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187 Tema 11 O procedimento de familiarização altera o desempenho no teste de 1 RM? Fernando Vitor Lima 1 Mauro Heleno Chagas 2 Rodrigo César Ribeiro Diniz 3 1. Introdução A capacidade de desenvolver força pode ser considerada uma qualidade fundamental do organismo humano (KRAEMER & HÄKKINEN, 2004), sendo um pré-requisito para a realização de diferentes tarefas motoras, relacionadas com as diferentes atividades profissionais, com o tempo livre e com o esporte (FLECK & KRAEMER, 1997; NIEMAN, 1999). Por isso, o diagnóstico da força muscular é um tema de interesse crescente por parte de treinadores, preparadores físicos e cientistas do esporte. A mensuração da força muscular permite a aquisição de informações relevantes para uma prescrição mais otimizada do treinamento e possibilita o monitoramento do desempenho dessa capacidade em indivíduos submetidos a programas de exercícios no âmbito da prevenção, reabilitação e treinamento esportivo (SALE et al., 1991; ABERNETHY, WILSON & LOGAN, 1995; SCHLUMBERGER & SCHMIDTBLEICHER, 2000). Dessa forma, varias estratégias para a mensuração da força muscular têm sido relatadas na literatura (WILSON, ELLIOTT & WOOD, 1991; BOSCO et al., 1995), sendo que um dos procedimentos mais conhecido para o registro da força é a determinação de uma repetição máxima (1RM) (RHEA et al., 2003). O teste de 1RM é definido pelo peso que pode 1 Prof. Doutorando do Departamento de Esportes da EEFFTO/UFMG. 2 Prof. Doutor do Departamento de Esportes da EEFFTO/UFMG. 3 Graduado em Educação Física – EEFFTO/UFMG. L_Cap_11.indd 1/9/2005, 17:22 187

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Tema 11O procedimento de familiarização altera

o desempenho no teste de 1 RM?

Fernando Vitor Lima 1

Mauro Heleno Chagas 2 Rodrigo César Ribeiro Diniz 3

1. IntroduçãoA capacidade de desenvolver força pode ser considerada uma

qualidade fundamental do organismo humano (KRAEMER & HÄKKINEN, 2004), sendo um pré-requisito para a realização de diferentes tarefas motoras, relacionadas com as diferentes atividades profissionais, com o tempo livre e com o esporte (FLECK & KRAEMER, 1997; NIEMAN, 1999). Por isso, o diagnóstico da força muscular é um tema de interesse crescente por parte de treinadores, preparadores físicos e cientistas do esporte. A mensuração da força muscular permite a aquisição de informações relevantes para uma prescrição mais otimizada do treinamento e possibilita o monitoramento do desempenho dessa capacidade em indivíduos submetidos a programas de exercícios no âmbito da prevenção, reabilitação e treinamento esportivo (SALE et al., 1991; ABERNETHY, WILSON & LOGAN, 1995; SCHLUMBERGER & SCHMIDTBLEICHER, 2000).

Dessa forma, varias estratégias para a mensuração da força muscular têm sido relatadas na literatura (WILSON, ELLIOTT & WOOD, 1991; BOSCO et al., 1995), sendo que um dos procedimentos mais conhecido para o registro da força é a determinação de uma repetição máxima (1RM) (RHEA et al., 2003). O teste de 1RM é definido pelo peso que pode

1 Prof. Doutorando do Departamento de Esportes da EEFFTO/UFMG.2 Prof. Doutor do Departamento de Esportes da EEFFTO/UFMG.3 Graduado em Educação Física – EEFFTO/UFMG.

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ser movimentado somente uma vez por uma amplitude de movimento específica e é considerado como uma medida representativa da força máxima dinâmica (SCHLUMBERGER, 2000; MAYHEW & MAYHEW, 2002).

