Teologia Do At

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INDICE 1-DEFINIÇÃO DA TEOLOGIA DO AT. 2-DOUTRINA DA CRIAÇÃO E DO CRIADOR. 3-DOUTRINA DO HOMEM E DA QUEDA. 4. DOUTRINA DA SALVAÇÃO. 5. ESCATOLOGIA. 6. BIBLIOGRAFIA

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Um esboço sobre a Teologia do Antigo Testamento

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INDICE 1-DEFINIO DA TEOLOGIA DO AT.2-DOUTRINA DA CRIAO E DO CRIADOR.3-DOUTRINA DO HOMEM E DA QUEDA.4. DOUTRINA DA SALVAO.5. ESCATOLOGIA.6. BIBLIOGRAFIA

CAPTULO I

TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO1) DEFINIOTeologia a cincia que trata do nosso conhecimento de Deus, e das coisas divinas. A teologia abrange vrios ramos, vejamos:Teologia exegticaExegtica vem da palavra grega que significa extrair. Esta teologia procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras.Teologia HistricaEnvolve o Estudo da Histria da Igreja e o desenvolvimento da interpretao doutrinria.Teologia Dogmtica o estudo das verdades fundamentais da f como se nos apresentam nos credos da igreja.Teologia BblicaTraa o progresso da verdade atravs dos diversos livros da Bblia e descreve a maneira de cada escritor em apresentar as doutrinas mais importantes.Teologia SistemticaNeste ramo de estudo os ensinamentos concernentes a Deus e aos homens so agrupados em tpicos.2) A IMPORTNCIA DA TEOLOGIA BBLICAQuando algum ouve falar de Teologia Bblica nem sempre fica claro a que exatamente essa expresso se refere. Alguns entendem que a expresso diz respeito teologia de acordo com a Bblia, em oposio a uma teologia hertica.Outros imaginam que a referncia a uma teologia que est baseada nas Escrituras. Nenhuma dessas sugestes correta.A Teologia Bblica define-se basicamente a partir de sua distino em relao Teologia Sistemtica e Histria das Religies.A proposta fundamental da Teologia Bblica construir uma teologia a partir das Escrituras, de modo indutivo, sem depender das categorias definidas pela Sistemtica ou pela Dogmtica.1. Para uma descrio mais objetiva dessa distino vale a pena esboar o seguinte quadro:ABORDAGEMFonte dos DadosMetodologia

Teologia BblicaCnon das EscriturasExegtica e TeolgicaOrganizao: Conceitual, Tpica e Histrica.

Teologia SistemticaEscrituras Sagradas, Tradio Histrica, Razo (filosofia) e Experincia Humana.Teolgicae Filosfica.Organizao sistemtica e lgica.

Histria da ReligioEscrituras, documentos de outras religies, literatura e arqueologia.Fenomenolgicae Histrica:Organizao: Cronolgica e Gentica.

Como podemos observar, a Teologia Bblica parte unicamente das Escrituras e procura prescindir da filosofia e da teologia sistemtica, organizando os dados bblicos a partir da lgica interna do pensamento bblico. essencialmente descritiva, mas pode tambm tornar-se normativa quando pergunta qual o valor do texto bblico para o intrprete de hoje.Um exemplo prtico da diferena de abordagem entre as duas pode ser percebido no campo da escatologia.Enquanto a teologia bblica discute as tenses bblicas entre o j e o ainda no do Reino de Deus (escatologia realizada e escatologia futura), a teologia sistemtica evanglica volta-se para divises como pr-milenismo, ps-milenismo, amilenismo, pr-tribulacionismo, etc.

Resumo HistricoAs razes da teologia bblica esto na Reforma Protestante. O ponto de partida protestante Sola Scriptura lanou a semente para uma teologia exegtica, buscando livrar-se da Dogmtica Eclesistica.Os comentrios de Calvino so os primeiros exemplos de uma exegese bblica histrico-gramatical, que estabelecia os primrdios da futura teologia bblica.Todavia, a maioria dos estudiosos define o incio do moderno estudo da teologia bblica, ou mais especificamente, da teologia bblica do Antigo Testamento, a partir da palestra inaugural do professor Johann Philipp Gabler na Universidade de Altdorf em 1787. Antes de Gabler no havia uma distino entre teologia dogmtica e teologia bblica. No havia separao entre teologia do Novo Testamento e teologia do Antigo Testamento. Gabler defendia essas distines.

Mesmo que nunca tenha escrito uma teologia do Antigo Testamento, foi o professor Gabler quem estabeleceu os princpios bsicos e o mtodo pelos quais seria possvel escrever uma teologia bblica do Antigo Testamento. A base do estudioso alemo era racionalista, e foi sobre tais fundamentos que surgem os primrdios da teologia bblica. Apesar dessa influncia filosfica da poca, muito clara em estudiosos como G. L. Bauer, de Wette e F. C. Baur, alguns estudiosos adotaram uma linha mais evanglica e menos racionalista. Entre eles devem ser mencionados E. W. Hengstenberg, F. Delitzsch e G. F. Oehler.

Entre 1880 e 1930 a incipiente teologia bblica perdeu espao para os estudos da histria da religio. As novas tendncias filosficas, aliadas curiosidade europia para com os costumes e idias religiosas de outros povos fomentou uma interpretao da f bblica dentro de um contexto religioso universal. A f de Israel e do cristianismo deveriam ser vistas sob parmetros evolucionrios e luz da comparao com as outras religies conhecidas.Somente depois da dcada de 30 do sculo XX foi que ressurgiu o interesse pela teologia bblica. Tal efervescncia perdura at os anos 70. Muitos nomes de peso surgem tanto no campo do Antigo como do Novo Testamento. Nomes como O. Eissfeldt, W. Eichrodt, G. von Rad, B. Childs, C. Westermann, W. C. Kaiser, S. Terrien, W. Brueggmann, R. Bultmann, H. Conzelmann, E. Ksemann, H. J. Kraus, K. H. Schelkle, J. Jeremias, G. E. Ladd e D. Guthrie tornaram-se marcas na teologia bblica principalmente durantes as dcadas de 30 a 70. Alm disso, muito da teologia contempornea interagiu bastante com o pensamento bblico e estabeleceu modelos sistemticos de teologia menos presos a categorias filosficas clssicas. Aqui merecem destaque especial os nomes de K. Barth, W. Pannenberg e Oscar Cullmann. Nas ltimas dcadas a teologia bblica continua viva, mas tem enfrentado dificuldades e alguns at crem que esteja em grande crise. Para entendermos melhor seus caminhos, preciso destacar suas principais tarefas.

A Tarefa da Teologia BblicaConforme j foi sugerido, a tarefa da teologia bblica construir uma teologia a partir do texto bblico, edificando uma espcie de macro-exegese, procurando metodologicamente isentar-se de leituras confessionais e filosficas a priori.Todavia, uma teologia bblica sria dever enfrentar algumas questes importantes das quais no poder omitir-se:1. Teologia descritiva ou normativa. Qual o papel de uma teologia bblica? Procurar detectar os conceitos teolgicos dos autores bblicos, ou deve ela tambm definir normas tico-religiosas a partir da experincia histrica e teolgica da comunidade da f? Ser que um aspecto exclui o outro? possvel manter a tenso entre as duas nfases?2. A Relao entre os testamentos. Pode existir uma teologia do AT, independente do Novo Testamento? Ser que a teologia do AT uma disciplina exclusivamente crist? Existir uma teologia do AT judaica? Que tipo de relao existe entre os dois testamentos? Continuidade ou Descontinuidade? Como trabalhar a unidade da mensagem bblica, sem desvalorizar o AT e sem uma cristianizao exagerada do mesmo? Todas essas perguntas so inescapveis e merecem ateno do telogo bblico.3. Abordagem diacrnica ou sincrnica*. Muitas teologias bblicas e sistemticas parecem considerar o texto bblico homogneo e uniforme. Ser que possvel fazer teologia bblica sem considerar a histria e algum tipo de desenvolvimento teolgico nas Escrituras. verdade que o historicismo do sculo XIX e sua postura evolutiva trouxe uma espcie de trauma para muitos estudiosos da Bblia. No entanto, ainda que seja rdua lidar com o papel da histria na teologia, cremos ser impossvel fazer uma boa teologia, sem consider-la adequadamente, conforme bem observou Oscar Cullmann.*Diacronia etimologicamente, pela origem da palavra, quer dizer o momento no tempo, uma viso, um corte diacrnico ou seja, uma abordagem de um momento especifico. Exemplo: Corte diacrnico de uma sociedade, ou mesmo de uma empresa ou situao, se em corte diacrnico de um momento mais circunscrito determinado.Caso seja um corte sincrnico apresentar tempos comparados. Exemplo: um estudo sincrnico da influncia dos polticos na vida pblica da sociedade tal ento se apresentar comparaes ao longo do tempo em sincronia de vrias pocas. Diacrnico refere-se a um dado e determinado momento isolado. Sincrnico refere-se correlao entre vrios momentos entre eles. Ex. um estudo sincrnico onde compararemos a ao dos profetas nas diferentes pocas da histria de Israel.4. Relao com a autoridade da Bblia. Por mais isenta que seja uma teologia bblica, ela no poder deixar de trabalhar com pressupostos. Um dos mais relevantes exatamente o ponto de partida para com a prpria Bblia. Devemos praticar uma hermenutica de suspeita para com o texto? Ou devemos interpretar o texto sagrado de maneira afirmativa, numa relao de empatia para com o mesmo. Quando um outro referencial externo explcito comanda a hermenutica das Escrituras dificilmente poder construir-se uma teologia bblica que faa justia ao texto.5. Unidade e diversidade. Ser que possvel achar um centro de organizao para uma teologia da Bblia, ou do AT e do NT. Ser que o conceito de aliana, de promessa ou de ao divina na histria so adequados para organizar o material bblico.Seria tal abordagem forada, pelo fato de existirem vrios centros de organizao do texto? Essa uma questo difcil que no pode ser esquecida.Alm disso, a diversidade presente nas Escrituras levanta outra questo: Existe uma teologia bblica (ou do AT/NT) ou existem vrias teologias? bem conhecido o fato de que os telogos liberais levaram a diversidade teolgica bblica s ltimas conseqncias.Por outro lado, fundamentalistas tm tentado ver unidade a partir de lentes mais sistemticas e filosficas do que bblicas. Como deve ser trabalhada essa relao? A est um grande dilema ainda aberto para a discusso dos estudiosos.6. Teologia cannica ou no cannica. Por mais simples que possa parecer essa questo, ela merece muita ateno. J que temos acesso a material religioso da f de Israel e da igreja primitiva, devemos perguntar se uma teologia bblica deve fazer referncia a esse material. Por outro lado, j que se trata de uma teologia construda dentro da comunidade da f, a igreja, deve-se perguntar se os parmetros da dogmtica crist e esse fator devem restringir a teologia a uma abordagem cannica.7. Relao com a sistemtica. Uma vez construda uma teologia bblica chegar ela a algum lugar sem uma relao com a sistemtica? possvel construir uma teologia bblica sem cair na fragmentao muitas vezes acfala? Que tipo de relao deve se manter entre as duas abordagens? Doutrinas cardeais e essenciais da f como a Trindade teriam relevncia significativa numa teologia bblica? Com certeza o dilogo fundamental e necessrio, para que as duas abordagens se completem.DIVISES DA TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTOAs divises naturais incluem as grandes doutrinas a serem discutidas:A Doutrina da Criao e de Deus o Criador.A Doutrina do Homem e do Pecado.A Doutrina da Salvao.A escatologia.

CAPTULO IIA DOUTRINA DA CRIAOTeorias Referentes CriaoTeoria da Grande Exploso ("BIG BANG"). A partir do estudo de Einstein sobre a Teoria da Relatividade, outros cientistas acreditam que o Universo era uma bola imensa de hidrognio que se expandiria indefinidamente e alcanaria distncias quase infinitas. Eles imaginam que, em algum tempo indecifrvel houve uma grande exploso desta imensa bola de hidrognio. Dai surgiram os mundos, as galxias. Na tentativa de definir as origens do Universo, procuram determinar a sua idade, sugerindo a cifra de 12 bilhes de anos. De fato, esta teoria acredita na eternidade da matria, mas a Bblia a refuta, quando declara que tudo em algum tempo comeou a existir, No princpio, criou Deus os cus e a terra.A teoria do Pantesmo. O Pantesmo declara que Deus e a Natureza so a mesma coisa e esto inseparavelmente ligados. A idia bsica desta teoria que o Senhor no cria nada, mas tudo emana e faz parte dEle. Entretanto, a revelao bblica no aceita, de modo algum, este ensinamento, pois o Criador no parte do Universo, e, sim, este foi criado por Ele. (SI 6)A Teoria Evolucionista. Criada por Charles Darwin ensina que a matria eterna, preexistente. A partir da, mediante processos naturais e por transformao gradual, os seres passaram a existir. Entretanto, a Bblia declara que Deus criou todas as coisas, isto , tudo teve um comeo. As provas diretas da criao, alm da Cincia, esto expostas na Bblia Gn 1.1.Teoria da Criao, a partir do nada (Creatio ex nihilo). Esta talvez, a mais difundida, ensinada e pregada no meio evanglico. Declara que Deus criou tudo "do nada", mediante o poder de sua palavra. Utiliza-se como base, para a afirmao desta idia, o texto de Hebreus 11.3, o qual diz que "os mundos foram criados pela palavra de Deus, de maneira que aquilo que se v no foi feito do que aparente. Ora, entendemos que aquilo qual no aparente, no quer dizer "do nada", mas pode referir-se coisas imateriais.Gnesis 1: 1 No princpio criou Deus os cus e a terra.Uma leitura atenta nos trar importantes informaes, sobre a origem do Universo, com poucas palavras este verso nos traz quatro dados importantes:1 O Tempo da Criao2 O Ato da Criao3 O Autor da CriaoO Tempo da CriaoQuando tudo comeou?Joo 1: 1 2 No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princpio com Deus.Provrbios 8: 23 Desde a eternidade fui ungida, desde o princpio, antes do comeo da terra.O Princpio o espao existente antes da criaoO Ato da CriaoNo original hebraico o termo "Criar" aparece como "Bara", h cinquenta ocorrncias do verbo com esse sentido e sempre tendo Deus como sujeito. Seu significado mais amplo trazer a existncia o que antes no existia. Somente Ele possui este poder.Salmo 8: 3 4 Quando vejo os teus cus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?O Autor da CriaoA Suprema preciso com que todos os astros se movem e sua disposio no universo demonstra que tudo isto no apareceu por acaso.Salmo 19: 1 Os cus declaram a glria de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mos.Salmo 119: 90 91 A tua fidelidade dura de gerao em gerao; tu firmaste a terra, e ela permanece firme. Eles continuam at ao dia de hoje, segundo as tuas ordenaes; porque todos so teus servos.Este Deus criador que se revela nas Escrituras guarda caractersticas nicas, que nos ensinam o quanto Ele diferente e superior a toda cr1. EternoA primeira ao descrita em Gnesis, criao, mostra queDeus existe antes dela: Ainda antes que houvesse dia, eu era (Is 43.13a). Enquanto o universo tem um princpio, Deus eterno. certo que o conceito da eternidade confunde o homem. Para a humanidade, tudo que existe teve um momento inicial, perdura durante certo tempo e finalmente acaba. Nenhuma dessas realidades se aplica a Deus, pois ele no est, como ns, debaixo do tempo ou preso a ele (SI 90.4).Essa realidade to marcante na pessoa de Deus que ele chamado vrias vezes de Deus eterno (G n21.33; Dt 33.27; ls 40.28).Deus sempre existiu e sempre existir (IC r 16.36; N e 9.5), sua existncia no tem incio (M q 5.2; H c 1.12a). Esse conceito tem vrias implicaes que fazem parte do conhecimento de Deus. Em primeiro lugar, por ser eterno, entende--se que Deus no teve um criador, mas que autoexistente, ou seja, existe por causa dele mesmo, e no por causa de outro. Ele causa de tudo e no efeito de nada. Por isso, Jeremias chamou o Senhor de Deus vivo, associando essa realidade sua eternidade, j que tambm o chama de rei eterno (Jr 10,10).Uma das melhores expresses da existncia autnoma e no dependente de Deus o modo como ele se apresenta Eu Sou o Que Sou (x 3.14) , transmitindo tanto a ideia de uma existncia plena como da sua presena constante com seu povo, a qual no pode ser abalada por nada.A segunda implicao tem a ver com a constncia dos atributos do Senhor e com sua imutabilidade. Deus no est em desenvolvimento nem sofrendo qualquer tipo de degradao (SI 90.2).Jeremias, tendo em mente a eternidade do Altssimo, o chama de verdadeiramente Deus (Jr 10.10), algo que se contrape aos dolos feitos por homens. No h mudana no seu carter (SI 25.6; 119.142; Is 54-8), nem na sua primazia e soberania sobre tudo o que existe, j que ele preside desde a eternidade (SI 55.19), seu trono desde a antiguidade est firme (Sl 93.2) e seu domnio eterno (D n 7.14).Uma das melhores afirmaes da imutabilidade de Deus se d por suas prprias palavras: Porque eu, o Senhor, no mudo (Ml 3.6). Enquanto todos sofrem com o tempo, Deus se mantm o mesmo (Sl 102.26-27).Por fim, a eternidade de Deus lhe serve de garantia da sua credibilidade. Ele mesmo lana mo desse atributo ao assegurar proteo ao seu povo e retribuio aos seus inimigos, produzindo neles confiana (D t 32.40). O profeta Isaas reconhece essa relao entre a eternidade de Deus e a garantia do cumprimento das suas palavras (Is 26.4).2. Ilimitado e infinitoPor melhores que sejam as pessoas e as coisas ao nosso redor, todas elas tm limites. A qualidade e o valor de cada coisa, ainda que grandes, encontram em algum ponto seu alcance mximo. Entretanto, essa regra no vlida para Deus, pois ele infinito. Essas verdades so destacadas por Davi ao falar sobre as palavras e os caminhos do Senhor (Sl 119.96).A infinitude de Deus lhe confere, em primeiro lugar, perfeio.Isso porque o conceito de um Deus sem limites no admite a ideia de que haja algum maior ou melhor que ele, nem um estado mais desenvolvido ou um carter melhor. Ainda que o AT incentive a perfeio de carter do seguidor do Senhor (G n 17.1; Dt 18.13), a perfeio de Deus inatingvel para o homem e est alm da sua capacidade de compreend-la (J 11.7). Por isso, tudo que ele faz e diz tambm isento de falhas ou limites, visto que o caminho de Deus perfeito (2Sm 22.31). Outra faceta da infinitude de Deus sua onipresena. Esse termo refere-se ao fato de o Altssimo estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Deus, na totalidade da sua essncia, sem difuso ou expanso, multiplicao ou diviso, penetra e preenche o universo em todas as suas partes (SI 139.7-10).Isso quer dizer que ningum pode fazer nada longe da presena do Senhor, trazendo aos homens a noo da responsabilidade (Jr 23.23-24) A ausncia de limites espaciais de Deus indica tambm que ele no est ligado a um a forma fsica. Eis a provvel razo pela qual ele proibiu, no decurso da sua adorao, o uso de imagens (Ex 20.4-5). Fossem elas representaes de Deus ou de seres ligados a ele, de qualquer modo haveria uma diminuio do conceito da infinitude do Senhor.Por fim, a infinitude de Deus pressupe sua onipotncia. Significa que no h limites na capacidade que o Senhor tem de fazer tudo quanto queira ou deva fazer. Essa noo de onipotncia recebe contestaes semelhantes a esta famosa pergunta: Deus pode criar uma pedra to dura que ele no possa destruir?. Qualquer resposta cria uma aparente incapacidade em Deus, seja no criar tal pedra, seja no tentar sem sucesso destru-la. Contudo, essa uma distoro no conceito de onipotncia, pois tal atributo coerente com a verdade, a lgica e o carter de Deus. Frases como Deus no pode morrer, Deus no pode mentir, Deus no pode criar algum melhor ou mais forte que ele e Deus no pode criar um tringulo com quatro lados, alm de no afetarem sua onipotncia, atestam sua perfeio, santidade, sabedoria e coerncia.A onipotncia vista inicialmente no ato de criar tudo que existe. Jeremias afirma que Deus fez a terra pelo seu poder (Jr 51.15a), e o salmista atesta que os cus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exrcito deles (SI 33.6).A onipotncia no vista apenas na criao, mas tambm ao realizar coisas que so impossveis para o homem. Por isso, ao fazer uma aliana com Abrao, cujas promessas visavam a desdobramentos histricos improvveis na concepo humana, o Senhor se apresenta como o Deus Todo-poderoso (G n 17.1). Esse poder se faz sentir em aes prticas como fazer a estril Sara tornar-se me (Gn 18.14; cf. 21.1-3). Jeremias completa essa noo dizendo: coisa alguma te demasiadamente maravilhosa (Jr 32.17). Outro modo de o AT apresentar o poder ilimitado do Senhor comparando-o ao poder do homem. Ele poderoso acima de todos, e nada do que queira fazer pode ser impedido por quem quer que seja (J 42.2). Assim, Deus poderoso para salvar seu povo:Nenhum h que possa livrar algum das minhas mos; agindo eu, quem o impedir? (Is 43.13b). No final das contas, quando no h consenso entre os desejos da criatura e do Criador, quem prevalece o Senhor (Pv 19.21).Deus tambm se distingue da humanidade no campo do conhecimento, sendo onisciente (S l 139). Ele conhece tudo que existe, ainda que o escopo de tal conhecimento seja inatingvel sob a perspectiva humana (S l 147.4-5). Mesmo as coisas mais ocultas, como o ntimo das pessoas, so desvendadas diante de Deus, pois o Senhor sonda os coraes (Pv 21.2) e penetra todos os desgnios do pensamento (lC r 28.9), conhecendo por completo a mente e o corao ( S l 7.9), porque o Senhor no v como v o homem. O homem v o exterior, porm o Senhor, o corao (IS m 16.7b).O conhecimento de Deus abrange tambm as coisas futuras. Por isso anunciou com antecedncia acontecimentos futuros, como a fome nos dias de Jos (G n 41.25b), as sucesses polticas previstas na esttua de Nabucodonosor (D n 2.29b), a destruio do altar pago por Josias (lR s 13.2; cf. 2Rs 23.16) e a subjugao da Babilnia e a libertao dos israelitas por Ciro (Is 45.1; 48.14b; cf. Ed 1.1). O AT tem muitas outras previses divinas que ainda aguardam o cumprimento e que so tratadas no campo da escatologia.3. SantoSer santo significa que Deus separado. Nesse sentido, ele separado tanto da criao com o de tudo que indigno ou pecaminoso. Trata-se de uma absoluta separao do m al. Ele superior e separado de tudo que no Deus e que no perfeito.De modo positivo, pode-se dizer que a afirmao de que Deus santo significa que ele completam ente puro e distinto de tudo o mais que existe. Essa qualidade de Deus define todos os traos do seu carter. A santidade de Deus implica vrias coisas. Em primeiro lugar, ele no faz parte de um panteo, nem guarda semelhanas com as caractersticas dos falsos deuses (x 15.11). Enquanto os deuses do paganismo tm caractersticas negativas como os defeitos de carter dos homens, o Senhor diferente e nico (1 Sm 2.2). Ele apresenta uma moral perfeita que o faz agir com uma tica perfeita que o diferencia de todos (Is 40.25).A santidade tambm aponta para o fato de que Deus nico. Quanto ao restante, todo ele foi criado por Deus (S I 89.11).Ainda que as Escrituras no narrem a criao de todas as coisas (p. ex., a dos anjos), no h espao para qualquer outro criador. Assim, nada mais bvio que Deus se revelar como nico Senhor (Dt 6.4). A consequncia uma adorao inteiramente voltada a ele sem que seja dividida com nada, nem com ningum (D t 6.5). possvel haver alguma confuso quando se veem textos em que outros deuses so personificados, como no caso do juzo de Deus sobre o Egito, quando o Senhor diz: Executarei juzo sobre todos os deuses do Egito (Ex 12.12). Entretanto, esse um modo de demonstrar a tolice de se confiar em deuses inexistentes criados na mente humana (D t 4.35). Diz o prprio Senhor: Alm de mim no h Deus (Is 44-6); porque todos os deuses dos povos no passam de dolos; o Senhor, porm, fez os cus (S I 96.5); e a minha glria, pois, no a darei a outrem, nem a minha honra, s imagens de escultura (Is 42.8).A noo do santo ou do sagrado como algo separado faz tambm o Senhor considerar o que lhe pertence como algo separado para ele (Lv 20.26). Com isso, Gleason Archer Jr. v como consequncia natural que o Israel redimido deveria conservar-se puro, isto , separado do mundo para servir e prestar culto ao nico Deus verdadeiro. O ato de Deus separar um povo para si no elimina a responsabilidade dos prprios servos de se consagrarem a ele. Na verdade, para ter comunho com Deus necessrio que o homem assimile o conceito da santidade do Senhor9 e entre no processo de reproduzi-lo em sua vida (Lv 11.44). Ser povo santo , naturalmente, repudiar o que imoral e corrupto e afastar-se disso (D t 23.14b).Quando a consagrao tinha relao com pessoas, isso implicava limites nas aes e nos relacionamentos, como no caso dos sacerdotes, o que lembrava que a prostituio cultual comum em Cana no tinha relao com o culto israelita (Lv 21.7; cf. tb.Nm 6 .1-8) . Quando tinha relao com objetos ou animais, implicava uso exclusivo no servio de Deus (Lv 8.11) e qualidade compatvel com a funo de servir a Deus, como as ofertas sem defeito (Lv 5.15). Quando a consagrao tinha relao com o tempo sbados, dias de festa, anos de descanso, anos de jubileu , havia proibies de trabalho e de plantio, devendo haver descanso, fosse dos trabalhadores, fosse da terra (Ex 31.14-16;Lv 25.10-12).O Deus que se aproxima do homemTodos os atributos de Deus so perfeitos e demonstram que ele est acima do homem. Entretanto, alguns desses atributos se tornam conhecidos no relacionamento do Senhor com a humanidade, principalmente com seus servos.1. PessoalA primeira caracterstica de Deus que permite o relacionamento entre ele e os homens o fato de ele ser pessoal. Isso no quer dizer que Deus tem um corpo, mas que tem inteligncia, emoes, vontade e capacidade de se comunicar. Assim, Deus no uma fora csmica, um fator de ligao entre os seres vivos ou o somatrio de tudo que existe. Deus uma pessoa.O primeiro trao da sua personalidade, conforme revelado no AT, sua inteligncia. Isso est patente desde o princpio na obra da criao; ao criar tudo que existe, Deus mesmo avaliou o que fez; eis que era muito bom (G n 1.31). A inteligncia do criador est impressa na perfeio e na grandeza da criao (SI 104.24).Por isso, Davi aprende sobre Deus ao olhar para os cus, obras do Senhor (SI 19.1-4).O tipo de intelecto que a criao revela como causa da sua forma, tamanho, variedade, ordem e funcionamento extremamente superior ao intelecto humano. Deus compara o seu entendimento com o de J e de todos os homens , perguntando-lhe: Onde estavas tu, quando eu lanava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento (J 38.4) Nunca houve resposta da parte de J a essa pergunta, pois no h entendimento no homem que se compare ao do Senhor.Outro trao da personalidade de Deus o fato de ele ter emoes. Como pessoa, Deus sente amor (Jr 31.3). Deus tambm se ira, fato observado quando ele chamou Moiss e este passou a resistir ao chamado (x 4-14). A misericrdia e a compaixo so sentimentos vistos em Deus no seu contato com os seres humanos (Ex 33.19b). O Senhor, como ser pessoal, alegra-se (Sf 3.17) e se entristece (Gn 6.6).Uma nota deve ser feita ao termo arrependimento. Quando aplicado a Deus, no quer dizer que ele muda de ideia. (lS m 15.29). Nas ocorrncias dessa palavra ligada a Deus, um elemento comum a mudana de atitude do Senhor para com o homem, seja da bno para o castigo (G n 6.6-7; lS m 15.11,35; Jr 18.9-10), seja do castigo para o perdo (x 32.14; 2Sm 24 16; Jr 18.8; A m 7.2-6; Jn 3.10), sem, contudo, sair de seu plano previamente traado ou anunciado.Trata-se de uma linguagem chamada antropomrfica, utilizando realidades que nos so conhecidas a fim de nos apresentar verdades divinas que temos dificuldade de compreender. Isso faz parte do modo de Deus se revelar ao homem de forma inteligvel, coerente e com patvel com a condio humana, ao que Joo Calvino chamou de balbuciar como crianas. Mas quando o arrependimento usado no seu sentido normal, presumindo uma mudana de opinio e de planejamento, a Bblia se apressa em dizer que Deus no homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa (N m 23.19).O terceiro trao da personalidade de Deus sua vontade. Ela compatvel com sua perfeio e santidade. Por isso, seus servos buscam segui-la (Sl 40.8; 143.10a). Joto, rei de Jud, a quem a Bblia qualifica como um bom rei explica que a razo para tanto foi porque dirigia os seus caminhos segundo a vontade do Senhor, seu Deus (2C r 27.6). A vontade do Senhor foi conhecida at mesmo fora de Israel, como se v no decreto do rei Artaxerxes a Esdras (Ed 7,18). At os anjos servem a Deus cumprindo sua vontade (Sl 103.21).O quarto trao da personalidade de Deus sua capacidade de se comunicar. A primeira mostra disso se d na comunicao pessoal de Deus ao criar o homem (G n 1.26). Nesse caso, Deus fala consigo mesmo usando um pronome no plural. Ao dizer nossa imagem e nossa semelhana fica claro que ele se dirige a algum da mesma natureza, comunicando-se dentro da prpria divindade.O mesmo ocorre por ocasio da confuso de lnguas na torre de Babel (G n 1 1.6-7).Deus se comunica tambm com os seres humanos. Falou diretamente com homens, como Ado (G n 2.15-17), No (G n 6.13),Abrao (G n 12.1-3), Moiss (x 3.4-10) e os profetas, os quais agiam como porta-vozes de Deus a seu povo. Nesse caso, era muito comum a frmula assim diz o Senhor (x 5.1; Jz 6 .8 ; lRs 11.31; Is 7.7; Jr 2.2; Ez 2,4). Deus tambm se comunicou por meio de escritos, como as tbuas da lei (x 24 .12) e a escrita na parede do palcio da Babilnia (D n 5.24-28).2. SoberanoUm trao importante no AT sobre o modo de Deus se relacionar com a criao e com o homem sua soberania. Seu nome e seus atributos mostram que ele soberano. Ainda que a soberania tenha relao direta com a onipotncia, ela no apenas o poder ilimitado de Deus, mas sua aplicao prtica no controle ativo de tudo que existe. As Escrituras afirmam categoricamente que ele tem poder para controlar tudo, e que, de fato, controla (J 42.2; Is 46.10).Assim, soberania no apenas ter poder para fazer o que quiser, mas exercer tal poder segundo seus planos e propsitos. No uma queda de brao. o comando pleno de um projeto previamente traado por Deus, que ele no tem dificuldade de executar.O controle soberano de Deus, contudo, no pode ser nomeado de fatalismo:O quadro apresentado pela Bblia no um quadro fatalista, porquanto o fatalismo deixa a sorte do mundo nas mos de uma fora impessoal. A Bblia, porm, deixa o destino do mundo nas mos de Deus, o Pai, o qual todo-reto, todo-sbio e todo-misericordioso. Exemplo do controle soberano de Deus se v sobre a natureza.O seu poder infinito se mostra quando ele envia o dilvio para eliminar a humanidade, com exceo de No e sua famlia.Nessa ocasio, Deus se apresenta como o autor direto do dilvio, mostrando que as foras da natureza atendem s suas ordens (G n 6.17; cf. v. 7).O mesmo ocorreu por meio das pragas do Egito, a fim de se revelar aos homens como o Deus incomparvel e inspirar nos israelitas, reverncia e adorao alegre (x 9.14). Em seu controle sobre a natureza, Deus transformou as guas em sangue (Ex 7.20), fez o rio produzir rs em uma quantidade enorme (Ex 8.3,6), enviou um enxame de moscas som ente sobre os egpcios (Ex 8.24), produziu uma peste que matou os animais (x 9.3,6), lanou feridas abertas (lceras) nos egpcios e nos seus animais (Ex 9.10), enviou uma chuva de pedras sobre os homens, os animais e as plantaes (x 9.22-23), ordenou um grande ataque de gafanhotos que dizimou a flora do Egito e encheu as casas dos moradores (Ex 10.12-15), escureceu apenas a terra dos egpcios (Ex 1 0 ,2 1 -2 2 ) e matou todos os primognitos dos homens e dos animais (Ex 12.29).Algo que no pode deixar de ser notado, tanto no relato do dilvio como no das pragas, que Deus avisou com antecedncia o que faria e explicou seu propsito, excluindo por completo a possibilidade de tais eventos serem tratados como episdios ao acaso ou acontecimentos dirigidos por qualquer coisa que no fossem a deciso e o controle do Senhor. 4 FielEnquanto o NT tem uma de suas frases mais famosas escritas por Joo Deus amor ( ljo 4-8,16) , o AT tem, no cntico de Moiss, uma afirmao to poderosa quanto do apstolo: Deus fidelidade (Dt 32.4). Por causa dela, Deus se mostra verdadeiro para com quem ele e para com aquilo que promete. Tal fidelidade independe das circunstncias s quais as promessas de Deus so expostas como a infidelidade dos homens ou a falta de merecimento de bnos. Sua fidelidade existe por causa dele mesmo, e no por causa das pessoas. O povo de Israel, descendncia de Abrao, conheceu desde cedo esse conceito (D t 7.6-9).U m a das razes pela quais a fidelidade de Deus um foco teolgico importante no AT a existncia das alianas. Elas rendem um captulo em qualquer trabalho de teologia das Escrituras hebraicas.Assim, a fidelidade um desdobramento do carter divino que se torna visvel nas alianas que Deus fez. O Deus fiel agiu com Israel, escolhendo-o dentre os povos, independente do que a nao pudesse oferecer, mas para guardar o juramento que fizera a vossos pais (Dt 7.8).A nao de Israel, a quem o Senhor diz eu te fortaleo, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel (Is 41.10), recebe tal tratamento devido ao patriarca israelita a quem ele escolheu e chamou (Is 41.8-10). Na verdade, a prpria separao de Israel como seu povo est associada fidelidade de Deus (Is 49,7b).Jac, neto de Abrao, tambm foi um alvo consciente desse atributo. Seus primeiros atos narrados por Moiss so compatveis com um homem infiel ao se aproveitar da fome e da fraqueza sem falar da tolice do irmo (G n 25.29-34), ao enganar o pai (G n 27-1-29) e ao tentar lesar o sogro (Gn 30.37-43). Seus dois primeiros golpes lhe fizeram fugir de Esa para a terra de Pad-Ar.Tudo isso fez que Jac no fosse um exemplo de bom carter,nem algum merecedor de bnos, Apesar disso, ele foi abenoado, no porque tenha merecido, mas porque Deus fiel.A o retornar a Cana, Jac reconhece: Sou indigno de todas as misericrdias e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo (G n 32.10).A fidelidade de Deus to contrastante em relao ao procedimento dos homens que ela se torna uma das alavancas do louvor a Deus. O livro de Salmos riqussimo de aluses fidelidade do Senhor, de splicas baseadas nela e de louvores por causa dos benefcios que ela traz. Para os salmistas, a fidelidade do Senhor s existia em escala mxima: A tua benignidade, Senhor, chega at aos cus, at s nuvens, a tua fidelidade (S I 36.5; cf. tb.54.10; 108.4).A consequncia prtica que tudo que Deus faz e diz condizente, porque a palavra do Senhor reta, e todo o seu proceder fiel (SI 33.4); e o Senhor fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras (SI 145.13b). A plenitude da fidelidade no expressa somente em termos de qualidade e quantidade, mas tambm no que tange sua durao, de modo a no diminuir com o passar do tempo (SI 100.5; 117.2; 119.90; 146.6).De maneira surpreendente, a fidelidade do Senhor se conserva durante os momentos em que ele duro. Em relao ao inimigo, a justia de Deus lhe cai consoante sua justia (SI 54-5). Normalmente, a fidelidade se une justia em ocasies em que Deus socorre seus servos das mos mpias (SI 57.3). Contudo, no caso dos servos, a fidelidade se une santidade de Deus para produzir disciplina, de modo que, mesmo diante da destruio punitiva de Jerusalm, utilizando Nabucodonosor e a Babilnia como instrumento, a fidelidade de Deus ainda foi percebida (Lm 3.22-23).Bem disse Moiss: Deus fidelidade (Dt 32.4).

CAPTULO IIIA Doutrina do Homem e do PecadoTm surgido as mais variadas teorias acerca da origem do homem. De um modo geral, elas no conseguem anular a ligao do ser humano com a Terra.Entretanto, a nica fonte realmente autorizada, acerca da origem da humanidade, a Bblia Sagrada. Os dois primeiros captulos de Gnesis nos oferecem de modo plausvel e coerente, a verdadeira histria das origens, inclusive a do homem.

A CRIAO DO HOMEMQuando contemplo os teus cus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites? (SI 8.3,4).Senhor, que o homem para que dele tomes conhecimento?E o filho do homem, para que o estimes?O homem como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa (SI 144.3,4).Que o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado?(J 7.17).Trs vezes o Antigo Testamento dirige a Deus a pergunta: "Que o ser humano?" A pergunta em si reflete a percepo de que Deus est atento s pessoas, apesar de o homem ser apresentado como relativamente pequeno e insignificante em comparao com a vastido do universo e com a soberania de Deus na natureza e na histria.Levantar a pergunta "que o homem?" significa exercer o dom da reflexo sobre si mesmo. David Jenkins disse que a coisa mais estranha no ser humano que ele pode perguntar quem ele . A autopercepo das pessoas nica em dois sentidos: "Primeiro, no temos conhecimento de nenhuma outra espcie animal que a tenha, e, em segundo lugar, trata-se de uma percepo de singularidade, isto , a percepo de que eu sou eu mesmo e no outro algo ou algum". O fato de as pessoas perguntarem sobre sua natureza ou mesmo de fazerem perguntas no algo bvio.Quando as pessoas comeam a fazer perguntas, no conseguem mais aceitar as coisas simplesmente. Um movimento misterioso teve incio, e ningum pode dizer aonde ele vai levar. Uma vez que a questo da natureza humana foi levantada, uma segunda pergunta exige uma resposta: o enigma da humanidade. Essa pergunta no pode ser evitada. Ela no "fruto das nossas opinies, mas brota da sua prpria necessidade interior, como a questo que est acima de todas as outras".No sabemos com exatido quando as pessoas no Antigo Testamento comearam a fazer a pergunta: "Que o ser humano?" Sabemos que o Antigo Testamento emoldura a pergunta com o contexto de Deus. Moiss perguntou a Deus na sara ardente: "Quem sou eu para ir?" (x 3.11). Davi disse: "Quem sou eu, Senhor Deus, e qual a minha casa, para que me tenhas trazido at aqui?" (2Sm 7.18; cf. Gn 18.27). Essas perguntas no foram feitas para formular uma definio da natureza humana ou para ter uma explicao da origem da humanidade. So perguntas sobre o valor e a singularidade da vida humana. So dirigidas nica fonte com potencial para responder.O Antigo Testamento no traz ma resposta sistemtica organizada para a pergunta: "Que o homem?" As dificuldades para apresentar a viso veterotestamentria do ser humano comeam com a variedade histrica e com a amplido dos dados do Antigo Testamento. Wolff disse que o Antigo Testamento no contm uma doutrina unificada do ser humano, e no temos condies de identificar um desenvolvimento do conceito bblico do homem. Apesar de o Antigo Testamento no dar uma resposta sistemtica pergunta "que o homem?", podem-se extrair muitas implicaes e concluses, a ponto de podermos construir uma resposta a partir dos dados do Antigo Testamento. Qualquer construo de uma perspectiva veterotestamentria do ser humano inevitavelmente obra da pessoa que faz a reconstruo. Selecionar e reorganizar os dados insere um elemento subjetivo, se bem que o escritor precisa ser o mais objetivo possvel na seleo, no uso e na interpretao das informaes do Antigo Testamento. Wolff, em sua importante obra Anthropology of the Old Testament, organizou o material do Antigo Testamento em trs partes: o ser do homem, o tempo do homem e o mundo do homem. Estudaremos a perspectiva do Antigo Testamento do ser humano dentro de quatro temas: o ser humano um ser criado, o ser humano semelhante a Deus, o ser humano uma criatura social, e o ser humano um ser unitrio. O SER HUMANO UM SER CRIADOOs escritores do Antigo Testamento so unnimes em dizer que o ser humano um ser criado. Os dois relatos da criao em Gnesis mencionam explicitamente a criao de pessoas (Gn 1.27; 2.7). Os profetas sabiam que Deus tinha feito a raa humana (Is 17.7; 42.5; 43.7; 45.9, 12; Jr 1.5). Os salmistas proclamaram que o Senhor nos fez e que somos seus (SI 100.3; 139.13-16). Do mesmo modo, J e Eli reconheceram que Deus os fizera (J 10.8-12; 36.3). Os escritores dos livros de sabedoria declararam que Deus fez todas as pessoas, desde o rico at o pobre (Pv 14.31; 17.5; 20.12; 22.2).Emil Brunner disse que a palavra bblica criao significa em primeiro lugar que "h um abismo intransponvel entre criador e criatura, em que um estar sempre oposto ao outro em uma relao que jamais poder ser alterada. No existe senso maior de distncia do que o que h entre as palavras, criadorcriatura. E essa a primeira coisa que pode ser dita sobre o ser humano, e fundamental: Ele criatura". Deus o Criador incriado. Por mais que o ser humano se distinga das outras criaturas, ele tem em comum com todas elas aquilo que distingue as pessoas de Deus: elas foram criadas.Como ser criado, o ser humano compartilha a fraqueza e as limitaes de todas as criaturas. Sua existncia terrena efmera e termina inexoravelmente na morte. A fragilidade do ser humano expressa em um sem-nmero de passagens do Antigo Testamento (J 4.19; 7.7; 10.4, 5; 14.1, 2; SI 9.20; 39.5, 6, 11; 49.12, 20; 62.9; 90.5; 103.14-16; 144.4; Is 2.22; 40.6; Jr 10.23; 13.23; 51.17). Mesmo assim, quando Deus fez o ser humano, criou-o com espao vital, alimento, trabalho e companhia (Gn 2.9-23). O HOMEM SEMELHANTE A DEUS (IMAGO DEI)O que a imagem de Deus no homem?Sendo assim, temos de perguntar o que significa tal imagem impressa exclusivamente na criao do homem. O melhor lugar para iniciar essa busca junto ao texto que informa a deciso divina de formar o homem sua imagem: E Deus os abenoou e lhes disse: Sede fecundos,multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a (G n 1.28a).Percebe-se que a natureza do homem como imagem de Deus estava ligada tarefa de governar e, ao faz-lo, agir como legtimo representante de Deus. A isso se pode dar o nome de exerccio da soberania mediada, a saber, o controle de Deus sobre a terra exercido pelo homem para a glria do Criador. Tal domnio (Gn 1.26), que devia ser exercido pelo homem em lealdade e obedincia absolutas, envolve tanto o cuidado da criao (Gn 2.15) como o usufruto dela (G n 1.28-30; 9.3-4), sendo necessrio que a raa humana povoasse o planeta (G n 1.28; 9.1,7).Com a inteno de que o homem governasse a terra, Deus dotou-o com certas caractersticas que lhe permitissem realizar essa funo. Assim, de modo nico, o homem possui os elementos que lhe conferem personalidade: intelecto, vontade e emoes. A funo do ser humano no lhe confere apenas relacionamento com a criao, mas, tambm, com o Criador, conforme declara Bob Utley: A humanidade tem domnio sobre a terra criada por causa de seu relacionamento com Deus. Ela deveria reinar/dominar como seu representante, em seu carter. O poder no o tema teolgico, mas o meio do seu exerccio (para si mesmo e para o bem de outros). Para tanto, Deus criou o homem de maneira a poder se relacionar com ele. Por isso, o homem foi criado como ser espiritual, e no apenas pessoal (G n 2.7). Para se referir ao ser humano completo, Davi se utiliza da natureza corporal e espiritual do homem (SI 16.9). Com o requisito para o relacionamento entre Deus e os homens, o Senhor tambm lhes deu uma condio moral santa (Ec 7.29a). Esses aspectos peculiares tornam o homem apto para governar a terra e se relacionar com o Criador.

TENTAO E QUEDA DO HOMEMA Terminologia do PecadoAs palavras empregadas no AT para descreverem o pecado so to notveis como o registro de sua historia.1. (Chata) Pecar, errar o alvo.2. (Pasha) Transgredir. Significa primariamente ir alm, rebelar-se, transgredir.3. (Rasha) Ser mpio basicamente significa ser solto ou mal ligado; ser ruidoso ou maldoso.4. (Ra a) Ser mau. Com o significado de quebrar, danificar por meios violentos, A palavra veio a significar aquilo que causa dano, dor ou tristeza e dai o mal moral.5. (Avah) Ser perverso. O termo significa entortar ou torcer, da perverter ou ser perverso. Perverter a lei de Deus ou andar pelo tortuoso em oposio ao caminho reto de Deus, Gen.

Outros termosRamah = EnganarMaal = TransgredirPathah = SeduzirKasal e nabhel = Ser insensatoTame e baash= Ser impuroA PROPENSO PARA O PECADOPropenso, mas no destinado. Como ser racional, o homem, em seu primeiro estado de inocncia desconhecia o pecado. A possibilidade para o pecado surgiu com a tentao. De fato, ele no havia ainda desenvolvido o seu carter moral. Esta propenso para a transgresso no significa que o homem, inevitavelmente, estivesse destinado a pecar. Esta tendncia baseava-se unicamente em seu Livre-arbtrio. Ele poderia, conscientemente, manter-se fiel aos limites do conhecimento que o Criador lhe deu, ou, ento, rebelar-se contra esta lei, e partir para o outro lado.A QUEDA DO HOMEM, ATRAVS DO PECADO.A queda de Ado e Eva apresentada, literalmente, na Bblia, de modo explcito. No foi um relato terico ou figurativo, mas histrico. Por isso, entendemos que o pecado de nossos primeiros pais foi um ato involuntrio de sua prpria vontade e determinao. E claro que a tentao veio de fora, da parte de Satans, que os instigou a desobedecer ordem de Deus. Conclumos, pois, que a essncia do primeiro pecado est na desobedincia do homem vontade divina e na realizao de sua prpria vontade. O seu pecado foi uma transgresso deliberada ao limite que Deus lhe havia colocado.AS CONSEQUNCIAS DA QUEDAO Pecado afetou a vida fsica e psquica do homem. Paulo escreveu aos Romanos: "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Rm 5.12). A morte fsica se tornou, ento, a consequncia natural da desobedincia de Ado, e a espiritual se constituiu na eterna separao de Deus. O Criador foi enftico no Jardim: "Porque no dia em que dela comeres, certamente morrers" (Gn 2.17).O pecado afetou a vida espiritual do homem. "O salrio do pecado a morte" (Rm 6.23). Ado no morreu no mesmo dia em que pecou, mas perdeu a possibilidade de viver e tambm perdeu a imagem de Deus em sua vida. Isto implicou, no rompimento da comunho com o Criador, e causou-lhe a "morte espiritual", no momento exato que pecou.

CAPTULO IVA DOUTRINA DA SALVAOAssiste-nos, Deus e Salvador nosso, pela glria do teu nome; livra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome. Salmos 79.9 A salvao no Antigo Testamento Ainda que a promessa de salvao tenha surgido assim que o homem pecou e tenha se desenvolvido medida que a revelao progrediu por meio dos profetas do AT, no N T que a doutrina da salvao recebe seus retoques finais e ganha contornos bem definidos.Uma das dificuldades que envolvem a questo que a salvao, no AT, tem mais de uma aplicao. Isso se deve ao carter nico do relacionamento entre Deus e Israel. Tambm se deve ao longo tempo do relacionamento descrito pelo AT. Por esse motivo, a salvao se apresenta pelo menos sob trs aspectos: a salvao pessoal/nacional, a salvao ritual e a salvao espiritual.Cada uma delas tem uma razo, uma causa, uma fonte, um meio e um resultado. 1. Salvao pessoal/nacionalO primeiro conceito salvfico a surgir nitidamente o da preservao.Apesar de Hebreus afirmar claramente a justificao de Abel e de Enoque pela f (Hb 11.4-5), para o leitor do Pentateuco, nos dias de Moiss, essa verdade estava velada. Entretanto, a salvao de No e de sua famlia da morte e a preservao da raa humana da extino por meio da arca so verdades tangveis at aos leitores mais inexperientes.A razo pela qual No e sua famlia necessitavam de salvao era o risco de morte ao serem pegos pela punio divina raa humana (Gn 6.7a). A causa de serem salvos foi a graa de Deus, que desejou poup-lo (Gn 6 .8 ). A fonte da salvao foi o prprio Deus, visto que ele escolheu No (G n 6.9), a fim de preserv-lo. O meio utilizado para a salvao de No e sua famlia foi dado a partir de instrues especficas sobre a construo de uma arca (cf. Gn 6.14-16). E importante observar que o meio dado por Deus para a salvao da famlia de No pressupunha e exigia obedincia s instrues (G n 6.22). O resultado ao final do dilvio foi preservao da raa humana e a salvao da famlia daquele servo de Deus, alm dos animais. Vrios so os exemplos de salvao pessoal no AT, mas basta-nos acrescentar aqui uma das muitas vezes em que Deus preservou a vida de Dav. Em 2 Samuel narra-se o golpe de estado de Absalo afim de destronar seu pai, Davi, e reinar em Israel. O golpe funcionou perfeitamente, e Davi teve de abandonar Jerusalm com uma guarnio militar formada por soldados e amigos fiis a ele. A pressa para sair da cidade fez com que eles acampassem s margens do rio Jordo em um estado de grande exausto fsica (2Sm 16.14). Absalo chegou a Jerusalm e assumiu o com ando da cidade e do pas, mas o seu plano no estava completo.Nesse contexto, a razo para Davi precisar de salvao foi um conselho militar extremamente bem dado por Aitofel no sentido de atacar Davi rapidamente (2Sm 17.1-2). Se Davi morresse nessa ocasio, seria mais um entre tantos lderes que tombaram diante da traio de pessoas prximas. Mas ele no morreu, e a causa de ter sido salvo foi a promessa de Deus de, antes que se cumprissem os seus dias, ele teria descanso de todos os teus inimigos e o prprio Senhor levantaria seu descendente para reinar (2Sm 7.11-12).A fonte da salvao, ainda que fique apenas subentendido, o prprio Deus em pessoa que, no uso da sua plena soberania, guiou os acontecimentos de modo a preservar seu servo. O meio pelo qual a salvao de Davi foi promovida passou pela fidelidade de um servo e pela atuao do Senhor conduzindo os coraes (2Sm 17.7-13). O resultado foi a preservao de Davi, a sua volta ao trono e a morte dos conspiradores Absalo e Aitofel (2Sm 17.23; 18.15).Esse tipo de salvao no preserva apenas pessoas, mas tambm naes. Assim, dentro da mesma categoria, est a salvao nacional.O Egito foi salvo da morte pela fome nos dias de Jos, e Nnive, capital da Assria, foi salva da morte punitiva de Deus nos dias do profeta Jonas. Entretanto, a nfase nacional do AT est sobre a nao de Israel, com quem Deus tem um relacionamento especial e para quem o Senhor tem planos para ela e por meio dela.Nesse sentido, um dos grandes momentos redentores do AT o livramento de Israel em conexo com o xodo. Nesse caso, claro que a libertao atinge as pessoas como indivduos. Entretanto, h mais que israelitas a serem salvos do domnio e do jugo egpcios. H uma nao a quem Deus quer usar, com quem quer ser fiel e por meio de quem ele quer trazer a suma redeno.A razo de Israel precisar dessa interveno de Deus o risco de no se estabelecer como uma nao soberana na terra que recebeu por promessa. A causa da libertao de Israel foi a promessa feita por Deus a Abrao (G n 15.13-14) A fonte da salvao foi o prprio Senhor (x 6.6 -8 ), que se utilizou da mediao de Moiss (x 6.10-11). O meio" utilizado para levar a cabo a salvao foi a demonstrao divina de poder ao lanar sobre o Egito dez pragas tremendamente destrutivas (x 7 12). Posteriormente, o mesmo poder abriu o mar diante dos israelitas e o fez voltar sobre o exrcito egpcio, dizimando-o (x 1 4 ) O resultado foia plena libertao dos israelitas (x 14.30), grande louvor a Deus (x 15.1-21) e o testemunho marcante da pessoa e do poder de Deus a Israel e s naes (x 14.31; 15.13-16; Js 2.9-11 )Esse um dos exemplos do conceito mais forte e ntido de salvao no AT, que no implica, necessariamente, salvao de pecados ou justificao, mas Deus salvando o seu povo da morte e da extino quer indivduos, quer a nao escolhida de Israel.Eugene Merrill mostra que essa atividade continuou a ser marcante depois da sada do Egito atravs de uma srie de atos miraculosos de Deus por meio dos quais ele redimiu, libertou e sustentou o seu povo ao destacada pelo profeta Isaas (Is 63.8-9).2. Salvao ritualUma grande dificuldade que os leitores do AT tm a de compreender a funo dos sacrifcios ordenados por Deus na lei de Moiss. A primeira impresso que, enquanto no NT os pecados so perdoados pela f em Cristo, no A T isso se dava por meio do sacrifcio de animais (Lv 4.20).Contudo, tal impresso contradita pelo que diz o autor de Hebreus: impossvel que o sangue de touros e de bodes remova pecados (Hb 10.4) Os profetas pareciam pensar do mesmo modo:Os profetas tinham pouca confiana no sacrifcio como meio de se livrar do pecado. Eles falavam primordialmente de arrependimento e perdo, como meio de remover o pecado (ls 1.11; Os 6.6 ; Am 5.23,24; Mq 6.8 ). Os profetas expressaram seu desapontamento com a falta de resposta do povo aos apelos ao arrependimento. J que impossvel ser perdoado de pecado por meio de sacrifcios de animais, a pergunta : Para que serviam tais sacrifcios Hebreus responde: O sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto purificao da carne (Hb 9.13). Assim, o objetivo de tais ritos no era perdoar a culpa do pecado ainda que preparassem o caminho da mensagem da salvao de pecados pelo sacrifcio de Cristo, o cordeiro pascal (IC o 5.7), ou o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29) mas retirar a impureza cerimonial. A meno do sangue que era aspergido tem relao com as ordens de Deus para a purificao dos israelitas (N m 19.19). Nesse caso, o que era aspergido sobre pessoas impuras para purific-las era a gua que havia recebido as cinzas de uma novilha vermelha, perfeita, sem defeito (Nm 19.3), e o animal era completamente queimado (N m 19.5). Basta agora saber o que fazia algum se tornar impuro. Segundo o texto, a pessoa ficava imunda ao tocar um corpo morto (Nm 19.11).E claro que, em termos gerais, tocar em um cadver no produz a corrupo do corpo daquele que o toca, com exceo dos casos em que doenas contagiosas podem ser transmitidas mesmo a partir de um cadver. Sendo assim, a impureza no era exatamente fsica, mas ritual, ou seja, tornava impura a relao cultual ou cerimonial dos israelitas para com Deus (Nm 19.13). Apesar de ser uma impureza ritual, a punio para ela era a morte (Nm 19.20).Para que isso no acontecesse, Deus proveu uma maneira de salvar os israelitas da impureza e das consequncias dela. A razo para tanto era a condenao mortal de se manter impuro no meio da nao santa que o Senhor separou (cf. x 19.5-6). A causa de a morte ser evitada era a promessa de Deus de, mediante o rito, reconhecer o estado de pureza cerimonial (Nm 19.12). A fonte da salvao era Deus, visto ser ele aquele que concedeu aos israelitas o meio de purificao (Nm 19.1). O meio, em si, era a morte de uma novilha, cujas cinzas eram misturadas com gua e aspergidas sobre o impuro. O resultado era a purificao ritual que permitia aos israelitas continuarem vivos, permanecer no meio do povo de Deus e poder cultuar o Senhor no tabernculo.Vrias coisas contribuam para o estado de impureza comer alimentos imundos (Lv 11), menstruar (Lv 15.25), a emisso de smen (Lv 22.4), a lepra18 (Lv 13 14 )o u dar filho luz (Lv 12.2).A diversidade de maneiras de se tornar impuro tinha paralelo na diversidade das purificaes, que podiam ser por asperso de gua misturada s cinzas de uma novilha queimada (Nm 19), pela lavagem do corpo e das vestes (Lv 11.40; 15.5-11; Nm 19.8), por meio do sangue e de certos artefatos ou iguarias (Lv 12.8; 14-5-6), por meio do fogo (Nm 31.22-23) e pelo aguardo de um tempo especfico para o cancelamento da impureza (Lv 11.24; Nm 19.11).Diante dessa exposio, no possvel ignorar o fato de que os sacrifcios e ritos afirmavam agir em funo de promover pureza de pecados, dando a impresso de que, alm de purificar as pessoas de modo ritual diante de Deus, promoviam salvao da condenao por causa dos pecados (Lv 16.16). Entretanto, o NT revela que os pecados cometidos antes de Cristo pelos homens que na lei de Moiss, foram justificados ficaram sem punio at que Deus os punisse em Cristo (Rm 3.24-25).Outra coisa que merece destaque que a purificao ritual era uma exigncia a Israel como um todo, de modo que era realizada mesmo por pessoas que desconheciam a salvao espiritual e que nunca poderiam entrar na lista de homens que, nos dias do AT, foram justificados por f (Hb 11).3. Salvao espiritualA princpio, a expresso salvao espiritual pode dar a entender que ela est limitada ao aspecto espiritual da pessoa. Mas seria um erro pensar assim. Na verdade, a expresso se aplica ao efeito pleno da salvao de pecados; aquele que cr recebe salvao por completo, tanto do corpo quanto da alma. Nesse sentido, ela se diferencia conceitualmente da preservao fsica e da purificao ritual e vai mais alm, com resultados que duraro pela eternidade.Esse assunto, apesar da importncia, no desenvolvido com clareza no AT, mas apenas esboado dentro da revelao progressiva.Eugene Merrill afirma:Nunca dito diretamente que o Senhor o Redentor do pecado.Esse um conceito do Novo Testamento que, embora tenha raiz em ideias teolgicas do Antigo Testamento, como sacrifcio e expiao, no pode ser legitimamente traado at a noo de redeno no Antigo Testamento.Isso, claro, no impediu que os servos de Deus do passado tivessem na f e na obra redentora do Messias seu meio de justificao.Contudo, a mensagem da salvao e seus desdobramentos eternos seriam incompletos caso tivssemos em mos apenas o AT.Tal viso nos leva a uma necessria anlise s vezes, luz do NT da colaborao do AT para a formao da doutrina em questo, alm da observao das caractersticas dos verdadeiros homens de Deus do passado.U m exemplo Davi. Mais que a maioria das pessoas do seu tempo, ele sabia o que era ser salvo por Deus no sentido de ser preservado da morte. Seus inimigos o queriam morto e acreditavam que Deus no impediria seu fim (SI 3.2).Em vista disso, Davi afirma sua esperana em Deus de ser poupado da morte (Sl 3.8) Quando seus inimigos estavam perto de dizer prevaleci contra ele (SI 13.4), Davi declara ao Senhor: Confio na tua graa; regozije-se o meu corao na tua salvao (SI 13.5). No salmo 18, que, conforme diz o ttulo, foi escrito no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mos de Saul, ele exalta o carter protetor de Deus (v. 2-3).Essa salvao temporal parece deixar de ser o enfoque principal da ideia de salvao quando Davi escreve o salmo 51. O contexto desse salmo o pecado de adultrio do rei com Bate-Seba, seguido da trama que levou o marido dela morte na frente de batalha (2Sm 11). Diante da repreenso por parte do profeta Nat (2Sm 12.1-15), Davi se arrepende e escreve o salmo. Junto ao pedido de perdo, o rei contrasta a salvao do Senhor no como algo contrrio morte, mas contrrio ao pecado, significando perdo e justificao. Quando pede por restituio, no pede por segurana, mas por uma conscincia limpa e tranquila , ou seja, paz com Deus (SI 51.12-14).Isaas parece exibir o mesmo conceito ao se referir sua funo proftica como anunciador da salvao divina e futura restaurao de Israel. Apesar de Isaas ter vivido em Jud (Reino do Sul) em tempos de ameaas militares vindas da Sria e de Israel (Reino do Norte), ao falar do seu ofcio proftico, associa a salvao que recebeu de Deus com a justia, pela qual o Senhor o envolveu, e com a converso futura das naes. Com isso, a salvao pensada por ele mais ampla que o livramento militar verdadeiramente promovido por Deus nos seus dias (Is 61.10-11).Ele faz a mesma associao outras vezes, introduzindo-as como bnos de natureza permanente e mundial, como em 51.5-8. Ao falar da aplicao da salvao a Israel, ele a qualifica como salvao eterna, cujo benefcio sentido em toda a eternidade (Is 45.17). Apesar de o texto seguinte demonstrar que a inteno de Deus fazer isso restaurando Israel terra que lhe deu, o carter permanente dessa atuao pressupe no s restaurao plena da posse da terra, como tambm a plena restaurao da comunho com Deus.Apesar de Isaas 61.10-11 ter sido usado por Cristo com referncia sua obra redentora (Lc 4 17-21) sendo assim reconhecido como profecia messinica , no contexto de Isaas tambm se aplica a ele como pregador da verdade. Jan Ridderbos diz sobre Isaas 61.10:O orador do versculo 1 tem estado em segundo plano desde o versculo 4, a fim de permitir uma elaborao do contedo desta mensagem redentora. Agora ele vem novamente para primeiro plano. Ele fala da sua alegria no Senhor, que acaba de ser descrita. Quando ele diz que foi vestido com vestes de salvao, e que a salvao lhe foi dada, e que, portanto, ele possuidor dela, em parte ele est relacionando-se com o que os versculos 1 -3 haviam dito dele como pregador, e desta forma portador daquela salvao.O processo de aplicao da salvao espiritual tambm um assunto observado no AT na forma da promessa da restaurao de Israel (Ez 36.25-27). Em primeiro lugar, a figura da asperso com gua para purificao, apesar de utilizar a linguagem concernente purificao ritual, aponta para o perdo dos pecados dos israelitas no contexto da sua futura converso de ordem nacional descrita pela ideia da troca de corao. Isso envolve a ideia da regenerao, ou seja, uma nova vida por meio da f, conceito esse que j estava presente desde a aliana feita entre Deus e Israel (Dt 10.16).A circunciso do corao uma mudana interior, nada menos que a regenerao. No sentido do chamado, podemos entender isso como a necessidade da converso de cada pessoa.Ser membro da comunidade visvel da aliana, em si, no bastava para garantir a devoo e a salvao. Era preciso uma experincia pessoal. Por isso, o Pentateuco vincula a circunciso do corao ao arrependimento. preciso que o corao incircunciso se humilhe na confisso de pecados (Lv 26.41) Diante desse fato, um novo relacionamento se dar em meio habitao corporal do Esprito Santo nos servos (Ez 36.27). Visto ser essa a realidade presente na igreja de Cristo (Ef 1.13), percebemos que a salvao nos dias do AT, apesar de ter na f a sua fonte (Hb 11), assim como nos dias do Novo, no era semelhante no sentido da habitao do Esprito.A mesma percepo se tem diante da promessa de Cristo sobre o envio do Consolador, mostrando ser isso um novo modo de Deus agir com seu povo (Jo 14-16,26; 15.26; 16.7), e pela orao de Davi para que no se retirasse dele o Esprito de Deus (Is 51.11).O fato que, no AT, a habitao do Esprito no tinha a funo de selo e penhor (Ef 1.13-14), mas de capacitao para determinadas tarefas, como ter habilidades para construir o tabernculo (x 31.1-5) e reinar sobre Israel (lS m 10.1-10). Tal habitao era temporria, durando enquanto cumprisse seu propsito.A vida eterna, resultado da salvao espiritual por meio da f, tambm um conceito nublado no AT. E certo que havia a noo da vida aps a morte. Entretanto, sobrepujava a ideia da morte como fim da vida, e no como incio de outra (Ec 9.10). Essa viso pessimista da morte surge tambm nas palavras de J (14.7-14).Esse modo pessimista de se referir morte pode simplesmente dever - se a uma forte expresso de desalento e pesar por causa do fim da vida. Entretanto, essa noo da morte como fim de tudo parece advir da compreenso que o homem do mundo antigo tinha da vida e da morte. Ralph Smith, tratando sobre o que a morte no AT, diz:Harmut Gese observou que a mente antiga no compartilhava nosso conceito biolgico de vida. Ns dividimos o mundo na esfera sem vida dos minerais e na esfera viva das plantas, animais e seres humanos. Para o Israel antigo, a vida estava mais viva que a nossa vida, e as coisas mortas estavam mais mortas que as nossas coisas mortas. Para eles, a vida era sempre integral e saudvel, e a pessoa muito doente j passara para o outro mundo, a esfera em que a morte atua. Por outro lado, alguns lampejos da ressurreio e da vida eterna j se notam na teologia do AT. Em primeiro lugar, Isaas aponta para a ressurreio de indivduos dos quais ele se inclui (Is 26.19). Daniel faz o mesmo e diz que a ressurreio levantar tanto justos como injustos. Entretanto, o destino deles diferente: punio para uns e vida eterna para outros (D n 12.2). Essa primeira meno da expresso vida eterna no AT, apesar de outros autores acolherem o conceito (SI 16.11; 1.7.15; 73.23-24) . 25Uma ltima dificuldade a ser mencionada o objeto da f no AT. No NT, o objeto da f o Senhor Jesus, Deus encarnado e redentor. Para corroborar ou elucidar essa verdade, h uma srie de textos (cf. Jo 3.16,36; 14.6; A t 4.12; Rm 10.9 etc.).No AT no vemos diretrizes to ntidas assim. Alis, sabemos claramente que a f foi o meio de justificao para os servos de Deus do AT por meio das declaraes do N T de que pela f, os antigos obtiveram bom testemunho (H b 11.2), Abel (v. 3), Enoque (v. 5), No (v. 7), Abrao (v. 8-10,17-19), Sara (v. 11-12), Isaque (v. 20), Jac (v. 21), Jos (v. 22), Moiss (v. 23-29) e outros (v. 32ss).Ainda que o NT faa tantas afirmaes das quais dependem a nossa compreenso do AT, uma declarao sobre Abrao, em Gnesis, especfica no sentido de ligar a justificao f. Quando o Senhor lhe garantiu uma descendncia numerosa por um meio humanamente impossvel, diz o texto: Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justia" (G n 15.6). A julgar pela descrio da f de Abrao, os santos do AT criam em Deus, o que os levava tambm a crer em suas promessas.Desse modo, a salvao tem seus alicerces bem fundamentados na literatura bblica antes de Jesus e dos apstolos. Esta serve de base direta ou indiretamente para a construo da soteriologia na era crist. Entretanto, no pode receber uma anlise simplista, ou sob a ptica do NT, sem que se analise cuidadosamente o contexto de cada uma dessas bases. Concluses precipitadas nessa rea certamente levaro a afirmaes como salvao pelo cumprimento da lei, ou at o universalismo que significa salvao para todos indiscriminadamente.

CAPTULO VESCATOLOGIAOs fundamentos da Escatologia VeterotestamentriaOs fundamentos da escatologia bblica se encontram nos escritos veterotestametrios, e para compreender os acontecimentos do fim faz-se necessrio compreender os principais temas escatolgicos do Antigo Testamento, a saber, a morte, ressurreio, Filho do Homem, o Reino de Deus, as Setenta Semanas de Daniel e o Dia do Senhor (Yom Yahweh).A morte e a ressurreio no Antigo Testamentoa. A morte, o sheol e a ressurreio1. A morteNas Escrituras do Antigo Testamento, a morte demonstra ser uma realidade incontestvel (Nm. 16.29; 2 Sm 14.14; 1 Rs 2.2; J 14.1,2; 16.22; 30.23; Sl 49.10; Ec. 9.5; Is 51.12).A raa humana a imagem e semelhana de Deus, mas diferente de Deus, pois os homens morrem.Sabe-se que a morte o oposto da vida, mas o que a morte? Como o Antigo Testamento a descreve? E como os personagens bblicos viam a morte?A morte o cessar da respirao, logo, o fim da vida fsica (J 34.14,15). Segundo Ralph Smith, no Antigo Testamento, a morte mais que a cessao da vida fsica, ela pode referir-se a qualquer coisa que ameaa ou enfraquece a vida ou a vitalidade, como o pecado, doena, escurido, gua, ou mar. Desta forma, a palavra morte empregada como metfora, poder oposto vida e morte fsica. As pessoas morrem independentemente de idade, raa ou status social, e as causas so as mais diversas (1 Sm 15.33; 31.4,8,9; 2 Sm 2.23; 18.9,14,15).2. O SheolEmbora o Antigo Testamento no apresente uma explicao sistemtica sobre o que acontece com o ser humano aps a morte, vrios textos deixam claro que aps a morte, o ser humano vai para o sheol, o lugar dos mortos.O significado do termo hebraico sheol complexo, sua origem etimolgica incerta e traduzido de diversas formas: tmulo, sepultura, inferno e abismo.No sheol havia pessoas boas e ruins, ricos e pobres, crianas e adultos, justos e mpios, logo, a morte nivela todos os homens.O sheol no era um lugar atrativo, contudo no se tornava um lugar desesperador para o justo, pois transmitia a idia de que a morte no era o fim absoluto da vida humana (J 24.19; Sl 9.17; 16.10;31.17; Is 66.24; Ez 32.23; Ml 4.1-3) e que Deus controlava o sheol (J 26.6; Sl 139.8; Am.9.2).3. A ressurreioA doutrina da ressurreio dos mortos fundamentada na f de que Deus controla a vida e a morte, 1 Sm 2.6. A vida e a morte esto nas mos de Deus.Uma f mais clara na ressurreio encontrada nos captulos 24-27 de Isaas, seo conhecida como apocalipse de Isaas. os vossos mortos e tambm o meu cadver vivero e ressuscitaro; despertai e exultai, os que habitais no p, Is 26.19.Embora alguns intrpretes preferissem entender este texto de forma metafrica, uma referncia restaurao de Israel, Is 26.19 aponta a futura ressurreio dos justos para vida eterna.Outro texto importante sobre a ressurreio no AT se encontra em Dn. 12.2: e muitos dos que dormem debaixo da terra, despertaro, este para a vida, aquele para o vituprio, para infmia eterna. Este texto descreve claramente a ressurreio eterna dos mortos para o julgamento final. Deus recebe o justo na glria, Sl. 73.23-28; Sl. 16.10. II. O Filho do Homem no Antigo TestamentoO significado da expresso Filho do Homem no Antigo Testamento.A expresso filho do homem ocorre cerca de 108 vezes no Antigo Testamento (Nm 23.19; J.16.21; Sl 8.4-5; Is 51.12; Ez 13.2; 14.3; 15.2; 16.2; 17.2; Dn 8.17; 10.16).O profeta Ezequiel chamado de filho do homem 93 vezes. Esta expresso, geralmente, se refere a um ser humano em contraste ao ser divino. O significado de filho do homem em Daniel 7.Em Daniel 7.13, a expresso filho do homem utilizada num sentido diferenciado, referindo ao Messias.Neste texto especfico, filho do homem contrastado com 4 grandes monstros que representam 4 reinos humanos, logo, o filho do homem o representante do quinto reino.Daniel 7.14 descreve o domnio, glria e reino eterno sendo dados ao filho do homem. O Filho do homem apresentado como rei soberano sobre os reinos humanos, subjugando todos os povos e reafirmando a eternidade de seu domnio, glria e reino, pois jamais ser destrudo. Os santos recebero o reino e possuiro para todo sempre, de eternidade em eternidade (Dn. 7.18), assim, os justos reinaro com Cristo.O Reino de Deus no Antigo Testamentoa. O Reino de Deus presenteA expresso reino de Deus no aparece no Antigo Testamento, no entanto, o pensamento de que Deus o Rei soberano est claramente presente nos escritos veterotestamentrios.Deus apresentado como Rei de Israel (Dt 33.5; Sl 84.3; 145.1; Is 43.15;) e Rei sobre todos os povos (Sl 29.10; 47.2; 96.10; 97.1; 103.19; Is 6.5; Jr 46.18).Os orculos de julgamentos e as execues de juzo sobre as naes pags comprovam que Deus exigia justia de todos que estavam sob seu governo, e no apenas de Israel.b. O Reino de Deus escatolgicoAlm da idia de um Reino de Deus presente, em que tanto Israel como os povos so julgados, o Antigo Testamento desenvolve tambm a idia de um Reino de Deus escatolgico.Daniel 2 descreve um Reino que um dia levantaria e jamais seria destrudo. Este reino sucumbir todos os reinos humanos e permanecer para todo sempre (v.44-45).As setenta semanas de Daniel Dn. 9.20-27a. A discusso em torno das setenta semanas de DanielH duas abordagens bsicas quanto ao entendimento das semanas: H abordagem simblica e a literal.Na primeira, os setenta anos de punio (Dn 9.2) foram multiplicados por sete vezes com as maldies da aliana (Lv 26.18,21,24,28).A abordagem literal se subdivide em trs correntes interpretativas:A primeira defende o cumprimento desta profecia no perodo inter-bblico, mas precisamente, na poca de Antoco IV (175 A.C).A segunda defende o cumprimento de todas estas semanas at o primeiro advento do Messias. Outros entendem que todos os aspectos desta profecia ainda no foram cumpridos e que seu cumprimento final se dar no segundo advento do Messias.b. O significado das setenta semanas de DanielAs setenta semanas de Daniel possuem importncia significativa para a escatologia, e uma das profecias mais discutidas no Antigo Testamento e foco de muitas controvrsias.As setenta semanas so divididas em trs partes: Um perodo de sete semanas (49 anos, Dn. 9.25), um segundo perodo de sessenta e duas semanas (434 anos, Dn. 9.25-26), e uma ltima semana (7 anos, Dn 9.26-27), a mais cruel e temvel de todas, que resulta na destruio do perseguidor e libertao final do povo de Deus. No existe acordo entre os interpretes se estes perodos so sequenciais ou se h intervalos entre eles.c. O cumprimento das setenta semanasO primeiro perodo de sete semanas pode ser uma referncia concluso bem sucedida da reconstruo de Jerusalm. A cidade foi reconstruda durante este perodo, sob oposio nos tempos angustiosos conforme predito em Dn. 9.25 e confirmado em Ne. 4.18.O segundo perodo de sessenta e duas semanas estende-se desde a concluso da reconstruo de Jerusalm at o incio do ministrio de Cristo. Outros acreditam que as sessenta e duas semanas seriam o tempo durante o qual a cidade de Jerusalm seria reconstruda (538 a.C) e quando foi destruda pelos romanos (70 d.C).Quanto ao significado da ltima semana (Dn 9.26-27), no existe acordo entre os estudiosos.Basicamente, existem duas posies.Existem aqueles que defendem que a expresso depois das sessenta e duas semanas, ser morto o ungido a descrio da septuagsima semana e uma referncia a crucificao de Cristo.Para estes a expresso far firme aliana significa que Cristo executaria seu ministrio pblico e obra redentiva.Outros defendem um intervalo entre a sexagsima nona e a septuagsima semana, e este parntese abrange toda a era da igreja at o arrebatamento, portanto, segundo esta interpretao, a septuagsima semana ter seu cumprimento no segundo advento do Messias. Portanto, para os defensores desta interpretao, o prncipe descrito em Dn 9.25 o anticristo que far aliana com o povo judeu durante o perodo de sete anos de tribulao.d. Os resultados das setenta semanasAs setenta semanas teriam os seguintes resultados:Fazer cessar a transgresso, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justia eterna, para selar a viso e a profecia e para ungir o Santo dos Santos, Dn 9.24.As setenta semanas testemunhariam o final da transgresso (Dn. 9.24) e o trmino dessa transgresso para alguns intrpretes ocorre no ministrio de Cristo, quando Israel culmina sua resistncia a Deus ao rejeitar o Messias, o Filho de Deus. Em seguida, os pecados seriam selados, ou seja, reservados para punio, e como castigo, aconteceria a destruio final do templo ocorrido em 70 d.C (Mt 24.2,34).A expiao dos pecados foi realizada, uma vez por todas, por Cristo na sua morte, e como resultado disto, a justia eterna foi efetuada. Diante disso, a profecia foi selada, ou seja, cumprida, uma vez que selar um documento pode incluir fech-lo e autentic-lo, testificando a veracidade da viso e da profecia. Cristo entrou no Santo dos Santos e consumou toda a obra de redeno.Outra proposta de interpretao destes resultados seria entend-los no como uma realizao objetiva mas como uma aplicao subjetiva, logo, teria cumprimento final no segundo advento do Messias.O dia do Senhor no Antigo Testamentoa. O significado do dia do SenhorO dia do Senhor uma frase muito comum nos escritos profticos do Antigo Testamento.De forma geral, o dia do Senhor era uma referncia ao dia em que Deus subjugaria os inimigos e salvaria Israel, o seu povo eleito. Portanto, o dia do Senhor era um dia de juzo, mas tambm de salvao.b. O dia do Senhor nos escritos profticosOs israelitas acreditavam que era esse o dia em que Deus se ergueria para julgar todos os seus inimigos e salvar Israel de forma espetacular, mas, o profeta Ams utilizou esta frase como smbolo do juzo iminente de Deus sobre Israel, Am 5.18. Sofonias reconhecia o dia do Senhor como julgamento universal, abrangendo todas as naes, Sf. 1.14-18.

Joel e Isaas falam do dia do Senhor como um dia de trevas e escurido, contudo, o juzo seguido de uma nova glria e nova luz, Jl 2.2, 28,32; Is 24.21-23.Em Daniel, o juzo universal de Deus introduz a chegada do reino dos santos do Altssimo, Dn. 7.10-28. O pensamento de um juzo universal das naes introduz a promessa da inaugurao do reino perene dos santos do Altssimo.c. O dia do Senhor: juzo e salvao, iminente e escatolgicoO dia do Senhor o dia em que todos os povos reconheceriam a supremacia e o senhorio do Deus de Israel sobre o universo.Seria um dia de juzo sobre as naes inimigas e o triunfo dos remanescentes fiis israelitas.O tema dia do Senhor possui tanto um cumprimento imediato como escatolgico no Antigo Testamento.Ao mesmo tempo que o profeta anunciava o juzo e salvao iminentes, tambm prenunciava o grande e terrvel dia do Senhor, o juzo final escatolgico. por que o dia do Senhor est prestes a vir sobre todas as naes mas no monte Sio haver livramento e o reino ser o Senhor. Ob. 15,17,21.O livro de Obadias descreve o juzo de Deus sobre Edom e a salvao de Israel, mas este juzo e salvao so apenas amostras do juzo e salvao plenas que estava por vir.Enfim, a morte uma realidade para a humanidade, contudo, no devemos tem-la. Cristo venceu a morte e a ressurreio de Cristo a garantia da nossa ressurreio.Os crentes do Antigo Testamento acreditavam na ressurreio e na vinda do Reino de Deus, e esta expectativa estava relacionada com o advento do Messias, o Filho do homem.O Reino de Deus foi o tema central da pregao de Joo Batista, Jesus e dos apstolos. Cristo anunciou a chegada do Reino de Deus, no entanto, a consumao final um aspecto vindouro, logo, j desfrutamos das bnos do Reino de Deus no presente, mas no porvir ser de forma plena.

BIBLIOGRAFIATeologia do Antigo Testamento; Ralph L. Smith- Edies Vida Nova.Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento; Thomas Tronco- Mundo Cristo.Apostila de Teologia do AT; Josias Moura.Teologia do Antigo Testamento; Eugene H.Merril- Edies Vida Nova.O Homem em trs tempos; Tcito Gama Leite- CPAD.