Tema Redação - Solidao

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O que você pode aprender com a solidão Solidão é a arte do encontro com o vazio existencial. Esse vazio tem duplo sentido. Um é o da existência, da busca de um significado metafísico ; o outro é o da ausência, da perda de algo importante . A liberdade é uma descoberta solitária e por isso muitos tentam evitá-la. A solidão é um sentimento que gera angústia e que nos coloca diante de um portal em um mundo interior onde a chave é o sentido do mundo, o porquê das coisas, as perguntas que fazemos e para as quais não encontramos respostas. A solidão também pode ser uma experiência de transcendência. Em seu livro sobre a Escola da Ponte, de Portugal, o escritor Rubem Alves cita que os mestres zen não pretendiam ensinar coisa alguma na forma como entendemos na educação ocidental. O que desejavam era levar seus discípulos a “desaprender” o que sabiam, a ficar livres de qualquer filosofia. Talvez precisemos também desaprender e permitir despertar a lucidez na solidão . Tudo na vida é um processo de nível de aprendizado, isto é, do interior para o exterior. O psiquiatra Viktor Frankl, criador da logoterapia, ou a terapia do sentido existencial, da esperança, desenvolveu esse método de tratamento nos porões do holocausto nazista em meio à dor, ao sofrimento, à solidão e à morte. A solidão, assim como a doença, pode ser um caminho amadurecido para uma vida melhor. É preciso termos a coragem de aprender com ela e não apenas rejeitá-la. Rejeitar nossa solidão é o mesmo que rejeitar nossos defeitos, nossas misérias humanas . É como se não falássemos em doença e a doença deixasse de existir. Há pessoas que fazem de tudo para evitar falar sobre a solidão, sobre a doença, sobre as misérias humanas . No fundo, é apenas uma tentativa de se evitar o contato com a realidade. O que é solidão? O psicólogo existencial Jadir Lessa cita o seguinte: “O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma em Ser e Tempo que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência. O homem se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. E se torna inautêntico

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O que você pode aprender com a solidão

Solidão é a arte do encontro com o vazio existencial. Esse vazio tem duplo sentido. Um é o da existência, da busca de um significado metafísico; o outro é o da ausência, da perda de algo importante. A liberdade é uma descoberta solitária e por isso muitos tentam evitá-la.

A solidão é um sentimento que gera angústia e que nos coloca diante de um portal em um mundo interior onde a chave é o sentido do mundo, o porquê das coisas, as perguntas que fazemos e para as quais não encontramos respostas. A solidão também pode ser uma experiência de transcendência. Em seu livro sobre a Escola da Ponte, de Portugal, o escritor Rubem Alves cita que os mestres zen não pretendiam ensinar coisa alguma na forma como entendemos na educação ocidental. O que desejavam era levar seus discípulos a “desaprender” o que sabiam, a ficar livres de qualquer filosofia. Talvez precisemos também desaprender e permitir despertar a lucidez na solidão.

Tudo na vida é um processo de nível de aprendizado, isto é, do interior para o exterior. O psiquiatra Viktor Frankl, criador da logoterapia, ou a terapia do sentido existencial, da esperança, desenvolveu esse método de tratamento nos porões do holocausto nazista em meio à dor, ao sofrimento, à solidão e à morte. A solidão, assim como a doença, pode ser um caminho amadurecido para uma vida melhor. É preciso termos a coragem de aprender com ela e não apenas rejeitá-la. Rejeitar nossa solidão é o mesmo que rejeitar nossos defeitos, nossas misérias humanas. É como se não falássemos em doença e a doença deixasse de existir. Há pessoas que fazem de tudo para evitar falar sobre a solidão, sobre a doença, sobre as misérias humanas. No fundo, é apenas uma tentativa de se evitar o contato com a realidade.

O que é solidão? O psicólogo existencial Jadir Lessa cita o seguinte: “O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma em Ser e Tempo que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência. O homem se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. E se torna inautêntico quando interpreta a solidão como abandono, como uma espécie de desconsideração de Deus ou da vida em relação a ele. Com isso abre mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Permanece na vida sendo um coadjuvante em sua própria história.”

O ser autêntico é aquele que responde pela sua vida, o ator principal, o arquiteto de sua própria obra-prima, de sua vida.

