hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS...

11
N!! ANO XI FLORIANOPOLlS, 10 DE DEZEMBRO DE 1993 CURSO DE JORNALISMO DA UFSC Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Transcript of hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS...

Page 1: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

N!! 4· ANO XIFLORIANOPOLlS,10 DE DEZEMBRO DE 1993CURSO DE JORNALISMODA UFSC

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 2: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

CARTASTá demais omitindo minhas explicações sobre estas

acusações contra o meu marido. MarianoSenna mostrou apenas o lado da acusação(leia-se CTC), e o lado da defesa? será queele "esqueceu"?

Sobre o "abandono" do curso para irà um campeonato de pesca noChile, omeumarido foi porque havia sido convocado

peloCND, órgãomaiordoesportenacional.A Universidade recusou-se a liberá-lo e,para evitarumapunição doCND, Paulo foipara o Chile.

Quanto ao resultadodo inquérito quea UFSC abriu contra o meu marido, porcausa desta viagem, o "repórter" conta queo juiz Humberto Rufino mandou a

Universidadereintegraroprofessor,epagarà ele salários, 13° salário e férias, no totaldeUS$ 12mil. Só que o "repórter" esqueceude contar que até hoje a UFSC não pagoua dívida.

Quanto ao "abandono" após a licençaprêmio que Paulo pediu em setembro de93, novamente o aluno esqueceu de contarnamatéria publicada, que o departamentohavia me informado que um professorsubstituto estava contratado, e os alunosnão estavam sem aulas. Na matéria constaque, segundo o departamento, "110 alunosficaram sem aulas".

Ainda relatei ao repórter que um

advogado está com uma procuração pararesolver todos estes proble-mas junto à

UFSC, mas nada disto foi publicado, porquê?

Que tipo de repórter é esse que um

curso reconhecido e tão respeitado estáformando? Como é que umjornal, como o

Zero, vencedor de tantos prêmios, comuma reputação e respeitabilidadeimaculada, publica uma matéria com

apenas uma versão sobre o assunto em

questão?

Galera do Zero,

Escrevo do laboratório de micros daUniversidade doArizona, após ter recebidoa edição do Zero de 20 de outubro. Vocêsdão um banho! Quer dizer, o jornal tádemais, tá gostoso de ler, ainda mais aquino meio do deserto de Sonora ...

A capa com a ilustração do José daSilva Júnioreu usei de exemplonuma aulade Design e Lay Out do Departamento deJornalismo; amatéria daMônica Linharesrevela o lado ignorante do Brasil, a páginasobre a Amway, da Ivana Back, contémmais informação que o jornalismo norte­

americano poderia conseguir. Às vezes é

preciso olhar de fora para o jornalismobrasileiro - e o jornalismo que a gente faz- para sacar os acertos e identificar os

pecados.Ética é tudo, no final de contas, se a

gente quiser fazer um jornalismoresponsável. Precisei vir aqui paradescobrir que o quarto poder é nobredemais para a gente se deixar corromper.

Mudando de água pro vinho, a cartado Emerson Gasperin é um "tomate" nacara dos caretas. Em resumo, vocês dão umbanho. Valeu mesmo o Victor Carlson terenviado os jornais!

Se precisarem .de alguma coisa -

exceto dólares - dos Estados Unidos,mandem um sinal. Quem sabe uma

correspondente internacional?

RETRATOSDO PODI .

I I

Zero 93: mudanfas na capa, reportagens ouslldas e equipe independente

Uma nova proposta

\(

Aó}M�H<lnB1'f)f)O:::"u��

Há pouco mais de' um

ano, os estudantes davamuma enorme demonstraçãode força saindo às ruas em

defesa da ética e da morali­dade. Agora, a situação se

inverteu - pelomenos noDi­retório Central de Estudan­tes da UFSC. Depois de de­núncias e de uma devassanas contas doDCE,fo­ram descobertas ir­

regularidades quecomprometem a ima­

gemdaentidadee ques­tionam sua represen­tação. Uma instituiçãoque se propõe a levaradiante a luta estudan­til deve, antes de maisnada, mostrar respon­sabilidade, competên­cia e, principalmente,seriedade.Ainda assim,vale ficar de "olho vi­vo" no oportunismo dequem está denuncian­do.Especialmente ago­raqueachapaganhoua eleiçãopara oDCE.É preciso estar alerta

quanto aos grupos que in­sistem em se infiltrar nesteespaço tão importante paraa vida dos acadêmicos.

Aliás, em épocade eleiçãotodo cuidado épouco.Apro­posta de orçamento do Es­tado para 1994 prioriza o

programa de construção e

recuperação de estradas,deixandode ladoáreas como

saúde, educação emoradia.Os deputados abusam dos

pedidos deemendas, visandoaspróximas eleições. Só umdeles já enviou 512 pro­postas, a maioria benefi­ciando os próprios redutosde votação.

Os políticos de SC tam­

bém são destaque na esfera

porém os líderes têm uma

preocupação maior: tentaresconder o "mar de lama"em que lIavega a politicabrasileira.

A decadência das ills­

tituições acaba refletindo nomeio social. As pessoas queestiveram lia Festa do Mar

para o show dos Titãs,assistiram também a

um outro espetáculo,muitomaisdeprimente.Muita gente foi agre-

, didae roubada.Aopro­curar ajuda da PolíciaMilitar, houve quemfosse ameaçado depri­são. Casos como estes

I mostram bem o caos,

social que vive o país,situação em que Flo­

rianópolis também

começa a mergulhar.Estessãoalgunsdos

assuntos que o Zerotraz 110 seu último nú­mero de 1993, dentrode uma novaproposta.Depois de muito es­

forço e empenho porparte da equipe, foipossívelproduzir um jornal total­menteelaboradoporalunos,dapauta à edição. Foi destaforma que os futuros jor­nalistas puderam acompa­nharmaisdeperto oprocessode produção de um veículode comunicação.

Em 94, estaremos devolta.

BeijosHeloisa DaUanl101

Tucson, Arizona, EUA

Esposa do PCÀredação,Meu nome é Lindamar da Silva de

Carvalho, sou esposa do professor PauloRoberto de Carvalho. Estou escrevendo

para registrarminha indignação e repúdioàs omissões que o "repórter" MarianoSenna fez namatéria "PactoMedíocre" ,

na

última edição doZero. Nestamatéria,meumarido é acusado de desonestidade e

inassiduidade. Mas as fontes para taisacusações foram apenas o Departamentode Computação daUFSC e alguns alunos.NoDepartamento existemmuitas pessoasque não gostam de meu marido e queadorariam prejudicá-lo, e os alunos? quemgarante que eles também não tinham

alguma desavença com o professor e

aproveitaram a oportunidade para vingar­se de alguma diferença?

Mas minha revoltamaior é contra as

informações que eu prestei ao alunoMariano Senna, doCurso de Jornalismo, eque ele não publicou na matéria. Quandofui procurada por ele, prestei todas as

informações, sendo sincera com o futuro

"repórter". Pena que ele me supreendeu

Sinceramente,Lindamar S. de Carvalho

Florianópolis - SC

Reposta do repórterEngana-se a senhora Lindamar de

Carvalho ao dizer que as únicas fontesutilizadasnamatériaforamoDepartamentode Informática e alguns alunos. Tambémforamouvidos oDepartamento Pessoal e aProcuradoria da universidade. Esses doisórgãos confirmaram a denúncias feitas,inicialmente, pelos alunos do INE.

Quanto às informaçõesdadasporeles,foram tão esclarecedoras quanto a cartaacima. Gostaria de saber agora: quem sãoos perseguidores de PC no INE (nomes) equais os seus motivos?

Admito a falha de não ter publicadoos dados sobre o advogado de PauloCarvalho e sobre a contratação de um

outroprofessor para substituí-lo. Acrediteique essas eram informações menores, jáque o fato principal era a história de um

professor universitário que não tem a

mínima consideração pela sua profissão.Mariano Senna

nacional: Três catarinenses

ocupam pela primeira vez,ao mesmo tempo, a presi­dência dos trêsmaiorespar­tidos do país, justamenteaqueles que estão se des­mantelando diante da ava­

lanche de denúncias contra

alguns de seus membros. OEstado tinha tudo para ga­Ilhar expressão nacional,

FotogmJiaAna Paula Pinho.josemar Sehnem, Paulo Henrique Sousa,

Paulo de Tarso e Yan BoechatLaboratório Fotográfico

Giancario Proençajaime Luccas, LauroMaeda,Pablo Claudino e Paulo de Tarso

Projeto GráficoVictor Carlson

Editoração EletrônicaAngelita Corrêa,]osé da SilvaJúnior e Victor Carlson

Supervisão da LaboratórioProfessorRicardo Barreto

TextosAlessandro da Silva,Alexandra Baldisserotto, Alexandre Winck,

Ana Paula Barreto, Ana Paula Pinho, Carolina Guidi,Chico Sander, Gisele Losso, Ivana Back, Mauricio Oliveira,

Marcelo Santos,Mônica Linhares, Paulo Henrique,Paulo de Tarso e Suyanne Quevedo

Acabamento e impressão: Jornal A Notícia

Redação: Curso de Jornalismo (UFSC-CCE-COM),Trindade, CEP 88040-900, Florianópolis/SC

Telefone: (0482) 31-9215. Telex e Fax: (0482) 344069

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo daUniversidade Federal de Santa Catarina

.

editado pelo Laboratório de InfografiaCapa

Michelson Borges, Paulo Henrique e Paulo de TarsoColaboração

ProfessorMoacir Pereira efotógrafo Marcos Cesar (O Estado)Copy-writer

Professares Cilka Girardello e LuizAlberto ScottoCoordenação da redaçãoProfessor Carlos Locatelli

IlustraçãoJosé da SilvaJúnior eMichelson Borges

DiagramaçãoAlessandro da Silva, Alexandra Baldisserotto, Angelita Corrêa,

Giancarlo Proença, Janaína Toscan, José da SüvaJúnior, LucianeLemos, Sérgio Severino e Vutor Carlson

EdiçãoAlessandro da Silva, Alexandra Baldisserotto, Alexandre Gonçalves,Carolina Guidi,]anaína Toscan.josé da Silva Júnior, Luciane Lemos,

Mauricio Oliveira, Marcelo Santos, Paulo Henrique Sousa,Sandra Nebelung, Vanessa Pedro e Victor Carlson

ZEBOMelhor Peça Gráfica

I, II, III, IV e VSet Universitário

Maio 88Setembro 89, 90 e 91

Outubro92�4

ANOXIDEZEMBRO 93

CURSO DE JORNAUSMOCCE-COM

2 ZERO DEZEMBRO· 93c:f, Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 3: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

AAssembléia Geral dos Estudantes do dia nove

de novembro, aprovou a realização de uma

auditoria nas contas referentes aos anos de1991 e 1992 do Diretório Central dos Estudantes(DCE) da UFSC. As maiores irregularidades consta­tadas pelo CETEC (Conselho Estudantil do CentroTecnológico), são a falta de notas fiscais, recibos assi­nados indevidamente pelo tesoureiro, notas de motel,um cheque roubado e pagamentos de ajudas de custo

para a diretoria.A onda de auditorias nas entidades estudantis

da UFSC é obra do CETEC. Este ano o presidenteda instituição, Alcione Vergil, resolveu pedir uma

auditoria nas contas de todas as diretorias passadas.Ele quer descobrir onde foram parar 600 livros dabiblioteca do CETEC, cerca de 100 discos e o equipa­mento da discoteca que funcionava no bar do CTC.Vergil quer saber também o que foi feito com o dinhei­ro do aluguel que a instituição recebeu durante todosesses anos do bar da Nina, localizado no Centro Tee- i:nológico.

