TAIPAS: A ARQUITETURA DE TERRA

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TAIPAS: A ARQUITETURA DE TERRA Maria Augusta Justi Pisani Mestre e Doutora pela EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Professora do CEFET-SP - Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. o objetivo deste artigo é descrever as técnicas construtivas que empregam a terra como matéria- prima. O destaque é dado às taipas de mão e de pilão, técnicas muito utilizadas na história da arquitetura colonial brasileira que ainda são encontradas em algumas regiões. Palavras-chave: técnicas construtivas, arquitetura colonial brasileira, arquitetura de terra, taipas. The aim of this article is to describe the building techniques that use earth as raw material. Emphasis is given to the watle and daub structures, handmade or using a crusher, largely used in the history of the Brazilian colonial architecture that are still found in some regions. Key words: building techniques, Brazilian colonial architecture, soil architecture. 1. INTRODUÇÃO A terra como matéria-prima na elevação de alvenarias, de abóbadas e de outros elementos construtivos tem sido empregada desde o período pré-histórico. Na Turquia, na Assíria e em outros lugares no Oriente Médio foram encontradas construções com terra apiloada ou moldada, datando de entre 9000 e 5000 a.C. (Minke, 2001). No Egito antigo os adobes de terra crua, assentados com finas camadas de areia, eram utilizados na edificação de fortificações e residências, e uma espécie de argamassa feita de argila e areia era material de preenchimento de lajes de cobertura estruturadas com troncos roliços. As muralhas da China também foram edificadas com argila apiloada entre alvenarias duplas de pedra. O termo taipa, genericamente empregado, significa a utilização de solo, argila ou terra como matéria-prima básica de construção. A origem, provavelmente árabe do vocábulo, entrou para a língua portuguesa por influênciamourisca. Sinergia, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 09-15, jan.jjun. 2004 As referências do uso das taipas em Portugal são registradas pelos escritores desde a presença romana e traduz sempre o uso da terra como o componente mais importante. A região de Portugal que mais utilizou a taipa é a do Algarve. Na França o processo construtivo que utilizou terra é conhecido como "maçonnerie de pisé" ou "pisé" ou "terre pisé" que se assemelha à taipa de pilão e uma outra técnica que emprega solo e palha seca é denominada de "torchis" e resiste mais a rachaduras por conter uma trama que dá maiorresistência contra movimentações. Os negros trazidos ao Brasil também conheciam processos construtivos que utilizavam a terra, algumas tribos empregavam estruturas preenchidas com barro, que apresentavam similaridades com as técnicas de algumas tribos brasileiras. O adobe também era conhecido dos africanos. Portanto, durante o início da colonização brasileira, todas as culturas componentes dominavam técnicas construtivas que utilizavam a terra como matéria-prima. A taipa executada no Brasil Colonial pode ser

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TAIPAS: A ARQUITETURA DE TERRA

Maria Augusta Justi PisaniMestre e Doutora pela EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São PauloProfessora do CEFET-SP - Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo,

Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

oobjetivo deste artigo é descrever as técnicas construtivas que empregam a terra como matéria-prima. O destaque é dado às taipas de mão e de pilão, técnicas muito utilizadas na história daarquitetura colonial brasileira que ainda são encontradas em algumas regiões.

Palavras-chave: técnicas construtivas, arquitetura colonial brasileira, arquitetura de terra,taipas.

The aim of this article is to describe the building techniques that use earth as raw material.Emphasis is given to the watle and daub structures, handmade or using a crusher, largelyused in the history of the Brazilian colonial architecture that are still found in some regions.

Key words: building techniques, Brazilian colonial architecture, soil architecture.

1. INTRODUÇÃO

A terra como matéria-prima na elevaçãode alvenarias, de abóbadas e de outros elementosconstrutivos tem sido empregada desde operíodo pré-histórico. Na Turquia, na Assíria eem outros lugares no Oriente Médio foramencontradas construções com terra apiloada oumoldada, datando de entre 9000 e 5000 a.C.(Minke, 2001). No Egito antigo os adobes deterra crua, assentados com finas camadas deareia, eram utilizados na edificação defortificações e residências, e uma espécie deargamassa feita de argila e areia era material depreenchimento de lajes de cobertura estruturadascom troncos roliços. As muralhas da Chinatambém foram edificadas com argila apiloadaentre alvenarias duplas de pedra.

