TCC_006_2006
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA POLITCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA
AVALIAO DE CONDIES DE QUALIDADE DO AR EM MINA SUBTERRNEA
Boris Ferreira Gancev
So Paulo 2006
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA POLITCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA
AVALIAO DE CONDIES DE QUALIDADE DO AR EM MINA SUBTERRNEA
Trabalho de formatura apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para Obteno do ttulo de Graduao em Engenharia
Boris Ferreira Gancev
Orientador: Arlindo Tribess
rea de Concentrao: Engenharia Mecnica
So Paulo 2006
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FICHA CATALOGRFICA
Gancev, Boris Ferreira
Avaliao de condies de qualidade do ar em mina subterrnea / B.F. Gancev. -- So Paulo, 2007. 93 p.
Trabalho de Formatura - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo Departamento de Engenharia Mecnica.
1.Qualidade do ar 2 .Ventilao 3. Conforto termo-corporal 4. Mina subterrnea 5. Normas tcnicas I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. II.t.
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RESUMO
Este estudo tem como objetivos levantar as principais questes relacionadas ao
conforto trmico e qualidade do ar no interior de minas subterrneas, bem como realizar a
anlise das normas tcnicas e sua aplicao. Para a avaliao das condies de qualidade do ar
e conforto trmico em mina subterrnea, foram realizadas avaliaes na mina Cuiab, onde
foi possvel mensurar variveis relevantes como: temperatura de bulbo seco, bulbo mido,
temperatura radiante mdia, velocidade do ar, e concentraes de oxignio e metano em
determinados locais no interior da mina.
O trabalho mostra como feito o monitoramento das condies de conforto trmico e
qualidade do ar em uma mina subterrnea. Com os dados coletados foi possvel verificar o
cumprimento das normas NR 15 e NR 17, referentes aos ndices IBUTG e TE, e da NR 22,
referente ao sistema de ventilao, para os pontos medidos no interior da mina. Os nveis
crticos de metano, dixido de carbono e monxido de carbono, no so atingidos. A
concentrao de oxignio esteve acima do mnimo necessrio.
Com o levantamento das caractersticas geomtricas da mina; como comprimento dos
nveis de explorao, reas das sees transversais em cada nvel, rugosidade das paredes
internas, vazo de ar insulflado e a utilizao de um software de ventilao, foi possvel
realizar simulao da diferena de presso a ser fornecida pelo ventilador principal em funo
da vazo necessria. Concluiu-se que os ventiladores utilizados na mina esto de acordo com
os resultados da simulao. Assim, a sade dos trabalhadores est garantida, no somente sob
o aspecto trmico, mas tambm sob o aspecto da qualidade do ar.
Palavras-chave: qualidade do ar, conforto termo-corporal, ventilao, mina subterrnea,
normas tcnicas.
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ABSTRACT
This study had as objectives, raising the main questions related to the thermal comfort
and air quality inside an underground mine facility as well as analysing the related technical
rules and their applications. To evaluate the thermal comfort and air quality conditions inside
the underground mine, a technical visit was done to the Cuiaba mine, where it was possible to
measure the relevant variables such as: dry temperature, humid temperature, average radiant
temperature, air velocity, oxygen and methane concentrations in certain places inside the
facility.
This work shows how thermal comfort and air quality conditions, inside an
underground mine, are monitored. With the collected data it was possible to verify obeying
the relevant technical rules, NR 15 and NR 17 related to the IBUTG and TE index
respectively and NR 22 related to the ventilation system, for every location used for
measurements. The critical levels of methane, carbon dioxide and carbon monoxide were not
reached. The oxygen concentration was above the minimal level required.
With the measurement of the geometric characteristics of the mine; such as the length
of each mining level, the cross section area for each of these levels, internal walls rugosities,
the air flow inflated and by using a ventilation software, it was possible to simulate the
pressure differential to be supplied by the main fan as a function of the necessary air flow and
it was concluded that the fans installed on the mine are in accordance with the results of this
simulation. Therefore, the workers health is granted, not only under the thermal aspect but
also under the air quality aspect
Key-words: air quality, thermal comfort, underground mine, ventilation, technical norms.
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SUMRIO LISTA DE TABELAS........................................................................................................... 7 LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ 8 1 INTRODUO ............................................................................................................. 9 2 REVISO BIBLIOGRFICA ..................................................................................... 10
2.1 SEGURANA DO TRABALHO......................................................................... 10 2.2 CARACTERSTICAS DA MINERAO ........................................................... 12 2.3 LAVRA SUBTERRNEA................................................................................... 13 2.4 CARACTERSTICAS DO AR NO INTERIOR DA MINA.................................. 14
2.4.1 GASES TXICOS ....................................................................................... 16 2.4.2 GASES EXPLOSIVOS................................................................................. 17
2.5 MONITORAMENTO E CONTROLE DE GASES .............................................. 18 2.5.1 DETECTORES DE GASES ......................................................................... 18 2.5.2 CONTROLE DE GASES ............................................................................. 20
2.6 MATERIAL PARTICULADO (POEIRA) ........................................................... 22 2.7 ENFERMIDADES RELACIONADAS QUALIDADE DO AR ........................ 23
2.7.1 SILICOSE .................................................................................................... 24 2.7.2 PULMO NEGRO....................................................................................... 26 2.7.3 ASBESTOSE................................................................................................ 27 2.7.4 PNEUMOCONIOSE BENIGNA .................................................................. 30
2.8 VENTILAO SUBTERRNEA ....................................................................... 30 2.8.1 A NORMA NR 22 ........................................................................................ 34 2.8.2 DIMENSIONAMENTO DO VENTILADOR............................................... 35
2.9 CONFORTO TERMOCORPORAL ..................................................................... 37 2.9.1 CONDIES TRMICAS NO UNIFORMES E DESCONFORTO LOCAL 40 2.9.2 A ANLISE DE FANGER........................................................................... 41 2.9.3 NORMA NR 15............................................................................................ 44 2.9.4 NDICES DE EXPOSIO AO CALOR..................................................... 47 2.9.5 EFEITOS DO CALOR NO SER HUMANO ................................................ 52
3 A EXPLORAO DO OURO NO BRASIL ............................................................... 57 4 MINA AVALIADA ..................................................................................................... 59
4.1 LOCALIZAO.................................................................................................. 61 4.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO INTERIOR DA MINA ......................... 61
4.2.1 CABEAMENTO .......................................................................................... 62 4.2.2 PERFURAO............................................................................................ 62 4.2.3 CARREGAMENTO DE EXPLOSIVOS....................................................... 63 4.2.4 DETONAO ............................................................................................. 64 4.2.5 VENTILAO ............................................................................................ 64 4.2.6 SANEAMENTO........................................................................................... 64 4.2.7 LIMPEZA DO MINRIO............................................................................. 64 4.2.8 ENCHIMENTO HIDRULICO................................................................... 65 4.2.9 AMOSTRAGEM E TOPOGRAFIA ............................................................. 65
4.3 CRITRIOS ADOTADOS PELA MINA CUIAB PARA O SISTEMA DE VENTILAO................................................................................................................ 66
4.3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS REALIZADOS NA MINA ...................... 67 4.4 O PROCEDIMENTO PARA OBTENO DO IBUTG SUGERIDO PELA FUNDACENTRO............................................................................................................ 69 4.5 A INADEQUAO DA RVORE DE TERMMETROS EM MINAS SUBTERRNEAS .......................................................................................................... 71
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5 RESULTADOS............................................................................................................ 74 5.1 MEDIES E AVALIAO DA TEMPERATURA EQUIVALENTE E DO NDICE IBUTG............................................................................................................... 74 5.2 ANLISE DOS RESULTADOS.......................................................................... 76 5.3 DETERMINAO DAS VAZES E DO DIFERENCIAL DE PRESSO DO VENTILADOR PRINCIPAL........................................................................................... 79
6 CONCLUSES ........................................................................................................... 84 7 REFERNCIAS........................................................................................................... 86
ANEXOS
ANEXO I - BACO PARA CLCULO DA TEMPERATURA EFETIVA ANEXO II - FORMULRIO DE ACOMPANHAMENTO DO IBUTG
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caractersticas dos gases no interior de minas...................................................... 15 Tabela 2 - Rendimento de trabalhadores em funo da temperatura ambiente (ESTON, 2005)............................................................................................................................................ 38 Tabela 3 - Temperatura de rocha em funo da profundidade (ESTON, 2005) ..................... 38 Tabela 4 - Regime de trabalho em funo do IBUTG (em C) obtido (NR 15) ..................... 45 Tabela 5 - Classificao do tipo de atividade (NR 15) ......................................................... 45 Tabela 6 - Limites mximos de IBUTG em funo do metabolismo..................................... 46 Tabela 7 - Distribuio dos fluxos volumtricos de ar de alimentao da mina Cuiab ......... 67 Tabela 8 - Temperatura efetiva para determinados pontos no interior da mina Cuiab.......... 75 Tabela 9 - IBUTG mdio do ms de outubro de 2006........................................................... 76 Tabela 10 - Valores de medio no interior da mina em locais com TE dentro dos limites estabelecidos pela NR 22 ..................................................................................................... 78 Tabela 11 - Valores de medio no interior da mina em locais com TE acima dos limites estabelecidos pela NR 22 ..................................................................................................... 78 Tabela 12 - Vazes de ar em funo do nmero de pessoas e potncia instalada................... 81 Tabela 13 - Diferencial de presso a ser fornecido pelo ventilador principal......................... 82
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema de funcionamento dos medidores PID (Clean News, 2002) ................... 18 Figura 2 - Esquema de funcionamento dos medidores FID (Clean News, 2002) ................... 19 Figura 3 - Esquema de funcionamento de um sensor cataltico (Clean News, 2002) ............. 20 Figura 4 - Vazo total diluidora............................................................................................ 33 Figura 5 - Ventilao auxiliar (conduo de ar fresco nas frentes de lavra)........................... 34 Figura 6 - PPD devido ao desconforto local (ASHRAE handbook 2001 - Fundamentals) ..... 40 Figura 7 - PPD devido velocidade mdia do ar (ASHRAE handbook 2001 - Fundamentals)............................................................................................................................................ 41 Figura 8 - Tipos de vestimentas e suas resistncias trmicas................................................. 42 Figura 9 - Percentual de pessoas insatisfeitas em funo do voto mdio estimado ................ 43 Figura 10 - Localizao da mina Cuiab em Sabar (MG).................................................... 61 Figura 11 - Atividades desenvolvidas no processo de lavra subterrnea................................ 61 Figura 12 - Processo de cabeamento..................................................................................... 62 Figura 13 - Equipamento "Scaler" ........................................................................................ 62 Figura 14 - Processo de perfurao....................................................................................... 63 Figura 15 - Equipamento "Jumbo" ....................................................................................... 63 Figura 16 - Carregamento de explosivos .............................................................................. 63 Figura 17 - Equipamento "Anfoloader" ................................................................................ 63 Figura 18 - Processo de saneamento do teto ......................................................................... 64 Figura 19 - Limpeza do minrio ........................................................................................... 65 Figura 20 - Equipamento "LHD".......................................................................................... 65 Figura 21 - Processo de enchimento hidrulico .................................................................... 65 Figura 22 - Processos de Amostragem e Topografia ............................................................. 66 Figura 23 - Fluxograma do sistema de ventilao da mina Cuiab........................................ 69 Figura 24 - Determinao do perfil de velocidades (a) para anemmetro integrador e (b) para anemmetro no integrador (Hartman, 1991) ....................................................................... 71 Figura 25 - Conjunto para determinao do ndice IBUTG (NHT 01 C/E, 1985) .................. 72 Figura 26 Ventsim (Underground Mine Ventilation Software) .......................................... 79 Figura 27 Ruas Internas da mina no software Ventsim ...................................................... 80 Figura 28 - Resultado de simulao dos nveis de presso do ventilador principal. ............... 83
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1 INTRODUO
O conceito de sade, segundo a definio da Organizao Mundial de Sade (OMS),
o estado de completo bem-estar fsico, mental e social, e no apenas a ausncia de
enfermidade. As doenas ocupacionais, so aquelas decorrentes da exposio dos
trabalhadores aos riscos ambientais, ergonmicos ou de acidentes. Para garantir a sade dos
trabalhadores, necessrio o conhecimento de tudo aquilo que possa afet-lo no ambiente de
trabalho. Assim, o binmio sade e doena, geralmente associado medicina, faz parte
tambm do exerccio profissional dos engenheiros, que devem atuar na preveno de riscos
atravs do reconhecimento e das medidas de controle.