Na realização de testes de força muscular, uma recomendação muito freqüente é a inclusão de uma familiarização no procedimento diagnóstico (HOWLEY & FRANKS, 1995; SMITH, WEISS & LEHMKUHL, 1997; McARDLE, KATCH & KATCH, 1998; FLECK & KRAEMER, 1997), pelo fato do teste de 1RM envolver um fator de “habilidade” que pode ser influenciado pela prática (GRAVES, POLLOCK & BRYANT, 2003). Segundo Sale (1988), um dos principais fatores que afeta a estabilidade do desempenho, em testes de força muscular, está relacionado com processos de adaptação neural referentes à especificidade do exercício. Entretanto, a recomendação da familiarização, mencionada por diferentes autores, não tem sido acompanhada pela citação de estudos que investigaram se uma sessão de familiarização realmente proporciona diferenças significativas no desempenho de força muscular em um determinado teste. Além disto, este procedimento de familiarização não é bem padronizado na literatura, sendo encontrado diversos procedimentos diferentes.

Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo verificar o efeito do procedimento de familiarização, no desempenho do teste de 1 RM, em indivíduos do sexo masculino treinados em musculação.

2. Materiais e métodosAmostraParticiparam da pesquisa 22 voluntários do sexo masculino, treinados

em musculação, que não possuíam histórico de lesão músculo-tendínea e/ou nas articulações do ombro, cotovelo e punho. Foram considerados treinados aqueles que conseguiram realizar uma repetição no exercício supino com o peso equivalente à sua massa corporal (SCHLUMBERGER, 2000) e que praticavam a musculação regularmente a um período mínimo de 6 meses (ACSM, 2002). Os indivíduos apresentaram uma média de idade de 24,4 ± 4,2 anos, massa corporal de 74,3 ± 12,0 Kg, estatura de 173,9 ± 6,0 cm, uma freqüência semanal de treinamento de 4,0 ± 1,0 dias e um tempo médio de treinamento de 56,1 ± 48,6 meses. Todos os voluntários foram informados sobre os objetivos e procedimentos da

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pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer ETIC 338/03).

Instrumento e padronização da execuçãoNo presente estudo foram utilizados uma barra guiada da marca

MASTER e um banco reto para a realização do exercício supino (Figura 1). A amplitude de movimento da barra, a empunhadura, a posição da cabeça no banco, a posição do aparelho e do banco reto foram controlados para garantir a padronização e posterior reprodução do posicionamento dos voluntários. Esse controle foi efetuado após o voluntário ter se posicionado no aparelho, da maneira mais próxima a da sua rotina de treinamento com o exercício supino. A amplitude de movimento foi individualmente padronizada através de uma haste de metal que indicava o limite superior de deslocamento da barra (Figura 2) e um pequeno anteparo de borracha (12 x 6,7 x 2cm), posicionado no peito (próximo ao processo xifóide), o limite inferior (Figura 3).

FIGURA 1 – Barra guiada e banco reto utilizados no estudo

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FIGURA 2 – Haste de metal que delimita o limite superior do deslocamento da barra

FIGURA 3 – Anteparo de borracha que delimita o limite inferior do deslocamento da barra.

As posições das mãos na barra e da cabeça no banco foram marcadas com caneta hidrocor numa fita crepe aplicada à barra e ao banco. As posição do aparelho e do banco no solo também foram delimitadas por uma fita crepe. Foram utilizadas anilhas de diversos pesos aferidas em uma balança FILIZZOLA, sendo a mesma utilizada para registrar a massa corporal e a estatura dos voluntários.

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Todo o procedimento de posicionamento e padronização da execução ocorreu antes do primeiro teste de 1RM, que foi denominado de familiarização. O voluntário realizava até três repetições com a barra sem peso adicional, objetivando definir o posicionamento mais adequado para a execução do teste.

ProcedimentosA coleta de dados foi dividida em duas sessões, separadas por intervalo

mínimo de 1 dia e máximo de 12 dias, média de 4,5 dias, denominadas sessão de familiarização e do teste de 1RM. Recomendou-se que os voluntários não realizassem nenhuma atividade de força que envolvesse as musculaturas peitoral maior, deltóide anterior e tríceps braquial até 24 horas antes de cada sessão de coleta.