Qj

Uma das principais irregularidades da gestão Cri- Q

Cri (1992) é a falta de notas fiscais. Para prestar contas �de alguns gastos o tesoureiro Alexandre Aguiar dos t-;

Santos preencheu e assinou uma série de recibos para �fechar a contabilidade. So que os recibos deveriam �ter sido assinados pelas pessoas ou empresas que pres-

'

taram serviços no DCE. O tesoureiro assinou também

quatr? recibos de ajudas de custo para Valdir JoséFerreira, Coordenador-geral do DCE na época. San­tos te�ta justificar-se afirmando que recebeu uma pro­curaçao do"Coordenador para assinar os recibos.

Remuneração.-:- Outros problemas são as ajudasde custo que os dirigentes daquela gestão recebiam.As pessoas eleitas para trabalharem no DCE exercem

atividades voluntárias e não devem receber salários.Mas a direção Cri-Cri decidiu que eles deveriam ser

remunerados. Para isso, instituiu a ajuda de custo.

Segundo o tes0':lreiro Santos, no início as ajudase�am n:tensais, depois passaram a ser quinzenais. Eledisse ainda que as ajudas de custo não ultrapassavamo valor da bolsa de trabalho, 75% do salário mínimo.Mas na prestação de contas foram encontrados doisrecibos de ajudas de custo do Coordenador GeralValdir José Ferreira, referentes ao mês de novembro:A soma chega a CR$ 600 mil cruzeiros em valoresda época. O salário mínimo naquele'mês foi deCR$ 522 mil cruzeiros.

Ferreira sequer poderia ter sido Coordenador­geral. do. DCE quando. a chapa Cri-Cri tomou posseno �ia clll;cO dt: fevereiro. de 92, ele não fazia parteda diretoria eleita. Mas foi escolhido para ser coorde­nador no dia primeiro de setembro do mesmo ano

quase sete meses depois. Ferreira tomou o lugar d�Oscar Rover que largou o cargo porque ia se formar."O Valdir foi o primeiro Coordenador-geral biônicodo DCE" denuncia Lara Kretzer, atual coordenado­ra-geral do diretório.

Compras - A atual diretoria do DCE terá quepa.gar um .cheque passado pela antiga gestão- e quefoi devolvido. O cheque, usado para pagar compras

no Supermercado Santa Mônica, no dia 18 de agostodo ano passado, foi devolvido pela compensação por­que estava com contra-ordem ou seja, foi dado como

roubado. Só que o cheque estava assinado pelos res­

ponsáveis pelas finanças do DCE, Alexandre Aguiardos Santos e Oscar Rover.

Santos disse que o cheque não foi roubado e

que ele o passou para pagar compras do diretório.Ele contou que alguns dias depois de ter passado o

cheque, o talão com mais cinco ou seis folhas foiroubado ou perdido - ele não sabe informar ao certo.O tesoureiro deu contra-ordem em todo o talão paraque nenhum cheque fosse descontado. Segundo Ale­xandre, o Santa Mônica deve ter demorado a depo­sitar o cheque e, quando o banco foi compensar, a

conta do DCE estava bloqueada.O advogado do Supermercado entrou em contato

com o DCE este ano e solicitou o pagamento do

cheque. Lara Kr�tz.er não sabe informar porque sóagora o Santa Mônica procurou o diretório. A dire­toria já decidiu que vai pagar o valor devido. Casona� faça, o advogado do supermercado vai entrarna Justiça contra o Diretório Central dos Estudantes.

O CETEC, autor das denúncias, é um órgão quereprese�ta todos os Centros Acadêmicos do CTC eexiste ha mais de dez anos. A atual diretoria concluiuas reformas do prédio e comp.rou equipamentos novos

. par� o ���EC t:ste ano. Alcione Vergil, o presidenteda msht�llça<?, diz que todas as reformas foram feitascom. o dinheiro dC? aluguel do bar da Nina, da mesa

de. sm�c.a que funciona no local e do xérox que destinamil copias todos os meses para o conselho. No mêsde novembro.. o"aluguel do bar rendeu CR$ 35 milcruzeiros reais. quando se é honesto consegue-sefazer banstante COisa com pouco dinheiro", disse Ver­gil poucos dias antes da eleição do DCE, de olho

em um dos cargos da entidade. Ele concorreu pelachapa Olho ViVO, que venceu o pleito. .

�ot�1 - AI�m d�s. cont�s da gestão passada,a auditoria tambern vai mvestigar os gastos da dire­tO�la do DCE no ano de 1991. Vergil denuncia que�xistem ,?otas de m<_?tel e de compra de caixas depaçoca na prestaçao de contas da chapa E preciso

amar, e ?utar._ Além disso, o dinheiro da contribuiçãoacadêmica nao foi repassada aos Centros Acadêmicosnaquele ano.

A n:a�or parte de dinheiro que o Diretório Cen­tral administra vem da contribuição acadêmica. Todosos semestres uma parte das taxas das matrículas dosalunos da UFSC vai para o DCE. Neste semestrea contribuição foi de uma UFIR. Sessenta por cent�desse dinheiro deve ser repassado aos Centros Acadê­miCOS da Universidade e os outros 40% ficam como DCE. O presidente do CETEC também denunciaque esse dinheiro foi repassado sem juros aos C.A.no ano passado, pela gestão Cri-Cri.

A eleição para uma nova diretoria do DCE acon­teceu no início de dezembro. A Cri-Cri tentou voltar

a�_DCE a�ravés da c�apa Nada do que foi será. Luci­neta Martins, que fazia parte da antiga diretoria con­corre a uma v?ga e Alexandre Aguiar dos Santos- oex-tesoureiro - foi um dos principais cabos elei­torais.

Oportunismo - Antes da eleição, Santos tentae se defender,d.as acusações de irregularidades atacan­do os adversanos. Em uma carta distribuída aos estu­dantes, ele diz que a chapa Olho Vivo, encabeçadapelo presidente do CETEC, aproveitou-se da audito­rial para tentar �e eleger. E denuncia que ela (OlhoViVO) e a Cara Pintada, atual diretoria do DCE rece­

beram aRoio e dinheiro da maçonaria e do P�rtidoLibe_ral (�L) .. O. an,ti�o tesoureiro diz ainda que a

gestao Cri-Cri foi a uruca, que em cinco anos, prestoucontas dos gastos.

O pedido de auditoria foi entregue pela atualcoordenação do DCE, no dia 23 de outubro ao Con­selho Regional de Contabilidade. Os coord�nadoresvão pedir também uma auditoria jurídica e ética àOrdem dos �dvog,a�os do Brasil, (OAB). "No ano

passado pedimos ética na política e agora estamosfazendo o mesmo que os políticos" condena LaraKretzer, Coordenadora-geral do DCE.

Os resultados das auditorias vão ser encaminha­dos aos fóruns estudantis da UFSC. O Conselho de

. Entidades de Base (CEB) que agrega todos os CentrosAcadêmi�os_da Universidade Federal, e o CongressoEstudantil vao decidir o que fazer em relação às irre­gularidades nas �ontas do DCE. Ninguém acreditamuito,

Ivana BackColaborou Paulo de Tarso

DEZEMBRO -93· ZERO 3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 4: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Projeto oportunistaprevê extinçãodos cargos de vice

Promessa de trabalhoem escritório é uma farsaJovens caem no "conto do Karajá"

Oanúncio parecia ten­

tador para jovensem busca de traba­

lho e sem experiência. Ofe­recia trabalho em escritórioe boa remuneração. Mas ao

se engajar na Karajá Repre-,sentações, o novo contrata-Ido é obrigado a atuar comovendedor durante um mês.Somente numa segunda-fei­ra de agosto, vinte pessoascaíram no "conto do Kara­

já". Há um ano, a Karajájse instalou em Florianópo­lis, na praça dos Bombeiros.Em Julho, a empresa jáabriu uma filial na rua Te­nente Silveira. O créditovem da venda de títulos doClube de Proteção à Família

(CPF) - uma espécie de se­

guro múltiplo com sede em

Campinas (SP).No primeiro dia do em-I

prego, os funcionários apli­cam um teste sobre conheci­mentos gerais. Quem é o

ministro da Fazenda ou qualé o dia da Independência doBrasil, são algumas das per­guntas. Os que passarem co­

meçam a trabalhar no próxi-,mo dia. Mas o caminho atéo salário é longo.

No segundo dia, a es­

tratégia da empresa começaa clarear: "Parabéns: Você'foi aprovado e já está con­

tratado, agora só falta o trei­

namento", dizem. Assim

começa a "preparação deum novo supervisor". Aparte prática - o trabalho

- é vender três tipos de títu­los do CPF, até atingir 100

pontos no mês (o mais bara­to vale um ponto, o interme­diário dois pontos e mais ca­ro, três pontos).

Prêmio - Há aindauma espécie de tratamento

de choque, que a Karajáchama de "treinamento in­tensivo". A pessoa tem ape­nas um dia para realizar a

Anuncio .em jornaldesde maio

venda. Se não vender, ga­nha mais alguns dias. Quan­do vender, poderá ganharcomo prêmio, uma descul­

pa: "Nós conversamos com

o chefe e não teve jeito, vo­cê vai ter que fazer mais

quatro vendas e eu botei mi­nha cabeça no fogo que vocêvai conseguir", disse Char­les, supervisor da filial, a

uma candidata. E continua­va: na verdade era pra ser

16 vendas mas o chefe dei­xou pra somente quatro.

Marcos Aurélio da Sil­

va, trabalha há três anos na

CPF e hoje é o representan­te da região sul. Marcos Au­rélio disse que o "treina­mento intensivo" não é maisusado e o gerente que o teriaaplicado foi despedido, pornão fazer a contratação demaneira correta. Ele alegaque vender faz parte do es­

tágio porque é uma empresade vendas. Segundo ele,aquele que completar 100

pontos em 30 dias e tiver ca­

pacidade e desenvolvimento

para realizar o trabalho é

que vai passar para o serviçode escritório. Apesar de de­fender a idoneidade da em­

presa, Marcos é avesso à fo­

tografia. Ele não deixou ser

fotografado pois estaria

comprometendo Florianó­

polis e que o escritório esta-:

'va desarrumado e sem cor-

tinas.

