TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos...

29
TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA Tratamento cirúrgico das lesões na região do seio cavernoso Helder Tedeschi • Evandro de Oliveira • Wen Hung Tzu • Albert L. Rhoton Jr. 3

Transcript of TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos...

Page 1: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIATratamento cirúrgicodas lesões na região

do seio cavernoso

Helder Tedeschi • Evandro de Oliveira • Wen Hung Tzu • Albert L. Rhoton Jr.3

Page 2: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

SONESP – SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA 2002 - 2004Evandro de Oliveira

PresidenteMilton K. Shibata

Vice-PresidenteAdriano Yacubian Fernandes

2o Vice-PresidenteSergio Listik

SecretárioRodrigo Ferrari

2o SecretárioEmílio Fontoura

TesoureiroJosé Paulo Montemor

2o TesoureiroCOMISSÃO CIENTÍFICAAlmir Ferreira de Andrade

Felix Hendrik PahlGuilherme Carvalhal Ribas

Helder TedeschiJosé Carlos Esteves Veiga

José Oswaldo de Oliveira Jr.Mário Augusto Taricco

Nelci ZanonCOMISSÃO DE DEFESA PROFISSIONAL

Cid Célio Jayme CarvalhaesClemente Augusto de Brito PereiraFrancisco Carlos de Andrade Neto

Maurício Martins BaldissinModesto Cerioni Jr.

Ricardo BotelhoCOMISSÃO DE SINDICÂNCIA E JULGAMENTO

Alexandre MarinhoAntonio Ronaldo SpottiCarlos Gilberto CarlottiCarlos Tadeu P. Oliveira

Marcelo Ferraz de CamposRoberto Rojas Franco

CONSELHO DELIBERATIVOAntonio Fernandes Ferrari

Aziz Rassi NetoBenedicto Oscar Colli

Fernando Menezes BragaFrancisco Carlos de Andrade Neto

Juan Oscar Alarcon AdornoLuiz Alcides Manreza

Luiz Antonio Araújo DiasMiguel Giudicissi Filho

Roberto Colichio GabarraSECRETARIA PERMANENTE DA SONESP

Rua Leandro Dupret, 204 cj. 52CEP 04025-010 – São Paulo, SP

Telefax: (11) 5083-61194

Page 3: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

Expediente

Diretor-presidente: Paulo Lemos • Projeto editorial e gráfico: Lemos Publicidade •Contato comercial: (11) 3371-1871 • Distribuição de livros: (11) 3371-1872Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista – São Paulo, SP – CEP 01326-010Telefax: (11) 3371-1855 • E-mail: [email protected]

5

Page 4: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

APRESENTAÇÃO

Os autores deste fascículo de Temas Atuais de Neurocirurgia têm contribuído muito, em nosso meio,para o conhecimento da anatomia microcirúrgica do seio cavernoso e adjacências, desde meados dadécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das lesões originadas nessaregião se tornasse prática comum em vários serviços de neurocirurgia no Brasil.

Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas vias mais utilizadas para o acesso cirúrgico aessa complexa região são apresentados de forma clara, concisa e bem ilustrada. As vantagens, desvantagense dificuldades encontradas em alguns desses acessos cirúrgicos são discutidos.

Milton K. ShibataEditor

Maio 2004

6

Page 5: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

4

*Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.** Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, SP, Brasil.*** Universidade da Flórida, Gainesville, Flórida, EUA.

Tratamento cirúrgico das lesões na regiãodo seio cavernoso

Helder Tedeschi*, ***Evandro de Oliveira*,***Wen Hung Tzu**,***Albert L. Rhoton Jr.***

A cirurgia para lesões que têm origem no seiocavernoso e em suas vizinhanças constitui umgrande desafio aos neurocirurgiões. Dolenc foi oprimeiro a descrever de maneira compreensiva epasso a passo o acesso cirúrgico do seio cavernoso.Desde então, o conhecimento da anatomia cirúr-gica do seio cavernoso e de sua circunvizinhançaexpandiu-se entre os neurocirurgiões e possibilitouo desenvolvimento das modernas técnicas decirurgia dedicada às lesões da base do crânio.O conhecimento das relações da artéria carótidainterna com o processo clinóide anterior na por-ção anterior do seio foi crucial para a cirurgia dosaneurismas paraclinóideos. O mesmo é válido paraa cirurgia dos aneurismas originados no topo daartéria basilar no que diz respeito às relações entrea carótida interna, o nervo oculomotor e o pro-cesso clinóide posterior na porção posterior do seiocavernoso. O crescente conhecimento da anato-mia topográfica da artéria carótida interna (ACI)e de suas relações tridimensionais com os ossos,a dura-máter, os espaços venosos e os nervoscranianos do seio cavernoso mudou dramatica-mente a atitude do neurocirurgião diante da cirur-gia do seio cavernoso. Apesar de ainda ser objetode considerável discussão, o acesso cirúrgico diretode lesões com origem no seio cavernoso e regiãoparasselar ou adjacente a estes tornou-se práticacomum em centros especializados.

Neste artigo, revisamos a anatomia envolvidacom a cirurgia do seio cavernoso e discutimos asvantagens e desvantagens de uma série de acessoscirúrgicos desenvolvidos para superar as dificul-dades encontradas durante a cirurgia desta com-plexa região.

Em termos gerais e para propósitos práticos,revisamos os dois acessos cirúrgicos mais comu-mente usados para o seio cavernoso: o acesso supe-rior (o qual pode ser subdividido em uma viaanterior e outra posterior) e a via extradural lateral.O acesso cirúrgico para aneurismas paraclinóideose o acesso pré-temporal orbitozigomático transca-vernoso para aneurismas do topo da basilar tam-bém foram revisados.

ANATOMIA MICROCIRÚRGICA

Os seios cavernosos são formados pelos folhetosdurais que recobrem o corpo do osso esfenóide nabase do crânio. Os nervos oculomotor e troclear ea primeira e a segunda divisões do nervo trigêmeocursam dentro da camada dural da parede lateraldos seios. A ACI e o nervo abducente cursam pelosespaços venosos dos seios cavernosos. O espaçorelativamente confinado dos seios cavernosos fazcom que a remoção completa de uma lesão compreservação da função de todas essas importantesestruturas neurais e vasculares torne-se um desafio

7

Page 6: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

5

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

A B

formidável. Apesar de a anatomia da região do seiocavernoso ter sido bem descrita na literatura mé-dica, o conhecimento adequado desta complexaarquitetura só pode ser alcançado com o estudoem espécimes cadavéricos.

Relações ósseas e durais

Os seios cavernosos encontram-se em cada ladoda sela túrcica e do corpo do osso esfenóide e sãoformados pelos folhetos durais da base craniana.As asas maiores do osso esfenóide projetam-se late-ralmente anterior e inferior aos seios.

O processo clinóide anterior está situado nolimite medial da asa menor do esfenóide, na porçãoanterior do teto do seio cavernoso, e forma aparede lateral do limite intracraniano do canalóptico. O processo clinóide anterior é normalmentesólido, mas pode estar pneumatizado e comu-nicar-se com o seio esfenoidal na parede medialdo seio cavernoso. O processo clinóide médio ésituado lateralmente ao tubérculo da sela. Umaponte óssea formando um verdadeiro forame ósseoao redor da ACI pode conectar os processosclinóides anterior e médio. O processo clinóideposterior é situado na porção posterior do teto doseio cavernoso, no aspecto superior e lateral dodorso selar. A porção central do corpo do esfe-nóide, chamada de fossa pituitária, está situadaentre os seios cavernosos.

Os seios esfenoidais estão normalmente situa-dos na porção inferior do corpo do osso esfenóide.Eles podem variar em tamanho e forma e, às vezes,se comunicam com um processo clinóide anteriorpneumatizado (Figuras 1 e 2).

A tenda do cerebelo se adere aos processosclinóides anterior e posterior e ao ápice petrosoformando três ligamentos durais: o ligamentopetroclinóideo anterior, que se estende do processoclinóide anterior ao ápice petroso; o ligamento pe-troclinóideo posterior, que se estende da clinóideposterior ao ápice petroso; e o ligamento intercli-nóideo, que se estende entre os processos clinóidesanterior e posterior. Esses ligamentos formam umaárea triangular na porção posterior do teto do seiocavernoso chamada de trígono oculomotor, pormeio da qual o nervo oculomotor penetra no seiocavernoso (Figura 2).

A dura-máter que do teto do seio cavernosoestende-se lateralmente em sentido inferior paraformar a parede lateral dos seios cavernosos e paracobrir o assoalho da fossa craniana média.Medialmente, a dura-máter estende-se pela selasobre a glândula pituitária para formar o diafragmaselar. Do nível do quiasma óptico, cada ner voóptico projeta-se anterior e lateralmente emdireção ao plano esfenoidal para entrar no canalóptico, medial ao processo clinóide anterior esúpero-medial à ACI. Anteriormente, a dura-máterenvolve o processo clinóide anterior e, medial-mente, cobre o nervo óptico à medida que ele entrano canal óptico formando um ligamento dural,chamado de ligamento falciforme, na borda doplano esfenoidal (Figuras 2A, 5A e 5B). O espaçoocupado pelo processo clinóide anterior é chamadode espaço clinóideo1,2.

A dura-máter forma um colar ao redor daporção vertical ascendente da ACI, chamado deanel dural distal, no nível em que a artéria sai doseio cavernoso3,4 (Figuras 2 a 11). Os nervos quecorrem na parede lateral do seio cavernoso sãoenvolvidos por uma camada reticular que seestende medial e inferiormente e é contínua coma camada dural periostal da fossa média e da selatúrcica. Anteriormente, essa camada reticularestende-se do nervo oculomotor até a porção late-ral da ACI, para formar o verdadeiro teto do seiocavernoso (Figura 8A).

