TCC Cuidado Ao Cuidador

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 HOSPITALSEPACO CENTRO DE PSICOLOGIA CLÍNICO HOSPITALAR A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO MEIO HOSPITALAR  Reinaldo Renzi São Paulo 2010

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HOSPITALSEPACO

CENTRO DE PSICOLOGIA CLÍNICO HOSPITALAR

A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO

AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO MEIO

HOSPITALAR

  Reinaldo Renzi

São Paulo

2010

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HOSPITALSEPACO

A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO

AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO MEIO

HOSPITALAR 

Orientadoras:

Carina Pirró Alves Guimarães

Patrícia Lebensold Mekler 

Fernanda Rezende

Monografia apresentada

ao Hospital Sepaco para

obtenção do certificado

de conclusão de estágio

em Psicologia Hospitalar 

São Paulo

2010

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SUMÁRIO

RESUMO ..........................................................................................................04

INTRODUÇÃO ..................................................................................................05

FUNDAMENTAÇÃO TEORICA ........................................................................05

JUSTIFICATIVA ................................................................................................07

OBJETIVO ........................................................................................................08

DISCUSSÃO:

O SIGNIFICADO DO CUIDAR .............................................................08

REQUISITOS PARA O CUIDADO .......................................................12

A INTERFERÊNCIA NO CUIDADO AO PACIENTE ............................15

O CUIDADOR E A NORMALIDADE ....................................................17

OS MECANISMOS DE DEFESA NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE 19

A SÍNDROME DE BURNOUT NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ....22

CARACTERÍSTICAS E CONSEQÜÊNCIAS DO BURNOUT ..............23

COMO PREVENIR A SAÚDE MENTAL DO CUIDADOR ....................24

O ADOECER DO MÉDICO E AS SUAS RELAÇÕES COM APROFISSÃO ........................................................................................25

A ADAPTAÇÃO AO ESTRESSE DA TAREFA MÉDICA .....................26

A VULNERABILIDADE PSICOLÓGICA DO MÉDICO .........................27

MEDIDAS PREVENTIVAS ...................................................................30

GRUPOS BALINT ................................................................................31

CONCLUSÃO ...................................................................................................33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................34

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RESUMO: O presente trabalho visa discorrer sobre a importância

do atendimento psicoterápico aos funcionários que lidam com pacientes

internados no meio hospitalar, verificando os sentimentos experienciados

por estes pela contínua convivência com o sofrimento e com a morte,

bem como medidas preventivas que possam auxiliar a lidar com esta

rotina de forma psiquicamente mais adequada. Trata da constatação

teórica, por meio dos estudos do material aqui citado, do que pode ser 

percebido na prática observada, personificada através da experiência

subjetiva enquanto estagiário de Psicologia no Hospital SEPACO.

PALAVRAS-CHAVE: cuidadores, psicoterapia, ambiente hospitalar, saúde

mental.

ABSTRAT: This paper aims to discuss the importance of 

psychotherapy to professionals who deal with patients admitted to the hospital,

checking the feelings experienced by those living with the continuing suffering

and death, as well as preventive measures that could help cope with this routine

so mentally fit. Deals with the theoretical finding, by means of studies of the

material here quoted, than can be realized in practice observed, personified bythe subjective experience as an intern at the Hospital of Psychology SEPACO.

KEYWORDS: caregivers, psychotherapy, hospital, mental health.

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INTRODUÇÃO

Este artigo objetiva discutir e mostrar o quanto é importante cuidar da

saúde psíquica daqueles que têm a função de cuidar de pacientes internados.

Parte-se do pressuposto que para cuidar do outro é necessário cuidar de

si, ou seja, para alguém cuidar do outro e conduzi-lo, primeiramente necessita

demonstrar que pode conduzir-se. Somente aquele que cuida de modo

adequado de si mesmo, encontra-se em condições de relacionar-se e de

conduzir-se adequadamente nas relações interpessoais. Para que se consiga

ser de fato um cuidador eficiente, é preciso que, num estágio anterior, oindivíduo se reconheça e se trate enquanto ser humano, com suas

subjetividades e necessidades pessoais, iguais, ou muitas vezes até maiores,

que as daquele de quem se está cuidando.

Bonato (1994) observa que:

“os profissionais da saúde procuram promover a cura, apromessa de uma vida com saúde para o paciente. No entanto, não

são beneficiados por esse processo no que toca a sua própria saúde.

(...) Assim, torna-se difícil que um trabalhador da saúde esteja em

verdadeira sintonia com as necessidades do paciente, caso ele não

tenha atingido a fase de reconhecimento do seu eu”.

Desta forma, observa-se que o hospital oferecer a seus profissionais um

atendimento em que a subjetividade é valorizada, bem como um espaço parareflexão, é considerar o sofrimento psíquico do funcionário legítimo e passível

de tratamento.

FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

Para se obter maior relevância teórica, se fez importante recorrer a

diversas fontes bibliográficas sem delimitações quanto ao tipo específico decuidadores por uma necessidade mais expressiva de dados de pesquisa, já

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que a intenção do estudo atual é a de fazer uma releitura do que já foi

pesquisado.

Apesar dos ambientes e situações adversos, todas as referênciasbibliográficas têm como parâmetro central os dilemas psicofísicos de quem se

propõe a cuidar do outro.

Ainda assim, outras tantas referências repetiram a experiência tendo

como palco o ambiente hospitalar, de forma que essas tratam não só dos

aspectos de nosso interesse para este estudo quanto à dinâmica psíquica do

cuidador, mas trazendo também as mesmas condições em relação ao meio emque ele está inserido.

Torna-se de suma importância tal esclarecimento, visto que, apesar de

poder ser observada a mesma dinâmica de quem presta cuidados, seja este

um familiar em sua residência, ou um professor lidando com alunos portadores

de necessidades especiais, ou mesmo uma clínica de recuperação de

dependentes químicos, ainda assim, deve ser levada em consideração adinâmica do ambiente em que o cuidador está inserido.

Assim, observando o aspecto organizacional, é de suma valia para este

estudo as referências bibliográficas que repetem o ambiente focado, podendo

ser englobada com maior assertiva a dinâmica biopsicossocial do cuidador.