Na minerao, atividade fundamental para o desenvolvimento econmico e social de
muito pases, os trabalhadores esto susceptveis a ambientes hostis de trabalho. A qualidade
do ar respirado e o conforto termocorporal so questes fundamentais a serem gerenciadas
pelas companhias de minerao, especialmente nos processos de lavra subterrnea, onde a
ventilao do ambiente depende de instalaes mecnicas que devem assegurar uma
quantidade mnima de ar renovvel por trabalhador a fim de evitar a contrao de
enfermidades.
Este estudo tem como objetivo levantar as principais questes relacionadas
qualidade do ar e ao conforto trmico no interior de minas subterrneas, a anlise das normas
tcnicas e suas aplicaes. Foi realizada tambm uma visita tcnica mina Cuiab, onde foi
possvel obter medies de temperatura de bulbo seco, bulbo mido, radiante mdia,
velocidade do ar e porcentagens de metano e oxignio em determinados locais no interior da
mina, a fim de verificar o cumprimento das normas.
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2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 SEGURANA DO TRABALHO
Segurana do trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que so
adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenas ocupacionais, bem como
proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. Para ser eficaz, a segurana
deve atuar sobre homens, mquinas e instalaes, levando em considerao os pormenores
relativos s atividades humanas.
Acidente , por definio do dicionrio eletrnico Houaiss, um acontecimento casual,
fortuito, inesperado e tambm qualquer acontecimento, desagradvel ou infeliz, que envolva
dano, perda, leso, sofrimento ou morte. Essa leso pode ser imediata (leso traumtica) ou
mediata (doena profissional). Assim, caracteriza-se a leso quando a integridade fsica ou a
sade so atingidas. O acidente, entretanto, caracteriza-se pela existncia do risco (CIPA).
A Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT apresenta a seguinte definio
para o acidente do trabalho: "Acidente do trabalho (ou, simplesmente, Acidente) a
ocorrncia imprevista e indesejvel, instantnea ou no, relacionada com o exerccio do
trabalho, que provoca leso pessoal ou de que decorre risco prximo ou remoto dessa leso"
(NBR 14280/99, Cadastro de Acidentes do Trabalho - Procedimento e Classificao).
Segundo a Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA), o movimento para a
criao de um esquema de segurana no trabalho comeou, efetivamente, no final do sculo
passado nos Estados Unidos e culminou em 1913, com a criao do "National Safety
Council", entidade privada que liderou os estudos e divulgao do assunto.
O gerenciamento dos riscos associados ao trabalho fundamental para a preveno de
acidentes. Isso requer pesquisas, mtodos e tcnicas especficas, monitoramento e controle. O
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melhoramento durvel da segurana depende da capacidade da empresa para elaborar e
aplicar uma poltica de segurana, conseqentemente, a qualidade da informao de que ela
passa a dispor, constitui uma condio prvia elaborao de estratgias adaptadas. As
empresas necessitam de um instrumento de gesto da segurana constitudo por uma bateria
de indicadores e destinado ao enquadramento, no sentido lato. Indicador de segurana toda a
informao, se possvel quantificada, que contribui para objetivar o nvel de segurana de uma
unidade de produo. J nvel de segurana, um sistema no qual todos os acontecimentos
indesejveis estariam recenseados e avaliadas as suas possibilidades de ocorrncia,
ponderadas pela gravidade das suas conseqncias (MONTEAU, 1986).
Os conceitos bsicos de segurana e sade devem estar incorporados em todas as
etapas do processo produtivo, do projeto operao. Essa concepo ir garantir inclusive a
continuidade e segurana dos processos, uma vez que os acidentes geram horas e dias
perdidos.
O Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) diz que as normas regulamentadoras
(NR), relativas segurana e medicina do trabalho, so de observncia obrigatria pelas
empresas privadas e pblicas e pelos rgos pblicos da administrao direta e indireta, bem
como pelos rgos dos Poderes Legislativo e Judicirio, que possuam empregados regidos
pela Consolidao das Leis do Trabalho - CLT (MINISTRIO DO TRABALHO E
EMPREGO, 1978).
No caso da minerao, a norma utilizada a NR 22 (MINISTRIO DO TRABALHO
E EMPREGO, 1999), que tem por objetivo disciplinar os preceitos a serem observados na
organizao e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatvel o planejamento e o
desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurana e sade dos
trabalhadores (NR 22 - Segurana e sade ocupacional na minerao 122.000-4).
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Considerando a minerao subterrnea, tambm utilizada a NR 15 (MINISTRIO DO
TRABALHO E EMPREGO, 1978), onde so consideradas as atividades ou operaes
insalubres (NR 15 Atividades e operaes insalubres - 115.000-6). Com relao ao conforto
trmico, tambm a NR 17 (MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1990), que trata
de ergonomia (NR 17 Ergonomia - 117.000-7) considerada.
A busca de condies seguras e saudveis no ambiente de trabalho significa proteger e
preservar a vida e, principalmente, mais uma forma de se construir a qualidade de vida.
2.2 CARACTERSTICAS DA MINERAO
O subsolo brasileiro possui importantes depsitos de minrios. Parte dessas reservas
considerada expressiva quando relacionada mundialmente. O Brasil produz cerca de 70
substncias, sendo 21 dos grupos de minerais metlicos, 45 dos no-metlicos e quatro dos
energticos.
As jazidas de minrios com concentraes de minerais teis economicamente so
constitudas por uma rocha (minrio), de onde so extrados os minerais ou metais de valor, e
outras rochas estreis (encaixantes). O minrio, por sua vez, composto por alguns minerais
que so recuperados e aproveitados economicamente (minerais de minrio ou minerais teis)
e por outros sem valor comercial (minerais de ganga).
A mina conceituada como uma jazida em lavra, que o conjunto de operaes
necessrias extrao industrial de substncias minerais. A lavra pode ser realizada de trs
modos:
- Cu aberto: quando as operaes so realizadas na superfcie.
- Subterrnea: quando a lavra realizada abaixo da superfcie.
- Submersa: quando a lavra ocorre no fundo de um lago ou curso dgua ou no mar.
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Devido predominncia da ganga na maioria das jazidas, so utilizados mtodos
fsicos e/ou qumicos para separar os minerais valiosos dos minerais sem interesse econmico.
O processo de concentrao denominado de beneficiamento. O material recuperado o
concentrado e o restante o rejeito.
2.3 LAVRA SUBTERRNEA
Lavra subterrnea o conjunto de operaes necessrias extrao industrial de
substncias minerais que so realizadas abaixo da superfcie. A vantagem deste tipo de lavra
o menor impacto ambiental na superfcie. Ela menos susceptvel de provocar impacto visual,
principalmente se utilizadas as cavas e galerias como alternativas para deposio do material
estril, assim como parte do rejeito proveniente do beneficiamento. Os efluentes lquidos que
surgem das minas subterrneas so pontuais; o que torna seu controle mais fcil (ESTON,
2004).
Por outro lado, a lavra subterrnea apresenta grandes dificuldades operacionais,
problemas geomecnicos, maior probabilidade de ocorrerem acidentes e ainda custo de lavra
mais elevado que a lavra a cu aberto. preocupante, neste tipo de lavra, a poeira em
suspenso, no apenas pelo confinamento no espao de sua ocorrncia como pelos efeitos
mais comprometedores sade dos trabalhadores. Alm desta preocupao h, tambm, as
altas temperaturas e certas substncias minerais como a slica e o amianto que podem originar
doenas crnicas. A subsidncia , tambm, um problema potencial e se no controlada pode
levar a um generalizado dano superficial, principalmente, quando do seu abandono.
Com relao s altas temperaturas, necessria uma boa ventilao na mina
subterrnea para garantir o conforto trmico dos trabalhadores. A ventilao consiste na
circulao de ar de forma natural ou por meios mecnicos para retirar do ambiente o ar
contaminado ou recompor as condies fsicas ambientais a nveis mais adequados ao
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trabalhador. Um bom sistema de ventilao consiste em reduzir o nvel de poeira, gases,
melhorar a salubridade e segurana, realizar o controle de fogo e exploses e da temperatura.
Pela norma NR 22, a ventilao tem que adequar a temperatura ao trabalho humano
(resfriamento em lugar quente e aquecimento em lugares frios).