Relações neurais

Os nervos oculomotor e troclear e a primeira esegunda divisões do nervo trigêmeo cursam na pa-rede lateral do seio cavernoso, e o nervo abducentecursa dentro dos espaços venosos desse seio (Figu-ras 2 a 4 e 8). O nervo oculomotor tem sua origemaparente na fossa interpeduncular e cursa anteriore lateralmente para entrar na parte posterior do tetodo seio cavernoso, lateral ao processo clinóide pos-terior, em um espaço chamado de trígono oculomo-tor. Após penetrar na parte posterior do teto doseio cavernoso, o nervo oculomotor corre na porçãosuperior da parede lateral do seio. Ao nível do es-paço clinóideo, o nervo oculomotor passa abaixodo processo clinóide anterior, antes de sair do seiocavernoso pela fissura orbitária superior.

O nervo troclear tem origem aparente na mar-gem inferior do colículo inferior. Ele rodeia o tronco

8

Page 7: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

6

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

encefálico no seu curso e, ao nível da margem pos-terior do pedúnculo cerebral, passa abaixo da bordado tentório para entrar no teto do seio cavernoso,posterior e lateralmente ao nervo oculomotor. Cur-sando na parede lateral do seio, a princípio inferior-mente ao nervo oculomotor, ele sai do seio caver-noso pela fissura orbitária superior. No ápice dafissura, assume uma posição superior em relaçãoao nervo oculomotor antes de entrar na órbita.

O nervo trigêmeo emerge da ponte e cursa emdireção anterior e lateral sobre o ápice petroso paraentrar no cavo de Meckel. A divisão oftálmica donervo trigêmeo corre na parede lateral do seiocavernoso, inferior e lateralmente ao nervo troclear,e sai do seio pela fissura orbitária superior. A divi-são maxilar forma a margem inferior e lateral doseio cavernoso e cursa inferior e lateralmente à divi-são oftálmica. A divisão maxilar sai do crânio peloforame redondo.

O nervo abducente emerge do tronco encefálicoao nível do sulco bulbopontino. Ele se projetaanterior e superiormente, penetra na dura-máterdo clivus e ascende em direção ao seio cavernosoentremeado no plexo venoso basilar. Na sua ascen-são em direção ao seio, o nervo abducente passapelo canal de Dorello, que se situa entre o liga-mento petroclinóideo e a superfície superior doápice petroso (Figuras 2 a 4 e 8). O nervo abdu-cente penetra no espaço venoso do seio cavernosoem posição medial à primeira divisão do nervotrigêmeo e lateral às porções ascendente posteriore horizontal da ACI. Ao nível do seio cavernoso,as fibras simpáticas que envolvem a ACI deixam aartéria e cursam, primeiro, com o nervo abducentee, depois, com a divisão oftálmica do nervo trigê-meo, e entram na órbita pela fissura orbitáriasuperior (Figura 3).

Relações arteriais

A porção intracavernosa da artéria carótidacomeça quando esta ascende do forame lácero emdireção ao processo clinóide posterior (Figura 3).Neste ponto, a artéria é envolvida pelo periósteoque recobre o canal carotídeo e por um tecidoconectivo fibroso que fixa esta porção da artéria àbase do crânio (ligamento petrolingual). A porçãoascendente inicial da artéria carótida intracaver-nosa é chamada de segmento vertical posterior.

Este segmento termina no local onde a artériavolta-se anteriormente, formando uma curva cha-mada de alça posterior, antes de assumir um cursohorizontal dentro do seio cavernoso. A porção ho-rizontal cursa em direção à porção anterior do seio,onde ela faz uma curva em sentido superiorchamada de alça anterior. Distal à alça anterior, aartéria continua para cima para formar o segmentovertical anterior. O segmento vertical anterior passamedial e inferiormente ao processo clinóide ante-rior para penetrar no teto do seio cavernoso. A por-ção do segmento vertical anterior que se localizamedialmente ao processo clinóideo é chamado desegmento clinóideo. A ACI supraclinóidea entrano espaço subaracnóideo em posição medial e infe-rior ao processo clinóide anterior.

Os ramos da artéria carótida intracavernosa depresença mais constante são: o tronco meningo-hipofisário, o maior dos ramos intracavernosos;a artéria do seio cavernoso inferior; e a artéria cap-sular de McConnel. Menos freqüentemente, aartéria oftálmica pode ter origem no seio caver-noso e passar pela fissura orbitária superior antesde atingir a órbita. Artérias trigeminais persis-tentes podem ter origem no segmento vertical pos-terior da artéria carótida intracavernosa e passarinferiormente através da parede posterior do seiopara se juntar à artéria basilar, entre as origens dasartérias cerebelar superior e cerebelar anterior einferior.

O tronco meningo-hipofisário normalmenteorigina-se do aspecto posterior do terço central daalça posterior da artéria carótida intracavernosa,ao nível do dorso da sela. Ele freqüentemente dáorigem a três ramos: a artéria tentorial, a artériameníngea dorsal e a artéria hipofisária inferior.Origens separadas dos três ramos também podemser encontradas.

A artéria tentorial, ou artéria de Bernasconi-Cassinari, é o ramo mais constante do troncomeningo-hipofisário. Ela passa posterior e late-ralmente ao teto do seio cavernoso e ao longo daborda livre do tentório, emitindo ramos para adura-máter do tentório e do dorso da sela e parao terceiro e quarto nervos cranianos. Em casosnos quais a artéria tentorial é ausente, um ramoda artéria do seio cavernoso inferior, chamadade artéria tentorial marginal, pode ser encon-

9

Page 8: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

7

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

trado correndo posteriormente ao longo da bordado tentório.

A artéria meníngea dorsal origina-se do troncomeningo-hipofisário e cursa em direção posterior,abaixo do ligamento petroclinóideo, para suprir adura-máter do clivus superior e do dorso da sela.Ela se anastomosa com seu par do lado oposto eemite um ramo para o nervo abducente no seutrajeto dentro do canal de Dorello. Freqüente-mente, a artéria meníngea dorsal origina-se dire-tamente da artéria carótida.

A artéria hipofisária inferior passa medial-mente à porção posterior do lobo e da cápsulapituitária. Após suprir a dura-máter do assoalhoda sela, a artéria hipofisária inferior se anasto-mosa com seu par do lado oposto. O suprimentoarterial para o lobo anterior da hipófise é providopelas artérias hipofisárias superiores, que sãoramos do segmento oftálmico da porção supracli-nóidea da ACI.

A artéria inferior do seio cavernoso, ou troncoínfero-lateral, normalmente origina-se do terçomédio e nas superfícies inferior ou lateral dosegmento horizontal da artéria carótida intraca-vernosa. Ela corre lateralmente, normalmenteacima do nervo abducente, e inferiormente, emposição medial à divisão oftálmica do ner votrigêmeo, para suprir a dura-máter da paredeínfero-lateral do seio cavernoso e os nervos rela-cionados à parede lateral do seio. Esta artériatambém supre a área ao redor dos forames oval eespinhoso e pode se anastomosar com ramos daartéria meníngea média. As artérias capsulares deMcConnell originam-se do aspecto medial dosegmento horizontal e são distribuídas às porçõesanterior e inferior da glândula pituitária e à dura-máter do assoalho selar.

Segmento clinóideo daartéria carótida interna

O chamado segmento clinóideo da ACI é con-tínuo ao segmento vertical anterior da artéria eestá relacionado intimamente com o processoclinóide anterior (Figuras 1 e 5). Medial ao pro-cesso clinóide anterior, ele está situado no seiocavernoso5. O segmento clinóideo da ACI é ro-deado por dois anéis distintos.

O anel mais proximal, a membrana carótido-oculomotora1, é uma membrana conectiva tênueque envolve o segmento vertical anterior da ACIe forma o verdadeiro teto do seio cavernoso. Eleestende-se do nervo oculomotor à porção lateralda artéria carótida, através do intervalo entre aartéria e o nervo oculomotor, e finalmente até oprocesso clinóide posterior. Esta membrana separao conteúdo venoso do seio cavernoso do espaçovirtual ocupado pelo processo clinóide anterior.Lateralmente, a membrana carótido-oculomotoraé contínua com o revestimento reticular internoque envolve os nervos que correm na parede lateraldo seio cavernoso.

A dura-máter que cobre a base do crânioestende-se anteriormente até o processo clinóideanterior e firmemente envolve a ACI na suaentrada ao espaço subaracnóideo, para formar oanel distal. A dura-máter que forma o anel distalé contínua medialmente com a dura-máter dodiafragma da sela e, lateralmente, com a dura-máter que envolve a processo clinóide anterior.A remoção do processo clinóide anterior e a sec-ção do anel distal são passos importantes paraproporcionar um local para clipagem temporáriae controle proximal do sangramento arterial, alémde permitir uma melhor visualização da porçãoproximal do colo de aneurismas desta região.

Relações venosas

Os seios cavernosos comunicam-se anterior-mente com o seio esfenoparietal, a veia oftálmicasuperior e a veia silviana superficial. Lateralmente,os seios cavernosos comunicam-se com os seios queacompanham a artéria meníngea média na fossamédia e podem se comunicar com o plexo pteri-góide por um forame esfenoidal emissário. Dentroda sela, os seios cavernosos estão conectados entresi pelos seios intercavernosos anterior e posterior.Os seios cavernosos estão conectados posterior-mente pelo seio basilar, que repousa na superfíciedo dorso da sela e do clivus. Os seios cavernososcomunicam-se posteriormente com os seios petro-sos superior e inferior (Figura 4).

