TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS O Papel da IIRSA na Integração Regional Sul-Americana: Uma Análise do Projeto da Ferrovia Norte-Sul e seus Efeitos sobre o Desenvolvimento Local TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Lucas Nóbrega Porto RA 00063039 Victor Fonseca Alberto RA 00068522 Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho São Paulo Novembro / 2013

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O Papel da IIRSA na Integração Regional Sul-Americana: UmaAnálise do Projeto da Ferrovia Norte-Sul e seus Efeitos sobre oDesenvolvimento Local

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O Papel da IIRSA na Integração Regional Sul-Americana: Uma

Análise do Projeto da Ferrovia Norte-Sul e seus Efeitos sobre o

Desenvolvimento Local

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Lucas Nóbrega Porto RA 00063039

Victor Fonseca Alberto RA 00068522

Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho

São Paulo

Novembro / 2013

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Lucas Nóbrega Porto

Victor Fonseca Alberto

O Papel da IIRSA na Integração Regional Sul-Americana:

Uma Análise do Projeto da Ferrovia Norte-Sul e seus Efeitos sobre o

Desenvolvimento Local

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como parte

dos requisitos necessários para obtenção do título de

Bacharel em Relações Internacionais, sob orientação do

Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho.

São Paulo

2013

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RESUMO

O TCC analisa o papel da Ferrovia Norte-Sul – FNS no desenvolvimento

econômico e social do Estado do Tocantins, e da enorme região que pretende

articular, e suas relações com a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura

Regional Sul-Americana - IIRSA. A FNS está incluída na IIRSA como uma das

obras de destaque para viabilizar seus objetivos de integração do continente. A

pesquisa de campo realizada no Tocantins sugere que a ligação da FNS com a

IIRSA é apenas formal. O projeto da FNS e sua execução parecem responder

apenas a objetivos brasileiros, já delineados antes da IIRSA, o que relativiza e

reduz o alcance e os significados da IIRSA enquanto iniciativa de integração da

América do Sul.

ABSTRACT

This work analyses the role of the North South Railroad – FNS on the economic

and social development of the Tocantins state and the enormous region that it

involves. It also analyses the relations between this developments with the

Initiative for the integration of the South American Infrastructure – IIRSA. The

North South Railroad is included on IIRSA as one of the main projects to

accomplish its continent integration objectives. The field research made at

Tocantins, suggests that the connection of the North South Railroad with IIRSA

is simply a matter of protocol. The FNS project and its execution seem to attend

only Brazilian objectives, already established before IIRSAs creation. This

makes the reach and the meaning of IIRSA become narrow as an Initiative of

integration of South America.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Estrutura Institucional IIRSA entre 2000 e 2005....................................... 14

Figura 1.2 – Estrutura Institucional IIRSA a partir de 2005.......................................... 15

Figura 2.1 – Localização Estratégica do Estado do Tocantins - Nacional..................... 21

Figura 2.2 – Localização Estratégica do Estado do Tocantins - Global......................... 22

Figura 3.0 – Plano Bulhões............................................................................................. 23

Figura 4.0 – Estágio Atual de Implantação da Ferrovia Norte Sul................................. 27

Figura 5.0 – Produção de Soja no Brasil........................................................................ 28

Figura 6.0 – Plano de Expansão Ferroviária Nacional................................................... 29

Figura 7.0 – Centro Logístico Porto Nacional/Palmas................................................... 30

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SUMÁRIO

Introdução ...................................................................................................................... 6

Capítulo 1

IIRSA, Brasil e Regionalismo Sul Americano............................................................. 8

1.1 Os Anos 2000 e as implicações para o regionalismo Sul-Americano..................... 8

1.1.1 O contexto da época no mundo e no Brasil.......................................................... 8

1.1.2 As implicações para as teorias do regionalismo................................................... 8

1.1.3 Um exemplo: A nova Agenda de integração e a Reunião de Presidentes.......... 10

1.2 A IIRSA ................................................................................................................ 11

1.2.1 A proposta brasileira ...........................................................................................12

1.2.2 Estrutura institucional e os princípios básicos atuais......................................... 12

1.2.3 As principais diretrizes do Brasil na IIRSA....................................................... 15

Capítulo 2

A FNS na IIRSA: um exemplo da ineficiência do Regionalismo Sul-Americano? 17

2.1 Tocantins no Brasil: Contexto socioeconômico.................................................... 20

2.2 Uma breve história da Ferrovia Norte-Sul............................................................ 22

2.3 A FNS para o Tocantins e região........................................................................... 27

Considerações Finais ................................................................................................... 31

3.1 A Ferrovia Norte-Sul e a questão do desenvolvimento econômico....................... 31

3.2 A FNS e a IIRSA........................................................................................................... 32

Referências Bibliográficas........................................................................................... 35

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Introdução

Existem diversos caminhos para atingir o nível de desenvolvimento ideal

de uma sociedade. Um dos mais conhecidos do mundo é o Welfare State

europeu que, hoje, em muitos países está em desconstrução. Outro caminho

seria o liberalismo à la american way of life cujo sucesso também é fortemente

questionado pela recente crise econômica da qual muitos ainda sofrem as

consequências. A integração regional, todavia, não se apresenta como um

tema por excelência desta pauta de estudos. Apesar da história recente da

Europa estar ligada diretamente ao processo de integração regional do

continente e, por isso, ser considerada pela maioria uma peça chave para a

prosperidade, este tipo de, em termos mínimos, cooperação supranacional

parece não ser avaliada como uma causa angular do desenvolvimento

econômico e social. Na América Latina, não é muito diferente. A Cepal foi o

órgão que deu origem à discussão na região e elaborou um postulado

adaptado à realidade destes países.

Durante uma primeira etapa, a integração regional esteve associada à

estratégia de industrialização por substituição de importações e tinha como

objetivo integrar as estruturas produtivas de modo que o comércio intra-

regional e a especialização da base produtiva dos países aumentassem, o que

proporcionaria um crescimento econômico sustentável. Esta via não logrou

dadas as falhas do modelo ISI e dos acontecimentos internacionais que

atingiram a América Latina minando os anos dourados. Já nos anos 90, o

regionalismo já foi encarado não mais como uma estratégia rumo ao

desenvolvimento em si, mas como uma forma de integração no sistema

internacional, o que ficou conhecido como “regionalismo aberto”. Os anos 2000

marcaram o início de um novo paradigma devido a ascensão dos governos de

esquerda na América Latina, que dotou a região de sincronismo político-

ideológico.

Nesse sentido, a integração regional também acompanhou este

movimento permitindo o nascimento, por exemplo, da IIRSA, iniciativa para a

integração física da América do Sul. Hoje, todavia, o processo de integração

está inserido num contexto macroeconômico estável, porém preocupante. O

modelo desenvolvimentista parece dar sinais de fraqueza e dependência da

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estrutura capitalista do “centro”, e aquela convergência política aparenta

insuficiente para superar as divergências entre os países num contexto mundial

de crescente competitividade e gerar mecanismos que avancem com a

integração regional. Por isso, é importante analisar a integração sul-americana

através desta ótica do desenvolvimento que pode ser traduzida através da

seguinte problemática: Qual o papel da IIRSA para o desenvolvimento dos

países sul-americanos e para o fortalecimento da integração regional? Para

abordar o assunto de maneira integral, analisamos numa primeira parte a

iniciativa em si, seus fundamentos, estrutura e objetivos. Num segundo

momento, descrevemos a experiência de uma pesquisa de campo que teve

como objetivo conhecer uma obra do portfólio de projetos da IIRSA e validar os

mecanismos de ação da instituição.