O foco deste estudo dirigiu-se aos profissionais de saúde inseridos nomeio hospitalar, pois este é considerado pela Organização Internacional do

Trabalho (OIT), um dos trabalhos mais desgastantes. Os profissionais da

saúde estão expostos a riscos físicos, químicos e biológicos. Especialmente os

enfermeiros comumente apresentam sintomas de estresse, por trabalharem em

turnos, em vários empregos, em equipes com número de pessoal reduzido e

ainda sofrendo pela falta de reconhecimento de sua profissão. Segundo

Ferreira e Martino (2006) esses sintomas de estresse podem ser considerados

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um sinônimo de cansaço, dificuldade, frustração, ansiedade, desamparo e

desmotivação.

Neste sentido, observa-se a necessidade do olhar do hospital tambémse voltar a um modelo alternativo ao do reprodutivo e mecânico, que o

caracteriza. Abrir as portas aos profissionais de saúde para que eles possam

voltar o olhar para si, representará uma oferta de instrumentos a esses

indivíduos para que eles possam visualizar novas perspectivas a partir do

cuidado de si.

JUSTIFICATIVA

A justificativa para a escolha deste assunto deve-se à suspeita

fundada na observação e lógica, que os funcionários do meio hospitalar, por 

manter um prolongado tempo em contato com as angústias e dores alheias,

em decorrência do acompanhamento diário, muitas vezes em dupla jornada,

de pacientes internados com patologias diversificadas, estão no limiar, por 

vezes transposto, de serem acometidos por desordens psicológicas.

Na verdade, o cuidado com os cuidadores transcende a realidade

Hospitalar. Deve-se estender a todos os lugares onde se encontram pessoas

cuidando de outra, quer por razões profissionais como: a professora, o

médico, a enfermeira, o sacerdote, o assistente social, o psicólogo, o

terapeuta ocupacional, o fonoaudiólogo, quer por outras razões, impostas pela

vida tais como: cuidar de uma pessoa portadora de alguma necessidadeespecial na família, de uma pessoa dependente, de um membro da família

com um diagnóstico preservado, um paciente crônico de ordem física ou

mental etc.

Porém, por uma questão de foco e delimitação, esta reflexão se limitará

a discutir, apenas, a realidade dos cuidadores personificados através dos

profissionais da área de saúde no contexto hospitalar.

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OBJETIVO

O objetivo deste artigo é demonstrar a necessidade de uma atenção

focada no profissional de saúde como sujeito, dando voz a seu sofrimento, edemonstrar que o tratamento dirigido a esses profissionais repercute na sua

saúde mental e na sua conduta pessoal e profissional.

A relevância teórica deste artigo é suscitar uma discussão de forma

elaborada a respeito deste tema já que, dificilmente, se pergunta acerca da

necessidade de se cuidar dos cuidadores de pessoas, prova disso, é a grande

carência bibliográfica que ainda se verifica em torno do assunto.

A relevância prática consiste em oferecer às equipes de Psicologia

Hospitalar, propostas interventivas com base neste trabalho de pesquisa

bibliográfica direcionado a esse segmento, por observação de uma de suas

instâncias, no caso, o Hospital SEPACO, mas com a possibilidade de ser 

experienciado em qualquer outro hospital, permitindo-se avaliar assim, esta

lacuna a ser trabalhada.

DISCUSSÃO

O SIGNIFICADO DO CUIDAR

Segundo o dicionário Aurélio (2009), cuidar é: “ter cuidado, tratar de,

assistir: cuidar das crianças. / Cogitar, imaginar, pensar, meditar: cuidar casosgraves. / Julgar, supor: cuida ser uma pessoa importante. Ter cuidado; tratar-

se (da saúde etc.)”.

Foucault (1982) esboça a evolução da hermenêutica de si a partir da

filosofia greco-romana dos dois primeiros séculos do Império Romano.

Comenta que para os gregos da Antiguidade tardia o sujeito estava inserido no

preceito epimeleisthai sautou, que significa “tomar conta de si”, “cuidadoconsigo”, “preocupar-se, cuidar-se de si”. Este é para os gregos um dos

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fundamentos da arte de viver da conduta de vida social e pessoal. Esta noção

de cuidado de si perdeu sua força e tornou-se obscura para nós, na atualidade,

mas nos textos gregos e romanos da Antiguidade a injunção adotada por 

Socrates “conhece-te a ti mesmo”, que era a filosofia dominante da época,

vinculada ao oráculo de Delfos, sempre esteve associada ao princípio do

cuidado de si, pois só assim torna-se possível a aplicação desta máxima.

Articulando esse pensamento com o trabalho junto aos cuidadores do

hospital, evidencia-se que o cuidado de si e o conhecimento de si caminham

 juntos. Para que o sujeito esteja conectado à sua própria identidade precisa

conhecer-se. No trabalho de autoconhecimento o sujeito passa a perceber 

tanto seus limites pessoais quanto os limites dos outros - com quem convive

e/ou de quem cuida - ou seja, a partir deste reconhecimento de si, consegue

olhar para o outro e reconhecê-lo em sua individualidade e torna-se possível

perceber que o outro tem desejos e necessidades próprios. Esta percepção de

si é organizadora para as emoções e condutas do indivíduo, tornando-se

transformadora.

Bernardes e Guareschi (2004), evidenciam a transformação quando

afirmam que

(...) ao estabelecer o cuidado de si e tomar a si mesmo como

objeto, o trabalhador da saúde mental torna-se humanizado; torna-se

cidadão quando se ocupa de si mesmo como humano, como cidadão,

sendo esta uma condição indispensável para ‘reabilitar’ o usuário da

instituição para a vida na esfera pública.

Não se trata de pensarmos ou falarmos sobre o cuidado como sendo

um objeto concebido independente de nós. Mas o cuidado aqui é pensado e

falado a partir do como é vivido e estruturado em nós. Isto significa afirmar que

nós não temos cuidado, nós somos o cuidado. Neste prisma o cuidado possui

uma dimensão ontológica que entra na constituição do ser humano. É um

modo de ser singular do homem e da mulher. “Sem cuidado deixamos de ser humanos”, afirma Boff (1999).

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Heidegger (apud Boff 1999) mostra que realidades tão fundamentais

como o querer e o desejar estão enraizadas no cuidado essencial. Para ele,

somente a partir da dimensão do cuidado elas emergem como realizações do

humano. O cuidado é uma constituição ontológica sempre subjacente a tudo o

que o ser humano empreende, projeta e faz. O cuidado subministra,

preliminarmente, o solo em que se move toda a interpretação do ser humano.

Ainda segundo o autor, por “constituição ontológica”, Heidegger 

entende aquilo que entra na definição essencial do ser humano e estrutura a

sua prática. Quando fala do cuidado como o solo em que se move toda a

interpretação do ser humano, ele está sinalizando que o cuidado é o

fundamento para qualquer interpretação do ser humano. Se não nos

basearmos no cuidado, não conseguiremos compreender o ser humano.