O/sele Losso

Emenda reduz número de deputados,

O deputado estadual LuizCunha, quinto suplente do

PMDB, deve ser substituído já em

fevereiro do ano que vem, mas an­tes pretende incluir na revisãoconstitucional mais um daqueles

, projetos mirabolantes, de ocasião,com pretensões de resolver os pro­blemas do país num golpe só. Aemenda que o deputado de Brus­

que quer tornar lei prevê a extin-

ção dos cargos de vice-presidente,vice-governador e vice-prefeito,além de reduzir pela metade as

cadeiras do Congresso Nacional eAssembléias Legíslativas, A idéiaé acabar com 29.331 cargos e con­

seguir para o país uma economiamensal de US$ 7 milhões em salá­rios, É pouco, Só o esquema PCde corrupção movimentou cerca

de US$ 1 bilhão em dois anos.

O deputado e sua assessoriafizeram um levantamento de car­

gos e salário do poder público do

país. Segundo o estudo, existemno Brasil 47.000 vereadores (salá­rio medio de US$ 150, ou dois mí­

nimos), 1.040 deputados estaduais(salário médio de US$ 2.500), 503deputados federais (US$ 3.500),81 senadores (US$ 4.000), 4.973vice-prefeitos (US$ 225) e 27 vice­governadores (US$ 3.000). EmSanta Catarina, são 2.610 verea­

dores, 40 deputados estaduais, 16federais, 260 vice-prefeitos e 3 se­

nadores. A economia para o esta­

do seria de US$ 341.475. É poucopara justificar tamanha concentra­ção do poder político,

O chefe de gabinete do depu­tado, Sérgio Bodemmullir, garan­te que os salários serão o menor

valor da redução de custos, Alémdas ajudas de custo, como auxílio­moradia e automóveis, calcula-seque há 20 ou 30 funcionários paracada deputado. "Nem as campa­nhas eleitorais saem do bolso de­

les", disse. O deputado não falou

porque estava viajando, em dia de

expediente normal.Excluindo-se os vices, os

substitutos dos presidentes, gover­nadores e prefeitos, os previstosna legislação atual. Quer dizer,quando o presidente Collor dei­xou o posto, caso já vigorasse o

sistema, o presidente do Brasil se­ria o deputado Inocênio de Oli­veira (PFL-PE), acusado de usar

recursos do Dnocs para perfuraraçúdes em suas fazendas.

Estado menor - Quanto à efi­ciência desse Estado reduzido,Bodemmullir garante, com frágeisargumentos que será igualoumaior ao atual. "O governo Collorcolocou em disponibilidade 9.000funcionários públicos e o serviçonão parou, pelo contrário, ficoumais eficente". A tese é de queum Estado menor será mais facil­mente fiscalizado pelos eleitores,Dos 40 deputados da Assembléia

Legislativa de Santa Catarina, ele,afirma que "não se conhece dez."

Difícil é conhecer o "meio se­

nador" com que Santa Catarinaficaria. Pelos cálculos rigidamentematemáticos do deputado, o esta­

do, ao invés de 3, teria 1,5 sena­

dor. Mas, segundo o chefe de gabi­nete, a sugestão da representati­vidade tem que ser revista. Comoo estado tem cerca de dois milhõesde eleitores, deveria haver dois se­

nadores. "um para cada milhão".A proposta vai ser encami­

nhada à revisão pela União Parla­mentar Interestadual (UDI), quecongrega os 1.040 deputados esta­duais do país. A idéia de uma

emenda popular � descartada

porque exigiria 1 milhão de assina­turas.

O projeto se expõe ao ridí­culo dentro do próprio PMDB. Odeputado Noemi Cruz classificoua proposta de "demagógica". Se­gundo ele, o deputado Cunha pro­pôs a emenda sem consultar a ban­cada do partido, só para aparecer.

4 " ',".' "" '

,' ,ZERO ,'. . . '93 • DEZEMBRO

Luiz Cunlro (PMDB):proposto "demogógico"

"Ele é o quinto suplente dOiPMDB e quer acabar com os de­

putados", disse Cruz.Para o deputado Andrônico

Pereira Filho, também do PMDB,a proposta é superficial. "Isso tem

que ser analisado profundamente,cientificamente, por instituições".Afirma que, pelo fato da popu­lação brasileira estar "sensível"aos recentes escândalos de corrup­ção, certos parlamentares se apro­veitam para fazer "projetos eleito­reiros" .

Alexandre Wlnck

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 5: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Políticos de se dirigemmaiores partidos emmomento dramático

DEZEMBRO· 93 ZERO .- ".: 5

Catarinenseslideram PPR,PFLePMDB

Pela primeira vez na histó­ria política de Santa Cata­

rina, o estado tem três ca­

tarinenses, ao mesmo tempo,na liderança dos principais par­tidos do país. Jorge Bornhau­

.

sen comanda o Partido da Fren-te Liberal (PFL), EsperidiãoAmin encabeça o Partido Pro­

gressista Reformador (PPR) e

Luiz Henrique da Silveira lide­

ra o PMDB. Juntos, seus parti­dos representam a maioria do

Congresso Nacional. Seria isto

motivo de orgulho? Dificilmen­te. Na atual situação do país,o PMDB cada dia mais se afogano "mar de lama" da CPI; oPPR está abalado com o "es­

cândalo Pau-Brasil" e o "caso

João Alves"; e o PFL, por suavez, tenta se esquivar antecipa­damente de possíveis acusa­

'ções.O PPR atualmente passa

por maus momentos. A empre­sa Pau Brasil, de João Carlos

Martins, principal assessor doprefeito Paulo Maluf, teria fun­cionado como caixa 2 na cam­

panha de Maluf à prefeitura de

São Paulo. No início deste mês,ao depor à Procuradoria da Re­

pública, Martins disse que foi

o engenheiro Flávio Màluí, .fi­lho do prefeito, que solicitou à

Pau-Brasil o depósito de 2 mi­lhões de dólares para pagamen­to de dívidas da campanha de

1990. Mas Flávio nega qualquerligação com a Pau Brasil.

O deputado Gervásio Ma­

ciel, líder do partido em Santa

Catarina, alega que "Maluf éo homem' mais investigado do

país, porém é um político ho­

nesto e correto". Maciel defen­de Maluf, porque sabe que o

futuro do prefeito de São Pauloestá intimamente ligado ao do

presidente nacional do PPR, se­nador Esperidião Amin, Amininiciou sua vida pública em 1975como prefeito de Florianópolis,nomeado pela ditadura militar.Foi deputado pela Arena em

1978, e, mais tarde, em 1983,eleito governador de Santa Ca­tarina. Ganhou notoriedadenacional com a publicidade em

torno das enchentes de 1983 e

1984 que arrasaram o Vale do

Itajaí. Eleito senador em 1990,Amin votou a favor do im­

peachment do ex-presidenteFernando Collor. Com isto, seuprestígio em todo o país e den­

tro do partido, cresceu ainda

mais.Fugindo - Amim não parecese importar muito com as de­núncias contra Maluf. Ao invés

de tentar esclarecê-las, batalhapara abrir uma CPI contra as

possíveis irregularidades na re­

lação entre CUT e PT. Segundoo senador, "a CUT opera com

caixa 2 e caberá à CPI mostrarcomo este dinheiro é repassadoao PT".

Noutra fogueira meteu-se

.-.--.oK&ol'. Henriqueé um Iider

Incompetente ':Pedro Simon

o deputado Luiz Henrique daSilveira ao assumir a presidên­cia do PMDB no dia 13 de se­

tembro deste ano. Concorren­

do com o senador Pedro Simon

(RS), Luiz Henrique foi vence­dor em chapa única depois dadesistência do adversário. Aunidade partidária desandousemanas depois que Simon de­clarou: "Luiz Henrique é um

líder incompetente".Há quase três meses na

presidência do PMDB, LuizHenrique vê o maior partido do

país na iminência de partir-seem cacos. Parte de seus parla­mentares está envolvida no es­

cândalo da CPI do Orçamento,inclusive uma de suas pilastras,o deputado Ibsen Pinheiro.Diante da situação, o partidoperde a credibilidade e a con­

fiança do povo. O SecretárioGeral do PMDB em Santa Ca-

tarina, Herneus de Nabal, pro­cura justificar a atual situaçãodo partido, relembrando uma

frase de Ulysses Guirnaraês:

"quantomais você bate e derru-I

ba, parece que o partido mais

cresce". Para ele, o PMDB tem

tido uma capacidade muito

grande de sair dos momentos

difíceis.Liderança - Esta situação po-rém, poderá comprometer os

projetos do partido para as elei­

ções de 1994. Com Orestes

Quércia sob eterna suspeita, omais provável candidato às elei­

ções presidenciais é o ex-Minis­

tro da Previdência, AntônioBrito. Segundo Nabal, "Britoé um homem que está colocan­do as pessoas que praticam ilici­

tudes na cadeia, sem espalha­fato". Para Herneus, o fato de

Luiz Henrique ser um líder ca­

tarinense, "faz com que o esta­

do tenha uma expressão maior

na federação, mas sobretudo o

papel importante que ele vem

desenvolvendo para o Congres­so e a democracia".

No meio da confusão polí­tica nacional, o PFL foi pinçara experiente figura de JorgeBornhausen para articular as

novas alianças do partido. Ve­lha

raPOSadapolítica de basti­

dores, o p esidente nacional do

PFL sem e esteve próximo ao

poder. Ingressou na carreira

através do pai Irineu Bornhau­

sen, que foi governador do esta­do. Depois, fundou a Arena em

1966 e governador do estado,eleito indiretamente pela As­

sembléia Legislativa em 1979.Senador em 1982; Ministro da .

Educação em 1987 no Governo

Sarney e finalmente Secretáriode Governo na gestão do ex­

presidente Fernando Collor.

O deputado estadual e lí­

der do partido em SC, JúlioGarcia, afirma que "Jorge não

se corrompeu durante o perío­do Collor, e a população de

Santa Catarina se orgulha e

sempre se orgulhará do grandelíder que ele é".

Apesar de todas as sujeirasque envolvem os três grandespartidos, é importante ressaltar

que, por enquanto, seus líderesnão estão envolvidos em escân­dalo algum. Os eleitores catari­nenses agradecem.