De acordo com o curso da artéria carótidadentro do seio cavernoso, os espaços venosos dosseios cavernosos podem variar em tamanho eforma. Estes espaços estão normalmente localizados

10

Page 9: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

8

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

em situação lateral, medial, ântero-inferior e pós-tero-inferior à artéria carótida intracavernosa.

ACESSOS CIRÚRGICOS

Devido ao fato de a maioria das lesões do seiocavernoso distorcer a anatomia normal, é de fun-damental importância que o cirurgião tenha umconhecimento global tridimensional das relaçõesnormais das estruturas do seio cavernoso. O ma-nejo cirúrgico de tais lesões deve ter como objetivoprimário o tratamento do processo patológico compreservação das funções.

Houve diversas tentativas para definir o melhoracesso a diferentes áreas do seio cavernoso. Combase nos espaços anatômicos normais, várias janelascirúrgicas foram descritas3,4,6-10 . Apesar de elegan-tes, esses acessos foram apenas uma amostra dasmuitas vias possíveis pelas quais o seio cavernosopode ser abordado.

Para simplificar, nós revisamos os dois acessoscirúrgicos mais comumente utilizados para explo-rar o seio cavernoso normal: o acesso superior (quepode ser subdividido em uma via anterior e umaposterior) e a via lateral extradural.

Em uma seção separada, também revisamos oacesso cirúrgico para aneurismas paraclinóideos eo acesso pré-temporal órbito-zigomático transca-vernoso para aneurismas do topo da basilar.

Acesso superior

O acesso superior pela via anterior (Figuras 2,5 e 8) envolve a remoção da asa do esfenóide e doprocesso clinóide anterior e a abertura do canalóptico3,4. A cirurgia é realizada por meio de umacesso pterional usual. A asa do esfenóide, asporções superior e lateral da parede da órbita e oprocesso clinóide anterior são removidos cuida-dosamente.

Se o processo clinóide for removido pelo espaçoextradural, sua exposição cirúrgica pode ser am-plamente facilitada incisando-se os primeiros cen-tímetros do revestimento dural do aspecto lateralda fissura orbitária superior. A remoção do pro-cesso clinóide anterior é realizada por meio do usointermitente de brocas com ponta diamantada sobirrigação contínua, no intuito de afinar suas pare-des e facilitar a remoção. A manobra de maneira

intermitente tem como objetivo minimizar a mani-pulação da clinóide anterior durante a sua remoçãopara evitar lesões às estruturas relacionadas aoespaço clinóideo – o nervo oculomotor, o nervoóptico e o segmento clinóideo da ACI. O liga-mento falciforme é, em seguida, seccionado e oteto do canal óptico removido. As células etmoi-dais e esfenoidais situam-se medialmente ao canalóptico na região do plano esfenoidal e devem serpreservadas durante a abertura do canal para evi-tar fístula liquórica. O processo clinóide anteriorpode estar pneumatizado e comunicante com oseio esfenoidal.

Após a remoção óssea ser completada, a dura-máter é aberta. A incisão começa seguindo-se aimpressão dural da borda do esfenóide em direçãoà fissura orbitária superior e depois em direção ao es-paço clinóideo, onde a incisão muda de direção paraseguir medialmente, expondo-se as porções extradu-ral e intradural do nervo óptico e o trajeto ex-tradural e intradural da ACI (Figura 6).

Com o canal óptico aberto, a bainha dural queenvolve o nervo óptico é incisada ao longo do as-pecto lateral do nervo, tomando-se o cuidado de nãolesar a artéria oftálmica que é aderida intimamente àbainha do nervo óptico em seu curso lateral abaixodo aspecto inferior do nervo óptico. Para isso, o nervoóptico pode ser deslocado medialmente, permitindoa identificação segura da artéria oftálmica.

O anel dural distal ao redor da artéria carótidaé incisado completamente, e o segmento clinóideoda ACI é desnudado de sua cobertura pela mem-brana carótido-oculomotora. Esta manobra permitea livre mobilização do segmento vertical anterior.Neste ponto, qualquer sangramento do seio caver-noso pode ser controlado com material hemostá-tico. O tamponamento excessivo deve ser evitado,pois pode provocar, inadvertidamente, estenose daartéria carótida dentro do seio cavernoso.

Após a membrana carótido-oculomotora seraberta e o anel dural ser incisado, a exposição podeseguir posteriormente entre o nervo oculomotor ea porção horizontal da carótida intracavernosa.Os espaços venosos do seio cavernoso podem seracessados medialmente à carótida cavernosa oulateralmente à artéria entre a carótida intracaver-nosa e o nervo oculomotor (Figuras 7 e 8).

11

Page 10: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

9

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 1 – Espécimes ósseos mostram as relações no ápice orbitário e osso esfenóide. A: Visão superior da região selar e dafissura orbitária superior. B: Visão anterior pela órbita. 1, canal óptico; 2, fissura orbitária superior; 3, pilar óptico; 4, processoclinóide anterior; 5, processo clinóide posterior.

Figura 2 – Dissecação anatômica mostra as vias cirúrgicas para o seio cavernoso. A: Visão superior: o seio cavernoso ainda nãoestá aberto . B: Via superior (parte anterior): o processo clinóide anterior foi removido e o canal óptico foi descoberto paramostrar o segmento clinóideo da artéria carótida interna (ACI). C: A área ao redor da entrada do nervo oculomotor no trígonooculomotor foi dissecada para mostrar a extensão posterior da via cirúrgica pelo aspecto superior do seio cavernoso. A dura-máterfoi dissecada no aspecto lateral do seio cavernoso e da fossa média para mostrar a via extradural lateral ao seio. 1, nervo óptico; 2,processo clinóide anterior; 3, artéria carótida interna; 4, glândula pituitária; 5, processo clinóide posterior; 6, nervo oculomotor; 7,trígono oculomotor; 8, artéria oftálmica; 9, seio esfenóide; 10, pilar óptico; 11, segmento clinóideo da ACI; 12, anel dural; 13,nervo troclear; 14, divisão oftálmica do nervo trigêmeo; 15, divisão maxilar do nervo trigêmeo; 16, divisão mandibular donervo trigêmeo; GG, gânglio gasseriano.

BA C

BA

12

Page 11: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

10

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 3 – Nervos cranianos e ramos ar teriais da artéria carótida intracavernosa. Visão pelo aspecto lateral do seio cavernoso.O processo clinóide anterior e a dura-máter da parede lateral do seio cavernoso foram removidos. O nervo trigêmeo foicortado e o gânglio de Gasser refletido anteriormente para expor o tronco arterial ínfero-lateral. 1, nervo óptico; 2, artériacarótida interna (ACI); 3, anel dural; 4, segmento clinóideo; 5, membrana carótido-oculomotora; 6, trígono oculomotor;7, borda do tentório; 8, segmento horizontal da ACI; 9, curvatura posterior; 10, tronco ínfero-lateral; 11, ACI intrapetrosa;12, ligamento petroclinóideo; 13, ar téria oftálmica; 14, fibras simpáticas; 15, ligamento petrolingual; AB, artéria basilar;GG, gânglio gasseriano; TMH, tronco meningo-hipofisário; ACP, artéria cerebral posterior; ACS, artéria cerebelar superior;III, nervo oculomotor; IV, nervo troclear; VI, nervo abducente.

Figura 4 – Dissecação anatômica dos canais venosos na base do crânio. 1, seio petroesfenoidal; 2, seios intercavernosos;3, plexo venoso basilar; 4, seio petroso superior; 5, seio petroso inferior; 6, seio sigmóide; CS, seio cavernoso.

13

Page 12: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

11

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 5 – Dissecação passo a passo do aspecto anterior do seio cavernoso do lado esquerdo, mostrando o segmento clinóideoda ar téria carótida interna (ACI). A: A dura-máter sobre o processo clinóide anterior, teto da órbita e canal óptico foi removida.B: O osso foi removido para expor a periórbita, o aspecto superior do canal óptico e da bainha óptica e o seio esfenóide. C: Abainha óptica foi aber ta e o nervo óptico deslocado superiormente para expor a origem da ar téria oftálmica. O anel dural aoredor da ACI foi cortado parcialmente e a membrana carótido-oculomotora e o segmento clinóideo da ACI foram expostos.A dura-máter da fossa média foi r emovida para expor os nervos que correm na parede lateral do seio cavernoso . 1, ligamentofalciforme; 2, nervo óptico; 3, processo clinóide anterior; 4, ACI; 5, glândula pituitária; 6, processo clinóide posterior; 7, paredelateral do seio cavernoso; 8, trígono oculomotor; 9, bainha óptica; 10, seio esfenóide; 11, periórbita; 12, artéria oftálmica; 13,ar téria hipofisária superior; 14, membrana carótido-oculomotora; 15, anel dural; 16, fissura orbitária superior; 17, segmentoclinóideo da ACI; III, nervo oculomotor; IV, nervo troclear; GG, gânglio gasseriano .

A CB

Figura 6 – Aneurisma paraclinóideo da artéria carótida interna (ACI) com projeção superior. A: Angiografia digital esquerda pré-operatória com subtração. B : Exposição cirúrgica por meio de uma craniotomia pterional esquerda com remoção do teto da órbita.1, aspecto lateral da fissura orbitária superior; 2, segmento clinóideo da ACI; 3, pilar óptico; 4, nervo óptico extradural; linhatracejada – incisão dural. C: Visão intra-operatória após a abertura dural e remoção do processo clinóide anterior. D: Visão intra-operatória após a clipagem do aneurisma. NO, nervo óptico; AO, artéria oftálmica; SC, segmento clinóideo; AD, anel dural; Na, aneurisma.