2.4 CARACTERSTICAS DO AR NO INTERIOR DA MINA
O ar da mina normalmente seco, contendo 20,93% de O2, 79,04% de N2 e 0,03% de
CO2, em volume. O total de outros gases soma menos que 0,01% (HARTMAN, 1982). Alm
destes gases, a atmosfera subterrnea contm pequenas quantidades de outros gases como
metano (CH4), monxido de carbono (CO), xidos de nitrognio (NOx), hidrocarbonetos no-
oxidados e parcialmente oxidados, amnia (NH3), sulfeto de hidrognio (H2S) e dixido de
enxofre (SO2), mesmo sob condies normais. As caractersticas de alguns destes gases
aparecem na tabela 1 abaixo (VUTUKURI; LAMA, 1986).
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Tabela 1 - Caractersticas dos gases no interior de minas
Nota: TLV Threshold limit values So valores referentes concentrao de agentes txicos no ar e representam as condies nas quais os trabalhadores podem ser repetidamente expostos, dia aps dia, sem efeitos adversos. So trs as categorias de TLVs:
1) TLV-TWA Time-weighted average: Concentrao mdia considerando 40 horas de trabalho por semana.
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2) TLV-STEL Short-term exposure limit: Mxima concentrao para exposio de at 15 minutos, sem efeitos adversos, considerando no mais que 4 exposies por dia, com pelo menos 60 minutos entre elas e no excedendo o TLV-TWA. 3) TLV-C Ceiling: Esta a concentrao que no pode ser excedida por nenhum momento.
Os gases presentes na atmosfera da mina podem ser provenientes dos motores a
combusto, das detonaes, do macio, da oxidao de madeira ou minrios sulfetados, entre
outros. Estes gases podem ser divididos em: gases txicos e gases explosivos (VUTUKURI;
LAMA, 1986).
2.4.1 GASES TXICOS
Gases txicos so aqueles que, se respirados em concentraes e tempos suficientes,
podem causar danos srios sade e at levar morte, com ou sem a deficincia de oxignio.
Estes so classificados, de acordo com o modo de ao no corpo humano, em: asfixiantes,
irritantes e venenosos.
Gases asfixiantes podem ser de dois tipos, simples e qumico. Gases asfixiantes
simples so aqueles que no tm um efeito txico especfico, mas atuam excluindo oxignio
do pulmo. Dixido de carbono e metano so deste tipo. O efeito cresce medida que eles
fazem decrescer a presso parcial do oxignio no ar. O oxignio pode decrescer at 2/3 da
concentrao inicial, sem causar sintomas. Quando a concentrao do gs asfixiante atinge
50%, sintomas so produzidos e quando atinge 75%, fatal em minutos. Os sintomas so
respirao rpida, falta de ar, o alerta mental diminui e a coordenao muscular piora. Depois
aparece a instabilidade emocional, fadiga, nusea, vmito, prostrao, perda de conscincia e,
finalmente, convulso, coma profundo e morte.
Monxido de carbono um gs asfixiante qumico. Sua afinidade com a hemoglobina
, aproximadamente, 210 vezes maior que a do oxignio. Quando combinado com a
hemoglobina, o monxido de carbono diminui a capacidade do sangue de transporte do
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oxignio, causando asfixia. A elevao dos ndices de CO pode resultar em altos nveis de
carboxihemoglobina no sangue, afetando a capacidade de trabalho e de exerccio fsico em
pessoas sadias. Resultam tambm em efeitos cardiovasculares, agravando seriamente o
quadro de portadores de doenas cardacas. Os sintomas de intoxicao so: desconforto
fsico, nuseas, dor de cabea, tontura, perda de concentrao, dependendo da intensidade da
exposio pode levar morte em poucas horas ou minutos.
Gases irritantes so aqueles que induzem inflamao na pele, na membrana dos olhos
e nos tratos respiratrios. Causam leso na mucosa atravs de reaes de desnaturao ou
oxidao. Podem causar broncoespasmo, traqueobronquite qumica e at mesmo edema
pulmonar. O local de ao dos gases irritantes depende em grande parte de sua solubilidade
em gua. Os gases mais solveis como a amnia e o dixido de enxofre geralmente provocam
reaes nas vias areas superiores, provocando sensao dolorosa na boca, nariz, faringe ou
mesmo nos olhos. xidos de nitrognio, gs sulfdrico, aldedos (hidrocarboneto parcialmente
oxidado) e dixido de enxofre so os gases irritantes mais comuns.
Gases venenosos so os que destroem os tecidos com os quais entram em contato. So
eles: monxido de nitrognio, gs sulfdrico e dixido de enxofre, que alm de irritantes, so
venenosos.
2.4.2 GASES EXPLOSIVOS
Alguns gases podem explodir, desde que existentes numa dada faixa de porcentagem
na atmosfera e tambm, desde que haja uma fonte de ignio. Por exemplo, uma mistura
metano-ar gera uma atmosfera explosiva quando a concentrao de metano no ar est entre 5
e 15%, sendo preocupao constante nas minas de carvo e evaporitos. Outros gases
explosivos encontrados nas minas so: monxido de carbono (com faixa explosiva entre 12,5
e 74%); gs sulfdrico (na faixa entre 4 e 44%).
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2.5 MONITORAMENTO E CONTROLE DE GASES
Equipamentos para monitoramento de gases txicos podem utilizar diferentes
princpios de funcionamento. A escolha do mtodo de deteco deve ser feita em funo das
caractersticas de cada processo e das condies especficas da aplicao. Os dados obtidos
pelos instrumentos de deteco indicaro a liberao de uma rea para um trabalho seguro, ou
mesmo a interdio e evacuao imediata do local.
Os mtodos mais utilizados incluem o PID (Photo Ionization Detector, Detector por
Foto Ionizao), FID (Flame Ionization Detector, Detector por Ionizao de Chama), ou ainda
os Sensores Catalticos de Compensao ou Sensores Eletroqumicos.
2.5.1 DETECTORES DE GASES
Segundo GHINI (2002) os monitores de gases portteis PID (Photo Ionization
Detector) utilizam luz ultravioleta para ionizar as molculas de gs, como mostra a figura1.
Os PID so geralmente utilizados para a deteco de Compostos Orgnicos Volteis (VOCs)
em baixas concentraes. Para compostos aromticos, as leituras podem chegar a escalas de
partes por bilho (ppb). As molculas de gases passam pela cmara de fluxo do detector, onde
so bombardeadas por raios de luzes ultravioleta. Quando atingidas pelos raios, as molculas
liberam ons, os quais so atrados por eletrodos que amplificam a carga inica, gerando uma
corrente eltrica. Atravs da medio da corrente produzida, determina-se o tipo de gs e sua
concentrao.
Figura 1 - Esquema de funcionamento dos medidores PID (Clean News, 2002)
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Os Flame Ionization Detectors ou FID empregam uma chama de hidrognio para
ionizar as molculas de gs, figura 2. Os FID so utilizados para a leitura total de
hidrocarbonetos. Conforme os vapores de hidrocarboneto passam pela chama, as molculas
dos gases so quebradas, produzindo ons com cargas positivas e negativas. Os ons so ento
coletados por um par de eletrodos polarizados, gerando uma corrente eltrica. A intensidade
da corrente diretamente proporcional quantidade de tomos de carbono presentes na
amostra de gs.
Figura 2 - Esquema de funcionamento dos medidores FID (Clean News, 2002)
Os detectores de Sensores Catalticos operam atravs da oxidao dos gases presentes
no ambiente, monitorando a energia liberada no processo. Este processo simples e preciso, e
aplica-se para o monitoramento de gases e vapores de combustveis em geral. Sua operao
extremamente mais simples que a operao de um FID ou um PID.
Os sensores catalticos, figura 3, so compostos por dois filamentos de platina: um
filamento ativo e o de referncia. O filamento ativo responsvel pela oxidao das
molculas de carbono presentes nos gases. Com a oxidao, a temperatura do Filamento Ativo
aumenta. Esta temperatura ento comparada com o Filamento de Referncia. O diferencial
de temperatura produz a leitura da concentrao dos gases presentes.
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Figura 3 - Esquema de funcionamento de um sensor cataltico (Clean News, 2002)
Existem monitores capazes de eliminar o metano da leitura total dos gases. Esta uma
funo extremamente importante para evitar interferncia do gs metano nas leituras de
campo, devido a influncia dos gases de esgoto. Para eliminar a sensibilidade do sensor ao gs
metano, a temperatura do filamento reduzida a um nvel em que o metano no detectado.
No entanto, esta reduo de temperatura no interfere na capacidade do monitor de detectar
gases de hidrocarbonetos.
2.5.2 CONTROLE DE GASES
Os gases prejudiciais das minas, geralmente, so originados pelas seguintes situaes:
Detonao de explosivos;
Utilizao de mquinas a diesel;
Minerao de carvo;
Exploses subterrneas e fogo;
Oxidao de madeira, carvo, pirita, etc.;
Perfurao em gua parada.
-
21
As tcnicas utilizadas para manter os gases em nveis aceitveis dependem do tipo de
gs e da natureza de sua ocorrncia. As mais utilizadas para prevenir a exposio de pessoas
aos gases de minas so:
Preveno da formao de gases;
Preveno da exposio de pessoas;
Diluio dos gases;
Remoo dos gases.
A quantidade de ar fresco necessrio para se diluir um gs contaminante ao seu limite
de tolerncia legal, pode ser determinada pela seguinte expresso (ESTON, 2004):
= )()(
.)()(QarLT
LTgigsar CC
CCqQ
Onde:
Q(ar) = vazo necessria de ar fresco em m/s;
q(gs) = vazo do fluido poluente em m/s;
Cgi = concentrao de gs puro no volume de fluido sendo colocado na atmosfera da
mina, em frao (entre 0 e 1 ou Cgi x 100 = %);
CLT = concentrao limite de tolerncia legal, em frao ou CLT x 100 = %;
CQar = concentrao do poluente no ar fresco diluidor, em frao ou CQar x 100 = %.
Algumas minas possuem detectores de gases txicos (e explosivos) espalhados em
determinados pontos no subsolo. Estes detectores esto conectados a um computador central,
que tambm controla as vazes do sistema de ventilao no interior da mina. Quando uma
determinada rea alcana nveis de concentraes de gases txicos elevados, o sistema
automaticamente detecta a ocorrncia e direciona para aquela rea uma porcentagem maior do
-
22
ar insulflado no interior da mina, alterando a abertura e o fechamento de dumpers de
distribuio do ar.