Carolina GuidiAna Paula Barreto

fsperidião Amin querabrir uma (PI parainvestigar a (UT

(

)

Luiz Henrique presideo PMOB, partidode Orestes Quércill

O ex-ministro de Collor,Jorge Bornhausen,

é presidente do PFL

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 6: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Governomanipula orçamento noeleitoralmEsquema é deixar CR$ 29,6bilhões na conta "outrasdespesas" sem listar os gastos

que houve conivência da bancada daUnião por Santa Catarina com o gover­nador para o não detalhamento do pro­jeto. Ele reclama que o governo não

responde aos pedidos de informaçõessobre o projeto de lei orçamentária.Até mesmo o campeão de entrega de

emendas, o superdeputado AdilsonVentura (PFL) se queixou da demorano envio dos anexos que detalham a

proposta do executivo. "Creio que issoé proposital, pois os secretários (de Es­

tado) não devem gostar muito de mu­

danças no orçamento", sentenciou.Santin lamentou que "a sociedade nãotem a possibilidade de debater e discu­tir o orçamento". E reclamou que a

oposição ainda não tem a visão de apre­sentar emendas globais para todo o Es­tado.

A esmagadora maioria das 1.400emendas é restrita a municípios e re­

giões que formam as bases eleitoraisdos deputados. Algumas, e não são

poucas, nem chegam a atender a um

município inteiro, tamanha a sua restri­

ção. Outras não atendem aos requisitosbásicos para que a emenda seja aceita.

Mas o deputado Reno Caramoriadmitiu que vai acatar as emendas elei­toreiras (o conceito é dele). Ele expli­cou que aquelas que não fOT possívelacatar como emendas serão transfor­madas em "indicações". Essa manobraé para não contrariar os interesses dos

deputados, que utilizam as indicaçõesirregulares nas campanhas para divul­

garem suas atividades parlamentares.As indicações rião têm valor legal ne­nhum.

mento das despesas já está pronto, e

só não foi enviado junto com a propostade orçamento "porque os deputadosnão inam entender aqueles números" .

Do que se deduz �ue a imagem dos

deputados na secretaria de Planeja­mento não anda muito boa. Sacramen­to informou que o detalhamento das

despesas só será publicado depois da

aprovação do orçamento para 94.Parece que a teoria do diretor da

secretaria de Planejamento não está detodo errada. O própio relator do pro­jeto de lei orçamentária, Reno Cara­

mori, não está bem informado sobrea matéria. Ele não soube (ou não quis)explicar o que significam os 30% de"outras despesas correntes".

A má distribuição de verbas de

subvenções sociais é outro ponto quepode permitir a manipulação das ver­

bas orçamentárias. É no mínimo estra­

nho o fato de o projeto de orçamentodestinar CR$ 20 milhões em verbas de

subvenções para o gabinete do gover­nador e outros CR$ 17 milhões paraa Assembléia Legislativa. A assessora

do PT, Marlene Rocha, reclama que."esse dinheiro será utilizado para fazer

politicagem" .

Mas o diretor de orçamentação,Aylton Sacramento, alega que a libera­

ção de recursos para entidades privadasdevem ter a autorização do governa­dor. É por isso que o gabinete recebeua polpuda dotação de CR$ 20 milhões.O deputado Santin está apresentandoemendas globais retirando dinheiro de

subvenções para colocar em áreas queo partido considera prioritárias, comosaúde, moradia, agricultura e micro­

empresa.O governo conseguiu desagradar

a todos na apresentação do projeto de

orçamento. O deputado Santin disse

--------

o próximo ano, o governadorVilson Kleinübing vai dizer nãoao plano SIM (Saúde, Instru-

ção e Moradia), documento que ven­

deu durante a campanha eleitoral comofuturo plano de governo. É que a pro­posta de orçamento para 1994, de auto­ria do executivo, não prioriza nem saú­de nem instrução, muito menos mora­

dia. Talvez por ser um ano eleitoral,o governo carrega de recursos o progra­ma de construção e recuperação de ro­

dovias. O valor destinado às estradasé maior do que a soma dos programasde saúde e educação. As subvençõessociais, que na CPI do orçamento são

o foco de estímulo ao clientelismo, tam­bém recheiam o orçamento estadual

paTa o ano que vem. A votação da peçaestá prevista para meados deste mês,mas pode ser prejudicada pelo númeroelevado de emendas apresentadas pe­los deputados: exatas 1.400. A maioria,nitidamente eleitoreira.

I

A lista dos programas de investi­mento é o atestado de óbito do planoSIM, que previa a destinação de 1%da renda líquida do Estado para a cons­

trução e recuperação de rodovias. Maso orçamento do ano que vem destina4% da renda líquida para esse fim. O

percentual equivale a 25% de todo o

investimento do Estado para 94. Em

contrapartida, as áreas de saúde e edu­

cação ficaram com apenas 18,7% dos

investimentos, o que corresponde a

minguados 3% de toda a receita líquida

disponível. "Esse tipo de decisão é polí­tica", confessou um assessor da Secre­taria da Fazenda.

O diretor de orçamentação da Se­cretaria do Planejamento e Fazenda,Aylton Sacramento, informou que este

ano o governo já está trabalhando com

8% da despesa líquida destinados a

obras em estradas. A porcentagem ex­

trapola o previsto no orçamento. A

conseqüência imediata é que outros

programas vêm sendo sacrificados como repasse de recursos para a construçãode rodovias, muitas delas vinculadas a

esfera federal. O relator do projeto delei orçamentária, Reno Caramori(PPR) disse que o valor destinado a

obras rodoviárias "é pouco, muito pou­co". Caramori é dono da empresa Reu­nidas de Transportes, uma das maioresdo Estado no setor, e foi o deputadomais votado na última eleição com qua­se 30 mil votos. No seu gabinete, ele

expõe com orgulho um retrato no qualaparece ao lado de uma máquina re­

troescavadeira, pilotada pelo governa­dor Vilson Kleinübing.

Enquanto as verbas sobram na

área de transportes, faltam na educa­

ção. A proposta orçamentária que estána Assembléia se limita a investir em

educação o mínimo que exige a Consti­

tuição Federal, ou seja, 25% da receitaresultante de impostos (ficam excluídasas taxas e outras contribuições cobra­das pelo Estado).

A polêmica está em quais itens po-

dem ser incluídos para efeito de cálculodesses 25%. O governo contabiliza os

gastos com repasses de verbas para a

Escola de Polícia Militar, FundaçãoCatarinense de Ensino Especial e àUniversidade para o Desenvolvimentodo Estado (Udesc). O deputado VilsonSantin, líder da bancada do PT, não

concorda com isso. Ele acha que o go­verno deve investir os 25% exclusiva­mente na rede estadual de ensino fun-

que os deputados vão assinar para o

governador, no valor de 29 bilhões e

600 milhões de cruzeiros reais. Esse va­lor representa praticamente 30% de to­da a despesa prevista para 1994. O pro­jeto do executivo não detalha onde se­

rão gastos estes bilhões, o que podepermitir a manipulação de quase um

terço de todo o orçamento.Em defesa do governo está Aylton

Sacramento. Ele explica que o detalha-

damental. Pelos cálculos do PT, con­tando com o pagamento dos funcioná­rios aposentados, o investimento em

educação deve ficar em torno de 23%da receita oriunda da arrecadação de

impostos.Há ainda outros fatores que carac­

terizam o orçamento como uma peçapolítica. O item "outras despesas cor­

rentes" é uma vala comum contábil quepode se tomar um cheque em branco

Venturll, O cllmpeão: 512 emendlls e lIindll queria mllis 100Reportagem e Textosaula Henrique Sousa

Paulo de Tarso Deputados abusam de projetosDas 1400 emendas apresentadas ao

projeto de orçamento do governo, o

deputado Adilson Paes Ventura (PFL)Q'" é responsável por 36,57% desse total.� Ele entregou ao relator da proposta de

ii;! orçamento, Reno Caramori, 512 emen­

§ das. Segundo Ventura, outras 100 pro­postas de sua autoria ficaram de fora,por não estarem prontas dentro do prazode entrega. As propostas de AdilsonVentura beneficiam principalmente as

cidades da região serrana, base eleitoraldo deputado lageano. No total, 1294emendas foram propostas individuais, oque caracteriza a fragilidade dos partidospolíticos. .

Algumas das emendas ao projeto de

orçamento são, no mínimo, curiosas.Adilson Ventura apresentou duas quebeneficiam a Associação de Moradoresdo Kobrasol e a Associação ComunitáriaCerritense. O deputado também apre­sentou emendas para a construção de 15

ginásios de esportes, e aquisição de câ­maras frias para os agricultores de 16cidades do Planalto. O deputado JoséPedrozo (PPR), propôs a pavimentaçãodo acesso à Cooperativa AgropecuáriaCamponovense Ltda. O festival deemendas eleitorais segue com o depu­tado Noemi Cruz. Ele quer que o Estado

compre tratores com pneus e implemen­tos para os municípios de Luís Alves e

Ilhota.A primeira emenda a ser enviada

à Comissão de Finanças foi a do depu-

tado Wilson Wandall. Foi apresentadano primeiro dia do prazo para entregadas propostas, 16 de novembro, e pedeverbas para a construção da sede do Cír­culo Trentino, de Nova Trento. Wandallafirma que o Círculo é uma entidade cul­

tural, que preserva a tradição dos imi­

grantes que vieram de Trento, na Itália.O prazo para apresentação dos projetosencerrou no dia 30 de novembro, às setee meia da noite. Até as quatro da tarde,o deputado Reno Cararnori , recebera

apenas 260 emendas, e esperava maisumas 800 até o final do dia. Recebeumais 1100.

As propostas para a alteração do

orçamento deveriam ser enviadas à Co­missão de Finanças e Tributação obede­cendo a alguns critérios. O principal de­les era observar de onde o dinheiro paraa obra requerida seria deduzido. Mas al­

guns deputados pareceram não entenderas regras do jogo. O deputado Gelson

Sorgato (PMDB) enviou 63 emendas,das quais apenas uma apresentava a de­

dução de verbas para realização da obra.Além das individuais, foram entre­

gues 41 emendas coletivas e 65 de banca­das diversas. O PFL foi o partido quemais apresentou projetos: 707. O PMDB

apresentou 353, o PDT 88, o PPR 75e o PSDB (representado pelo deputadoMarcelo Rego) 71. Dos quarenta depu­tados que formam a Assembléia, 21 en­

viaram propostas para emendar o orça­mento do Estado para 1994.

Io r Illtor (IIrllmnor; aceitou

mendlls e/eitoreiras pDr"nao contrariar os deputados

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 7: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Sete anões são manchete desde 91A divulgação do esquema

de corrupção na Co­missão do Orçamento,

feita de maneira bombástica nodia 20 de outubro, não sur­

preendeu sequer uma mosca

nos palácios de Brasília, quan­to mais deputados e jornalis­tas. Já em 1991, informaçõessobre a manipulação de verbasorçamentárias circulavam nos

corredores do Congresso e va­

zavam escandalosamente paraa Imprensa. Há exatamentedois anos, uma série de repor-.tagens feitas nos grandes jor­nais do país denunciou as irre­gularidades na Comissão. Masa atuação dos periódicos na

época revelou-se puro fogo depalha: em quatro meses o as­

sunto perdeu espaço nos jor­nais e acabou inexplicavelmen­te esquecido, apesar das pro­vas, evidências e acusações le­vantadas.

