TCC II Rosa

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Curso de Serviço Social A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À IMPORTANCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA PESSOA COM TRANSTORNO MENTAL NO CAPS II DE TIANGUÁ- CEARÁ. Nome do autor: Rosa Liduína Portela Nome do professor Nome do Tutor Virtual Nome do Tutor Presencial RESUMO: Este artigo científico tem por objetivo refletir sobre a prática o assistente social mediante a inclusão da família no processo de recuperação da pessoa com transtorno mental. Para tanto o processo descrito do artigo, pauta-se voltado para o Centro de Assistência Psicossocial da cidade de Tianguá- Ceará, pois dentro da unidade de referência existe a necessidade de uma maior aproximação entre família, equipe de

Transcript of TCC II Rosa

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Curso de Serviço Social

A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À IMPORTANCIA DA

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA PESSOA

COM TRANSTORNO MENTAL NO CAPS II DE TIANGUÁ- CEARÁ.

Nome do autor: Rosa Liduína Portela

Nome do professor

Nome do Tutor Virtual

Nome do Tutor Presencial

RESUMO: Este artigo científico tem por objetivo refletir sobre a prática o assistente

social mediante a inclusão da família no processo de recuperação da pessoa com

transtorno mental. Para tanto o processo descrito do artigo, pauta-se voltado para o

Centro de Assistência Psicossocial da cidade de Tianguá- Ceará, pois dentro da

unidade de referência existe a necessidade de uma maior aproximação entre família,

equipe de saúde e paciente. Vale ressaltar que a intervenção do assistente social

nesse campo deve esta em conjunto as necessidade do usuário, para proporcionar à

democracia a luta pela a efetivação dos direitos do cidadão assim como reaproximar

o paciente com transtorno mental da sociedade de forma a inseri-lo neste contexto

social.

Palavras-chave: Família, paciente com transtorno mental, serviço social.

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INTRODUÇÃO

O presente artigo de TCC II (Trabalho de Conclusão de Curso) tem como foco

central a atuação do assistente social na inserção da família junto ao tratamento

realizado pelo CAPS de Tianguá- Ceará, com pacientes que sofrem de algum tipo

de transtorno mental e que utilizam os serviços oferecidos dentro da unidade de

saúde.

Na sociedade atual ainda se encontra grandes barreiras na aceitação de que

a pessoa que sofre de transtorno mental é responsabilidade não só das unidades

que o acolhem para fazer o tratamento, mas como também da família, estas por sua

vez estão pouco preparadas e amparadas para acolher o seu ente doente.

Antes da reforma psiquiátrica, a pessoa que sofria de transtorno mental era

tratada exclusivamente em hospitais psiquiátricos. Com a reforma psiquiátrica no

Brasil e com o surgimento dos serviços substitutivos ao método usado por hospitais

da época, o CAPS surgi como uma alternativa aos serviços prestados as pessoas

com transtornos mentais. O Assistente Social entra nestes serviços substitutivos

como peça chave para auxiliar no desenvolvimento de atividades interativas e

interventivas.

A instituição do CAPS é um lugar de referência para tratamento de pessoas

que sofrem tanto de transtornos mentais, como psicoses, neuroses entre outros que

ali se justifique a permanência de um paciente dentro da unidade para sua

reabilitação psicossocial. A instituição por sua vez está inserida na política de saúde

mental do Ministério da Saúde, pois são considerados dispositivos estratégicos para

uma organização da rede de atenção em saúde mental.

O artigo científico também aborda a questão da família no processo de

recuperação e ressocialização do paciente com transtorno mental, estas por muitas

vezes são vítimas de descriminação juntamente com seu ente doente, o que de

certa forma inibe a participação ativa destas nas atividades voltadas a reinserção do

doente na sociedade. É importante ressaltar que a participação do assistente social

é fundamental para desenvolver ações interventivas, para que só assim chegue-se

ao sucesso ao objetivo maior que é trazer a família para o processo ativo de

recuperação de pacientes que frequentam o CAPS II de Tianguá- CE.

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CONTEXTUALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO

DE RECUPERAÇÃO DO PACIENTE COM TRANSTORNO MENTAL.