O termo taipa, genericamenteempregado, significa a utilização de solo, argilaou terra como matéria-prima básica deconstrução. A origem, provavelmente árabe dovocábulo, entrou para a língua portuguesa porinfluênciamourisca.

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As referências do uso das taipas emPortugal são registradas pelos escritores desdea presença romana e traduz sempre o uso daterra como o componente mais importante. Aregião de Portugal que mais utilizou a taipa é ado Algarve.

Na França o processo construtivo queutilizou terra é conhecido como "maçonnerie depisé" ou "pisé" ou "terre pisé" que se assemelhaà taipa de pilão e uma outra técnica que empregasolo e palha seca é denominada de "torchis" eresiste mais a rachaduras por conter uma tramaque dá maiorresistência contra movimentações.

Os negros trazidos ao Brasil tambémconheciam processos construtivosque utilizavama terra, algumas tribos empregavam estruturaspreenchidas com barro, que apresentavamsimilaridades com as técnicas de algumas tribosbrasileiras. O adobe também era conhecido dosafricanos. Portanto, durante o início dacolonização brasileira, todas as culturascomponentes dominavam técnicas construtivasque utilizavam a terra como matéria-prima. Ataipa executada no Brasil Colonial pode ser

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dividida em dois grandes grupos: a de pilão e ademão.

2. CARACTERÍSTICAS DATERRA EMPREGADAEM CONSTRUÇÕES

São empregados vários termos nalíngua portuguesa, como argila, barro, terra esolo, mas todos como sinônimos. Comomaterial de construção, a terra apresentaalgumas características que todo construtortem que conhecer antes de iniciar qualquerestudo ou mesmo ensaio, para utilizá-lo.Baseado em Minke (2001). Pode-se observarque as construções com a terra como amatéria-prima básica apresentam vantagens edesvantagens em relação a outros materiaisclássicos de construção:

2.1 Vantagens:

• A terra crua regula a umidadeambiental: o barro possui a capacidade deabsorver e perder mais rapidamente a umidadeque os demais materiais de construção;

• A terra armazena calor: comooutros materiais densos como as alvenarias depedra, o barro armazena o calor durante suaexposição aos raios solares e perde-o lentamentequando a temperatura externa estiver baixa;

• As construções com terra cruaeconomizam muita energia e diminuem acontaminação ambiental. As construções comterra praticamente não contaminam o ambiente,pois para prepará-Ias necessita-se de 1 a 2%da energia despendida com uma construçãosimilar com concreto armado ou tijolos cozidos;

• O processo é totalmente reciclável:as construções com solo podem ser demolidase reaproveitadas múltiplas vezes. Bastafragmentar e voltar ao processo de preparo damassa de terra.

2.2 Desvantagens:

• Não é um material de construçãopadronizado: sua composição dependedas características geológicas e climáticasda região. Podem variar composição,resistências mecânicas, cores, texturas ecomportamento. Para avaliar essascaracterísticas são necessários ensaiosque indicam as providências corretivaspara corrigi-Ias com aditivos.

• É permeável: as construções com terracrua são permeáveis e estão maissuscetíveis às águas, sejam pluviais, dosolo ou de instalações. Para sanar esseproblema é necessária a proteção doselementos construtivos: sejacom detalhesarquitetônicos ou com materiais ecamadas impermeáveis.

• Há retração: o solo sofre deformaçõessignificativas durante a secagem,gerando fissuras e trincas.

3. TAIPA DE PILÃO

Recebe esta denominação por sersocada (apiloada) com o auxílio de uma mão depilão. A forma que sustenta o material durantesua secagem é denominada de taipal, que atéhoje significa componentes laterais de formas demadeira. A taipa encontrada no período colonialbrasileiro é executada com terra retirada de localpróximo à construção devido às dificuldades detransporte e ao volume grande de material. Asargilas são escolhidas pelo próprio taipeiro, queconhecia de forma empírica as propriedadesfísicas do material e do componente construtivo,selecionando-as com o tato e visualmente.