O estudo etimológico feito por Boff(1999) traz duas raízes que originam

o cuidado. Vindo a primeira do latim “cura”, como um sinônimo erudito de

cuidado. Em sua forma mais antiga, cura em latim se escrevia coera e era

usada num contexto de relações de amor ou amizade. Expressava atitude de

cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou

por um objeto de estimação.

Para a segunda ramificação de sua origem, Boff(1999) esclarece que o

cuidado deriva de cogitare-cogitatus. O sentido de cogitare-cogitatus é o

mesmo de cura: cogitar pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar 

uma atitude de desvelo e de preocupação. “O cuidado surge quando a

existência de alguém tem importância para mim. Passo, então, a dedicar-me a

ele, dispondo-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus

sofrimentos e de seus sucessos. Enfim, de sua vida”.

Conclui Boff (1999), que por sua natureza, o ato de cuidar inclui duas

significações básicas, inteiramente ligadas entre si. A primeira é a atitude de

desvelo, de solicitude e de atenção para com o outro. A segunda, de

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preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado se sente

envolvida e afetivamente ligada à outra.

O grande poeta latino Horácio - 65 A. C (apud Boff1999), já haviaobservado que: “o cuidado é o permanente companheiro do ser humano”, ou

seja, o cuidado sempre acompanha o ser humano porque este nunca deixará

de amar e de se desvelar por alguém, nem deixará de se preocupar e se

inquietar pela pessoa amada. O seu limite seria a indiferença: morte do amor 

e do cuidado.

Do ponto de vista existencial, podemos concluir que o cuidado se achaa priori, antes de toda atitude e situação do ser humano, isto é, o cuidado

encontra-se na raiz primeira do ser humano, antes que ele faça qualquer coisa

e, se fizer, ela sempre vem acompanhada de cuidado.

O cuidado é mais do que um ato singular, ou uma virtude ao lado de

outras. É um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura

e se realiza no mundo com os outros.

Vale ressaltar que o ser no mundo expresso aqui, não significa apenas

uma determinação geográfica como o simples fato de fazer parte da natureza,

mas, significa existir e co-existir, estar presente, navegar pela realidade e

relacionar-se com todas as coisas do mundo.

Há algo nos seres humanos que não se encontra nas máquinas:o sentimento, a capacidade de emocionar-se, de envolver-se, de afetar e de

sentir-se afetado.

CAMPOS (2007), apoiado em Winnicott, afirma que a dialética

"depender do outro, para ser eu mesmo" se apresenta desde o início da vida.

Um bebê não sobrevive sem os cuidados maternos ou de um cuidador que se

disponha a cuidar. "Porque desejo ser, desejo o outro. Preciso do outro,porque desejo ser. A mola mestra das transformações que ocorrerão por 

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diante é o desejo de cuidar/ser cuidado, que tem no centro o ser, a vida,

aquela vida, daquela pessoa."

O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade eda inteligência. No cuidado se encontra o que o homem tem de mais

fundamental. Quer dizer, no cuidado identificamos os princípios, os valores e

as atitudes que fazem da vida um bem-viver e das ações um retroagir.

REQUISITOS PARA O CUIDADO

Em relação ao funcionamento psíquico dos cuidadores, Remen (1993)faz a seguinte observação:

"Eles se importam, mas se defendem contra a dor de se

importar. Não nos surpreende que os profissionais para quem a

doença e até a morte se tornaram parte da vida cotidiana busquem

proteção para não sentir nem partilhar o sofrimento, medo raiva ou

até solidão dos outros. O estresse emocional dessas pessoas é

enorme e, como estratégia, a classificação representa um esforçoinconsciente para adquirir imunidade contra a dor e o sofrimento.

Infelizmente, essa proteção também impede que os profissionais da

saúde percebam a unicidade do paciente. Precisamos buscar outras

maneiras de o profissional estar presente, em ser derrotado pelo

sofrimento e pela tragédia que o cercam."

É sabido que o processo de cuidar de pessoas, inevitavelmente,

proporciona sofrimentos, sentimentos de alegria, tristeza, impotência, perdas,dor, rejeições e angústia naqueles que são responsáveis pelo cuidar,

principalmente, quando aqueles a serem cuidados, encontram-se de alguma

forma em situações de vulnerabilidade e, de algum modo, apresentam

resistências e rejeições a pessoa de seus cuidadores.

Em geral, os cuidadores são vistos pelo outro como portadores de uma

macro homeostase psicológica e física, detentores de soluções prontas e

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acabadas para responder a todos os desafios e dificuldades decorrentes do

exercício de suas funções.

É correto afirmar que cuidar é ter cuidado e ter cuidado demanda umasérie de outras questões, tais como: atenção, preocupação, cautela,

responsabilidades, inquietações, deliberações, prudência, previsão,

criatividade, atitude de escuta e conhecimento acerca da pessoa a ser 

cuidada.

Rúbio (1993) coloca que para que o cuidador consiga conviver e

administrar bem todas essas demandas decorrentes do ato de cuidar, elenecessita de vários elementos, que esse autor nomeou como: independência

interior, abertura à realidade, abertura confiante e capacidade de vivenciar 

encontros realmente humanos.

• Independência interior 

A independência interior consiste na fidelidade a si mesmo, aceitandoser diferente dos outros. Sem essa clareza, o cuidador não evoluirá para ser 

realmente dono da própria vida, para saber escolher com alguma liberdade,

assumindo com liberdade e flexibilidade, as conseqüências da opção feita. É

claro que esta autonomia ou dependência interna não tem nada a ver com

orgulho, arrogância ou desprezo pelos outros, mas consiste na superação dos

vínculos de dependência e confluência, sendo capaz de distinguir o que é de

fato seu e o que pertence, essencialmente, no nível da subjetividade dapessoa que está sendo cuidada.

Quando o cuidador sabe ser ele mesmo, fiel ao seu modo próprio e

flexível de ser, ele se relaciona com os outros de maneira dialógica,

enriquecedora, sem deixar de ser ele mesmo. E quanto mais a pessoa do

cuidador se abre aos outros no diálogo, no acolhimento, na amizade e no amor,

mais é fiel a sua própria “vocação” pessoal e mais desenvolve sua liberdade eautonomia.