Na sessão de familiarização, após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, foram mensuradas a estatura e a massa corporal de cada voluntário. Foi sugerido que a rotina de atividade preparatória individual fosse mantida, com o objetivo de evitar que mudanças nesta rotina interferissem de forma negativa no desempenho. Esse procedimento foi repetido na segunda sessão de coleta dos dados. Em seguida, os indivíduos foram submetidos ao protocolo de teste para mensurar o desempenho em 1RM. O protocolo do teste de 1RM da familiarização obedeceu aos seguintes critérios: a) Número máximo de 6 tentativas (MAYHEW & MAYHEW, 2002; CHAGAS, BARBOSA & LIMA, 2005). No presente estudo, foram alcançadas médias de 4,77 ± 0,97 e 4,32 ± 0,72 tentativas na sessão de familiarização e do teste de 1RM, respectivamente. b) Duração da pausa entre 3 e 5 minutos, conforme o esforço do executante e progressão do peso (ANDERSON & KEARNEY, 1982). c) O teste inicia-se com peso submáximo, estimado subjetivamente. Maiores acréscimos de peso foram realizados nas primeiras tentativas e menores nas últimas (BLOOMFIELD, ACKLAND & ELLIOTT, 1994).

Para a realização do teste propriamente dito, o voluntário se posicionava no banco e era pedido que mantivesse suas mãos na barra, enquanto a mesma era elevada por outros pesquisadores, à altura correspondente à extensão completa dos seus cotovelos. Nesta posição, após a autorização do voluntário, a barra era solta e ele então executava a fase excêntrica, descendo com a barra até que a mesma fizesse contato com o anteparo de borracha. Na seqüência desse movimento, era realizada a fase concêntrica, deslocando a barra até o limite superior indicado por uma haste de metal.

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As repetições foram desconsideradas nas seguintes situações: amplitude incompleta (não encostar na haste metálica e/ou no anteparo no peito) e perda de contato do corpo do voluntário com o banco, durante a execução (por ex.: desencostar a coluna lombar ou os glúteos).

Além do dispositivo de travas de segurança existente na barra guiada, dois pesquisadores ficavam atentos em cada extremidade da barra para que, caso o voluntário não conseguisse executar o movimento, eles pudessem segurá-la.

Na segunda fase de coleta de dados, denominada sessão do teste de 1RM, os voluntários foram novamente submetidos ao mesmo protocolo do teste de 1 RM, realizado na sessão de familiarização, considerando todos os procedimentos de padronização.

Análise estatísticaA influência da familiarização será investigada por meio de dois

procedimentos: comparação das médias registradas nas duas sessões (familiarização e teste) e nível de correlação entre os resultados das duas sessões. Para comparação dos valores médios, obtidos na sessão de familiarização e do teste de 1RM, utilizou-se o teste t para amostras pareadas. Para determinar o nível da relação entre os resultados das duas sessões, foi calculado o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Os procedimentos estatísticos foram executados com a ajuda do pacote estatístico SPSS 10.0. O nível de significância adotado neste estudo foi de p< 0,05.

3. ResultadosA Tabela 1 mostra os valores mínimos, máximos, médios e os

desvios-padrão relativos ao desempenho nos testes de 1RM, realizados nas duas sessões. O resultado do teste t, para amostras pareadas, indicou que o rendimento na familiarização foi estatisticamente menor, comparado com o desempenho registrado na sessão do teste de 1RM.

TABELA 1 Valores mínimos, máximos, médios e os desvios-padrão

nos testes da sessão de familiarização e de 1 RM

Testes Mínimo Máximo Média d.p.Familiarização 64,00 130,00 89,00 16,601 RM 68,00 140,00 92,23* 17,34

d.p. = desvio padrão, * p< 0,05 comparado a familiarização

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No presente estudo foi encontrado um coeficiente de correlação intraclasse de 0.99, referente aos dados coletados nas sessões de familiarização e do teste de 1RM, sendo significativo para um alfa de 0,05.

4. DiscussãoAo verificar a literatura relacionada com o treinamento de força,

observa-se que vários autores colocam a importância de se realizar um procedimento de familiarização antes da realização do teste propriamente dito (McARDLE, KATCH & KATCH, 1998; FLECK & KRAEMER, 1997; HOWLEY & FRANKS, 1995; SMITH, WEISS & LEHMKUHL, 1997). Entretanto, esses autores não relatam as pesquisas que investigaram a influência da familiarização no desempenho em testes de força, em especial no resultado do teste de 1 RM.

Os resultados deste estudo indicaram que, na sessão de teste de 1RM, o rendimento foi significativamente maior, comparado com a familiarização, mostrando que o procedimento de familiarização aumentou o desempenho de força. Vários aspectos podem ser considerados na discussão dos resultados. Do ponto de vista metodológico, a falta de padronização no posicionamento, a inexistência de controle do efeito de treinamento e não identificação do respectivo ritmo circadiano são fatores que podem induzir variabilidade no desempenho em testes de força.

No presente estudo, a determinação individual da amplitude de deslocamento da barra, do controle da empunhadura, da distância entre as mãos e da posição do corpo em relação a barra, assim como a invalidação da repetição se movimentos acessórios (quadril, tronco ou região lombar) estivessem presentes garantiram uma reprodução padronizada do posicionamento do voluntário durante as duas sessões de testes. Desta forma, é possível considerar que a variação do rendimento entre as sessões não seja decorrente deste aspecto.

Um possível problema a ser identificado seria um intervalo muito longo entre as sessões de testes, pois, o próprio treinamento, que os voluntários vinham realizando, poderia provocar um aumento do rendimento. Nesta pesquisa, os testes foram executados com uma média de 4,5 dias entre as duas sessões de coleta. Por se tratar de indivíduos treinados, não é esperado que alterações morfológicas significativas ocorram, devido ao programa de treinamento, em um intervalo de tempo tão curto, e possam influenciar o desempenho de força máxima (SCHMIDTBLEICHER, 1992).

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Segundo Poliquin (1988), a força varia de 10 a 20% no decorrer do dia, indicando que oscilações no desempenho de força durante o dia devem ser esperadas. Para evitar essas influências do ritmo circadiano, as sessões de teste foram realizadas sempre no mesmo horário.

Dessa forma, uma possível explicação para a diferença entre os testes pode estar relacionada com a especificidade do movimento. O supino guiado, onde o deslocamento da barra possui uma trajetória pré-determinada e retilínea (CHAGAS & LIMA, 2004), não é um exercício comumente realizado nos programas de treinamento na musculação e nenhum dos voluntários havia utilizado-o em seus treinamentos. Essa característica do exercício exige que os segmentos corporais, envolvidos na execução do movimento e, conseqüentemente, os diferentes grupos musculares (peitoral, deltóide e tríceps braquial), sejam coordenados para a realização adequada da tarefa motora. Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), a especificidade do movimento deve ser pensada até mesmo nas relações entre os músculos agonistas, sinergistas e fixadores, pois essas variam na dependência da atividade.

Partindo da aceitação que o exercício supino guiado tem características específicas de movimento e representou uma tarefa motora nova para os indivíduos, pode ser hipotetizado que processos neurais relacionados com a aprendizagem motora tenham influenciado o desempenho. Neste contexto, os mecanismos neurais mais relevantes estariam associados com a produção de força muscular. Entre estes mecanismos, a melhoria da sincronização, que proporcionaria uma maior ativação dos agonistas, uma ativação mais adequada dos sinergistas e uma maior inibição dos antagonistas do movimento, seria uma adaptação fundamental para alterar o desempenho de força (SALE, 1987). Segundo Schmidtbleicher (1992), tais mudanças podem ocorrer muito rapidamente. Além da melhora da sincronização, a capacidade de produzir uma maior freqüência de estimulação, possibilitando o recrutamento de unidades motoras mais fortes, poderia proporcionar um maior desempenho de força. Os dados deste estudo não permitem uma conclusão sobre o nível de influência destes mecanismos neurais, pois seria necessário que a atividade eletromiográfica (EMG) fosse registrada durante a execução dos testes.

Outro aspecto relacionado com a especificidade do padrão de movimento e a aprendizagem motora, que deve ser considerado na discussão, diz respeito a uma limitação do próprio teste de 1RM. Esse teste somente considera válida a mensuração, se o movimento for realizado em toda amplitude de movimento pré-determinada. Assim, o resultado do

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teste será determinado pela força que pode ser exercida no ponto de maior desvantagem biomecânica (sistema de alavancas) durante o movimento (“sticking region”) (BLOOMFIELD, ACKLAND & ELLIOTT, 1994; SCHLUMBERGER & SCHMIDTBLEICHER, 2000). Desta forma, é possível que esse ponto de desvantagem mecânica sofra alterações devido a mudança do padrão de movimento. Assim, pode-se especular que um novo padrão motor, desencadeado pelos processos de aprendizagem do movimento, originados na sessão de familiarização, garantiram uma maior eficiência mecânica na sessão subseqüente, permitindo uma melhoria do desempenho.

A recomendação da sessão de familiarização tem como objetivo diminuir o efeito de diferentes fatores intervenientes no rendimento, possibilitando que o indivíduo aproxime ao máximo possível do seu real desempenho, em um determinado procedimento de diagnóstico. Desta forma, a prescrição da carga de treinamento será mais precisa e a eficiência de um programa de treinamento não será superestimada.

O resultado da comparação entre as médias de 1RM mostrou que o grau de consistência das medidas de 1RM pode ser influenciado pela familiarização, mesmo em indivíduos treinados. Isso ocorreu, embora tenha sido verificado um coeficiente de correlação intraclasse alto e estatisticamente significativo (r = 0.99), indicando uma forte relação entre os dados coletados na sessão de familiarização e do teste de 1RM. Desta forma, para uma informação mais precisa sobre a estabilidade do desempenho, é necessário que diferentes análises sejam realizadas.

5. ConclusãoDe acordo com os resultados do presente estudo é possível concluir

que o desempenho de indivíduos treinados do sexo masculino, no teste de 1RM, para o exercício supino guiado, comparado com o rendimento no mesmo teste em uma sessão prévia de familiarização, foi estatisticamente diferente, mostrando que a sessão de familiarização aprimorou o desempenho no teste de 1RM.

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo comparar o desempenho de indivíduos treinados no teste de 1RM, no supino guiado, realizado em duas sessões distintas, sendo a primeira sessão do teste de 1RM considerada de familiarização. A amostra foi composta por 22 indivíduos do gênero masculino, com médias de idade, massa corporal, estatura, tempo de treinamento e freqüência sendo de 24,4 (± 4,2) anos, 74,3 (± 12,0) kg, 173,9 (± 6,0) cm, 56,1 (± 48,6) meses e 4,0 (± 1,0) treinamentos por semana, respectivamente. O 1 RM médio no teste de Familiarização foi de 89,0 (±16,6) kg obtido com uma média de 4,8 (±1,0) tentativas. Após 4,5 (±2,8) dias, em média, os voluntários repetiram o teste e obtiveram 92,2 (±17,3) kg em uma média de 4,3 (±0,7) tentativas. Através do coeficiente de correlação intraclasse, verificou-se a existência de uma forte e significativa relação entre os dados coletados (r= 0,99). A comparação entre os valores médios dos testes, utilizando o teste t para amostras pareadas, mostrou uma diferença significativa (p = 0,000). Os resultados deste estudo indicam que o procedimento de familiarização aumentou significativamente o desempenho no teste 1RM, possibilitando realizar o exercício com maior peso.

Unitermos: 1 RM, desempenho, familiarização

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