Tempo livre junho 2012

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TempoLivre N.º 238 Junho 2012 Mensal 2,00 www.inatel.pt Lendas e passeios à beira-rio Vila Nova de Cerveira Entrevista Mia Couto Viagens Irão Memória Alice Cruz

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TempoLivreN.º 238Junho 2012Mensal2,00 €

www.inatel.pt

Lendas e passeiosà beira-rioVila Novade Cerveira

Entrevista Mia CoutoViagens IrãoMemória Alice Cruz

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 121.938 exemplares

Na capaFoto: Humberto Lopes

16TERRA NOSSA

Cerveira, Lendas epasseios à beira rioVila Nova de Cerveira podeconstituir uma estância-ponto-de-partida para umainfinidade dedeslumbrantes eenriquecedores passeiospela região, de ambos oslados da fronteira. E, agora,mais facilitados pelarequalificação da unidadehoteleira local da Inatel,reaberta no início do mês,de quatro estrelas, e quepassou a contar com umacentena de quartos,incluindo quatro suites,além de biblioteca,auditório para 120 pessoas,piscina, espaço infantil, salade jogos e uma área verdeenvolvente.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

14 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

30 PAIXÕES

A Arca de Johan

47 MEMÓRIA

Alice Cruz

47 SOCIEDADE

Da terceira prá quarta idade

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Fernando Dacosta

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos e Cartaz

23ENTREVISTA

Mia CoutoMia Couto esteve em Portugal porocasião do lançamento do seu últimolivro, "A confissão da leoa". Ementrevista à TL, o consagrado autormoçambicano falou da sua escrita, dadiversidade da língua portuguesa e deoutros temas, como o AcordoOrtográfico e a CPLP, que realiza emJulho uma cimeira na cidade deMaputo.

34VIAGENS

Irão, as mais belas jóias da PérsiaShiraz, coração da cultura, cidade dasrosas, do amor e dos jardins,Persépolis, a antiga capital de umvasto império, e Isfahan, a metade domundo com a sua praça, são destinosobrigatórios numa visita ao país das'mil e uma noites'.

41PORTFOLIO

Tanzânia A Tanzânia guarda, junto à costa,algumas memórias da passagem, háséculos, dos europeus e dos árabes.

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Editorial

Vítor Ramalho

É pelo sonho que vamos …

Aimportância da reabertura do InatelCerveira Hotel **** que teve lugar nodia 1 do corrente mês de Junho, justifi-ca inteiramente que a capa deste

número da Tempo Livre lhe seja dedicada bemcomo a reportagem que a seu propósito é feita.

A reabertura foi precedida, cerca de quinze diasantes, de um ensaio, com a presença de setentacolaboradores da Fundação Inatel, justamente con-vidados para o efeito, para se avaliar se tudo seencontrava em condições, garantindo-se assim eatempadamente as correcções que se tivessem derealizar.

O Hotel, integrado no paradisíaco distrito deViana do Castelo, a um pequeno passo da Galiza,que agora se transpõe por uma moderna ponte,passará a ser num equipamento essencial para adinamização do turismo e da economia da região.A sua envolvência, nas proximidades do rio, comamplos espaços verdes é seguramente o local maisaprazível para as deslocações ao distrito e à Galiza,possibilitando ainda a realização, no Hotel, degrandes eventos, dadas as condições que tem parao efeito.

As significativas marcações que já ocorreramantes da reabertura são testemunho do reconheci-mento da excelência, a testemunhar, como outrasunidades da Fundação Inatel, uma marca distinti-va de forte qualidade.

Invocar ainda o Inatel Cerveira Hotel **** é terpresente o turismo e neste em particular tambémo Turismo Júnior, uma aposta que no Ano Europeudo Envelhecimento Activo e da Solidariedadeentre Gerações, a Inatel não poderia esquecer.

Daí a referência ao programa do Turismo Júniorneste número, sem esquecer outra iniciativa degrande êxito, integrada no Ano Europeu doEnvelhecimento Activo e da Solidariedade entreGerações, que teve lugar no passado dia 29 deMaio na unidade hoteleira da Costa de Caparica,com a participação de centenas de beneficiários.

É de alguma maneira nesta mesma lógica quedecorreu também entre nós, na unidade hoteleirade Albufeira, o XIVº Encontro Luso-brasileiro deTurismo Sénior / Melhor Idade, que trouxe até nóscerca de 250 cidadãos brasileiros de todos osEstados do Brasil, filiados na ABCMI e no qualparticiparam também mais uma centena e meiade beneficiários da Inatel. Honrou-nos com a suapresença o Secretário de Estado do Idoso daRepública Federal do Brasil, Dr. Ricardo Quirinodos Santos. O êxito do Encontro representa maisum marco no relacionamento entre os dois povose países na dinamização do turismo e na entrea-juda.

Como sempre, não poderíamos também, nestenúmero, deixar de invocar a memória colectiva doque somos. Fazemo-lo através de uma personali-dade singular, Alice Cruz, prematuramente faleci-da e de quem fui grande amigo pessoal, bem comodo seu companheiro, Rui Romano, como eu natu-rais de Angola e figuras ímpares do jornalismo edo espectáculo. Eram pessoas adoráveis querelembro com enorme saudade.

A realidade lusófona foi para ambos sempreuma mais valia incontornável, com Angola sem-pre presente, razão que justifica que a Tempo Livretenha neste número a entrevista de fundo com umdos maiores escritores da nossa fala comum, omoçambicano Mia Couto. Sendo uma homenagemà própria fala comum é-o também à Alice Cruzque tanto amava África.

Neste período tão complexo e incerto, inclu-sive para a humanidade, é sempre muito útil eproveitoso não perdermos o sentido de sonho.Foi com esse propósito que seguramente ocidadão holandês que construiu uma arca gigan-tesca e para a qual a Tempo Livre também apro-priadamente nos convoca. É que, como diziaSebastião da Gama, é de facto pelo sonho quevamos … Neste período, de crise, nunca édemais relembrá-lo. n

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Cartas

Coluna do Provedor

Hidro Sénior

"Somos um grupo de alunos das classes deHidro sénior que por este meio vem reconhe-cer a competência, simpatia e profissionalismoda nadadora salvadora Mónica Ferreira, pelaatenção que dispensa às alunas e alunos semidade mas com experiência da vida suficientepara estarmos sinceramente reconhecidos."Correio electrónico de Victor Neves, sócio nº316264

"Cinema em Casa"

Na crónica ''Cinema em Casa'', que tenho ohábito de ler com muito agrado, gostaria delevar ao V. Conhecimento a seguinte infor-mação. Quero-me referir à crónica publicadano mês de Fevereiro 2012, sobre Pina, (PinaBaush).

Esste filme de arquivo realizado por WimWenders, fez apelo a uma gravação minha,

realizada em Paris na firma Discos Barclay eque termina com a Pina Baush , dançando aosom da minha voz. O fado de Coimbra quecanto, chama-se ''Os Teus Olhos'', acompan-hado por José Niza, Eduardo Melo, DurvalMoreirinha, Jorge Godinho e eu mesmo(Germano Rocha).

Considero-me muito honrado por ter sidoescolhido por Pina Baush para ilustrar umadas suas danças e também por ter sido selec-cionado pelo realizador do filme.Germano Rocha, sócio nº 0246318.

50 anos na INATEL

Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: Adriano sabinoMendes, de Casais Novos; José Gomes, deCaldas da Rainha; José Conceição Madeira, deChafariz del Rei; Ilda Gonçalves, de Lisboa;Fernando Pinheiro, de Portela LRS; AdrianoMendes Sousa, de Leiria.

MUITOS SÃO os testemunhos de quem par-ticipou nos Programas de Termalismo Sénior,há 14 anos promovido por diversos min-istérios e organizado e gerido pela FundaçãoINATEL. Como se pode ler, na informação dis-tribuída, "este programa foi criado com oobjectivo de melhorar e aumentar a qualidadede vida da população com 60 ou mais anos deidade, aliando o lazer dos beneficiários dostratamentos termais. Uma aposta que temvindo a ter cada vez mais sucesso entre os mil-hares de seniores que todos os anos viajam nanossa companhia".

Tenho acompanhado de perto o desenvolvi-mento de alguns desses programas que, paraos que dele têm participado, resultam, na suaesmagadora maioria, rasgados elogios à organi-zação da INATEL.

Com efeito, é bom que se recorde que os

programas duram duas semanas de tratamen-to, acompanhados por médicos e técnicos deacordo com a tabela das Termas de valor aces-sível. Executando esse pagamento, a estadia,com tudo incluído, na base de 4 escalões, deacordo com o rendimento bruto mensal porpessoa. O período é acompanhado porguias/orientadores da INATEL, que transmi-tem uma afabilidade necessária à boa dispo-sição dos utentes.

Há ainda o pormenor não menos importan-te de viagens de recreio de autocarros, paraconhecer os locais turísticos da zona, oportu-nidade para melhorar a nossa cultura.

Resta lembrar que a verba dispendida como programa é recuperada economicamentecom a ocupação da época baixa da hotelarianacional. É por estas e por outras que a Inatelé estimada! n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Centenário da 1ªexposição de humoristasl O Museu Nacional da Imprensa

assinala o centenário do 1º Salão de

Humoristas, com uma exposição

documental patente na

Galeria de Exposições

Temporárias até 15 de

Outubro, diariamente,

das 15 ás 20 horas.

Aquele Salão abriu, no

Grémio Literário, em

Lisboa, em Maio de

1912, com cerca de 400

trabalhos de alguns

dos nossos melhores artistas do

humor gráfico de sempre. De Rafael

Bordalo Pinheiro, Celso Hermínio,

Almada Negreiros, Jorge Barradas,

Stuart Carvalhais, Francisco Valença

e Emmérico Nunes, entre outros.

Notícias

l Estão abertas, desde o 25 de Maio, asinscrições para o Turismo Júnior -Férias de Verão 2012, uma iniciativada Inatel Social, a decorrer de 30 deJulho a 18 de Agosto, para as faixasetárias dos 8 aos 12 anos e dos 13 aos17 anos. Aulas de surf, bowling,actividade aventura, construção decarrinhos solares, tardes desportivas evisitas ao Castelo de S. Jorge integramo programa de regime aberto, de cincodias, de 2ª a 6ª feira, para a faixa dos8-12 anos. Para os de 13-17 anos estáprevisto um programa de seis dias,regime fechado, de 2ª a sábado, e que,a par de um dia no Parque Warner, emMadrid, inclui jogos de praia, provasde orientação, noites VIP, entre outrasactividades.Informações mais detalhadas naspáginas 75, 76 e 77 desta edição da TL.

Inscrições abertaspara o Turismo Júnior 2012

A presença de um stand da Fundação na Feira do Livro de Lisboa foi a oportunidade

para a divulgação e venda de numerosos exemplares das edições Inatel e, também,

para a angariação de três centenas de novos associados.

Inatel na Feira do Livro

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l Decorreu no Algarve, entreos dias 16 e 20 de Maio oXIVº. Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior /Melhor Idade, uma iniciativaconjunta da Fundação Inatel eda ABCMI (AssociaçãoBrasileira dos Clubes daMelhor Idade), representativade associações de todos osEstados do Brasil.Com um ciclo deconferências, no Casino deVilamoura, e outros eventos deconvívio e e visitas na regiãoalgarvia, o Encontro teve a

participação de 240 filiados naABCMI e 102 beneficiários daFundação Inatel, instalados na

Unidade Hoteleira da Inatel,em Albufeira. No dia 18teve lugar a Conferência doEngº. António Guimarãessubordinada ao tema"Despertar a excelênciapessoal". No dia 19 oSecretário de Estado doIdoso do Brasil, RicardoQuirino abordou, na suaconferência, a importânciasocial e económica doturismo sénior. Esteve ainda

presente nas conferências oSecretário de Estado do Desportodo Brasil, Célio Reneé Vieira.

Escola de Verãona FCSHl A Universidade Nova de Lisboa

organiza, entre os meses de Julho a

Setembro, nas suas instalações da

FCSH, no centro da cidade, a Escola de

Verão, um projecto de qualidade, onde

os participantes podem ampliar os

seus conhecimentos nas áreas de

Antropologia, Comunicação, Culturas

da Europa e do Mundo, Educação,

Estudos Políticos, Filosofia, Geografia,

História, História da Arte, Informática,

Línguas Clássicas, Linguística,

Literatura e Cultura Portuguesas,

Música e Sociologia. Adicionalmente,

todas estas aprendizagens permitem a

soma de ECTS (créditos de Bolonha), e

a maioria confere ainda créditos aos

professores do Ensino Básico e

Secundário. Os cursos têm uma

duração de 18 a 25 horas lectivas e

dão direito à obtenção de um diploma

de frequência. O preço é de 120 euros

para o público em geral, mas os

associados da INATEL beneficiam de

um desconto de 20%. Informações em

http://verao.fcsh.unl.pt/ e divulgação

em www.facebook.com/escolaveraofcsh

XIVº Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior

l Identificar e criar - noâmbito da Rede Portuguesapara o Desenvolvimento doTerritório - oportunidadesde desenvolvimento daprática desportiva na orlacosteira e no mar, assimcomo das economiasassociadas a estas áreas é oobjectivo da AgênciaIndependente do Desporto edo Mar(AIDEM), criada no passadodia 8 de Maio, na Casa da Balança(Ministério da Marinha), em Lisboa.Presidida pelo Instituto do Território,a AIDEM terá ainda representantes eInstituto Português do Desporto eJuventude, o Instituto Português doMar e da Atmosfera, o e do Turismode Portugal, que subscreveram oprotocolo então assinado. Para alémdisso, a nova agência - cujo protocolofoi também subscrito pela FundaçãoInatel, representada na cerimóniapelos administradores Carlos Mamedee Moreira Marques, tem ainda comotarefa propor soluções de

simplificação administrativa dalegislação relacionada com odesporto na orla costeira. ParaAlexandre Mestre, Secretário deEstado do Desporto e Juventude, quese referiu à parte desportiva noâmbito dos desportos náuticos, "esteprojecto vai criar novasoportunidades de negócios naeconomia nacional, criando empregono mar - onde existem cerca de 120mil portugueses". Além dos referidosinstitutos, presentes na direcção, e daInatel, a AIDEM é integrada porvárias escolas superiores e federaçõesdesportivas.

Agência do Desporto e do Mar

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Notícias

l A Unidade Inatel Costa da Caparicafoi palco, no último domingo deAbril, do Dia da Solidariedade entreGerações, uma das múltiplasiniciativas que a Fundação está alevar a cabo em todo o país, noâmbito do Ano Europeu doEnvelhecimento Activo e daSolidariedade (AEEASG). Tertúlias, teatro, cinema, concertosmusicais, exposições, torneiosdesportivos, festivais de folclore,viagens temáticas, oficinas dostempos livres, colóquios, worshops decozinha e agricultura biológica,espectáculos de rua, bolsas devoluntariado, mercados tradicionais,caminhadas, ateliês de pintura einformática, são, entre outras,algumas das iniciativas que aFundação está a levar a cabo em todoo país, até final do ano, através dassuas agências distritais e denumerosos associados colectivos daInatel, CCD's (Centros de Cultura eDesporto).A maior duração de vida dos cidadãoseuropeus e a necessidade de

permanecerem mais tempo momercado de trabalho e de partilharema sua experiência são as razõesinvocadas para a celebração desteAno Europeu do EnvelhecimentoActivo e da Solidariedade, ao qual aInatel justamente se associa pela sualonga história de ligação aostrabalhadores e suas famílias e,particularmente, à ocupação activados mais velhos nas diversas áreas dolazer.

Ano Europeu do Envelhecimento Activo

Declarado em Novembro passado

Património Cultural Imaterial da

Humanidade, o Fado é tema em foco

nas Festas de Lisboa, com um conjunto

diversificado de iniciativas culturais. É o

caso da mostra Fado na Cidade de José

Maria Frade, editor fotográfico da "TL".

Nesta exposição, JMF apresenta uma

selecção dos seus últimos 12 anos de

trabalho no que toca ao universo da

Canção de Lisboa, com representações

dos intérpretes e os momentos

capturados nos ambientes que

envolvem o Fado, como expressão

musical e como experiência.

“Fado na Cidade”

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l Gonçalo Cadilhe, repórter da VisãoVidas & Viagens, foi o vencedor doPrémio Jornalismo de Viagens 2011,uma iniciativa conjunta da HalconViagens e do Clube de Jornalistasdestinada a valorizar aos trabalhosjornalísticos que retratam, através daviagem, o papel que o turismo poderepresentar no desenvolvimentocultural e social das pessoas. O trabalho premiado, "Navegar oMekong", é uma surpreendente viagempor um dos maiores rios do mundo: oMekong, onde não há um serviçoregular de turistas, nem mesmo depassageiros. Do Planalto do Tibete atéao Vietname, no Sudeste Asiático,

percorre-se a província chinesa deYunnan, a Tailândia, o Laos e oCamboja.Foi ainda atribuída uma MençãoHonrosa a João Lopes Marques, daRotas & Destinos, pelo seu trabalhosobre Tallin (Estónia), Capital Europeiada Cultura 2011. O valor do 1º Prémio é de 3.500 eurose o valor da Menção Honrosa é de1.500 euros, ambos a utilizar naHalcon Viagens, de uma só vez, numaviagem à escolha. Integraram o Júri:Fernanda Bizarro (CJ), Ribeiro Cardoso(CJ), Salvador Alves Dias (AssociaçãoPortuguesa de Jornalistas de Turismo) eJosé Luis Cavalheiro (Halcon Viagens).

Volvo Racel Lisboa acolhe, até 10 de Junho, a

Volvo Ocean Race, a maior regata do

mundo e o mais desafiante evento

desportivo à escala global, que

combina a competição desportiva

com aventura a bordo. Com 36 anos

de história e origem nas travessias

entre portos, a Volvo Ocean Race é

hoje uma combinação única de

regatas onshore e offshore de nível

mundial, aliando a espectacularidade

da alta competição nos locais de

paragem com a resistência e drama

das travessias oceânicas. A

passagem por Lisboa, numa área de

dois hectares, incluiu um espaço de

exposições para os stands das

entidades, como a Inatel, que apoiam

o evento.

Gonçalo Cadilhe vencePrémio Jornalismo de Viagens

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Notícias

l A lista Traveler's Choice 2012, doTripAdvisor, posiciona Lisboa em 11.ºlugar, à frente de destinos comoVeneza (12.º), Edimburgo (13.º) eMadrid (14.º). O top 10 é encabeçadopor Londres, seguida de Roma, Paris,Istambul, Barcelona, Berlim, Florença,Praga, Dublin e Amesterdão.Os utilizadores daquele portal deturismo recomendam Lisboa como

um dos 25 melhores destinoseuropeus para 2012, caracterizando acapital portuguesa pela suadiversidade. De catedrais do séculoXII a modernas pontes queatravessam o rio Tejo, de aquedutosdo século XVIII à futurista Gare doOriente, Lisboa "atravessa ostempos", justifica o TripAdvisor.Destaque, ainda, para os bairrostípicos da Mouraria, Alfama e BairroAlto, bem como para os inúmerosmuseus, mercados ao ar livre,elevadores, o Castelo e, claro, o Fado. Em Junho, a oferta turística dacidade será reforçada, com ainauguração da Ala Nascente doTerreiro do Paço, que permitirárecuperar o ponto de encontro dacapital portuguesa, palco dosmaiores acontecimentos da Históriade Portugal.