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• Abertura à realidade

Segundo Rúbio (1993), a maturidade afetiva é impossível sem a

sabedoria e a docilidade resultantes da abertura à realidade, abertura queimplica um verdadeiro programa de vida, exigente e libertador.

Diz-se que é exigente porque é necessário um esforço contínuo por 

parte da pessoa do cuidador para conhecer o outro e se conhecer melhor, para

penetrar nas profundidades do próprio eu, para captar um pouco mais a própria

verdade.

É libertador porque se trata de uma abertura libertadora, só na

aceitação da própria verdade é possível harmonizar os impulsos, desejos,

tendências, sentimentos e pensamentos em direção a uma personalidade

amadurecida.

É claro que o conhecimento de si próprio pode ser duro, amargo,

decepcionante, mas, é indispensável para que o cuidador viva uma existênciaautêntica, cresça na experiência da liberdade e desenvolva o equilíbrio

interior.

A abertura à realidade de si próprio não comporta, apenas, um encontro

com os aspectos negativos ou destrutivos da personalidade. Abrange,

também, a percepção luminosa da própria riqueza interior, muitas vezes,

desconhecida e inexplorada, riqueza de potencialidades e de qualidadespouco ou nada desenvolvidas, riqueza da vitalidade interior que aguarda,

pacientemente, o momento de se manifestar de uma ou outra maneira para a

própria pessoa e para os outros.

A abertura à realidade que é o outro leva o cuidador a experimentar 

interesse pelo que o outro geralmente sente ou pensa.

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• Abertura confiante

Rúbio (1993), pontua que a abertura à realidade do outro supõe respeito

e aceitação à alteridade, confiança nas potencialidades do outro e nas suaspróprias potencialidades.

• Capacidade de vivenciar encontros realmente humanos

Consiste na capacidade que o cuidador deve ter de olhar o outro de

maneira humana e, ao mesmo tempo, permitir que a outra pessoa o veja

humanamente. Significa, ainda, falar e escutar humanamente, não uma palavrameramente funcional, mas reveladora da própria identidade pessoal. Significa

aceitar ajuda do outro e, também, oferecer ajuda. Assumir livremente a relação

com o outro como um enriquecimento mútuo e não como uma lei imposta de

fora ou, então, como um castigo ou prova. Enfim, trata-se de uma relação

vivida na liberdade, sem conquista nem escravidão.

A INTERFERÊNCIA NO CUIDADO AO PACIENTE

O trabalho em saúde impõe aos profissionais da área uma rotina

carregada de alto grau de tensão que envolve toda a equipe. Inúmeras

pessoas transitando e conversando, sons agudos, intermitentes e variados,

queixas constantes, ansiedade, tristeza, dor, morte e longas jornadas de

trabalho constituem o cotidiano da maioria desses profissionais de saúde.

Baseado nesse contexto, Remen (1993) oportunamente faz a seguinte

comparação:

Um profissional de saúde é uma pessoa que sofreu profundas

modificações como resultado de treinamento especializado, do

conhecimento e da experiência; são pessoas diariamente expostas à

dor, à doença e à morte, para quem essas experiências não são mais

conceitos abstratos, mas sim, realidades comuns. De muitas

maneiras, é como estar sentado na poltrona da primeira fila no teatro

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da vida, uma oportunidade inigualável para adquirir um profundo

conhecimento e maior compreensão da natureza humana”.

O ritmo frenético do cuidado ao outro, essa produção de cuidados, faz

com que o cuidador, por ironia do destino se descuide de suas necessidades. A

auto negligência de alguns cuidadores pode ser notada através de seu

adoecimento e suas necessidades são apresentadas de forma irrefutável, o

afastamento do cuidado ao outro por impossibilidade pessoal torna-se visível.

E o cuidador obrigado a pensar sobre si próprio e sua condição falível

passa a se questionar, seu corpo adoecido, sua mente, antes ocupada com as

demandas do outro se volta rapidamente o olhar a si próprio e sua dor até

então tocada apenas por identificação com o outro, faz lembrar todos seus

sentidos e agora também o real.

Torna-se assim, imprescindível o cuidado ao cuidador, pois este tem em

suas mãos o cuidado do seu semelhante. Essa é uma grande responsabilidade

e diante dela os profissionais se posicionam de diferentes maneiras. Ao negar 

a possibilidade de falhar, sentindo-se onipotente e infalível, o profissional

diminui sua atenção para com o paciente e o coloca numa posição de menos

importância, de menos valia. Esse quadro reflete a falta de cuidados para com

a vida humana, seja do paciente ou do cuidador e ao descuidar do outro, o

profissional também estará negligenciando a si mesmo.

Aspectos importantes permeiam o trabalho num contexto hospitalar. A

difícil tarefa de constantemente lidar com o lado mortal do ser humano se une à

incumbência de cuidar e salvar vidas. Para que o cuidador esteja preparado

para lidar com tais aspectos, é necessário que ele reflita sobre si mesmo, seus

limites e potencialidades e constantemente ressignifique seu papel de cuidador.

A situação de trabalho no meio hospitalar suscita sentimentos muito

fortes e contraditórios nos profissionais da enfermagem: piedade, compaixão e

amor; culpa e ansiedade; ódio e ressentimento contra os pacientes que fazem

emergir esses sentimentos fortes; inveja do cuidado oferecido ao paciente.

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Os pacientes e seus parentes nutrem sentimentos complexos em

relação ao hospital, que são expressos particularmente e mais diretamente aos

funcionários da enfermagem e que, freqüentemente, os deixam confusos e

angustiados. No geral, os pacientes e seus parentes demonstram apreço,

gratidão, afeição, respeito; uma comovente crença de que o hospital funciona;

solidariedade e preocupação para com esses profissionais em seu difícil

trabalho.

Alguns pacientes freqüentemente se ressentem de sua dependência;

comumente aceitam de má vontade a disciplina imposta pelo tratamento e pela

rotina hospitalar; podem invejar os cuidadores pela sua saúde e competência e,

muitas vezes se tornam exigentes, possessivos e ciumentos.

Este breve retrato psicodinâmico da tarefa profissional da enfermagem

com pacientes hospitalizados pode ser aplicado, em graus variados, ao

conjunto dos profissionais que compõem a equipe de saúde: fisioterapeutas,

médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros que, desde a chegada do

paciente ao hospital até sua alta, têm contato com esses e/ou seus familiares e

suas angústias.