2.6 MATERIAL PARTICULADO (POEIRA)
O material particulado de interesse na lavra em subsolo est na faixa granulomtrica
de at cerca de 100 m. Para a poeira gerada e emitida na atmosfera, a distncia de transporte
(Dt) funo da velocidade do ar e da taxa de deposio (TD). A taxa de deposio, por sua
vez, funo do tamanho das partculas, da sua forma, da massa especfica, das condies
psicromtricas do ar, entre outros fatores.
As poeiras da frao inalvel (menor que 10 m) podem ser tratadas como um gs e
uma expresso similar dos gases pode ser utilizada para calcular a vazo de ar fresco
(ESTON, 2004):
= )(.)( arLTROM
par CCP
EQ
Onde:
Q(ar) = vazo necessria de ar fresco em m/h;
Ep = emisso de poeira na atmosfera em m/h;
PROM = produo R.O.M. (Run Of Mine) em t/h;
CLT = concentrao limite de tolerncia legal em g/m;
Car = concentrao do poluente no ar em g/m.
A concentrao de poeira no ar (Car) diminui com o aumento da vazo (Q(ar)).
Para a frao maior que 10 m, com o aumento da velocidade do ar, os seguintes
processos ocorrero:
-
23
Novas partculas sero colocadas em suspenso;
As partculas em suspenso sero transportadas mais longe;
As partculas depositadas sero novamente suspendidas pela turbulncia e colocadas
na atmosfera.
Por causa disto, o aumento da vazo (ou velocidade do ar) implicar em um aumento
da concentrao de particulado desta granulometria.
A combinao destes fatores define a faixa mais adequada de velocidade do ar em
subsolo para a diluio e remoo de poeira (inalvel e no-inalvel de at 100 m), que de
2 a 4 m/s. Acima de 4 m/s tem-se um problema de desconforto no impacto das partculas com
a pele.
Algumas medidas simples para a diminuio dos problemas de poeira so:
Infuso de gua;
Umedecimento de pisos;
Borrifamento de gua na perfurao e no minrio desmontado;
Uso de sistema de filtragem associado aos ventiladores;
Uso de material particulado inerte no caso de poeiras explosivas.
2.7 ENFERMIDADES RELACIONADAS QUALIDADE DO AR
Segundo HARTMAN (1982), as doenas pulmonares de origem ocupacional so
causadas pela inalao de partculas, nvoas, vapores ou gases nocivos no ambiente de
trabalho. O local exato das vias areas ou dos pulmes onde a substncia inalada ir se
depositar e o tipo de doena pulmonar que ir ocorrer dependero do tamanho e do tipo das
partculas inaladas. As partculas maiores podem ficar retidas nas narinas ou nas grandes vias
areas, mas as menores atingem os pulmes.
-
24
As principais enfermidades relacionadas qualidade do ar na minerao so: silicose,
pulmo negro, asbestose e pneumoconiose benigna (MERCK, 2006).
2.7.1 SILICOSE
A silicose ocorre em minas de chumbo, cobre, prata, ouro e em determinadas minas de
carvo, onde os peneiradores trabalham imediatamente sobre os veios de carvo.
A silicose a formao de cicatrizes permanentes nos pulmes provocada pela
inalao do p de slica (quartzo). Uma das mais antigas doenas ocupacionais conhecida,
ocorre em indivduos que inalaram p de slica durante muitos anos. A slica o principal
constituinte da areia, e, por essa razo, a exposio a essa substncia comum entre os
trabalhadores de minas de metais, os cortadores de arenito e de granito, os operrios de
fundies e os ceramistas. Normalmente, os sintomas manifestam-se somente aps vinte a
trinta anos de exposio ao p. No entanto, em ocupaes que envolvem a utilizao de jatos
de areia, a escavao de tneis e a produo de sabes abrasivos, que produzem quantidades
elevadas de p de slica, os sintomas podem ocorrer em menos de dez anos. Quando inalado,
o p de slica atinge os pulmes, onde os fagcitos (p.ex., macrfagos) engolem as
partculas. As enzimas liberadas pelos fagcitos provocam a formao de tecido cicatricial
nos pulmes. Inicialmente, as reas cicatriciais so pequenas protuberncias arredondadas
(silicose nodular simples), mas, finalmente, essas protuberncias podem aglomerar- se,
formando grandes massas (silicose conglomerada). Essas reas cicatriciais no permitem a
passagem normal de oxignio ao sangue. Os pulmes perdem a elasticidade e a respirao
exige um maior esforo.
Os indivduos com silicose nodular simples no apresentam dificuldade para respirar,
mas apresentam tosse e escarro em decorrncia da irritao das grandes vias areas, uma
condio denominada bronquite. A silicose conglomerada pode produzir tosse, produo de
-
25
escarro e dificuldade respiratria grave. No incio, a dificuldade respiratria pode ocorrer
somente durante a realizao de exerccios, mas, no estgio final, ela ocorre mesmo durante o
repouso.
A respirao pode piorar de dois a cinco anos aps o indivduo haver parado de
trabalhar com a slica. A leso pulmonar sobrecarrega o corao e, algumas vezes, acarreta a
insuficincia cardaca, potencialmente letal. Alm disso, quando os indivduos com silicose
so expostos ao agente causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), a
probabilidade de contrarem a infeco trs vezes maior do que a dos indivduos que no
sofrem de silicose. O diagnstico de silicose estabelecido quando um indivduo que
trabalhou com slica apresenta uma radiografia torcica com os padres caractersticos de
cicatrizao e ndulos.
O controle da poeira no local de trabalho pode ajudar a evitar a silicose. Quando ela
no pode ser controlada, como no caso das atividades que utilizam jatos de areia, os
trabalhadores devem vestir capacetes que forneam ar externo puro ou mscaras que filtrem
completamente as partculas. Esse tipo de proteo pode no estar disponvel para todos os
indivduos que trabalham na rea poeirenta (p.ex., para pintores e soldadores) e, por essa
razo, quando possvel, deve ser utilizado um outro abrasivo que no a areia.
Os operrios expostos ao p de slica devem realizar regularmente uma radiografia
torcica a cada seis meses para os operrios que trabalham com jato de areia e a cada dois a
cinco anos para os demais operrios , para que os problemas sejam detectados precocemente.
Se as radiografias indicarem a presena de silicose, o mdico provavelmente ir orientar o
indivduo a evitar a exposio contnua slica.
Apesar da silicose no ter cura, a interrupo da exposio slica em um estgio
inicial da doena pode interromper a evoluo da mesma. O indivduo com dificuldade
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26
respiratria pode beneficiar-se com os tratamentos utilizados para a doena pulmonar
obstrutiva crnica, como a terapia medicamentosa que visa manter as vias areas
desobstrudas e livres de secrees. Como os indivduos com silicose apresentam um alto
risco de tuberculose, elas devem submeter-se a exames de controle regulares que incluam um
teste cutneo para a tuberculose.
2.7.2 PULMO NEGRO
O pulmo negro ocorre em minas de carvo devido inalao do p do carvo. O
pulmo negro (pneumoconiose dos mineiros de carvo) uma doena pulmonar causada por
depsitos de p de carvo nos pulmes. O pulmo negro conseqncia da aspirao de p de
carvo durante um perodo prolongado. No caso de pulmo negro simples, o p de carvo
acumula-se em torno das pequenas vias areas (bronquolos) dos pulmes. Apesar de ser
relativamente inerte e incapaz de provocar reaes exageradas, o p de carvo dissemina-se
por todo o pulmo, o que revelado nas radiografias torcicas como pequenas manchas.
O p de carvo no obstrui as vias areas. Apesar disso, anualmente, 1 a 2% dos
indivduos com pulmo negro simples evoluem para uma forma mais grave da doena,
conhecida como fibrose disseminada progressiva, na qual ocorre a formao de cicatrizes em
grandes reas do pulmo (com pelo menos 1 centmetro de dimetro). A fibrose disseminada
progressiva pode piorar mesmo aps o indivduo interromper a exposio ao p de carvo.
O tecido pulmonar e os vasos sangneos pulmonares podem ser destrudos pelas
cicatrizes. Na sndrome de Caplan, um distrbio raro que afeta mineiros de carvo que
apresentam artrite reumatide, ocorre a formao rpida de grandes ndulos redondos de
tecido cicatricial nos pulmes. Esses ndulos podem formar-se em indivduos que no se
expuseram de modo importante poeira de carvo, mesmo quando eles no apresentam
pulmo negro.
-
27
Normalmente, o pulmo negro simples assintomtico (no produz sintomas). No
entanto, muitos indivduos com essa doena tossem e, facilmente, apresentam dificuldade
respiratria, pois eles tambm sofrem de enfisema (decorrente do tabagismo) ou bronquite
(tambm devida ao tabagismo ou exposio txica a outros contaminantes industriais). Por
outro lado, os estgios graves da fibrose disseminada progressiva produzem tosse e,
freqentemente, dificuldade respiratria incapacitante.
O mdico estabelece o diagnstico aps observar as manchas caractersticas na
radiografia torcica de um indivduo que se exps ou vem se expondo ao p de carvo h
muito tempo. Geralmente, trata-se de um indivduo que trabalhou em minas subterrneas
durante pelo menos dez anos.
O pulmo negro pode ser evitado com a supresso adequada do p de carvo do local
de trabalho. Os mineiros de carvo devem realizar um exame radiogrfico a cada quatro ou
cinco anos, de modo que a doena possa ser detectada no seu estgio inicial. No caso de ela
ser detectada, o trabalhador deve ser transferido para uma rea onde a concentrao de p de
carvo seja baixa, visando evitar o desenvolvimento da fibrose disseminada progressiva.
Como o pulmo negro no tem cura, a preveno fundamental.
O indivduo que apresenta dificuldade respiratria grave pode beneficiar-se dos
tratamentos utilizados na doena pulmonar obstrutiva crnica, como o tratamento
medicamentoso para manter as vias areas desobstrudas e livres de secrees.
2.7.3 ASBESTOSE
A asbestose ocorre em minas de amianto devido inalao do p de amianto. A
asbestose a cicatrizao disseminada do tecido pulmonar causada pela aspirao de p de
asbesto (amianto). O asbesto composto por silicatos minerais fibrosos com diferentes
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28
composies qumicas. Quando inaladas, as fibras de asbesto depositam-se profundamente
nos pulmes, provocando a formao de cicatrizes.