C

D

A

B

14

Page 13: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

12

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 8 – Dissecação anatômica do seio cavernoso. A: A lâmina externa da dura-máter na base do crânio que cobre o seiocavernoso nos seus aspectos superior e lateral foi removida para expor a lâmina reticular interna que dá supor te aos nervos quecorrem na parede do seio. No espaço clinóideo, a lâmina externa é separada da lâmina interna pelo processo clinóide anterior,enquanto, na região do trígono oculomotor, as duas lâminas estão unidas. B: A lâmina reticular foi removida com o conteúdovenoso do seio e a primeira divisão do nervo trigêmeo foi deslocada inferiormente para mostrar o nervo abducente.

A B

Figura 7 – Aneurisma paracli-nóideo com projeção inferior. A:Angiografia digital pré-operatóriadireita com subtração . B: Visão

intra-operatória após a aber tura dural e remoção do processo clinóide anterior. C: Visão intra-operatória após clipagem temporáriada ar téria carótida interna (ACI) e esvaziamento do saco aneurismático. D: O aneurisma foi clipado com clipes fenestrados. E:Angiografia digital pós-operatória com subtração mostra o fechamento do aneurisma. no, nervo óptico; sc, segmento clinóideo;ad, anel dural; na, aneurisma; ao, artéria oftálmica.

A C

E

B D

15

Page 14: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

13

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 9 – Caso ilustrativo de adenoma pituitário invadindo o seio cavernoso operado por meio de um acesso transcavernosorealizado através da via superior. A: Corte coronal de RMN em T1, pós-gadolínio, pré-operatória, de um macroadenomaprodutor de ACTH com invasão do seio cavernoso esquerdo. B: Exposição cirúrgica da porção intradural do tumor por meiode uma craniotomia pterional esquerda e ampla abertura das cisternas. C: Visão intra-operatória após r essecção do teto docanal óptico e r emoção do processo clinóide anterior. D: O anel dural é seccionado ao redor da artéria carótida interna (ACI)e o nervo oculomotor é seguido até sua entrada no trígono oculomotor, incisando-se a dura-máter da parede lateral do seiocavernoso. As porções anterior e posterior da via superior estão unidas e a extensão do tumor para dentro do seio pode serremovida completamente. E: Material hemostático é aplicado . F: Corte coronal de RMN em T1, com gadolíneo, pós-operatória,mostra r emoção do componente intracavernoso do tumor. 1, nervo óptico esquerdo; 2, ACI esquerda; 3, nervo oculomotor;4, segmento clinóideo da ACI; 5, anel dural; 6, trígono oculomotor; 7, nervo óptico direito; 8, ACI direita; 9, haste pituitária;Tu, tumor.

E

F

D

C

B

A

16

Page 15: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

14

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 10 – Caso ilustrativo de tumor produtor de GH com extensão para o seio cavernoso operado por meio de acesso transcavernosodirecionado através da via superior. A: Corte axial de RMN em T1, pré-operatória, de tumor localizado na região do trígono oculomotor.B: Exposição cirúrgica da região do seio cavernoso intradural por meio de uma craniotomia pterional direita com ampla abertura dascisternas. C: O canal óptico foi descoberto e o processo clinóide anterior foi removido, restando parte do pilar óptico. D: A bainha do nervoóptico foi incisada longitudinalmente e o anel dural externo foi parcialmente seccionado. E: A dura-máter da parede lateral envolvendo onervo oculomotor é seccionada imediatamente medial ao nervo, desde sua entrada no trígono oculomotor e em direção à fissura orbitáriasuperior. A dura-máter da parede lateral é então rebatida lateralmente, tracionando o nervo oculomotor lateralmente e o tumor é abordadoatravés das partes anterior e posterior da via superior e removido completamente. F: Peça anatômica mostrando correlação com os achadosintra-operatórios. 1, processo clinóide anterior; 2, nervo óptico; 3, artéria carótida supraclinóidea; 4, nervo oculomotor; 5, nervo ópticoextradural; 6, pilar óptico; 7, espaço superior (clinóideo); 8, anel dural externo; 9, segmento clinóideo após remoção da membrana carótido-oculomotora; 10, glândula pituitária; 11, dorso selar; 12, dura-máter da porção posterior do espaço superior; 13, artéria basilar.

B

F

E

DA

C

17

Page 16: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

15

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

C

Figura 11 – Dissecação passo a passo do seio cavernoso peloaspecto lateral da fossa média. O processo clinóide anterior e oosso que recobre o nervo óptico foram removidos para expor osegmento clinóideo da artéria carótida interna (ACI). Osso posteriorà divisão mandibular do nervo trigêmeo foi removido para expora porção intrapetrosa da ACI. 1, canal semicir cular superior;2, gânglio geniculado; 3, cóclea; 4, porção intrapetrosa da ACI;5, nervo petroso superficial maior; 6, músculo tensor do tímpano;7, artéria meníngea média; 8, tenda do cerebelo; V1, divisão oftálmicado nervo trigêmeo; V2, divisão maxilar do nervo trigêmeo; V3,divisão mandibular do nervo trigêmeo; SPS, seio petroso superior.

F igura 12 – Dissecação anatômica mostra a via cirúrgicaextradural lateral ao seio cavernoso . A: Uma craniotomiaorbitozigomática à dir eita foi realizada e a dura-máter sobre olobo temporal foi r etraída para expor a cober tura dural da fissuraorbitária superior e o ramo maxilar do nervo trigêmeo. B:Retração foi realizada em direção à base do lobo temporal paraexpor V1 e V2, e a artéria meníngea média foi cor tada noforame espinhoso . C: O osso foi removido com drill na fossamédia para expor a artéria carótida interna (ACI) intrapetrosa,o nervo petroso superficial maior (NPSM) e o gângliogeniculado. D: Todo o seio cavernoso foi exposto, a dura-máter

foi aberta e o processo clinóide anterior foi removido para expor o segmento clinóideo da ACI. E: Visão aproximada damesma exposição. 1, periórbita; 2, cober tura dural da fissura orbitária superior; 3, divisão maxilar do nervo trigêmeo;4, músculo temporal; 5, ar téria meníngea média; 6, divisão mandibular do nervo trigêmeo; 7, ACI intrapetrosa;8, NPSM; 9, gânglio geniculado; 10, gânglio gasseriano; 11, divisão oftálmica do nervo trigêmeo; 12, nervo troclear;13, nervo oculomotor; 14, segmento clinóideo da ACI; 15, ACI supraclinóidea; 16, ACI intracavernosa; 17, artériaoftálmica; 18, nervo óptico.

D

B

A

E

18

Page 17: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

16

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 13 – Caso ilustrativo de schwanoma de trigêmeo de fossa média operado por via extradural lateral. A: Tomografiapré-operatória. B: Uma craniotomia orbitozigomática à dir eita foi realizada e a dura-máter sobre o gânglio gasseriano foi descolada.C: O tumor foi exposto entre as fibras de V1 e V2. D: O tumor foi retirado completamente. E: Visão ampla do acesso após aretirada do tumor. F: Tomografia pós-operatória mostra remoção completa do tumor. 1, periórbita; 2, fissura orbitária superior;3, divisão maxilar do nervo trigêmeo; 4, forame espinhoso; 5, divisão mandibular do nervo trigêmeo; 6, gânglio gasseriano;7, artéria carótida interna intrapetrosa; 8, leito tumoral; Tu, tumor.

F

E

D

A

B

C

19

Page 18: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

17

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 14 – Caso ilustrativo de menigeoma do seio cavernosooperado por via extradural lateral. A: Corte axial de RMN emT1, com gadolíneo, pré-operatória, de meningeoma invadindo oseio cavernoso esquerdo . B: Uma craniotomia orbitozigomáticaà esquerda foi realizada. C: O processo clinóide anterior foir emovido para expor o espaço clinóideo e a dura-máter foidescolada da fossa média para expor o gânglio gasseriano. D: Visãoampliada da exposição cirúrgica após a r emoção do tumor. E : Corte axial de RMN em T1, com gadolíneo, pós-operatóriomostra a r emoção do tumor. 1, periórbita; 2, dobra dural; 3, dura-máter do lobo temporal; 4, dura-máter do lobo frontal;cp , processo clinóide posterior; no, nervo óptico; sc, segmento clinóideo da artéria carótida interna; fos, fissura orbitáriasuperior; GG, gânglio gasseriano; V2, divisão maxilar do nervo trigêmeo; V3, divisão mandibular do nervo trigêmeo; III,nervo oculomotor.

C

D

E

B

A

20

Page 19: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

18

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 15 – Caso ilustrativo de adenoma pituitário operadopor via combinada intradural e extradural lateral. A: Cor tecoronal de RMN em T1, pré-operatório de adenomainvadindo o seio cavernoso direito. B: Uma craniotomiaorbitozigomática à direita foi realizada e a dura-máter sobrea parede lateral do seio cavernoso foi descolada. O processoclinóide anterior foi r emovido para expor o segmentoclinóideo da ar téria carótida interna (ACI) e a dura-máterfoi aber ta para expor o tumor completamente. C: O tumorfoi removido completamente através dos aspectos anterior esuperior do teto do seio cavernoso. D: O nervo troclear e aprimeira divisão do nervo trigêmeo foram retraídoslateralmente para expor todo o curso da ACI dentro do seio

cavernoso e sua relação com o nervo abducente. E: Cor te coronal de RMN em T1, pós-operatório mostra a remoção do tumore seu leito preenchido por tecido gorduroso. 1, periórbita; 2, nervo óptico extradural; 3, nervo óptico intradural; 4, segmentoclinóideo da ACI; 5, nervo troclear; 6, nervo oculomotor; 7, ACI supraclinóidea; 8, anel dural; 9, segmento clinóideo da ACI;10, ACI intracavernosa; 11, nervo abducente; V1, divisão oftálmica do nervo trigêmeo; V2, divisão maxilar do nervo trigêmeo;V3, divisão mandibular do nervo trigêmeo; ds, dorso selar; Tu, tumor.