O CUIDADOR E A NORMALIDADE

Para descrever sobre “saúde mental” devem ser considerados alguns

pontos fundamentais no que diz respeito ao que é ter uma saúde mental

normal no âmbito hospitalar. A necessidade de ter claro certos parâmetrostorna-se essencial, uma vez que se pode considerar o individuo que não

demonstre que esteja fragilizado psiquicamente como sendo normal pelo seu

distanciamento de si mesmo e do outro. Quanto a esta aparente normalidade,

Joyce McDougall (1983) descreve:

“Seria mais exato afirmarmos que o caracterial do tipo normal

criou para si uma carapaça que o protege contra toda e qualquer 

manifestação de seus conflitos neuróticos e psicóticos“.

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Esta aparente normalidade não consegue transpor o cotidiano do

cuidador sem consequências diversas seja no campo da afetividade, da

subjetividade ou da somatização, seja a curto ou a longo prazo. Diante de tal

quadro, pode-se observar a necessidade de tratamento psicoterápico, como

forma de resgatar a si mesmo em sua dor, e curar suas feriadas abertas ao

longo de suas questões subjetivas, comuns em todo ser humano, mas que

sofre a identificação recorrente no contato com o sofrimento do outro.

Neste momento se torna imprescindível o papel do psicoterapeuta que

através de suas técnicas permite que seja possível resgatar as relações do

cuidador com a instituição hospitalar, com os cuidados ao paciente e

principalmente consigo mesmo em sua subjetividade e na elaboração de suas

questões que o levaram ao sofrimento psicológico.

Observando a relação do “eu com o outro” Joyce McDougall (1983)

explica assim a importância da psicoterapia:

“O objetivo de uma análise é o de nos fazer descobrir tudo aquiloque sempre tentamos ignorar, de nos fazer enfrentar tudo o que

existe de doloroso e de mais escandaloso no fundo de nós mesmos –

não apenas os desejos sexuais proibidos, mas também nossa avidez

por tudo o que não possuímos nossa avareza insuspeitada, nosso

narcisismo infantil, nossa agressividade assassina, em resumo de nos

revelar não apenas que ‘eu é um outro’.”

Torna-se importante no ambiente hospitalar não apenas identificar o

cuidador que procura o serviço de psicologia como sendo o sujeito doente, mas

acima disso como quem esta elaborando certas questões que se referem ao

sofrimento humano, lhe atingindo de maneira que esta elaboração não está

sendo satisfatória, não lhe permitindo assim exercer com qualidade suas

funções dentro do contexto de sua profissão.

É necessário também observar os casos dos indivíduos que apresentam

qualquer sofrimento diante do paciente, ao tempo que, em relação às suas

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próprias questões subjetivas, se vêm envolvidos em uma normalidade extrema

a ponto de ignorar seu próprio sofrimento pessoal. Agem assim em detrimento

da dor de quem eles identificam como maiores necessitados. Sofrem pela dor 

do outro, e a utilizam como parâmetro para ignorar suas próprias questões,

reduzindo-as a segundo plano, e se não tratadas devidamente, cedo ou tarde

eclodirão de forma emergencial, e por vezes, causando danos psíquicos e/ou

somáticos com seqüelas irreparáveis.

OS MECANISMOS DE DEFESA NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

As defesas comuns que buscam isolar as angústias são sistematizadasna ação social dos profissionais do meio hospitalar da seguinte forma:

• Fragmentação da relação profissional-paciente – a evitação de uma

relação mais íntima;

• Despersonalização e negação da importância do indivíduo – as

camisolas dos doentes e os uniformes de cada profissional indiferenciame despersonalizam o indivíduo evitando a afetividade;

• Distanciamento e negação de sentimentos;

• Rotinas e condutas padronizadas – reduzem a necessidade de se tomar 

decisões;

• Verificações, contraverificações e consultas ao outro profissional/colega

  – reduzindo o peso da responsabilidade individual através da

fragmentação das tarefas.

Pitta (1996) identifica que há outro modo de identificar e classificar 

estratégias defensivas dos trabalhadores de hospital:

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“Cabe-nos então buscar decifrar estratégias individuais e coletivas que

os trabalhadores de saúde lançam mão, cotidianamente, para cumprir 

suas tarefas enfrentando uma situação de trabalho que suscita

sentimentos tão fortes e contraditórios quanto piedade, compaixão,

amor, culpa e ansiedade, ódio, ressentimento, inveja.” 

Segundo o autor, em estudos de psicopatologia do trabalho, verificou-se,

empiricamente, três estratégias dos trabalhadores se relacionarem com o seu

trabalho:

• A primeira seria a evitação, rechaço, em que o indivíduo, ao não tolerar 

a intensa mobilização interna que o lidar com o doente suscita, faz todasas manobras para não tomar contato com seus doentes: chama-os por 

números, por categorias nosológicas, atende-os de portas abertas,

estimulando-os a sair, ou melhor, a sequer entrar em contato consigo.

Reage como uma parede à qualquer solicitação do doente, humilhando-

o, coisificando-o, bestilizando-o. Infelizmente é um comportamento

encontrado, particularmente entre os que não ficam na profissão, sendo

alvo fácil para que "autoridades" os elejam como os responsáveis únicospelo não funcionamento do sistema.

• Um segundo grupo pode viver um "envolvimento apaixonado" com seus

doentes, misturando-se com os mesmos, identificando-se, projetando-

se. Neste grupo se encontram os trabalhadores mais novos e menos

experientes, ou outras pessoas mais sensíveis, com defesas menos

estruturadas, que costumam apresentar sintomas, ou mesmo adoecer somática ou psiquicamente como modo de reagir à mobilização que o

outro, doente, impõe.

• Existe ainda uma terceira via, a mais econômica para trabalhadores,

doentes e organizações, na qual o trabalhador vai procurar fazer tudo do

melhor modo para que este comportamento gere um reconhecimento

externo, que, uma vez devolvido ao seu agente, se transforme num ciclo

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nutridor para que a "boa prática" se institua como algo capaz de produzir 

novos reconhecimentos.”

Este último grupo citados pelo autor, demonstra que a chamada "vocação"pode ser interpretada como a sublimação das dificuldades encontradas no

trabalho junto ao doente, sendo essa uma forma de lidar com pulsões

instintivas, transformando-as em atos e atividades socialmente reconhecidas,

possibilitando desta maneira, a repressão das angústias e desejos comuns

identificáveis.