A inalao de asbesto tambm pode acarretar o espessamento das duas membranas que
revestem os pulmes (pleura). Os indivduos que trabalham com asbesto apresentam risco de
desenvolver uma doena pulmonar. Os operrios do setor de demolio, que trabalham em
edifcios com isolamento que contm asbesto, tambm correm risco, embora menor. Quanto
mais o indivduo se expe s fibras de asbesto, maior o risco de ele desenvolver uma doena
relacionada a esse material.
Os sintomas da asbestose aparecem gradualmente, somente aps ter havido a formao
de muitas cicatrizes e os pulmes terem perdido a elasticidade. Os sintomas iniciais so uma
dificuldade respiratria discreta e a diminuio da capacidade de realizar exerccios. Os
tabagistas inveterados que apresentam bronquite crnica concomitante com a asbestose
podem apresentar tosse e sibilos.
A respirao torna-se cada vez mais difcil. Aproximadamente 15% dos indivduos
com asbestose apresentam uma dificuldade respiratria grave e insuficincia respiratria.
Ocasionalmente, a inalao de fibras de asbesto pode provocar o acmulo de lquido no
espao existente entre as duas membranas pleurais (espao pleural).
Em casos raros, o asbesto acarreta a formao de tumores pleurais, denominados
mesoteliomas pleurais, ou no peritneo (membrana que reveste o abdmen), denominados
mesoteliomas peritoneais. Os mesoteliomas causados pelo asbesto so cancerosos e no tm
cura. Mais comumente, os mesoteliomas desenvolvem- se aps a exposio crocidolita, um
dos quatro tipos de asbesto.
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29
A amosita, um outro tipo, tambm causa mesoteliomas. A crisotila provavelmente no
causa mesoteliomas, mas algumas vezes ela contaminada pela tremolita, que seguramente
causadora desses tipos de tumores. Geralmente, os mesoteliomas ocorrem trinta ou quarenta
anos aps a exposio.
O cncer de pulmo est relacionado em parte ao grau de exposio s fibras de
asbesto. No entanto, entre os indivduos com asbestose, o cncer de pulmo ocorre quase
exclusivamente nos que tambm so tabagistas, sobretudo naqueles que consomem mais de
um mao de cigarros por dia.
Algumas vezes, em um indivduo com histria de exposio ao asbesto, o mdico
diagnostica a asbestose por meio de uma radiografia torcica que revela as alteraes
caractersticas. Normalmente, o indivduo tambm apresenta uma funo pulmonar anormal e,
durante a ausculta pulmonar (realizada com o auxlio de um estetoscpio), o mdico pode
detectar sons anormais denominados estertores crepitantes.
Para determinar se um tumor pleural canceroso, o mdico deve realizar uma bipsia
(remoo de um pequeno fragmento de pleura, que enviado para exame microscpico). O
lquido em torno dos pulmes pode ser removido com o auxlio de uma agulha (procedimento
denominado toracocentese) e analisado. No entanto, esse procedimento no to acurado
quanto a bipsia.
As doenas causadas pela inalao de asbesto podem ser evitadas com a minimizao
da poeira e fibras de asbesto no local de trabalho. Atualmente, como as indstrias que usam
asbesto melhoraram o controle da poeira, uma menor quantidade de indivduos vem
apresentando asbestose. No entanto, os mesoteliomas continuam a ocorrer em indivduos que
estiveram expostos h quarenta anos.
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O asbesto presente nas construes deveria ser removido por profissionais treinados
em tcnicas seguras de remoo. Os tabagistas que tiveram contato com o asbesto podem
diminuir o risco de cncer de pulmo abandonando o vcio. A maioria dos tratamentos da
asbestose alivia os sintomas. Por exemplo, a oxigenoterapia diminui a dificuldade respiratria.
A drenagem do lquido acumulado em torno dos pulmes pode facilitar a respirao.
Em determinadas ocasies, o transplante de pulmo tem sido bem sucedido no tratamento da
asbestose. Os mesoteliomas so invariavelmente fatais. A quimioterapia no produz bons
resultados e a remoo cirrgica do tumor no cura o cncer.
2.7.4 PNEUMOCONIOSE BENIGNA
A pneumoconiose benigna ocorre em minas de ferro devido inalao de suas
partculas. Ocasionalmente, outras substncias produzem alteraes que so detectadas na
radiografia torcica: a siderose (resultante da inalao de xido de ferro), a baritose (da
inalao do brio) e a estanose (da inalao de partculas de estanho). Embora sejam evidentes
nas radiografias torcicas, essas partculas de poeira no causam reaes pulmonares
importantes e, por essa razo, os indivduos expostos a essas substncias no apresentam
sintomas nem comprometimento funcional.
2.8 VENTILAO SUBTERRNEA
A ventilao em mina subterrnea tem como principal objetivo fornecer um fluxo de
ar fresco (puro), natural ou artificial, a todos os locais de trabalho em subsolo, em quantidades
suficientes para manter as condies necessrias de higiene e de segurana dos trabalhadores.
Uma ventilao inadequada torna as condies ambientais da mina precrias para os operrios
e equipamentos, representando para a empresa uma perda de produtividade. De uma maneira
simplificada, podemos resumir o papel da ventilao em (VUTUKURI; LAMA, 1986):
-
31
Permitir a manuteno de uma quantidade adequada de oxignio aos operrios,
Suprimir os gases txicos oriundos do desmonte de rochas com explosivos.
Evitar a formao de misturas explosivas gs-ar.
Eliminar concentraes de poeiras em suspenso.
Diluir os gases oriundos da combusto de motores.
Atenuar a temperatura e a umidade excessiva.
Quando o ar tem um teor de gs inadequado para respirao chamado de ar viciado e
pode ser classificado como segue abaixo:
Gs inadequado para respirao (CO2, N2, CH4, H2)
Gs venenoso, como CO, H2S e hidrxidos
Gs inflamvel hidrocarbonetos CH4, CO
As tcnicas de ventilao de mina podem ser resumidas basicamente em duas
categorias: ventilao natural e ventilao mecnica. A ventilao natural uma tcnica
utilizada desde os primrdios da minerao. causada pela diferena de temperatura do ar no
interior da mina em relao ao ar externo.
Com a crescente necessidade de um maior fluxo de ar no interior das minas,
desenvolveram-se as tcnicas de ventilao mecnica com ventiladores instalados no poo de
entrada de ar (insuflao), ou na sada da ventilao (exausto). Esse desenvolvimento
ocorreu, principalmente, a partir da segunda metade do sculo XIX, com os ventiladores
mecnicos de grandes dimetros, exclusivamente centrfugos e de velocidades reduzidas,
movidos por moinhos de vento ou roda hidrulica.
Aps a primeira guerra, com o grande desenvolvimento da aerodinmica, foram
introduzidos os ventiladores axiais de grande porte, sendo esses hoje em dia os mais
-
32
empregados. De uma maneira geral, os ventiladores centrfugos so os que melhor se adaptam
aos servios da mina alm de serem mais silenciosos. Entretanto os ventiladores axiais so
mais baratos, compactos e flexveis quando ao seu uso, permitindo a regulagem do ngulo de
ps de seu rotor, variando os valores de vazo e presso impostos, sendo, por esses motivos,
os mais empregados como ventiladores de poo de ventilao. A anlise da eficincia ou
dimensionamento de um circuito de ventilao pode ser feita por tcnicas diretas, usando as
equaes de Kirchhoff ou o algoritmo de Hardy Cross para a anlise das redes de fluxo. Essas
tcnicas diretas de anlise so extremamente trabalhosas, quando temos um circuito composto
de muitas malhas (ramos), sendo empregadas apenas em partes do circuito de ventilao. Para
uma anlise mais detalhada ou previso de mudanas no circuito de ventilao, empregam-se
tcnicas de simulao computacional. Essas tcnicas de simulao se desenvolveram
principalmente nos ltimos anos, com avano dos computadores pessoais e da possibilidade
de se obterem estimativas sobre possveis mudanas ou avanos no circuito de ventilao,
antevendo-se resultados e economizando-se recursos (DNPM, 1986).
A boa ventilao aumenta a produtividade e diminui o nmero de acidentes, tendo-se
menos absentesmo e um melhor ambiente de trabalho. Ela requer a anlise quanto aos
parmetros de sade ocupacional, segurana e economia. Estas condies requerem:
A diluio e remoo de gases, vapores e fumos;
A diluio e remoo de material particulado;
A diluio e remoo do calor;
O monitoramento das condies relativas aos limites de tolerncia;
O planejamento das aes nos casos de emergncia;
O dimensionamento, a seleo e a localizao de ventiladores principais e auxiliares;
A previso das alteraes dinmicas no sistema de ventilao, que ocorrem ao longo
da vida da mina e da progresso da lavra.
-
33
O projeto de ventilao de uma mina deve considerar 3 tipos de situao (ESTON,
2004):
1) A ventilao geral diluidora onde os focos so a vazo total de ar fresco necessria
para a mina como um todo, os caminhos principais do ar pela mina e os ventiladores
principais;
2) A ventilao auxiliar onde os focos so os fluxos de ar nos realces, nas frentes de
lavra, nas galerias em fundo de saco, as fontes fixas ou mveis de poluio, entre outros.
So analisadas as subdivises de fluxo nas vias secundrias, a colocao de portas e
reguladores, bem como o uso de ventiladores secundrios;
3) A ventilao local exaustora cujo foco a retirada localizada de poluentes, gerados
por fonte fixa, com a utilizao de fluxo aspirante, de coifas, de dutos, etc.
A figura 4 ilustra os focos da ventilao geral diluidora, enquanto a figura 5 ilustra os
focos da ventilao auxiliar. A ventilao local exaustora utilizada em locais fechados como
laboratrios e oficinas.
Figura 4 - Vazo total diluidora
Ar frescoQ
Ar de mina Q
Q
ventilador
-
34
Figura 5 - Ventilao auxiliar (conduo de ar fresco nas frentes de lavra)
Quando o ar insuflado para uma mina atravs do ventilador principal, dizemos que a
mina opera por insuflamento. Quando o ventilador principal aspira o ar da mina, dizemos que
o sistema por exausto, como mostra a figura acima. Para uma mina de grande porte,
existem muitas combinaes, podendo ter sistemas mistos, com alguns ventiladores principais
operando por insuflamento e outros por exausto. Nestes casos h vrios poos ou chamins
de ventilao.