O psicoterapeuta Flávio Gikovate cita que a solidão é boa, que ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são como ficar sozinho: ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo.

Dedique um breve instante a fechar os olhos, abrir seu coração e sentir todo o amor que vem de dentro dele, no seu silêncio natural e saudável. Cuide de você.

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HOW TO BEAT LONELINESS

We’ve all felt lonely from time to time. But sometimes, things can get out of hand. Psychologist Guy Winch lays out some straightforward tips to deal with the pain of deep loneliness.

Loneliness is a subjective feeling. You may be surrounded by other people, friends, family, workmates — yet still feel emotionally or socially disconnected from those around you. Other people are not guaranteed to shield us against the raw emotional pain that loneliness inflicts.

But raw emotional pain is only the beginning of the damage loneliness can cause. It has a huge impact on our physical health as well. Loneliness activates our physical and psychological stress responses and suppresses the function of our immune systems. This puts us at increased risk for developing all kinds of illness and diseases, including cardiovascular disease. Shockingly, the long-term risk chronic loneliness poses to our health and longevity is so severe, it actually increases risk of an early death by 26%.

There are many paths to loneliness. Some enter loneliness gradually. A friend moves away, another has a child, a third works a seventy-hour work week, and before we know it our social circle, the one we had relied upon for years, ceases to exist. Others enter loneliness more suddenly, when they leave for college or the military, lose a partner to death or divorce, start a new job, or move to a new town or country. And for some, chronic illness, disability or other limiting conditions have made loneliness a lifelong companion.

Unfortunately, emerging from loneliness is far more challenging than we realize, as the psychological wounds it inflicts create a trap from which it is difficult to break free. Loneliness distorts our perceptions, making us believe the people around us care much less than they actually do, and it makes us view our existing relationships more negatively, such that we see them as less meaningful and important than we would if we were not lonely.

These distorted perceptions have a huge ripple effect, creating self-fulfilling prophecies that ensnare many. Feeling emotionally raw and convinced of our own undesirability and of the diminished caring of others, we hesitate to reach out even as we are likely to respond to overtures from others with hesitance, resentment, skepticism or desperation, effectively pushing away the very people who could alleviate our condition.

As a result, many lonely people withdraw and isolate themselves to avoid risking further rejection or disappointment. And when they do venture into the world, their hesitance and doubts are likely to create the very reaction they fear. They will force themselves to attend a party but feel so convinced others won’t talk to them, they spend the entire evening parked by the hummus and vegetable dip with a scowl on their face, and indeed, no one dares approach — which for them only verifies their fundamental undesirability.

Breaking free of loneliness and healing our psychological wounds is possible, but it involves a decision — a decision to override the gut instinct telling you to stay away and to play it safe by isolating yourself. Instead, you must do three things that require both courage and a leap of faith:

Take action

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Accept that loneliness is impacting your perceptions and understand that people are likely to respond more positively than you expect. If you feel socially disconnected, go through your phone and email address books, and your social media contacts, and make a list of people you haven’t seen or spoken to for a while. If you feel emotionally disconnected, make a list of five people you’ve been close to in the past. Reach out to them and suggest getting together and catching up. Yes, it will feel scary to do so, and yes, you will worry about it being awkward or uncomfortable. That is why it is also important to:

Give the benefit of the doubt

It is fair to assume that someone who enjoyed your company in the past would likely enjoy spending time with you in the present as well. Yes, maybe they’ve been out of touch, maybe they never called after promising to see you soon, but you must accept that the reason they’ve been out of touch or the reason you haven’t been close lately might have nothing to do with you. In all likelihood, it is their busy lives, their competing priorities, stresses or opportunities that led to the “disconnect” between you. In many cases, there might not even be a disconnect — in other words, the reluctance you assume on their part might not even exist. So reach out to the people on your list but remember to:

Approach with positivity

Yes, you fear rejection and yes, you’re not in the best frame of mind, but this is one situation where it might be important to fake it. When contacting the people on your list, try to put yourself into a positive mindset. One safe way to do that is by using text or email so you can use emoticons to create the smiley face you might have a hard time manufacturing on your own face. Review your messages before you send them to make sure they sound appealing. Avoid accusations (“You haven’t called me in months!”) or statements of disconnect (“I know it must be weird to hear from me…”). Express positive sentiment (“Was thinking about you!” or “Miss you!”), an invitation (“Let’s grab coffee,” or “I’d love to get dinner and a catch-up,”) and be specific in terms of time frame (“How’s next week looking?” or What’s a good day this month?”).