Em agosto de 1991 o paísestá envolvido num mar de de­núncias nunca visto. Entre a

posse de Collor e o dia 11 desetembro, o número de acusa­

ções de corrupção levantadaspelos quatro maiores jornaisbrasileiros chega a 230, ou se­

ja, um caso a cada 60 horas,Neste mês, sete CPIs encarre­

gadas de apurar denúncias deirregularidades na manipula­ção do dinheiro público se de­senvolvem no Congresso, en­

quanto outras três aguardam a

vez de serem formadas. O Bra­sil se prepara para as eleições'municipais de 1992 e os donosdo orçamento apostam alto nos

pequenos redutos eleitorais e

na compra de apoio político.Esquema - "Já fui pro­

curado por 27 prefeitos denun­ciando intermediação de ver­

bas" acusa o senador RonanTito, do PMDB mineiro, nas

páginas da revista Veja. As de­núncias surgem de todos os lu­gares. Em 19 de setembro o

dono da construtora Móduloem São Paulo, Antônio CastroPaixão, apresenta num dossegmentos do programa do PT,durante o horário político gra-

'

tuito, papéis que comprovamo favorecimento de determina­das empreiteiras nas concor­

rências para construção deobras públicas. Da mesma for­ma, o prefeito de Luis Antô­nio, cidade com cinco mil habi­tantes na região de RibeirãoPreto, esclarece à Veja o es­

'quema de recebimento de ver­bas do governo federal: "Te­mos que assinar uma nota fria,ainda na capital federal, no va­

lor equivalente do que vamos

receber. Sem isso o dinheironão sai".

Um grupo de deputados:conhecidos como "os seteanões" ou "Exército Branca deNeve" figura nas manchetesdos jornais e é famoso, não sópela pequena estatura, mas pe­la grande influência que exercena Comissão do Orçamento.Em 12 de agosto o Jornal "O,

bre a destituição do relator. ARicardo Fiúza fica a incumbên­cia de "adoecer" Alves, ou en­

contrar outra forma de afastá­lo da Comissão. O desgaste po­lítico causado pelo relator éimenso, mas o deputado pro­mete "afundar atirando". O

S d f' 2assunto consome mais 15 dias

egun a- eira, 8 de outubro d!!,J�1 de tensão em Brasília e terminacom a nomeação de RicardoFiúza para o cargo.

Os favorecimentos conti­nuam e um mês depois a Co­missão de Orçamento já é denovo o assunto mais comenta­do no Congresso e nos jornais.Passadas 24 horas da sessão

que cassou o deputado JabesRabelo, de Rondônia, algunsparlamentares começam a cir­cular pela Câmara articulandoa derrubada de colegas sobreos quais pairam denúncias deirregularidades. O deputadoJacques VVagner percorre os

gabinetes com uma lista de as­

sinaturas pedindo a instalaçãode uma CPI para investigar otráfico de influências e a utili­zação de verbas federais na Co­missão do Orçamento. O de­putado José Dirceu (PT-SP)vai ainda mais longe: encami­nha ao Tribunal Superior Elei­toral um pedido de cassação domandato de João Alves, porcrime eleitoral na interrnedia­ção de verbas em troca deapoio político no município deSerra Dourada.

Implosão - Em cinco dedezembro, um requerimentoassinado por 65 deputados é

entregue à Corregedoria daCâmara, pedindo a apuraçãodas irregularidades na Comis­são. Alguns anões chegam a se

assustar. "A Câmara precisadeixar de ser delegacia de polí­cia. Vamos comer-nos uns aos

outros, não dá" defense-se o

deputado Ubiratan Aguiar(PMDB-CE) um dos sete inte­grantes da Comissão do Orça­mento. Entretanto, não há mo­tivos para pânico. O deputadoIbsen Pinheiro, então presi­dente da Câmara, não mexe

um dedo para iniciar qualquerinvestigação, apesar do assun­

to ainda estar estampado nas

capas dos jornais.Domínio de parlamenta­

res, imprensa e opinião púbi­co, o debate sobre a corruçãono Orçamento não vai muitomais longe. Já em dezembro,nenhuma denúncia de pesoveicula nos grandes jornais.Em 20 de outubro de 93 o es­

quema implode com as revela­ções do economista José Car­los dos Santos, e a ComissãoParlamentar de Inquérito é fi­nalmente formada. Mas a notí­cia que chega às ruas já nãoé novidade: há muito passeavapelas bocas dos parlamentaresda Câmara e do Congresso,amparada no silêncio cúmplicede políticos e no pouco caso

da imprensa. Até as moscas sa­

biam.

Denúncias de O Globo e Veja não foramadiante por falta de vontade política.

Congresso foi conivente com corrupção3l0BO

Globo", denuncia o favoreci­mento nas verbas orçamentá­rias. A Bahia, terra do depu­tado João Alves e do líder doPMDB na Câmara, GenebaldoCorreia, surge como - Estadocom mais recursos "carimba­dos" pelo governo federal, ga­rantindo 52 bilhões e 865 mi­lhões, cerca de 30% do totalde recursos. O mesmo ocorre

com vários municípios de baseeleitoral de deputados ligadosà Comissão.

Serra Dourada - Os fa- I

tos deixam transparente o en­

volvimento dos anões no des­vio de verbas do Orçamento,principalmente no casodo re­

lator João Alves, No dia 14 deoutubro, o jornal "O Globo"acusa a existência de recibosassinados por vereadores do I

município baiano de Serra,'Dourada, que confirmam terrecebido dinheiro em troca deapoio político a Alves (o jornal'chegou a publicar o recibo), eo favorecimento do relator àscidades onde tem base eleito­ral. O jornal é enfático: para

o Globo jó indicllvfI, hódois IInos, O dep.ullldo JoioAlves como um dos membros

dfl mólill do or!IImenio

Serra Dourada, com popula­ção de 17 mil habitantes, Alvesgarantiu verbas de 6,1 bilhões,mais do que receberam capitaisdo porte de Rio e São Paulo.

As irregularidades explíci­tas na manipulação das verbasdo Orçamento fornecem moti­vos suficientes para criação deuma CPI (Comissão Parlamen­tar de Inquérito) já em 1991.Investigações chegam a ser so­

licitadas. No dia 22 de outubro,o PT pede à Mesa diretora daCâmara que acione a Procura­doria Parlamentar para punirJoão Alves, O líder do partido,deput�do José Genoíno, es­

perneta, gritando que é "in­concebível apenas destituir o

relator sem investigar as de­núncias de manipulação deverbas do Orçamento e com­

pra de apoio político feitas con­tra ele."

Escolta - A verdade éque, em 1991, o chefe do exér­cito de anões está envolvido in­clusive em acusações de subor­no aos profissionais da impren­sa. "Não saio do cargo. É tudomentira contra mim. Aquelesf.d.p disseram que eu tinhaoferecido o carro "esbraveja­va, depois da revista Veja pu­blicar uma matéria dizendoque Alves havia oferecido doiscarros a repórteres, em trocade um parecer favorável sobresua atuação no Orçamento. Asituação do relator complica-seainda mais quando ameaça dar"um tiro na bunda" do Sena­dor Eduardo Suplicy, do PT,por estar movendo denúnciascontra ele. Suplicy passa a an­

dar escoltado por dois seguran­ças no Senado e a fama de JoãoAlves cresce.

Pressionados pelo PSDBe PT, o presidente da Câmara,deputado Ibsen Pinheiro e o

líder do PFL, deputado Ricar­do Fiúza, iniciam em outubrode 91, um processo de consul­tas ao partido para decidir so- Mônica Linhares

8 'u', ZERO '_ '" _, ','. ',,' .,-;:,,93 - DEZEMBRO

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 8: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Expulsos do paraísoBarracos ilegaissão derrubados naLagoinha do Leste

AdemirBento, o "Coto",

corre aflito pela trilha queleva à Lagoinha do Lese,

um recanto ainda preservado do

sul de Florianópolis. Pedreiro, 25anos, ele saía para trabalhar quan­do viu um carro da Polícia Flo­restal passar em direção ao início

da trilha. Eram oito da manhã e

Coto não teve dúvida: foi defen­der o seu barraquinho construídocom tanto sacrifício.

Durante a descida, Coto con­

tinua correndo e ainda encontra

fôlego para contar a sua história.Ele nasceu ali mesmo, numa casi­nha à beira da Lagoinha que jánão existe mais. Naquela épocanão havia essa tal de Lei de Prote­

ção Ambiental, mas mesmo assim

ninguém queria ficar naquele fimde mundo. Aos quatro anos, foi

morar com a família no Pântano

do Sul, perto do início da trilha.Aos sete, depois da morte do pai,virou pescador para ajudar a mãe.Coto diz que ela se preocupouquando o viu sair daquele jeito."Não vá se meter em confusão",pediu.

Depois de gastar apenas 28

minutos nos quatro quilômetrosda trilha - o normal é percorrê-laem quase uma hora -, Coto per­cebe que a Lagoiha está em paz.Havia corrido a notícia das demo­

lições nas praias da Solidão e do

Saquinho, e talvez a ação se esten­

desse aos doze barracos construí­

dos ilegalmente na Lagoinha do

Leste, Parque Municipal desde1987.

Aliviado, Coto vai até o seu

barraco conferir se está tudo bem.

No caminho, há um outro já de­

molido. "Esse foi a gente mesmo

que derrubou", esclarece. Na ten­

tativa de conseguir apoio nas ne­

gociações com a Prefeitura, os do­ze donos dos barracos criaram a

Fundação Ecológica Besouro Ver­de. Não queriam mais nenhum só­

cio, e o barraco que estava no chãoseria o décimo terceiro.

.

Cachaça de Pitanga - Coto

abre o seu barraco de madeira,que embora tenha fechadura nã?tem piso. Há rastros no chão. "E

de lagarto. É bom porque eles co­mem cobra". Lá dentro, em seismetros quadrados, uma tarrafa,material de pesca, um pequeno fo­

gão à lenha e uma cama impro­visada. Coto lava o rosto na águapura que vem da cachoeira, há tre­zentos metros dali. "Fiz ummonte

de viagem pra trazer a manguei-ra" .

Ele faz questão de mostrar

que a natureza ao seu redor conti­nua intocada. Coisa que não acon­

tece quando a Lagoinha recebe vi­

sitantes, tanto os que voltam no

mesmo dia como os que acam­

pam. Os membros do Besouro

Verde limpam semanalmente a

Lagoinha do Leste e recolhem gar­rafas, plásticos e latas deixadas pe­los turistas.