2.8.1 A NORMA NR 22
A norma que regulamenta os critrios a serem cumpridos pelo sistema de ventilao
da mina a NR 22 (MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1999) que estabelece que
o sistema de ventilao deve atender aos seguintes requisitos:
suprimento de oxignio; (222.573-5/ I4)
renovao contnua do ar; (222.574-3/ I4)
diluio eficaz de gases inflamveis ou nocivos e de poeiras do ambiente de trabalho;
(222.575-1/I4)
temperatura e umidade adequadas ao trabalho humano e (222.576-0/ I4)
ser mantido e operado de forma regular e contnua. (222.577-8/ I4)
Realces
Ramo simples
Realces
Ramo duplo
Realces
Ramo triplo
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35
Tambm estabelece que a mina deve elaborar e implantar um projeto de ventilao
com fluxograma atualizado periodicamente, contendo, no mnimo, os seguintes dados:
localizao, vazo e presso dos ventiladores principais; (222.579-4/ I3)
direo e sentido do fluxo de ar e (222.255-8/ I34)
localizao e funo de todas as portas, barricadas, cortinas, diques, tapumes e outros
dispositivos de controle do fluxo de ventilao. (222.581-6/ I3)
Em termos de vazo de ar fresco no interior da mina a norma estabelece que dois
metros cbicos por pessoa por minuto a vazo mnima necessria para garantir oxignio
para os trabalhadores. No caso da utilizao de veculos e equipamentos a leo diesel, a vazo
de ar fresco na frente de trabalho deve ser aumentada em trs e meio metros cbicos por
minuto para cada cavalovapor de potncia instalada. Para o uso simultneo de mais de um
veculo ou equipamento a diesel, em frente de desenvolvimento, dever ser adotada a seguinte
frmula para o clculo da vazo de ar fresco na frente de trabalho:
QT = 3,5 ( P1 + 0,75 x P2 + 0,5 x Pn ) [ m/min]
Onde:
QT = vazo total de ar fresco em metros cbico por minuto
P1 = potncia em cavalo-vapor do equipamento de maior potncia em operao
P2 = potncia (CV) do equipamento de segunda maior potncia em operao
Pn = somatrio da potncia em cavalo-vapor dos demais equipamentos em operao.
2.8.2 DIMENSIONAMENTO DO VENTILADOR
Para que seja possvel atingir os requisitos da norma NR 22 necessrio que o sistema
de ventilao seja capaz de fornecer vazes de ar preconizadas pela norma. Para tal
necessrio determinar as vazes necessrias de acordo com a norma e instalar ventiladores
-
36
capazes de fornecer estas vazes, com diferencial de presso capaz de vencer as perdas de
carga no escoamento do ar pela mina.
A seleo de um ventilador realizada utilizando-se dois parmetros: a diferena de
presso a ser fornecida pelo ventilador e a vazo de ar a ser insulflado. A vazo de ar a ser
insulflado, de acordo com a norma NR 22, depende da quantidade de pessoas e da potncia
instalada no interior da mina (veculos).
Outro parmetro utilizado a rugosidade da parede da mina, que difere de mina para
mina. Este parmetro necessrio para o clculo da perda de carga do escoamento no interior
da mina. Esta perda de carga calculada atravs da seguinte equao:
2
2A
PerfLp =
Onde:
p: perda de carga por unidade de comprimento
f: coeficiente de perda de carga
L: comprimento do escoamento
Per: permetro da seo
A: rea da seo transversal
u: velocidade do ar na seo
O dimensionamento de ventiladores para uma instalao subterrnea feito atravs de
softwares de simulao: o Ventsim (ventilation simulation) e o Mivena (mine ventilation
analysis). No presente trabalho foi utilizado o software Ventsim e os resultados so
apresentados no item 5.3.
-
37
2.9 CONFORTO TERMOCORPORAL
That state of mind which expresses satisfaction with the thermal environment
(ASHRAE, 1994)
Um dos maiores problemas de minas subterrneas se refere ao conforto termocorporal.
A literatura aponta mais de 23 fontes de calor em subsolo, destacando-se o fluxo geotrmico,
motores a combusto, o uso de explosivos, a rede de iluminao, a oxidao de certos tipos de
minrio, a infiltrao de guas termais, movimentao do macio, a rede de ar comprimido e a
presena de grade nmero de trabalhadores em certos tipos de lavra so algumas das fontes
de calor caractersticas de uma lavra em subsolo.
O problema do conforto trmico em subsolo no s envolve as fontes de calor como
tambm deve ser analisado em termos das condies psicromtricas, ou seja, da umidade e da
velocidade do ar nas galerias e realces, alm da compresso adiabtica nos poos de influxo
de ar.
O conforto trmico nas minas est diretamente relacionado com a produtividade e
ainda associado a acidentes e doenas trmicas como exausto, sncope, cibras, sudmina e
perdas de sais minerais. Com as minas cada vez mais profundas, superando 3.000m, aumenta
a preocupao com os sistemas de ventilao e refrigerao.
Segundo ESTON (2005), dados da minerao corroboram dados obtidos para outras
indstrias, tendo-se as menores taxas de acidentes para temperaturas inferiores a 21C e as
maiores taxas, para valores superiores a 27 C. Entre esses valores, tem-se uma faixa onde a
correlao no bem definida.
Com relao produtividade, dados obtidos para as minas sul-africanas de ouro,
indicam uma sensvel queda de produo. Sabe-se que, a partir de uma determinada faixa de
-
38
temperatura, o rendimento do trabalhador reduzido de forma drstica, chegando a doenas
ou acidentes. A tabela 2 a seguir apresenta o rendimento (R) dos trabalhadores em funo da
variao de temperatura (T).
Tabela 2 - Rendimento de trabalhadores em funo da temperatura ambiente (ESTON, 2005)
T(C) R(%)28.9 10032.8 7535.5 5036.4 3037.0 25
Queda no rendimento de trabalhos pesados deperfurao, com perfuradores experientes,aclimatados, trabalhando 3 horas consecutivas nasfrentes das galerias. T a temperatura e R, orendimento associado. O nvel de referncia de 100% tomado como 28.9 C
O fluxo geotrmico mdio mundial cerca de 65mW/m2, e os gradientes mdios em
faixas no vulcnicas variam de 20 a 35 C/km. O Brasil tem a maior parte de seu territrio
em bacias sedimentares e crtons estveis antigos, de modo que o gradiente mdio pode ser
tomado como de 25 a 30 C/km. A tabela 3 a seguir apresenta valores de temperatura da rocha
virgem para algumas profundidades.
Tabela 3 - Temperatura de rocha em funo da profundidade (ESTON, 2005)
T(C) Z(m)23 10029 30035 50050 100080 2000
110 3000
No Brasil, existem muitas minas de baixa profundidade, vrias de mdia profundidade
e algumas de grande profundidade. A mina mais profunda (Mina antiga de Morro Velho)
atingia mais de 2km e requeria 5 usinas de refrigerao, porque s o sistema de ventilao no
era suficiente. A mina de cromo de Ipueira III na Bahia, j atingia mais de 300m de
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39
profundidade em 2003 e o calor geotrmico comeava a constituir um fator a ser considerado
no planejamento da ventilao. A mina de Taquari Vassouras, de sais de potssio em Sergipe,
tem cerca de 500m de profundidade e requer todo um cuidado com o sistema de ventilao e
refrigerao. Esse cuidado decorre no s do calor e da umidade, mas tambm da necessidade
de evitar a presena de gua na mina.
Para minas profundas, a refrigerao necessria e estes sistemas no so baratos,
requerendo alto consumo de energia para funcionar.
Independentemente da profundidade, as minas mecanizadas utilizam mquinas que
podem ser hidrulicas, eltricas ou a combusto (em geral motores a diesel). Os motores em
geral so de alta potncia, usados em caminhes, jipes, jumbos de perfurao, LHDs, p-
carregadores, locomotivas, correias transportadoras, mineradores contnuos, guinchos e
britadores. Esses motores geram calor e gases que precisam ser removidos pelo sistema de
ventilao geral diluidor.
O calor colocado na atmosfera da mina por essas mquinas pode ser estimado de
vrias formas, mas de modo geral se utilizam frmulas empricas associadas potncia do
motor. Estes motores tm potncias variando de uma centena de HP at vrias centenas de HP
e, em mdia, cerca de 60% da potncia nominal considerada como gerando calor na mina.
Portanto, a vazo diluidora para conforto trmico considera a potncia total de todos os
motores em operao simultnea na mina. Valores tpicos usados em minas sul-africanas
esto em torno de 60m3/s por MW de potncia. Valores maiores ou menores decorrem de
consideraes relativas a estado de manuteno dos motores, idade, se o veculo est
carregado ou vazio, entre outras coisas (ESTON, 2005).
-
40
2.9.1 CONDIES TRMICAS NO UNIFORMES E DESCONFORTO LOCAL
Alm das condies de temperatura, velocidade e umidade do ar e da temperatura
radiante mdia do ambiente, distribuies no-uniformes de temperatura, radiao e
velocidade tambm afetam a sensao de conforto trmico. por este motivo que a
temperatura radiante assimtrica tambm deve ser medida, bem como a velocidade e
temperatura do ar em vrios nveis. Com essas medies ser possvel estabelecer se h
desconforto trmico local, como por exemplo:
temperatura radiante assimtrica muito alta;
diferena de temperatura ao longo do corpo muito grande, por exemplo, ar frio nos ps
e ar quente na cabea;
correntes de ar que podem causar sensao de frio em algumas regies.
A curva da figura 6 apresenta a porcentagem de pessoas insatisfeitas como funo da
assimetria de radiao, cada curva apresenta um tipo diferente de assimetria como teto
aquecido, parede fria, parede quente ou teto frio.
Figura 6 - PPD devido ao desconforto local (ASHRAE handbook 2001 - Fundamentals)
-
41
As curvas da figura 7 apresentam a porcentagem de pessoas insatisfeitas como funo
da velocidade mdia do ar. Cada curva expressa uma temperatura diferente do fluxo de ar.