Lisboa 11.º melhor destino europeu

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A importância da interacção e cooperação mútuas entre pessoas que trabalham na

mesma empresa, quando colocadas perante desafios que requerem equipas coesas

e a optimização do relacionamento com o cliente, foi o mote para a acção de Team

Building organizada pela Direcção de Turismo e Hotelaria para os seus

colaboradores, realizada no passado dia 27 de Abril na unidade INATEL da Costa da

Caparica. A iniciativa, sob o lema "Todos Juntos para Servir Melhor", constou de

várias acções de formação que decorreram com a animada e empenhada

participação de toda a equipa da DTH.

Team Building

"Comerescom Poemas"l Um livro para "degustar,

lentamente", de "estórias e afectos"

e com "o prazer de usufruir de tudo

aquilo que nos é oferecido pela

sabedoria da nossa terra", são

algumas das notas com que

historiadores e sociólogos

assinalam, na contracapa, este

"Comeres com Poemas - Para viver

um Grande Amor", de António

Murteira (S. Manços, Alentejo,

1947), escritor, político e engenheiro

técnico agrário. São 80 as "receitas

de paixão" do belo e singular livro

de um alentejano universal,

acompanhadas pelas estórias de

viagens, lugares, amigos…e da

sábia doutrina de Saramago: "Se

nos detivermos a pensar nas

pequenas coisas chegaremos a

compreender as grandes".

"Aproximações" de JorgeBarros na SPAl Na Sala Carlos Paredes da SPA

(Sociedade Portuguesa de Autores),

está patente a exposição de

fotografia "Aproximações" de Jorge

Barros. A mostra - inaugurada por

ocasião do lançamento do

livro/álbum "As Ilhas

Desconhecidas", do mesmo autor -

realça a proximidade cultural,

paisagística e edificada, existentes

entre o território insular e

continental, que justificam e

fundamentam a nossa identidade

nacional.

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Ginástica aeróbica nos Açores

l Cerca de sessenta pessoas de várias idades aderiram à MegaAula de Movimento Rítmico, uma iniciativa da Agência Inatelde Ponta Delgada que decorreu, em finais de abril último, noEspaço Açor Arena em Vila Franca do Campo, na ilha de S.Miguel. O evento composto por ginástica aeróbica de médiaintensidade, integrou muita diversão para exercitar o corpo deforma saudável e contou com os apoios da Topfitness, da AçorArena, do Núcleo de Aprendizagem ao Longo da Vida daUniversidade dos Açores, da Escola Básica e Secundária deVila Franca do Campo e da autarquia de Vila Franca do Campo.

Corrida em S. MiguelPonta Delgada acolheu, em Abril, a "Corrida das Portas-Inatel",com a participação de dezenas de atletas de vários escalões eidades, nas provas de 1.400m e de 7000m. A par de jornadade salutar convívio e animação, a competição - que teve osapoios da Associação Portas do Mar, Associação de Atletismode S. Miguel e Jornal Açoriano Oriental - foi seguida comentusiasmo por boa parte da população local.

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XVI Concurso “Tempo Livre” Fotografia

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[ 1 ]

[ 1 ] Óscar Saraiva, S. Mamede de InfestaSócio n.º 31309

[ 2 ] Rosa Ribeiro,MaiaSócio n.º 103587

[ 3 ] Jovino Batista,FaroSócio n.º 522088

[ 3 ]

[ 2 ]

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[ a ] Reinaldo Viegas, LagosSócio n.º 370482

[ b ] Ana Saldanha, GuardaSócio n.º 294766

[ c ] Paulo Amado, S. João da MadeiraSócio n.º 393614

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2012, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

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[ c ]

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Terra Nossa

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Vila Nova de CerveiraLendas e passeios

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Se o presente de Cerveira faz ou nãojustiça aos pergaminhos herdados,dirá o visitante. O encanto do lugartem raízes de antanho e há que retro-ceder à época da romanização, ou até

mesmo antes, que já por ali havia, em temposainda mais recuados, gente de imaginação e cul-tura. Os vestígios arqueológicos dão conta daimportância do lugar, que acolheu uma comuni-dade piscícola ainda antes da romanização, quan-do o porto fluvial começou a mostrar-se movi-mentado e a receber mercadoria de sortidas lati-tudes: ânforas, cerâmicas gregas, vidros fenícios emoedas romanas provam a vitalidade do comér-cio com outras regiões do Império Romano.

Quanto à imaginação, recurso com que sempreos povos complementam, ou ataviam, factos e feitos,ora em busca de identidades, ora de nacionalidades,foi coisa que não faltou nos idos medievais: a lendado Rei Cervo vem à liça e à justa para sustentar oargumento. A narrativa fala de abundância da espé-cie naquelas bandas e de um certo fidalgo que desa-fiou o cervídeo soberano para um duelo. O triunfotocou ao Rei Cervo que, enquanto durou, foi gover-nando a grei. O bicho ficou como símbolo e aindahoje consta das armas do burgo. E para que não hajadúvida de que os viajantes arribam às velhas Terrasde Cervaria, lá está, no topo de uma penedia que étambém bom miradouro do povoado e da paisagemribeirinha envolvente, a representação escultóricade um cervo, obra do escultor José Rodrigues.

Uma volta pela povoação, que se acomoda emestreitas ruelas que descem até à beira do rio permi-te perceber a origem medieval do traçado urbano ea sua intimidade com a margem. Dessa época há umacervo significativo de testemunhos monumentais,como o castelo, mandado edificar por D. Dinis, opelourinho, do século XVI, e a quinhentista IgrejaMatriz, consagrada a S. Cipriano - santo que pareceser, há muito, alvo de fervorosa devoção por aquelasterras. Vale a pena dedicar-lhe algum tempo, pormor de um belo altar de talha renascentista.

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à beira-rio

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Terra Nossa

Em matéria de património religioso, comple-mente-se a digressão com visitas à Capela deNossa Senhora da Ajuda, que conserva painéisde azulejos datados de finais do século XVII, e aorestaurado Convento de S. Paio, hoje reconverti-do em espaço museológico.

Finalmente, a dois passos do Inatel Cerveira,ao alcance de uma breve caminhada e mesmo àentrada da chamada Ponte da Amizade, que ligaas duas margens do Rio Minho, uma pequena for-taleza lembra-nos o valor estratégico de Cerveira.Foi construída no século XVII com a intenção deajudar à resistência contra as intenções espanho-las de unificação ibérica e revelou grande utilida-de durante a reacção lusa às Invasões Francesas.

De Santa Tecla ao dragão CocaCerveira pode constituir uma estância-ponto-de-partida para uma infinidade de passeios pela região,de ambos os lados da fronteira. Do lado de lá, oMonte de Santa Tecla, miradouro de excelênciasobre Caminha, o espantoso cenário da foz doMinho e o recorte litoral do noroeste português,avistando-se dali a bonita praia de Moledo, fica apouco mais de meia hora. Logo a seguir vemBaiona, prazenteira estância balnear da Galiza, e, aolargo, a uma hora de barco, está o pequeno arquipé-lago das Cíes, uma reserva ornitológica com algunstrilhos de fácil realização por qualquer caminhante.Não muito longe de Baiona, para norte, chega-serapidamente a Vigo e, no regresso, o gracioso centrohistórico de Pontevedra é sempre uma etapa obriga-tória para qualquer périplo galego.

Do lado de cá, pelo menos uma meia dúzia deurbanos emblemáticos do Minho estão à mão devisitar: Caminha, Viana do Castelo, Valença,Monção, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez ePonte de Lima. Para quem prefira natureza, aSerra d'Arga fica a poente, mas uns quilómetrosmais em direcção a oriente, pouco mais de duasdezenas, chega-se a Melgaço e logo a seguir aLamas de Mouro, para se dar com a entrada nortedo Parque Nacional da Peneda-Gerês. Aí, pene-trando no parque por uma estrada que deslizaentre montanhas, vai-se facilmente até aoSantuário de Nossa Senhora da Peneda, palco deuma grande romaria anual, a meio do verão.

Quanto a festas populares no Minho, o verão é,aliás, pródigo, e em Junho, por ocasião da festivi-dade do Corpo de Deus, a vizinha Monção acolhe

uma das mais curiosas e originais festas portu-guesas, a do dragão Coca. As origens da festa sãobastante antigas, provavelmente remontam àIdade Média e a antigas lendas. Seguro é, atesta-oPinho Leal no seu "Portugal Antigo e Moderno",que o combate entre S. Jorge e o dragão nas ruasde Monção gozava já de grande popularidade noséculo XIX e início do século XX. Escrevia o autorque "a luta de S. Jorge com a Santa Coca é o quemais attrahe e embasbaca o povo" e é verdade queainda hoje a funçanata atrai multidões a Monção.

O rio casamenteiroMas Monção tem outros pergaminhos, que compe-tem bem com os de Cerveira, quando de matériashistóricas ou coisas lendárias se trate. A situação defronteira fez germinar heroísmos e figuras de lenda,como a célebre Deuladeu Martins, mas Monçãoparece ter sido, por razões de localização estratégi-ca, alvo de cobiça justificado da parte de nuestroshermanos. Para efeitos de passeatas, valemo-nosprimeiro da excepcional valência de miradouro: oburgo, alcandorado numa elevação, beneficia deuma bela perspectiva sobre o Rio Minho, que alicorre mais estreito, mas sempre com margens ale-gres e viçosas. O rio é, recorde-se, fonte de uma dasdelícias gastronómicas locais, a lampreia. Se amotivação do viajante for de ordem gastronómica,Monção tem outros trunfos, como o cabrito, que édas cozinhas da região um dos mais reputados ex-libris, servindo-se naquelas bandas assado emforno de lenha e com arroz por principal e bemprestigiado acompanhamento. E quanto aos nécta-res da vinha, que por ali beneficia de clima e terre-no de características muito especiais, não partirá oviajante defraudado ou insatisfeito depois de pro-var o precioso alvarinho, néctar produzido igual-mente do outro lado da fronteira.

O rio Minho separa e une, afinal. É factor detempero do clima que se reparte generosamentepor ambas as margens e ainda cuida de ajudar aolazer e aos amores: põe suas águas a brincar dian-te da vila com umas quantas ilhotas em que overde da vegetação rasteira alterna com manchasde areia que se douram à hora do crepúsculo.Arrumadas as desavenças raianas, o rio cantafinalmente em sossego uma toada lenta e doceque seduz bucolismos namorisqueiros buscandodiscreto refúgio numa e noutra margem. n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Terra Nossa

Após uma intervenção de fundo, em que foram

investidos seis milhões de euros, acaba de

reabrir a unidade hoteleira da Inatel em

Cerveira. Após a remodelação, a unidade,

classificada com quatro estrelas, passou a contar com uma

centena de quartos, incluindo quatro suites, e é uma das

mais modernas da região. O projecto de remodelação teve

um financiamento do QREN (um empréstimo de 55% do

valor da empreitada inicial), um tipo de comparticipação

que já aconteceu nas unidades de Porto Santo e de

Manteigas.

Para Vítor Ramalho, presidente da Fundação Inatel, a

reabertura desta "unidade de excelência" começa por

"corresponder a uma preocupação central que é a do lazer de

quem trabalha ou já trabalhou, que deve ter espaços dignos e

modernos". O Inatel Cerveira está inserido numa região que

regista uma procura significativa e prevê-se que "a procura

venha ser muito maior, o que fará aumentar o número de

beneficiários, numa região que tem cerca de seiscentas mil

pessoas". A procura por parte de visitantes da Galiza está

também contemplada nestas expectativas. Para o presidente

da Fundação Inatel, "um outro factor relevante é o da

empregabilidade, há essa preocupação e temos aqui cerca

de trinta pessoas a trabalhar, mais seis do que antes da

requalificação"

A remodelação, em curso, das unidades hoteleiras da Inatel

corresponde "a obrigações estatutárias, que determinam a

necessidade de requalificar os equipamentos". Em breve

A excelência é o limite

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serão iniciadas também obras semelhantes no edifício de

Albufeira. Intervenções do género foram realizadas

igualmente nas unidades de Oeiras e da Foz do Arelho e

estão a decorrer requalificações na Costa da Caparica,

Alamal e Castelo de Vide. "A Inatel passará no futuro a ser

dotada de equipamentos hoteleiros de grande qualidade".

“Gestão voltada para o futuro…”As requalificações têm abrangido também as agências e os

parques desportivos e "a presente requalificação não é,

portanto, um caso isolado no conjunto vastíssimo de

património imobiliário da Inatel". A unidade de Cerveira fica a

contar com biblioteca, auditório com capacidade para 120

pessoas e bem equipado em termos tecnológicos, piscina,

espaço infantil, sala de jogos e uma área verde envolvente. É

um edifício que cumpre as normas mais exigentes em

termos de segurança e a sua remodelação teve

preocupações de carácter ecológico, estando prevista a sua

conversão num futuro próximo numa unidade autossuficiente

em termos energéticos, através da produção de energia de

painéis solares próprios.

A requalificação da oferta hoteleira da Inatel responde

também ao consagrado na sua missão: "Nós temos um papel

relevante na economia social, e num momento de grande

crise no país, nós não podemos andar a perguntar o que é

que devemos fazer. Nós fazemos. Arriscando, obviamente,

porque é uma característica que deve ter uma gestão

responsável e voltada para o futuro". HL

A remodelação, em curso, das unidadeshoteleiras da Inatel corresponde "a obrigaçõesestatutárias, que determinam a necessidade derequalificar os equipamentos" (Vítor Ramalho)

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Entrevista

Mia Couto“Moçambiquetem que construira sua própria lusofonia”Mia Couto esteve em Portugal por ocasião do lançamento do seu último livro,"A confissão da leoa". Em entrevista à Tempo Livre, o autor moçambicano,vencedor do Prémio Eduardo Lourenço em 2011, falou da sua escrita, dadiversidade da língua portuguesa e de outros temas, como o AcordoOrtográfico e a CPLP, que realiza no próximo mês uma cimeira na cidade deMaputo. Sobre o seu último romance, lançado na Feira do Livro de Lisboa, MiaCouto sublinha a intenção de construir uma narrativa, inspirada emacontecimentos ocorridos no norte de Moçambique, em torno da condiçãofeminina em Moçambique.

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Entrevista

“Sinto que a CPLP é pouco visível, pouco par-ticipativa e apela muito pouco para que nósparticipemos nela (…). Devemos levantar asnossas vozes para mostrar como gostaríamosque fosse esta organização que pretendemosseja mesmo uma comunidade de países”. Para si os actuais modelos de organização e defuncionamento da CPLP não fazem dela, ainda,uma verdadeira comunidade de países?

Eu acho que é uma questão de funcionalidade, deela estar ligada a assuntos que são prementes,que são vitais, e de se afirmar existente, viva,interventiva. É evidente que esta é uma críticafácil de fazer para quem está de fora, mas qual-quer organização que junta países que estão tãodistantes tem que enfrentar esse processo. É umprocesso e eu acho que esse processo tem que serolhado com verdade. O que me faz aflição é que

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há quem pense que ela já está criada… E aindanão está, tem que nascer…Então o que falta não é pouco…Falta nascer no sentido em que essas organi-zações têm que nascer várias vezes… E têm queestar no lugar certo. Por exemplo, acontece qual-quer coisa na Guiné ou em qualquer um dessespaíses da comunidade, e tem que se percebercomo é que ela é útil e que conquistou um lugar.

Isso significa ser mais interventiva em dife -rentes planos e oportunidades?Sim. Imaginemos a questão do AcordoOrtográfico, coisas que realmente nos ligam deuma forma mais vital. A CPLP poderia ter aí umpapel enquanto organização supranacional, deforma a criar vínculos.A CPLP pode jogar um papel no contexto dosdiálogos interculturais entre as sociedades dospaíses que a formam?Uma das questões centrais é desde logo a CPLPassumir-se em função da questão da língua, queé o elemento unificador. Mas aí tem que se ter umolhar crítico, para que os outros, que são destacomunidade, se sintam igualmen-te membros. Eu estou a falardaqueles que não têm o portuguêscomo língua materna, ou quenem sequer falam o português. Éimportante que a CPLP trabalhede maneira a que essa gente possatambém ser parte…E pode ter um papel relevante noâmbito da promoção da diversi-dade da língua portuguesa? Oupoder-se-á dizer que há uma con-cepção de língua portuguesa quenão contempla suficientementeessa diversidade e que precisa de ser questiona-da? E que só a literatura pode aprofundar ouestimular essa diversidade, a par do uso e recri-ação popular?Eu acho que a segunda sub-pergunta abraça tudoo resto. É preciso que se questione ao nível dapolítica, não só ao nível da literatura, ao nível davontade, de modo que se perceba que esses paí-ses têm uma expressão diversa, são países que,sendo de língua portuguesa, têm outras línguas,têm outras maneiras de respirar e de pensar quetêm de ser consideradas de forma inclusiva, quenão se podem marginalizar. E isso significa pen-sar de todas as maneiras possíveis, económica,etc…. Como fazer dicionários, como fazer trocasem que estas línguas falem realmente com o por-tuguês, dialoguem com o português para quequalquer cidadão destes países possa saltitarentre as duas línguas, a materna e a língua por-tuguesa.Ou seja, o plano da política não esgota o queestá por fazer…

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“ …(a CPLP) temde se afirmar, serviva, interventiva (…)O que me faz afliçãoé que há quem penseque ela já estácriada… E ainda nãoestá, tem quenascer…”

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Entrevista

É preciso política, mas depois é preciso progra-mas de trabalho que se manifestem ao nível daeducação, da literatura, etc.Numa ou outra posição pública sobre o AcordoOrtográfico, o Mia Couto, que tem uma preocu-pação constante com a reinvenção linguística,manteve sempre uma certa distância ouambiguidade…O Acordo Ortográfico mexe com uma coisa tãopequenina, mexe com a ortografia, e a minhareinvenção não se opera exactamente aí… E defacto é um acordo que unifica tão pouco que nãome parece que seja motivo para eu me preocu-par… Acho que foi pena, sim, não se ter discuti-do coisas que eram bem mais importantes, comoaquilo que são os nossos laços culturais e asdistâncias das políticas culturais.A dimensão das alterações previstas não justifi-

ca, portanto, as polémicas entre-tanto desencadeadas…Acho que a polémica nasceu deum certo sector em Portugal queviu uma certa perda, que teve umsentimento de que alguma coisaestava a ser mexida no que era umterritório sagrado, bem portu-guês… Provavelmente essareacção nervosa existiu sempreque houve um acordo deste tipo,sempre que houve uma revisãoortográfica… Agora é uma coisamais complicada porque é umarevisão feita por vários países. Oque mais importa para Moçam -bique é saber quais as impli-cações financeiras que este novoacordo acarreta.

Moçambique é precisamente um dos países queainda não aprovaram o texto do Acordo. Éimportante a sua implementação? E em queaspectos é que o país poderá beneficiar? E o queé que é necessário discutir ainda para queMoçambique possa aprovar o texto?Moçambique tem que se posicionar de umamaneira clara sobre se concorda ou não, se setrata de uma questão prática de implementação,e dizer o que é preciso para que se faça essaimplementação. No nosso caso, em Moçambique,há uma certa ambiguidade… Às vezes línguaportuguesa é nossa, outras vezes não é. Outras

vezes é um assunto que os outros é que têm queresolver por nós… A língua portuguesa é umalíngua moçambicana, é a língua de unificação dopaís, e sendo oficial é cada vez mais uma línguade cultura. E mesmo que Moçambique seja umpaís lusófono, tem que construir a sua próprialusofonia, mesmo que ela tenha outro nome…um sentimento de comunidade, de pertença lin-guística ao nível nacional. E essa tarefa é umatarefa de soberania, não podemos esperar quesejam os outros a fazer.O acordo não significa, portanto, nenhum con-strangimento para a produção de diversidadeem cada um dos universos linguísticos, sociais eculturais da CPLP?Absolutamente nada. A polémica é superficial, oacordo não implica grandes alterações.Mas mais de vinte anos depois da declaração deintenções de firmar um Acordo Ortográfico sub-siste um impasse. Isso significa a sua poucarelevância ou, pelo contrário, é sinal daimportância das alterações que implica?Aquilo que eu objectei em relação ao acordo foi asua pertinência, aquilo que foi invocado para anecessidade de introduzir alterações. Mas agoraque está aí, acho que é improdutivo brigar contrao acordo. Podemos acusá-lo de várias coisas, denão ser envolvente, de não contar com a auscul-tação das pessoas que são realmente as donas, asfazedoras da língua. Eu não sou militante dessacausa, de questionar e negar o Acordo. É verdadeque esse acordo pode resolver algumas coisasque não pareciam ser grande problema e agoraque ele está aí as questões são mais de ordem prá-tica. Sinceramente, eu já estou a escrever, já oestou a aplicar e não é um parto tão dolorosoassim."Para mim, escreve-se sempre em estado de cri-ança. Pelo menos no meu caso, necessito do ter-ritório da infância para olhar o mundo comoum brinquedo, uma massa de barro que é pos-sível remoldar". Escreveu estas linhas no prefá-cio de um livro infantil, assinado por uma auto-ra brasileira. É nesse olhar que está a raiz dacomponente onírica da sua escrita? Sim, possivelmente. As explicações que eu dousobre as razões por que é que eu escrevo são sem-pre inventadas. E eu estou sempre a pensar emcoisas novas porque não há só uma explicação,há várias explicações disso que é a apetência de

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“As explicaçõesque eu dou sobre asrazões por que é queeu escrevo sãosempre inventadas. Eeu estou sempre apensar em coisasnovas porque não hásó uma explicação,há várias explicaçõesdisso que é aapetência de euescrever, de criar e defazer poesia.”

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Entrevista

eu escrever, de criar e de fazer poesia. Mas euacho que eu sou um escritor do território da poe-sia, essa é a minha casa. A prosa é uma viagemque eu faço para voltar, para sair de casa e voltara casa. E, de facto, o que me agrada é fazer umexercício que não seja só estético, decorativo,mas que seja um posicionamento de ingenuida-de, como se a língua não estivesse feita e eu fosse,

realmente, o construtor. Como se a escrita devesse inte-grar ou partir de um olhar sem-pre perplexo sobre o mundo,para que a linguagem e a liter-atura possam reinventar omundo, o real?Não é uma coisa apenas literária.Eu digo aos meus filhos que prati-quem isso como alguma coisafundamental. A linguagem nãoserve só para descrever o mundo.A linguagem deve ter tambémuma função de o criar, uma vez

que o mundo é sempre o resultado de um olhar,e de um olhar que é muito pessoal, que é sempreuma obra de reinvenção. Eu faço isto como umexercício que não é só literário.Em escritas anteriores, a relação entre o homeme o meio ambiente, entre a sociedade e anatureza não estão de todos ausentes. Este últi-

mo livro, "A confissão da leoa", parte de acon-tecimentos muito concretos que o Mia foi teste-munhou e a referência àquelas relações surgede uma forma muito mais directa do quenoutros textos. Há alguma razão especial paratal acontecer neste momento?Não, tem a ver simplesmente com esta história. Éo livro que eu fiz que está mais próximo daquiloque é a minha profissão. Aconteceu impregnadodessa circunstância, não tive a intenção particu-lar de fazer alguma coisa diferente.E será que poderemos ver nesta narrativa, ouem algumas das suas passagens, uma espécie deparábola sobre as circunstâncias actuais deMoçambique?Não tive essa intenção. É um livro sobre a mu -lher, sobre as mulheres no mundo. Moçambiqueé simplesmente o cenário que faz despoletar ahistória. Moçambique continua a viver tempos de cresci-mento económico… A literatura moçambicanaactual acompanha e reflecte esse tom optimista? Eu acho que sim, houve um período morto, masestão a aparecer novas vozes. Há gente nova afazer coisas boas em poesia e em prosa. Nessesentido, sim. E há uma prosa que questiona aqui-lo que são os caminhos e essa é uma das funçõesda literatura. n

Humberto Lopes (texto) José Frade (fotos)

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“Aquilo que euobjectei em relaçãoao acordo(ortográfico) foi a suapertinência, aquiloque foi invocado paraa necessidade deintroduziralterações…”

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Paixões

As nuvens cinzentas enchem océu, as ruas empedradas deDordrecht estão silenciosas etodos os sons que se ouvem, aoinício da manhã, provêm das

águas calmas do Rio Oude Maas, cortadas porembarcações de dimensões respeitáveis. Eudirijo-me a um homem de cabelos brancos,um dos raros a circular àquela hora na cidadedo sul da Holanda, por sinal a mais antiga dopaís.

- Ainda tem de caminhar um bom bocadoaté encontrar a Arca de Noé.

Com o rio sempre à minha esquerda, lançoolhares fugazes às casas antigas e às suas ricasfachadas antes de desaguar numa zona moder-na, cruzo um parque de estacionamento e umaponte e, finalmente, observo, ainda à distân-cia, o barco, com a sua cobertura em tons deamarelo a contrastar com o cinzento do céu,destacando-se na proa a girafa de proporçõesbíblicas (cinco metros e meio) que se recorta

contra aquele céu que teima em manter ocultoo sol.

Um homem sonha…Uma chuva miudinha, como se a abobada domundo vertesse uma lágrima, acompanha-mequando, minutos depois, assomo à grossa portade madeira que empurro com alguma dificulda-de antes de penetrar naquele mundo de umtempo distante, a materialização de um sonho deum homem.

- Uma noite sonhei com uma grande inundaçãoque varria a Holanda do mapa. Foi nesse momentoque me surgiu a ideia de construir a Arca de Noé.

Johan Huibers, com o cabelo já grisalho,homem de sorriso fácil, é um cristão confesso queum belo dia renunciou à vida errante que tinhapara se dedicar a construir, com a ajuda de quatrocarpinteiros - ele próprio é carpinteiro - a Arca deNoé. Este holandês percebeu rapidamente que setratava de um projecto megalómano, demasiadogrande para um homem só e o seu martelo.Segundo a tradição bíblica, Noé construiu a arcasob as ordens de Deus, sem qualquer noção demarcenaria, apenas recebendo instruções precisaspara pôr de pé a obra. Johan Huibers recolheuinformações em livros e na Internet mas quandose deparou com os números referidos nas escritu-ras decidiu que se limitaria a erguer a arca commetade do tamanho real. Durante anos, a arca foiconstruída no porto fluvial de Schagen, a norte deAmesterdão, utilizando cerca de 1200 árvores decedro americano e pinheiro norueguês.

- Só para cortar as placas foram necessárias 20semanas. Mas consegui. E em 2007 abri as portasda arca aos visitantes, uns meses antes de embar-car, empurrado por rebocadores, através doscanais até chegar aos portos de Roterdão e deArnhem, recorda Johan Huibers.

A Arca de Johan Johan Huibers teve um sonho, uma inundação que varria a Holanda domapa, e durante quatro anos empenhou-se em construir uma réplica emtamanho natural da Arca de Noé, a mesma que agora alterasubstancialmente a paisagem de Dordrecht, a mais antiga cidade holandesa

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No total, foram visitadas 25 localidades holan-desas e, gradualmente, a fama da arca foi crescen-do, até ser do domínio público, incluindo do pre-sidente da Câmara de Dordrecht, que se disponi-bilizou para receber Johan Huibers e, mais tarde,ceder-lhe um cais nos pântanos de Langedijk.Naquele lugar, podia, finalmente, cumprir o ver-dadeiro sonho e partir para a construção da répli-ca da Arca de Noé em escala real - a outra foi ven-dida e pode hoje ser vista em Colónia, naAlemanha. E, assim, em Agosto de 2008, depoisde se desfazer de quase todos os seus bens mate-riais, incluindo alguns moinhos que havia eleva-do nos céus, Johan Huibers começou a tornar reala legendária arca que serviu para salvar o profetaNoé, a sua família e preservar algumas espéciesde animais do dilúvio universal e logo repovoar aterra com os seus descendentes.

- Eu era hospedeira de bordo e um dia, duran-te um voo, vi um passageiro com uma edição dojornal USA Today nas mãos. Olhando mais aten-tamente para uma das páginas, vi uma fotografiado meu pai ao lado da Arca e perguntei a mim

própria o que estava a fazer ali, que ideal de vidaera aquele. E decidi largar tudo e acompanhar omeu pai, por quem sinto um grande orgulho, alevar a cabo este projecto, ou melhor esta missão,porque é de uma missão que se trata, revelaDeborah Venema, enquanto me acompanhanuma visita guiada à Arca de Noé, ainda órfã dosúltimos detalhes e na expectativa de uma buro-cracia mais teimosa do que a chuva que caiuininterruptamente durante 40 dias e 40 noites.

- Esta é uma construção sólida, como podever, tudo feito com madeira, mas as autoridadeslocais têm de emitir uma licença que garantasegurança a todos os visitantes. A abertura estáprevista para Junho, conta a simpática DeborahVenema.

Os números são desde logo impressionantes,especialmente se pensarmos que Johan Huibersapenas teve a ajuda dos filhos e de alguns ami-gos: um peso de 2970 toneladas, tudo em pinhei-ro sueco, uma capacidade para 1500 passageirosde cada vez, um comprimento de 135 metros, de22, 5 de largura, 13, 5 de profundidade e um

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Paixões

custo total de 1, 2 milhões de euros. - Tinha em mente levá-la a Londres, por ocasião

dos Jogos Olímpicos, mas a falta de licença invia-bilizou a possibilidade, assume Johan Huibers.

Convite portuguêsDe acordo com alguns engenheiros navais, obarco, sem motor para o empurrar, poderiasucumbir às ondas do Mar do Norte antes de che-gar a Londres. Mas Johan Huibers recusa essatese, talvez baseado na fé que sempre o acom-panha (assiste à missa todos os domingos nacompanhia da família). Para este holandês, aArca de Noé não tem comparação com o Titanic,foi desenhada por Deus, virtualmente é impossí-vel que se afunde, garante pouco antes da filhatomar a palavra, avançando com a hipótese de alevarem aos Estados Unidos e até a Portugal, deonde já terá recebido um convite.

- Há um interesse e uma curiosidade muitograndes em volta da arca. Em Agosto iremos rea-lizar um casamento aqui para um total de 400convidados, uma cerimónia que contará inclusi-ve com a presença do padre. Qualquer pessoapoderá visitar a Arca de Noé, os adultos pagam12, 50 euros e as crianças 7,50. Mas temos preçosmais em conta para grupos e para escolas. Como

lhe disse, a nossa ideia não é ganhar dinheiro,esta é uma missão, queremos mostrar às pessoasque Deus tem as suas portas abertas para todosaqueles que O amam.

Passo os olhos pelo restaurante, pelo bar, pelalivraria, pela sala de conferências, pelo corredoronde chilreiam centenas de pássaros, por umoutro que retrata cenas bíblicas, por todo aquelemundo de madeira por onde espreitam os ani-mais. Contrariando a ordem de Deus, para salvaralgumas espécies, Johan Huibers teve de se con-frontar com os activistas dos direitos humanos enão lhe restou outra alternativa - teve de optarpor modelos sintéticos.

Próximo da recepção, enquanto caminho aolado de Deborah Venema, um casal permaneceestático, deixando divagar o olhar. A jovemholandesa, de sorriso eterno, dirige-se-lhes, inda-gando sobre a presença deles num lugar aindafechado ao público. Fred e Annette de-Leest estãode visita à Holanda (onde um deles tem as suasorigens) e, depois de terem ficado a par da cons-trução da Arca de Noé, através da imprensa local,não quiseram perder a oportunidade de a visitar.

- Após percorrer algumas cidades holandesaspercebo melhor a ideia do seu pai. Noto que asociedade está completamente desligada dealguns valores. Raramente vejo uma igreja aberta.

Deborah Venema, habitual frequentadora deespaços de oração (também não falha a missa dedomingo, dia em que a arca estará encerrada aopúblico), revela-se sensível à visita do casal ame-ricano e disponibiliza-se de imediato para perco-rrer os múltiplos espaços da imponente obra quecada vez atrai mais visitantes a Dordrecht, aindacinzenta mas já sem chuva miudinha quandodela me despeço. n

Sousa Ribeiro (texto e fotos)

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Deborah Venemadeixou de serhospedeira de bordopara acompanhar opai na sua “missão”.Ao lado, pormenor dointerior da Arca. Embaixo, rua deDordrecht

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Viagens

Eu sentia-me inquieto, como queenvolto nas brumas da descon-fiança, pesando sobre mim o factode ser jornalista e de me prepararpara visitar um dos países mais

fechados do mundo. O sorriso da hospedeira,acompanhado de palavras elogiosas sobre Shiraz,de onde era natural, ajudou a atenuar, em parte,este sentimento que teimava em ofuscar o prazerde materializar uma viagem que há alguns anosse pintava na minha imaginação.

Instalo-me num hotel e logo sou convidadopelo gerente a beber um chá e a dar a minha opi-nião sobre Barack Obama. Volto a ficar desapie-dado da minha quietude sonhadora antes de sairpara a rua que fervilha de vida. Famosa pelassuas universidades, pelo vinho e pela poesia,Shiraz é o coração da cultura persa há mais de2000 anos, a Dar-ol-Elm (A Casa do Conhe -cimento), a Cidade das Rosas, a Cidade do Amore a Cidade dos Jardins.

Fito a Praça Shohada e não tardo a apaixonar-me pelas fragrâncias e pela beleza harmoniosadaquela que foi capital do Irão entre 1747 e 1789.Entro na Arg-e-Karim-Khan, a Cidadela, eaquiesço com a cabeça perante a inscrição. "Aexaltada estatura da cidadela de Karim Khandiverte por um longo período todos os novos via-jantes que chegam a Shiraz." Enquanto voudesenhando na mente como seria a cidade notempo do primeiro governador da dinastia Zand,admiro o pátio e o lago que se espraia de um ladoao outro rodeado por laranjeiras onde casais

jovens tentam ocultar-se dos olhares curiosos.Uma atmosfera serena, despretensiosa e íntimatestemunhada desde tempos imemoriais poraqueles imponentes muros decorados com umatorre circular em cada um dos cantos - uma delastem uma forte inclinação.

Sob os raios tépidos do sol que começa a des-cer no céu, entro na imponente Masjed-e Vakil, amesquita mandada erguer por Karim Khan, paraadmirar o magnificente pátio central, os coloridosazulejos com motivos florais e arabescos do iníciodo período Qajar e a sala de oração abobadadaassente em 48 colunas esculpidas. Passo fugaz-mente pelo Hamam-e Vakil, antiga sala de banhose hoje transformada em loja de tapetes, e embren-ho-me nos bazares, começando pelo Vakil, umdos mais vibrantes do país. Conce dendo todo otempo ao destino, erro por estas amplas a aboba-dadas avenidas em tijolo, uma verdadeira obra-prima da arquitectura Zand projectada para man-ter o interior fresco no Verão e quente no Inverno.

De volta ao hotel e o gerente pergunta-me:- Pode escrever o que pensa sobre Obama?

Persepólis - Capital de um impérioDurante mais de dois séculos, desde o momento(560 a. C.) em que Ciro, o Grande começa a esten-der o seu território da velha Elam em todas asdirecções e até que surge um jovem general mace-dónio chamado Alexandre, as planícies e estepesda Pérsia são o palco do império mais fascinanteque a Ásia haveria de conhecer. E quando, menosde 40 anos depois, Dario I, Rei dos Reis, sobe ao

IrãoAs mais belasjóias da PérsiaShiraz, coração da cultura, cidade das rosas, do amor e dosjardins, Persépolis, a antiga capital de um vasto império, eIsfahan, a metade do mundo com a sua praça e as suas pontes

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Viagens

trono, os Aquemênidas abarcam uma extensão tãogrande que legitimamente ainda hoje é visto comoo maior império que a humanidade conheceu atéentão. Aqui, neste estreito vale rodeado de mon-tanhas azuis, Dario I mandou erguer a capital doseu império, o espelho da sua grandeza, à qualchama Parsa ou Cidade dos Persas, mais tarde bap-tizada pelos gregos como Persépolis. Sob um solque ameaça esfarelar a terra, caminho por entreestas pedras que falam do passado e de quando emquando detenho-me para, como um espectadornum cortejo, admirar esta grandiosidade, aindaque seja apenas uma mera sombra de um tempoglorioso. Os fabulosos relevos da Procissão dosTribu tários, as colunas e os seus capitéis em formade leão ou de touro, os arcos e os palácios, omuseu, os túmulos no cimo da colina, com umapanorâmica soberba sobre a cidade onde se desta-ca o Palácio das 100 Colunas, e finalmente, numadespedida já carregada de uma nostálgica melan-colia, de novo aquelas admiráveis escadas queconduziam a uma cidade que haveria de ser toma-da facilmente por Alexandre, enquanto Dario III,pouco inteligente e cobarde, ao contrário dos seusantecessores, fugia como um coelho.

À boleia, monto uma motorizada que me con-duz, por entre campos verdes, a Naghsh-eRostam, a seis quilómetros de distância, para veros túmulos nas rochas escavadas, um deles per-

tencente a Dario I, relevos e inscrições da poste-rior dinastia Sassânida e um templo dedicado aofogo da era aquemênida. De regresso a Shiraz,contemplo a Mesquita dos Mártires, o Aramgah-eShah-e Cheragh (Mausoléu do Rei da Luz), onderepousam os restos mortais de Sayyed MirAhmad, um dos 17 irmãos do Imã Reza mortoneste mesmo lugar, as cúpulas azuis e o topo dou-rado dos minaretes e, discretamente, o fervor dosfiéis num dos lugares mais sagrados dos xiitas.

Exposto aos raios oblíquos e ardentes, camin-hei até à elegante Mesquita Nasir-Ol-Molk paraobservar, com uma atenção afectuosa, os colori-dos vidros das janelas, os pilares esculpidos, e amajestosa fachada de azulejos azuis que se recor-ta contra o céu. O dia perdia o seu calor quando,finalmente, me sentei, tranquilamente, num dosbancos do Aramgah-e Hafez, contemplando ascentenas de pessoas que ali chegavam para pres-tar homenagem junto ao túmulo de Hafez, opoeta herói do povo iraniano.

Isfahan - A metade do mundoA Praça do Imã estava ali, à minha frente, comtoda a magnificência, um cenário mágico das mile uma noites que parece reunir num único localtoda a cultura persa, com os seus monumentos, asua história prodigiosa e os seus costumes.Esfahan nest-é jahan significa Isfahan é metade

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Viagens

do mundo e, olhando aquela praça, uma dasmaiores do mundo, com 500 metros de compri-mento e 160 de largura, melhor percebo o alcan-ce dos versos do poeta francês Renier no séculoXVI. Assomado por uma aguda vaga de senti-mentos, deixei os olhos resvalar para a Mesquitado Imã, com a sua sumptuosa decoração e a suaelegante arquitectura mandada levantar, comomuitas outras jóias de Isfahan, pelo Xá Abbas I, omonarca mais importante da dinastia safávidaque, depois de expulsar mongóis e turcos otoma-nos, pretendeu transformar a cidade na maior emais bela capital do mundo.

Neste espaço rectangular fechado onde agorame encontro, em tempos cenário para os desfilese para as festas do Xá ou, até há bem poucotempo, de execuções públicas, deixo-me envol-ver por uma deliciosa indolência. Entro naMesquita do Xeque Lotfollah, nome do sogro deAbbas, admiro a sua singularidade face ao mode-

lo tradicional de arquitectura - desprovida deminaretes, de pátio central e de iwanes, as salas-pórticos que se abrem para o pátio - e todo umambiente que provoca espanto entre iranianos eestrangeiros. Não deixo de entrar no Palácio AliQapu, antiga residência do Xá, também localiza-do na praça, e depois caminho na direcção do rioZayandé. Percorro quilómetros e quilómetros,para cá e para lá, vendo as famílias com as suasmantas estendidas na relva com os seus piqueni-ques, um ambiente relaxante que ganha maiordimensão próximo das pontes Si-o Seh e Khaju.Páro para beber água ao lado de uma mulher quelava os legumes num repuxo e que logo me esten-de, com um sorriso, um pepino. Ao início datarde, visito Jolfa, o bairro arménio onde oscristãos encontraram refúgio e respeito pela reli-gião, e termino o dia na Shahrestan, a mais antigadas pontes de Isfahan, consciente de que a cidadeainda me oferece tanto para ver.

Opto pelo autocarro para regressar ao centroda cidade e, junto à paragem, entregue à minhasolidão, vejo um carro deter-se a poucos metros.No interior, um homem pega no telemóvel. Umoutro, bem vestido, espera agora também ao meulado. Desconfio e mais inquieto fico quando, jáno autocarro, ele me faz perguntas insistente-mente. No ponto onde me apeei, ele apeou-setambém, seguindo numa outra direcção, enquan-to eu necessitava de esperar por uma ligação atéà Praça Enqelab-e Eslami.

- Fica com isto. É um passe de autocarro quepodes utilizar as vezes que desejares em toda acidade. Eu depois compro outro. n

Sousa Ribeiro (texto e fotos)

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GUIA

COMO IR

A Lufthansa, a British Airways

e a Air France voam para

Teerão com tarifas à volta dos

800 euros. De Teerão, há

ligações aéreas a Shiraz e, a

partir daí, pode fazer todo o

percurso de autocarro de

regresso à capital, passando

por Persépolis (70 km de

Shiraz) e Isfahan.

DORMIR

Em Shiraz, o Hotel Sasan é

uma boa opção, bem

localizado e muito em conta

(cerca de 15 euros) mas se

pretender um pouco mais de

luxo o Pars International Hotel

apresenta-se como a melhor

alternativa (à volta de 100

euros). Em Isfahan, o Dibai

House, próximo do Bazar-e

Borzog, é uma possibilidade,

oferecendo um ambiente

sereno e duplos por cerca de

75 euros. Mas é o Abbasi

Hotel, num edifício que

abrigou, no século XVII, um

caravanserai, o mais reputado

de todos na cidade (cerca de

130 euros).

COMER

Em Isfahan, a dois passos da

Praça do Imã, o Sofreh

Khaneh Sonnati, com as

janelas coloridas e as suas

camas-mesas, num ambiente

que recria o período Qajar, é

um lugar que perdurará na

sua memória - e a comida é

deliciosa. Em Shiraz, próximo

do Bazar Vakil, numa

atmosfera muito semelhante e

sempre cheio de famílias

iranianas, não deixe de provar

a extraordinária gastronomia e

de ouvir música tradicional.

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CONHECIDA sobretudo pelos seus parques naturais, pelos massai - esses "homens da cor dobarro" – e por uma das faces do Kilimanjaro,montanha partilhada com o vizinho Quénia, aTanzania guarda junto à costa algumas memóriasda passagem dos europeus e dos árabes.

A ilha de Quiloa, apesar do título Patrimónioda Humanidade que ostenta, não é propria-mente considerada uma atração turística, e nãoserá escândalo nenhum inserir no domínio dosdesportos radicais a emocionante travessia feitanum dhow, embarcação com vela latina e deapenas quatro metros de comprimento, onde os

nautas lusos se inspiraram para construir acaravela.

De toda a fortaleza, só o torreão - conhecidocomo Gereza - é de origem portuguesa, tendo arestante estrutura sofrido transformações após oabandono da ilha, em 1512. Uma placa bem visí-vel refere um projeto de conservação urgente,implementado pelo departamento de antiguida-des tanzaniana e a Unesco, com o financiamentode um fundo norueguês. O que não impede que,desde 2004, este local integre a nada prestigiantelista do Património Mundial em Perigo.n

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

TanzaniaDe barco à vela em Quiloa

Portfólio

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Port

fóli

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“A Tanzania guardajunto à costa algumasmemórias da passagem doseuropeus e dos árabes”

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Port

fóli

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“A ilha de Quiloa,apesar do título Patrimónioda Humanidade queostenta, não épropriamente consideradauma atração turística”

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Poucos minutos antes da meia-noitedaquele dia 10 de Junho de 1994, umaavó babada sai para comprar umaguloseima para o neto. Vai ao café docostume, troca dois dedos de conver-

sa com a dona da casa, faz um telefonema paraLisboa a saber dos pais e das irmãs, e sai de regres-so a casa, à casa inacabada que era também umsonho antigo. Atravessa a estrada no sítio do cos-tume mas não chega ao outro lado. Um automó-vel conduzido por um homem visivelmente alco-olizado (1,75 gramas por litro segundo os guardasdo posto da GNR em Arruda dos Vinhos) não con-segue evitar o atropelamento de Alice Cruz, a avóque saíra para comprar uma guloseima ao neto.

Uma ambulância ainda levou a locutora aoHospital de Torres Vedras mas a morte esperouapenas algumas horas e Alice morreu, já emSanta Maria, na sexta-feira seguinte.

De Angola ao LumiarNão, não foi em Angola que Maria Alice AmorimCruz nasceu (como consta da pequena biografiada Wikipédia), mas sim na Póvoa de Varzim, nodia 30 de Janeiro de 1940. É certo que partiumuito cedo para Angola, com os pais. Tinha ape-nas 9 anos quando participou num programainfantil da Rádio Clube de Angola a dizer umpoema de Fernando Pessoa. A seguir vieram aRádio Ecclesia e logo depois a Emissora Oficial deAngola. O destino de Alice Cruz estava marcadoe quando, em 1963, recebeu o convite da RTPpara fazer Televisão Alice nem olhou para trás.

Alice foi uma das caras que estreou, em 1970,a Televisão à hora almoço, juntamente com Ana

Zanatti e Linda Bringel. "A Hora de Almoço" eraum programa de informação com rubricas recre-ativas e de divulgação. Dois anos depois, apre-sentava "Domingo à Noite", gravado no TeatroMaria Matos, com números musicais, bailado esketches de humor. Ao seu lado estiveram nomesjá firmados como Henrique Mendes, EládioClímaco e Maria Margarida. Ainda em 1972,

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Memória

Alice CruzCompetente, amável, generosa,“a locutora da simpatia”

Foi num dia quente de Verão, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Numa casainacabada dos arredores de Lisboa, em Lajes de Freiria, uma família feliz prepara-se para umfim-de-semana que se adivinhava glorioso.

Apresentadora doFestival da Canção de1982

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Memória

apresentou o Festival RTP da Canção com CarlosCruz. Em 1973, foi a vez de um programa deentrevistas chamado "No tempo em que você nas-ceu", ao lado de Artur Agostinho. Outros progra-mas a que o nome de Alice ficou ligado foram,por exemplo, "Sete Folhas", apresentação da pro-gramação semanal ao fim da tarde dos sábados,"Directíssimo", "Pontos de Vista", "Jogos semFronteiras", concursos vários. Em 1990 foi direc-tora da revista feminina "Guia".

Olhava as câmaras e pensava na avóHouve um tempo em que Alice Cruz odiava fazertrabalho de continuidade. Chegou mesmo a dizerao presidente da RTP que a locução de continui-dade era a morte do artista. E quando Carlos Cruzfoi nomeado director de programas esse trabalhopassou a ser fascinante. Tinham finalmente umprojecto, uma equipa, técnicos e a continuidadetornara-se um desafio permanente.

Alice Cruz fez de tudo na RTP e gostava espe-cialmente de fazer locução de filmes. "Nunca fizquestão de aparecer na televisão. Não acho queseja fundamental. Mas faço o que me mandam.",confessou a Alice Vieira (Diário de Notícias,Abril de 1984) E disse ainda: "quando olho paraas câmaras penso na minha avó que era uma pes-soa de quem eu gostava muito e que estaria aolhar para mim porque se encontrava imobiliza-da e via a emissão do princípio ao fim."

Intuitiva e apaixonada"Não sei fazer as coisas pela metade. Apaixono-mepor tudo o que faço e acho que nãotenho grande imagem televisiva.Tenho um certo poder de comunicaçãoe sou intuitiva." Assim era de facto semcontar com o sorriso e o charme queAlice espalhava em seu redor.

Uma amiga, Maria Antónia Palla,com quem Alice Cruz trabalhou naprodução do programa "Pontos deVista", numa bela crónica publicadana revista Máxima, traçou-lhe o me -lhor retrato que uma amiga podefazer. A certa altura, Maria Antóniaescreve: "E, milagre do saber, tudosaía como espontâneo, com aquela simplicidadeque imprimia a tudo, soberbamente modesta, ini-mitável." "Era calorosa e respeitadora da intimi-

dade dos outros e, como ela dizia, entrava emcasa das pessoas mas não se sentava ao colodelas."

Enfim, Alice Cruz morreu num dia de Verão.Tinha 54 anos e deixou um marido, Rui Romano,um filho, José Luís, arquitecto de interiores, umneto, que não chegou a receber da avó a gulosei-ma prometida.

Nas várias entrevistas que deu para revistas ejornais, disse a propósito da morte: "Não me afli-ge nada, estou perfeitamente preparada paramorrer em qualquer altura. Só gostava de deixaras gavetas arrumadas." Como escreveu o jornalis-ta Afonso Praça na revista "Visão", Alice deixouas gavetas desarrumadas e uma saudade enormenos amigos. n Maria João Duarte

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Capa do número 3 darevista Tele-Semanaem 1973

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Estou a escrever com a música do ZecaAfonso como fundo. E, a propósito, tal-vez a despropósito, quero dizer-vos que,apesar de ele não ter tido a ventura de

ter saúde que lhe permitisse chegar a velho epudesse, até tarde, divulgar-se, tivemos nós asorte de ele ter podido, por via da escrita, do some da imagem, perpetuar a sua produção intele -ctual. E também a sorte de ter tido quem lhereconhecesse o mérito e a tivesse divulgado.Felizmente para nós.

Mas não é isso que acontece à maioria doscomuns mortais que chegam à dita 3ª idade comalgum legado intelectual para deixar. Se não ofizerem antes de se reformar, prescreveram;"morre o bicho, acaba-se a peçonha". A idade daretirada do activo é (costuma ser) uma fronteirade sentido único, inexoravelmente. Uma frontei-ra que, acho que o posso afirmar, muito frequen-temente se passa com a angústia do inevitável naboca, com a tristeza do que ficou por fazer e oamargo de ter que desistir.

O envelhecimento dos tecidos e dos órgãos, eas ineficácias do seu funcionamento, não são as

únicas características da velhice. Salvo se as ano-malias funcionais forem impeditivas, idadeavançada corresponde também a um estádio deacumulação de experiências e de conhecimentosque é muito pouco inteligente desperdiçar.

Ora, se é verdade que o Artigo 72º daConstituição Portuguesa de 1976 se refere aosdireitos dos idosos no respeitante à sua segu-rança e condições de habitação e convívio fami-liar e comunitário, no quadro do respeito à suaautonomia pessoal e de molde a evitar ou superaro seu isolamento e marginalização social, e tam-bém se refere ao tipo de medidas de políticas quedevem ser tomadas (económicas, sociais e cultu-rais) que proporcionem oportunidades de reali-zação pessoal pela sua intervenção comunitáriaactiva, não é menos verdade que muitos destespreceitos, frequentemente, não passam de pala -vras vãs. São muito mais do que seria para dese-jar os casos com que tropeçamos dia a dia, eaqueles de que temos conhecimento directo oupelos media, da insegurança, falta de habitação,isolamento e marginalização dos mais velhos,das escassas oportunidades de realização pessoale das raríssimas que respeitam à sua actividadecomunitária. Neste aspecto particular tenho porcerta a sobra de incidência do pensamento socialda sua inviabilização efectiva.

Défice de atitude…É conhecido que escapam a esta situação pinto-res, escultores, arquitectos, atores, escritores, bai-larinos, cantores e outros artistas, geralmente porrazões que se prendem com a volatilidade da suasituação financeira. Também ao professor univer-sitário, ofício a que é outorgado o estatuto de"sabedor", a sociedade se sente na obrigação derespeitar e dela beneficiar o mais e melhor possí-vel. Porém, até estes, cujo estatuto os impeçam defazer sombra às carreiras profissionais dos maisnovos, não passam muitas vezes de "tolerados".

Trata-se duma questão de défice de atitudesocial que leva a que, mesmo isto, aconteça empoucos mais casos. Causa inquietação, esta"moral" social.

Da terceira prá quarta idade

O Artigo 72º da 6ª RevisãoConstitucional (2005) da Constituição daRepública Portuguesa, que trata daTerceira idade, reza assim: 1. As pessoas idosas têm direito àsegurança económica e a condições dehabitação e convívio familiar ecomunitário que respeitem a suaautonomia pessoal e evitem e superem oisolamento ou a marginalização social. 2. A política de terceira idade englobamedidas de carácter económico, social ecultural tendentes a proporcionar àspessoas idosas oportunidades derealização pessoal, através de umaparticipação activa na vida dacomunidade.

Sociedade

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Há profissões e profissões; há ambientes detrabalho e ambientes de trabalho! Por isso nemde todos os reformados se pode falar da mesmaapetência pessoal e aceitação dos seus colegas,para passarem ao estatuto de colaborador dequem está no activo. Nemtodos terão qualquer coisa demuitíssimo interessante paratransmitir e se revelarão peda-gogos de qualidade.

Cada caso é um caso, natu-ralmente. Portanto, do queaqui estou a falar é do princí-pio em si, e é ele que tem quese consagrar e accionar,dando-lhe força de regra, pro-movendo a aceitação dos maisnovos, motivando os poten-ciais candidatos. Neles poderáencontrar-se uma vivênciainteressante, uma experiênciacuriosa, uma propensão particular, um segredobem guardado, um encanto motivante ou umacaracterística única que convenha aos demaisabsorver e perpetuar.

Ler, escrever, ensinar, divulgar, vulgarizar,

organizar ou preservar, na profissão à margemdela, são fórmulas plenas para fazer voar asmemórias, espalhar o saber, exibir a experiência.

Envelhecer em actividade é um direito do serhumano ao envelhecer. Mas também é a sua

forma de doar o seu tributo àsociedade a que pertence ecom quem assumiu, ao nascer,a obrigação de ajudar a deixarmais evoluída e mais humani-zada do que a encontrou, emmatéria e entendimento.Assim essa sociedade lhe per-mita aumentar o prazo de vali-dade na 4ª idade.

Mas, ainda quero lembrarmais uma, que é esta: Um apo-sentado recebe uma pensão.Mas ela não é um pagamento,é a devolução que se lhe fazdum montante que ele deixou

de receber e gastar ou poupar, durante a sua vidade trabalho na base dum contrato que celebroucom o Estado. Portanto, não esquecer, mais tra-balho carece de mais remuneração.n

Mário da Fonseca

“Um aposentadorecebe uma pensão.Mas ela não é umpagamento, é adevolução que se lhefaz dum montante queele deixou de receber egastar ou poupar,durante a sua vida detrabalho na base dumcontrato que celebroucom o Estado.”

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Olho Vivo

Sorria, está a ser filmado

Os últimos 35 rinocerontes de java (rhinoceros sondaicus) do mundo estãoa ser acompanhados desde o princípio de maio por 160 câmaras devigilância instaladas na ilha da indonésia, que é o seu único habitat. Não háanimais destes em cativeiro e uma subespécie antes encontrada novietname foi declarada extintaem outubro de 2011. O valordo corno no mercado damedicina tradicional pôs aespécie à beira da extinção e oparque natural de ujungkulon pretende monitorizar osespécimes sobreviventes.Cinco dos rinocerontes dejava são crias, como se vê noprimeiro vídeo divulgado.

Telemóvel indiscreto

Daqui por uns anos, os telemóveis com um determinado chip poderão veratravés de paredes, madeira, plástico, papel e outras matérias e objectos(roupa?), quando chegarem a bom porto e se forem comercializadas asinvenções de um grupo de cientistas da universidade de dallas. Osinvestigadores estão a explorar as capacidades de uma gama não utilizada

do espectro electromagnético e, do fim daprivacidade, poderemos caminhar para ofim da intimidade. As imagens serãocriadas a partir de sinais no âmbito dosterahertz (thz), sem recurso a lentes nemsuperpoderes.

Tortilhade elefante

Os humanos quehabitavam há 84 mil anosas margens do manzanares,perto do que hoje émadrid, comiam carne emedula óssea de elefante,segundo um estudo decientistas espanhóis queanalisaram ossosencontrados em preresa,com marcas de cortes epancadas. O estudo foidivulgado pelo journal ofarchaeological science nomesmo mês em que o reide espanha foi alvo dasmaiores críticas porparticipar em caçadas aoelefante em áfrica.

O rato mordemelhor

O êxito dos ratos eratazanas no mundo dosroedores deve-se ao factode não se teremespecializado numa sóforma de roer, cortando osalimentos com os dentesda frente e mastigando-oscom os de trás, concluíramcientistas de liverpool. Se acobaia não se tivesseespecializado em mastigare o esquilo em trincar, porexemplo, poderiam serhoje espécies de sucessomundial como os ratos, apraga mais difundida noplaneta.

Aqui há cacto

Um arqueólogo amador de cincinatti, nos estados unidos, descobriu umenorme fóssil de um animal até agora desconhecido, que viveu há uns 400milhões de anos, nesta zona, então coberta pelo mar. Trata-se de um

organismo com cerca de três metros decomprimento, de forma oval, constituído porlóbulos, como um dos cactos que foram filmadosem centenas de películas de cowboys. O fóssil foiapresentado no fim de abril, na sociedade degeologia de dayton, no ohio. Os paleontólogosafirmam não ter a menor pista sobre a identidadedo monstro.

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António Costa Santos ( textos)

Coala em risco

Doenças, atropelamentos e ocrescimento das cidades são osfactores que estão a diminuir apopulação de coalas na austrália.O animal (phascolarctos cinereus)entrou no 1º de maio para a listadas espécies vulneráveis (umdegrau abaixo da categoria "emperigo"). Nos últimos 20 anos, o número de coalas diminuiu 40%nas províncias de nova gales do sul e queensland e já não existemem estado selvagem em redor da capital, camberra. Dos milhõesque viviam em 1788, restam uns 40 mil.

Tempo de mais

Nascer prematuro tem os seus problemas,mas ver a luz depois de 42 semanas degestação também não é bom. Um estudode médicos de roterdão, holanda, nointernational journal of epidemiology,assinala que os bebés "pós-termo" têm maisprobabilidades de revelar problemas decomportamento na infância. Os cientistasacompanharam cerca de 400 miúdos quenasceram com mais de 42 semanas edetectaram, por exemplo, défices deatenção e hiperactividade, em taxas duasvezes superiores às dos bebés degravidezes "normais".

O ciúmetem sexo

A competição sexual noemprego afecta mais asmulheres que os homens.A competição social eprofissional afecta maisos homens que asmulheres. A conclusão éde um estudo deespanhóis, argentinos eholandeses, publicado narevista de psicologiasocial da universidade devalência. Osinvestigadoresquestionaram 600pessoas, das trêsnacionalidades, echegaram à conclusãoque o ciúme e a invejatêm sexo, reagindo cadagénero com intensidadesdiferentes a um rivalamoroso ou profissional.

Sem stress

Experiências realizadaspor cientistas dacalifórnia e publicadasna revista scienceprovam que orelaxamento faz bem àmemória. Aaprendizagem de novastarefas e a recuperaçãode memórias deexperiências anterioresque ajudam à tomada dedecisões é mais fácilquando se está acordado,mas sem dar muitaatenção a estímulosexternos.

Penso, logo não creio

A revista science publicou um estudo dauniversidade da colômbia britânica, segundo oqual o pensamento analítico pode fazer diminuira crença religiosa, mesmo nos crentes maisdevotos. A diminuição é igual entre crentes ecépticos. Os cientistas fizeram experiências com650 pessoas, nos estados unidos e canadá.Números recentes indicam que a maioria dapopulação mundial acredita na existência de umdeus, embora o número de agnósticos e ateustenha vindo a crescer nas últimas décadas.

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Bidoeiro, abedul, abedoira, bido, vidoeirosão cinco das 31 maneiras de emPortugal se dizer bétula (BetulaCeltiberica Rothm.). No entanto, se per-

guntarmos onde é possível encontrar esta espécieautóctone, muitos dirão que não cresce no nossopaís. Ou seja, apesar da riqueza vocabular quegerou, também presente na toponímia - por exem-plo, Vidual, Bidoeira, Viduinho - a bétula continuaa ser uma desconhecida.

De facto, em Portugal não há florestas de bétu-las com a dimensão das existentes em toda aEscandinávia ou na Taiga Siberiana, onde crescemoutras espécies, nem temos conhecimento de emperíodos de fome se produzir farinha a partir damadeira de bétula ou ser corrente usar a seiva e acasca como panacéia contra os problemas de rins,doenças de pele e hemorragias, prática ancestraldos índios norte-americanos.

Nos nossos dias, à semelhança do que aconteciano final do século XIX, a bétula portuguesa apareceapenas nas terras montanhosas (Serra da Estrela,

Gerês, Marão, etc) com boa exposição solar, junto alinhas de água e muitas vezes misturada com pin-heiros e carvalhos. "Na serra do Gerês, as bétulascrescem nas cotas mais elevadas, a partir dos 800até 1200 metros de altitude", confirma MarcosLiberal, engenheiro florestal, no Parque NacionalPeneda-Gerês (extremo nordeste do Minho).

Mas estas árvores não são todas espontâneas,"algumas foram plantadas durante o Estado Novo".Quanto aos bidoeiros de S. Pedro do Sul, "foramintroduzidos nos anos 60 e 70 do século XX", infor-mou-nos Mónica Almeida, técnica do GabineteFlorestal da câmara viseense. Apesar da plantaçãode bétulas, iniciativa com antecedentes no séculoXIX, lhes reservar um protagonismo florestal eornamental - a elegância do seu porte, sobretudo abeleza da casca branca, muitíssimo macia, trans-portou-as das serras e dos vales para o relvado dosjardins urbanos (no Porto, Fundação de Serralves,em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e ArcoCego) - a verdade é que esta Betulaceae, parentedas aveleiras e amieiros não serviu à economia e àcultura nacionais como o carvalho, o castanheiroou o sobreiro. E na graça de ser "a noiva da flores-ta", bonita para contemplar pela casca alva e osramos pendentes, só a iniciados deu a conhecer omistério do seu matrimónio com o cogumeloAmanita Muscaria, responsável pela "embriaguezalegre" e a percepção de outras dimensões, indis-pensável nos rituais xamanísticos dos povos nór-dicos.

A pioneiravoadoraA "noiva da floresta" sabia punir omau estudante.

A Casa na árvore

Susana Neves

Folhas e frutose pormenor dotronco

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Fotos: Susana Neves

"Árvore da inspiração", na cultura celta, símbo-lo da pureza virginal, celebrada numa das maisextraordinárias danças do mundo, "Beriozka",coreografia tradicional russa, onde as bailarinassubtilmente deslizam no palco, a bétula tambémfez parte da história da sedução masculina: noséculo XIX, era o ingrediente secreto de um perfu-me chamado "Couro Russo", que originalmente seusava para afastar os insectos das botas de couro.Quem observa de perto a sua casca branca, suave-mente tracejada à maneira de uma escrita natural,não imagina que na Antiguidade, fosse usadacomo papel. Na realidade, um dos textos mais anti-gos, escrito por uma mulher romana, tem comosuporte a casca de bétula.

Descoberto no Norte da Inglaterra, este textoem latim, datado do século I a.c., era uma espé-cie de postal de Claudia Severa dirigido à irmãLepidina, convidando-a visitá-la para celebraremem conjunto o seu aniversário. No livro "LeBouleau" (Actes Sud), dedicado às várias espé-cies de bétula, Michel Roussillat recorda aindauma faceta menos simpática da "árvore da sabe-doria". Nas escolas dos séculos XVIII e XIX, ver-

gastavam-se as crianças desordeiras ou poucoaplicadas com os ramos flexíveis de bétula ins-crevendo nas tenras nalgas infantis o aforismo:"as letras com sangue entram".

O rasto de sangue, deixado por esta árvorebenigna verificou-se ainda na II Guerra Mundial,quando os aviões britânicos "Mosquito", incorpo-rando madeira de bétula na sua estrutura, se trans-formaram no principal avião de combate nocturnodas forças Aliadas contra a Alemanha Nazi. Acarreira bélica da bétula parece uma heresia sepensarmos que a partir dela se produzia uma "aspi-rina" natural outrora usada no tratamento dostuberculosos. Contudo, como explica Roussillat,no seu habitat natural, a bétula "pioneira" arrisca-se a crescer onde nenhuma outra espécie se aven-tura e trava a mesma luta há milhões de anos: umaluta fratricida. Dos milhões de sementes minúscu-las, produzidas nos amentos (orgãos sexuais) femi-ninos, e dispersas pelo vento, somente algumas seenraízam no solo e destas apenas uma minoria,crescendo velozmente, consegue atingir os 20 ou30 metros que lhes permitem chegar ao Sol esobreviver. n

Bosque de bétulas,Parque Biológicoda Serra dasMeadas, Lamego

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l CONSUMO Comprar por necessidade não é o mesmo que ter

necessidade de comprar. É essa a diferença entre um cidadão consumidor

e um cidadão consumista. Pág. 58 l LIVRO ABERTO O destaque vai para o

surpreendente "O Teu Rosto Será o Último", livro de estreia de João

Ricardo Pedro, vencedor do Prémio Leya 2011. Pág. 60 l ARTES Fala-se do

mérito das exposições, em Cascais, de duas jovens artistas, Ema M e Joana

Lucas, ambas com registos a desafiarem os tabus habituais. Pág. 62 l

MÚSICAS Os novos álbuns de Norah Jones e Damon Albarn,

respectivamente "Little Broken Hearts" e "Dr Dee", a merecem a nossa

melhor atenção. Pág. 64 l NO PALCO A comédia (negra) de Molière, "O

Doente Imaginário", está em cena, durante todo o mês de Junho, no Teatro

Nacional de São João, no Porto. Pág. 66 l CINEMA EM

CASA Os alta e justamente premiados em 2011, "O

Miúdo da Bicicleta" e a "A Separação", podem ser já

desfrutados no espaço familiar. Pág. 68 l GRANDE

ECRÃ A generalidade do público não se poderá queixar: num mês muito

apelativo, chegam às salas os últimos filmes de Ridley Scott e Abel Ferrara

Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Embora alguns modelos de tablets

incluam já uma aplicação antivírus, a regra não é geral. Aqui se

apresentam alternativas mais completas. Pág.70 l AO VOLANTE O grupo

Volkswagen acaba de lançar no mercado três novos modelos de vocação

essencialmente citadina: o VW Up, o Seat Mii e o Skoda Citigo. Pág. 71 l

SAÚDE Onde se explica a diferença entre doenças hereditárias e doenças

genéticas e se acentua a pertinência dos rastreios de doenças genéticas a

toda a população. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI As questões relacionadas com

a divisão de bens quando acontece a ruptura numa união de facto… Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

No primeiro sábado do mês, Catarina saiu decasa pela manhã para ir ao supermercado fazercompras. Levou consigo uma lista de produtosde que necessitava, tendo por base um orça-

mento de 100 euros. Antes de entrar no supermercado deuuma volta pelo centro comercial para ver as montras. Umasaia em promoção acenou-lhe de uma montra. Catarina fezcontas de cabeça. O orçamento mensal aguentava umaextravagância e decidiu entrar na loja para a comprar. Viutambém uma blusa que "ia bem com a saia", mas essegasto suplementar já o orçamento não lhe permitia. Aindapegou no cartão de crédito, tentada a diferir para o mêsseguinte o preço da tentação mas conteve-se e pensou comos seus botões: "Talvez ainda cá esteja daqui a um mês..."

No supermercado adquiriu os produtos constantes da

lista, a que acrescentou apenas umas bebidas não previs-tas. Conseguiu não ultrapassar a despesa prevista porquealém de ter encontrado alguns produtos em promoção,tinha ainda um Vale de Desconto. Dirigiu-se à caixa regis-tadora para pagar.

À mesma hora, Beatriz saiu de casa com os mesmospropósitos de Catarina. Deu uma volta pelo centro comer-cial para ver as montras. Um par de calças igualzinho aoque invejara a Leonor na noite da véspera, parecia dizer-lhe "Vá lá, não sejas tonta, leva-me contigo! Se a tua amigaas pode comprar, tu também podes!"

Beatriz entrou resoluta. Pediu o seu número e dirigiu-se ao gabinete de provas. Mirou-se ao espelho.Assentavam-lhe na perfeição. Olhou para a etiqueta com opreço. "Um bocado caras"- pensou. " Mas uma vez não sãovezes e são tão bonitas!".

Saiu do gabinete decidida mas, antes de se dirigir à

Loucos por ComprasComprar por necessidade, não é o mesmo que ter necessidade decomprar. É essa a diferença entre um cidadão consumidor e umcidadão consumista.

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caixa para pagar, passou por uma blusa que ficava mesmoa matar com as calças. Decidiu experimentar. "Uau! Vouarrasar!"- murmurou para o espelho que, impávido, nãolhe respondeu. Dirigiu-se à caixa registadora e pagou comcartão de crédito.

Saiu eufórica com as sua compras mas, ao passar poroutra loja, viu uma carteira que andava a namorar há tem-pos e parecia ter sido feita de propósito para combinarcom a sua nova "toilette". Ainda por cima, com umdesconto de 10%, quem é capaz de resistir? É verdade querepresenta um rombo no orçamento, mas para que serve ocartão de crédito, senão para aproveitar uma oportunidadee pagar no mês seguinte aquilo que não se pode comprarcom o orçamento do mês?

Apontou a carteira à empregada e pediu para a embru -lhar. Nesse momento entrou Carlota que, dois beijosrepenicados depois, lhe disse:

" Bela compra Beatriz! Olha, já viste uns sapatos queestão lá ao fundo? Não há outros que combinem tão bemcom essas carteiras!"

Foi ver, levada pela mão da amiga. Eram realmentelindíssimos e combinavam na perfeição com a carteira. Enão é que lhe assentavam como uma luva? Um poucocaros, é certo, mas isso pouco importava. Não ia reclamardo preço e fazer figura de pelintra diante da Carlota.Afinal, a função do cartão de crédito não é também manteras aparências? Resoluta dirigiu-se à empregada:

" Olhe, a minha amiga convenceu-me e também levoestes sapatos"

Para celebrar, convidou a amiga para um café. Deixou-se seduzir por um bolo que a olhava de soslaio, pronto aamenizar um eventual amargo de boca…

Quando entrou no supermercado, Beatriz já não sabiaonde tinha enfiado a lista de compras. Foi desfilando peloscorredores, tentando reconstituir de memória a lista deprodutos de que necessitava e, se alguma dúvida a assalta-va diante de uma promoção, agia em conformidade: "nadúvida…compro!"

Surpreendeu-se quando a caixa registadora sentenciouum montante em dobro daquilo que planeara gastar mas,paga a conta, penitenciou-se na loja contígua, onde entroupara comprar um jogo para a Playstation, que o filho maisnovo há muito reclamava. De regresso a casa, lamentou oaumento do custo de vida.

Quem nunca comprou aquilo que não precisava, queatire a primeira pedra. Os mecanismos que a sociedade deconsumo tem ao seu dispor (publicidade, marketing, crédi-to, etc) "agarraram" os consumidores e criaram casos deverdadeira dependência, que se traduziram em endivida-mento excessivo.

Os comportamentos de Catarina e Beatriz distinguem oconsumidor do consumista. O consumidor gasta aquiloque tem, compra de acordo com as suas necessidades, nãocorre atrás da última novidade como se não houvesseamanhã e, uma vez por outra, faz uma extravagância. Oconsumista age muitas vezes por impulso, chega a ser irra-cional e encontra sempre uma justificação ou desculpapara compras supérfluas.

Umas vezes culpa a publicidade, outras justifica-se comuma depressão ou a necessidade de aliviar um desgosto,outras ainda porque tem de mostrar aos amigos ou aos vi -zinhos que não é nenhum pelintra.

O consumista não resiste às palavras "grátis", "saldos","novidade" e "promoções". Compra muitas coisas inúteis sóporque não que ficar atrás do vizinho, ou porque acordoucom uma sensação de vazio que decidiu preencher comuma ida às compras.

Sobre os efeitos deste comportamento no orçamentofamiliar e os seus reflexos no sobreendividamento,escreverei no próximo mês.n

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Boavida|Livro Aberto

A memória do “paraíso triste”Com grande ficção, poesia e ensaio

estudos americanos na Universidade de Notre Dame,que realizou, durante anos, um exaustivo trabalho depesquisa, proporcionando-nos agora uma leitura fasci-nante, que flui como a de um grande romance e nos rev-ela os dramas individuais, os jogos secretos da espi-onagem e da especulação económica. Um livro tambémútil para quem, em portugal, quiser escrever sobre otema, ficcionando factos e eventos. Ao longo de mais de400 páginas, fica o leitor preso a esta narrativa consis-tente e sedutora.

Como é sempre tempo de recomendar ficção de quali-dade, o destaque vai para o surpreendente "o teu rostoserá o último"(leya), livro de estreia de João RicardoPedro, justo vencedor do Prémio Leya 2011, que nos re -vela uma maturidade e um domínio do processo narrati-vo invulgares. Destaque, igualmente, para "as três vidas"(d. Quixote), de João Tordo, distinguido com o prémio

José jorge letria

Portugal foi, nesses anos, o "paraíso triste" deque Antoine de Saint-Exupéry falou na sua"carta a um refém", mas foi também o destinoprovisório para muitas dezenas de milhares de

pessoas que tentavam escapar à barbárie nazi, antes debuscarem porto seguro noutras paragens. Poucos foramos que optaram por ficar, até porque não podiam ignorarque se vivia numa ditadura nada aberta a qualquer formade mudança ou de ideal progressista. Com o passar dosanos, o "paraíso triste" que portugal foi adquire um novo"charme" e um interesse redobrado para os investi-gadores.

É assim que nasce o livro "passagem para Lisboa-avida boémia e clandestina dos refugiados da Europanazi"(Clube do Autor), de Ronald Weber, professor de

Numa época em que recorrentemente se escreve sobre a ii guerra mundial, sobre os seus mistériosainda por revelar e sobre a tragédia humana que ela representou à escala global, apesar deneutralidades como a portuguesa, surge também o interesse pela descoberta do que era o quotidianodos países em guerra ou livres dela, tanto quanto era possível sentir e fruir essa liberdade. É normal queassim aconteça havendo em fundo um cenário de profunda incerteza quanto ao nosso futuro colectivo.

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José Saramago (2009) e livro finalista do prémio PortugalTelecom (2011), e para a obra-prima de John le Carré"um espião perfeito" (d. Quixote) e ainda para a colec-tânea de narrativas breves "o tempo envel-hece depressa" (d. Quixote), do itali -ano António Tabucchi, recentementefalecido em portugal, país ao que seencontrava ligado por fortes laçosafectivos. Realce ainda para "1q84"(casa das letras), do japonês HarukiMurakami, autor de culto para umnúmero cada vez maior de autores emtodo o mundo, excelentementetraduzido por Maria João Lourenço,que tem dedicado os últimos anos averter para português a já extensa obradeste escritor de referência.

"Paisagem/figuras" (esfera do caos) éo mais recente livro da professora uni-versitária, ensaísta e crítica literária

Anabela Rita, que nos propõe um texto brilhante em quemisturam e completam o registo ensaístico, o ficcional euma intensa memória pessoal na qual também a músicaestá intensamente presente. Um livro de difícil catalo-

gação que nos envolve e cativa, revelandoa qualidade de uma escrita superior.

"Nada está escrito" (d. Quixote) é a maisrecente colectânea poética de ManuelAlegre um livro de uma grande intensi-dade lírica, por vezes dramática, que nostraz a voz poderosa de um dos maiorespoetas portugueses contemporâneos, numtempo em que a poesia tanta falta nos faz.

Num registo bem diferente surge "101cromos da bola" (lua de papel), do jornalistaRui MiguelTovar que, com ilustrações deCarlos Monteiro, nos apresenta uma infor-mativa e divertida galeria dos nomes dereferência do nosso universo futebolístico.Indispensável para quem gosta de futebol. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Neste momento, vale a pena falar das exposiçõesde duas jovens artistas, Ema M, pseudónimode Margarida Prieto, e Joana Lucas, ambas comregistos a desafiarem os tabus habituais.

A primeira com uma exposição no Centro Cultural deCascais (até 8 de Julho), intitulada Fabulária, a denunciaro seu labor habitual de ilustradora, o que faz com umatécnica brilhante. Esta exposição está estruturada em doisnúcleos de produção pictórica, sendo o primeiroinformado pela transparência transitiva daletra na leitura e o segundo pela opacidadereflexiva do signo visual, sendo nela evoca-do o célebre ensaio de Foucault sobre a pintura"Ceci n'est pas un pipe", de Rene Magritte. O tra-balho de Ema M tem como horizonte imagético amemória do "lugar primordial", antiquíssimo, onde se ve -rificava a coincidência entre esse "lugar primordial" -como lugar da origem - e o lugar perfeito, sendo o resulta-do de uma forte consciência dos movimentos da Históriada Arte, com particular predilecção pela Idade Média tar-dia ou pré Renascimento e o período de transição para oRomantismo.

A segunda jovem artista, Joana Lucas, apresenta, porsua vez, na Galeria Arte Periférica, Lisboa, (até 28 do cor-rente) a exposição Encenar o Acaso, inspirando-se nospintores clássicos e em objectos do quotidiano, encenan-do depois os encontros através de um processo que nascede estímulos - um objecto, uma acção, uma mancha - aque se segue o depurar de uma situação no sentido deapresentar o estímulo no seu máximo potencial.

SANTOS CARVALHO E RICARDO PASSOS EM MAFRA

Por outro lado, outros dois jovens artistas, o escultorSantos Carvalho e o pintor Ricardo Passos, assinalaramo Dia Mundial dos Museus, 18 de Maio, com a

A hora dosJovens ArtistasDecididamente, a hora é dos jovens artistas, quecada vez mais se impõem num panorama que,apesar da crise, vai pulsando em iniciativas devário teor e com um dinamismo a ultrapassar comfacilidade a costumada inércia.

Acrílico sobre tela deJoana Lucas, Esculturade Santos Carvalho epintura de RicardoPassos.

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exposição conjunta Mil Vozes a dois tempos em EspaçoConventual, (até 30 de Junho), exactamente noConvento de Mafra, lugar ideal para representar anatureza do (ir)real simbólico da forma e o surrealtransacto na figura pictural.

Como salienta no catálogo, José-Luís Ferreira, "Trata-se de linguagens - intercomplementares, nas suasleituras - provenientes do imaginário (circunstancial-mente) síncrono, de dois artistas plásticos credenciados,com um percurso internacional paralelo, entrecruzado,mais uma vez, nesta efeméride. Cada um dos autores - aseu modo e maneira - explora a homeomorfogeneidadeda Figuração Humana, dela extraindo expressões situa-cionais ou sentidos nocionais impressivos, congemina-dos em acepções de intensa 'ambiguidade gramatical'que, (soit disant) conformes (ou disformes) desafiam afantasia do observador, pelo seu (des)ajustamento…ouinusitada configuração contextual, seja na sua singulari-dade, no conjunto …ou, na transitoriedade (ou provi-soriedade) ambiental, deste invulgarmente magníficoespaço expositivo."

DOMINGOS REGO NA GALERIA ALECRIM 50

E vale ainda a pena chamar a atenção para a exposição deDomingos Rego na Galeria Alecrim 50, Lisboa, (até dia 23)que aqui retoma as questões do peso e da gravidade comoprincípios unificadores, num conjunto de obras que ado -ptam várias linguagens, nomeadamente pintura, fotografiae instalação. O cruzamento de regimes visuais constitui,aqui, de resto, um modo de estabelecer tempos e distân-cias diferentes de fruição das obras, provocando formasdiferentes de relação com a força gravitacional.

O preto e branco atravessa toda a exposição, exacer-bando o confronto dasmassas, definindo os vo -lumes e acentuando asformas, cumprindo o seudesígnio de máximo con-traste e, dando lugar àeclosão de cores intensasque irrompem comoclamores num silênciograve. n

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A norte-americana Norah Jones acaba de lançar um novo álbum, com o título genérico "Little BrokenHearts". O britânico Damon Albarn apresenta-nos o CD "Dr Dee". Dois trabalhos distintos, que merecema nossa melhor atenção.

Vítor Ribeiro

Norah Jones e Brian Burton assinam os 12 temasoriginais seleccionados para o novo trabalhodiscográfico, produzido por Danger Mouse.Gravado na sequência dos CDs "The Fall"

(2009) e "Featuring" (2010), "Little Broken Hearts" dá con-tinuidade ao primeiro daqueles álbuns, em que a cantora ecompositora abandona, de alguma forma, as suas raízesjazzísticas (com laivos country/soul) e envereda pelos ca -minhos mais ligeiros da pop.

O amor (sempre ele…) ocupa praticamente em exclusi-vo a temática do novo álbum, com interpre-tações irrepreensíveis de uma NorahJones amadurecida por uma carreira aluci-nante, se se tiver em conta os pouco maisde 33 anos da cantora. "Little BrokenHearts" é, globalmente, um trabalhosereno e simpático.

Da Grã-Bretanha chegou-nos oálbum "Dr Dee", de Damon Albarn,inspirado na vida de John Dee(1527-1608), matemático e conse -

Boavida|Músicas

lheiro da Rainha Isabel I de Inglaterra.Nascido em Londres, em 1968, Albarn foi vocalista dos

Blur, participou no projecto Gorillaz e colaborou commuitos outros músicos e compositores. No que se refereao álbum agora lançado, Damon Albarn conduz-nos numaviagem fantástica, combinando sonoridades renascentistascom sons contemporâneos, com música sacra e músicacoral.

Ao longo de 18 temas, o autor, que contou tambémcom a colaboração da Orquestra Filarmónica da BBC,transporta-nos para universos plenos de espiritualidade,que tornam a audição num acto de complexa concen-tração. Não estamos, portanto, perante um trabalhodiscográfico de fácil apreensão, nem terá sido, de resto,essa a intenção do autor, que classificou o seu álbumcomo uma "estranha pastoral folk". Os melómanos apreci-adores de trabalhos de vanguarda não deverão perder esteestranho "Dr Dee". n

RUFUS EM LISBOA E NO PORTO O cantor e compositor norte-

americano Rufus Waiwrigth efectua um concerto dia 7 de Junho,

no Coliseu de Lisboa, pelas 21h30. No dia seguinte, desloca-se

ao Porto para atuar no festival Optimus Primavera Sound.

KUSTURICA EM GAIA O músico, compositor e cineasta sérvio

Emir Kusturica e a The No Smoking Orchestra actuarão em

Gaia, na Praia Fluvial do Areinho de Oliveira do Douro, no dia

16 de Junho. Este concerto integra-se no Festival Gaia Positive

Vibes, que decorre dias 15 e 16 de Junho. No primeiro destes

dias sobem ao palco, entre outros, Patrice, músico afro-

alemão com raízes na Serra Leoa, e Richie Campbell, um

"apaixonado pela música jamaicana".

JOSÉ CARRERAS EM LISBOA José Carreras efectua um concerto

no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, dia 16 de Junho, pelas 21h30,

no âmbito das comemorações do 75º aniversário da Rádio

Renascença. O cantor será acompanhado pela Orquestra

Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo Maestro David Jimenez.

A simpática Norah Jonese o estranho Damon Albarn

CONCERTOS

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Aparafernália terapêutica, as patologias, os trata-mentos muito ou pouco ortodoxos, os hipocon-dríacos e as suas mil doenças e dores de cabeça,acabam por girar em torno apenas de um tema

que é recorrente: a morte e a forma de a ir evitando. Masos médicos não são deuses e por vezes temos de rir per-ante o que não tem remédio (solucionado está). Molièreencontrava-se, por acaso, bastante doente quando con-cluiu esta sua obra…

É Argão, a personagem principal, que nos dá repulsadevido ao seu medo constante, ao seu egocentrismo,enquanto a sua doença, em vez de física, acabará por sermental.

FICHA TÉCNICA:De: Molière; Tradução: Alexandra Moreira da

Silva; Encenação: Rogério de Carvalho; Cenografia: Pedro

Tudela; Figurinos: Bernardo Monteiro; Desenho de luz: Jorge

Ribeiro; Música: Ricardo Pinto; Assistência de encenação:

Emília Silvestre; Interpretação: Jorge Pinto, Emília Silvestre,

António Durães, Clara Nogueira, Fernando Moreira, João

Castro, Vânia Mendes, Miguel Eloy, António Parra, Ivo Luz,

Marta Dias; Co-produção: Ensemble - Sociedade de Actores/

TNSJ.

"MEU TIO, O JAGUAR"

Jorge Listopad, encenador, escritor e professor checo, radi-cado há vários anos em Portugal, adaptou a obra dogrande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, "Meu tio,o Jaguar", que estará em cena a partir de 14 de Junho naSala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

Um homem, aos poucos, vai-se transformando, talvezpor um acto de amor, talvez por desespero e por solidão,no seu objecto de estudo, no seu objecto de caça - umaonça -jaguar. Um texto bastante distinto daqueles que sãoconhecidos do autor brasileiro, é aqui interpretado segun-do um novo padrão de escrita, caminhando numa mesclaentre a língua portuguesa e a língua nativa tupi, entresons e gritos guturais, animalescos, à medida que o actor

Humor versus morteOs avanços da Medicina, aliados ao humor e à descrença do poder do Homem para além do daNatureza e de Deus, são as bases para comédia (negra) de Molière, "O Doente Imaginário", em cenadurante todo o mês de Junho, o Teatro Nacional de São João, no Porto.

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sofre a metamorfose frente aos espectadores. Um monólo-go que não é monólogo, onde outras vozes são escutadas,com ausentes e presentes em cada momento, expressandoo que a mente do protagonista vai pensando, no meio detantos pensamentos.

FICHA TÉCNICA: De: João Guimarães Rosa; Encenação: Jorge

Listopad; Desenho de luz: José Carlos Nascimento;

Sonoplastia: Rui Dâmaso; Interpretação: José Artur Pestana

"O SONHO DA RAZÃO"

Baseado em vários excertos de autores franceses da épocada Revolução, Luís Miguel Cintra encena "O Sonho daRazão", no Teatro da Cornucópia, para ver a partir de 14de Junho.

Diderot, Voltaire, Marquês de Sade são alguns dosautores que Cintra pesquisou para criar um único textoonde três actores, em palco, desdobrando-se em váriaspersonagens, num autêntico jogo cénico, irão dar vida aosdiálogos filosóficos e humorísticos do séc. XVIII francês.

São abordados conceitos ideológicos, morais e culturais, opapel da guerra, do Estado Social e Político (e das impli-cações hipócritas e cínicas que deles advêm), da Igreja edos seus valores cristãos e católicos, sem esquecer a lib-ertinagem da época. Tudo isto narrado em boas doses dehumor, classe e bom senso.

Em todos os textos, independentemente do tema, nota-se uma aproximação à crescente insatisfação que cadaautor parecia sentir, ao que viria dar forma e lugar à re -volução social e política, pelo que as palavras parecemagora quase premonitórias. A mudança estava à porta.

FICHA TÉCNICA:Tradução: Luís Lima Barreto; Adaptação e

Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário e Figurinos: Cristina

Reis; Interpretação: Dinarte Branco, Luis Miguel Cintra com

uma actriz a designar; Assist. enc.: Manuel Romano; Assist.

cenário/figurinos: Linda Gomes Teixeira e Luís Miguel Santos;

Director técnico: Jorge Esteves; Construção e montagem de

cenário: João Paulo Araújo e Abel Fernando; Montagem e

operação de luz e som: Rui Seabra; Guarda-roupa: Maria do

Sameiro Vilela

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O MIÚDO DA BICICLETA

Esta é a história de Cyril,

rapaz de 12 anos deixado

num orfanato, cujo único

objectivo é encontrar o seu

Pai. Para isso, vai

ter a preciosa

ajuda de

Samantha, uma

jovem

cabeleireira que

o ajuda e acolhe

em sua casa aos fins - de -

semana. Mas, a primeira visi-

ta ao local onde trabalha o

seu Pai não corre como o

esperado e a sua fúria cresce

…Grande Prémio do Júri do

Festival de Cannes, O Miúdo

da Bicicleta, assinado pelos

irmãos Jean Pierre e Luc

Dardenne é um digno sucedâ-

neo do belíssimo "A Criança",

Palma de Ouro de 2005. Com

uma realização brilhante,

quase sem música (na linha

da filmografia anterior), uma

narrativa exemplar e actores

bem dirigidos (entre os quais

se inclui, de novo, Jérémie

Renier) é um dos melhores

filmes estreados entre nós.

TÍTULO ORIGINAL: Le Gamin au

Velo; REALIZAÇÃO: Jean Pierre

Dardenne e Luc Dardenne;

COM: Thomas Doret, Cécile

de France, Jérémie Renier;

Bélgica/França/Itália, 87m,

Cor, 2011; EDIÇÃO: Leopardo

Filmes

A SEPARAÇÃO

Irão, 2011. Consumada a sep-

aração da sua esposa Simin,

Nader tem de contratar uma

pessoa para tomar conta do

seu Pai que sofre de

Alzheimer profundo. Razieh,

a jovem contratada, está

grávida, não consegue dar

conta do recado e trabalha

sem o consentimento do

marido. E, certo dia, um acaso

infeliz vai provocar um grave

acidente a ser

decidido pelas

instâncias

judiciais irani-

anas. Retrato

impression-

ante da

sociedade iraniana, dos seus

conflitos de género e, em

especial, dos seus conflitos de

classe, "A Separação" foi o

grande triunfador do Festival

de Berlim de 2011: Melhor

actriz, Melhor actor e Melhor

Realização para Asghar

Farhadi. Além disso, recebeu,

justamente, o Óscar para me -

lhor filme estrangeiro.

TÍTULO ORIGINAL: Jodaeiye

Nader az Simin; REALIZADOR:

Asghar Farhadi; COM: Peyman

Moadi, Leila Hatami, Sareh

Bayat, Sahahab Hosseini;

Irão, 123m, Cor, 2011; EDIÇÃO:

Alambique

FILME SOCIALISMO

Opus em três partes: a

primeira, a bordo de um

navio de cruzeiro em férias

no Mediterrâneo; a segunda, o

retrato de uma família con-

temporânea, proprietária de

uma bomba de gasolina, no

seio da qual as crianças

procuram compreender os

seus direitos; e, finalmente, a

síntese de todo este retrato

poderoso da sociedade

europeia. Neste seu regresso,

Godard faz uma reflexão

sobre a Europa, as grandes

cidades e civilizações

mediterrânicas, enfim, sobre

o estado actual da

humanidade. Na linha experi-

mental de trabalhos anteri-

ores, o filme é uma colagem

de imagens actuais, outras de

arquivo e de frases inscritas

nas imagens que compõem

um quadro impressivo legado

às gerações vindouras. Para

ajudar a questionar os camin-

hos que trilhamos …

TÍTULO ORIGINAL: Film

Socialisme; REALIZAÇÃO: Jean

Luc- Godard; COM: Jean-Marc

Sthelé, Agatha Couture,

Mathias Domahidy, Quentin

Grosset; Suiça/França, 102m,

cor, 2010; EDIÇÃO: Midas

Filmes

OS DOIS DA (NOVA) VAGA

Nos anos do pós-guerra, Jean

Luc Godard e François

Truffaut era críticos de cine-

ma nos Cahiers du Cinema e

na Arts onde questionavam o

cinema francês de então e

lançavam as bases da nova

vaga que viriam a encabeçar e

que marcaria o cinema

francês e mundial

nas décadas

seguintes. Em

1968, acontece a

ruptura. Godard

opta por um cine-

ma militante, Truffaut segue

outro caminho…Assinado por

Emmanuel Laurent, este do -

cumentário descreve a difícil

relação entre os dois rea -

lizadores, outrora amigos,

mais tarde distantes. E inclui

depoimentos de actores que

trabalharam com os dois

cineastas, clips de filmes,

fotos de época, troca de corre-

spondência. Um trabalho

indispensável para compreen-

der a relação entre dois

grandes mestres do cinema

contemporâneo.

TÍTULO ORIGINAL: Deux de la

Vague; REALIZAÇÃO:

Emmanuel Laurent; COM:

Anouk Aimé, Charles

Aznavour, Jean-Paul

Belomndo, Jacqueline Bisset;

França, 91m, cor, 2010;

EDIÇÃO: Midas Filmes

Premiados em Cannes e Berlim, respectivamente, "O Miúdo da Bicicleta" e a "A Separação" são doisgrandiosos filmes de 2011 que o leitor poderá, agora, visionar, e desfrutar, calmamente, no espaçofamiliar. A selecção completa-se com "Filme Socialismo", que assinala o regresso de Jean-Luc Godard, eum documentário "Os Dois da (nova) Vaga", sobre a relação de Godard com Truffaut, dois gigantes docinema europeu que começaram por ser bons amigos… Sérgio Alves

Viver e pensar em tempo de crise

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Eternos retornosA generalidade do público não se poderá queixar: para além do mês ser muito apelativo - chegam àssalas os últimos filmes de Ridley Scott e Abel Ferrara -, o segmento juvenil será brindado com oregresso da animação de culto, "A Idade do Gelo" e, ainda, de dois documentários ("One Life" e "OceanWorld") bastante estimulantes sobre a natureza, o mundo animal e marinho.

Joaquim Diabinho

Muitos dos melhoresfilmes de Scott ("ODuelo", "Alien - O 8ºPassageiro" e, sobre-

tudo, "Blade Runner", a sua coroade glória) vieram nos seusprimeiros de anos de carreira. Deresto, se atentarmos à sua extensafilmografia perceber-se-á qual ogénero (a science-fiction, poisclaro) que abordou com maioreficácia criativa, designadamentena criação de atmosferas car-regadas de alto poder de intran-quilidade e extrema claustrofobia.Independentemente do grau deexpectativas que "Prometheus" (nos ecrãs, dia7), nosreserve, o mais certo é esperarmos de Ridley Scott maisuma aventura "trepidante" que vem, antes de mais, reatar,com um dos mais interessantes momentos da sua obra ini-cial, o notável "Alien". Se não repare-se: uma equipa decientistas e investigadores viaja numa nave (cujo nome dáo título ao filme) em busca de formas de vida alienígena… Nada de mais inquietante, portanto. Ou, se quiserem,nada de mais fascinante.

INQUIETANTE é, de resto, a palavra chave que recobre asobsessões do cineasta norte-americano, Abel Ferrara. Em"4:44 Last Day on Earth" um casal prepara-se para o fim domundo, "anunciado" com dia e hora marcados, mas sem

motivo explícito ou uma razãoconcreta. Fiel ao seu estilo o autorde "R Xmas - Nosso Natal" lançaum olhar angustiado pela crise dosistema e pela premonição do fimde um mundo. Curiosamente, outalvez não, o filme ecoa algumassemelhanças com recente (aindaem cartaz?) "Procurem Abrigo", deJeff Nichols. Excelentes são asprestações da dupla Willem Dafoee Shanyn Leigh.

SEM DÚVIDA que na produção daanimação digital da última décadade Hollywood, "Ice Age"revelou-seum dos mais consistentes e bemsucedidos exemplos do "enter-

tainement". Essa capacidade de sedução e de criação defluxos emotivos constantes elevou a simpática saga pré-histórica a um patamar cimeiro onde reinam as grandesproduções do género do filme de "desenhos animados". Ogrande triunfo popular da série "Ice Age" talvez resida nocuidado, puro e duro, do doseamento, não apenas nassituações hilariantes ou na criatividade mas na inteligên-cia (e poder) do humor e no sentido apurado de espe -ctáculo. Que outro filmezinho nos deu uma figura tãoportentosa como a do esquilo Scrat, eternamenteenlouquecido e não menos azarento com a bolota? Em"Idade do Gelo 4: Deriva Continental" (estreia, dia 28) ogrupo de amigos inseparáveis mais divertido do mundovai enfrentar um temível bando de piratas. Promete! n

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Boavida|Tempo Informático

Protecção para tablets

Gil Montalverne [email protected]

Durante algum tempo os vírus e os ataques doshackers nos dispositivos móveis, não só tabletscomo smartphones não tinham grandeexpressão ou quase não existiam. Pois a

evolução acelerada neste sector, onde as ligações à Internetsão uma constante natural e necessária, levou a que a situ-ação se tenha modificado. Esses dispositivos móveis sub-stituem hoje grande parte do trabalho efectuado nos com-putadores. São utilizados para aceder a redes sociais eincluem dados privados e ficheiros pessoais. O cibercrimenão quis perder a oportunidade mas as empresas de soft-ware de segurança também não ficaram inactivas. Antevia-se a necessidade de uma protecção eficaz. Embora algunsmodelos de tablets incluam já uma aplicação antivírus, aregra não é geral. E portanto aqui vos apresentamos alter-nativas mais completas.

Temos o caso do Norton Tablet Security para sistemasAndroid que foi o primeiro a aparecer e o Kaspersky OneUniversal Security que tem a particularidade de poder seradquirido com opções de 3 ou 5 licenças para utilizaçãoem vários dispositivos à nossa escolha: PC, Mac, TabletAndroid ou Smartphone. Em qualquer dos casos a pro-tecção é total contra phishing, compras on-line e email,assim como uma nova capacidade de localização remotado dispositivo em caso de roubo e destruição dos conteú-dos pelo utilizador.

Também o conhecido antivírus gratuito da Avast tem

Na edição anterior da nossa Revista falámos das novas estrelas da Informática, mais propriamente dosnovos dispositivos móveis que estão a prender a atenção dos utilizadores. Referimos então alguns dostablets mais procurados. Mas, como é natural, também eles necessitam de protecção.

desde Dezembro em download a versão Free MobileSecurity para smartphones que também inclui a impor-tante capacidade de protecção dos nossos dados pessoais,em caso de perda ou roubo do dispositivo. Como certa-mente notaram todo este software é destinado a disposi-tivos com sistema Android. Aparentemente sem protecçãoestão os iPad e iPhone porque a Apple os considera ver-dadeiras fortalezas e não permite licenças. Esta situaçãotenderá a modificar-se pois a Kaspersky e outros jáincluem soluções de protecção para computadores Mac eo momento chegará para os seus dispositivos móveis. Noentanto, já existem várias empresas que desenvolveramsoftware de antivírus e sistemas de proteção para estagama de mercado. Descobrimos, por exemplo, oVirusBarrier que faz um scaning eficaz de iPad ou iPhoneconectados a um PC. Pode fazer-se o download gratuito daNet.

Também para proteger os iPad em consulta na Internet,aconselhamos a instalação do Smart Surfing de TrendMicro que bloqueia o acesso a endereços consideradosperigosos. Existem ainda para Android o conhecido AVGna versão Mobilation e o F Secure Mobile Security, ambosgratuitos para smartphones.

Aconselhamos vivamente todos os possuidores detablets ou smartphones a escolherem a protecção maisconveniente para os vossos dispositivos. As possíveisameaças que circulam na Net não atingem apenas os "ou -tros". Espreitam a primeira oportunidade para atacar. Eprevenir … é o melhor remédio.n

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Boavida|Ao volante

Grupo Volkswagenlança novos citadinosA exemplo do que já havia acontecido com o Grupo PSA (Citroen/Peugeot), o Grupo Volkswagen acabade lançar no mercado automóvel três novos modelos de vocação essencialmente citadina: o VW Up, oSeat Mii e o Skoda Citigo.

Carlos Blanco

No fundo os três modelos pouco diferem unsdos outros, até nos preços-base. Enquanto oVW Up custa 10.550 euros, o Skoda Citigo9.881 e o Seat Mii 9.015. Contudo a opção

será sempre sua. O Up é a nova aposta da Volkswagen nos carros mais

pequenos. Numa área mínima (3,54x1,64m) oferece omáximo de conforto em três versões à escolha, con-soante o orçamento e a necessidade: take Up é a versãobase, Move Up, a versão mais virada para o conforto,High Up, a versão topo de gama. Existem ainda, paraalém da versão base, dois outros modelos sofisticados eindependentes: o Black Up e o White Up.

Com o VW Up assistimos a uma nova geração demotores a gasolina de três cilindros. Debitam 60 e 75cavalos. Consumo médio de combustível bastanteeconómico (4,2 l/100 km). Os dois motores de 1,0 litrosnão atingem o limite de emissões de 100 g/km CO2.

Uma das mais compridas distâncias entre eixos dosegmento permite um excelente aproveitamento deespaço. Condutor, passageiro dianteiro e dois pas-sageiros atrás viajam num automóvel compacto mas, demodo algum, apertado. A bagageira suporta 251 litros decarga e, se o banco traseiro for totalmente rebatido, a suacapacidade aumenta para 951 litros.

Muitas cores no habitáculo. O interior do Up foiestruturalmente concebido de forma muito clara e sim-ples. Além disso o pequeno Volkswagen oferece

inúmeras soluções pormenorizadas, um design diver-tido e uma qualidade cujo nível enriquece o segmento.

O modelo Citigo da Skoda representa a entrada damarca checa no segmento dos compactos citadinos,categoria que tem conhecido um rápido crescimento.A Skoda prevê aumentar as suas vendas em todo omundo a um mínimo de 1,5 milhões de unidades porano até 2018. O Citigo está entre os modelos maiscompactos da sua categoria e, ao mesmo tempo, entreos mais espaçosos. Em sintonia com o tema - SimplyClever - o novo modelo impressiona com uma sériede engenhosas funcionalidades para a utilizaçãodiária.

Os designers do Citigo colocaram também grandeênfase na segurança, facto já comprovado pela pontu-ação máxima de cinco estrelas conquistada no teste decolisão realizado pela entidade competente: a EuroNCAP. No que respeita a motorizações os engenheirosda marca seguiram as novidades introduzidas no Up.

Na Republica Checa, o novo membro da famíliaSkoda foi distinguido como o "Best CityCar" no concur-so "Car of the year 2012".

Finalmente, o novo Seat Mii. Trata-se de um veículocom a mais recente tecnologia, com baixo consumo decombustível e que, além disso, lhe permite levar tudo oque quiser e poder escolher entre as versões de 3 e 5portas.

Em conclusão, são três modelos, pertencentes aomesmo Grupo, que "quase" parecem irmãos gémeos. Aopção entre eles será sempre sua! n

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Boavida|Saúde

Doenças genéticasProponho-me hoje desfazer a confusão que existe entre doenças hereditárias e doenças genéticas etrazer para o debate aquilo que é mais actual nesta matéria - a pertinência dos rastreios das doençasgenéticas alargados a toda a população.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

As doenças genéticas são aquelas que são cau-sadas por alterações da constituição genética dascélulas de um paciente, podendo estas sermutações, aberrações, etc. Por seu lado, as

doenças hereditárias são aquelas que se transmitem depais para filhos, segundo regras fixas, que se chamam leisde Mendell. Por exemplo, o cancro é uma doença genéticaque resulta de múltiplas alterações acumuladas nos genesao longo do tempo, mas não é uma doença hereditária,pois apenas 10 a 20% das doenças cancerosas apresentamalguma predisposição hereditária, isto é, transmitem-se deuma geração para outra.

Com o actual desenvolvimento das ciências e das te -cnologias, é possível identificar doenças genéticas progres-sivamente mais complexas e muitas que se manifestamtardiamente, e que não são consequência apenas da pre-disposição genética, mas também desta, quando se conju-ga com múltiplos factores comportamentais, ambientais eoutros. São exemplo destas doenças, o cancro nas suas for-mas não familiares, a diabetes mellitus tipo 2, algumasdoenças cardíacas e muitas doenças do foro psiquiátrico.

Como consequência deste desenvolvimento, a classe

médica tem à sua disposição testes de rastreio de algumasdoenças genéticas, que podem ser identificadas muitoantes de se manifestarem. Os rastreios genéticos são pro-gramas abrangentes e sistemáticos que são aplicadosindiscriminadamente numa população assintomática paraidentificar o risco de desenvolverem determinada doença.Não têm só vantagens. No entanto, o debate sobre osbenefícios e os inconvenientes da sua utilização não temsido feito de forma alargada como seria desejável.

Há, no entanto, que ressalvar os rastreios genético pré-concepção, pré-natal e do recém-nascido, os quais já sãofeitos há muitos anos e com benefícios inquestionáveis. Oprimeiro é quando há a suspeita de um casal ser portadorde uma doença e poder transmiti-la aos filhos. Estescasais devem seguir uma consulta de aconselhamentogenético. O segundo é feito precocemente durante agravidez e quando se suspeita que o feto é portador deanomalias cromossómicas. O terceiro, também conhecidopor teste do pezinho, é feito ao recém-nascido nosprimeiros dias de vida. É obrigatório e identifica se a cri-ança tem risco de desenvolver algumas doenças graves nainfância, as quais são tratadas de imediato.

À medida que a ciência progride cresce a acessibili-dade a rastreios genéticos para múltiplas situações. É

desejável que a comunidade em geral se informejunto dos seus médicos sobre as vantagens edesvantagens destes procedimentos para, em con-junto, tomarem as decisões adequadas. Poucos sãoos que defendem rastreios de base populacional,sem serem solicitados. Os benefícios advêm dapossibilidade de prevenir ou tratar uma doençaatempadamente, mas a decisão nem sempre é sim-ples: se uma doença genética de alto risco e comuma relevância importante numa população foridentificada e prevenida atempadamente, éestimável que melhore a vida dessas pessoas. Noentanto, aconteceu que algumas populações foramsujeitas a rastreios que não solicitaram e posterior-mente foram discriminadas e estigmatizadas poruma informação que em nada contribuiu para oseu bem-estar, ou porque os testes não eramfiáveis ou porque a medicina nada tinha para lhesoferecer. n

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Boavida|Palavras da Lei

? Vivi em união de facto durante quatro anos. Ao longo deste

tempo, fomos adquirindo vários bens. Pretendo acabar com a

minha relação, mas como se deve fazer a divisão dos bens entre

nós? Por outro lado, deverei pagar alguma indemnização?

Sócio devidamente identificado

Pedro Baptista-Bastos

Aunião de Facto não está regulamentada no que dizrespeito às relações patrimoniais que ocorram durantea sua vigência. Apesar da Lei nº 7/01, de 11 de Maio,com as alterações da Lei nº 23/10, de 30 de Agosto, ter

previsto a União de Facto, não acautelou este importante aspectoda vida das pessoas, que deve ser objecto de previsão jurídica.

Como se dividem os bens e, mais importante ainda, que pro-tecção legal tem quem haja adquirido bens para a relação que seestabeleceu, e que se veja lesado quando o outro membro nãoqueira, dolosamente, devolver os bens que estão na sua posse?

Neste sentido, entendeu a Jurisprudência, diante do cres-cente número de dissoluções de uniões de facto, que os bensque um dos membros se aposse indevidamente constituemenriquecimento sem causa; quando, usando a terminologia daLei, um dos membros de uma união de facto se "locuplete inde-vidamente" de bens que lhe não pertençam, sem que haja umacausa legal de aquisição dos mesmos, aquando da divisão dosbens a ter lugar e os não queira devolver ao legítimo adquirente,mesmo que alegue que os bens foram adquiridos numa união defacto, não há equiparação, por exemplo, à comunhão patrimoni-al decorrente de um matrimónio, tal como se encontra previstana nossa Lei.

As nossas previsões legais da União de Facto são omissasneste ponto, pelo que deve haver lugar à respectiva acçãodeclarativa que alegue o enriquecimento sem causa de um dosmembros da relação, e a consequente devolução dos bens.

Não há lugar à indemnização a um dos membros pela sim-ples ruptura de uma união de facto, dado que o artigo 1792º doCódigo Civil tem por base o casamento, não sendo extensível àsuniões de facto; quando muito, se houvesse lugar a alguma in -demnização, seria por eventuais danos causados, mas, para tal,existem as queixas-crime correspondentes a estes casos.

Estas matérias são muito recentes, e cada situação deve seravaliada de acordo com as suas particularidades próprias emuita cautela, como sejam as uniões de facto. n

JOSÉ ALVES

Ruptura de união de factoe divisão de bens

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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

(horizontais): 1-ORAR; MAORI; RATA. 2-BI; AMOS; ARME; OB. 3-R;A; RECIBOS; C; U. 4-IRRA; METAS; CAOS. 5-G; ITE; N; N; ARU; A. 6-AGAR; ASSAR; ALAR. 7-D; SAIDO; DENTE; A. 8-OS; C; ORCAS; E;AM. 9-EGAER; A; PERAS. 10-CRAVINA; COCARAS. 11-H; TARAM;ANOSO; U. 12-ECO; ADERIDA; SEM. 13-RO; OSAR; RARO; MO.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Palavras Cruzadas | por José Lattas

Horizontais: 1-Discursar; Indígena da Nova Zelândia; Fiasco. 2-Bismuto (s.q.); Reis; Arranje; Prefixo latino, designativo de opo-sição ou inversão. 3-Quitações. 4-Fora!; Fins; Confusão. 5-Sufixo que designa as doenças inflamatórias; Espécie de sapodas regiões amazónicas. 6-Escrava egípcia de Sara e mãe deIsmael; Inflamar; Adejar. 7-Abelhudo; Defesa. 8-Ósmio (s.q.);Género de mamíferos, da ordem dos cetáceos (pl.); Antes domeio-dia. 9-Protesta (invertido); Frutos da pereira. 10-Cravopequeno; Espreitaras. 11-Pesam para abater a tara; Antigo. 12-Fama; Particípio passado do verbo aderir (fem.); Preposição,que indica uma situação de exclusão. 13-Letra grega; Nomefeminino (invertido); Escasso; Molibdénio (s.q.).

Verticais: 1-Grato; Nome artístico da cantora pop norte-ameri-cana Cherilyn Sarkisian (1946-). 2-Zomba; Criatura; Cobalto(s.q.). 3-Melodias; Bichano. 4-Rádio (s.q.); Abalroava. 5-Duasletras que entram na sigla do Movimento Reorganizativo doPartido do Proletariado; Terrenos, lisos e duros, mais ou menoscirculares, onde se secam os cereais. 6-Cansam; Alindada. 7-Elevador; Voga (invertido). 8-Italiano (abrev.); Cálcio (s.q.). 9-Rajada; Baquear. 10-Enguias; Abone. 11-Manuscrito (abrev.);Repercutir. 12-Nota musical; Furnas. 13-Talo; Cinchos. 14-Cevado; Pegadeira; Preposição. 15-Aborreceram; Excelso.

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

ClubeTempoLivre > Passatempos

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 38Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

N.º 38 SOLUÇÕES

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ClubeTempoLivre > Cartaz

COIMBRA

Música

Dia 13 às 21h30 - Concerto

no Largo dos Olivais em

Coimbra, pelo Grupo de

Alunos do Curso Profissional

de Jazz do Conservatório de

Música de Coimbra e dia 16

às 21h30 espetáculo de

encerramento da escola de

música no auditório da

Agência Inatel em Coimbra,

no âmbito do Ano Europeu do

Envelhecimento Ativo e

Solidariedade Intergeracional;

dia 30 às 21h30 Orquestra de

Sopros de Coimbra na

Esplanada do Bairro Norton

de Matos em Coimbra.

Feira Medieval

Dia 9 às 9h30 - 21ª

reconstituição da Feira

Medieval de Coimbra no

Largo da Sé Velha em

Coimbra.

COVILHÃ

Estágio

Dias 27 a 29 - Estágio Juvenil

da Banda Sinfónica da

Covilhã, na sede da Banda na

Covilhã

Eventos em julho

dia 7 - Encontro Nacional no

largo da Sr. da Guia em

Retaxo, uma iniciativa da

Associação Cultural e Soc.

do Rancho Folclore de

Retaxo; dia 8 - concerto

musical pela Sociedade

Filarmónica de Tinalhas, no

Centro Social de Alcains; dia

15 - Festival de Folclore, pelo

Rancho Folclórico da

Borralheira, em Borralheira

(Teixoso); dia 28 - 5º encontro

de grupos de musica

tradicional, pela Grande

Roda, no adro da igreja

(escadas de Stº António) de

Teixoso; dia 22 - concerto

pela Sociedade Filarmónica

de Tinalhas no cine-teatro de

Castelo Branco; dia 28 e 30 -

festividade e atelier

filarmónico pela Associação

Cultural e Desportiva

Paulense no largo da Praça

em Paul.

VIANA DO CASTELO

Música

Dia 16 às 21h30 - Sound's Out

- 2º Concurso de Bandas de

Garagem no salão paroquial

de Perre; dia 24 às 21h30 -

Marchas Populares em Monte

de São João, Subportela; dia

30 - festival de folclore e

encontro de tocadores de

concertina em Serreleis.

Cursos

Até ao dia 13 - curso de

Informática na Ag. de Viana

do Castelo, formador: Sérgio

Rego; até ao dia 20 - Ação de

Formação Musical de Apoio a

Tocatas no Centro de Cultura

Campos e CERVMUSIC,

formador: José Paulo Ribeira.

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Éainda Maio, quando escrevo, um Maio em que,entre as ardências de Agosto e o húmido arrepio deNovembro, o tempo, na sua versão de musa demeteorologistas, tem dançado connosco, até à

exaustão, a antiga dança do giroflé da minha infância.Envolta na espessa névoa que torna indecifrável o mundoque me rodeia, ligo a TV.

Antes mesmo de conseguir teclar a primeira letra deindignação, nesse momento fugidio em que as palavras nãosão senão pensamento, uma interrogação angustiosa invadeo espaço do meu discurso mental: “Terão alguma utilidadeas palavras que sobre isto possa escrever?”

Mais do que uma vez, escrevi, neste mesmo espaço,sobre o Touro Bravo, vítima da crueldade de homens domeu país. E as minhas palavras foram de profunda indigna-ção. E de todos os quadrantes me chegaram ecos das minhaspalavras, bem mais sonoros e poderosos do que elas pró-prias. Não obstante, o Touro Bravo continua a ser vergo-nhosamente sacrificado na ara de uma tradição que nuncafoi nossa.

Mais do que uma vez, escrevi, neste mesmo espaço, sobrea mutilação genital feminina. E as minhas palavras foram deprofunda indignação. E de todos os quadrantes me chegaramecos das minhas palavras, bem mais sonoros e poderosos doque elas. Não obstante, há no meu país crianças do sexofeminino vergonhosamente sacrificadas na ara de uma tradi-ção que nunca poderá ser nossa.

Neste mesmo espaço, escrevi, entre outras coisas, sobre oracismo, a xenofobia, a homofobia, a pedofilia, a exploraçãode crianças e de animais, e até mesmo sobre a nossa sacrifi-cada língua portuguesa. E as minhas palavras foram semprede profunda indignação. E, aparentemente, inúteis.

Se como vocábulo, INDIGNAÇÃO, de raiz latina, é uma

daquelas palavras a que Ramos Rosa atribui a “força de umvento verde”, como sentimento, é tão forte como a mais fortedas paixões; “uma virtude necessária”, segundo Hubbard,que levou o próprio Cristo a lançar mão do azorrague paraexpulsar os vendilhões do Templo.

Para o Petit Robert, é “o sentimento de cólera despertadopor uma acção que fere a consciência moral”, como foi ocaso deste “concurso de beleza infantil”, o Toddlers andTiaras, (“Criancinhas e Tiaras”) transmitido pela TV e a quehoje assisti, pela primeira (e última!) vez, presa do mais pro-fundo horror e sobre o qual não posso deixar de escrever,porque afinal também eu sou um caso perdido.

Tem três anos e pouco maior é do que o último bonecoque me deu o Menino Jesus. As primeiras imagens mostram-na em casa, vestida de gueixa, em plena aprendizagem dacoreografia que terá de executar. Sente-se-lhe o cansaço, aimpaciência. A mãe insiste. A maquilhagem. O penteado.Pestanas postiças. Cabelos postiços. Horas mais tarde, ei-lafinalmente, perdida no palco: uma mini-prostituta, de botalacada, coreografia a condizer que, para desespero da mãe,felizmente, não consegue executar.

A seguinte tem seis anos, é viciada em estimulantes, queingere para entrar ébria em palco, e tem um nome artístico:Honey Boo Boo. Funciona a dinheiro. Roupa, pintura e dis-curso de profissional precoce.

E o desfile prossegue. Um dia de concurso pode ir das 7da manhã às 10 da noite. A OIT proíbe o trabalho infantil. ALei, porém, não considera isto trabalho. Difícil de suportar talexcesso de indignação.

Sobre borboletas e sobre nuvens já escrevi. Creio que atésobre peixinhos já escrevi um dia. Sobre duendes, não,nunca escrevi. Terei de o fazer um dia. Isto é: se inadverti-damente o não fiz já hoje. n

Entre a indignaçãoe a inutilidade das palavrasFinalmente, um crítico sagaz revelou / (e eu já sabia que iam descobri-lo) / que nos meus contos sou parcial […] creioque tem razão / sou parcial […] mais ainda eu diria que um parcial irrecuperável / caso perdido enfim[…] / como pare-ce que não tenho remédio / e estou definitivamente perdido / para a frutuosa neutralidade / o mais provável é que con-tinue a escrever /contos não neutrais / e poemas e ensaios e canções e romances / não neutrais / aviso porém que seráassim / mesmo que não tratem de torturas nem de prisões / ou de certos temas que ao que parece / são insuportáveispara os neutros // será assim mesmo que tratem de borboletas e de nuvens / e de duendes e peixinhos //Mário Benedetti, in: Soy un caso perdido, in: Cotidianas, (1978-1979), Buenos Ayres Trad.: MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Longos e baços meses tinham passado desde a últimavez que adormeceram sem outras palavras que nãofossem "até amanhã". Lado a lado mas sem vontadeque os corpos se tocassem, como dois estranhos com-

pelidos a deitarem-se na mesma cama por não existir outra dis-ponível. Por vezes, pareciam guardar-se na instintiva defesa dedesencontrar as horas de recolher, atrasando-se, ela ou ele, aver televisão. Nessas noites, eram na sala as despedidas:- Até amanhã.- Até amanhã.Acontecera assim, quase de súbito e sem explicação. Ambosna vigorosa casa dos trinta, só dois anos de vida em comum, ecomportaram-se como casais gastos pelo passar do tempo.Tinham-se unido com todos os preceitos do que vai hoje cha-mando a moda antiga, papéis, igreja, padrinhos, viagem denúpcias e uma paixão mútua que definharia sem compreen-derem porquê.Interrogavam-se, na calada das suas meditações, se o afasta-mento começara por desencantos de sensualidade ou ia maislonge. Também o tédio, suprimindo conversas e atenções,poderia ter esgotado o desejo e o prazer.Escasseavam as palavras mas uma tarde, de surpresa, ele disse:- Precisávamos de alguma coisa que abanasse a nossa relação.Ela fitou-o, numa concordância muda sem saber em quê. Porfim, disse:- Penso que tens razão.- Tenho. Mas não vais concordar com uma ideia louca.- Louca, até que ponto?- A um ponto que nunca imaginámos. Mas, confesso, bailaagora na minha cabeça.Sempre era uma conversa frontal, como há muito não aconte-cia, e sentou-se com a atenção fixa nos lábios dele:- De que se trata, então?Baixando o olhar, como se tivesse mais interessado em obser-var os desenhos do tapete, ele quase segredou:- Swing. Sabes o que é? - Sei - respondeu depois de breve estranheza. - Uma dança

antiga, para aí dos anos cinquenta do século passado. Maspenso que também chamam swing a uma pancada nas bolasde golfe.

Ele sorriu e acrescentou, sem a fitar:- Há outras coisas a que se chama swing.- Outras coisas?- Vá lá, não te faças tão ingénua. Sabes, por vezes, até pararefrescarem as relações, há casais que se encontram e trocamde pares.- Ui! Isso é uma proposta?- Uma sugestão.- Uma sugestão indecente se inclui a minha presença. Masexplica-te, por favor.- Deixa. Quem me deu a ideia foi o Gualdino, ele e a mulhervão, de tempos a tempos, a casa de um amigo. Seis casais,comprovadamente casados e de confiança. Fazem lá uns sor-teios para decidir quem se deita com quem.Uma ruga de incompreensão riscava-lhe a testa mas riu-se:- O Gualdino, eu compreendo. É feio como um rinoceronte e amulher até assusta pela casa e pelo mau feitio. Não estranhoque procurem outros parceiros. Mas tu? Nós?- Pronto, querida, pronto.- Querida? Há quanto tempo não te ouvia essa palavra.- Tens razão quanto ao Gualdino, tem uma dentadura avança-da e amarela, e olhos de rato, concordo que a mulher dele éinsuportável aos olhos e aos ouvidos. Mas este assunto não seresume a perfeições físicas. É uma transgressão, bem sei, umaloucurazinha em que se pretende sacudir o ramerrão dos diasiguais.- Sê claro: o que propões é levar-me para os braços de um des-conhecido?- Dois. O convite é para dois dias e procede-se a dois sorteios.- Bravo! Para ser sincera, ando um bocadinho carecida mas nãoesperava tanto. E para ti? É à escolha?- Sujeito-me aos sorteios.- Duas, portanto.- Só por azar me sairia a mesma duas vezes.- E esperas que eu concorde com essa pouca vergonha?- Não. Por absurdo que te pareça, penso que nos faria bem acumplicidade dum delito, se assim lhe quiseres chamar, masjá calculava que te faltaria a coragem- Coragem, chamas-lhe tu?- Seria preciso alguma coragem, mesmo da minha parte. Emuito me admiraria que uma pessoa tão convencional como tutivesse tal ousadia.- Convencional, eu? Por ter alguma noção da moralidade?- Moralidade também é uma convenção. Mas não insistirei,descansa. Afinal, nem eu próprio tenho certezas.- De quê? Se dizes que fortaleceria a nossa decadente união…- Agora não te percebo.- Nem eu a ti. Desejas ou não que eu entre nessa sujeira?- Não é sujeira. Uma fantasia, sim, uma infracção às regras, cer-tamente, mas com possíveis efeitos positivos.

No fio da navalha

Os contos do

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Os contos do

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- Achas?- Como sempre achei que irias recusar. Não me surpreendeste.Ela acendeu um cigarro, expeliu uma fumaça e atirou:- Surpreendo-te agora. Vamos.- Vamos?- Pois vamos. Quando será esse festim?- Sexta e sábado.- Bolas, estamos quase. Amanhã irei ao ginásio, ao cabeleirei-ro e à massagista. Devo apresentar-me de modo a que te inve-jem por te deitares comigo todas as noites. E eles, coitados, sóuma noite cada um. Vou ter dois, não foi o que me prometes-te'- É o regulamento.- Vou optimista, costumo ser feliz nos sorteios, já me saíramuma torradeira e um peru. Podes dizer a essemalcheiroso Gualdino que contem connosco.- Falas a sério?- O mais possível. Que não faria eu para vitami-nar o nosso anémico matrimónio?O portão tem os requisitos modernos, inclusivesistema de vídeo a mostrar quem prime a cam-painha. Abriu-se dando entrada ao carro e ocasal viu-se diante de moradia centenária masaprumada em obras frequentes. Ao cimo daescada aguardava-os Gualdino, sorridente.Curvou-se em vénia e beijo na mão da recém-chegada, encaminhou-a para o interior e deu obraço ao marido dela:- Isto aqui é quase familiar, entendes? Um boca-do ao estilo antigo. Há outros locais - se quise-rem, um dia levo-os lá - em que se pratica sexoem grupo, toda a gente à vista de toda a gente.- Isso, ela não ia aceitar.- Foi o que pensei, tratando-se de uma estreia. Nesta casa étudo muito resguardado, agora os cavalheiros vão para umasala, as senhoras recolhem aos quartos, em todos há bebidas eacepipes. Fazemos o sorteio, sai-te o número de um quarto,pegas na chave e encontras lá companhia. Nada mais simples.Conversa idêntica teve a dona da casa para as visitantes, embo-ra só a novata carecesse de instruções. Saiu-lhe o quarto núme-ro 5 e para lá se dirigiu, nervosa, tal como ele quando foi con-templado com a chave do quarto número 2.Regulamentos são regulamentos e estipulava o da casa que oscônjuges só se encontrariam pela manhã. Era expressamenteproibido, no entanto, revelar com quem tinham estado e se ascoisas tinham decorrido satisfatoriamente. Só depois dasegunda jornada, de regresso a suas casas, poderiam fazerrevelações.Entretanto, as senhoras trocaram de quartos. Era a última dasduas noites e a nova convidada debatia-se entre a refeição e o

capricho em mostrar que não lhe faltava coragem. Desta veztrocou a camisola e os jines pela langerie vermelha que o mari-do tivera a gentileza de lhe oferecer para a ocasião. Cravou osolhos na porta ao ouvir a chave:- Tu? - gritou-Tu? - ecoou ele.Tombou sobre a cama, perdida de riso:- Ficaste decepcionado, confessa!- Fala por ti. Vejo-te preparada para uma boa surpresa.- E tive-a. Parece que continuo a ter a sorte nos sorteios.Riram-se como crianças, abraçaram-se como há muito nãoacontecia e actuaram de harmonia com o programa.Ele tinha ainda uma pergunta a pular na garganta:- E ontem? Foi bom para ti?

Ela afivelou uma máscara de tragédia:- Desculpa, não consegui!- Não conseguiste? E porquê?Outra vez o riso a sacudir-lhe as palavras, contando:- Saiu-me o Gualdino, calcula!- Logo esse!- Encolhi-me a um canto e ele foi delicado, sorriu-me e deucorda aos sapatos - Encostou a cabeça no pescoço do maridopesquisando odores e não resistiu a perguntar:- E tu, meu tarado, tiveste uma noite em cheio, não?Ele coçou a cabeça despenteada, tardou uns segundos e disse:- Não. Saiu-me a mulher do Gualdino. Ficámos a ver televisãoaté ao romper da manhã.De novo se abraçaram, redescobrindo-se.- Nunca mais desafias a minha coragem, ouviste?- Nunca mais. Aliás, tenho sempre a chave do teu quarto. n

JUN 2012 | TempoLivre 81JOSÉ ALVES

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As pessoas que, entre nós, já dobraram ameia-idade estão a ficar perturbadascom o que ouvem sobre a sua condição.Se a evolução científica lhes tem, com

os seus extraordinários avanços, suavizado aexistência (esperança média de vida a roçar os 80anos, transplantes de órgãos a vencerem rejeições,doenças mortais a tornarem-se crónicas), a texturasocial torna-se-lhes, pelo contrário, cada vez maisadversa, hostil mesmo.

Serviço Nacional de Saúde, direitos, assistên-cias, benefícios, protecções, confortos, entraram,com efeito, de recuar; ao mesmo tempo, indivi-dualidades públicas (políticos, intelectuais, opina-dores, gestores) abriram campanhas de insi-nuações culpabilizadoras dos seniores pelas crisesadvindas.

O peso das suas reformas, da sua saúde, dosseus tratamentos, das suas retribuições estariam,assim, na origem dos desequilíbrios surgidos,como o do desemprego, subemprego dos jovens, oda crescente precariedade das profissões, o doexcesso da carga fiscal para acorrer à sustentabili-dade da Segurança Social, o ..., etc.

Não se cuida, no entanto, de dizer que o din-heiro das reformas não provem dos impostos dosactivos, sim dos fundos de descontos (durantequarenta anos) dos trabalhadores e das

empresas. Verbas que têm sido abusivamentedesviadas pelos governos para outros fins, afe -ctando todo o equilíbrio do sector.

Se tivessem, aliás, existido alternativas não sesofreriam hoje tantas incertezas, tantas especu-lações, chantagens e ameaças como as observadas.Entregues aos próprios, os descontos feitos permitir-lhes-iam aplicações de outras rendibilidades e segu-ranças do que as (mal) asseguradas pelo Estado.

Investido mais apropriadamente, o dinheiro(das vidas contributivas) podia proporcionar, naverdade, resultados melhores dos que os permiti-dos pelo Estado. Se alguém ficou a perder nestejogo (neste jugo) foram, como se vê, os aposenta-dos, vítimas fáceis (porque indefesas) dos despu-dorados esbulhos oficiais.

Não se cuida, igualmente, de dizer que os refor-

mados contribuíram (continuam a contribuir) parao ensino, educação, formação dos mais novos,pois as ajudas são, como devia saber-se, inter-gera-cionais.

Fatiar as sociedades por crianças e adolescen-tes, adultos e idosos, homens e mulheres, citadi-nos e rurais, escolarizados e iletrados é tolice eempobrecedor pois o ideal está no seu convívio,fomentador de conhecimentos, de inovaçõesindispensáveis à dinâmica das comunidades.

As divisões que se observam estão já a ter con-sequências retrocedoras.

Não se cuida, ainda, de dizer que os seniores setornaram, nos tempos de desemprego que correm,o amparo, com as suas (depreciadas) rendas, dasgerações posteriores, de filhos, de netos, de famí-lias desesperadas pela frígida inoperância de umEstado que cada vez mais tira e menos dá.

Os que hoje são seniores sofreram, por outrolado, ao longo da vida, diversos, inamovíveis blo-queios etários.

Em jovens foram restringidos na sua afirmaçãoprofissional, social, pelos mais idosos, o que era,então, natural. O valor da experiência, da vivênciaimpunha-se como um património preciosamentecultivado - e quase sempre retribuído. Alcançá-lotornava-se, como consequência, comprovativo derealização pessoal.

Antes dos actuais seniores atingirem o recon-hecimento desse arco, tudo mudou, porém, atiran-do-os para as margens da inutilidade social.

O ser-se experiente, competente passou, comefeito, de posição enobrecida para posição depri-mida. O valor da juventude ultrapassou o do con-hecimento, o do espontaneísmo, o da reflexão. Emvez de complementarem-se (para defenderem-se),as gerações conflituaram-se (devastando-se).

Agora encontram-se todas, por igual - errado osonho de seus anos - entre ruínas, sem segurança,sem esperança, imersas em inlocalizável disso-lução.

Os seniores olham com melancolia os que pro-pagam não serem para toda a vida os empregos dehoje. E, baixinho, perguntam: o estômago das pes-soas não é para toda a vida? n

Portugal às fatias

Crónica

FernandoDacosta

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