Loneliness is extremely painful, but once you recognize the perceptual distortions it causes and the psychological trap it creates, you will be able to marshal your courage, take that leap of faith, and plan your escape. Freedom will be sweet once you do.

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Por que as mentes mais brilhantes precisam de solidão

Segundo o professor Robert Lang, da Universidade de Nevada (Las Vegas), especialista em dinâmicas sociais, muitos de nós acabarão vivendo sozinhos em algum momento, porque a cada dia nos casamos mais tarde, a taxa de divórcio aumenta, e as pessoas vivem mais . A prosperidade também incentiva esse estilo de vida, escolhido na maioria dos casos voluntariamente, pelo luxo que representa. A jornalista Maruja Torres, em sua autobiografia, Mujer en Guerra (da editora Planeta España, não publicada em português), já se vangloriava do prazer que lhe dava cair na cama e dormir sozinha, com pernas e braços em X. A isso se soma a comodidade de dispor do sofá, poder trocar de canal sem ter que negociar, improvisar planos sem avisar nem dar explicações, andar pela casa de qualquer jeito, comer a qualquer hora…

Como se fosse pouco, o sociólogo Eric Klinenberg, da Universidade de Nova York, autor do estudo GOING SOLO: The Extraordinary Rise and Surprising Appeal of Living Alone (ficando só: o extraordinário aumento e surpreendente apelo de viver sozinho, em tradução livre), está convencido de que viver só significa, também, desfrutar de relações com mais qualidade, já que a maioria dos solteiros vê claramente que a solidão é muito melhor que se sentir mal-acompanhado. Há até estudos que asseguram que a solidão facilita o desenvolvimento da empatia. Outra socióloga, Erin Cornwell, da Universidade Cornell, em Ítaca (Nova York), concluiu, depois de diversas análises, que pessoas com mais de 35 anos que moram sozinhas têm maior probabilidade de sair com amigos que as que vivem como casais. O mesmo acontece com as pessoas adultas que, embora vivendo sozinhas, têm uma rede social de amizades tão grande ou maior que a das pessoas da mesma idade que vivem acompanhadas. É a conclusão do estudo feito pelo sociólogo Benjamin Cornwell publicado na American Sociological Review.

A base da criatividade e da inovação

As pessoas são seres sociais, mas depois de passar o dia rodeadas de gente, de reunião em reunião, atentas às redes sociais e ao celular, hiperativas e hiperconectadas, a solidão oferece um espaço de repouso capaz de curar. Uma das conclusões mais surpreendentes é que a solidão é fundamental para a criatividade, a inovação e a boa liderança. Estudo realizado em 1994 por Mihaly Csikszentmihalyi (o grande psicólogo da felicidade) comprovou que os adolescentes que não aguentam a solidão são incapazes de desenvolver seu talento criativo.

Susan Cain, autora do livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking (silêncio: o poder dos introvertidos num mundo que não consegue parar de falar), cuja conferência na plataforma de ideias TED Talks é uma das favoritas de Bill Gates, defende ao extremo a riqueza criativa que surge da solidão e pede, pelo bem de todos, que se pratique a introversão. “Sempre me disseram que eu deveria ser mais aberta, embora eu sentisse que ser introvertida não era algo ruim. Durante anos fui a bares lotados, muitos introvertidos fazem isso, o que representa uma perda de criatividade e de liderança que nossa sociedade não pode se permitir. Temos a crença de que toda criatividade e produtividade vem de um lugar particularmente sociável. Só que a solidão é o ingrediente essencial da criatividade. Darwin fazia longas caminhadas pelo bosque e recusava enfaticamente convites para festas.

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Steve Wozniak inventou o primeiro computador Apple sentado sozinho em um cubículo na Hewlett Packard, onde então trabalhava. Solidão é importante. Para algumas pessoas, inclusive, é o ar que respiram.”