Figura 7 - PPD devido velocidade mdia do ar (ASHRAE handbook 2001 - Fundamentals)
2.9.2 A ANLISE DE FANGER
O mtodo de avaliao das condies de conforto trmico de FANGER (1970),
apresenta as seis variveis de conforto: quatro variveis ambientais (temperatura do ar (Tar),
velocidade do ar V, temperatura radiante mdia ( rT ) e umidade do ar (pvar)) e dois parmetros
pessoais (metabolismo (M) e tipo de vestimenta (Rroupa)).
QUANTIFICAO DO PARMETRO VESTIMENTA
A vestimenta representa uma barreira contra as trocas trmicas, um isolante trmico
pela camada de ar que mantm entre ela e a pele. A figura 8 abaixo mostra alguns tipos
comuns de vestimentas e suas respectivas resistncias trmicas.
1 CLO = 0.155 m2 C/W
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42
0.05 CLO 0.50 CLO 1.00 CLO 4.00 CLO
Figura 8 - Tipos de vestimentas e suas resistncias trmicas
INFLUNCIA DA VELOCIDADE DO AR
O aumento da velocidade do ar aumenta a troca de calor entre o corpo e o ar, se o ar
estiver mais frio do que a superfcie do corpo a sensao ser de resfriamento, enquanto que,
se o ar estiver mais quente do que a superfcie do corpo a sensao ser de aquecimento.
FANGER (1970) props uma equao geral de conforto para predizer as sensaes de
conforto segundo a combinao das variveis: temperatura do ar, temperatura radiante mdia,
velocidade do ar, umidade relativa, atividade fsica e vestimenta.
Esta estabelece trs condies bsicas para uma situao de conforto trmico:
A existncia de equilbrio atravs da troca de calor
A temperatura mdia da pele
O calor eliminado por evaporao do suor na zona de regulao contra o calor,
resultando:
0,,,,,__
=
rvarroupa TpTVRMf ar
A temperatura da pele e o calor eliminado por evaporao so funo da varivel M,
que representa o metabolismo do corpo humano quando exercendo uma determinada
atividade.
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43
O PMV (voto mdio estimado) consiste num valor numrico que representa as
respostas subjetivas de sensao de desconforto por frio e calor, ter valor zero para situaes
de conforto, ser negativo para situaes de frio e positivo para situaes de calor. A partir da
foi implementado o conceito de Porcentagem de Pessoas Insatisfeitas (Predicted Percentage of
Dissatisfied), o PPD ou PPI.
Uma vez que o clculo do voto mdio estimado trabalhoso, FANGER (1970)
apresenta tabelas e grficos e a ISO 7730:1994 apresenta tabelas e uma rotina para utilizao
em microcomputador, que permitem determinar condies de conforto trmico para diferentes
atividades, tipos de vestimenta e condies ambientais.
O autor relatou a percentagem estimada de insatisfeitos (PPD) em funo do voto
mdio estimado (PMV).
A curva da figura 9 abaixo mostra como varia o percentual de pessoas insatisfeitas
(PPD) em funo do voto mdio estimado PMV.
Figura 9 - Percentual de pessoas insatisfeitas em funo do voto mdio estimado
( )24 2179.003353.095100 PMVPMVePPD +=
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44
Note que conforme discutido acima, quando o voto mdio estimado zero, apenas 5%
das pessoas apontam no estar confortvel termicamente, quando o PMV -3 temos uma
situao de frio para 100% das pessoas e quando o PMV 3 tem-se uma situao de calor
para 100% das pessoas.
2.9.3 NORMA NR 15
Segundo a norma regulamentadora NR 15 - Atividades e operaes insalubres
(MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978), a exposio ao calor deve ser
avaliada atravs do ndice de Bulbo mido Termmetro Globo IBUTG definido pelas
equaes que se seguem:
- Ambientes internos ou externos sem carga solar
IBUTG = 0,7 tbn + 0,3 tg
- Ambientes externos com carga solar
IBUTG = 0,7 tbn + 0,1 tbs + 0,2 tg
Onde: tbn = temperatura de bulbo mido natural
tg = temperatura de globo
tbs = temperatura de bulbo seco
Os aparelhos que devem ser usados nesta avaliao so termmetro de bulbo mido
natural, termmetro de globo e termmetro de mercrio comum, as medies devem ser
efetuadas no local onde permanece o trabalhador, altura da regio do corpo mais atingida.
Em funo do ndice obtido, o regime de trabalho intermitente ser definido como
mostra a tabela 4 abaixo.
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45
Tabela 4 - Regime de trabalho em funo do IBUTG (em C) obtido (NR 15)
Tipo de Atividade Regime de trabalho intermitente com descanso no
prprio local de trabalho (por hora) Leve Moderada Pesada Trabalho Contnuo at 30,0 at 26,7 at 25,0 45 minutos trabalho 15 minutos descanso
30,1 a 30,6 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9
30 minutos trabalho 30 minutos descanso
30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9
15 minutos trabalho 45 minutos descanso
31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0
No permitido o trabalho sem a adoo de medidas adequadas de controle
Acima de 32,2 acima de 31,1 acima de 30,0
O tipo de atividade ser definido como mostra a tabela 5 abaixo, em funo do
metabolismo (M).
Tabela 5 - Classificao do tipo de atividade (NR 15)
TIPO DE ATIVIDADE M (kcal/h) SENTADO EM REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braos e tronco (ex. Datilografia). 125 Sentado, movimentos moderados com braos e pernas (ex. Digigir) 150 De p, trabalho leve, em mquina ou bancada, principalmente com os braos. 150
TRABALHO MODERADO
Sentado, movimentos vigorosos com braos e pernas. 180
De p, trabalho leve em mquina ou bancada, com alguma movimentao 175
De p, trabalho moderado em mquina ou bancada com alguma movimentao 220
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar. 300
TRABALHO PESADO Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex. Remoo com p) 440 Trabalho fatigante 550
A norma NR 15 estabelece que os perodos de descanso sero considerados como
horas de trabalho para todos os efeitos legais. Para determinar o ndice mximo IBUTG a
norma estabelece o seguinte quadro (tabela 6).
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46
Tabela 6 - Limites mximos de IBUTG em funo do metabolismo
M (kcal/h) Mximo IBUTG (C) 175 30,5 200 30,0 250 28,5 300 27,5 350 26,5 400 26,0 450 25,5 500 25,0
Onde M a taxa de metabolismo mdia ponderada para uma hora, determinada pela
seguinte frmula:
60ddtt xTxMxTMM =
Sendo: Mt taxa de metabolismo no local de trabalho
Tt soma dos tempos, em minutos, em que se permanece no local de trabalho.
Md taxa de metabolismo no local de descanso.
Td soma dos tempos, em minutos, em que se permanece no local de descanso.
_________
IBUTG o valor IBUTG mdio ponderado para uma hora, determinado pela
seguinte frmula:
60_________
ddtt xTIBUTGxTIBUTGIBUTG +=
Sendo: IBUTGt = valor do IBUTG no local de trabalho.
IBUTGd = valor do IBUTG no local de descanso.
Tt e Td = como anteriormente definidos
Os tempos Tt e Td, devem ser tomados no perodo mais desfavorvel do ciclo de
trabalho, sendo Tt + Td = 60 minutos corridos. As taxas de metabolismo Mt e Md sero
obtidas consultando-se a tabela 5.
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47
2.9.4 NDICES DE EXPOSIO AO CALOR
Conforme mencionado no incio deste captulo 2.9, os fatores que determinam a
sobrecarga trmica so: a temperatura ambiente, a umidade relativa, o calor radiante, a
velocidade do ar e o metabolismo gerado no desenvolvimento do trabalho executado. Por
conseguinte, qualquer mtodo que vise a avaliao da sobrecarga trmica dever levar em
conta os citados fatores.
Existem diversos mtodos e estudos que pretendem avaliar, mediante a utilizao de
um ndice as caractersticas do ambiente, bem como, os limites aceitveis de exposio ao
calor aos quais podem estar expostos os trabalhadores. No entanto, devido a grande
quantidade de variveis envolvidas no processo no se conseguiu ainda nenhum mtodo que
reflita de maneira fiel a avaliao da sobrecarga trmica.
Os mtodos podem ser divididos em dois grupos (NETTO, 2003):
METODOS FISIOLGICOS (EMPRICOS)
Estes mtodos esto baseados em estudos realizados com grupos de pessoas (grupos
de controle). A partir da anlise dos dados estatsticos obtidos, so construdos grficos e
tabelas que so utilizados como base para avaliao do problema.
MTODOS INSTRUMENTAIS
Esses procedimentos procuram buscar um modelo fsico/matemtico que se assemelhe
s condies a que estariam sujeitos os trabalhadores, quando expostos aos fatores do
ambiente que influenciam a sobrecarga trmica. Entre os mtodos fisiolgicos adquire
importncia o ndice de Temperatura Efetiva (TE), o ndice IBUTG e o ndice de Sobrecarga
Trmica (IST).
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o NDICE DE TEMPERATURA EFETIVA
Esse ndice foi inicialmente proposto (1923) pela American Society of Heating and
Ventilating Engineers (ASHVE). Concebido a princpio como um critrio de avaliao de
conforto trmico, o mtodo est baseado no estudo das respostas de grandes conjuntos de
pessoas que trabalham em ambientes com diferentes combinaes de temperatura, umidade e
movimentao de ar. A idia fundamental do mtodo foi de reunir, em uma nica designao,
ou seja, em um ndice, todas as condies climticas que produzem uma mesma ao
fisiolgica.
Assim, por exemplo, as condies de temperatura do ar de 20C com umidade relativa
de 100%, sem movimentao de ar (V = 0 m/s) corresponder a uma temperatura efetiva de
20C.
Podem ser verificadas outras temperaturas que, para umidades relativas diferentes,
provoquem as mesmas sensaes de calor que a temperatura efetiva de 20C. Isso ocorre para
as condies do ambiente com umidade relativa do ar de 20% e temperatura de 24C (sem
movimentao de ar). Todas as respostas subjetivas podem ser plotadas em grficos
(diagramas psicromtricos) e com eles obtidos os valores do ndice de Temperatura Efetiva.
O ndice de Temperatura Efetiva leva em considerao os seguintes parmetros:
Temperatura do ar (bulbo seco) (C)
Umidade relativa do ar (%)
Velocidade do ar (m/s)
O ndice de Temperatura Efetiva perde representatividade quando aplicado em
exposies ao calor em condies distintas das de conforto trmico, j que no completa
nenhum fator para avaliao do metabolismo total.