EB

C

DA

21

Page 20: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

19

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 16 – Caso ilustrativo de meningeoma do seio cavernoso operado por via extradural lateral. A: Cor te coronal de RMNem T1, com gadolíneo, pré-operatório de meningeoma invadindo o seio cavernoso direito. B: Uma craniotomia orbitozigomá-tica à direita foi r ealizada e a dura-máter sobre a parede lateral do seio cavernoso foi descolada. C: O processo clinóide anteriorfoi removido para expor o segmento clinóideo da artéria carótida interna (ACI) e a ACI intrapetrosa foi exposta na fossa média.D: Visão ampliada da exposição cirúrgica. E: A ACI foi sacrificada e removida com o tumor. F: Corte coronal de RMN em T1,com gadolíneo, pós-operatório mostra a remoção do tumor. 1, periórbita; 2, fissura orbitária superior; 3, divisão maxilar donervo trigêmeo; 4, divisão mandibular do nervo trigêmeo; 5, processo clinóide anterior; 6, nervo troclear; 7, nervo ópticoextradural; 8, segmento clinóideo da ACI; 9, ACI intrapetrosa; 10, clip na ACI intrapetrosa; 11, divisão oftálmica do nervotrigêmeo; 12, nervo oculomotor.

A

B

C

D

E

F

22

Page 21: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

20

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Figura 17 – Caso ilustrativo de aneurisma de topo da basilaroperado por um acesso transcavernoso. A: Angiografia digitalcom subtração da ar téria vertebral direita mostra um aneu-risma de topo de basilar. B: Visão intra-operatória por meiode uma craniotomia orbitozigomática esquerda e amplaaber tura das cisternas. O canal óptico foi descoberto e oprocesso clinóide anterior foi removido. C: A artéria carótidainterna (ACI) foi deslocada medialmente para expor o processoclinóide posterior e a fossa interpeduncular. D: A dura-mátersobre o processo clinóide posterior foi r emovida e o seiocavernoso penetrado através da região do trígono oculomotor.

O sangramento venoso do seio cavernoso foi controlado com material hemostático . E: O processo clinóide posterior foi removido.F: A dura-máter do clivus superior foi cortada e o aneurisma foi exposto na fossa interpeduncular. G: Angiografia digital comsubtração da artéria vertebral direita mostra oclusão completa do aneurisma do topo da basilar. 1, nervo óptico extradural; 2,segmento clinóideo da ACI; 3, nervo óptico intradural; 4, porção supraclinóidea da ACI; 5, trígono oculomotor; 6, nervooculomotor; 7, glândula pituitária; 8, dura-máter do clivus superior; 9, artéria basilar; 10, aneurisma do topo da basilar.

A

B

CG

F

E

D

23

Page 22: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

21

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

Através desta via, pode-se conseguir uma boavisibilização do nervo óptico e da artéria caró-tida tanto no espaço intradural quanto extradural.Os aspectos clinóideo anterior e lateral do seg-mento vertical anterior da ACI e a artériaoftálmica são bem visibilizados. Por meio decuidadosa mobilização da artéria carótida, a selae os espaços s i tuados super ior, media l elateralmente à porção horizontal dessa artéria bemcomo a origem da artéria do seio cavernosoinferior são identificados. O segmento verticalposterior é pouco visualizado.

A exposição do espaço clinóideo pode serestendida até descobrir a parte posterior do tetodo seio cavernoso (via posterior) (Figuras 2 e 8 a10). O nervo oculomotor é identificado e disse-cado do trígono oculomotor até a fissura orbitá-ria superior. Afastando-se lateralmente o nervooculomotor, todo o curso da artéria carótida in-tracavernosa é exposto, a glândula pituitária podeser encontrada medialmente e a clinóide posteriore o dorso da sela podem ser encontrados poste-riormente. Para evitar lesões ao nervo oculomotor,é preferível manter sua cobertura dural ao invésde dissecá-la. O nervo abducente pode tambémser exposto. A identificação intracavernosa dosoutros nervos cranianos é difícil em virtude de suaslocalizações na parede lateral do seio.

Acesso extradural lateral

A rota lateral primeiramente descrita porParkinson10 foi realizada de maneira intradural.Após a identificação do nervo oculomotor notriângulo oculomotor, a camada dural externa éincisada lateralmente ao processo clinóide pos-terior, 4 mm do ponto onde o nervo oculomo-tor desaparece, e o seio cavernoso é penetradoentre o nervo troclear e a primeira divisão donervo trigêmeo.

Uma ampla exposição pode ser conseguida pormeio de um acesso lateral extradural, tambémconhecida como peeling da fossa média (Figuras11 a 16). Por meio de uma exposição pré-temporalou uma craniotomia órbito-zigomática, o aspectomais lateral da fissura orbitária superior é exposto.A parede lateral e o teto da órbita são removidosaté que seja possível a visibilização da segunda

divisão do nervo trigêmeo na emergência doforame redondo. Após a artéria órbito-meníngea– um ramo da artéria meníngea média que vai paradentro da órbita – ser coagulada e cortada, a tendadural sobre a fissura orbitária superior é incisadae cuidadosamente dissecada da porção anterior daparede lateral do seio cavernoso. Esta manobraexpõe os nervos oculomotor, troclear e a primeiradivisão do nervo trigêmeo.

À medida que a dissecação prossegue em dire-ção posterior, a dura-máter é descolada do ossotemporal para atingir o forame espinhoso e expora artéria meníngea média, que é coagulada e cor-tada. A cobertura externa de dura-máter é entãodissecada do seio cavernoso, expondo-se a segundae a terceira divisões do quinto nervo e o gângliode Gasser. O curso do nervo petroso maior superfi-cial, ao longo da fissura petroesfenoidal, pode serbem visibilizado medialmente à artéria meníngeamédia e posteriormente à terceira divisão do nervotrigêmeo. A artéria carótida intrapetrosa pode serexposta dentro do osso petroso cursando para-lela e inferiormente ao nervo petroso maior super-ficial. Às vezes, a carótida intrapetrosa não temcobertura óssea neste local.

Após a identificação extradural dos nervoscranianos III, IV e V, o seio cavernoso pode serabordado de várias maneiras. O espaço entre onervo troclear e a primeira divisão do trigêmeo,conhecido como triângulo de Parkinson, pode daracesso à superfície lateral dos segmentos verti-cal posterior e horizontal da carótida intracaver-nosa. O tronco meningo-hipofisário e a artéria doseio cavernoso inferior também podem ser vistos.Através deste acesso, os espaços venosos poste-rior e superior, anterior e inferior e lateral do seiopodem ser penetrados. Este espaço triangular podeser alargado deslocando-se a divisão oftálmica donervo trigêmeo inferiormente e levantando-se gen-tilmente o nervo troclear. Esta manobra melhoraa exposição e permite a identificação do nervoabducente. Por causa das variações anatômicas,normalmente difíceis de se prever antes da cirurgia,o triângulo de Parkinson, na maioria das vezes,proporciona apenas uma exposição limitada dasestruturas intracavernosas. Outras vias para entrarno seio cavernoso através da parede lateral podemincluir o espaço entre os nervos oculomotor e

24

Page 23: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

22

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

troclear e, em uma exposição mais anterior, entreas divisões oftálmica e maxilar do nervo trigêmeo11.Nesta última exposição, se a divisão oftálmica fordeslocada superiormente, o nervo abducente, oespaço venoso anterior e inferior e a curvatura an-terior da artéria carótida intracavernosa podemser vistos. O espaço entre as divisões maxilar emandibular do nervo trigêmeo também pode serutilizado, apesar de se tratar de espaço limitadona anatomia normal. Extensões tumorais para ocompartimento intradural são abordadas abrin-do-se a dura-máter e seccionando-se o tentório(Figuras 14 a 16).

ACESSO CIRÚRGICO AOSANEURISMAS PARACLINÓIDEOS

Além do grande avanço no tratamento de tumo-res, o conhecimento da anatomia microcirúrgicado seio cavernoso foi de extrema importância notratamento de lesões vasculares que se originamna chamada região paraclinóidea. Provavelmente,nenhuma outra área tenha se beneficiado tantocom o trabalho pioneiro de Dolenc3,4 quanto ocampo da neurocirurgia vascular. O conhecimentodo segmento clinóideo da artéria carótida intraca-vernosa e das estru turas adjacentes, adquiridopelo trabalho de Dolenc, trouxe um grande avançoao tratamento dos aneurismas paraclinóideos. Otrabalho de Dolenc tornou a cirurgia dessas lesõesum procedimento mais seguro.

