podem notar sou um homem que sabe aproveitar as coisas boas da

vida. Lembro-me, inclusive, que na época que era moda realizar bailes no TAC, sugeri a um

político amigo meu que aquele lugar sofresse uma reforma e deixasse de ser teatro, adotando o

nome de Clube Álvaro de Carvalho. Seria de maior utilidade já que fazia já uns anos que o lugar

não era utilizado mais como teatro. Infelizmente não me foi dado ouvidos, parece que o lugar

chegou bem próximo de ser demolido. Mas alguns políticos metidos intelectuais continuaram

firmes na batalha de [re]transformar o TAC em teatro e acabaram conseguindo. Tenho de

admitir que até que ficou bom.

Depoimento transcrito por [M.B.]

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Seguindo pela rua de mão única

Em abril de 2009 Fabiane Marques, estudante ingressa no curso de História no semestre

de 2008.02 da Universidade do Estado de Santa Catariana teve a feliz idéia de mandar para o

grupo de e-mails de sua turma uma sentença judicial datada de 1833 do estado do Alagoas. O

documento, escrito numa linguagem já tão diferente da nossa, relatava o triste fim de Manoel

Duda – sujeito acusado de tentativa de estupro contra uma mulher da cidade. O cabra safado

recebeu a pena de perder aquilo que lhe conferia o status de macho reprodutor – deveria ser

castrado.

A infelicidade do pobre Manoel Duda se tornou a felicidade da criatividade dos

estudantes de história daquela turma. Alguns dos colegas propuseram uma discussão a

respeito do que realmente teria acontecido com o sujeito e duas versões do caso de Manoel

Duda, uma por Daniel França Lunardelli e outra por Hellen Martins Rios, foram escritas. Os

dois, junto com Kelly Yshida criaram um blog intitulado Travessa em Três Tempos, onde

pretendiam contar pequenas histórias de cunho cômico, as quais sua semelhança com a vida

real poderia ser facilmente contestada. As duas versões foram postadas no blog entre as

outras historietas que lá foram narradas. A idéia do blog se resumia no dito de Chicó: não sei,

só sei que foi assim...

Já existia uma maneira dos colegas da turma de História 2008.02 compartilhar suas

idéias criativas, mas para mim que sempre fui apaixonada por literatura, e também por

inventar moda, ainda não parecia o suficiente. Pareceu-me extremamente necessária a criação

de uma revista literária para extravasar nossa criatividade, já tínhamos o blog e por que não

transcrevê-lo para o papel?

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Indicações da Travessa:

Além das Cortinas [http://alemdascortinass.blogspot.com/]

A sala dos Medos [http://asaladosmedos.blogspot.com]

Do lado de Dentro [http://hellenrios.blogspot.com/]

Dos arcos ao exílio – escritos em prosa e verso

[http://letrasnoexilio.blogspot.com/]

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Retornei a sentença do dito cujo Manoel Duda para pensar, organizar, editar e

finalmente criar a primeira edição da nova revista literária da História da Universidade do

Estado de Santa Catarina, a Revista Travessa em Três Tempos. A idéia do novo periódico seria

uma espécie de análise documental, criando diferentes versões para o acontecimento, e

colocando em prática de uma forma agradável e imaginativa os conhecimentos que a

faculdade de História vinha nos apresentando. As diferentes versões do caso de Manoel Duda

serviriam para levantar questões a respeito de fontes documentais escritas e oficiais; questões

como sua veracidade, necessidade de interpretação, ou seja, as múltiplas interpretações que

um documento poderia suceder.

Nossa primeira edição foi lançada no primeiro semestre do ano de 2010, praticamente

um ano depois de ter sido idealizada. A revista era um projeto independente, surgiu da idéia

dos alunos do curso de história e era voltada para os alunos do curso de história. Sendo um

projeto independente surgia outra questão – como custear a impressão do folhetim? Eu

realmente gosto de inventar moda e a solução encontrada foi recorrer aos queridíssimos

professores que gentilmente cederam a sua cota de Xerox remanescente ao final do mês.

Conseguimos publicar em torno de 140 exemplares da primeira edição intitulada Sobre o

cabra Manoel.