Coto resolve visitar seu vizi-

nho Valtemir. Alguns dos barra­

cos da Lagoinha ficam isolados,exigindo em média uma caminha­da de cinco minutos até o mais

próximo. Na chegada, Coto fazuma brincadeira. "Derrubarammeu barraco". Valtemir custa a

acreditar, mas a cara tristonha do

amigo o convence. Coto sorri e

desmente. Valtemir respira fundoe abre a garraf de cachaça de pi­tanga, plantada por ele ao ladodos pés de maracujá, mamão, ber­gamota, ameixa e goiaba.

Almoço Adiado - Valtemir

Andretti, 39 anos, já teve o barra­

co derrubado duas vezes desde

que chegou à Lagoinha, há dez

anos. "Se colocassem fiscalização,eu aceitaria tranqüilamente. Masninguém cuida disso aqui além da

gente". Dono de uma revendedo­ra de material de escritório, estárelativamente bem de vida. Sem­

pre que consegue se livrar do tra­

balho, enfrenta a trilha. Ultima­

mente, sempre sozinho. "Minhamulher e meus dois filhos queremuma outra praia, com acesso mms

fácii. Eu só continuo com esse bar­

raco porque adoro isso aqui".Valtemir oferece um chá que

mistura espinheira santa e boldo,plantados por ele próprio. "É bom

pro corpo todo", explica. Com a

chegada de Jandir Lobo, 48 anos,"decorador de ambientes internos

especializado em papel de pare­de", a conversa corre solta. Fala-

Marco Cezar (O Estado),

vez corendo em direção ao seu

barraco, na "zona sul".

Os vinte homens da Prefei:tura, vestidos com calças e bonés

laranjas e camisetas brancas, ti­nham a proteção de sete guardasflorestais e a liderança da ex-ve­

readora e atual Assessora de MeioAmbiente da Prefeitura, Jalila El

Achkar (PV). O grupo esperou na

Delegacia do Pântano do Sul porquase duas horas além do original­mente combinado para o início da

caminhada, sete e meia da manhã.

Mar revolto - "Um negóciodesse, que estorva?", se pergun-

se das cobras que já aparecerampor ali, dos gringos perdidos quepassaram a noite nos barracos e

dos luais naquelas areias brancas.Sobre a lenda das bruxas nas noi­tes de lua cheia, eles não sabem

nada, nunca viram. Discos-voado­res também não.

As quatro tainhotas do almo­

ço começavam a ser descamadas

quando "seu" Valdir e "Pão-de­

queijo" trouxeram a notícia. "Tãoderrubando os barracos". Eram

quase dez horas. Depois de um

momento de quase desespero, Co-I to corre até a beira da praia e vêlá longe os homens da Prefeitura."Eles começaram pela "zona nor­

te", diz, antes de sair mais uma

Tihúrcio recolhe liS

gllm.llls deixlld"s nil

prllill pelos turistlls

tava um dos homens da Prefeitura,constrangido em derrubar o pri­meiro barraco. Aos poucos, o ba­rulho das tábuas indo de encontro

.ao chão foi ecoando por toda a

Lagoinha. Era quinta-feira, 2 dedezembro, e não havia nenhumturista na areia. O dia estava nu­

blado e o mar revolto.O grupo da Prefeitura se divi­

diu em três. Um deles começoua derrubar a casa dopadeiro Antô-

nio Alves, o "Pão-de-queijo". Aconstrução, com 40 metros qua­drados, era uma das maiores. Pão­

de-queijo trouxe todos os móveis

para fora e assistiu à demoliçãodeitado em sua própria cama. "E

melhor que arquibancada", diver­tia-se.

Quem não estava para brin­cadeira era Valtemir. Enquantoacompanhava a demolição da casa

de Pão-de-queijo, ao lado da sua,ele procurava argumentos paraprovar que estava ali desde 1983,muito antes da criação do ParqueAmbiental, Mas não houve como

evitar. Valtemir chorou.

Documento ilegal- A casa

de Claumeides Caramori, justa­mente o último a chegar na Lagoi­nha, ficou intacta. Caramori,membro de uma família politica­mente influente em Santa Cata­

rina, mantém como caseiro um ca­

sal com dois filhos - e esperandoo terceiro. Os fiscais da Prefeituradisseram que a presença da mu­

lher grávida impediu a demolição.O caseiro de Caramori, Aris­

tides Raulino, sabia que não iriaficar. sem teto. Ele havia falado

por telefone com o patrão no diaanterior e foi tranqüilizado. Cara­mori tinha um certificado de pos­se, emitido pelo Tabelião LuizCarlos Santiago, do Cartório San­

tiago, em 13 de setembro desteano. O documento é ilegal, já quenão poderia ser fornecido para ter­renos localizados em áreas de pro­teção ambientai. Além disso, elediz que a casa foi construída hácinco anos, quando na verdadenão tem seis meses.

I Por decisão da Prefeitura,apenas dois outros barracos fica­ram em pé: o do ex-pintor de pare­'des e atual pescador TibúrcioDuarte, 41 anos, um out-sider quese instalou na Lagoinha há dozeanos, e o do "seu" Valdir Stein­metz, 60 anos, um militar aposen­tado que chegou pouco depois."Seu Valdir" e Tibúrcio vão traba­lhar como fiscais da Prefeitura, emtroca da permissão para continua­rem morando na Lagoinha.

Pão-de-queijo viu"dll IIrquibllnclldll."

seu barraco caIr

DEZEMBRO - 93'.

.

-

. ZERO ..-

� .

.

.

. ",91

Deus é grande - Tibúrcio é o

que pode se chamar de figurinharara. Em 1981 ele morava com os

pais no Rio Tavares quando foi

atropelado ao andar de bicicleta.Com um grave ferimento na per­na, resolveu abrir mão da medi­cina e resolveu fazer fisioterapiano sobe-e-desce da trilha da La­

goinha. Ficou bom, se encontrou

com Deus e nunca mais voltou.No começo, Tibúrcio ficava

até dois meses sem ver ninguém.Hoje a Lagoinha é bem mais mo­

vimentada. Ele tem um pastor ale­mão de oito anos chamado "Cão",trazido recém-nascido para a La­

goinha. "O sobrenome é "Paraí­

so", porque é nele que a gentevive". Desacostumado com a vidana civilização, Tibúrcio acha quenão sobreviveria "lá fora". "Setentarem me tirar da Lagoinha, eume mato e me enterro aqui mes­mo", diz. "É aqui que está a mi­nha saúde e a minha paz".

Ele desce ao Pântano do Sula cada quinze dias, mas faz maisde quatro meses que não vai nocentro da cidade. Não tem namo­

rada porque "ainda não pintou a

cara metade". Muito religioso,tem a parede do quarto divididaentre a imagem de Nossa Senhora

Aparecida e quatorze fotos, umado Papa e treze da Playboy. Ques­tionado sobre isso, ele apenas res­

ponde: "Deus é grande".No caminho de volta da casa

de Tibúrcio aparece Coto, corren­do como sempre. "Derrubarammeu barraco". Dessa vez não era

brincadeira. "Tá lá no chão, todoarrombado". Fecha um olho, en­torta a boca, faz uma careta quetenta imitar o estado do seu barra­co. Depois, achando aquilo tudomuito engraçado, abre um enor­

me sorriso de dignidade.

Maur(clo Oliveira

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 9: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

o dilema na

escolha daprofissãoChegadadovestibular traz dúvidasaos candidatos

Oano está terminando e o

vestibular de 1994, cadavez mais perto. Para al­

guns candidatos isso é motivo de

aflição, pois não têm certeza docurso que escolheram. Acontecetodos os anos; pressionados pelafamília, pela questão financeira oupela desinformação, muitos jo­vens acabam entrando na profis­são errada. A maioria só descobreo erro quando está dentro da uni­versidade. Só no ano passado, dos12138 alunos matriculados na

UFSC, 1650 desistiram ou aban­donaram a faculdade que cursa­

vam.

Eveline de Farias, 18 anos,é caloura do curso de CiênciasContábeis e ainda não sabe se feza escolha certa. "Decidi porquegostava de matemática", explica.A opção foi feita após se informarcom um primo, uma vizinha e um

professor formado na área. Ago­ra, reclama que a primeira fasenão é o que esperava, mas pre­tende dar mais um tempo paradescobrir se fez a escolha certa.

"Ainda sou nova e se não for o

que quero, faço outro curso".Errar na hora de escolher a

futura profissão não é privilégiodos inseguros. Às vezes, pessoas

Teatro políticovolta à cena compeça sobre Collor

Maisde um ano depois

do fim da Era_Collor,parece que nao resta

outra alternativa a não ser

lembrar daqueles dias com

humor. Enquanto a palavra"impeachment" ainda pare­cia loucura daqueles "fanáti­cos xiitas do PT", o Grupo"A" de teatro encenava, nasruas e bares de Florianópolis,a decadência da "Repúblicade Alagoas". Os textos, car­regados de.,.ironia e sarcasmo,estão reunidos no recém-lan­çado livro "Impeachment e

Papel Picado: o Público e o

Privado", do jornalista Da­niel Izidoro.

Na peça "Seja lá o queDeus quiser" - que tem o

que têm certeza do que querempodem ser levadas a outros cami­nhos por conta do acaso. A estu­dante da quarta fase de Matemá­tica Karin Cristina Siqueira, 19anos, quando se inscreveu para o

vestibular de 1992, optou por En­genharia de Automação com todaa segurança do mundo. Fascinadapelo fato de o curso ser novidadena UFSC, achou que fosse reali­zar-se na área. Mas os 67 pontosque conseguiu fazer, somados ànota oito da redação, não foramsuficientes para aprová-la. O jeitofoi experimentar um semestre deMatemática - sua segunda op­ção. Hoje, Karin não quer outracoisa: "Ainda bem que não passei,para Automação".

Existem também os que pas- .

sam quatro anos na universidadea acabam não trabalhando no ra­

mo que escolheram. Miguel Ar­canjo de Amorim, 47 anos, é um

exemplo. Com o diploma de Ciên-,

cias Contábeis nas mãos, conse­

guido em 1987, trabalhou algumtempo na área, mas acabou desis­tindo para montar uma empresade transportes. Hoje, dono de trêscaminhões, Miguel já contratamotoristas para o trabalho que fa­zia quando começou o negócio.

no colégio têm acesso a um ciclode palestras, durante os quatro bi­mestres de aula. Criado há doisanos, participam do ciclo pessoasda universidade e profissionais domercado.