Segundo Schmidt (1946), os solospreferidos eram os vermelhos, vindo a seguir osroxos e os pardos, por apresentarem uma "liga"ou "trabalhabilidade" maior. Devem estar isentosde areias ou pedregulhos e de húmus e outrosmateriais orgânicos, como gravetos e restos devegetação, pois esses podem afetar a resistência

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final do material. A terra é removida de uma certaprofundidade, para evitar as impurezas acimacitadas e por apresentar normalmente um graude umidade satisfatório, não necessitando daadição de água para compor a dosagem correta.A massa é preparada por meio de esfarelamentodo solo; pulverização de água com cuidado paranão formar "caroços" e seguido de umamassamento, que pode ser realizado com asmãos ou com os pés. A operação só terminaapós a obtenção de uma massa homogênea.

ALBERNAZ e LIMA (1998) citam apossibilidade de acrescentar outros componentesdurante o amassamento, como a areia, a cal, ocascalho, a fibra vegetal e o estrume de animais.

Após o preparo da argamassa de barro,esta é disposta dentro do taipal, em camadas de10a 15centímetros, que depois de perfeitamenteapiloadas ficam com espessuras menores. Comoas espessuras das paredes variam de 30 a 120centímetros, o taipeiro ou auxiliar trabalha dentro

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do taipal, O que facilita o adensamento. Oapiloamento é interrompido quando a taipa emiteum som metálico característico, o que significa amínima quantidade de vazios ou que oadensamento manual máximo das argilas foiatingido.

Os taipais possuem medidas que variamde 100 a 150 centímetros de altura por 200 a400 centímetros de comprimento, compostos portábuas presas a um sarrafo, formando umtabuado com juntas de topo para as tampas oulados, distanciadas, em função da espessura daparede por outro tabuado denominado de frontale presas com paus roliços denominados deagulha ou cangalha na horizontal e costa navertical, formando uma espécie de caixa semfundo, conforme a figura 1. Como no períodocolonial as tábuas eram cortadas manualmente,por meio de enxós, os taipais tinham um grandevalor e chegaram a ser inventariados como bens.

Tampa ou.' Lados

Figura 1 . TaipalFonte: Adaptado de Corona & Lemos (1972)

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Os taipais eram dispostos de modo aformar fiadas horizontais de blocos de taipa etinham as juntas verticais normalmentedesencontradas. Na primeira fiada o taipal eraapoiado diretamente no solo, conforme a figura2. Sobre as fundações e para as fiadassubseqüentes eram colocadas transversalmenteà espessura madeiras roliças a dois terços daaltura, de modo que quando da execução dapróxima fiada, as agulhas oucangalhas de baixoeram enfiadas no orifício (denominado de codo)deixado após a retirada dessa madeira que tinhapermanecido dentro do bloco de taipa anterior.Nas taipas remanescentes desse período asmarcas da execução eram facilmente detectáveis,tanto das camadas de terra apiloadas, como dostipos de junções dos blocos de taipa e tambémdos orifícios ocupados para a elevação domaciço de taipa. Esses orifícios receberam umaargamassa de terra após a retirada do taipal eantes do revestimento.

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Figura 2 - Primeiras fiadas de elevação de parede de taipa depilão

Os vãos deixados na arquitetura, comoportas ejanelas, eram montados a partir de umaestrutura de madeira colocada anteriormentedurante a execução dos maciços das paredes.Em algumas Casas de Câmara e Cadeia eramcolocadas estruturas de madeira no âmago dasparedes para evitar a perfuração pelos detentos,

conforme a figura 3. (Barreto, 1949)

travamento no interior com peça$unidas

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Figura 3 - Reforço das paredes de taipa de pilão das casas deCâmara e Cadeia

Fonte: Adaptado de Barreto (1949)

Em alguns remanescentes, como, porexemplo, a Capela do Morumbi, na cidade de

'São Paulo, foram encontradas taipas comagregados naturais (seixos rolados) misturadosna terra. Esses seixos eram retirados do leito decórregos e rios próximos ao local de construçãoe possuem granulometrias variadas. Esse tipo detécnica recebeu o nome de taipa formigão.

O tempo de secagem das paredes detaipa de pilão varia de 3 a 6 meses, dependendoda altura e espessura da parede, tipo de soloutilizadoe condições climáticas.Os revestimentossó iniciam após a secagem das mesmas paraque haja aderência, e variam de acordo com aregião, podendo ser de tabatinga, argamassascom cal de sambaquis, areia e de esterco deanimais, para que as fibras vegetais presentesdêem uma estrutura ao sistema.