Para dar-se início ao embasamento deste capítulo, antes de tudo é preciso

entender a família como um todo. Buscar uma definição específica para o termo

família é algo que ao longo da história se tenta fazer, porém conceituar esta é algo

bastante complexo, impossibilitando assim ter apenas uma definição para descrever

a família de forma geral. Assim como a história vive em constante transformação, a

definição do termo família acompanha as transformações, e a cada período novos

autores elaboram conceitos que estes julgam ser a definição mais apropriada para o

termo “família”.

No Brasil a Constituição Federal de 1988, representou um marco na evolução

do conceito de família que trouxe no título “Da família da Criança e do Adolescente e

do Idoso”, a ampliação do conceito de família, reconhecendo a união estável entre o

homem e a mulher como entidade familiar, suprimindo a expressão “constituída pelo

casamento”.

A atual Lei Nº 12.435, de 6 de Julho de 2011 é a que mais se aproxima da

realidade atual de um conceito de família, e esta em seu parágrafo 1º descreve:

“Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o

cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o

padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,

desde que vivam sob o mesmo teto”.

A família é responsável por seus membros, então a partir do momento em

que um de seus integrantes tem problemas relacionados à saúde mental, parte dela

a responsabilidade de encaminhar e acompanhar a pessoa doente nos serviços

ofertados para a pessoa que sofre de transtorno mental.

Para o autor Fernandes (2003), qualquer grupo social, (um casal, uma

família, etc.), é um sistema humano, caracterizado pela interação que há entre seus

membros. Cada membro tem sua individualidade, mas estas interagem e se

modificam conforme a dinâmica grupal. Dessa forma, a alteração dessa dinâmica

em função do desenvolvimento de um transtorno mental de um membro do grupo

familiar reflete-se em todos os membros do grupo, modificando-os.

A família é a base do indivíduo, é ela que passa segurança para seus

integrantes. Sabe-se a “instituição familiar” é algo que não pode ser substituído, pois

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esta é responsável pela a construção da personalidade de seus membros, quando

algum integrante adoece, não sendo considerada “normal” diante das pessoas, a

família é de suma importância no tratamento, na recuperação e reabilitação

psicossocial. Segundo SOUZA (1997, p.23):

“O sentimento de família engloba todas as emoções inerentes à pessoa:

identidade, pertença, aceitação, amor, carinho, raiva, medo, ódio...

Certamente é esta fusão de opostos que torna a família tão complexa e sua

compreensão em desafio interminável”. (SOUZA, 1997).

Os problemas relacionados aos transtornos mentais, podem se apresentar de

várias formas, com a existência de diversos sintomas, como tanto pode abranger

síndromes de perturbações das funções cognitivas (memória, inteligência e

aprendizagem), como alterações do sistema sensorial, transtornos de consciência e

atenção. Além destas, os transtornos podem apresentar quadro de alucinações,

delírios, depressão, ansiedade, alteração de personalidade e comportamento. De

acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10

(1993, p.05) o transtorno mental é:

“[...] um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível

associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções

pessoais. Desvio ou conflito social sozinho, sem disfunção pessoal...”.

Abordar o tema família e a pessoa com transtorno mental exige a

necessidade de compreender principalmente as questões sociais que os cercam.

Como é a vida cotidiana do familiar com o doente? Quais as condições financeiras

da família? Quem é o responsável pelos cuidados da pessoa doente dentro de

casa? É uma série de perguntas, na qual o assistente social deve fazer uma

investigação para obter as respostas para assim dar inicio ao trabalho de inclusão

da família no tratamento.

Reforma Psiquiátrica trouxe bastantes mudanças significativas para o campo

da saúde mental. Uma das mudanças mais significativas que o processo enfatiza, é

a capacidade e disposição do familiar e da comunidade em conviver com a pessoa

que tenha algum sofrimento mental, uma vez que é nestes ambientes que,

efetivamente, deverá ocorrer à principal reforma na vida das pessoas que sofrem de

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transtornos mentais e de sua família. O procedimento que antes a família passava

para os hospitais psiquiátricos a responsabilidade de cuidar do doente mental

retorna para esta. Segundo MELMAN (2002, p.61):

“As famílias se viram estimuladas e pressionadas a voltar a assumir a

responsabilidade pelo cuidado de seus membros doentes. A presença do

usuário na comunidade demandava a criação de dispositivos terapêuticos

mais complexos e abrangentes de existência cotidiana dos pacientes

psiquiátricos no espaço social”. MELMAN (2002).