Segundo Ronaldo, nas pales­tras a indecisão dos vestibulandosfica bem clara. Algumas precisamser repetidas até três vezes, princi­palménte quando o assunto são os

cursos da moda. Medicina, Odon­tologia, Direito e Jornalismo lide­ram os índices para o vestibularda Universidade Federal, fazendoa cabeça dos adolescentes que pro­curam o status dessas carreiras. Aaluna Luciana Melo do Geraçãoconseguiu escapar do modismo a

tempo. Sua intenção era cursar al­ga na área da saúde (Medicina a

Odonto), mas depois de assistir a

rendo grana vai pedir na es­

quina"."Anos Dourados" satiri­

za outro programa da Globo,a "Escolinha do ProfessorRaimundo". Collor e Pauli­nho, "santinhos" aos olhosda professora Dinda, são des­mascarados por uma nova

aluna, Cepeína, enquantooutros membros da "turma"continuam agindo: numa

conversa telefônica, Rosanee Rosinente (não, esses nãosão os verdadeiros nomes dadupla Chicotinho e Salto Al­to) comemoram mais uma

falcatrua. "Vau! Que ile­gall", diz Rosane, que não se

contém ao saber que haviaganho de PC uma fazenda:"Ai, como é bom ser primei­ra-dama: de um lado financioa champanha, de outro be­lisco a merenda".

A última peça é a quedá nome ao livro. Três fun­cionários públicos - dois de-

A estudDnte KarinSiqueira descobriu o

VOCO!ÕO por ocaso

algumas palestras, a garota aca­

bou fazendo duas opções bem dis­tantes disso - Administração na

UFSC e hotelaria na Univali.Informação ainda é a melhor

receita para uma escolha corretade profissão. Poucos podem con­

tar com a sorte da estudante Simo­ne Meurer, 21 anos. Ela decidiupela Computação na fila de inscri­ção para o vestibular. "Todo mun­

do dizia que eu tinha cara de advo­gada ou administradora, mas aca­

bei escolhendo a Computação",diz. A opção foi uma loteria: Si­mone ganhou o prêmio de teracertado no curso. A pouco maisde um semestre da formatura, elase considera satisfeita com a esco­

lha que fez.

Ana Paula Pinho

les conservadores e a outramilitante de esquerda - es­

quecem as diferenças ideoló­gicas e vão juntos à rua cantaro Hino Nacional no dia davotação na Câmara dos De­

putados. O livro traz aindadepoimentos - de um poeta,um sindicalista, uma profes­sora, uma "cara-pintada" e

do autor - que ajudam a

compreender todo o processode impeachment de Collor.

Se esse não tivesse sidoum momento tão histórico, aspeças do Grupo A estariamfatalmente condenadas pelotempo. Mas é bem possívelque daqui a vinte anos elasainda estejam sendo encena­

das, e muitos rirão das perso­nagens dessa história quasesurreal. Se lembrarem que a

Era Collor foi, na verdadetragicomédia, poderão cho­rar também.

Maurfelo Olilleira

República de Alagoas vira piadafinal escolhido pelo público,numa sátira ao programa"Você Decide", da TV Glo­bo -, os irmãos Pedrinho e

Narizinho brigam por uma

bola. Quem chega para com­

plicar ainda mais o conflitofamiliar? Ele mesmo: PCesi­nho, que proprõe a brincadei­ra da "ciranda financeira".

Mas o tempo é o senhorda razão, como diria um certo

ex-presidente. As criançascrescem e a história passa deMonteiro Lobato à Shakes- :peare. Como se fosse a cavei­ra de Hamlet, Pedrinho apa- I��"""

rece nos ombros dele pró­prio, adulto. Pedro e Pedri­nho conversam com o fantas­ma do avô, Lindolfo Collor,que diz estar "condenado a

vagar pelas noites frias, e du­rante o dia a arder nas cha­mas, até que sejam extintose purgados os crimes que em

vida cometi". Pedro comenta"Oh! Que horrível sina" e Pe­drinho completa: "Tá que-

Marlen Lingner Heidrich, 30anos, também mandou o diplomapara o espaço. Formada em En­fermangem pela UFSC, hoje tra­balha como professora de dançaem um colégio público de Floria­

nópolis. Assim, pode conciliarmelhor seus horários com os trêsfilhos e o marido Edson. "Foi umaopção de amor e prazer", disse.

Ajuda preciosa - Na horade escolher a carreira, qualquerajuda é bem vinda: um bate papocom alguém da área, leitura ou

até mesmo uma visita à univer­sidade em busca de informações.Alguns colégios de Florianópolisprocuram levar essas informaçõesdiretamente aos alunos, através depsicólogos e palestras. "A inten­ção é dar uma visão bem amplado que é cada curso", explica o

auxiliar de direção do colégio Ge­ração, Ronaldo Luiz Silveira. To­dos os 2500 alunos que fazem ter­

ceirão, extensivo e semi-extensivo

GRUpO A ApRESEN1A

IMPEACHMENT E PAPEL �CAOO:O �BU(O E O PRMW

t_l�DANIELM. IZlDORO

Grupo A mostro o

que houve de risívelno corrup!õo

10 ZERO 93 . DEZEMBROAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 10: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Franklin Dias viroucelebridade ao pousar para

um anúncio de cuecas

Demi Moore mantéma forma mesmo depoisdo segundo filho

Culto ao corpo lota as

academias de ginásticacom a chegada do verãoO verão está chegando e com

ele começa a se manifestar

em Florianópolis um fenô­

meno que se repete todos os anos nes­sa época: a superlotação das acade­mias de ginástica, centros de estética,consultórios de endocrinologistas e

spas. Com a grande procura por esses

serviços, os preços sobem muito, e

hoje a mensalidade de uma academiade ginástica chega a 42 mil cruzeiros

reais, 2,8 salários mínimos. Mesmo

assim as mulheres, público alvo desse

mercado, pagam o que for preciso pe­la ilusão de, em pouco tempo, conse­

guirem o corpo perfeito para desfila­rem nas praias da ilha.

"Durante o verão eu fico mais

magra, chego a perder até seis quilos,mas no inverno volta tudo". Casos

como esse, da estudante Katiane Sil­

veira, 19 anos, são os mais comuns.

Só que esse tipo de coisa pode virar

um vício: a pessoa emagrece e engor­da rapidamente e sofre o conhecidoefeito sanfona. "Aí além da obesi­

dade, a paciente agrava problemascomo celulite, estrias e flacidez", avi­sa o endocrinologista Osvino Klink.

O médico condena a atitude de suas

clientes - 90% mulheres - de se

preocuparem com o corpo e a saúde

só numa estação. "A minha clínicalota e elas querem milagres". Klinkafirma que no final do verão, boa par­te dos pacientes abandonam o trata­

mento e voltam a engordar no inver­

no. "O pior é que elas têm consciên­cia disso e repetem a praxe todos os

anos".

Regras rígidas - A busca por resul­tados imediatos fica clara em janeiro,quando 70% das pessoas que come­

çaram a fazer exercícios no fim doinverno abandonam as academias.

Segundo a professora de ginástica da

Academia Racer, Maria Eduarda

Bermudez, elas chegam ansiosas paraacabar com seus problemas rapida­mente. Desde quando se matriculam

elas recebem orientação quanto à im­

portância da saúde em prime fro lu­

gar, "mas a maioria não se importae acaba indo embora quando conse­

guem as primeiras mudanças". Já pa­ra a Academia Manfio, "esse tipo de

A vontadedese exibir napraia vale osacrifício dasmulheres

clientes não interressa "diz a proprie­tária Lenir Manfio que deixa isso ela­ro ao fixar em sua sala de espera todasas regras rígidas que devem ser rigo­rosamente cumpridas.

A dona-de-casa Iracema Pain

Langer, de 40 anos, matriculou-se re­

centemente na Manfio. Ela resolveu

procurar a academia depois de saberde um caso, divulgado nacionalmentede uma cliente que emagreceu 43 qui­los com dieta e exercícios. D. Iracema

pagou uma taxa de 35 mil cruzeirosreais para começar seu tratamento.

"Um pouco salgado", segundo ela,mas que se "der resultados, foi bemempregado". D. Iracema acredita

que, aos 40 anos, nem deve mais fazereconomia com esse tipo de coisa. "Jácuidei de filho, de marido, agora te­

nho que cuidar de mim, até que nãoacho caro".

Ana Maria Bicca, funcionária doBanco do Brasil, entrou na Corporeem setembro e paga 42 mil cruzeirosreais por mês. Para ela, "o pior nãoé o dinheiro, mas a sensação de ter

apanhado que a gente sai de lá". AnaMaria faz, além de fortes massagens,injeções de enzimas para combatera celulite, o que a deixa "toda roxa".Ela acha que as dores e os hematomasserão bem compensados se conseguirficar como quer.

Alternativas mais modernas e

menos sofridas para conseguir o vi­sual perfeito são as propostas pelaZilma Fusão. O centro de estética,que está com todos os seus horários

lotados, oferece eletroforese, fornode Bier e placas eletrõnicas. Processoque, infelizmente, não estão ao alcan­ce de todos. O liporredutor, carro­chefe do centro, por exemplo, custaà paciente 27 mil cruzeiros reais pormês. Acabar com a gordura locali­zada com aplicações de raios lasercusta mais 18 mil cruzeiros reais. Ostratamentos são de no mínimo 6 me-

, ses.

nação é de três dias, só que esse

tempo não é suficiente paraemagrecer o desejado. O clien­te fica, em média, 15 dias, o

que significa um gasto de 480mil cruzeiros reais. O Spa SeteIlhas, instalado junto ao HotelJurerê Internacional é mais ba­rato, 55 dólares a diária. Quempensa que não há quem pagueesses preços se engana. Todosos spas consultados pelo Zeroestavam lotados e só aceitavamreservas com 15 dias de antece­dência.

Localizados em lugares pa­radisíacos - em Caldas da Im­peratriz e de frente para o mar

de Jurerê - os dois spas têmtratamento 5 estrelas. Eles ofe­recem tratamento médico,exercícios físicos, piscinas, hi­dromassagem, massagens,acompanhamento de nutricio-

Opções baratas e perigosas sãoas dietas milagrosas. Elas podem atédar resultados, mas acabam trazendoainda mais problemas para o organis­mo. Só quem já tentou fazer regimesforçados como o da lua, dos líquidosou dos treze dias sabe o efeito queeles podem ter no dia-a-dia. Nos pri­meiros momentos, a tontura e a fra­

queza, depois a indisposição e o mau­

humor constante, e a longo prazo,doenças como anemia, bulimia e ano­

rexia nervosa, que tira o apetite dodoente.

Depressão e dependência -

Quando a dieta ou os exercícios jánão estão dando o efeito desejado,é comum a procura por remédios,chás e fórmulas mágicçs. Os anorexí­genos, remédios para êmagrecer. sãoos mais usados. Eles tiram a fomedos gordinhos, mas em troca deixama dependência, o stress e doenças docoração e no sistema nervoso. Além

disso, o obeso não pode deixar deusar os remédios, pois à medida queo tratamento para, os quilos voltam.