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1. IIRSA, Brasil e regionalismo Sul-Americano

Concebida durante a Primeira Reunião de Presidentes da América do

Sul em 2000, a IIRSA, Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional

Sul americana, surge a partir de uma proposta do governo Brasileiro como a

primeira iniciativa de integração regional no continente. Esta reunião pode ser

considerada como um divisor de águas no que diz respeito às estratégias de

regionalismo praticadas até aquele momento na América do Sul. Novos temas

foram incorporados à agenda de integração regional, e a ideia de integração

começa a deixar de se associar com temas comerciais e necessidade de

adequação com a abertura das economias, para se relacionar com novas

propostas como o desenvolvimento regional.

A IIRSA caminha para seu décimo quarto ano de existência e ao longo

deste tempo, vem representando uma convergência de interesses políticos em

direção à integração. Apesar disto a IIRSA não apresenta um órgão

deliberativo, o que ocasiona em um baixo desempenho na execução dos

projetos. A partir deste ponto nos perguntamos os quão harmônicos e

convergentes os interesses de integração e desenvolvimento da América do

Sul realmente são? Nesta parte do trabalho apresentaremos o contexto em que

a IIRSA foi criada, sua estrutura e princípios básicos e as diretrizes do Brasil na

IIRSA.

1.1 Os anos 2000 e as implicações para o regionalismo Sul-Americano.

1.1.1 O contexto da época no mundo e no Brasil.

O Regionalismo Sul Americano nos Anos 2000 foi influenciado pelas

mudanças ocorridas na década anterior. O modelo de funcionamento da ordem

político-econômica internacional e a necessidade de adequar-se a ela, foram

as motivações para que os países da Região, pensassem sobre suas

estratégias de integração regional.

Conforme Karen Honório exemplifica em seu trabalho, no início dos anos

2000, a América do sul apresentava um quadro de grande diversidade nas

estratégias de inserção internacional entre os diferentes países. Não houve um

movimento que garantisse um padrão nas abordagens internacionais. A

necessidade de mudança nos rumos econômicos era compartilhada por todos

os países, porém as estratégias adotadas para a abertura econômica

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simplesmente não seguiam os mesmos padrões. Karen Honório exemplifica

esta afirmação com o pensamento de Pedro Veiga e Sandra Rios:

“Durante os anos 90 os diferentes países sul-americanos evoluíram ao longo de uma trajetória de liberalização. É bem verdade que as estratégias nacionais não eram idênticas, algumas privilegiando a abertura unilateral e complementar (caso do Chile), outras concentrando esforços de abertura em acordos preferenciais com países desenvolvidos ou com países vizinhos (Brasil).” (Honório, 2013, p.16)

Ondas de privatização em setores estratégicos anteriormente

controlados pelo Estado sucederam, pautados nas resoluções do consenso de

Washington e na ideia neoliberal de que o desenvolvimento só seria alcançado

com a adoção de medidas liberalizantes e abertura econômica. O Estado

precisou ter seu papel na economia revisto conforme a doutrina neoliberal,

intervindo o mínimo possível, sendo então os desenlaces econômicos guiados

pelo livre comércio.

Com esta linha de pensamento, setores importantes como as

telecomunicações, energia e outros foram privatizados com a esperança de

que a concorrência fosse garantia de modernização.

1.1.2 As implicações para as teorias do regionalismo.

Segundo Karen Honório dois textos retratam bem as características do

regionalismo na América do Sul ao Longo da década de 90. O primeiro, escrito

por Maria Regina Soares Lima e Marcelo Coutinho (2007), “Uma versão

Estrutural do Regionalismo”, traz a ideia de regionalismo estrutural, que

segundo os autores ocorreu a partir de 2002 e foi motivado pelos fracos

resultados no que diz respeito ao desenvolvimento durante o movimento

neoliberal nos anos 90. O regionalismo estrutural tem como preceito a

cooperação entre iniciativas privadas e públicas, sendo esta parceria

coordenada pelo Estado, ou seja, o Estado trabalharia juntamente com a

iniciativa privada assumindo para si o papel de coordenador das políticas

regionais.

O regionalismo estrutural era baseado na abordagem de temas que não

causassem conflito entre os países da Região; infraestrutura, energia,

desenvolvimento social entre outros. Segundo os autores, este foco em

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questões “estruturantes” faria com que este tipo de regionalismo fosse capaz

de convergir a região rumo a um mesmo propósito independente de

orientações políticas, regimes comerciais e demais especificidades de cada

pais.

Já o segundo texto de Pedro da Motta Veiga e Sandra Ríos (2008), “O

Regionalismo Pós-liberal na América do Sul: Origens, Iniciativas e Dilemas”,

traz o conceito de um regionalismo pós-liberal. Este tipo de Regionalismo

segundo os autores surgiu no momento pós Consenso de Washington e

oscilava entre uma agenda integracionista de cunho desenvolvimentista, com

dificuldades para lidar com a agenda da liberação comercial e a formação de

coalizões de países ideologicamente afins. A implementação de novos temas à

agenda por meio de mecanismos de integração regional era um desafio uma

vez que os diferentes atores possuíam diferentes ideias no que diz respeito a

um projeto de integração regional. O baixo grau de confiança entre os governos

levariam a busca de soluções mínimas para os diferentes pontos levantados,

gerando impasses nas construções de consenso.

1.1.3 Um exemplo: A nova agenda de Integração e a Reunião de

Presidentes.

Pela primeira vez na história, os doze representantes dos países da

América do Sul se reuniram para discutir os rumos da região para os próximos

anos. Por este motivo, a Primeira Reunião dos Presidentes da América do Sul,

que ocorreu em Brasília durante o mês de Setembro do ano 2000, pode ser

considerada um marco que divide e transforma a maneira de se pensar sobre o

regionalismo Sul-Americano no século XXI, como demonstra o trecho abaixo

do Comunicado de Brasília:

“... Evento de caráter histórico e pioneiro na região, o encontro representou um importante estímulo para a organização de nossa convivência no espaço comum sul-americano e para continuar apoiando na América do Sul a conformação de uma área singular de democracia, paz, cooperação solidária, integração e desenvolvimento econômico e social compartilhado.” (Parágrafo 1º Comunicado de Brasília, 2000)

A reunião foi organizada e convocada pelo governo Brasileiro, durante o

Mandato de Fernando Henrique Cardoso. É interessante notar que os doze

presidentes participantes da reunião, foram eleitos em seus respectivos países

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em uma época onde as ideias neoliberais ainda representavam uma solução

para as crises da década de 90. Sendo assim, se observarmos o parágrafo

doze do Comunicado de Brasília encontraremos o seguinte trecho:

“A coesão da América do Sul constitui, também, elemento essencial para determinar de modo favorável sua inserção na economia mundial. Os desafios comuns da globalização - seus efeitos desiguais para diferentes grupos de países e, dentro dos países, para seus habitantes, - poderão ser melhor enfrentados na medida em que a região aprofunde sua integração e continue, de maneira cada vez mais eficaz, a atuar coordenada e solidariamente sobre os grandes temas da agenda econômica e social internacional.” (Parágrafo doze, Comunicado de Brasília, 2000)

Pelo trecho acima, podemos observar que apesar de emblematicamente

representar uma mudança nas diretrizes que guiavam o regionalismo na

América do Sul, os objetivos pretendidos com a adoção das novas estratégias

que foram propostas na reunião de Brasília, ainda miravam resultados do

regionalismo aberto, neoliberal, com maior inserção econômica regional nos

mercados mundiais. (HONÓRIO, Karen, 2013)

1.2 A IIRSA. Na Reunião de 2000, foi apontado que o problema referente à falta de

integração entre as infraestruturas dos países da América do sul seria um dos

aspectos mais custosos rumo a uma maior inserção do subcontinente no

Mercado Internacional, uma vez que demandaria fortes investimentos na

infraestrutura da América do Sul, principalmente em setores como o de

Transporte onde até hoje nos encontramos bastante deficientes.