Na lei Nº 10.216 em seu Cap. X Art. 3°. “É responsabilidade do Estado o

desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações

de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da

sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental,

assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde

aos portadores de transtornos mentais”.

Para facilitar o processo entre família e instituição de saúde, esta entra na

unidade de assistência em saúde mental, como parceira, parte tão importante como

os profissionais de saúde que ali estão. Estas serão capacitadas a interagir

corretamente com o doente, serão orientadas nos cuidados que elas devem ter

dentro e fora de seu lar com o seu ente.

A família será orientada de sua importância no processo de divisão das

tarefas para uma melhor reabilitação do doente, a família precisa conhecer o porquê

de estas mudanças esta ocorrendo, ela precisa entender qual a verdadeira função

do CAPS.

A família deixa de entrar na instituição como acompanhante e passa a

desempenhar uma função mais direcionada para o tratamento diferenciado com o

doente. A família é a base, o porto seguro da pessoa com transtorno mental, com

esta integrada no processo de reabilitação, sem dúvidas os serviços terão uma

maior eficiência, e o paciente sem dúvidas se sentira mais confiante para seu

tratamento. Segundo MELMAN, (apud, Horta 2008, p.193):

“A família é um elemento central no tratamento ao portador de transtorno

mental, através do suporte familiar obtêm-se resultados mais satisfatórios.

Um ambiente familiar permeado de conflitos e de negação ao portador de

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transtorno mental é desfavorável ao tratamento, desta forma, é necessário

resgatar o vínculo entre familiares e portador de transtorno mental para a

efetivação do cuidado”. (MELMAN, 2008).

O papel da família dentro do contexto que envolve a recuperação do paciente

com transtorno mental, vem sendo reconhecido no decorrer dos anos, pois a família

traz consigo uma valiosa colaboração no tratamento e principalmente na reabilitação

dos doentes, sem ela presente no cotidiano do doente é quase impossível ter

sucesso na integração deste de volta ao convívio na sociedade. Vale ressaltar que é

comprovado que a participação direta da família no tratamento de pacientes com

transtornos mentais traz grande evolução no quadro da doença, é importante

destacar também que se reconhece a grande sobrecarga que a família carrega

quando se tem um doente crônico em casa, a família enfrenta situações de

dificuldades, de preconceito o que torna difícil a situação desta.

Muitas vezes a família se sente culpada por existir um caso de doença mental

dentro de seu lar, o que em muitos casos há uma recusa de alguns familiares

entrarem no processo de recuperação do doente. Segundo Koga (1997), se

identificou três tipos de sobrecarga nos familiares que convivem com o portador de

transtorno mental: sobrecarga financeira, sobrecarga nas rotinas familiares e

sobrecarga em forma de doença física e emocional. Estas pessoas encontram

ainda, como repercussão da doença do familiar, a dificuldade em ter atividades de

lazer e manter relações sociais extrafamiliares.

Ainda se tem paradigmas para ser quebrado, e com as transformações que

estão cada vez mais centralizadas em um modelo terapêutico voltado também para

a família, se pressupõe que é possível sim conviver e trazer a sociedade o a pessoa

com problemas mentais, para que estas sejam tratadas como todo e qualquer

cidadão.

A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL DENTRO DO CONTEXTO DE

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO CAPS II DE TIANGUÁ- CE.

SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA

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Para uma melhor compreensão sobre a contribuição do Assistente Social

inserido no Centro de Atenção Psicossocial de Tianguá- CE é preciso fazer antes de

tudo uma reflexão sobre as políticas que envolvem essa unidade de tratamento para

pessoas com neuroses, transtornos psíquicos e mentais.

No Brasil a partir de meados do século XIX, a forma mais utilizada da época

de dar atenção aos portadores de transtornos mentais, era a internação destes em

hospitais psiquiátricos. FOUCAULT, 1978, afirma que apenas quando surgiu a

Ciência Moderna que os “loucos” passaram a integrar os hospitais psiquiátricos.

“Com o processo de secularização e o surgimento da chamada Ciência

Moderna, a loucura passa a ser sinônimo de alienação. Surgem os asilos ou

hospitais psiquiátricos nos quais os loucos são tratados como “doentes”

mentais”. (FOUCAULT, 1978)

Em nosso país este modelo de tratamento oferecido aos usuários durou até a

década de 70, quando nessa época surgiu um das primeiras experiências voltadas

para a transformação da assistência prestada pelas instituições psiquiátricas até

então. A década de 70 é vista como o início das grandes transformações de atenção

a saúde, de um lado o “movimento sanitário”, que tinha como uns dos objetivos a

defesa da saúde coletiva e a modificação no modelo de atenção e gestão nas

práticas de saúde, de outro lado a Reforma Psiquiátrica, onde esta por sua vez

buscava modificar a assistência prestada nos hospitais psiquiátricos, a fim de acabar

com a violência asilar tão comum nos hospitais que prestavam assistência aos

pacientes com transtornos mentais.

Em resposta a Reforma Sanitária, surgi o Sistema Único de Saúde- SUS,

onde em seu Art. 196 impõe “A saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de

doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços

para sua promoção, proteção e recuperação”. Além do que descreve a Constituição

de 1988; Volpato relada ainda:

“A rede de serviços do SUS deve ser organizada e hierarquizada,

permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da população

de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica,

sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de

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atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade”.

Volpato (2009).

As exigências postas tanto pela Reforma Psiquiátrica como pelo processo de

implantação do SUS impõem uma reorientação em todo processo de formação

profissional. A política de saúde mental no Brasil, ao adotar como eixos principais a

desmanicomialização, a organização de rede de serviços de saúde mental

substitutivos e o reconhecimento dos direitos de cidadania das pessoas com

transtorno mental, exige transformações profundas nos modos de conceber o

cuidado e organizar os serviços em confronto com as concepções e estratégias

tradicionais, o que implica a definição de novos perfis profissionais (MANGIA;

MURAMOTO, 2006).

Vale ressaltar que os direitos conseguidos através da Reforma, esta luta que

durou 12 anos, estão assegurados na lei N° 10.216/2001. Dispõe sobre a proteção e

os direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial

em saúde mental. Em seu “Art. 1° Os direitos e a proteção das pessoas acometidas

de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de

discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política,

nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo

de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra”.

Com a política de saúde mental proposta pelo Ministério da Saúde na tem

como estratégia a implantação de uma rede de apoio extra-hospitalar, no qual estas

já são uma realidade em nosso país, as quais visam à redução progressiva dos

leitos psiquiátricos, expansão dos CAPS, Inclusão das ações de saúde mental na

atenção básica, consolidação do Programa “De Volta Para Casa”, expansão das

Residências Terapêuticas, formação e qualificação de Recursos Humanos,

promoção dos direitos de usuários e familiares e incentivo à participação no cuidado,

qualificação do atendimento hospitalar e ambulatorial existente, consolidação da

política para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Todas essas

estratégias da Política de Saúde Mental traz sem dúvidas uma série de avanços em

termos de atenção às pessoas com transtornos mentais e sua família, no quais

foram conquistados através do movimento de reforma psiquiátrica.

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SERVIÇO SOCIAL E O CAPS

O serviço social no campo de saúde mental não é nenhuma novidade.

Segundo Soares (2006), as primeiras intervenções do chamado Serviço Social

Psiquiátrico surgiram nos EUA, aproximadamente por volta de 1905, mesmo antes

do reconhecimento da profissão na sociedade.

No Brasil data se desde a década de 40, desta essa época o profissional

social já atuava na área da saúde, estes prestava serviço de forma assistencialista e

burocrático, depois desde período o assistente social trabalhava na higienização,

mas foi só a partir da década de 70 que o Assistente Social viu grandes

transformações que marcaram de vez sua profissão. A partir da década de 1980, e,

principalmente, na década de 1990, houve uma polarização na área da saúde

mental por métodos mais teóricos, onde a perspectiva da desinstitucionalização de

hospitais psiquiátricos abriu novas possibilidades de aproximação com o processo

de renovação crítica da profissão.

Uma das primeiras estratégias dessa rede de serviços extra-hospitalar da

atual política de saúde mental foi à implantação dos CAPS, estes representam a

consolidação da principal estratégia de substituição do hospital psiquiátrico. Os

CAPS têm a missão institucional de substituir a rede manicomial de assistência

colocando-se como responsabilidade institucional de garantir a redução dos leitos

manicomiais em seu território, sem provocar a desassistência dos portadores de

transtorno mental, assim como de sua família.

Os CAPS com o objetivo de substituir os hospitais psiquiátricos assim como

reduzir a princípio os leitos ofertados para pacientes com transtornos mentais.

Nesses serviços substitutivos, o assistente social entra como mediador das relações

entre instituição, pacientes, família e comunidade. Nos serviços substitutivos, cujas

ações visam estimular a integração social e familiar dos usuários pelo acesso ao

trabalho, lazer e exercício dos direitos civis, o assistente social encontra importante

espaço sócio ocupacional. Conforme visto, o serviço social vem acompanhando as

transformações do campo da saúde mental e, em determinado momento,

prevalecendo o trabalho na lógica curativo-hospitalar com abordagens

psicologizantes, mas cabendo o registro de que sempre houve ações progressistas

da profissão neste campo (MACHADO, 2009).

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O Serviço Social no campo da saúde desenvolve atividades sócias educativas

e culturais, visando à inclusão social dos pacientes e familiares, que vão desde

orientações sociais, consultas e pareceres que possam contribuir com a inserção do

paciente em programas e projetos sociais voltados para o desenvolvimento da

cidadania. No CAPS o profissional de Serviço Social deve se articular com os

demais profissionais, desenvolvendo atividades onde juntos possam fortalecer a

estratégia de consolidação dos direitos a saúde.

O ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS II DE TIANGUÁ- CE

Na cidade de Tianguá, o assistente social contribui em diversos serviços para

frequentadores da instituição. Ele é o profissional responsável por prestar serviços

em âmbito social, analisa onde há desajustes sociais, promove atividades

educativas, assiste os usuários em suas necessidades básicas, desenvolve

programas e atividades para a reabilitação de pacientes, são uma série de

atividades que o profissional desenvolve tanto aos que utilizam o serviço de forma

direta (pacientes), como os que usam os serviços de forma indireta, no caso os

acompanhantes de pacientes.

A ideia é fazer a desinstitucionalização e reabilitação social do individuo que

usa os serviços do CAPS II. O que antes era de toda responsabilidade da instituição,

passa a ter agora um parceiro mais ativo, a família. É importante ressaltar que a

família já tem um fardo pesado dentro de casa com seu ente, sabe-se que lhe

agregar mais uma tarefa não é algo simples, e aceitável da mesma forma entre as

famílias que precisam dos serviços do Caps. Por isso é tão importante o assistente

social avaliar cada família, cada caso, para que se possa se chegar um objetivo

mesmo que seja trabalhando de forma diferenciada com cada um dos

colaboradores.

O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL COM A PESSOA

QUE SOFRE DE TRANSTORNO MENTAL E SUA RESPECTIVA FAMÍLIA

A ampliação da rede de atenção psicossocial no país vem proporcionando

ampla presença dos assistentes sociais nos serviços substitutivos, alguns

profissionais, inclusive, coordenando CAPS. O assistente social é um dos

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profissionais que pode fazer parte da equipe multiprofissional dos CAPS, conforme

Portaria 336, de 19 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2004).

Os Centros de Atenção Psicossocial trouxe um novo modelo a política de

saúde mental no Brasil, para o autor BISNETO, (2007, p. 37):

“Esses serviços necessitam da participação do Serviço Social em proporção

maior do que na internação [...] o Movimento de Reforma Psiquiátrica vem

trazer uma abertura muito grande para a atuação do Serviço Social em

saúde mental devido à formação social e política dos assistentes sociais”.

BISNETO, 2007.

Mesmo com o surgimento de entidades de apoio a pessoa com transtornos

mentais, não foi possível ainda arrancar a raiz da discriminação voltada para essas

pessoas. Por a sociedade trazer ao longo da história um isolamento do doente

mental, não será uma tarefa fácil e em curto prazo reinseri-los no meio social.

Ninguém espera ter uma pessoa com problemas mentais dentro de seu lar,

por isso muitas vezes a família não esta preparada adequadamente para lhe dar

com possíveis conflitos que possam surgir nesse contexto. Ter algum ente com

deficiência mental pode acarretar em diversas problemáticas, entre estas a família

em muitos casos acaba evitando a exposição do doente com a sociedade.

A família é responsável por promover o contato entre o doente e os serviços

de saúde existentes. Além disso, cabe a esta elaborar e redimensionar valores e

expectativas relacionadas ao cotidiano e ao futuro de seu familiar com sofrimento

psíquico. No entanto, existe a necessidade dos profissionais da área de saúde

mental em não se centrar apenas na pessoa doente, mas em toda a estrutura da

sociedade na qual esta se insere. Destaca-se neste contexto, especialmente a

família, pois esta constitui o sistema social dentro do qual evoluem as fases de

crescimento e de desenvolvimento do ser humano. DURMAN (2004).

Trabalhar tanto com a pessoa que sofre de transtorno mental como sua

família, requer do profissional antes de tudo uma investigação do meio social em

que as famílias vivem. Esta investigação pode ser feita tanto através de visitas

domiciliares como por um questionário. Assim podemos identificar as necessidades

de cada família em especial, para depois podermos promover a família como um

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grupo social capaz de ajudar no desenvolvimento da personalidade do paciente com

transtornos psíquicos.

BISNETO (2007); ressalva que precisamos pesquisar e teorizar em saúde

mental relacionando tal questão a sociedade contemporânea, atentando para as

novas configurações da política de saúde mental e nesse processo entendemos ser

primordial conhecer os sujeitos envolvidos nesse processo.

Ter um doente com transtornos mentais dentro do lar é algo que sobrecarrega

uma família. Cuidar de um doente é algo sofrido e dificultoso e em muitos casos a

família não tem os cuidados necessários para proceder corretamente com o doente

dentro de casa, em alguns casos chegam a usar a violência para tentar conter o

doente em crises.

O Assistente Social vai fazer com que a família desempenhe de forma mais

complexa o a estimulação e integração social dos portadores de transtornos

mentais. Assim através de ações pautadas com o objetivo de reabilitar o usuário

com transtorno mental com o apoio da família, serão assegurados os seus direitos

de cidadão, é importante ressaltar que o assistente social terá que acompanhar os

problemas vivenciados pelos usuários não só dentro da instituição, mas também fora

dele, pois só será possível se intervir se o profissional estiver engajado no contexto

social em que a família vivencia. Para PEREIRA, (2000, p. 254):

“É importante que os profissionais da área de saúde mental, de modo

especial os assistentes sociais em sua intervenção junto à família, atentem

para esta realidade, para quer propiciem àquelas possibilidades de superar

as dificuldades vividas no convívio com o membro portador de transtorno

mental, dividindo com eles o tempo de cuidar, através da oferta de serviços

de atenção psicossocial diário, oferecendo-lhe o apoio necessário dos

serviços para lidar com o estresse do cuidado e convidando-o a participar

da elaboração dos serviços e de sua avaliação”. PEREIRA, 2000.

Os usuários e familiares destes que frequentam o CAPS II, nem sempre

necessitam apenas das políticas sociais voltadas para a saúde, em muitos casos

existe a necessidade de se trabalhar de forma a inseri-los em outras políticas

sociais. Para obter-se um acesso digno a uma política social de qualidade, é preciso

investigar caso a caso o que se passa com as famílias dentro do seu meio social,

para só ai tentar inserir a família junto ao tratamento de pacientes com transtornos

mentais nos Centros de Referências.

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Dentro do campo de estágio realizado dentro do Centro de Assistência

Psicossocial, está inserido diretamente na política social que cerca a instituição,

requer do assistente social um trabalho que ultrapasse as barreiras da unidade.

Trabalhar com pacientes que sofrem de transtornos mentais requer do profissional,

aptidão para lhe dar com os problemas que cercam o paciente dentro e fora do

Centro de Atenção Psicossocial.

Assim como em qualquer área de trabalho do assistente social, dentro do

Centro de atenção Psicossocial, a atuação do profissional não deve se limitar a

apenas ao atendimento isolado, no caso usuário ou um integrante de sua família,

mas deve existir a compreensão das relações sociais que o sujeito está inserido,

sendo o espaço familiar e a comunidade a serem priorizados para que haja

continuidade e sucesso nas ações realizadas.

O trabalho do assistente social voltado para a família de pessoas com

transtornos mentais requer do profissional a disposição de escutá-las antes de tudo,

demonstrando assim atenção e importância para os diversos problemas

apresentados pela a família. Muitas vezes o problema da família nem sempre esta

relacionado diretamente ao doente, mas sim é preciso averiguar a situação social de

cada um. Afinal como podemos propor mudanças na recuperação de pacientes se

estes não tem a força de vontade necessária, que muitas vezes é usurpada por

outros problemas sociais? Se quisermos mudança, é preciso intervir também nos

processo que envolvem a família dentro de sua comunidade. É importante destacar,

que nem todos os frequentadores do CAPS são família que estejam incluídas em

casos de vulnerabilidades sociais.

Mesmo que nem todas as famílias que frequentam a instituição de tratamento

estejam em situações de vulnerabilidades, estas tem algo em comum, sem dúvidas

todas sofrem de discriminação com seus entes doentes. Cabe ao profissional social

buscar por algo maior, cuja diferencial no tratamento será também modificar a visão

da comunidade com as pessoas que estão sendo excluídas por terem algumas

limitações.

Existem muitos desafios a serem superados, ou então propor mudanças na

realidade dessa família. Para BISNETO, (2007, p. 145) expressa o que cabe ao

profissional diante as fragilidades existente na área da saúde mental:

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É necessário ao assistente social reconhecer seu próprio valor, saber o que

está fazendo, criar um discurso profissional, publicar ideias, lutar por seus

princípios, fazer alianças, se expor profissionalmente em Saúde Mental.

Claro que o profissional de campo precisa contar com a colaboração de

seus colegas de academia: a universidade também deve desenvolver esse

discurso profissional com pesquisas, aulas, extensão, publicações,

conferências entre outros recursos. (BISNETO, 2007).

Desenvolver também atividades de conscientização dentro da comunidade

que o doente vive, faz parte do processo de reabilitação social, pois infelizmente

existe uma barreira muitas vezes criada pela sociedade em reclusão a pessoa com

transtorno mental. O assistente social deve trabalhar tanto com a família como com

as pessoas que cercam o meio social do indivíduo doente, pois estas pessoas tem

que se conscientizar que as pessoas com sofrimento psíquico são seres humanos

em potencial e com habilidades e capacidades que podem ser explorada para um

melhor convívio social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a reflexão realizada no decorrer de desenvolvimento deste artigo,

percebe-se as grandes mudanças no decorrer da história no que diz respeito não só

na saúde mental, mas também como a saúde em geral. A criação de programas

voltados diretamente a um público alvo específico, os movimentos de reformas, a

transformação do trabalho do assistente social, trouxe para o Brasil atual um avanço

perceptível nas políticas públicas.

A Reforma Psiquiátrica no Brasil possibilitou através das lutas sociais, várias

mudanças do atendimento público em Saúde Mental, e foram através da reforma

que surgiram os modelos substitutivos aos hospitais psiquiátricos, os CAPS.

Infelizmente a pessoa com doença mental é tratada na sociedade de forma

excludente, onde tanto o mercado capitalista como as pessoas de forma geral, cria

um receio de integrar essas pessoas no seu meio. A sociedade de forma majoritária

não acredita que é possível a convivência passiva de pessoas com problemas

mentais no seu meio que estas estão inseridas, gerando assim um preconceito,

onde tanto a pessoa doente sofre, mas como também sua família. No imaginário

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popular essas pessoas não são capazes de conviver em harmonia, porém estas

esquecem que o doente mental também é cidadão e eles estão sendo privado de

seus direitos.

Com todas as transformações vivenciadas através da história e com todas

outras que estarão por vim, o que se espera é que os profissionais sociais estejam

sempre compromissados em participar das mudanças. Somos nós juntamente com

cada pessoa que necessite de nossa intervenção que faremos sem dúvidas, um

trabalho cada vez mais voltado para se reduzir ou até mesmo erradicar os

problemas sociais que tanto afligem as famílias de pessoas com transtornos

mentais.

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