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Esse ndice j foi adotado no Brasil para a caracterizao de condies insalubres (TE
> 28C - Portaria 491 de 16 de setembro de 1965), tendo sido revogado quando entrou em
vigor a Portaria 3.214/78 - NR 15 de 1978, que instituiu o IBUTG (ver item 2.9.3 deste
trabalho) como ndice de avaliao das condies de insalubridade.
Atualmente, o ndice de Temperatura Efetiva adotado como parmetro na
determinao de conforto trmico (NR - 17 - Ergonomia, item 17.5.2 - alnea b). De posse
desses valores, os mesmos devem ser comparados com queles especificados pelas Normas
Tcnicas como limites de tolerncia para conforto trmico.
Outra restrio que se apresenta quando da aplicao desse ndice que o mesmo no
leva em conta a troca de calor devida radiao. Quando existem fontes de calor radiante no
ambiente, as variveis utilizadas no so suficientemente representativas das verdadeiras
condies de exposio ao calor.
Nesse caso, usa-se o ndice de Temperatura Efetiva Corrigido, que obtido
substituindo-se nos bacos (anexo I) a Temperatura de Bulbo Seco (Tbs) pela Temperatura de
Globo (Tg) - que representativa do calor radiante - e, com auxlio de uma carta
psicromtrica, determina-se a Temperatura de Bulbo mido (Tbu) que o ar possuiria com a
mesma quantidade de vapor dgua, ou seja, com a mesma umidade absoluta se esse ar fosse
aquecido para a nova temperatura.
Para o caso de aplicao das grandezas descritas com vistas ao atendimento da NR -
17 Ergonomia (MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1990), as condies
limitantes so: alm da temperatura efetiva entre 20 e 23C, a velocidade do ar no podendo
ser superior a 0,75 m/s (1,5 ps/s) e a umidade relativa do ar no podendo ser inferior a 40%.
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50
o NDICE IBUTG
O ndice IBUTG, conforme mencionado no item anterior, adotado no Brasil para a
caracterizao de condies insalubres. Para a avaliao deste ndice, que possui efeitos legais
sobre a empresa, a medio realizada segundo a metodologia da Fundacentro - Fundao
Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurana do Trabalho (NHT 01 C/E), estabelecida
em 1985 (NETTO, 2003). Esta metodologia foi elaborada tomando-se por base a avaliao
executada com o auxlio de rvore de termmetros. Na poca da elaborao da metodologia
o nmero de equipamentos eletrnicos para avaliao de calor ainda era muito reduzido.
Atualmente com o avano da tecnologia digital os profissionais envolvidos contam com
equipamentos eletrnicos bastante precisos e repletos de recursos (armazenamento de vrias
medies, impresso de resultados e outros), e ainda com a vantagem de serem equipamentos
portteis bem mais fceis de serem montados e transportados.
O procedimento para o clculo deste ndice, bem como o regime de trabalho a ser
determinado em funo do mesmo descrito no captulo 2.9.3 deste trabalho.
o NDICE DE SOBRECARGA TRMICA
O ndice de Sobrecarga Trmica foi desenvolvido, na dcada de 50, por Belding e
Hatch na Universidade de Pittsburgh e combinava os efeitos do calor radiante e de conveco
com o calor gerado pelo metabolismo.
O ndice de Sobrecarga Trmica (IST) essencialmente uma decorrncia da equao
de balano trmico que inclui fatores metablicos e ambientais. Belding e Hatch partiram do
princpio fisiolgico de que o mximo tolervel de exposio a calor aquele em que o
equilbrio trmico possa ser mantido (para determinada carga de trabalho), sem que haja
elevao excessiva da temperatura da pele. O valor do IST representa a relao entre a
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51
quantidade de calor que um indivduo, submetido a um ambiente trmico determinado,
necessita evaporar atravs da sudorese e a quantidade de mxima de calor que pode ser
eliminada naquele ambiente.
Em outras palavras o IST quociente entre a evaporao requerida (Ereq) e a
evaporao mxima (Emx), normalmente expressa sob a forma percentual.
IST = (Ereq / Emx).100
O IST um dos mtodos que permite uma avaliao mais correta da sobrecarga
trmica, tendo em vista que contempla todos os parmetros que influem nos ganhos e perdas
de calor pelo indivduo. Seu principal inconveniente est na complexidade dos clculos para
determinao do calor radiante e de conveco e na necessidade da exata determinao de
todos os parmetros fsicos e do metabolismo total que no so facilmente medidos de uma
maneira exata.
A evaporao requerida (Ereq) e a evaporao mxima (Emx) podem ser avaliadas
por meio de equaes empricas desenvolvidas por Mc Karns e Brief mediante a utilizao de
um nomograma (NETTO, 2003). As equaes utilizadas so as seguintes:
R = 17,5.(Tw - 95)
C = 0,756.V.0,6.(Ta - 95)
Emx = 2,8.V.0,6.(42 - Pw)
Onde:
R = Calor trocado por radiao (Btu/h)
C = Calor trocado por conveco (Btu/h)
Emx.= Calor mximo perdido por evaporao (Btu/h)
Tw = Temperatura radiante mdia (F)
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52
Ta = Temperatura ambiente (F)
V = Velocidade do ar (ft/min)
Pw = Presso de vapor (mm Hg)
Este ndice um indicador das condies de desconforto trmico, o IST no
aplicvel em condies de excessivo calor. O IST no identifica corretamente as diferenas
existentes em um ambiente quente e seco, e outro quente e mido. Por esta razo, este ndice
no foi avaliado na anlise de conforto trmico da referida mina subterrnea.
2.9.5 EFEITOS DO CALOR NO SER HUMANO
Conforme HARTMAN (1982), o corpo humano capaz de manter a sua temperatura
dentro de uma faixa estreita, tanto em clima quente, quanto em clima frio, por: sudorese,
alteraes da respirao, tremores e variao do fluxo sangneo que chega pele e aos
rgos internos. Porm, quando a exposio excessiva em temperaturas elevadas, podem
ocorrer distrbios como:
Golpe de calor (hipertermia);
Sncope pelo calor (exausto);
Prostrao trmica;
Cibras de calor;
Alteraes nas glndulas sudorparas;
Edema pelo calor;
Outros efeitos.
O risco de apresentar um desses distrbios causados pelo calor aumenta com a
umidade elevada, que diminui o efeito refrescante da sudorese, e com o esforo fsico
prolongado, que aumenta a quantidade de calor produzido pelos msculos.
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GOLPE DE CALOR
Tambm chamado de hipertermia ou choque trmico, ocorre quando o sistema
termorregulador afetado pela sobrecarga trmica e a temperatura interna aumenta
continuamente. Isto produz uma alterao da funo cerebral, com perturbao do mecanismo
de dissipao do calor, cessando a sudorese.
Como os danos s clulas nervosas so irreversveis, importante que os outros
trabalhadores reconheam imediatamente os sinais e sintomas do golpe de calor, para que o
tratamento seja feito imediatamente.
Os sintomas da hipertermia so: colapsos, convulses, delrios, alucinaes e coma,
sem aviso prvio, sendo parecido com convulses epilpticas. Os sinais externos so: pele
quente, seca e arroxeada, a temperatura interna sobe a 40,5 C ou mais, podendo atingir de 42
a 45 C no caso de convulses ou coma. O golpe de calor , freqentemente, fatal e pode
deixar seqelas devido aos danos causados ao crebro, rins e outros rgos.
Este efeito ocorre em tarefas fsicas pesadas, em condies de calor extremo, quando
no h aclimatizao e quando existem certas enfermidades como o diabetes mellitus,
enfermidades cardiovasculares e cutnea ou obesidade. Como primeiros socorros pode-se
tomar medidas como: resfriar o corpo do trabalhador em imerso em gua com gelo e
massagear a pele resfriada para ativar a circulao ou enrolando-o em uma toalha molhada
com gua ou com lcool e com sopro forte de um ventilador, seguido de massagem da pele
resfriada. A etapa de resfriamento deve ser parada quando a temperatura corprea atingir 39
C.
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SNCOPE PELO CALOR
A sncope pelo calor ou exausto ocorre quando a vasodilatao perifrica reduz o
fluxo de sangue nos rgos internos, podendo ocorrer deficincia de oxignio, agravando
particularmente o crebro e o corao. Essa situao pode ser agravada no caso de esforo
fsico intenso.
Os principais sintomas so: a fadiga crescente, a fraqueza, a ansiedade e a sudorese
abundante. A pessoa pode ter sensaes de desmaio ao ficar em p, pois o sangue acumula-se
nos vasos sangneos dos membros inferiores, que se encontram dilatados pelo calor. Os
batimentos cardacos tornam-se lentos e fracos, a pele fica fria, plida e viscosa, e a pessoa
apresenta confuso mental. A perda lquida reduz o volume sangneo, baixa a presso arterial
e pode fazer com que a pessoa entre em colapso ou desmaie. Geralmente, a exausto pelo
calor pode ser diagnosticada baseando-se nos sintomas.
O principal tratamento consiste na reposio lquida (reidratao) e de sal.
Geralmente, basta pessoa deitar completamente ou ficar recostada com a cabea mais baixa
que o restante do corpo e consumir bebidas frias e levemente salgadas em intervalos de alguns
minutos. Algumas vezes, a reposio lquida administrada pela via intravenosa. Tambm
ajuda o fato da pessoa passar para um ambiente fresco. Aps a reidratao, a pessoa
freqentemente recupera-se de forma rpida e completa. Quando a presso arterial e a
freqncia de pulso permanecem baixas por mais de uma hora apesar do tratamento, deve-se
suspeitar de uma outra condio.
PROSTRAO TRMICA
A prostrao trmica por desidratao ocorre quando a quantidade de gua ingerida
insuficiente para compensar a perda pela urina, sudao ou pelo ar exalado. Com a perda de 5
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a 8% do peso corpreo, ocorre a diminuio da eficincia do trabalho, sinais de desconforto,
sede, irritabilidade e sonolncia, alm de pulso acelerado e temperatura elevada. Uma perda
de 10% do peso corpreo incompatvel com a atividade e com 15% pode ocorrer o choque
trmico ou golpe pelo calor.
Como causa h a quantidade de sal ingerido menor que as perdas por evaporao. As
pessoas mais susceptveis so as no aclimatizadas.
Os sintomas so: fadiga, tonturas, falta de apetite, nuseas, vmitos e cibras
musculares. As dores de cabea, a constipao e a diarria so bastante comuns, podendo