Cain lembra que quando estão rodeadas de gente, as pessoas se limitam a seguir as crenças dos outros, para não romper a dinâmica do grupo. A solidão, por sua vez, significa se abrir ao pensamento próprio e original. Reclama que as sociedades ocidentais privilegiam a pessoa ativa à contemplativa. E pede: “Parem a loucura do trabalho constante em equipe. Vão ao deserto para ter suas próprias revelações”.

A conquista da liberdade

“Só quando estou sozinha me sinto totalmente livre. Reencontro-me comigo mesma e isso é agradável e reparador. É certo que, por inércia, quanto menos só se está, mais difícil é ficá-lo. Mesmo assim, em uma sociedade que obriga a ser enormemente dependente do que é externo, os espaços de solidão representam a única possibilidade se fazer contato novamente consigo. É um movimento de contração necessário para recuperar o equilíbrio”, diz Mireia Darder, autora do livro Nascidas para o Prazer (Ed. Rigden, não publicado em português).

Também o grande filósofo do momento, Byung-Chul Han, autor de A Sociedade do Cansaço (Ed. Relogio D’Agua, de Portugal), defende a necessidade de recuperar nossa capacidade contemplativa para compensar nossa hiperatividade destrutiva. Segundo esse autor, somente tolerando o tédio e o vácuo seremos capazes de desenvolver algo novo e de nos desintoxicarmos de um mundo cheio de estímulos e de sobrecarga informativa. Byung-Chul Han preza as palavras de Catão: “Esquecemos que ninguém está mais ativo do que quando não faz nada, nunca está menos sozinho do que quando está consigo mesmo”.

Autoconsciência e análise interior

“Para mim a solidão representa a oportunidade de revisar nosso gerenciamento, de projetar o futuro e avaliar a qualidade dos vínculos que construímos. É um espaço para executar uma auditoria existencial e perguntar o que é essencial para nós, além das exigências do ambiente social”, diz o filósofo Francesc Torralba, autor de A Arte de Ficar Só (Ed. Milenio) e diretor da cátedra Ethos da Universidade Ramon Llull. Na solidão deixamos esse espaço em branco para ouvir sem interferências o que sentimos e precisamos. “A solidão nos dá medo porque com ela caem todas as máscaras. Vivemos sempre mantendo as aparências, em busca de reconhecimento, mas raramente tiramos tempo para olhar para dentro”, diz Torralba.

As 5 chaves para desfrutar da solidão

1. Você é sua melhor companhia. A premissa básica é mudar a crença de que quem está acompanhado está melhor.

2. Uma oportunidade para nos conhecermos melhor e descobrir nosso rico mundo interior.

3. Em vez de se torturar, é preciso aproveitar a solidão para ler, pintar ou praticar esporte.

4. Escrever um diário. Ajuda a expressar sentimentos e a contemplar-se com mais conhecimento e carinho.

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5. Como indica o psicólogo Javier Urra, com a solidão recuperamos “o gosto pelo silêncio e pelo domínio do tempo”.

Na verdade, a solidão desperta o medo porque costuma ser associada ao vazio e à tristeza, especialmente quando é postergada longamente por uma atividade frenética e anestesiante. Para Mireia Darder, é bom enfrentar esse momento tendo em mente que a tristeza resulta simplesmente do fato de se soltar depois de tanta tensão e de ter feito um esforço enorme para aparentar força e suportar a pressão frente aos que nos cercam. “Não se pode esquecer que para ser realmente independente é preciso aprender a passar pela solidão. O amor não é o contrário da solidão, e sim a solidão compartilhada”, diz Darder.

Em nossa sociedade, a inatividade —que surge com frequência da solidão— é temida e desperta a culpa. Fomos preparados para a ação e para fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas é quando estamos sozinhos que podemos refletir sobre o que fazemos e como o fazemos. O escritor Irvin Yalom, titular de Psiquiatria na Universidade de Stanford, confessava que desde que tinha consciência se sentia “assustado pelos espaços vazios” de seu eu interior. “E minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de outras pessoas. De fato detesto os que me privam da solidão e além disso não me fazem companhia.” Algo que, segundo Francesc Torralba, é muito frequente: “Embora estejamos cercados de gente e de formas de comunicação, há um alto grau de isolamento. Não existe sensação pior de solidão que aquela que se experimenta ao estar em casal ou com gente”.