No Comunicado de Brasília, fica expresso que a ideia de fronteira como um

elemento de separação e afastamento entre os países deveria ser abandonada

para que as fronteiras se tornem elos de união entre os países. Isto, pois a

integração da Infraestrutura, seria um elemento impulsionador para qualquer

outra iniciativa de integração que viesse ser implementada no futuro. Para isso,

no documento da reunião foi assinalada como prioritária a identificação de

obras de interesses bilaterais e sub-regionais, sendo que o financiamento

destas obras deveria partir dos governos, da iniciativa privada e pelas

instituições financeiras Multilaterais como o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID).

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No parágrafo 39 do Comunicado de Brasília, é apresentado um

documento rudimentar da IIRSA, o Plano de Ação para a Integração da

Infraestrutura Regional da América do Sul. No mesmo parágrafo coloca-se que

as sugestões e propostas expressas neste plano de ação, abrangeriam um

horizonte de dez anos para a ampliação e modernização da infraestrutura na

América do Sul, principalmente nos setores de Transporte, Energia e

Comunicação. Gostaríamos de salientar que no setor de Transportes, o

consenso que se chegou foi na prioridade na conformação de redes

multimodais de transporte o que além de facilitar o transito de pessoas

veículos e cargas, deixaria mais fluido o comércio e consequentemente os

investimentos na região.

1.2.1 A proposta brasileira. De acordo com a análise de Karen Honório, o modelo da IIRSA

apresentado em 2000, foi claramente resultado da metodologia de

planejamento da infraestrutura do governo brasileiro aplicada na América do

Sul. Honório afirma que a IIRSA é pensada nos moldes dos estudos propostos

por Eliéser Batista, empresário do ramo de infraestrutura e ministro de Minas e

Energia no Governo João Goulart. Honório percebe muitas semelhanças entre

o trabalho de Batista e os preceitos que são a essência da IIRSA como o

desenvolvimento da Infraestrutura, união dos países em busca de um

desenvolvimento econômico, tendo como resultado um maior grau de

integração regional. Em seu estudo, Honório comprova esta hipótese por ela

levantada conforme trecho abaixo:

“Como se pode notar, a IIRSA é pensada nos moldes do estudo proposto por Eliézer Batista. Confirmamos essa hipótese após entrevista com o coordenador nacional do governo brasileiro na IIRSA. Nosso interlocutor afirmou que a proposta da iniciativa nasceu na Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos, alocada no Ministério do Planejamento, no fim da década de 1990 apoiada na metodologia dos planos plurianuais aplicados no âmbito regional” (HONÓRIO,2013,p.41)

1.2.2 Estrutura institucional e os princípios básicos atuais.

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Inicialmente a IIRSA possuía uma estrutura hierarquizada formada por

três níveis de decisão: os Grupos Técnicos Executivos (GTEs) o Comitê de

Coordenação Técnica (CCT) e o Comitê de Direção Executiva (CDE).

O CDE era a instância diretiva da IIRSA, e tinha a função de definir os

alinhamentos estratégicos, fixação de metas, definição de prioridades e

procedimentos para implementação dos projetos além de ser responsável pela

aprovação das propostas elaboradas pelos GTEs e encaminhadas pelo CCT.

Eram integrantes de CDE representantes de alto nível designados pelos

governos. Em geral estes representantes eram os ministros de estado das

áreas de infraestrutura e planejamento. As decisões do CDE eram tomadas por

consenso.

Os GTEs representavam o nível técnico de trabalho dos governos, e

tinha como função, analisar assuntos específicos de cada eixo ou processo,

coordenar com o CCT as propostas técnicas que seriam submetidas ao CDE

dentre outras atividades técnicas específicas. Cada GTE era formado por um

gerente e um assistente técnico, o gerente era o representante do CCT no GTE

e era designado pelas instituições coordenadoras do CCT.

O CCT era o órgão de coordenação Interna da IIRSA, formado pelo

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Corporação Andina de

Fomento (CAF) e Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

(Fonplata). Atuava na definição das prioridades, organização dos trabalhos,

identificação ações estruturantes. Trabalhos estes centrados das áreas

prioritárias que por sua vez eram definidas pelo CDE e pelos GTEs. Cabia

também ao CCT o financiamento da produção de estudos para comprovar a

viabilidade dos projetos. Com exceção do CCT nenhum outro órgão da IIRSA

possuía Endereço fixo.

Sendo assim, os GTEs agrupavam os projetos de estruturação e os

encaminhava ao CCT. A partir de informações que demonstram a situação

econômica de região, fluxo de comércio e potencial o CCT hierarquizava os

projetos levantados pelos GTEs e os encaminhava para análise, votação e

aprovação do CDE. Uma vez aprovados, estes projetos eram incorporados à

carteira de projetos da IIRSA.

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Esta forma organizacional permaneceu até o ano de 2005, quando houve

uma mudança na visão dos governos a respeito da iniciativa. Karen Honório

relata que até 2005, os projetos da IIRSA tinham cunho estritamente técnico,

ou seja, eram priorizados aqueles que trouxessem maiores benefícios do ponto

de vista técnico. Já de 2005 em diante, a IIRSA adquire um viés político.

Projetos que não possuíam impactos elevados, mas que trariam

benefícios internos aos países começaram a ser Inclusos e priorizados na

carteira de projetos da IIRSA. Isto evidenciou a principal mudança ocorrida na

estrutura organizacional da IIRSA, a institucionalização das coordenações

nacionais (CNs), que representou um maior envolvimento dos governos no

andamento dos processos da IIRSA. As CNs tinham como principal função,

representar a IIRSA dentro dos países, promovendo articulações entre

governos, setor privado e IIRSA. Nas figuras 1.1 e 1.2, podemos verificar a

estrutura da IIRSA de 2000 - 2005 e de 2005 em diante.

Figura 1.1: Estrutura Institucional IIRSA entre 2000 e 2005

Fonte: Elaboração Própria

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Figura 1.2: Estrutura Institucional IIRSA a partir de 2005

Fonte: IIRSA (www.iirsa.org)

Conforme relata Karen Honório, foi apenas na III Reunião do CDE,

sediada em Brasília no ano de 2002, que os princípios orientadores da IIRSA

foram eleitos. Nesta Reunião as ações e objetivos da integração física foram

norteados com as demais iniciativas de integração e serviram de referência

para o desenvolvimento dos trabalhos da IIRSA. Eram princípios da IIRSA: 1)

Regionalismo aberto; 2) Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID); 3)

Sustentabilidade Econômica, Social, Ambiental e Político-Institucional; 4)

Aumento do valor Agregado da Produção; 5) Tecnologias da Informação; 6)

Convergência Normativa; e 7) Coordenação Público-Privada.

1.2.3 As principais linhas e diretrizes do Brasil na IIRSA Em seu texto, Keren Honório relata que de acordo com os dados

apurados em sua pesquisa, foi possível concluir que a atuação brasileira da

integração regional sul-americana se caracterizou por um modelo baseado em

cúpulas e espaços de coordenação.

A IIRSA foi uma iniciativa do Governo Brasileiro com apoio do BID e

como já foi tratado anteriormente, surge de um entendimento doméstico de

organização e planejamento que foi aplicada no território sul-americano.

Apesar deste pioneirismo Brasileiro a respeito da sugestão de criação da

IIRSA, o Brasil não tentou nenhum tipo de aprofundamento dentro das

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discussões no sentido de avançar em busca de resolução para os entraves que

impedem o progresso dos projetos, o que caracteriza uma falta de harmonia

jurídica entre os países em questões que englobam o financiamento das obras.

Honório explica que a escolha do governo pelo caráter essencialmente técnico

da IIRSA no Brasil, justificado pela designação do Ministério do Planejamento

como principal órgão Brasileiro atuante na IIRSA, acarretou na falta de suporte

político e participação das autoridades de alto nível para a resolução dos

conflitos nas obras. Podemos então concluir que a forma brasileira de

promover o regionalismo, presente na proposta inicial da IIRSA, buscou

alcançar uma convergência entre os países no que diz respeito à infraestrutura,

porém falhou ou não teve a intenção de criar uma instituição de caráter

deliberativo para sobrepor as decisões dos países.

Assim, para validar a realidade dos projetos da IIRSA e os instrumentos

de governança da mesma, foi necessária a realização de uma pesquisa de

campo. Na parte seguinte deste trabalho serão tratados, portanto, os

resultados e as questões relativas à eles que foram obtidos nesta experiência

empírica.

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2. A FNS na IIRSA: um exemplo da ineficiência do Regionalismo Sul-Americano? A Ferrovia Norte-Sul é um projeto que consta na carteira de projetos da

IIRSA e, por isso, foi escolhido para ser analisado neste trabalho. Com o

objetivo de conhecer os efeitos econômicos e sociais que a FNS trouxe para o

Estado do Tocantins e, os meios que este Estado, em conjunto com o governo

Federal e as instâncias da IIRSA, regula e acompanha as atividades relativas a

este projeto, foi realizada uma pesquisa de campo nos municípios de Palmas,

capital do Estado do Tocantins, e em Porto Nacional, cidade próxima à capital.

Este trabalho decorreu-se entre os dias 23 e 26 de outubro de 2013.

A escolha destes dois municípios para a pesquisa foi motivada pelo fato

de que o trecho da Ferrovia entre Açailândia e Palmas já está em operação.

Além disso, Palmas é a capital do Estado e, portanto, sede de todas as

secretarias do governo. Já por parte de Porto Nacional, a existência de um dos

Parques Multimodais da referida ferrovia na cidade foi o mais importante

estímulo para a decisão. Buscando conhecer também os efeitos para o

desenvolvimento econômico da região, entramos em contato prévio com o

Diretor do Departamento de Planejamento e Empreendimentos Estratégicos do

Estado do Tocantins e com o Secretário da Indústria, Comércio e Serviços de

Porto Nacional a fim de obter mais detalhes do próprio projeto da Ferrovia

Norte-Sul, dos projetos que vêm sendo desenvolvidos a partir dela e, mais

importante ainda, agendar as entrevistas para a pesquisa de campo.

O contato com estes entes políticos foram estabelecidos através da

pesquisa básica de dados acerca da Ferrovia, dos municípios pelos quais ela

passa e, portanto, dos órgãos regionais e empresas que poderiam ter relação

com a construção e operação da mesma. Esta aproximação junto a estes

atores foi realizada com enorme simplicidade dado que o Estado do Tocantins

e suas unidades constituintes apresentam de maneira clara os responsáveis

pelas áreas dentro de sua estrutura burocrática. Podemos dizer que o

“accountability” deste governo é razoavelmente elevado se o compararmos aos

outros órgãos públicos brasileiros. Além disso, como será demonstrado mais

adiante, o governo do Estado está em fase de plena expansão econômica e,

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por isso, em busca de oportunidades de investimento e meios para a

divulgação comercial da região. Esse fato facilitou o contato com os burocratas

e políticos no geral. A Universidade Federal do Tocantins, particularmente o

Departamento de Economia, também contribui com a pesquisa através de

indicações de pessoas que trabalham atualmente no governo e que poderiam

ajudar de maneira significativa.

Visando um conhecimento prévio do projeto da Ferrovia Norte-Sul e

como ele se relacionava com a iniciativa de integração regional da IIRSA, foi

realizada também uma entrevista semiestruturada por telefone, anteriormente à

pesquisa de campo, com uma funcionária do Ministério dos Transportes do

Brasil, indicada como responsável pelo projeto da Ferrovia Norte-Sul no âmbito

da integração sul-americana e também com um dos Coordenadores Nacionais

brasileiros na IIRSA. Essas entrevistas tiveram o objetivo angular de entender

de que maneira a Ferrovia estava vinculada ao arcabouço institucional da

IIRSA e, antes de tudo, se ela estava vinculada. Além disso, o levantamento de

bibliografia relevante se mostrou eficaz nesta etapa dado que estas pessoas

estão diretamente ligadas à esfera política de gestão do projeto. Isto é,

igualmente importante aos comentários e visões destas pessoas são os

documentos oficiais que elas têm conhecimento e que, algumas vezes, não

estão disponíveis eletronicamente, mas que, ao mesmo tempo, são públicos.

Para conhecer mais sobre a realidade econômica e social da região do

Tocantins, sobre o Projeto da Ferrovia Norte-Sul, sobre a IIRSA e preparar a

visita às cidades, foram adotados uma série de procedimentos. Primeiramente,

foram estudados os materiais gerais de referência sobre a FNS (Ferrovia

Norte-Sul). Neste sentido, foram analisadas algumas partes dos Estudos de

Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental e alguns documentos sobre a

história da estrada de ferro. Numa segunda etapa, foram pesquisados os

mecanismos de controle da IIRSA, a história da iniciativa e os seus objetivos.

Os pontos que se destacaram na pesquisa inicial foram: o grande período

de tempo através do qual a construção da FNS se prolonga e as características

do modelo de gestão, a magnitude do projeto e seus possíveis benefícios para

o Brasil e a incongruência com relação a alguns aspectos entre o projeto da

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FNS e a iniciativa da IIRSA. Também houve a preocupação de levantar dados

sobre o contexto socioeconômico do município e da região por meio do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Após estas pesquisas, foram elaborados questionários semiestruturados

a serem aplicados junto aos entrevistados previamente citados, assim como

outro questionário a ser aplicado junto a pessoas do público em geral da

região. Complementando os questionários, foram preparadas fichas para

registrar algumas características dos grupos entrevistados, mais precisamente

dos profissionais que trabalham nos órgãos públicos, e para as anotações em

geral das entrevistas realizadas.

