TECENDO GÊNERO: INTERSECÇÕES E OLHARES NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DA...

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TECENDO GÊNERO: INTERSECÇÕES E OLHARES NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DA AMAZÔNIA SOBRE PRESÍDIO FEMININO Ana Paula Palheta Santana 1 1 Doutora em Ciências Sociais, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará ([email protected]) APRESENTAÇÃO A discussão sobre presídios e cadeias figura hoje como certa tradição sociológica. Existem, na literatura das ciências sociais, vastas publicações que desnudam as realidades dos presídios no Brasil e, antes disto, no mundo. As estatísticas oficiais mostram que a população feminina é a que mais cresce nos presídios brasileiros, dado o envolvimento das mesmas no trabalho de tráfico de entorpecentes, o que também se assemelha a realidade de outros países. No entanto, os debates decorrentes deste cenário deixam invisíveis as questões relativas ao gênero, como se o encarceramento fosse vivenciado da mesma forma por homens e mulheres. OBJETIVO O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise sobre as intersecções encontradas ao longo da pesquisa realizada no Centro de Recuperação Feminino (CRF), único presídio feminino do Pará, estado situado na Amazônia brasileira. MÉTODOS O estudo teve abordagem qualitativa através da pesquisa bibliográfica associada à pesquisa de campo e contou com a participação de 12 interlocutoras, na faixa etária entre 19 anos a 74 anos, todas sentenciadas a cumprir sentença em regime fechado. O levantamento de dados foi realizado através de entrevistas semiestruturadas, no período de 2010 a 2011. RESULTADOS Ao estudar o cárcere feminino não é possível fazê-lo sem levar em consideração as questões relativas à classe, a sexualidade e a maternidade, para citar apenas algumas intersecções. Isto porque os dados relativos à pesquisa aludem para o fato de que as mulheres em situação de cárcere compreendem sua realidade de modo interligado a outras dimensões da vida social, o que torna imperativo a discussão de categorias citadas anteriormente na análise dos fenômenos. Evidencia-se, então, que a intersecção é fator primordial para as interpretações pertinentes a este campo de estudo colocando em xeque o modelo do feminino idealizado de “mulher frágil” ou de “mulher maternal”, haja vista que as mesmas se reconstroem no mundo do encarceramento, quase sempre rejeitando seus antigos parâmetros de comportamento. CONCLUSÕES Os dados relativos à pesquisa aludem para o fato de que a produção sobre presídios femininos devem considerar a importância de outras variáveis, tais como classe e sexualidade. Isto evidencia que para tal intuito a análise dos fenômenos a partir da intersecção é fator imperativo – trazendo a tona a complexidade nas interpretações variadas sobre o fenômeno estudado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GARLAND, David. A Cultura do Controle – crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2008. GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974. SOARES, Bárbara Musumeci & ILGENFRTIZ, Iara. Prisioneiras – vida e violência atrás das grades. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Fonte: Pesquisa de campo, 2011. Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

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TECENDO GÊNERO: INTERSECÇÕES E OLHARES NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DA AMAZÔNIA SOBRE PRESÍDIO FEMININO

Ana Paula Palheta Santana1

1Doutora em Ciências Sociais, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará ([email protected])

APRESENTAÇÃO A discussão sobre presídios e cadeias figura hoje como certa tradição sociológica. Existem, na literatura das ciências sociais, vastas publicações que desnudam as realidades dos presídios no Brasil e, antes disto, no mundo. As estatísticas oficiais mostram que a população feminina é a que mais cresce nos presídios brasileiros, dado o envolvimento das mesmas no trabalho de tráfico de entorpecentes, o que também se assemelha a realidade de outros países. No entanto, os debates decorrentes deste cenário deixam invisíveis as questões relativas ao gênero, como se o encarceramento fosse vivenciado da mesma forma por homens e mulheres.

OBJETIVO O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise sobre as intersecções encontradas ao longo da pesquisa realizada no Centro de Recuperação Feminino (CRF), único presídio feminino do Pará, estado situado na Amazônia brasileira.

MÉTODOS

O estudo teve abordagem qualitativa através da pesquisa bibliográfica associada à pesquisa de campo e contou com a participação de 12 interlocutoras, na faixa etária entre 19 anos a 74 anos, todas sentenciadas a cumprir sentença em regime fechado. O levantamento de dados foi realizado através de entrevistas semiestruturadas, no período de 2010 a 2011.

RESULTADOS Ao estudar o cárcere feminino não é possível fazê-lo sem levar em consideração as questões relativas à classe, a sexualidade e a maternidade, para citar apenas algumas intersecções. Isto porque os dados relativos à pesquisa aludem para o fato de que as mulheres em situação de cárcere compreendem sua realidade de modo interligado a outras dimensões da vida social, o que torna imperativo a discussão de categorias citadas anteriormente na análise dos fenômenos. Evidencia-se, então, que a intersecção é fator primordial para as interpretações pertinentes a este campo de estudo colocando em xeque o modelo do feminino idealizado de “mulher frágil” ou de “mulher maternal”, haja vista que as mesmas se reconstroem no mundo do encarceramento, quase sempre rejeitando seus antigos parâmetros de comportamento.

CONCLUSÕES Os dados relativos à pesquisa aludem para o fato de que a produção sobre presídios femininos devem considerar a importância de outras variáveis, tais como classe e sexualidade. Isto evidencia que para tal intuito a análise dos fenômenos a partir da intersecção é fator imperativo – trazendo a tona a complexidade nas interpretações variadas sobre o fenômeno estudado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARLAND, David. A Cultura do Controle – crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2008.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974.

SOARES, Bárbara Musumeci & ILGENFRTIZ, Iara. Prisioneiras – vida e violência atrás das grades. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.