A princípio a idéia era fazer uma revista de publicação bimestral, mas organizar um

periódico era bem mais difícil do que parecia inicialmente; e se a primeira edição só existiu

pela insistência e força de vontade daquela que vos fala, a segunda demandou ainda mais de

minhas entranhas. Felizmente mais pessoas compraram a idéia da Travessa, e a comissão

editorial se juntaram a Hellen, a Fabiane e um novo colega que entrara no curso depois da

nossa turma Luccas Neves. Depois de todos os percalços a segunda edição da Revista Travessa

em Três Tempos foi publicada no segundo semestre de 2010, com um número de 150

exemplares, e levou o nome de Aconteceu em Blumenau.

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Indicações da Travessa:

'Let them eat cake', she says [ http://likemarieantoinette.blogspot.com/ ]

Luccas Neves Strangler [http://luccasneves.blogspot.com/ ]

não sei, só sei que foi assim... [http://travessaemtrestempos.blogspot.com/]

Trilhos Perenes [http://trilhosevaporados.blogspot.com/]

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Em meados do segundo semestre de 2010, ainda antes da segunda edição ser lançada,

nossa professora Márcia Ramos de Oliveira propôs que transformássemos a Travessa em

projeto de extensão. E assim foi feito, escrevemos o projeto que foi aprovado pelo

Departamento de História e pelo CONSUNI. Nossa revista virou oficialmente projeto de

extensão da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, vinculada ao Laboratório de

Imagem e Som – LIS, do Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED, sob orientação da

professora Márcia e sendo eu a bolsista e responsável pelo projeto.

Nessa primeira edição como projeto de extensão quero me fazer grata a todos que

apoiaram a idéia dessa revista existir, especialmente aos colegas Fabiane, Hellen e Luccas sem

os quais a idéia jamais teria tido continuação, e à professora Márcia que acreditou e apostou

que nossos esforços mereciam continuidade. Sou grata àqueles que cederam um pouco de seu

tempo, sua mão e suas idéias para escrever para a revista e àqueles que aceitaram nosso

convite de adentrar a rua de mão única e perder-se entre os três tempos de nossa travessa.

Convido-os a adentrar a travessa, despojar-se do excesso de métodos que

meticulosamente apreendemos e perceber no mundo novos olhares. Convido-os a viajar

conosco por entre o idear do historiador, para longe da supremacia da verdade, para longe da

história una.

Eu vos desejo boa viagem.

Taiane Santi Martins

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Para participar da Travessa:

Atenção o edital de chamada de textos para a 4ª edição da Travessa em Três Tempos

será aberto no dia 02 de maio e terá como tema “música”.

Os interessados deverão fazer o download do edital de chamada no site:

www.wix.com/revistatravessa/travessaemtrestempos, os textos deverão ser enviados

para o endereço [email protected] dentro das normas e do prazo indicados

no edital.

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Ficha Técnica:

Atenção! As historietas, depoimentos e nomes contidos nesse exemplar são todos fictícios.

Documento Base:

Pedido de tombamento do Teatro Álvaro de Carvalho em julho de

1987, documento cedido pelo Laboratório de Patrimônio Cultural –

LabPlac

Textos de Redatores:

Fabiane Gabriela Lubian Marques

Luccas Neves Stangler

Taiane Santi Martins

Autores Convidados:

Mariana Rotili

Thiago de Oliveira Aguiar

Capa:

Foto: Fachada do Teatro Álvaro de Carvalho, retirada do site:

http://comissaodeeducacao.blogspot.com

Arte e design: Taiane Santi Martins

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Edição e Diagramação:

Taiane Santi Martins

Revisão:

Hellen Martins Rios

Taiane Santi Martins

Idealização:

Taiane Santi Martins

Equipe Travessa em Três Tempos:

Fabiane Gabriela Lubian Marques

Hellen Martins Rios

Luccas Neves Stangler

Taiane Santi Martins

Apoio e Orientação:

Prof° Márcia Ramos de Oliveira

Laboratório de Imagem e Som – LIS

Endereço para contato:

[email protected]

http://revistatravessaemtrestempos.blogspot.com

www.wix.com/revistatravessa/travessaemtrestempos

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