As atividades começaram com uma visita inicial à sede da Secretaria do

Desenvolvimento do Estado para entrevistarmos o diretor do Departamento de

Planejamento e Empreendimentos Estratégicos do Estado do Tocantins e o

Diretor de Empreendimentos Estratégicos e Atração de Investimentos.

Em uma segunda etapa, realizamos visitas a três estabelecimentos

comerciais na área urbana de Palmas, sendo dois do setor de varejo alimentar

e outro do setor hoteleiro. Nesse trabalho procurou-se observar e avaliar a

atitude e conhecimento da população local em relação ao projeto da FNS.

Após esse trabalho e já considerando a terceira fase da pesquisa de

campo, solicitamos ao secretário da Indústria, Comércio e Serviços de Porto

Nacional novos esclarecimentos sobre os trabalhos desenvolvidos pela

Prefeitura de Porto Nacional e pela Secretaria do Desenvolvimento do Estado

em relação à Ferrovia, sobre o processo de gestão e planos futuros. Nessa

última etapa foram solicitados alguns documentos, para complementar as

informações e dados faltantes. Entre eles, destacamos: dados do município de

Porto Nacional, de preferência materiais que explicitem os impactos

econômicos e sociais gerados pela FNS, o histórico da FNS, mapas, estudos

sobre os projetos futuros que estão ancorados pelo modal ferroviário, etc.

A partir das fontes de dados e informações citadas, elaboramos o

presente relatório que apresenta, brevemente, o contexto econômico e social

do Tocantins, uma breve contextualização histórica do projeto da Ferrovia

Page 20: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

20

Norte-Sul e em seguida, destacamos as mudanças que esse projeto aportou

para a região e que pode ser dividido em três fases. Por fim, apresentamos

nossas considerações finais onde incluiremos nossa visão sobre a relação

entre a FNS, o Brasil e a IIRSA.

2.1. Tocantins no Brasil: Contexto socioeconômico Criado em 1988, o Tocantins é o estado mais novo do Brasil. Sua

população, de acordo com o último censo realizado pelo IBGE em 2010, era

formada por 1.383.445 habitantes distribuídos em 139 municípios. O PIB

estadual, mensurado no mesmo ano dessa pesquisa, atingiu o patamar de,

aproximadamente, R$ 17,2 milhões. Este indicador tem crescido a ritmo

acelerado como comprovado pela taxa acumulada de crescimento (2002-2010)

de 74,2%, enquanto que a mesma taxa considerando o Brasil como um todo é

de 37,1%. Esse fato coloca o Tocantins como o estado que mais cresceu neste

período. Outros casos que ilustram essa recente prosperidade é o crescimento

do setor da construção civil regional que também ficou à frente dos números

nacionais superando em 3,5% a taxa média brasileira de consumo de cimento.

O varejo, também neste sentido, cresceu 13,6% entre maio de 2012 e

maio de 2013, o que reflete o aumento do poder de compra da população e o

crescente dinamismo econômico que, por sua vez, estão vinculados,

sobretudo, ao aumento do número de registros de empresas em 18%

comparando com o ano de 2011. Este último fato está diretamente relacionado

com os recentes incentivos que o Governo do Estado vem implementando com

o objetivo de atrair empresas e investimento e, consequentemente, gerar renda

e desenvolvimento. Os principais incentivos nesta categoria são: Pro indústria,

Comércio Atacadista e Pro logística.

Os resultados destas políticas públicas são a existência e construção de

11 distritos empresariais que significou um investimento de R$ 10 milhões em

2012. Porém, a base produtiva e exportadora do Tocantins está assentada

numa relação 75/25, isto é, 75% de grãos e 25% de carnes e derivados, ou

seja, fortemente concentrada em commodities. Este espaço territorial é

considerado por muitos como uma das últimas fronteiras agrícolas ainda

existentes no mundo além da África; possuindo 49,7% da área do total do

Page 21: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

21

Estado destinada para a produção agrícola que significa, aproximadamente,

13.8 milhões de hectares. Neste contexto comercial, o Estado aumentou 11,9%

de 2012 para 2013 suas exportações, registrando em 2011 um saldo comercial

de US$ 324 milhões. É importante ressaltar, portanto, a posição territorial

estratégica do Tocantins em relação ao Brasil e, mais amplamente, à América

do Sul e ao mundo. Conforme é mostrado nos mapas abaixo, o Tocantins está

no “centro gravitacional” do Brasil. Ou seja, é um Estado de interligação entre

as diferentes regiões do país e, ao mesmo tempo, uma porta de entrada e

saída para os principais produtos da pauta exportadora brasileira, devido sua

proximidade com grandes portos, como o de São Luís.

Figura 2.1: Localização Estratégica do Estado do Tocantins - Nacional

Recife

Belo Horizonte

São Paulo

Porto Alegre

Florianópolis

João Pessoa Natal

Maceió

Salvador

Aracajú

Vitória

Rio de Janeiro

Curitiba

Fortaleza

Teresina

São Luís

Belém

Macapá

PALMAS

Manaus

Boa Vista

Rio Branco Porto Velho

Cuiabá

Campo Grande

Goiânia

AM

MT

TO

MS ES

AL

SC

RJ

RR

RS

SP

MG

BA

AP

RO

AC

PR

DF GO

SE

CE

PI

MA PA

RN

PB PE

Carajás

Marabá

Barreiras

Uberlândia

1%#PIB#

10%#PIB#

88%#PIB#

600#Km#

1200#Km#

1800#Km#

5.117.900#hab.#

41.008.470#hab.#

157.403.798#hab.#

Pop.#Brasil#=#190.732.694#

Fonte:'IBGE'/'Censo'2010'25'

LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

Page 22: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

22

Figura 2.2: Localização Estratégica do Estado do Tocantins - Global

Holanda'

África'

Europa'

América'do'Sul'

América'do'Norte'

Canal'do'Panamá'

Nova'Orleans'

Nova'York'

Vitória'(ES)'Rio'de'Janeiro(RJ)'

Santos'(SP)'

Buenos'Aires'

China'EUA'

Oceania'

Rússia'

Ásia'

Índia'

Japão'

LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA

De Para

Santos ( SP) I t aquí ( MA) Ganho [ m ilhas] [ m ilhas] [ m ilhas] [ % ]

Cidade do Porto ( Por) 5 .5 5 0 3 8 0 0 1 .75 0 3 2 % Rot te rdam ( Hol) 5 8 93 4 1 4 3 1 .75 0 3 0 % Ham burg ( Ale) 6 1 69 4 4 1 9 1 .75 0 2 8 % New Orlens ( USA) 5 7 15 3 3 5 5 2 .36 0 4 1 % Tókio ( JAP) via Panam á 1 1 9 8 2 9 1 6 8 2 .81 4 2 3 %

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

É por isso que a FNS, como será tratado mais à frente, é importante não

só para a Integração Regional Sul-Americana, mas também para o

desenvolvimento do Tocantins e do Brasil. Assim, precisamos entender melhor

o processo de construção da obra para, posteriormente, ver os benefícios

trazidos por ela.