A respeito desta íntima ligação subjetiva do cuidador com o paciente,Menzies (1970) diz que:

“A ansiedade e a culpa são estimuladas quando o enfermeiro no

exercício profissional falha no uso de sua plena capacidade a serviço

de outras pessoas necessitadas. As enfermeiras acham as limitações

de seu desempenho muito frustradoras. Elas freqüentemente sentem

uma dolorosa sensação de fracasso quando executaram

rigorosamente suas tarefas prescritas e expressam culpa e  preocupação em relação a incidentes nos quais elas seguiram as

instruções ao pé da letra, mas, ao fazê-lo, praticaram o que elas

consideram má enfermagem".

Assim, a sociedade se apropria das demandas psíquicas dos que

cuidavam para responder às demandas sociais e institucionais, minimizando a

necessidade primordial de cuidar, substituída por funções técnicas que não

substituem psiquicamente o cuidado ao doente, e sim apenas o tangenciam,

determinam um desvio primordial do papel do enfermeiro.

O afastamento provocado pela necessidade de padronizar resulta na

quebra do contrato simbólico inicial (preciso ser cuidado - posso cuidar)

estabelecido no momento da admissão entre o enfermeiro e o paciente,

promovendo a cisão de fantasias e gerando conflitos. Ambos experienciam

sentimentos de traição, injustiça e abandono, conferindo maior sofrimento e

induzindo à elaboração mútua de mecanismos de defesa.

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Frente a essa situação, observa-se, portanto que as funções instituídas

funcionam como mecanismos de defesa para as angústias persecutórias e

depressivas, enquanto que a resistência às mudanças sociais acontece pela

ameaça que é provocada por ela própria nas defesas socialmente incutidas

contra ansiedades profundas e intensas.

Menzies (1970) conclui diante de tal situação que:

"O serviço de enfermagem cujo trabalho estimula tais ansiedades

 primitivas e intensas, iria antecipar a mudança com uma ansiedade

excepcionalmente severa. A fim de fugir dessa ansiedade, o serviço

tenta fugir da mudança na medida do possível, poderíamos dizer que a

qualquer preço, e tende a agarrar-se àquilo que é conhecido mesmo

quando o conhecido evidentemente cessou de ser apropriado ou 

importante. As mudanças tendem a ser iniciadas somente quando se

chega à crise".

A SÍNDROME DE BURNOUT NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A síndrome de burnout é muito comum em profissionais da área de

saúde, e tem como principais sintomas sentimentos de frustração, frieza e

indiferença em relação ás necessidades e ao sofrimento dos pacientes.

Mário Teixeira (2007) define a importância dessa síndrome com as

seguintes palavras:

“O burnout, expressão inglesa para designar aquilo que deixou de

funcionar por exaustão de energia, constitui atualmente um dos

grandes problemas psicossociais, despertando interesse e

preocupação por parte da comunidade científica e das empresas,

devido à severidade das suas conseqüências, quer ao nível individual,

quer ao nível organizacional. De fato, o burnout sendo um estado de

esgotamento, decepção e perda do interesse pelo trabalho, produz

sofrimento no indivíduo e tem conseqüências sobre o seu estado de

saúde e o seu desempenho, pois passam a existir alterações pessoais

e organizacionais.”

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O desencadeamento da síndrome esta intimamente ligada à interação

de características individuais do profissional somadas ao ambiente de trabalho

tendo como conseqüências a exaustão emocional, despersonalização e falta

de realização pessoal.

Em seu artigo, Mário Teixeira (2007) relata que “a exaustão emocional

refere-se à falta de recursos emocionais e ao sentimento de que nada se tem

para oferecer à outra pessoa.

A despersonalização é o desenvolvimento de sentimentos e atitudes

negativas, indiferentes e cínicas em relação às pessoas que entram em contatodireto com o profissional. Finalmente, a falta de realização pessoal é a

tendência para avaliar o próprio trabalho de forma negativa: os afetados

recriminam-se por não alcançarem os objetivos propostos, com vivências de

insuficiência pessoal e baixa auto-estima profissional.

CARACTERÍSTICAS E CONSEQÜÊNCIAS DO BURNOUT

Entre outros sintomas comuns dessa psicopatologia podem ser citados:

distanciamento emocional, sentimentos de solidão, alienação, impotência,

onipotência, ansiedade, cinismo, apatia, hostilidade, agressividade, mudanças

bruscas de humor, irritabilidade e problemas somáticos como alterações

cardiovasculares, respiratórias, imunológicas, sexuais, musculares, digestivas e

do sistema nervoso.

Ao nível organizacional, registram-se uma deterioração da qualidade dos

cuidados, diminuição da satisfação, elevação significativa do numero de faltas

e atestados, aumento dos conflitos interpessoais entre colegas e supervisores

e, portanto, uma diminuição da qualidade no cuidado ao paciente incitando

inclusive risco de erros onde estes têm consequências profundas, e mesmo

podem significar uma vida.

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Em seu estudo sobre o Burnout, Mário Teixeira (2007) relata que os

primeiros estudos que investigaram o burnout em enfermeiros mostraram que a

síndrome estava positivamente correlacionada com a quantidade de tempo que

os enfermeiros passam com os doentes, com a intensidade das exigências

emocionais destes e com o cuidar de doentes com mau prognóstico.

Porém, os estudos mais recentes demonstram que esta síndrome está

mais intimamente associada a fatores relacionados com o trabalho hospitalar,

tais como sobrecarga laboral, baixo nível de suporte, conflitos interpessoais,

contato com a morte e preparação inadequada.

E, diante de tais fatos, o autor conclui que por esse motivo, se faz

importante desenvolver estratégias de prevenção e tratamento junto ao

profissional que está inserido no meio hospitalar.

COMO PREVENIR A SAÚDE MENTAL DO CUIDADOR

Segundo Gil-Monte (2003):

“As estratégias de prevenção e tratamento do burnout podem ser 

agrupadas em três categorias: individuais, grupais e organizacionais.”

Destrinchando cada uma destas categorias, o autor esclarece:

Como estratégia individual é importante que o cuidador desenvolvaestratégias eficazes quanto à formação em resolução de problemas,

assertividade, e gestão do tempo.

As estratégias grupais consistem em buscar o apoio dos colegas e

supervisores para que o individuo possa ter uma rede de amparo social em

suas demandas. Deste modo, os indivíduos melhoram as suas capacidades,

obtêm novas informações e apoio emocional.

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Finalmente, as estratégias organizacionais, consideradas muito

importantes já que o problema está no contexto laboral, consistem no

desenvolvimento de medidas de prevenção para melhorar o clima

organizacional, tais como programas de socialização para prevenir o choque

com a realidade e implantação de sistemas de avaliação que concedam aos

profissionais um papel ativo e de participação nas decisões laborais.