Um dos maiores problemas detectadosSinergia, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 09-15, jan./jun. 2004

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com as construções em taipa é a erosão que elasapresentam na presença de água tanto do subsoloquanto da superfície ou da chuva. Quandoprotegida contra as intempéries, a taipa possuimuita durabilidade, que pode ultrapassar trêsséculos, como, por exemplo, a das casasbandeiristas paulistas.

Uma das patologias mais presentes nestasconstruções é o sulco, acompanhando o níveldo solo externo, deixado pelo escoamento deáguas pluviais. Esse fato justifica a utilização degrandes beiraisna arquitetura tradicional de taipa.Pelo mesmo motivo, as construções em taipacostumavam ser edificadas sobre um patamar, oque impedia a agressão das águas oriundas deenxurradas.

Após a execução da cobertura e com ataipa se apresentando seca o suficiente paraaderência, executavam-se os revestimentos comterra, areia e estrume de animais, e quandopossível com a cal (antes das construções decaieiras a cal mais empregada no Brasil era a calde sambaquis ou de ostreiras).

Essa técnica predominou na arquiteturapaulista do período colonial devido à dificuldadede obtenção de pedra nos campos de Piratininga,pois asjazidas se encontram a profundidades quesó por meio de sondagens são detectadas. Masas taipas também são encontradas em outrasregiões, como, por exemplo, em Goiás e MinasGerais.

A partir de 1850 os tijolos maciçoscomeçam a aparecer em construções paulistas,e no município de São Paulo foi criada umacampanha pública para se evitar as construçõesde taipa devido às constantes enchentes que acidade sofria e ao risco de desmoronamentosdas construções de terra.

Segundo Schmidt (1946), a taipa depilão entrou em decadência a partir de 1940,porque o tijolo maciço comum apresenta maiorrapidez de construção e é executado a custosmenores. A mão-de-obra, formada portaipeiros, começa a desaparecer, dando lugaraos pedreiros, cuja formação profissional émais rápida.

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4. TAIPADE MÃO

As paredes de taipa de mão (quedependendo da região e da época tambémrecebem o nome de taipa de sebe; pau a pique;barro armado; taipa de pescoção e tapona esopapo) foram muito empregadas em todo oBrasil desde o início da colonização.

As paredes de taipa de mão do períodocolonial quase sempre faziam parte de umaestrutura de madeira bastante rígida, formada poresteios, vigas baldrames, frechais e vergassuperiores e inferiores. Serviam como vedo deuma estrutura independente ou como paredesinternas de edificaçães com paredes externas detaipa de pilão.

A estrutura de madeira era montada comesteios, com secção normalmente quadrada, depalmo de lado, enterrada no solo aprofundidades variáveis, com um tipo defundação formada pela continuidade do troncoem que era cortado o esteio, denominadapopularmente de nabo (vide figura 4). Para evitaro ataque de animais, xilófagos o nabo eracrestado a fogo. No nível do piso, esses esteiosfincados no solo recebiam encaixes para acolocação de vigas baldrames mais altas que osolo para evitar a penetração da água, pois amadeira é um material muito perecível com avariação da umidade. Sobre as vigas se apoiavamos barrotes de sustentação dos assoalhados, queera o piso mais empregado nesse sistemaconstrutivo.

• Na parte superior os esteiosrecebiam a carga dos frechais, apoiados ouencaixados, formando uma estruturaindependente, popularmente denominada degaiola. A maioria das peças de madeira era delei, que são mais duras e resistentes.

Entre os frechais e as vigas baldrameseram encaixados em rebaixos os paus,freqüentemente com secção circular que variade acordo com o tipo e a idade da árvore deorigem, de menor espessura dos esteios.Perpendicularmente aos paus eram amarradas

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com cipós outras peças, de madeira mais finas,denominados de varas, de um dos lados, dosdois paralelos ou alternados, conforme a figura6.

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Figura 4 - Estrutura de madeira para a execução da taipa demão

Fonte: Adaptado de Vasconcellos (1961)

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alvenaria depedra ou adÔbe

Figura 5 - Detalhe da taipa de mãoFonte: Adaptado de Vasconcellos (1961)

B cFigura 6 - Detalhe do tipo de colocação das varas.

A: varas de um ladoB: varas alternadas dos dois ladosC: varas paralelas dos dois lados.