2.2. Uma breve história da Ferrovia Norte-Sul

O planejamento da infraestrutura viária brasileira, apesar de datar do

período imperial, até recentemente, nunca foi pensado e implementado como

um sistema integrado e útil não apenas para a exportação dos produtos

nacionais, mas também como ferramenta da integração e desenvolvimento

regional. A herança colonial influenciou de maneira significativa as políticas

públicas voltadas para este setor e as consequências disso são sofridas até

hoje pela sociedade através, por exemplo, da péssima infraestrutura logística

tanto de carga como de pessoas. Uma ilustração disso é que o primeiro Plano

Geral de Viação no Brasil é de 1934, ou seja, o que revela a desorganização

Page 23: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

23

burocrática racional do Estado, pois até essa data os modais de transportes

eram pensados separadamente e, na maioria dos casos, atendia a interesses

particulares. Outro exemplo desta herança colonial foi a Lei Feijó n° 101 de

1835 que permitiu a entrada de ferrovias no Brasil. Essa lei estimulava

empresários à investirem nesses projetos concedendo-lhes a exploração da

obra por 40 anos. Ou seja, em termos práticos, é como que o Estado Brasileiro

escolhesse os ganhadores.

A FNS, especialmente, foi imaginada pela primeira vez durante o

Reinado de D. Pedro II, época em que vários planos viários vieram à tona, mas

nenhum procedeu com sucesso. O mapa abaixo revela a idéia do Plano

Bulhões e o papel da FNS para a logística nacional interligando-se com um

modal fluvial:

Figura 3: Plano Bulhões

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

Porém, a preferência nacional ao modal rodoviário em detrimento do

ferroviário fica clara desde o Projeto Geral Nacional de Viação de 1934,

Page 24: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

24

exemplificado pela criação em 1937 do Plano Rodoviário do DNER

(Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), então órgão responsável

pela construção das obras e administração do Plano. A partir de então os

incentivos ao desenvolvimento do modal rodoviário só cresceram tendo como

motor o Plano de Metas do Governo Juscelino K. cujo um dos principais pontos

foi a atração de montadoras para o país.

É apenas em 1974 que o Brasil ganha o seu Plano Nacional de Viação

onde os modais são considerados e planejados como sistemas. Como destaca

Batista Filho (2009, p. 59) através do pensamento de Chambouleyron:

“Os principais fatores que influenciaram a expansão do setor ferroviário foram a criação do

programa Corredores de Exportação, a crise do petróleo e o II Plano Nacional de

Desenvolvimento. As reações à crise do petróleo questionaram a matriz energética da época

e o predomínio do modal rodoviário no transporte de cargas e passageiros.”1

Apesar de não ter sido totalmente cumprido e, por isso, ter sido

substituído em 2011 pela Lei 12.379 que autoriza a operacionalização do

Sistema Nacional de Viação, o PNV de 1974 é importante de ser citado porque

é dentro dele que a construção da FNS vai ser iniciada em 1987-8. É a nova

Constituição e a nova era na qual o Brasil entrava na época que impulsionaram

a construção da FNS. A primeira operação da FNS ocorreu em 4 de março de

1 O programa Corredores de Exportação, criado em 1972, no âmbito do I Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND), objetivava atender as necessidades de escoamento da produção,

incorporando o tráfego terrestre denso de mercadorias, decorrente do período do “milagre

econômico”, característico do aumento da produção, comercialização de matérias-primas e

produtos industrializados. Além de priorizar o comercio exterior, estratégico para a manutenção

do crescimento econômico, e servir de impulso para fortalecer a capacidade de importação

nacional. As metas do programa eram a redução dos custos finais dos produtos agrícolas e

agroindustriais, a partir da redução de gargalos da malha de transportes, granelização de

produtos e especialização de produtos regionais. Investimentos foram efetuados na

infraestrutura rodoviária, ferroviária, portuária, além do desenvolvimento industrial da

agricultura.

(CHAMBOULEYRON, 1995)

Page 25: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

25

1989 transportando toneladas de milho entre Imperatriz a São Luiz, no

Maranhão.

Porém, a herança colonial acima citada pode ser percebida também na

obra da FNS. Desde o início, este projeto foi elaborado em convergência com o

potencial agrícola da região que já era fonte de especulações. Neste sentido,

foi a Companhia Vale do Rio Doce que foi a responsável pela elaboração de

planos do desenvolvimento agrário da região, levando em consideração a FNS,

e em conjunto com a exploração de ferro em Carajás. É curioso perceber que a

história em si e a histórica apropriação do objeto público no Brasil pelos “ismos”

– regionalismo, coronelismo, nepotismo, paternalismo, tradicionalismo, etc –

dizem muito sobre a realidade atual. Hoje, a FNS cruza com a Estrada de Ferro

Carajás, assim como o projeto original já previa, e ambas ferrovias são

operadas e administradas pela Vale do Rio Doce, agora uma empresa privada.

A especificidade cruel da realidade brasileira, entretanto, não reside no fato de

que a operação e gestão das ferrovias estão nas mãos de uma empresa

privada, mas sim do fato que isso é consequência de um processo histórico

que atendeu a interesses particulares.

Mas, voltando a história da FNS, foi o decreto 94.813, de 1987, que

outorgou a Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa ligada

a Ministério dos Transportes, a concessão para construção e operação de dois

ramais ferroviários que se constituíram a primeira etapa da ferrovia. Até o início

do século XXI, todavia, a atividade e construção da Ferrovia limitou-se até a

cidade de Estreito, MA. Apenas em 2004 o governo brasileiro retomou a

atenção para a FNS e seu potencial convergente com a característica

exportadora de commodities da economia nacional. Este fato casa também

com o período do boom das commodities puxado, em sua maior parte, pelas

importações chinesas. Desde o início do seu planejamento a FNS foi chamada

de “A Ferrovia do Grão” e apresentada, conforme descreve um periódico da

época – Estado do Tocantins -, como a redenção do Norte do país em relação

ao processo de concentração do desenvolvimento nacional na região sudeste.

Assim, conforme explica Batista Filho (2009, p. 75):

“O modelo de PPP proposto para a implementação do projeto da Ferrovia Norte-Sul é

Page 26: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

26

composto de duas etapas que podem ser simultâneas ou paralelas: a primeira refere-se à

contratação para a construção da ferrovia e, a segunda etapa, à contratação de empresa para

a exploração comercial da ferrovia.”2

Conforme Batista filho ainda aponta em seu estudo, a FNS visa fortalecer

a infraestrutura de transporte necessário ao escoamento da produção agrícola

da região centro-oeste e do cerrado brasileiro. Mais ainda, visa integrar as

regiões, pois a extensão total da ferrovia, quando construída será de 2.964 km,

com a inclusão dos trechos Açailândia (MA) a Belém (PA), 450 km, e do trecho

Anápolis a Estrela D’Oeste/Panorama (SP), 950 km de ferrovia. A ferrovia é

dividida em Tramo Norte, Central e Sul, No Tramo norte, estão concluídos e em

construção 720 m que se encontra com a Estrada de Ferro Carajás e

compreende o trecho Açailândia (MA) a Porto Nacional (TO). No tramo central

a ferrovia terá um trecho parte do pátio de Porto Nacional (TO) até Anápolis

(GO), onde encontra a Ferrovia Centro-Atlântica. No Tramo sul a ferrovia sai de

Anápolis (GO) até Estrela D’Oeste (SP), integrando ao sul, inclusive, com a

Ferrovia Centro-Atlântica.

Assim, em 2007 a VALEC finalizou o trecho Açailândia (MA) – Palmas

(TO) e o mesmo foi subconcedido à Vale S.A., em 2007, pelo prazo de 30

anos, no modelo já citado anteriormente. Através da imagem a seguir, é

possível visualizar a magnitude do projeto:

2 Para maior detalhamento do modelo de parceria publico privado aplicado à ferrovia Norte Sul, ver em

Valec (2004c)

Page 27: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

27

Figura 4: Estágio Atual de Implantação da Ferrovia Norte Sul

Em Projeto (493 km)

Desenvolvimento Sustentável do Brasil VALEC Ministério

dos Transportes

Belém

Açailândia

Anápolis

Estrela d’Oeste

Estudos/Projetos : 2012 480 km

Concluído - 719 km

Em Construção - 855 km -

(Conclusão 2013

Em Construção - 682 km - (Conclusão 2014)

Ouro Verde

Palmas

Extensão Total 4.576 Km

Em Operação Vale: Itaqui a Porto Nacional

ESTÁGIO ATUAL DE IMPLANTAÇÃO FERROVIA NORTE SUL

Panorama

Rio Grande

Estudos/Projetos: 2012

1.620 km

Estudos/Projetos: 2012

220 Km

Fonte: VALEC

Fonte: VALEC – Cedido pela Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

2.3. A FNS para o Tocantins e região

É possível dividir os efeitos de crescimento e desenvolvimento da FNS

para a região e para o Brasil em três fases: A primeira seria a fase de

construção da Ferrovia e dimensionamento dos potenciais efeitos de

crescimento da produção agrícola. A segunda seria a construção dos Terminais

Multimodais que já traria mais investimentos e empregos para a região já

começando a operacionalizar a Ferrovia. Finalmente, a terceira seria a

operação da Ferrovia junto com a plena atividade dos Terminais e com a

instalação de complexos industriais em anexo a estes.

Para evidenciar a primeira e segunda fase, trataremos de alguns fatos

retirados de estudos da VALEC e do Governo do Estado do Tocantins. A

terceira fase, não será tratada a fundo, pois é o estágio atual em que o projeto

Page 28: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

28

se encontra e, por isso, será considerado no último capítulo deste trabalho.

Conforme mostra a figura a seguir, notamos que a FNS é um eixo estratégico

para a produção de commodities brasileira, como a soja, por exemplo:

Figura 5: Produção de Soja no Brasil

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

Além disso, a integração com as outras regiões do Brasil é igualmente

importante quando considerado os planos de expansão da malha ferroviária

nacional:

Page 29: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

29

Figura 6: Plano de expansão Ferroviária Nacional

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

As áreas de influências principais deste corredor Centro-Norte como

também é conhecida a FNS, são as chamadas MATOPI (Maranhão, Tocantins,

Piauí) e MTGO (Mato Grosso e Goiás). Juntas essas regiões produzem cerca

de 53% do soja brasileira cujo aumento médio das exportações destes

produtos de 2002 a 2012 foi de 17% e representam cerca de 24,3 milhões de

ha de áreas permitidas para a expansão agrícola.

Por sua vez, os Terminais Multimodais representam uma grande

oportunidade de atração de investimentos, empregos e renda. Só os lotes do

Terminal de Porto Nacional/Palmas valorizaram cerca de 600% considerando

que 2,4 ha do lote 7, último a ser vendido, teve um preço de 3,79 milhões de

reais. Este mesmo Terminal transportou em 2012, aproximadamente, 510.2

toneladas de grãos e minério de ferro. Abaixo, podemos ver que grandes

empresas já estão presentes na região utilizando o terminal de Porto Nacional:

Page 30: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

30

Figura 7: Centro Logístico – Porto Nacional/Palmas

Prod.:Container Cliente: EXITO IMP. EXP. S/A .

Lote nº 02

Prod.: Fer lizantes

Cliente: Diversos

Prod.: Grãos Cliente: Nova Agri. Lote nº 05

Prod.: Carga Geral Cliente: Diverso

Área Oficina de Manutenção

Prod.: Combus veis Cliente: Petrobrás

Área comum para

carregamento dos vagões

Prod.: Combus veis Cliente: NORSHIP

Prod.: Combus veis Cliente: RAÍZEN

Expansão Futura Prod.: Grãos/Diversos

Cliente: Diversos

CENTRO LOGÍSTICO – PORTO NACIONAL/PALMAS

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins

Page 31: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

31

3. Considerações Finais

Com base neste estudo e evidências, colocaremos portanto algumas

considerações importantes a serem feitas sobre a FNS, a IIRSA, a Integração

Regional Sul-Americana e a relação que se estabelece entre cada um destes

elementos.

3.1 A Ferrovia Norte-Sul e a questão do desenvolvimento

econômico

É evidente que com os números apresentados acima, a FNS será um

avanço em termos logísticos que aumentará consideravelmente a

competitividade dos produtos brasileiros através da redução do custo do

transporte. Todavia, até agora os efeitos deste projeto são mínimos para a

população no geral e mesmo para a macroeconomia do Brasil. Os trechos em

operação ainda não fizeram a integração com as principais áreas produtoras de

grãos, apesar dos números já serem expressivos, e os Terminais Multimodais

ainda estão iniciando suas operações. Uma consequência clara dessa

situação, como foi possível observar através da pesquisa com a população de

Palmas, é a falta de conhecimento e até mesmo um sentimento de reprovação

em relação à FNS. Os três entrevistados não souberam responder à questões

simples acerca da Ferrovia e criticaram o projeto argumentando que este

serviria apenas para o benefícios dos políticos, que ganhariam com as

arrecadações e “esquemas políticos” e das grandes empresas. No momento,

esta visão pode ser considerada verdadeira, uma vez que a realidade da FNS

ainda está muito longe de se aproximar dos habitantes da região. Os benefícios

ainda não se materializaram de forma concreta e em proporções significativas.

Porém, a mesma pesquisa mostrou que o governo da cidade de Porto

Nacional está planejando a construção de uma Zona Especial de Negócios,

inspirada na experiência do município de Rio das Ostras no RJ, conectada ao

Terminal Multimodal. Não foi possível ter acesso à informações detalhadas

sobre o Plano, pois ele ainda não foi publicamente divulgado. Mas os

responsáveis afirmaram que dez empresas já se mostraram interessadas em

Page 32: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

32

instalar fábricas nestas áreas. O importante é ressaltar que o governo local

está usando a FNS para promover o desenvolvimento através do efeito

“spillover”, ou seja, a intenção é atrair, por exemplo, empresas que fabriquem e

façam a manutenção dos vagões para a região o que geraria um aumento do

nível de emprego expressivo.

Esta reflexão dá origem a outra questão importante a ser considerada:

Afinal, qual é o tipo de desenvolvimento que a FNS e, no limite a IIRSA, já que

o projeto está na carteira de projetos do organismo, promovem então? Será

que este desenvolvimento é voltado apenas para o mercado externo de

produtos de commodities ou ele será convertido para benefício da população

local e para o benefício da América do Sul? Isso nos permite passar ao

segundo ponto a ser tratado.

3.2 A FNS e a IIRSA

Em nenhum momento do trabalho, até agora, foi citado o envolvimento

da IIRSA com o projeto da FNS. Este fato tem uma explicação simples: Não há

nenhum tipo de relação prática entre as duas coisas. Até mesmo por questões

cronológicas, é impossível que a IIRSA tivesse algum envolvimento real com a

FNS – considerando sempre o trecho analisado de Açailândia-Palmas -, uma

vez que a sub concessão à Vale do Rio Doce para a operação do trecho foi

feita em 2007 e a FNS foi incluída na carteira de projetos da IIRSA em 2011.

Além disso, através da pesquisa de campo foi possível observar que nenhum

mecanismo de controle ligado a iniciativa conjunta dos países sul-americanos

incide sobre o projeto da ferrovia ou sua operação. O contato estabelecido com

a VALEC, que não foi citado como parte da pesquisa de campo, embora tenha

sido realizada uma entrevista por telefone, revelou que nem mesmo pessoas

dessa empresa, que foi a responsável pela construção da ferrovia e ainda hoje

a responsável pelo gerenciamento dos contratos de concessão, têm

conhecimento sobre a IIRSA.

Apesar da reunião do Grupo Técnico Executivo do Eixo Amazônico ter

produzido um documento formal em defesa da expansão deste eixo para o

Eixo do Amazonas Ampliado em março de 2013 mostrando, inclusive, os

benefícios concretos de considerar a região dos 11 estados brasileiros

Page 33: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

33

(Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,

Alagoas, Sergipe, Bahia y Tocantins y Goiás), nos parece que a inclusão do

projeto na IIRSA reflete que esta integração, embora extremamente necessária

e benéfica para a região sul-americana e suas unidades territoriais, ainda tem

muito conteúdo político. Entende-se aqui “político” não como um modo

estratégico de alianças entre os países; pelo contrário, o “político” como uma

forma de satisfazer, ou melhor, mascarar os anseios de um grupo. Uma vez

que o projeto foi para a agenda da IIRSA, deveria haver algum mecanismo de

acompanhamento, ou melhor, a institucionalidade de IIRSA, como foi

apresentada na primeira parte deste estudo, deveria incidir de maneira

igualitária para todos os projetos, mesmo tendo eles sido incluídos após a

criação da IIRSA.

A existência dessa falha enfraquece e deslegitima os mecanismos de

controle e a regulação da IIRSA/Unasul e as próprias instituições. Por isso que

o título deste capítulo - A FNS na IIRSA: um exemplo da ineficiência do

Regionalismo Sul-Americano? – utiliza a palavra ineficiente, pois a IIRSA pode,

no final, até ser eficaz e produzir a integração física dos países em busca do

maior desenvolvimento, mas os meios que ela utiliza para tal, não são em sua

totalidade eficientes, ou melhor, não são, completamente, legítimos de uma

iniciativa de integração regional. Consideramos, portanto, que a IIRSA e a

UNASUL ainda não conseguem colocar em prática cem por cento de sua

burocracia, sendo, desta maneira, uma integração de cúpulas e não uma

integração de fato.

As razões para isso podem ser variadas, mas uma das análises político-

econômicas que parece fazer sentido é a realizada por André Calixtre, técnico

de planejamento e pesquisa do IPEA. Nesta leitura, o estudioso destaca a

estrutura política e, sobretudo, econômica dos países da América do Sul

relacionando-as com a Integração Regional Sul-Americana. Se observarmos o

processo de integração regional a partir da década de 60 até a década de 80,

período a partir do qual a ideia de integração regional ganhou força para estes

países, veremos que apesar da característica funcional de superação do

subdesenvolvimento a qual a integração era atribuída e do esforço e vontade

política para este fim, a integração não logrou, pois a existência de um modelo

Page 34: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

34

nacional-desenvolvimentista e a instabilidade macroeconômica não permitia a

criação de confiança e projetos efetivos de integração. Por outro lado, durante

os anos 90, o processo de Integração Sul-Americana viu um dos seus maiores

saltos. Neste período, houve a mudança do modelo macroeconômico para o

neoliberalismo e certo equilíbrio macroeconômico foi atingido. Isso permitiu

uma confluência de interesses e iniciativas, o que deu origem ao MERCOSUL.

Colocando à parte todas as críticas válidas a este modelo, como por exemplo,

a grande desigualdade social que ele provocou. Não podemos negar, todavia,

que ele foi uma plataforma integradora.

Hoje, os avanços na integração regional parecem ser muito custosos.

Certamente há diversos fatores que influem para este resultado, porém, a

estrutura da economia destes países deve ser levada em consideração. Apesar

da convergência ideológica que emergiu com os governos de esquerda na

maioria dos países sul-americanos, as políticas de desenvolvimento e

macroeconômica não parecem convergir e muito menos entrar em

complementaridade. Parece que todos buscam a industrialização a qualquer

preço, porém ainda possuem uma base produtiva concentrada em produtos

primários, já que é onde existem vantagens comparativas. Estes fatos,

provavelmente, terão implicações sérias para a diplomacia e estabilidade da

região. Mas, sem dúvida este é assunto extenso e que deve ser explorado mais

profundamente, porém uma questão, neste sentido, já pode ser levantada:

Como que a estrutura produtiva dos países sul-americanos permitirá a

integração regional?

Page 35: TCC Lucas Nóbrega Porto e Victor Fonseca Alberto

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Referências Bibliográficas

HONORIO, Karen dos Santos, O significado da iniciativa para a integração da infraestrutura regional sul-americana (iirsa) no regionalismo sul-americano (2000-2012): um estudo sobre a iniciativa e a participação do Brasil, Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em relações internacionais do programa de pós-graduação San Tiago Dantas (unesp-unicamp-puc-sp), São Paulo, 2013. BID INTAL. IIRSA Diéz años déspues: sua logros y desafios. 1ª édicion. Buenos Aires, 2011. ARAÚJO JR., J. T. Infraestrutura e integração regional: o papel da IIRSA. Rio de Janeiro, 2009. Breves CINDES. FILHO, José A.B., A infraestrutura de transporte e impactos dos investimentos da construção da ferrovia norte-sul no Tocantins: uma abordagem insumo-produto, Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Federal do Tocantins, como requisito para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Tocantins, 2012. HOFMANN, A. R.; COUTINHO, M.; KFURI, R. Indicadores e análise multidimensional do processo de integração do Cone Sul. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 51, n. 2, p. 98-116, 2008. IIRSA. Sección V. Cartera de projetos IIRSA 2012 LIMA, M.R.S.; COUTINHO, M.V. Uma versão estrutural do regionalismo. In: DINIZ, Eli (org.). Globalização, Estado e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. VEIGA, P. M.; RÍOS, S.P. O regionalismo pós-liberal na América do Sul: origens, iniciativas e dilemas. Breves CINDES, n. 10, agosto de 2008. BRAGA, Marcio B., Integração Econômica Regional na América Latina: Uma Interpretação das Contribuições da CEPAL, Publicação do PROLAM, São Paulo, 2001. Documentos Comunicado de Brasília. Disponível em: <http://www.iirsa.org/BancoMedios/Documentos%20PDF/comunicado_brasilia_esp.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013.

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