Com relação á instituição, junto aos profissionais de saúde, devem ser 

observadas medidas como: evitar o excesso de horas extras, proporcionar 

condições de trabalho atrativas e gratificantes, modificar os métodos de

prestação de cuidados, reconhecer a necessidade de educação permanente,

investir no aperfeiçoamento profissional e dar suporte social às equipas, podem

contribuir para a prevenção do burnout.

É fundamental a participação do psicólogo nos aspectos acima citados,

seja através da psicoterapia individual, de grupo, ou mesmo com sua visão

organizacional humanizada, também ocupando um importante papel mediador 

entre o indivíduo, o grupo e a instituição.

O ADOECER DO MÉDICO E AS SUAS RELAÇÕES COM A PROFISSÃO

Algumas das características inerentes à tarefa médica definem um

ambiente profissional formado pelos intensos estímulos emocionais que

acompanham o adoecer:

• O contato íntimo e freqüente com a dor e o sofrimento;

• Lidar com a intimidade corporal e emocional;

• O atendimento de pacientes terminais;

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• Lidar com pacientes difíceis: queixosos, rebeldes e não aderentes ao

tratamento, hostis, reivindicadores, auto-destrutivos, cronicamente

deprimidos;

• Lidar com as incertezas e limitações do conhecimento médico e do

sistema assistencial que se contrapõem às demandas e expectativas dos

pacientes e familiares que desejam certezas e garantias.

A ADAPTAÇÃO AO ESTRESSE DA TAREFA MÉDICA

Como forma de neutralizar a carga estressora a que é submetido, omedico se utiliza de defesas que, em muitos casos, permeiam o

desequilíbrio psíquico:

• A construção de uma couraça impermeável às emoções e sentimentos

resulta na "frieza" no contato de muitos médicos com seus pacientes;

• Em função dos chamados e da agenda profissional, plantões freqüentes

e visitas hospitalares em finais de semana e feriados, ocorre comumente

um progressivo afastamento emocional da vida familiar;

• Ocorre um isolamento social por parte do profissional que se afasta do

mundo não médico;

• É também comum o desejo fantasioso do médico de sentir-se

necessário e insubstituível;

• É observada a negação ou minimização das dificuldades, incertezas,

limitações e complexidades da tarefa médica;

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• A ironia e o humor negro que os médicos desenvolvem, revela, em reali-

dade, uma incapacidade de lidar com as frustrações, tristezas e

vicissitudes da tarefa profissional;

• Percebe-se a ausência de um repertório de recursos mais amadurecido

para lidar com os sentimentos de vulnerabilidade e impotência diante da

vida;

• Há uma atitude do profissional frente aos cuidados com a própria saúde

em se auto-diagnosticar e se auto-medicar, bem como se transformar 

em médico da própria família, dos amigos e conhecidos;

• Lhe é incutido algumas vezes uma fantasia de poder, como uma espécie

de estado messiânico diante de sua profissão.

A VULNERABILIDADE PSICOLÓGICA DO MÉDICO

Uma alta prevalência de suicídio, depressão, uso de drogas, distúrbios

conjugais e disfunções profissionais em médicos assim como altos índices de

estresse e depressão em residentes tem sido apontados na literatura.

Muitas das características psicodinâmicas que conduzem as pessoas

para a carreira médica também as predispõem para desordens emocionais,

alcoolismo, abuso de drogas e doença mental. Estas características incluem

compulsividade, rigidez, controle sobre as emoções, retardo de gratificações e

formação de fantasias irrealistas sobre o futuro.

Estudos a respeito das motivações dos estudantes para a carreira médica

sugerem que, para uma parcela dos estudantes, um dos componentes de sua

opção profissional é uma tentativa de reparação de experiências emocionais

infantis vinculadas a situações de impotência e/ou de abandono emocional.

Segundo Johnson( ), os dois mecanismos básicos envolvidos nas motivações

de alguns estudantes para a escolha da carreira médica seriam:

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• Dar aos outros aquilo que gostariam de ter dado (reparação da

impotência);

Dar aos outros aquilo que gostariam de ter recebido (reparação doabandono emocional).

• Pode levar ao desenvolvimento de algumas disfunções profissionais, tais

como:

Relação simbiótica com os pacientes;

Aparente frieza ou afastamento emocional dos pacientes;

Negação das vulnerabilidades pessoais.

Uma das bases da escolha profissional é a vivência da angústia e

impotência frente à morte; mecanismos de defesa ligados a angústias muito

primitivas, medo da própria destruição, fragilidade e desamparo.

Nogueira-Martins (2003) relata os resultados de uma pesquisa clássica

realizada por Vaillant e colaboradores publicada no ano de 1972:

“A infância de 47 médicos (homens) foi comparada à infância de

79 profissionais não-médicos (homens), socioeconomicamente

pareados. Paralelamente, ao longo de 30 anos da vida adulta, ouso de drogas, a estabilidade no casamento, a busca de

psicoterapia e os mecanismos utilizados pelos médicos para lidar 

com crises e conflitos foram comparados com o grupo controle

(não-médicos). Os resultados revelaram que os médicos,

especialmente aqueles que tinham prática clínica, apresentavam

casamentos mais instáveis, usavam drogas e álcool de forma

abusiva e buscavam psicoterapia em proporção maior do que os

controles.”

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Como resultado foi observado que:

• Somente os médicos com adaptações instáveis na infância e

adolescência revelaram vulnerabilidade às solicitações da profissão.

• Os mecanismos normalmente utilizados para lidar com as crises e

conflitos da vida adulta, os médicos utilizavam, em uma proporção duas

vezes superior à dos controles;

• Os médicos apresentaram características de personalidade que são

habitualmente relacionadas com aquelas encontradas em dependentesde drogas: dependência, pessimismo, passividade, insegurança e

sentimentos de inferioridade;

• A superproteção materna e/ou paterna é um dado estatisticamente

significante entre os médicos;

• As características de passividade e auto-agressão podem até ser benéficas para a clientela, porém, conduzem a uma pobre qualidade de

vida do médico;

• Alguns médicos trabalhavam muito como uma forma de fuga a

convivência com casamentos infelizes.

• Uma parcela da população médica - 8% a 10% - pertence a um grupo de

risco em relação a distúrbios emocionais. Este grupo apresenta,

portanto, uma maior vulnerabilidade psicológica.

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MEDIDAS PREVENTIVAS

A implantação de medidas profiláticas deve começar pelo reforço e real

avaliação da dimensão psicológica na formação do estudante de Medicina.