"Eles só podem ser vendidos sob

prescrição médica, mas a gente sem­

pre dá um jeitinho" afirma M.H.R.,professora primária do Estreito, 25anos. M.H.R. toma anorexígenos hátrês anos, e apesar de saber o quantoeles the fazem mal, confessa que não

consegue se libertar. Depois de ema­

grecer 11 quilos Maria Helena achou

que poderia parar e manter o pesopor conta própria. "Foi aí que eu per­cebi que não conseguiria, engordei3 quilos em um mês". A professora,que antes era "alegre e bem humo­rada" hoje depende dos medicamen­tos e faz análise, pois já teve váriascrises de depressão. "Eu não queroficar gorda, acho isso ainda pior".

Emagrecimento rápido é ilusãonistas e saunas. Seguindo ngi­das dietas, nesses lugares che­

ga-se a emagrecer de 4 a 6 qui­los por semana. Os hóspedessaem de lá prontos para mudar10 antigo ritmo de vida, só queI isso dificilmente acontece.

"Quando a gente chega emcasa, bem magrinha, pensa quetudo vai mudar, só que esse en­

I tusiasmo só dura algumas sema­nas", afirma a advogada An­dréa Shãffer, que se interna em

spas todos os anos para "con­sertar as besteiras que fez no

linverno". "A gente sabe os re­

ísultados que pode conseguir eacaba voltando, eu costumo atéreservar uma grana para poderemagrecer no fim do ano", con­fessa.

Suyanne Quevedo

DEZEMBRO - 93 ZERO 11

o: comerciais de televisãomostram o corpo que

qualquer mulher gostaria de

ter, mas as modelos que incen­tivam tantas telespectadoras a

procurarem os spas não conse­

guiram sua plástica impecávellá. Os slogans também são su­

gestivos: Muda de vida ou To­me uma atitude. A verdade é

que a internação em um spa po­de resolver, num curto prazo,

! os problemas de obesidade,mas seus resultados não são prasempre e quem se interna pelafebre de verão tende a voltara engordar assim que ele acaba.E pior, esse luxo pode custar

muito caro.

A diária de um spa como

o Caldas da Imperatriz, há 35Km de Florianópolis custa hoje135 dólares, 32 mil cruzeiros

I reais. O prazo mínimo de inter-

, ,

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 11: hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993dez004.pdf · CARTAS Tádemais omitindominhasexplicaçõessobreestas acusaçõescontraomeumarido.Mariano

Florianópolis, quinta­feira, 11 de novem­

bro. O público na

Festa do Mar esperava os

Titãs do Rock nacional.

Apesar de pequeno para o

show, o circo de lona e chãobatido montado pela prefei­tura, aguentava cinco mil

pessoas à espera dos sete

músicos que viriam para de­tonar toda fúria do rock, de­baixo de muito som pesado,os Titãs.

Os antigos fãs vestidoscom os tradicionais jeans e

camisetas vieram para ouviras músicas calmas que con­

sagraram a banda na décadade 80. Junto com eles, os

novos fãs com cabelos com­

pridos, camisas de bandasde rock pesado e calçasjeans rasgadas nos joelhos,vieram para ouvir "Será queé isso que eu necessite?" e

"Polícia", de preferênciatocada na velocidade que o

grupo mineiro Sepulturagravou no disco Chaos A.D ..

Mesmo com as diferen­

ças entre os dois públicos,todos cantavam os maioressucessos do grupo em frenteao palco, enquanto espera­vam a chegada dos ídolos.Isto durou pelo menos uma

hora. Depois a galera can­

sou de esperar e iniciou umasonora vaia. Gritos e latasde cerveja atiradas ao palcomostravam o cansaço do pú­blico que esperou até 23h15min quando, finalmente, asluzes se apagaram e os Titãs

apareceram.Para deleite dos novos

fãs, a banda abriu o showcom "Será que é isso queeu necessite?", música car­

ró-chefe do novo disco Tita­

nomaquia.Sem parar, emenda­

ram com "Porrada" e "Polí­cia" do disco Cabeça Dinos­sauro. Infelizmente as letrasdas músicas foram levadasa sério pelo público e pelaSegurança da Festa. "Por­rada nos caras que não fa­zem nada", "Polícia paraquem precisa/Polícia paraquem precisa de Polícia".

Todo o peso do som no

início do show mostrou, pa­ra os que ainda não acredi­tavam que o grupo mudouna fase pós-Arnaldo Antu­nes. Estas tendências HeavyMetal foram notadas antesdo show na fita que rolounoplayback com músicas doMetallica, Ministry e Pan­tera, confirmadas na passa­gem da segunda para a ter­ceira música do show, quan-

do o vocalista e tecladista

Sérgio Britto cantou o re­

frão de "Dead Skin Mask"do Slayer, uma das bandasmais conhecidas no mundodo Heavy Metal.

Som pesado - Os fãs

antigos não entendiam o

que estava acontecendo. Abanda que tocava "Mar­

vin", "Go Back" e "Famí­lia", detonava furiosamentetodo aquele som pesado.Ao invés de casais enamo­

rados ouvindo românticasou dançantes canções, mui­tos cabeludos balançavamas cabeças e faziam enormes

rodas de pogo, empurran­do-se e chutando-se ao esti­lo Punk.

Por sorte a banda per­cebeu que os garotos esta­

vam se exaltando e, antes

que algo pior acontecesse,o som acalmou. Mesmo as­

sim roubos e brigas atrapa­lharam que foi lá para se di­vertir. "Isso é coisa de ne­

guinho do morro" , que bai­xa aqui prá fumar maconha,dar porrada e roubar os ou­tros", conta revoltado e

com um tom de discrimina­ção racial. Juliano Andrade

de 19 anos, que teve rouba­dos o relógio e a carteiradentro do show.

Mesmo com esse lado

negativo, o show foi ótimomusicalmente, a banda não

perdeu o controle do públi­co, demonstrando compe­tência e experiência. "Omelhor show do ano", co­

menta Jorge Pavão, 25, quefoi conferir as novas tendên­cias dos Titãs e aprovou a

postura Heavy Metal assu­mida pelo grupo. Os fãs an­

tigos não entenderam os

motivos da mudança radical,no sum da banda. "Eles sóestão fazendo esta porcariapor que o Arnaldo saiu",diz Andresa Marques, 17,reclamando do "barulho"

que os Titãs fazem agora.Apesar de oficialmente

a saída do ex-membro ter

sido amigável, Sérgio Brittodemonstrou o contrárioneste show de Florianópo­lis. Ergueu um crânio com

uma vela acesa em cima e

exclamou: "Por incrível quepareça, isto aqui é de um

amigo nosso: Arnaldo An­tunes!". E uma música ma­

cabra confirmou que a ami-

tratação de um serviço de

Segurança nada profissio­nal pela Prefeitura. Me-:lhor seria chamá-lo de in­

segurança. Além de inter­vir a favor dos que me

roubaram, (será que hou­ve comissões?), um outro

episódio ocorrido naque­la noite reforça a hipótesede que os integrantes da

"Segurança" estão mais

para bandidos do que ou­

tra coisa: um grupo de

adolescentes, que tenta­

vam ver um pouco do mo­vimento de cima da passa­rela, foi agredido por vá­rios brutamontes farda­

dos, no lado de fora dacerca que limitava a áreade ação da "Segurança".Dos dois que não conse­

guiram correr da "Segu­rança", um foi cortado a

canivete e ameaçado demorte. O outro apanhoufeio na cara, sua corren­

tinha de ouro, roubada.E quando eu, já expulso,tentava argumentar do la­do de fora querendo rea­

ver meus pertences, fuimandado calar a boca pa­ra "não apanhar mais".Se houve critérios na con­

tratação do serviço, elessó podem ter sido os da

ignorância e estupidez.Quanto a Polícia Mi­

litar, que lavou suas mãos

alegando nada poder fa­zer, tenho a impressãoque seus integrantes são

ente imaginar­se na seguintesituação: você

resolve, na última hora,ir a um espetáculo musi­cal. Lá dentro você é

agredido e roubado, masa Segurança, interpretan­do os cinco agressores co­mo vítimas, resolve levarvocê como bandido e o

expulsa com grossura e vi­

tupérios. Lá fora a PolíciaMilitar o trata com indife­rença e, ante a insistên­

cia, com ameaças de pri­são. Só lhe resta juntar araiva acumulada e, antesde fazer uma besteira,disparar para a Polícia Ci­vil esperançoso de uma

solução. Mas cuidado, aodescobrir que a Polícia es­

tá em greve e nada podefazer para the ajudar, nãoesmurre a parede nem

chute a porta do prédio.Descalço com a camisa

rasgada, cara quebrada e

sem documentos, é possí­vel que a Polícia Militarlhe leve para uma volti­nha de camburão.

Excluindo - porpouco - a voltinha decamburão, segui, passo a

passo, esta receita de "in­

dignação à moda da ilha"na última quinta-feira, noshow do Titãs, promovi­do pela Prefeitura. Os Ti­tãs no paleo e eu na pla­téia, de repente um soco,os Titãs no paleo e eu no

iAgressão, roubo e abuso9- de poder na platéiaIII...

zade entre a banda e Antu­nes está morta.

Segurança? - Quinta­feira, um local pequeno,quente e abafado, sem segu­rança, mas com um preçoatrativo. Cinco mil pessoasforam conferir a Festa. En­tre elas o prefeito SérgioGrando, de terno e gravata,que estava por lá a meia­noite junto com alguns as­

sessores, conferindo aquelevelho refrão - que aindanão virou música - em queFlorianópolis é um lugarviável para a realização de

grandes eventos culturais.Tomara que ele também te­

nha conferido os problemasda "Segurança" da Festa or­

ganizada pela prefeitura.Leia agora o relato de

Ademir Roberto Sander,um estudante do Curso deJornalismo da UFSC, quefoi à Festa do Mar divertir­se e acabou sendo assaltadoapós apanhar de vários ban­didos e ser ameaçado pelos"Seguranças" da Festa e

por policiaismilitares.

Alessandro da Silva

"...os Titãs no palco e eu no chão"

fãs do Titãs. Que outra

razão explicaria a presen­ça deles ao evento se nada

podem fazer? Tentei in­sistir para que tomassemuma providência em meu

favor, mas fui ameaçadode ir para a cadeia - sóo que me faltava - se nãoparasse de lhes "incomo­dar". Talvez estivessemtentando compreender asletras: 'Polícia para quemprecisa de Polícia'.

Chico Sander

chão. Fui chutado por unsdez pés e quando a Segu­rança interveio, em meu

desfavor, já havia perdi­do algumas coisas e ganhooutras. Perdi meus tênis,relógio, documentos pes­soais e do carro, dinheiroe boa parte de minha au­

dição esquerda. Ganheium edema no olho, umafratura no nariz, hemato­mas por todo o corpo e

uma lição de como as coi­sas (não) funcionam no

Brasil.Causa espanto a con-

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina