TeMA informativo n.2 mai. 2017

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Ano 1 n. 2 mai. 2017 2 TeMA informativo

Palavra dos Editores TeMA informativo

SUMÁRIO

Palavra dos Editores 2

Entrevista 3

Em Destaque 11

Anais em Fotos 13

Da Teoria 16

Da Análise 18

TeMA informativo, ano 1, n. 2, mai. 2017

Apresentamos o segundo número do boletim

TeMA informativo, cuja primeira edição, para nossa

satisfação, foi acessada centenas de vezes por internautas

no Brasil, Argentina, Chile, Canadá, EUA, Itália, França,

Alemanha, entre outros.

As seções do TeMA informativo buscam

disponibilizar um leque variado de dados e assuntos

referentes à teoria e à análise. Assim, iniciamos o boletim

com uma entrevista ao compositor, teórico, crítico

musical e educador Paulo Costa Lima. As reflexões do

educador e também musicólogo, veiculadas nesta

entrevista, têm a sua pertinente profundidade filosófica

quando abarcam a criatividade nas diversas atividades da

teoria e da análise. Lima fala da pedagogia da composição

e sua importância, explica o entrelaçamento indissociável

da índole criativa da composição com os campos da teoria

e da análise.

O boletim também veicula a proposta temática da

Revista Musica Theorica para os próximos números.

Convida autores e pesquisadores a submeterem seus

textos e trabalhos para publicação no periódico. Seu corpo

editorial é formado por Rodolfo Coelho de Souza (USP)

[editor-chefe], Carlos Almada (UFRJ) e Norton Dudeque

(UFPR).

Na seção “Em Destaque” desta edição são

realçadas às ações de autores que têm apresentado a

pesquisa musical brasileira em congressos realizados em

outros países. Nesse sentido, ressaltamos as

comunicações de Gabriel Navia (UNILA), Desirée Mayr

(UFRJ) e Carlos Almada (UFRJ) – associados da TeMA

que exporão seus textos na Alemanha e na França.

Destacamos também a obtenção da Livre Docência pelo

pesquisador Paulo de Tarso Salles (CMU-ECA/USP) sob

a supervisão de Paulo Chagas na University of California

Riverside (EUA).

Na seção “Anais em Fotos”, reunimos uma

coleção delas, como uma síntese do que aconteceu no II

CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

TEORIA E ANÁLISE MUSICAL, cuja temática foi

Teoria e Análise Musical em Perspectiva Didática. O evento,

com sede na Universidade do Estado de Santa Catarina

(UDESC), aconteceu em maio próximo passado na cidade

de Florianópolis (SC).

As seções – “Da Teoria” e “Da Análise” –, como

na primeira edição, trazem uma seleção de resumos de

artigos e livros que foram publicados nos principais

periódicos do Brasil e dos EUA. Esta seleção é

desenvolvida segundo o olhar teórico-analítico de nosso

editor adjunto Gabriel Navia.

Agradecemos aos associados que colaboraram

conosco fornecendo dados e informações para a

composição deste boletim; à diretoria da TeMA,

representada por sua presidente e entrevistadora

responsável deste boletim – Ilza Nogueira; e, por último,

ao editor-chefe do TeMA informativo – Edson Hansen

Sant’Ana – que nos proporciona a oportunidade de

trabalhar com liberdade expressiva na construção das

matérias.

Desejamos aos nossos leitores uma experiência

intelecto-informacional prazerosa e estimulante.

Miriam Carpinetti

Editora adjunta

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Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

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Ilza Nogueira Presidente da TeMA entrevistando Paulo Costa Lima

Nesta edição do TeMa informativo, temos o

privilégio de receber o compositor e educador Paulo

Costa Lima (Salvador, 1954), para uma conversa

descontraída com a Prof.ª Ilza Nogueira. Os assuntos

poderiam ser muitos, considerando a versatilidade do

nosso convidado. No entanto, seguindo o embalo do

II Congresso da TeMA, vamos nos concentrar na

pedagogia da teoria e da análise musical, tema em que

o Professor Paulo Lima tem sobeja experiência

profissional, e o qual o condiciona a transitar por

tantos dos seus estudos.

Vale aqui salientar seu doutorado em

Educação da UFBA (1999), quando desenvolveu um

estudo sobre a pedagogia de Ernst Widmer. E se esta

pedagogia se circunscreveu ao ensino de composição,

não podemos esquecer que, em se tratando de

Widmer, a criação musical nunca deixou de ser

encaminhada pela recriação teórica e de refletir

andanças analíticas por todos os caminhos que

levassem à Música, seja esta de concerto ou popular,

antiga ou nova, profana ou espiritual. Vale também

lembrar o artigo de Paulo Lima intitulado O Campo da

Análise Musical e suas Ontologias (2004,

www.latinoamerica-musica.net), onde, no esguelho

do texto (a nota inicial), encontra-se a motivadora

pergunta: “O que legitima a análise?” Considerando

o prazer e a paixão da atividade analítica como

resposta implícita mas incompleta em seus essenciais,

passa o autor a desenvolver reflexões de ‘porte

filosófico’, tais quais: análise como “construção do

sujeito ouvinte”, “diálogo entre o ouvir e o pensar”,

“território de extensão da vivência musical para a

linguagem discursiva”, ou até mesmo “uma das

possibilidades de escrever música”, isto é, como

“feito composicional”. Finalmente, em outro

esguelho do texto, a resposta lúcida sobre a ontologia

do poder sedutor da análise se entreabre ao

“paradoxo entre a promessa de elucidação e a

reafirmação da intraduzibilidade do vivido sonoro”.

Neste texto – pretexto do nosso início de conversa –, as

afloradas interconexões entre diferentes universos

analógicos ao da criação musical e seus pressupostos

teóricos (a teoria da cultura, a filosofia e a psicanálise)

refletem, por sua vez, os múltiplos do autor, que

igualmente integra a Academia Brasileira de Música,

a Academia Baiana de Letras e a Academia de

Ciências da Bahia.

Entrevistar Paulo Lima, devemos admitir, é um

desafio e tanto. Sua apreciável capacidade de espiralar

ideias entrelaçadas entre os universos da escuta (a

ampla “audição” do mundo) e o da sua representação

inteligível (a igualmente ampla hermenêutica do ser

no mundo) constitui uma vasta produção literária.

Entre esta e a sua produção musical, coincidências

não são fortuitas. A retroalimentação entre esses dois

eixos da sua criatividade é inescapável ao observador.

Criatividade: palavra mater! E eis que de repente

encontro nela o ‘fio de Ariadne’ da nossa

conversação. Comecemos, então, com uma boa

provocação:

IN: Professor Paulo Lima, a honra entrevistá-

lo corresponde, em exata medida, à dificuldade de

escolhermos um fio condutor, para não nos

perdermos nas seduções de suas múltiplas vias de

acesso ao objeto Música. No entanto, seu argumento

de que a análise é um “feito composicional” ou uma

“possibilidade de escrever música” me pareceu o guia

perfeito para conduzirmos uma conversação

centrada em como aplicar essa pérola ideológica na

pedagogia da teoria e análise musical. Penso que esse

argumento se aplica à construção de pontes entre a

didática da composição e da análise musical. Seria o

caso?

Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

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Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

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PL: A honra é minha de construirmos esse

diálogo. Gostaria de pontuar que, sem a experiência-

música não há sentido em falar de teoria ou análise

musical. Mas não se trata de compartimentos

isolados, e sim de um continuum, um jogo de

entrelaçamento e desfronteirização. O mundo

schenkeriano é muito distinto do mundo riemanniano, e

este, muito distinto do mundo triádico pós-

riemanniano. Estou dizendo que, como todo compor

que se preza, a investida analítica comporta invenção

de mundos. Estar num mundo schenkeriano não

significa estar imune aos afetos das obras analisadas

– faço aqui alusão à definição deleuziana de arte como

composição de afetos, em distinção à ciência com

suas funções e variáveis e à filosofia com o desafio da

criação de conceitos. Há de se discutir com mais

vagar o amálgama entre lógica e mágica que a redução

schenkeriana propicia, como se assim confirmasse e até

consagrasse o herói que a trama composicional

projeta, o suposto autor da Ursatz. O herói

beethoveniano, por exemplo, que nos ausculta em cada

audição (da Heróica, digamos) e que tudo sabe sobre

a crise da forma; no mundo schenkeriano, aparece

como o herói epistêmico que mergulha no tecido

superficial da obra e sai do outro lado, o lado das

estruturas, da visão panóptica, da criação de sentido

no campo ideológico da música absoluta. A ideia

genial de mobilizar a redução para o discurso

analítico mantém a unidade do protagonista

compositor – a redução é audível –, o lugar do

suposto saber, lugar do amor de transferência – e,

claro, o lugar do analista, como terceiro

excluído/incluído, nessa construção desinocente.

Estou dizendo que a construção de afetos continua

no tecido da análise, dando sentido ao mundo criado.

Dizem que quando Schönberg tomou conhecimento

da redução schenkeriana da Heróica, lamentou-se

perguntando – “onde estão minhas passagens

favoritas? Ah, aqui nessas notinhas miúdas...” – bem,

ele estava no mundo schoenberguiano, da ideia musical

e de suas transformações. No mundo da cognição –

ainda em uma de suas primeiras versões, a de 1983,

com Lerdahl e Jackendoff – seria necessário tratar a

redução como resultante de regras de processamento

do material sonoro, retirá-la do campo (suspeito) da

intuição. Quando mergulho no deslindamento das

relações motívicas oriundas da Grundgestalt em

Brahms – penso de forma específica, no Sexteto em

Sib, primeiro movimento, c. 61, cuja relação com o

modelo motívico é resolvida de forma absolutamente

irônica –, fico meio hipnotizado pelas artimanhas

expressivas que ele engendra, continuo em plena

navegação musical, os feitos analíticos potencializam

o traçado estético e também têm sua beleza própria;

sem sombra de dúvida, suscitam novas investidas de

criação musical. Percebo, assim, que essa passagem

equivale a dezenas de páginas de texto analítico, ou

seja, quem compõe também analisa, e, neste caso,

Brahms é um analista da narrativa.

O argumento de que a análise é um “feito

composicional” acolhe todos esses ângulos, porque

sua força motriz é a desfronteirização, algo que se

distingue da tentativa de homogeneizar coisas

distintas. A formulação (que é de 2005) surge do

reconhecimento da parceria com a linguagem,

reconhecendo que, sendo assim, “a análise se

equilibra como arte metafórica, como técnica,

ciência, e sobretudo, estética, ou seja, como feito

composicional”. Se pensamos na experiência-música

como algo que se espraia em inúmeras direções – a

esfera dos comportamentos, dos conceitos, da

organização simbólica, das expressões corporais –,

então, nada impede que o diálogo analítico se

expanda com o mesmo ímpeto. Lá onde está a

vivência do fenômeno musical (definido com a

amplitude que se julgue adequada) está também a

possibilidade de construção de universos analógicos,

como resposta ao que se vive qua música. Nessa

ciranda, o papel da linguagem é fundamental como

ferramenta especulativa de construção de universos

estipulados paralelos à experiência musical, ou, se

quisermos, seguindo Charles Seeger, a partir da

natureza compositiva dos processos da fala, a

percepção ineludível de que quem fala compõe –

escolhe, interpreta, gera identidades. Ora, esse breve

percurso nos leva a rever aquela nossa famosa

insígnia “a resolução do todo analítico a suas partes

constituintes”, a partir da operação que apenas

insinua, o percurso inverso, a síntese. Analisar é

sintetizar, ou melhor, analisar é compor uma síntese

– estamos em plena desfronteirização.

Mais recentemente, deparei com o cenário

armado pelo historiador Martin Jay, apresentando a

ideia de teoria (latu senso) como algo que se situa numa

rede semântica constituída por seus cinco ‘outros’ –

i) objetos que desafiam pela opacidade; ii) práticas e

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experiências pré-reflexivas ou então posteriores,

testes da validade de teorias; iii) a experiência

hermenêutica das artes (ler, ver, ouvir), que resiste a

generalizações de cunho universal; iv) a

inteligibilidade única das narrativas; v) e, claro, as

comunidades e instituições que realizam o teorizar.

A radicalidade dessa visão vem justamente da

desconstrução de uma suposta autonomia e

independência da teoria, reforçando a noção de

circuitos e de desfronteirização. Todas essas

modalidades de circuito ornamentam o nosso campo,

não apenas a terceira. Podemos responder à

opacidade dos nossos objetos com modelos

matemáticos ou semióticos, podemos apoiar nossa

reflexão em dados que surgem da comparação (como

Lomax), podemos reivindicar a identificação de

narrativas que acompanham e constituem a

experiência-música, e, certamente, tudo será avaliado

a partir da comunidade de sentido que habitamos.

Como feito de linguagem, essa história do feito

composicional me parece semelhante àquela

inesquecível afirmação de Ernst Widmer – “compor

e ensinar a compor são a mesma coisa”. Depois de

muitos anos de experiência com o ensino de

composição, continuo reverenciando essa pérola de

síntese heterodoxa. Isso quer dizer que a pedagogia

do compor não pode ser tratada como algo distinto

do próprio compor – envolvendo organicidade e

relativização (ou inclusividade) – certamente,

exigindo que as pontes (as fronteiras) sejam

repensadas. De forma semelhante, afirmou em 1981

(na SBPC realizada na Bahia), que a crítica seria a

“alavanca que permite o distanciamento necessário

para a expansão da criatividade”. Novamente,

estamos em plena desconstrução de fronteiras, crítica

e criação se fundem num mesmo circuito. Os seus

trabalhos que buscavam uma valoração diferenciada

para a longa duração, diferentes das tendências do

seu tempo – penso aqui nos estudos sobre cláusulas

e cadências, ou sobre falsas relações – ainda merecem

uma discussão mais aprofundada.

IN: No seu texto (‘pretexto’ dessa entrevista),

você fala no prazer e paixão da atividade analítica.

Quando e como você foi ‘seduzido’ pela análise?

PL: Creio que minha primeira experiência de

impacto com o papel da teoria tenha sido o estudo

de História, no curso secundário. Era o Colégio de

Aplicação da UFBA, líamos muito. Deparar com a

noção de mais-valia e luta de classes em plena

ditadura foi algo inusitado e transformador. Parte da

minha infância foi vivida numa região pobre da

cidade – tomando, vez por outra, o ônibus misto da

Liberdade, por onde circulavam pessoas do povo,

vendedores ambulantes, gente e animais convivendo

num mesmo espaço. Ora, isso me fez experimentar

de perto a desigualdade cruel que esta sociedade

gritava (e grita) em alto e bom som. Com essas duas

ferramentas interpretativas, surgia a possibilidade de

entender tudo aquilo como sistema. Há um

empoderamento na descoberta de relações

subjacentes. Creio que isso também aconteceu com a

noção de inconsciente, outro nível que transcende o

meramente visível, trazendo, de alguma forma, a

promessa da lógica dos sintomas. Interesso-me pela

obra de Freud desde os 15 anos; outro vetor terá sido

a leitura orientada de Machado de Assis, o

deslindamento de sua verve irônica radical; ora, tudo

isso acontecia em paralelo ao mergulho na

experiência da música de Bach, Beethoven, Brahms e

mergulhos no repertório sinfônico (como

violoncelista), temperado pelas aventuras dos

compositores da Bahia. Então, de um lado,

experiências de deslindamento e revelação

intelectual, de outro, um mergulho radical no mundo

da sensação sonora e do imaginário da criação

musical – o interesse por teoria e análise parece ter

sido uma consequência lógica dessa situação. O que

se esconde na experiência-música?

O contato com a mágica da criação exercitada

por Ernst Widmer, Milton Gomes, Walter Smetak,

Lindembergue Cardoso, Agnaldo Ribeiro, acabou,

portanto, vinculando-se à esperança de construção

de uma visão sistêmica desse poder de criação de

mundos sonoros. Sendo assim, aprender

contraponto tonal a partir de um método estatístico

como o de McHose, revolucionário na década de 50,

foi uma experiência sui generis de diálogo entre ciência

e música. Aprender a lógica provocadora das

métricas irregulares do Dave Brubeck Quartet, num

curso de Percepção com Ernst Widmer, foi também

inesperado. O ritmo como fio condutor do discurso

de criação – algo que me marcaria pra sempre.

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Outros exemplos: a improvisação musical a partir

dos limites do universo microtonal de Smetak; a

musicologia histórica de um Paul Henry Lang,

exigindo um universo vastíssimo de referências –

guardo na lembrança a afirmação de uma relação

entre a criação da teoria da gravitação e a criação do

sistema tonal. A teoria e a análise já me apareciam

como portais de entrelaçamento de universos

distintos, como certificação da capacidade de

estabelecer relações e voos interpretativos. De tudo

isso, vale ressaltar a ênfase na liberdade e na condição

experimental das disciplinas com seus conteúdos – e

a sedução pela promessa de entender o mundo a

partir de novas bases. O encantamento duplo com

essa verdadeira máquina de gerar tanto ‘economia de

meios’ como exuberância e impacto. O

empoderamento da visão sistêmica.

Na sequência, o contato estimulante com o

pensamento afiado de Herbert Brün, na

Universidade de Illinois. A criação como ferramenta

de emancipação, em diálogo com a historicidade –

Brün fora próximo a Adorno e Brecht. Ele rejeitava

a pergunta ‘o que é composição?’, em favor de outra

mais adequada, ‘quando é composição?’ – atribuindo

assim a todos os agentes o poder de construção da

experiência criativa. Também levantava a voz contra

uma certa ênfase exagerada no papel descritivo da

análise; dizia que não se tratava de responder ‘how he

dit (it)?’ e sim de ‘how he did (what)?’, ou seja,

enfatizando o papel constitutivo do pensamento

crítico, desnaturalizando o papel da análise. Outras

vozes e convívios instigantes no período: Ben

Johnston, Stephen Blum (autor do verbete

Composition no GDDM de 2001), Alexander Ringer e

Richard Cowell, e de forma mais transitória Bruno

Nettl, Salvatore Martirano, Otto Laske.

As décadas de atuação profissional e um prazer

constante do acompanhamento dos campos de

literatura em teoria e análise me pedem que mencione

essa atividade como esperança de acesso (ou

construção) do ‘Das Mehr’ adorniano, aquela

dimensão que transcende os fatos, portanto, como

ferramenta de descoberta interpretativa, como agente

de retardamento do ‘decay of information’. Também

me pedem que mencione a importância dessa

ferramenta de descoberta para a construção

metodológica de tantos e tantos orientandos e

aconselhandos de todas as nossas áreas de

concentração. A falta de maturidade em teoria é

terrível para a saúde das teses e dissertações, em todas

as áreas. O conhecimento em teoria/análise evita um

número enorme de caminhos pueris e inúteis.

Seguindo o binômio proposto por Laske –

example-based versus rule-based composition –,

percebemos que mesmo quando o processo é

baseado em exemplos, mobilizando as ferramentas

da intuição, há um aporte de teoria que passa por

debaixo da ponte, digamos assim. As construções

rítmico-melódicas de Caymmi seriam um bom

exemplo disso. No âmbito da composição que

exercita regras e algoritmos, é difícil pensar a geração

de materiais sem uma conexão com os campos da

teoria; o mesmo vale para a implementação de

processos. Mas, algumas vezes, o próprio nível da

ideia já acontece no campo da teoria. No ciclo da

pesquisa, e não tendo áreas de concentração em

teoria e análise, esses campos geralmente se alinham

ao esforço da construção de metodologia. Para

construir uma explicação sobre a pedagogia do

compor de Ernst Widmer, acabei me envolvendo

com suas estratégias octatônicas – como se o

problema tivesse sido ampliado na direção desse

campo, que agora fornecia ferramentas para a

construção de respostas. Foi possível mostrar que a

valorização do heterodoxo na pedagogia de Widmer

dialogava com essas soluções octatônicas – e com a

própria reconstrução de identidades. A presença

direta da teoria na problematização é algo muito

estimulante, que se espera ver crescer nos próximos

anos.

Vale também lembrar que, nos tempos mais

recentes, a formação em teoria é a forma de acesso

ao nível de inteligência crítica que regula a absorção

(e relacionamento) dos inúmeros discursos críticos

da atualidade. A aproximação com a linguística, com

a narratividade, com a semiótica, com a cognição e

neuromusicologia, com os estudos culturais, ou ainda

o poder de entender as relações entre alturas de

forma sistêmica – quanto fascina o ‘teorema de

Babbitt’ sobre as relações de semelhança entre

conjuntos complementares! – tudo isso passando

pela capacidade de entender o papel e a relevância de

cada uma dessas famílias de discurso. Como

construir uma posição diante do processo um tanto

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estonteante de diversificação de enfoques em teoria e

análise, após a crítica acirrada ao paradigma

estrutural-organicista, na onda dos escritos de Joseph

Kerman? Uma posição que consiga, inclusive, avaliar

a eficácia dos entusiasmos – será mesmo que a

psicanálise sustenta a interpretação de um conflito

edipiano entre Brahms e Beethoven, como interpretou

Susan McClary? O desafio da síntese tem produzido

consequências que vão desde o sonho com métodos

chamados de ‘ecléticos’ – algumas vezes uma

estranha colcha de retalhos – até o atravessamento de

diversos discursos por conceitos transversais (creio

ser o caso de noções como segmentação, gesto,

“esquemas mentais” ou narrativa, entre outras), sem

esquecer que certos discursos podem ambicionar

uma nova coalizão de forças, uma nova centralidade

– penso, de forma específica, nos estudos sobre o

cérebro.

E, claro, a teoria em sua relação umbilical com

a construção de identidades. Que personagem seria

Webern sem esse investimento? E o que dizer dos

orixás, sem uma teoria rítmica embutida nos toques

seculares, a embasar sua presença nos terreiros?

Como tratar desse assunto nesse canto do mundo

que é a Bahia? O espanto ao perceber que o Caboclo

Sete Flechas, entidade do culto aos caboclos, aparece

como personagem de uma cantiga que encena com

os intervalos musicais, a partir de um ciclo

decrescente, o próprio processo de propulsão da

flecha. Saberia teoria esse caboclo? Qual a relação

entre teoria e lugar de fala? Como aceitar o diálogo

com tudo que se produz no mundo, sem afundar

num estado colonizado de perda de identidade? Mais

uma vez, Ernst Widmer deixou um legado

fundamental na esteira dessa pergunta. Nesse ponto,

o encontro de teoria, composição e etnomusicologia

é fundamental para que alguns passos relevantes

sejam dados. Por exemplo, no tradicional tema da

transcrição, hoje menos debatido que antes, tudo isso

vem à tona.

IN: Como se poderia traduzir esses

pensamentos sobre desfronteirização e circuitos de

práticas e teorias em metodologias na classe de

análise musical? E, além disso, considerando que

aprendizagem requer sedução, encantamento, prazer,

e que, por seu lado, a abstração teórica dificilmente

representa uma motivação intrínseca para o jovem

estudante de música, sobretudo ao intérprete, que

estratégias didáticas poderiam ser eficazes para

reverter essa situação tão comum no ensino de teoria

da música, isto é, a falta de motivação pelas classes

teóricas?

PL: Uma pedagogia do desejo sempre terá

ouvidos para auscultar os envolvidos. O cultivo de

uma atitude um tanto ativista, de um movimento na

direção do ‘fazer juntos’ – sempre me pareceu a

melhor forma de garantir autenticidade e

envolvimento dos alunos. Portanto, não se trata de

apresentar teorias e correntes analíticas como

condições prévias – e sim, de cultivar ideias que

exijam a presença desses campos.

Ao buscar consequências dessas questões para

o ensino de teoria e análise musical, em pleno diálogo

com o compor, recolho algumas memórias de

situações que ilustram orientações diversas. Em

2008, dentro de uma disciplina dedicada à Teoria do

Ritmo, fizemos um seminário sobre o conceito de

acento. Tratava-se de ler e discutir os textos de

William Caplin e de Justin London sobre teorias do

ritmo nos séculos XVIII/XIX, e no século XX,

respectivamente, e depois disso recortar e

problematizar a noção de acento – passando por

Lussy, Hauptmann e Riemann como prelúdio para

Meyer, Lerdahl e Kramer –, transformando as

questões identificadas em sementes para a elaboração

de textos e de pequenos experimentos compositivos.

Desde o início da década de 90 ensinava um

seminário sobre teoria do ritmo, mas nesse caso era

imersão total, com leitura dos textos fundamentais da

área a partir de Meyer. Com o seminário sobre a

noção de acento, experimentava-se um modelo de

entrelaçamento da reflexão discursiva (via textos) e

não discursiva (via composições). Em 2009, escolhi a

noção de Ciclos como guia para o nosso Seminário

de Composição. O assunto permitia um rico diálogo

entre temas teórico-analíticos e composicionais e

cabia aos estudantes justamente desbravar esse

terreno, com postagens semanais no site da

disciplina. O tema é amplo, permitindo que os

participantes exercitassem a capacidade de construir

relações, abordagens críticas, especificações e

devaneios composicionais – assim denominávamos

os experimentos de compor. Numa determinada

direção, alguns foram parar nos recursos oferecidos

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Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

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pela condução parcimoniosa de vozes, esmiuçando a

construção de togglings, ou as incursões de Straus

(2005) no terreno da condução (atonal) de vozes.

Outros se interessaram por algo de natureza mais

narrativa – o processo de se afastar e se aproximar de

uma referência escolhida como ponto de partida

temático –, abrindo espaço, por exemplo, para a

reflexão sobre hibridação cultural. Já em 2010,

dedicamos todo um período letivo à comparação

entre enfoques que valorizam a visão top-down (do

todo para as pequenas partes) e enfoques que

valorizam a visão bottom-up (do material, passando

pelo método, para o todo), seguindo as pegadas de

Roger Reynolds. Da mesma forma, teoria e

composição se entrelaçavam de forma provocativa.

Vários textos e obras foram escritos como

consequências dessas experiências. Em 2012 fomos

mais radicais, talvez – o seminário exigia um

mergulho construtivo a partir de duas cláusulas: “Se

isso... então”, colocando em movimento toda a

questão da causalidade (versus contiguidade) no tecido

musical; sendo a outra o famoso “E se...”,

enfatizando o papel da imaginação na construção de

campos e experimentos de composição e de análise.

De forma mais pontual, surgem na memória

algumas outras situações de sala de aula. Lembro da

realização de uma espécie de paredão analítico: uma

discussão de análises distintas de uma mesma obra.

Por exemplo, com a Peça para piano op. 11 n.º 1 de

Schönberg, da qual se pode reunir mais de cinco boas

análises, o exercício se mostrou bastante frutífero.

Cada estudante, ou grupo de estudantes, ficava

encarregado de “defender” sua análise — e também

de tentar “atacar” as outras. Ao final, elegia-se a

análise melhor defendida. As discussões realizadas

foram bastante ricas, mostrando, por exemplo, que

uma análise tonal da ideia inicial da obra — no caso,

a relação de quinta entre a primeira e a última nota

do tema (Si e Mi) — trazia problemas interessantes

para as análises realizadas a partir da teoria dos

conjuntos; como resultado, uma desnaturalização das

correntes analíticas. Na trilha das desfronteiras,

registro a importância de envolver estudantes de pós-

graduação na análise comparativa de interpretações

de uma mesma obra. A importância do nível das

escolhas realizadas pelos diferentes intérpretes passa

a ocupar a cena – basta ouvir Glenn Gould tocando

Chopin para animar a discussão. As interpretações

distintas apontam para leituras distintas de um

mesmo texto. A interpretação como objeto da análise

acaba convocando uma série de conteúdos

propriamente ou tradicionalmente analíticos,

fortificando seu aprendizado. Relativização entre

performance e composição: pedi a um estudante de

composição (que, de preferência, toque violoncelo)

que escolha um determinado movimento de uma das

Suítes de Bach e “componha” uma performance da

mesma (através de gradações de articulação, agógica,

intensidades etc.); pedi, ainda, que pouco a pouco

fosse radicalizando a notação da performance até o

ponto em que “virasse” uma obra diferente. Dessa

forma criamos um continuum entre a execução e a

composição, pelo viés das transformações de

determinados parâmetros escolhidos analiticamente.

As brincadeiras com a Tonnetz riemanniana,

estimulando planejamentos triádicos porém não

necessariamente tonais. Encomendei a um aluno de

final de graduação, estudos para a composição de um

bestiário composicional, fundindo elementos de

culturas as mais distantes (ritmo andino com melodia

irlandesa) – embora o potencial fosse enorme, o

bestiário acabou não avançando. Bach e Candomblé:

o doutorando Vinicius Amaro, cujo objeto tem sido

o estudo do papel composicional do tambor Rum na

trama da música de candomblé e as consequências

disso para um compor contemporâneo, realizou com

êxito, recentemente, um exercício de transposição

dos princípios rítmicos identificados no contexto

afro-baiano para o ambiente de uma conhecida

invenção de J. S. Bach. Música falada e teoria dos

contornos: o doutorando Alex Pochat construiu uma

aproximação deveras interessante entre a teoria dos

contornos e os exemplos de fala colhidos na

tradicional Feira de São Joaquim, em Salvador. Numa

obra acusmática ilustra como a teoria se flexiona em

gestos falados/cantados pelo povo de Salvador. São

algumas lembranças, sempre fiéis ao princípio de que

o ensino de técnica não pode ser separado do cultivo

das ideias a exigirem a utilização de tais técnicas.

IN: Na pedagogia da composição, a aplicação

do produto do aprendizado em atividades de

extensão é uma ferramenta pedagógica utilíssima,

eficientíssima. De que formas isso também poderia

ocorrer na pedagogia da teoria e análise da música,

como estratégia de estímulo e motivação?

Recentemente (durante o congresso de

Page 9: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

Ano 1 no 2 mai. 2017 9 TeMA informativo

Florianópolis), criamos na TeMA um Grupo de

Estudos sobre “Ensino de Teoria e Análise Musical”,

que ainda está se articulando, tanto em formação

quanto em termos de um programa de ação. Que

ideias você daria a esse grupo?

PL: Creio que há sim um grande desafio pela

frente: uma associação recém-criada num ambiente

onde o comércio da atenção é acachapante, onde

mesmo os cidadãos com formação universitária

ignoram repertórios mais densos e inovadores, ou

mesmo enfoques mais densos de repertórios mais

conhecidos, e onde a memória cultural do próprio

País, em geral, vale muito pouco. Como fazer frente

a tudo isso, e ainda evitar a mera reprodução de

práticas que funcionam alhures (em geral no norte do

mundo), em busca de nossos próprios caminhos?

Veja que entendo extensão como algo abrangente.

Como consultor ad hoc, nomeado por essa

pergunta, fico pensando em soluções aparentemente

improváveis. O que aconteceria se criássemos um

concurso nacional de análise (já aí uma novidade),

apoiados por um bom patrocinador – análise como

abordagem crítica – de repertórios que envolvessem

itens consagrados pelo ouvinte? Repertórios como

Tom Jobim, Luis Gonzaga, Villa-Lobos, mas

também Smetak, Rogério Duprat, Tambor de Minas,

manifestações urbanas de hoje – deveria haver uma

rotatividade anual – poderiam desafiar nossos

pretendentes, chamando a atenção para a existência

da nossa Associação. Seria interessante, por exemplo,

mostrar com proficiência que um determinado item

de atenção da indústria cultural pode merecer uma

reflexão diferenciada. É preciso criar outras fontes de

avaliação e referência pública e midiática para além

das tradicionais (e pouco numerosas) associações de

críticos – muito mais voltadas para a cena da

performance do que da reflexão. Trata-se, também,

de um jogo de poder pelo redirecionamento da

atenção na direção que consideramos relevante.

Nos últimos anos tenho dedicado uma certa

quantidade de energia para problematizar e interagir

de forma crítica com canções que são consideradas

pérolas do repertório da chamada música popular

brasileira. Consegui, por exemplo, identificar

estratégias hilárias de construção de sentido cultural

no Gago Apaixonado de Noel Rosa (onde a cadência

final evoca a bravura de uma ária de ópera – o

protagonista além de apaixonado e rejeitado, é gago).

No Só Louco de Caymmi, vejo a possibilidade de

brincar com estratégias da teoria dos conjuntos ou da

análise motívica. Em Wave de Jobim, a partitura

mimetiza o formato de onda, um investimento em

contorno, portanto. Tudo isso, que imagino ter

surgido do meu tempo de cronista no Terra Magazine

(a convite de Bob Fernandes), tem tornado mais fácil

o diálogo sobre teoria e análise com alunos pouco

motivados nessa direção. E também tem propiciado

atuações como comentarista de diversos programas

locais, acionando uma identidade que nem suspeitava

poder construir.

Numa outra frente, é preciso acompanhar a

cena musical brasileira da chamada música de

concerto (expressão que me dá um certo arrepio), e

conseguir produzir material de reflexão sobre o que

vai sendo produzido em tempo real. A programação

de orquestras que trabalham com bastante

antecedência seria um desses focos. A produção da

OSESP, por exemplo, entre outras, pode ser objeto

de atenção diferenciada de membros da nossa

Associação – demonstrando com isso, a relevância

dessa interação. Não duvido que fosse possível

estabelecer um convênio com tais orquestras para a

reprodução desse material crítico. Seria, também, de

grande importância, a mobilização de pensadores do

circuito internacional para o comentário da nossa

produção criativa de ponta. O comércio da atenção,

sua concentração ao norte, também é uma realidade

no mundo acadêmico.

Num terceiro nível, não menos importante, a

sintonia da TeMA com a produção nacional de teses

e dissertações. A premiação das teses e dissertações

avaliadas como contribuição diferenciada em nosso

campo. Numa vertente mais diretamente ligada ao

ensino, proporia a criação de um prêmio para

trabalhos (ensaios, papers) de sala de aula, dando

alguma espetacularidade à relação professor-aluno

em todos os ambientes de ensino de teoria e análise

no Brasil. O concurso poderia ser feito de tal forma

que a proposta pedagógica dos cursos aparecesse nos

trabalhos, sendo também avaliada e premiada. Qual

o melhor curso de contraponto modal do país? Qual

o melhor curso sobre textura?

Page 10: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Entrevista [Paulo Costa Lima] TeMA informativo

Ano 1 no 2 mai. 2017 10 TeMA informativo

Ainda numa outra direção, creio que seria

deveras importante criar um verdadeiro portal da

TeMA, apto a receber intervenções curtas em vídeo

de todos os participantes da Associação, ou de

profissionais por eles indicados – por exemplo, com

muitas das contribuições elencadas acima. Seria um

painel com pequenas amostras dos estudos e

pesquisas em andamento no País, uma breve

apresentação de seus objetivos, relevância e

resultados – e, além disso, uma verdadeira assinatura

digital de cada membro, e portanto, da Associação.

IN: Você considera uma boa ideia “Teoria da

Música” como área de concentração na pós-

graduação stricto sensu em Música no Brasil? Se é,

como poderíamos iniciar a pensá-la de uma forma

ideológica?

PL: Considero uma excelente ideia, e que já

deveria ter sido implementada. Portanto, devemos

nos unir nessa direção! Mas, vale observar, que o

investimento para a instalação dessa capacidade de

pesquisa deve contemplar não apenas o esforço da

formação do pesquisador em Teoria e Análise

Musical, mas também a atuação como centro de

animação e entrelaçamento dos saberes dessa área

com as outras áreas de concentração. Ou seja,

imagino uma área de concentração com um forte

investimento no diálogo com as Musicologias, as

Práticas Interpretativas, a Composição e a Educação

Musical, talvez a mais distante do esforço de

aprofundamento crítico propiciado pela Teoria e

Análise Musical. Outra coisa: seguindo a tradição do

movimento de composição na Bahia, também não

excluiria a possibilidade de áreas de concentração

geminadas, tais como Composição e Teoria da

Música.

IN: Professor Paulo Lima, somos

imensamente gratos pela oportunidade de

debatermos consigo tópicos de grande interesse para

a TeMA e para o ensino da Teoria da Música no

Brasil. E esperamos contar sempre com sua

significativa participação em nossa Associação.

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A revista é uma publicação online da TeMA –

Associação Brasileira de Teoria e Análise Musical, dedicada ao fomento e divulgação de pesquisas nas áreas da teoria e da análise musical.

O regime de submissões é contínuo e seu alcance

é internacional. Estimulamos os pesquisadores a submeter seus textos em inglês ou francês, embora a maioria dos artigos publicados ainda seja em português.

Nos dois números de 2016 a revista já recebeu

contribuições de autores estrangeiros (Antokoletz, Marvin e Bonardi) e contou com o apoio substancial do corpo editorial nacional e internacional que tem sido muito participativo.

Para 2017 está prevista a publicação de dois

números:

2017 (volume 1): data de fechamento de submissões (31 jul. 2017)

Abertura a quaisquer temas pertinentes à área de

teoria e análise musical. 2017 (volume 2): data de fechamento de submissões (5 dez. 2017)

Número temático sobre “Narratividade

Musical” tendo o Prof. Michael Klein, Phd (Temple University, Philadelphia) como editor convidado.

Klein é autor dos livros Intertextuality in Western Art Music (2004), Music and Narrative since 1900 (2012) e Music and the Crises of the Modern Subject (2015). Visitem os números anteriores da Musica Theorica em:

http://tema.mus.br/revistas/index.php/musica-theorica

Rodolfo Coelho de Souza Editor da Revista Musica Theorica (biênio 2016-2018)

REVISTA MUSICA THEORICA Chamadas para submissões em 2017

Page 11: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Em Destaque TeMA informativo

Ano 1 n. 2 mai. 2017 11 TeMA informativo

ASSOCIADOS/COMUNIDADE ACADÊMICA Seleção e promoção por Edson Hansen Sant ’ Ana

PESQUISADORES DA TeMA EXPÕEM SEUS TRABALHOS NA EUROPA (ALEMANHA E FRANÇA)

O pesquisador brasileiro Gabriel Navia (UNILA), no dia 27 de junho próximo, apresentará o trabalho I Know That Chord, but I don't Know What it Does: Towards a Syntactic Understanding of Chords in Popular Music. Este texto foi escrito conjuntamente com o professor costa-riquenho Gabriel Venegas (UCR) e será apresentado na 19TH BIENNIAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF POPULAR MUSIC (IASPM), evento que será sediado, entre os dias 26 e 30 de junho, na Universität Kassel (Alemanha).

Sequentemente, no dia 1 de julho próximo, Gabriel Navia seguirá à Université de Strasbourg (França), onde ocorrerá a 9TH EUROPEAN MUSIC ANALYSIS CONFERENCE (EuroMAC) e apresentará um outro texto intitulado The Role of the Medial Caesura in Schubert's Over-Determined Transitions. Neste mesmo congresso, que estará sendo realizado entre os dias 28 de junho e 1 de julho, outros dois pesquisadores brasileiros – Desirée Johanna Mesquita Mayr (UFRJ) e Carlos de Lemos Almada (UFRJ) – apresentarão o artigo Correlations Between Developing Variation and Genetic Processes in the Analysis of Brahms' Violin Sonata Op. 78 (também no dia 1 de julho). III CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO REGIONAL DA AMÉRICA LATINA E CARIBE (ARLAC-IMS) (1 a 5 ago, 2017. Universidade Católica de Santos - Universidade de São Paulo, Santos, SP)

Inscrição no próprio congresso (1 a 5 de agosto). A inscrição no Congresso custará o equivalente a $50 USD na moeda local, com tarifas reduzidas para membros ARLAC-IMS ($ 40 USD); estudantes pagam $30 USD. O pagamento poderá ser em dólares ou reais, segundo o câmbio do dia da inscrição no Brasil. Não se realizarão inscrições antecipadas, nem por internet.

Sede do III Congresso Universidade Católica de Santos, Campus Dom Idílio José Soares, Av. Conselheiro Nébias, 300 - Santos, SP. Informações fone: 55-16-33159063; 55-11-996566639 site: http://3congreso.arlac-ims.com/ e-mail: [email protected]

A OBTENÇÃO DA LIVRE DOCÊNCIA POR PAULO DE TARSO SALLES (CMU-ECA/USP) COM A TESE INTITULADA ANÁLISE DOS QUARTETOS DE CORDAS DE HEITOR VILLA-LOBOS

A pesquisa de PosDoc de Paulo Salles, sob a supervisão de Paulo Chagas (University of California Riverside, UCR), transcorreu durante um semestre sabático (agosto 2013 a fevereiro 2014). Segundo Salles, “Tratou-se de fato da elaboração final do trabalho, iniciado em 2008. Foram realizadas leituras específicas, aproveitando o acesso a teses microfilmadas e periódicos de difícil acesso no Brasil, mas que puderam ser obtidos com relativa facilidade nos Estados Unidos. Havia ainda uma literatura de semiótica musical que pude ler e discutir com o professor Paulo Chagas, de modo a fundamentar o capítulo final do trabalho que discute a correlação entre estrutura e significado musical. No caso villalobiano, a discussão de significado musical implicou na investigação do caráter nacional em sua obra, usando ferramentas de análise musical associadas com categorias de análise linguística e semiótica.”

“A partir dessa fundamentação teórica, foi feita uma síntese entre teorias de musicólogos brasileiros como Mario de Andrade e Renato Almeida com semiólogos da música como Robert Hatten e Eero Tarasti. Dessa confluência foi elaborada uma classificação de gêneros expressivos de identidade nacional nos quartetos de Villa-Lobos, num fluxo que vai do gênero e chega ao símbolo: gênero expressivo - estilo - tipo estilístico - símbolo (tópicos musicais). Discutiu-se também, segundo a teoria das tópicas, a possibilidade de símbolos

Page 12: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Em Destaque TeMA informativo

Ano 1 n. 2 mai. 2017 12 TeMA informativo

retóricos de identidade nacional converterem-se em tópicos musicais.”

“Outro aspecto prático do trabalho foi a realização de análise de cada um dos 70 movimentos de todos os 17 quartetos de Villa-Lobos, de modo a obter uma visão geral de compasso a compasso. Foram realizadas tabelas com a estrutura formal, classificando forma, gênero, tipos temáticos e funções formais. Foi proposta uma interpretação da sintaxe harmônica do compositor segundo a perspectiva de seu aproveitamento de estruturas simétricas. Foram empregados métodos de análise derivados da teoria dos conjuntos (Forte, 1973 e outros mais recentes) e da teoria neorriemanniana (Lewin, 1982; Cohn, 2012, etc). Discutiu-se a formação de cadências no estilo de Villa-Lobos e sua maneira de adaptar a linguagem de Haydn e da escola francesa (Franck, d'Indy, Debussy).”

“O resultado da pesquisa foi a tese de livre docência Os quartetos de Villa-Lobos: o discurso da Besta, defendida e aprovada em outubro de 2016 na Escola de Comunicações e Artes da USP; o material foi submetido a extensa revisão para publicação em livro pela Edusp, que deverá ocorrer em breve. Durante o pos-doc foi realizada uma palestra (Brazilian Topics in Villa-Lobos’ String Quartets, e apresentado um recital (violão), dedicados a Villa-Lobos e aspectos da música brasileira.” <https://goo.gl/M6jXum> 4º CONGRESSO BRASILEIRO DE ICONO-ICONOGRAFIA MUSICAL (RIDIM-BRASIL 2017) & 2º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM MÚSICA (IAML-BRASIL 2017)

O evento será realizado de 17 a 21 julho de 2017 no Espaço Cultural "Arlindo Fragoso" da Universidade Federal da Bahia (UFBA) sob a temática Música, Imagem e Documentação na Sociedade da Informação.

Incluirá sessões de trabalhos, conferências, palestras, mesas redondas e mini-cursos que serão realizados em Salvador, BA (Brasil).

Programa completo no link:

http://www.ridim-br.mus.ufba.br/4cbim-2iaml-brasil%202017/pt/programme.html

A inscrição será feita no próprio congresso (17 a 21 de julho) ou por meio de formulário a ser obtido no link: <https://goo.gl/oj8iEU>.

A inscrição no Congresso custará: a) Profissionais R$ 150,00; b) Estudantes R$ 80,00; c) Estudantes de pós-graduação com subsídio

(bolsa) ou vínculo empregatício, deverão pagar taxa de profissionais;

d) A taxa de inscrição para o congresso será paga em moeda brasileira (R$ - reais) no balcão de inscrições na entrada do local do congresso. Não serão aceitos cheques.

Sede do Congresso Espaço Cultural Arlindo Fragoso, Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. R. Prof. Aristides Novis, n. 2 - Federação, Salvador - BA, 40210-630. Informações e-mail: [email protected] site: http://www.ridim-br.mus.ufba.br/4cbim-2iaml-brasil%202017/pt/index.html MUSMAT - BRAZILIAN JOURNAL OF MU-SIC AND MATHEMATICS Está aberta a chamada de trabalhos para a MusMat. A primeira edição foi publicada em dezembro de 2016 e reúne artigos brasileiros e estrangeiros sobre formalização de teoria, análise e composição musical a partir de ferramentas e modelos matemáticos. O prazo máximo de envio para as edições de 2017 será 15 de julho. Todos os artigos deverão ser escritos em inglês e seguir as normas de formatação indicadas no site da revista. <https://musmat.org/musmat-journal>

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Ano 1 n. 2 mai. 2017 13 TeMA informativo

Anais em Fotos TeMA informativo

II CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TEORIA E ANÁLISE MUSICAL “TEORIA E ANÁLISE MUSICAL EM PERSPECTIVA DIDÁTICA”

Florianópolis - SC, 3 a 6 de maio de 2017

Sessão de abertura do II Congresso da TeMA. Da esquerda: Prof. Guilherme Sauerbronn, Prof. Acácio Piedade, Profa. Ilza No-

gueira (presidente da TeMA), Profa. Gabriela Mager (CEART/UDESC), Prof. Leonardo Piermartiri (Chefe do Departamento de

Música/UDESC) e Profa. Viviane Beineke (PPG em Música da UDESC). (Foto: Gustavo Fey e Patrick Antunes).

Mesa temática: Música e Narratividade (da esq. à dir.): Profa. Ilza Nogueira, Prof. Acácio Piedade, Prof. Prof. Hernán

Gabriel Vázquez (Universidad de Rosário, AR) e Prof. Rodolfo Coelho de Souza. (Foto: Gustavo Fey e Patrick Antunes).

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Ano 1 n. 2 mai. 2017 14 TeMA informativo

Anais em Fotos TeMA informativo

Prof. Poundie Burstein (CUNY, NY) e público que assistiu sua conferência (Reality and Fantasy in the traditional music theory classroom) no

dia 4 de maio de 2017 no Centro de Artes da UDESC. (Foto: Gustavo Fey e Patrick Antunes).

Conferência de M. A. Roig-Francolí e a plateia que assistiu no Centro de Artes da UDESC. (Foto: Gustavo Fey e Patrick Antunes).

Page 15: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Ano 1 n. 2 mai. 2017 15 TeMA informativo

Anais em Fotos TeMA informativo

Prof. Luiz Henrique Fiaminghi expõe em sessão de comunicações. (Foto: Gustavo Fey e Patrick Antunes).

Concerto no Teatro Álvaro de Carvalho (Duo Piermartiri & Sauerbronn interpretam Marlos Nobre e Guerra Peixe) [Foto:

Gustavo Fey e Patrick Antunes].

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Da Teoria TeMA informativo

Ano 1 n. 2 mai. 2017 16 TeMA informativo

RESUMOS/EMENTAS Algumas sugestões por Gabriel Navia

Livros

Music, Analysis, Experience: New Perspectives in Musical Semiotics Constantino Maeder e Mark Reybrouck (Eds.) (Leuven University Press, 2015)

Criação, ação e experiência desempenham um papel cada vez maior na maneira como compreendemos a música, uma estrutura sonora que afeta o nosso corpo, nossa mente e o mundo em que vivemos. Uma experiência musical integral exige um diálogo transdisciplinar com outros domínios. Music, Analysis, Experience reúne contribuições de pesquisadores da semiótica, ciências cognitivas, filosofia e estudos culturais, bem como intérpretes, e lida com diversas questões fundamentais da área. Abordagens transdisciplinares se encontram com contribuições musicológicas aplicadas à música clássica e pop, à canção latino-americana, ópera e filosofia.

Reconceiving Structure in Contemporary Music: New Tools in Music Theory and Analysis Judy Lochhead (Routledge, 2015)

Este livro estuda a música recente da tradição clássica ocidental, oferecendo uma crítica às abordagens teórico-analíticas atuais e propondo alternativas. Tal crítica aborda a presente condição marginal desta música, às vezes descrita como crossover, pós-moderna, pós-clássica, pós-minimalista, etc. e demonstra que as diversas linguagens descritivas e abordagens analíticas existentes não oferecem as ferramentas adequadas para lidar com este repertório de forma produtiva. Os conceitos e ferramentas existentes foram desenvolvidos principalmente em meados do século XX, em conjunto com a estética modernista, tendo mudado pouco desde então. As correntes estéticas da composição musical, por outro lado, têm estado em constante transformação. Lochhead propõe novas maneiras de conceber as obras musicais, as maneiras como estas estruturam a experiência e o tempo musical, e os procedimentos e objetivos de uma leitura analítica aprofundada. Estas ferramentas definem os procedimentos investigativos que envolvem as diver-sas perspectivas de compositores, intérpretes e ouvintes, e que geram modos conceituais únicos para cada obra.

What Is a Cadence? Theoretical and Analytical Perspectives on Cadences in the Classical Repertoire Markus Neuwirth e Pieter Berge (eds.) (Leuven Univer-sity Press, 2015)

O conceito de fechamento (closure) é crucial para a compreensão da música do período “clássico”. Este volume se debruça sobre o principal meio de conclusão da música tonal: a cadência. Cada um dos capítulos desafia nossa noção de cadência, explorando a grande variedade e complexidade deste procedimento através de ângulos disciplinares distintos, incluindo o analítico, teórico, histórico, psicológico e linguístico.

The Melody of Time: Music and Temporality in the Romantic Era Benedict Taylor (Oxford University Press, 2015)

Desde a era romântica, a música tem sido vista como a arte mais tipicamente temporal, possuindo a capacidade de invocar a experiência humana de tempo. Através da interação de temas e da recorrência de eventos, a música tem a habilidade de transformar de diversas maneiras nossa relação temporal com o mundo, com implicações importantes para as concepções modernas de memória, subjetividade, individualidade, coletividade, e história. Como observado por filósofos, cientistas e escritores, o tempo é algo notoriamente difícil de ser definido. Contudo, a música, relacionada intimamente com a natureza do tempo e ocupante de uma posição privilegiada nas correntes de pensamento do século XIX, pode ser compreendida como liberadora de aspectos da temporalidade humana indisponíveis a outros modos de aproximação. O livro Melody of Time estuda as inúmeras maneiras em que a música se relaciona com as diversas problemáticas do tempo humano. Cada capítulo explora como um tema específico da filosofia do tempo se manifesta através da música: a aparente atemporalidade das últimas obras de Beethoven ou os impulsos nostálgicos da música de Schubert; o uso da música por filósofos como meio de explicar as aporias do tempo ou como meio expressivo das diferentes estruturas temporais; e um reflexo do senso de progresso histórico de uma cultura particular ou da expressão do espírito intangível atrás do curso da própria história da humanidade. Movendo-se entre o contexto cultural e a recepção histórica, teorias filosóficas sobre o tempo e uma leitura aprofundada do repertório, o autor defende a

Da Teoria TeMA informativo

Page 17: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Da Teoria TeMA informativo

Ano 1 n. 2 mai. 2017 17 TeMA informativo

importância contínua de envolvimento com a temporalidade musical para a compreensão da música na sociedade e na experiência humana. Histórico, analítico, crítico e, sobretudo, hermenêutico, The Melody of Time apresenta uma nova visão de muitas obras familiares do século XIX e uma rica base teórica para pesquisas futuras.

Formal Functions in Perspective: Essays on Musical Form from Haydn to Adorno Steven Vande Mortele, Julie Pedneault-Deslauriers, Nathan John Martin (Eds.) (University of Rochester Press, 2015) Dentre as mudanças mais significativas na teoria musical norte-americana está a centralidade que questões relacionadas à forma musical (Formenlehre) têm desfrutado nas últimas décadas. Formal Functions in Perspective apresenta treze estudos que lidam com a forma musical das mais diversas maneiras. Os ensaios seguem a linha cronológica de Haydn e Clementi a Leibowitz e Adorno, discutindo Lieder, árias e música coral, bem como sinfonias, concertos e música de câmara. Trata-se do humor de Haydn e da política de Saint-Saëns, enquanto discute-se obras particulares, abrangendo desde árias de Mozart até “A Noite Transfigurada” de Schoenberg. Unindo todos os ensaios está a noção central de função formal. From Scratch: Writings in Music Theory James Tenney (autor); Larry Polansky e Lauren Pratt (Eds.) (University of Illinois Press, 2015)

Um dos mais importantes pensadores na área da música do século XX, James Tenney realizou um trabalho pioneiro em diversos campos, incluindo a música computacional, a afinação musical, e o algoritmo e composição assistida por computador. O livro traz uma coleção de textos arranjados, editados e revisados pelo próprio teórico/compositor. Os textos selecionados se concentram em uma questão fundamental – “o que o ouvido escuta – e incluem pensamentos e ideias sobre percepção e forma, sistemas de afinação, teoria da informação, espaço harmônico e procedimentos estocásticos de composição. Artigos Uma teoria cognitiva do efeito estético musical Revista Brasileira de Música, v. 28, n. 2, p. 399-418, jul. - dez. 2015. Marcos Nogueira Um formalismo idealista sedimentou a ideia de que o entendimento musical deve ser observado na mera apreensão de uma disposição lógica de eventos musicais

concatenados discursivamente. Assim os modelos formais resultantes de uma análise sintática musical proporcionaram a ilusão da coerência estilística entre as obras desse modo investigadas e cotejadas, assumindo papel central de objeto do entendimento musical. Todavia, se considerarmos como no realismo incorporado que os sentidos da música – assim como quaisquer outros sentidos constituídos em quaisquer campos de conhecimento – nascem de nosso engajamento com o mundo e têm origem nas e a partir de nossas ações sensório-motoras, o entendimento musical é, antes de tudo, entendimento do processo de abstração daqueles modelos formais, e não dos modelos propriamente. Estamos frente à tradicional controvérsia entre uma semântica formal, que em música apontaria diretamente para o campo da referenciação (ideias, expressão linguística, sentimentos, representação, simbolismo), recor-rentemente abordado pela teoria musical da Modernidade, e uma semântica cognitiva, comprometida com o como construímos o sentido musical, ou seja, com o estudo dos processos por meio dos quais organizamos ima-ginativamente os eventos musicais no ato da escuta. Este artigo pretende discutir os processos que constituem uma semântica cognitiva dos efeitos estéticos tonais. “Ad dissonantiam per consonantiam”: the scope and limits of Darius Milhaud’s system of “Polytonalité Harmonique”: the esthetic level (part 1) Revista Brasileira de Música, v. 28, n. 2, p. 265-304, jul. - dez. 2015. Manoel Aranha Corrêa do Lago A partir da Sagração da Primavera de Igor Stravinsky, tornou-se frequente na música do início do século XX a utilização de poliharmonias complexas que, apesar de seu efeito dissonante, apresentam a peculiaridade de serem redutíveis à superposição de acordes consonantes tradicionais, como tríades e “acordes de 7a de dominante”. Em artigo datado de 1923, Darius Milhaud tentou fornecer uma rationale e uma taxonomia para esses “novos acordes” por um sistema de “politonalidade harmônica”. Será argumentado, ao longo deste estudo, que a abordagem de Milhaud poderia ser significativamente enriquecida, por um lado, se entendida como um método com capacidade de gerar “séries não ordenadas” (unordered pitch-class sets) com características muito específicas e que são encontradas com frequência em obras da “fase russa” de Stravinsky, assim como nas de compositores tão diversos quanto Ravel, Ives, Villa-Lobos, Britten ou Messiaen; e por outro, se colocada na perspectiva da teoria da “tripartição” de Molino & Natiez. A primeira parte deste artigo discute os níveis “imanente” e “poiético”. A segunda parte deste artigo foi publicada na Revista Brasileira de Música, v. 29, n. 1, p. 181-215, jan. -jun. 2016.

Page 18: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Da Análise TeMA informativo

Ano1 n. 2 mai. 2017 18 TeMA informativo

RESUMOS/EMENTAS Algumas sugestões por Gabriel Navia

Livros

The Art of Tonal Analysis: Twelve Lessons on Schenkerian Theory Carl Schachter (autor) e Joseph Straus (Ed.) (Oxford University Press, 2016)

Em 2012, Carl Schachter ministrou um seminário para doutorandos do centro de pós-graduação em música da City University of New York (CUNY) no qual falou sobre música e questões musicais que sempre o moveram profundamente. Em The Art of Tonal Analysis, o teórico Joseph Straus apresenta transcrições editadas das aulas que compuseram este seminário. Acompanhado de diversos exemplos musicais, incluindo transcrições de análises apresentadas na lousa da sala de aula e de exemplos musicais demonstrados ao piano, bem como gráficos schenkerianos feitos por Schachter, o livro oferece uma experiência viva da pedagogia de Carl Schachter e sua visão profunda sobre obras centrais do cânone da música tonal.

Computational Music Analysis David Meredith (Ed.) (Springer, 2015)

Este livro oferece um panorama geral do estado atual da pesquisa em análise computacional em música. Seus dezessete capítulos representam a diversidade e, ao mesmo tempo, a sofisticação técnica e filosófica do trabalho que tem sido desenvolvido neste campo altamente interdisciplinar. Diversas abordagens são apresentadas, adotando técnicas que têm sua origem em disciplinas como a linguística, teoria da informação, recuperação de informação, reconhecimento de padrões, aprendizagem automática, topologia, álgebra e processamento de sinais. Muitos dos métodos descritos se baseiam em teorias musicais bem estabelecidas, por exemplo a teoria dos conjuntos de Allen Forte, a análise schenkeriana e a teoria generativa de Lerdahl e Jackendoff.

David Lewin’s Morgengruß: Text, Context, Commentary David Bard-Schwarz e Richard Cohn (Eds.) (Oxford University Press, 2015)

Uma das figuras mais influentes da teoria musical contemporânea, David Lewin (1933-2003) revolucionou o campo através de seu trabalho sobre transformational theory e a metodologia teórica. Este livro apresenta ao grande público, pela primeira vez, o lendário ensaio de Lewin, escrito em 1974, sobre a canção Morgengruß de Franz Schubert, do ciclo Die Schöne Müllerin. Este ensaio foi de suma importância para o trabalho pedagógico de Lewin, e cópias dele circularam informalmente por décadas entre teóricos. Este livro apresenta o texto original acompanhado de mais de 200 ilustrações. A habilidade de Lewin de apresentar um argumento engenhoso e rico, baseado em uma leitura atenta de uma obra curta e simples é apenas uma das maravilhas a serem observadas neste ensaio magistral. Repleto de nuances e amplamente acessível, o texto de Lewin oferece uma visão da composição de Schubert, bem como do processo analítico em si. Além do texto original, este livro inclui também uma pequena coleção de ensaios que buscam interpretar o conteúdo e significado da canção Morgengruß. Baseando-se em pesquisas recentes e reflexões pessoais, os autores exploram os contextos analítico, pedagógico e filosófico do trabalho de Lewin.

Artigos

Desenvolvimento de uma ferramenta computa-

cional para análise harmônica em alto nível de

corais de J. S. Bach

Opus, v. 21, n. 3, p. 209-230, dez. 2015.

Carlos de Lemos Almada O presente estudo aborda o desenvolvimento do

programa Chorale, uma ferramenta computacional

destinada à análise harmônica considerando

especificamente as relações tonais presentes em

Da Análise TeMA informativo

Page 19: TeMA informativo n.2 mai. 2017

Da Análise TeMA informativo

Ano1 n. 2 mai. 2017 19 TeMA informativo

corais a quatro vozes de J. S. Bach. São descritos sua

estrutura básica e seu principal algoritmo, destinado

ao exame das condições contextuais das frases dos

corais, em busca da determinação das regiões tonais

(SCHOENBERG, 1969) envolvidas. Como

resultado principal, o programa gera um gráfico de

contorno que dispõe o caminho tonal (LERDAHL,

2001) presente em um determinado coral analisado,

permitindo comparações com análises de outras

peças, o que, presumidamente, poderá revelar

padrões construtivos no planejamento tonal.

Estética da impureza na análise de duas obras de Gilberto Mendes Revista Música Hodie, v. 15, n.2, 2015, p. 151-166. Rita de Cássia Domingues dos Santos e Teresinha Prada Este artigo apresenta considerações em torno de duas obras de Gilberto Mendes (1922) sob os pressupostos da Estética da Impureza de Guy Scarpetta (1985) cuja teoria sustenta a preponderância da mistura nas obras de arte. Para Scarpetta, a vanguarda primou pela pureza de seus procedimentos, em oposição ao momento seguinte, no qual prevaleceu o manejo da transversalidade das referências. Für Anette (1993) e Issa (1995) foram escolhidas por serem da terceira fase composicional de Mendes, que teria sido marcada pela mistura de processos composicionais ao Minimalismo. É feita uma contextualização do Minimalismo em composições contemporâneas e um exame destas duas obras pelo viés analítico-musical de Warburton (1988), Schoenberg (1991) e Cervo (2005, 2007). Gradações rítmicas no limiar da percepção humana: Atmosphères, de György Ligeti Revista Brasileira de Música, v. 28, n. 2, p. 349-372, jul.

- dez. 2015. Claudio Vitale Neste artigo estudamos um trecho da obra Atmosphères (letra de ensaio C), do compositor György Ligeti. Utilizamos o conceito de gradação como base para nossas interpretações estabelecendo relações com a noção de continuum. Consideramos fundamental este par de conceitos na produção do compositor após sua experiência no Estúdio de

Música Eletrônica de Colônia. De fato, podemos afirmar que a gradação enquanto técnica sustenta frequentemente a sensação de continuum na percepção da obra. Consideramos o estudo de Atmosphères de grande relevância pois é nesta obra que se consolida um tipo de escrita com ampla ressonância nas obras posteriores do compositor. As análises rítmicas tentam mostrar que existe um pensamento similar ao utilizado no campo das alturas. Neste sentido, ideias como gradação ou “cluster com buracos” (continuidade com descontinuidades) podem ser aplicadas tanto no âmbito das alturas quanto do ritmo.

Modelagem sistêmica do Ponteio n. 2 de

Camargo Guarnieri segundo a teoria dos

contornos

Revista Brasileira de Música v. 28, n. 2, p. 331-348, jul. -

dez. 2015. Liduino Pitombeira

Neste trabalho examinamos uma metodologia de

composição por reconfiguração paramétrica

intertextual denominada modelagem sistêmica. Para

esse fim, utilizamos a teoria dos contornos com a

finalidade de determinar um sistema composicional

hipotético para o Ponteio n. 2 de Camargo Guarnieri.

Esse sistema será determinado através da análise de

contorno melódico e de um procedimento de

generalização paramétrica, que possibilitará a

proposição de um modelo para a obra, expresso em

parte por uma função programada em MatLab, e será

a base para o planejamento do segundo movimento

de uma obra para trio de madeiras.

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Neste número, as seções “Da Teoria e “Da

Análise” foram reservadas para a divulgação de livros

e artigos publicados predominantemente durante o

segundo semestre de 2015 no Brasil e no exterior.

Devido ao grande número de artigos sobre teoria

musical e/ou análise publicados em revistas

internacionais, daremos preferência a artigos nacionais,

privilegiando assim nossa própria produção teórico-

analítica.

Sugestões são muito bem-vindas e devem ser

enviadas para o e-mail: [email protected] [.]

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