A tarefa central, prática, de uma disciplina de Psicologia Médica, é

propiciar ao estudante um espaço para entrar em contato com seus

sentimentos e emoções, diante dos seres humanos que está começando a

atender.

Nas escolas médicas, o discurso enfatiza os deveres eresponsabilidades e mantém um eloqüente silêncio sobre os direitos,

prerrogativas e limitações do médico. Certos valores heróicos, veiculados pelo

corpo docente e que estimulam fantasias irrealísticas nos estudantes de

Medicina, merecem ser reavaliados.

É fundamental a criação de serviços de orientação psicopedagógica

para os estudantes, assim como deve ser estimulada a organização deserviços de assistência psicológica e psiquiátrica aos alunos e profissionais da

saúde.

A criação de equipes interdisciplinares e multiprofissionais nos serviços

de saúde possibilita a troca de experiências, permitindo compartilhar as difíceis

situações que se apresentam nas instituições médicas.

Uma valiosa medida profilática é o debate aberto e franco entre os

médicos sobre as suas vulnerabilidades e limitações.

Toda e qualquer medida profilática envolve um processo de

conscientização com tentativa de modificação de atitudes. As resistências não

são pequenas e com freqüência crescem ao longo desse processo.

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GRUPOS BALINT

Segundo Mário Teixeira (2007), no âmbito da formação como do exercí-

cio profissional, o Grupo de Reflexão sobre a Tarefa Assistencial merecedestaque. Esse tipo de atividade é inspirado nos Grupos Balint. 

Michael Balint, psicanalista de origem húngara, desenvolveu os

seus trabalhos sobre a capacitação psicológica dos médicos na Clínica

Tavistock em Londres a partir de 1945. Balint iniciou seus trabalhos a

partir de pesquisas com grupos de assistentes sociais que atendiam

famílias. Esta atividade foi posteriormente estendida para médicos clínicosvisando compreender e administrar dificuldades que os profissionais

encontravam em seu trabalho clínico.

Na época em que muitos médicos generalistas britânicos tinham

que atender solicitações reiteradas de pacientes funcionais inscritos em

suas listas, Balint passou a coordenar seminários semanais de discussão

a respeito dos problemas psicológicos da prática médica. Habitualmenteparticipavam dos seminários 14 médicos generalistas e uma taquigrafista

que registrava o conteúdo das apresentações dos casos clínicos que eram

atendidos pelos médicos.

Em relação ao comportamento do médico observado nessa

pesquisa, Balint (1961) afirma:

"A maneira de falar do médico a respeito de seu paciente,

com todas as falhas e inexatidões de seu relato, as

omissões, os pensamentos secundários, as adições tardias e

as correções, incluindo a seqüência na qual isso foi 

revelado, contam uma história - semelhante ao conteúdo de

um sonho - familiar  e facilmente inteligível para nós,

analistas. Esta história é aquela, evidentemente, da

implicação afetiva do médico, de sua contra transferência ".

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Balint (1961), em sua obra, deu ênfase à "aliança terapêutica" que deve

existir no vínculo profissional-paciente, como propulsora de um bom

atendimento. Conforme esse autor, a técnica, por mais aprimorada que seja,

tenderá a ser ou inócua ou alienante, se não for veiculada por uma boa relação

profissional-paciente. Para que haja essa boa relação, é necessário que se dê

atenção aos elementos que a compõem que são, ao mesmo tempo, racionais e

irracionais, realísticos e irrealísticos, maduros e infantis, conscientes e

inconscientes.

O objetivo dos Grupos Balint é que os médicos, com o auxílio de um

coordenador da área de Saúde Mental, possam ter uma compreensão nova a

respeito de seus pacientes e ampliar suas possibilidades terapêuticas. O

trabalho se realiza em grupo, a partir de casos clínicos relatados pelos

médicos. O coordenador oferece aos médicos uma possibilidade de sub-

meterem seus casos problemáticos a seus pares, analisando as situações,

propiciando discussões e mostrando interesse e sensibilidade pela realidade

profissional do médico e por seu desenvolvimento profissional.

Grupos Balint um recurso pelo qual o médico passe a se interessar pelo

mundo emocional do seu paciente e pelas repercussões que seu modo de vivê-

lo acarretam para o processo saúde-doença; como conseqüência, o médico

passaria a interessar-se também por sua própria vida emocional e pela relação

humana (em particular, pela relação médico-paciente).

O Grupo de Reflexão é uma técnica muito utilizada no ensino de

Psicologia Médica, que pressupõe que as possibilidades de mudanças nas

atitudes estão diretamente ligadas à intensidade das experiências emocionais

vividas no decorrer do processo de ensino ou de trabalho. As experiências

emocionais ligadas ao exercício profissional compartilhadas em um ambiente

afetivo e acolhedor permitem um reasseguramento da identidade profissional

através da detecção e enfrentamento dos conflitos. Com este modelo, se pro-

põe a criação de uma instância reflexiva sobre o cotidiano da prática

assistencial, com possibilidade de detecção de entraves e pautas

estereotipadas de conduta no exercício profissional.

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O manejo técnico utilizado neste tipo de grupo consiste em que seu

coordenador centralize a discussão no tema que, como um denominador 

comum, emerge da livre discussão que se estabelece a partir dos relatos das

vivências clínicas.

CONCLUSÃO

Sem nenhuma pretensão de esgotar este interessante e necessário

assunto, foi possível verificar nesta reflexão acerca do cuidado e do cuidador,

que não é possível alguém ousar cuidar do outro se não cuidar de si mesmo.

Cabe aqui, como reflexão, lembrar a célebre frase de Jesus Cristo: “Ama o teupróximo como a ti mesmo”.

Conclui-se que, cuidar do outro significa acima de tudo, reconhecê-lo

na sua condição humana, atribuir-lhe importância e valor, viver e expressar 

carinho e ternura para com ele, preocupar-se com ele de maneira concreta,

preocupação essa, que se traduz na decisão de fazer algo por ele,

envolvendo-se na situação em que ele se encontra.

Para tanto, é preciso tratar as questões subjetivas do cuidador através

de psicoterapia, tanto com função curativa quanto como forma profilática,

permitindo assim, a este profissional a busca do equilíbrio necessário ao bem

cuidar do outro.

Concorda-se com a afirmação de May (1978) quando diz: “o cuidado éo contrário da indiferença, do cinismo e da apatia tão freqüentes no mundo

moderno”.

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