Aneurismas que se originam do segmento oftál-mico da artéria carótida são lesões de difícil acesso.Muitos desses aneurismas originam-se do aspectosúpero-medial da ACI e estão em estreita relaçãocom a origem da artéria oftálmica. Esses aneu-rismas podem se projetar superiormente ou supe-rior e medialmente à artéria carótida interna enormalmente deslocam o nervo óptico superior emedialmente (Figura 6). Em outras circunstâncias,o aneurisma pode ter sua origem nos aspectosinferior e ínfero-medial da artéria carótida (Figura7) e projetar-se inferiomente para a região parasse-lar ou medialmente nas proximidades do quiasmaóptico. Devido ao fato comum de esses aneurismasatingirem grandes dimensões antes do diagnósticoe muitos deles apresentarem colos largos, a iden-tificação do local de origem desses aneurismas naartéria pode ser difícil.

O segmento oftálmico da ACI mantém íntimarelação com o nervo óptico e com o processoclinóide anterior. Aneurismas que se originamdeste segmento são chamados paraclinóideos12,13

porque, independentemente de suas projeções, ocolo de tais aneurismas está geralmente relacionadoao processo clinóide anterior. A remoção do pro-cesso clinóide anterior e a secção do anel distaldural são importantes passos no acesso a aneuris-mas paraclinóideos.

No local de entrada no canal óptico, na bordado plano esfenoidal, o nervo óptico é encobertosuperiormente por uma membrana dural chamadaligamento falciforme. Os aneurismas do segmentooftálmico tendem a deslocar o nervo óptico contrao ligamento falciforme à medida que eles se pro-jetam superior e medialmente.

Devido ao fato de a avaliação angiográfica for-necer apenas indicações indiretas sobre aspectosanatômicos da ACI e do colo do aneurisma, aspossibilidades de clipagem direta do aneurisma sãodifíceis de se prever antes da intervenção cirúrgica.Às vezes, grandes lesões têm, surpreendentemente,pequenos colos que não poderiam ser suspeitadospela angiografia.

Baseados em nossa experiência, somos favorá-veis ao acesso extradural com remoção do processoclinóide anterior, como descrito por Dolenc3,4 paramuitos casos, especialmente para aneurismasgrandes e gigantes. Por meio de uma craniotomiafronto-temporoesfenoidal clássica, as paredes late-ral e superior da órbita são removidas para exporcompletamente a fissura orbitária superior. Como auxílio de uma fresa de alta rotação, as paredessuperior e medial do canal óptico e do processoclinóide anterior são removidas cuidadosamente.Esta manobra expõe o segmento clinóideo da ACIe permite a mobilização medial do nervo óptico.Além disso, para promover melhor perspectivaanatômica tridimensional do curso da ACI e seusegmento clinóideo em relação às estruturas in-tradurais, a ressecção óssea extensa do acessoextradural permite um campo cirúrgico relativa-mente mais amplo que aquele proporcionado peloacesso intradural.

Antes da craniotomia, as artérias carótidascomum, interna e externa são expostas no pescoço

25

Page 24: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

23

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

e preparadas para clipagem temporária. Comomedida de controle proximal de sangramento, aexposição da artéria carótida no pescoço é umprocedimento mais seguro que sua exposição noosso petroso, pois as variações anatômicas naexposição da artéria no osso petroso são difíceisde se prever.

Apesar de o acesso extradural ser comum emnossa prática, ele pode ser modificado para seajustar a cada caso específico. Para aneurismasoftálmicos verdadeiros (Figura 6) (por exemplo,aneurismas com projeções superior e súpero-me-dial), o acesso extradural pode ser combinadocom ressecção intradural do processo clinóideanterior sob visão direta do aneurisma, já que, àsvezes, um colo largo pode penetrar no espaçoclinóideo. Da mesma maneira, para aneurismascom projeção látero-superior, o fundo do aneu-risma pode estar sendo pressionado contra oprocesso clinóide anterior, fazendo com que suar emoção extradural seja particularmente arris-cada. Ultimamente, nós abordamos todos osaneurismas paraclinóideos pequenos, indepen-dentemente de suas projeções, por meio de umavia pterional com remoção intradural do processoclinóide anterior, após ampla abertura das cis-ternas basais.

No acesso extradural clássico, a dura-máter éaberta após o processo clinóide anterior ser remo-vido e o canal óptico ser aberto. A incisão duralinicia-se seguindo-se a veia silviana superficialem direção à fissura orbitária superior e, então, emdireção ao espaço clinóideo. No espaço clinóideo,a incisão muda de direção para seguir medial-mente, expondo as porções extra e intradural donervo óptico e o trajeto extra e intradural da ACI.Após a dura-máter ser aberta, as cisternas silvianae basal são amplamente dissecadas para minimizara retração cerebral e para obter controle distal dosangramento arterial.

A bainha dural que envolve o nervo óptico éincisada cuidadosamente ao longo do aspectolateral do nervo, com atenção para não lesar aartéria oftálmica que é intimamente aderida àbainha do nervo óptico no seu trajeto lateralabaixo do aspecto inferior do nervo. O nervoóptico pode então ser deslocado medialmente,permitindo a identificação da artéria oftálmica e

do colo proximal do aneurisma. O segmentoclinóideo da ACI é desnudado de sua coberturapela membrana carótido-oculomotora e pre-parado para clipagem temporária. O sangramentodo seio cavernoso pode ser controlado preen-chendo-o com material hemostático. O anel distaldural ao redor da artéria carótida é incisado com-pletamente para permitir a livre mobilização dosegmento vertical anterior. Esta manobra é deextrema importância para isolar a parte proximaldo pescoço do aneurisma e para se certificar dolocal exato para colocação do clipe.

Para aneurismas que se projetam superior-mente ou superior e medialmente, a incisãocompleta do anel dural evita a estenose do vasoapós a aplicação do clipe, como é de se esperarse a parede inferior da artéria estiver fixa à dura-máter da base do crânio. Uma situação seme-lhante no que se refere à secção do anel duralocorre com aneurismas de projeções inferior eínfero-mediais (Figura 7). Estes aneurismas nor-malmente apresentam colos largos que se esten-dem ao nível do anel dural, fazendo com que suaincisão seja obrigatória para a correta colocaçãodo clipe e completo fechamento do colo doaneurisma. Se os aspectos proximal e inferior docolo do aneurisma não estiverem livres da ade-rência ao anel dural e se a parte inferior do seg-mento vertical anterior da ACI não estiver devi-damente isolada, o fechamento completo do clipe,sem causar estenose ou dobra do vaso adjacente,é raramente conseguido.

Após obter espaço suficiente na exposiçãoproximal do colo do aneurisma, freqüentementecolocamos um clipe fenestrado reto angulado,direcionado de proximal para distal para ocluir aparte proximal do colo. Em seguida, de acordocom a situação, a artéria é reconstruída com o usode clipes de vários tipos.

A clipagem temporária do segmento clinóideoe da ACI distal, abaixo do nível da artéria comu-nicante posterior, permite o esvaziamento do sacoaneurismático antes dos clipes definitivos seremaplicados (Figura 7C). Nós somos a favor de umby-pass de alto fluxo quando um tempo prolon-gado de clipagem temporária é esperado depois quea angiografia dos quatro vasos mostrar um alto

26

Page 25: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

24

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

risco de oclusão permanente da ACI ou circula-ção colateral insuficiente. Este procedimento érealizado antes da intervenção direta e utiliza-seum longo enxerto de veia safena ou artéria radialdesde a artéria carótida externa até a artériacerebral média na fissura silviana. Com umaequipe de neuroanestesia, cirurgia cardiovasculare neurocirurgia em perfeita coordenação, o uso dehipotermia profunda e parada cardiocirculatóriacomo métodos para aumentar a proteção cerebralpode ser considerado seguro por períodos de até50 minutos.

A discussão sobre déficit visual progressivo écontroversa e, apesar de bem estabelecido queaneurismas não tratados tendem a crescer conti-nuamente e comprimir o aparato óptico, a cirur-gia ou outros métodos alternativos de tratamentonão asseguram a recuperação visual ou suamelhora. Entretanto, a cirurgia direta é o únicotratamento possível para eliminar o efeito com-pressivo, oferecendo a possibilidade de recuperaçãovisual ou de interrupção da deterioração visual.

Outros métodos de tratamento, tais como pro-cedimentos endovasculares, são promissores eevoluíram de maneira vertiginosa nos últimosanos. Apesar de elegantes, esses procedimentos têmriscos significativos de complicações maiores, pri-meiramente como resultado de eventos tromboem-bólicos. Esses métodos alternativos são falhos naoclusão de lesões grandes e na resolução do efeitode massa.

Quando não há contra-indicações clínicas paraa cirurgia, o tratamento de escolha para aneu-rismas paraclinóideos deve ser a clipagem diretado colo aneurismático, com reconstrução daartéria carótida e descompressão do aparato óp-tico quando necessário. Esse tipo de tratamentodeve ser indicado sempre que o aneurisma parecerpropício à clipagem, tanto nos pacientes sinto-máticos como nos assintomáticos, com ou semhistória de ruptura do aneurisma, pois essas lesõestêm a tendência de sangrar ou crescer conti-nuamente e produzir déficits neurológicos secun-dários ao efeito de massa. Nos pacientes cujacondição clínica contra-indica a cirurgia, deve-se considerar cuidadosamente o tratamento pormétodos alternativos.

ACESSO PRÉ-TEMPORALTRANSCAVERNOSO AO TERÇOSUPERIOR DA ARTÉRIA BASILAR

A porção superior da artéria basilar está inse-rida nas cisternas interpeduncular e pré-pontina esituada profundamente na base central do crânio.Particularmente quando se lida com aneurismasdo topo da basilar nesta área restrita, a proximi-dade com estruturas neurovasculares vitais criagrandes dificuldades à atuação do neurocirurgião.

Aneurismas da bifurcação basilar normalmentesão abordados tanto pela via subtemporal comopela pterional15,16, cujas vantagens e obstáculos sãobem conhecidos pelos neurocirurgiões, ou pelasvariações desses acessos17-24. As diferentes varia-ções dos acessos subtemporal e pterional foramdesenvolvidas no intuito de transpor as dificul-dades impostas pelo espaço limitado no qual aartéria basilar se encontra.

Com base em princípios de cirurgia de base decrânio, na qual o osso é removido extensamenteno sentido de evitar retração cerebral, esses acessoscompartilham das vantagens em se obter amplascraniotomias com a visibilidade desobstruída dasuperfície de exposição. Entretanto, esses acessostêm pouco contribuído para a ampliação da áreade trabalho nas profundidades do campo cirúr-gico. A exposição conseguida por qualquer acessoconvencional é sempre mais restrita nos casos emque o aneurisma basilar é grande ou localizadoabaixo do nível do dorso da sela.

Descrito em 1987 por Dolenc et al.25, o aces-so t ranscavernoso- t ranse la r somou à v iapterional o conhecimento anatômico de estru-turas do seio cavernoso e região paraclinóidea.Por meio da ressecção de ambos os processosclinóides, anterior e posterior, Dolenc melhoroua exposição na profundidade do acesso. Asprincipais estruturas anatômicas encontradasdurante o acesso transcavernoso-transelar àscisternas interpeduncular e pré-pontina estãocontidas no espaço incisural anterior. A com-preensão das relações das estruturas contidasnesse espaço com os componentes do seiocavernoso – e principalmente com a ACI – écrucial ao neurocirurgião.

27

Page 26: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

25

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

A porção anterior da incisura tentorial, cha-mada de espaço incisural anterior2, está localizadaanterior ao mesencéfalo e à ponte. Seu limitesuperior é o assoalho do terceiro ventrículo, que éformado, na direção posterior para anterior, pelasubstância per furada posterior, pelos corposmamilares, pelo túber cinéreo, pelo infundíbuloe pelo quiasma. O limite inferior corresponde aum plano no compartimento infratentorial queconecta a entrada de ambos os nervos troclearesna dura-máter. O limite anterior é formado peloclivus , o dorso da sela e os processos clinóidesposteriores. O espaço incisural anterior terminana região supra-selar ao nível da haste hipofisária.Seu limite lateral é formado pelo úncus, a bordaanterior do tentório e um plano parassagital queconecta os nervos cranianos IV e VI.

As principais cisternas nesta região são ainterpeduncular, a quiasmática e a pré-pontina26.A cisterna interpeduncular é limitada anterior-mente e inferiormente pelas porções diencefálicae mesencefálica da membrana de Liliequist, peloassoalho do terceiro ventrículo e pelo troncoencefálico superior e posteriormente. As cisternasquiasmática e pré-pontina estão localizadas à frentee abaixo da cisterna interpeduncular. As principaisestruturas vasculares no espaço incisural anteriorsão a artéria basilar e seus ramos terminais, asartérias cerebrais posteriores e as artérias cere-belares superiores27.

As artérias comunicantes posteriores projetam-se posterior e medialmente da ACI, originando,em seu trajeto, as artérias talamoperfurantes ante-riores antes de se juntarem às artérias cerebraisposteriores. As artérias talamoperfurantes poste-riores, que se originam da superfície posterior dosegmento P1, são as estruturas vasculares maisdifíceis de se preservar durante a cirurgia do aneu-risma do topo da basilar.

De acordo com sua altura em relação à porçãosuperior do dorso da sela, a bifurcação da artériabasilar pode ser dividida em baixa, normal e alta.A bifurcação da artéria basilar é considerada nor-mal quando se localiza 5 mm acima ou abaixo donível do dorso da sela (40% dos casos). Uma bifur-cação alta aparece em 32% dos casos, enquanto abifurcação baixa aparece em 28% dos casos28.

O segmento clinóideo da ACI é quase total-mente circundado por osso: o processo clinóideanterior lateralmente, o pilar óptico anterior-mente e o sulco carotídeo esfenoidal medial-mente5. Dois anéis durais formam seus limitessuperior, inferior e posterior. O anel dural distal,formado pela união das lâminas externa e internada parede lateral do seio cavernoso, correspondeaos limites superior e posterior do segmentoclinóideo. O anel dural proximal, que é formadoapenas pela lâmina interna, corresponde ao limiteinferior. A lâmina interna da dura-máter cobre osegmento clinóideo completamente como umcolar. A parte posterior do teto do seio cavernosoé formada principalmente pelo triângulo ocu-lomotor, um espaço entre os ligamentos duraisque circunda os processos clinóides anterior eposterior e o ápice petroso1.

Após abrir as lâminas externa e interna do tetodo seio cavernoso, o segmento horizontal da artériacarótida intracavernosa pode ser exposto na regiãolateral à glândula pituitária e ao processo clinóideposterior e medial aos nervos que correm na paredelateral do seio cavernoso. O espaço entre a porçãohorizontal da carótida petrosa e a glândula pitui-tária é preenchido por sangue do seio cavernososem a presença de qualquer estrutura vascular ouneural importante.

Técnica cirúrgica

Uma incisão em forma de ponto de inter-rogação cruzando a linha média é realizada comdissecação interfacial do músculo temporal. Apóso afastamento inferior do músculo temporal, umacraniotomia orbitozigomática é realizada. A dura-máter das fossas anterior e média é dissecada paraexpor a fissura orbitária superior. Iniciando-se pelolado frontal da craniotomia, a dura-máter é abertaem forma de semilua até o nível da impressão daasa menor do osso esfenoidal, onde a incisãovolta-se anteriormente em um ângulo reto paraseguir a impressão em direção à artéria orbitome-níngea. Quando o pólo temporal é alcançado, aincisão segue o lado inferior da craniotomia. Apósa dura-máter ser aberta, a fissura silviana e as cis-ternas basais são dissecadas.

A lâmina externa da dura-máter na fossa médiaé então separada da lâmina interna com dissecação

28

Page 27: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

26

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

cortante até a borda superior da fissura orbitáriasuperior ser alcançada. Este ponto, onde as lâminasexterna e interna da dura-máter encontram aperiórbita, coincide com a entrada da artéria orbi-tomeníngea para o interior da órbita. A dissecaçãocortante continua medialmente para expor o pro-cesso clinóide anterior e a parte anterior da paredelateral do seio cavernoso na fossa média. O tetoda órbita, o processo clinóide anterior e o pilaróptico são removidos para expor o segmentoclinóideo da artéria carótida (Figura 17B). A dura-máter é cortada medialmente em direção à porçãolateral da bainha óptica e o anel dural distal écortado ao redor das porções lateral, anterior eposterior. Ao cortar o anel dural, é possível mobi-lizar a artéria carótida durante a exposição. O tetodo seio cavernoso é aberto anteriormente ao longodo terceiro nervo na direção da fissura orbitáriasuperior e posterior e medialmente para expor oprocesso clinóide posterior (Figura 17D), permi-tindo a exposição dos segmentos horizontal,clinóideo e intradural da artéria carótida.

Tracionando-se medialmente o segmentointradural da ACI, os segmentos horizontal,clinóideo e intradural assumem a forma de umarco com concavidade posterior. O arco arterialfica em frente a um espaço que tem a glândulapituitária medialmente, a parede lateral do seiocavernoso lateralmente e a clinóide posterior eo dorso da sela posteriormente (Figura 17E).É através deste espaço, livre de qualquer estruturavascular ou neural importante, que a dissecaçãoprossegue. Após a clinóide posterior e o dorso dasela serem removidos, as estruturas neurovas-culares da cisterna interpeduncular e porçãosuperior da cisterna pré-pontina são expostas(Figura 17F). Tracionando-se o pólo temporalposteriormente e ressecando-se a borda ântero-medial do tentório entre o IV e o V nervos cra-nianos, um espaço adicional para se chegar a níveismais baixos da artéria basilar pode ser criado.

Tradicionalmente, aneurismas do topo da basi-lar têm sido acessados tanto pela via subtemporal15

quanto pela via pterional16. Os que preconizam avia subtemporal acreditam que esta é a maisapropriada, pois favorece o manejo das artériastalamoperfurantes que estão localizadas atrás doaneurisma. Além disso, quando procuramos por

controle proximal, porções baixas da artéria basilarpodem ser acessadas abrindo-se o lado medial dotentório. Os que propõem o acesso pterional acre-ditam que ele permite uma melhor visualizaçãoda anatomia da fossa interpeduncular com mí-nima retração do lobo temporal, menor dano aosnervos oculomotor e troclear e a possibilidade detratar outros aneurismas da circulação anterior nomesmo acesso28.

Utilizando-se de técnicas de cirurgia de basede crânio, os acessos orbitozigomático e pré-temporal foram desenvolvidos para aumentar aexposição criada pelo acesso pterional17,20,21,23.Ambos os acessos combinam as vantagens das viaspterional e subtemporal e melhoram a exposiçãona superfície da craniotomia, mas nenhum dosacessos pode melhorar a exposição do espaçoincisural anterior. Além disso, nos casos em queo controle proximal é imperativo (por exemplo,quando um aneurisma do topo da basilar estálocalizado abaixo do nível do dorso da sela), ouno caso de aneurismas gigantes do topo da basilar,estes acessos não oferecem espaço suficiente parao trabalho do neurocirurgião. Os defensores doacesso subtemporal tentaram diferentes varia-ções, tais como a abertura do tentório18,19 , re-moção extradural do ápice do petroso9, oucombinações com remoção extradural do ápicedo petroso e exposição intradural 24,29,30. Além dorestrito campo cirúrgico, estas variações levamconsiderável risco de lesão à veia de Labbé emvirtude da retração do lobo temporal e conse-qüente infarto venoso. Além disso, a ressecçãodo ápice petroso não é isenta de riscos por causade a ACI, os nervos cranianos V, VI, VII e VIII eo nervo petroso maior superficial estarem navizinhança da exposição.

O acesso transcavernoso-transelar, criado porDolenc em 198725 e posteriormente descrito compequenas variações por outros autores31-33 , foiplanejado com a intenção de aumentar a área deexposição ao redor das cisternas interpeduncular epré-pontina obtida pelo acesso pterional. O acessotranscavernoso-transelar abriu uma nova rota àscisternas interpeduncular e pré-pontina através daparede anterior do espaço incisural anterior.

Ao combinar o acesso transcavernoso-transelarcom uma craniotomia orbitozigomática, conse-

29

Page 28: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

27

Temas atuais de neur ocirurgia Helder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

gue-se a vantagem da mais ampla exposição34.A remoção do processo clinóide anterior com aexposição do segmento clinóideo e a aberturados anéis durais ao redor da ACI são importantespassos. Essas manobras ajudam a mobilizar a ACIe a expor melhor o processo clinóide posterior,o dorso da sela e a porção superior do clivus .A abertura do teto do seio cavernoso envolveintensa manipulação do III nervo craniano. Apesarde a paralisia do III nervo ser algo esperado, eocorrer em todos os pacientes em nossas sériesclínicas, ela foi temporária e regrediu em duassemanas a três meses. O constante sangramento,que ocorre quando o seio cavernoso é aberto, podeser controlado após cuidadoso tamponamento commaterial hemostático. O espaço criado entre ossegmentos horizontal, clinóideo e intradural daartéria carótida forma uma área em formato de“C” orientada posteriormente onde a clinóideposterior, o dorso da sela, o clivus e a glândulapituitária estão localizados. Após a ressecção doprocesso clinóide posterior, do dorso da sela e daporção superior do clivus e suas coberturas de dura-máter, a área de exposição melhora substan-cialmente, oferecendo a possibilidade de umcontrole proximal da artéria basilar quando tra-tamos de um aneurisma gigante ou de baixa loca-lização da artéria basilar.

Apesar de sua complexidade cirúrgica, o acessotranscavernoso-transelar apresenta-se como umavaliosa alternativa aos mais tradicionais que sãomais restritos. Este acesso pode contribuir paraexpor lesões intra ou extra-axiais desta região, taiscomo cavernomas do tronco encefálico, me-ningeomas petroclivais ou extensões de craniofa-ringeomas para a fossa posterior.

REFERÊNCIAS

1. Inoue T, Rhoton Jr AL, Theele D, Barry ME. Surgicalapproaches to the cavernous sinus: a microsurgical study.Neurosurgery 26:903-932,1990.

2. Ono M, Ono M, Rhoton Jr AL, Barry M. Microsurgicalanatomy of the r egion of the tentorial incisura.J Neurosurg 60:365-399, 1984.

3. Dolenc V. Direct microsurgical repair of intracavernousvascular lesions. J Neurosurg 58:824-831, 1983.

4. Dolenc V. A combined epi – and subdural directapproach to carotid – ophthalmic artery aneurysms.J Neurosurg 62:667-672, 1985.

5. Seoane E, Rhoton Jr AL, Oliveira E. Microsurgicalanatomy of the dural collar (carotid collar) and ringsaround the clinoid segment of the internal carotid artery.Neurosurgery 42:869-886, 1998.

6. De Oliveira E, Tedeschi H, Siqueira MG, Rhoton Jr AL.Microsurgical anatomy of the cavernous sinus. In:Salcman M (ed.). Current Techniques in Neurosurgery .2nd ed. Philadelphia : Current Medicine, 1996; pp .79-89.

7. Glasscock ME III, Miller GW, Drake FD et al. Surgeryof the skull base. Laryngoscope 88 :905-923, 1978.

8. Hakuba A, Nishimura S, Shirakata S, Tsukamoto M.Surgical approaches to the cavernous sinus: report of 19cases. Neurol Med Chir (Tokyo) 22:295-308, 1982.

9. Kawase T, Toya S, Shiobara S et al. Transpetrosalapproach for aneurysms of the lower basilar artery.J Neurosurg 63 :857-861, 1985.

10. Parkinson D. A surgical approach to the cavernousportion of the carotid artery. Anatomical studies and caserepor t. J Neurosurg 23 :474-483, 1965.

11. Sekhar LN, Burgess J, Akin O. Anatomical study of thecavernous sinus emphasizing operative approaches andrelated vascular and neural reconstruction. Neurosurgery21 :806-816, 1987.

12. De Oliveira E, Tedeschi H, Rhoton Jr AL, Peace DA.The tr eatment of giant aneurysms of the carotidophthalmic artery: coils vs. the decompression clippingtechnique. In: Al-Mefty O, Origitano TC, Harkey HL(eds.). Controversies in Neurosurgery. New York:Thieme, 1996; pp. 175-181.

13. Nutik S. Carotid paraclinoid aneurysms with intraduralorigin and intracavernous location. J Neurosurg 48 :526-533, 1978.

14. Lundar T, Froysaker T, Nornes H. Cerebral damagefollowing open heart surgery in deep hypothermia andcirculatory arrest. Scand J Thorac Cardiovasc Surg17 :237-242, 1983.5.

15. Drake C. Bleeding aneurysm of the basilar artery; directsurgical management in four cases. J Neurosurg 18:230-238, 1961.

16. Yasargil M, Antic J, Laciga R, Jain K, Hodosh R, SmithR. Microsurgical pterional approach to aneurysms of thebasilar bifurcation. Surg Neurol 6:83-91, 1976.

17. De Oliveira E, Tedeschi H, Siqueira M, Peace D. Thepretemporal approach to the interpeduncular andpetroclival r egions. Acta Neurochir (Wien) 136:204-211, 1995.

18. Dorsch N. Aid to exposure of the upper basilar artery:Technical note. Neurosurgery 23:790-791, 1988.

19. Drake C. The surgical treatment of aneurysms of thebasilar artery. J Neurosurg 29 :436-446, 1968.

20. Drake C, Hodosh RM, Clark WK. Microsurgicalevaluation of pterional approach to aneurysms of thedistal basilar circulation. Neurosurgery 3:140-141, 1978.

21. Hakuba A, Liu S, Nishimura S. The orbitozygomaticinfratemporal approach: A new surgical technique. SurgNeurol 26:271-276, 1986.

30

Page 29: TEMAS ATUAIS DE NEUROCIRURGIA - · PDF filedécada de 80. Seus ensinamentos possibilitaram que o tratamento cirúrgico das ... Os principais tópicos sobre a anatomia envolvida nas

28

Temas atuais de neurocirurgiaHelder Tedeschi, Evandro de Oliveira, Wen Hung Tzu, Alber t L. Rhoton Jr.

22. Heros R, Lee S. The combined pterional/anteriortemporal approach for aneurysms of the upper basilarcomplex. Technical r eport. Neurosurgery 33 :244-251, 1993.

23. Sano K. Temporo-polar approach to aneurysms of thebasilar artery at and around the distal bifurcation:Technical note. Neurol Research 2:361-367, 1980.

24. Sugita K, Kobayashi S, Takemae T, Tada T, Tanaka Y.Aneurysms of the basilar artery trunk. J Neurosurg66 :500-505, 1987.

25. Dolenc V, Skrap M, Sustersic J, Skrbec M, Morina A.A transcavernous-transsellar approach to the basilar tipaneurysms. Br J Neurosurg 1:251-259, 1987.

26. Matsuno H, Rhoton A, Peace D. Microsurgical anatomyof the posterior fossa cisterns. Neurosurgery 23:58-80, 1988.

27. Saeki N, Rhoton A. Microsurgical anatomy of theupper basilar ar tery and the posterior cir cle of Willis.J Neurosurg 46:563-578, 1977.

28. Kobayashi S, Hongo K, Tanaka Y, Goel A. Basilarbyfurcation aneurysms. In: Kobayashi S, Hongo K, GoelA, (eds.). Neurosurgery of Complex Tumors and VascularLesions. Philadelphia: Churchill, 1997; pp . 63-95.

29. Friedman R, Pensak M, Tauber M, Tew J, Van LoverenH. Anterior petrosectomy approach to infraclinoidalbasilar artery aneurysms: the emerging role of the neuro-otologist in multidisciplinary management of basilarartery aneurysms. Laryngoscope 107:977-983, 1997.

30. Macdonald J, Antonelli P, Day A. The Anteriorsubtemporal, medial transpetrosal approach to the upperbasilar artery and ponto-mesencephalic junction.Neurosurgery 43:84-89, 1998.

31. Diaz Day J, Giannotta S, Fukushima T. Extraduraltemporopolar approach to lesions of the upper basilarartery and infraquiasmatic region. J Neurosurg 81:230-235, 1994.

32. Ferreira MAT, Tedeschi H, Wen HT, de Oliveira E.Posterior circulation aneurysms: guideline to management.Oper Tech Neurosurg 3 :169-178, 2000.

33. Nutik S. Pterional craniotomy via a transcavernousapproach for the tr eatment of low-lying distal basilarartery aneurysms. J Neurosurg 89 :921-926, 1998.

34. Seoane E, Tedeschi H, de Oliveira E, Wen HT, RhotonJr AL. The pretemporal transcavernous approach to theinterpeduncular and prepontine cisterns: microsurgicalanatomy and technique application. Neurosurgery 45:549-592, 1999.

31