Montada essa trama, a aparência é deuma gaiola, com vãos quadriláteros de 5 a 20centímetros de lado. Após a amarração datrama, a terra previamente escolhida étransportada até um terreiro onde é preparadaa massa ou "barro", que deve ter umaplasticidade maior que a da massa utilizada nataipa de pilão para poder ser manuseada. Doistrabalhadores taipeiros se colocam em ladosopostos da trama e com as mãos pegam umaquantidade de barro que concomitantemente éprensado energicamente contra a trama. O barropode ser prensado também com as mãos, deapenas um dos lados, por apenas um taipeiro,mas o preenchimento dos vãos é menos eficiente.Dessa fase executiva surgem os nomes comotaipa de mão, tapona, pescoção ou sopapo.

O tempo de secagem de uma parede,que varia de 15 a 20 centímetros de espessura,é de aproximadamente um mês, quando entãopode receber revestimentos, também utilizandoa terra para ter aderência à parede.

As paredes de taipa de mão sãoempregadas interna ou externamente, com

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predominância de utilização em divisóriasinternas, devido a sua leveza, menor espessurae menor tempo de execução, se comparada coma taipa de pilão.

Atualmente, as taipas de mão sãoempregadas nas zonas rurais em construçõesrústicas ou como técnica alternativa nasedificações das classes de baixo poder aquisitivo.Ainda é encontrada praticamente em todos osestados brasileiros, mas a técnica é muitorudimentar e normalmente não possui ascaracterísticas de estabilidade, durabilidade econforto tal como a das elaboradas no períodocolonial, acima descritas.

5. TENDÊNCIAS

Atualmente são encontradas técnicasconstrutivas utilizando a terra como matéria-prima principal em várias regiões do Brasil. Nasregiões Nordeste e Norte as taipas de mão sãoempregadas nas habitações para a populaçãode baixa renda. Apresentam característicasdiferentes, em função das especificidades locais,mas há muito preconceito contra essa técnica,devido à forma rudimentar como é edificada.Essas paredes acabam apresentando muitastrincas e rachaduras e abrigam insetos, como obarbeiro, que é o responsável pela proliferaçãodo mal de Chagas.

Outras técnicas construtivas à base daterra são utilizadas atualmente no Brasil, como oadobe (tijolo cru) e os blocos ou tijolos de solo-cimento, porém essas técnicas não sãoabordadas neste trabalho.

6. CONCLUSÕES

A utilização da terra como matéria-primaexiste há mais de cinco mil anos e com tendênciasdiferentes, dependendo das condicionanteslocais e históricas, e continuará sendo, devidoao baixo impacto ambiental provocado por essematerial, que consegue ser abundante e nobreao mesmo tempo. As taipas de mão e de pilãosão técnicas herdadas dos colonizadores,

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escravos e imigrantes e ainda são empregadas,nas suas variações, em diversas regiõesbrasileiras.

REFERÊNCIASBffiLIOGRÁFICAS

ALBERNAZ, Maria Paula; LIMA, CecíliaModesto Dicionário ilustrado de arquitetura.São Paulo: ProEditores, 1998.BARRETO, Paulo Tedim. Casas de câmara ecadeia. Tese apresentada à Congregação daFaculdade Nacional de Arquitetura daUniversidade do Brasil, para o concurso delivramento da cadeira de arquitetura no Brasil,Rio de Janeiro, s/ed, 1949.CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos A.c.Dicionário de arquitetura brasileira. São Paulo:Edart, 1972.mSTI PISANI, Maria Augusta. Arquitetura comterra. In: BRUNA, Gilda Collet (org.)Promoçãodo Desenvolvimento Sustentável:Comunidades do semi-árido. Relatório técnico.Uriiversidade Presbiteriana Mackenzie, 2004.MINKE, Gernot. Manual de construccion entierra: Ia tierra como material de construcción ysus aplicaciones em Ia arquitecture actual.Uruguay: Nordan-Comunidad, 2001.SCHMIDT, Carlos Borges. Construções detaipa: alguns aspectos de seu emprego e da suatécnica. São Paulo: Secretaria da Agricultura,1946.VASCONCELLOS, Sylvio de Carvalho.Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos.4.ed. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura daUniversidade Federal de Minas Gerais, 1961.

Para contato com a autora:[email protected]

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