Teoria LiteráRia Ensino MéDio

35
ENSINO MÉDIO – AULA 1: TEORIA LITERÁRIA PROFª: FABÍOLA ARAÚJO NOÇÕES BÁSICAS: O QUE É LITERATURA? “Arte literária é mimese(imitação); é a arte que imita pela palavra.” (Aristóteles,séc.IV a.c.) Assim: •Literatura como imitação da realidade; •Manifestação artística; •A palavra como matéria-prima; •Manifestação da expressividade humana.

description

Pesquisando sobre teoria literária para discutir com os alunos do ensino Médio encontrei esse trabalho da professora Fabíola Araujo. Parabéns, professora.

Transcript of Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Page 1: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

ENSINO MÉDIO – AULA 1: TEORIA LITERÁRIA

PROFª: FABÍOLA ARAÚJO

NOÇÕES BÁSICAS:

O QUE É LITERATURA?

“Arte literária é mimese(imitação); é a arte que imita pela palavra.” (Aristóteles,séc.IV a.c.) 

Assim:

•Literatura como imitação da realidade;

•Manifestação artística;

•A palavra como matéria-prima;

•Manifestação da expressividade humana.

Page 2: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

FUNÇÕES DA LITERATURA:

•Função evasiva – fuga da realidade;

•Função lúdica – jogo de experiências sonoras e de relações surpreendentes;

Ex. A ONDA (Manuel Bandeira) 

A onda anda

Aonde anda

A onda?

A onda ainda

Ainda onda

Ainda anda

Aonde?

Aonde?

A onda a onda

Page 3: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Função de “Arte pela arte” – descompromissada das lutas sociais (Parnasianismo)

•Função de literatura “engajada” – comprometida com a defesa de certas idéias políticas.

Ex. NÃO HÁ VAGAS (Ferreira Gullar)

O preço do feijão

Não cabe no poema. O preço

Do arroz

Não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

A luz o telefone

A sonegação

Do leite

Da carne

Page 4: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Do açúcar

Do pão

 

O funcionário público

Não cabe no poema

Com seu salário de fome

Sua vida fechada

Em arquivos.

Como não cabe no poema

O operário

Que esmerila seu dia de aço

E carvão

Nas oficinas escuras

-         porque o poema, senhores

está fechado: “Não há vagas”

Page 5: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Só cabem no poema

O homem sem estômago

A mulher de nuvens

A furta sem preço

 

O poema, senhores,

Não fede

Nem cheira.

(Antologia Poética)

 

 

Page 6: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Nosso interesse está na literatura dita “canonizada” – conj. de obras escritas e aceitas como artisticamente valiosas e representativas de nossa herança cultural.

Ex. “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Vidas secas”, de Graciliano Ramos; “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, dentre outras.

 

LITERATURA É A ARTE DA LINGUAGEM ESCRITA, QUE EXPLORA TODAS AS POTENCIALIDADES DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO E É CAPAZ DE TRANSPOR LIMITES DE TEMPO E ESPAÇO.

 

Page 7: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

DIFERENÇAS ENTRE UM TEXTO LITERÁRIO E UM NÃO-LITERÁRIO:

 

Texto Literário:

 

        ênfase na expressão;

        linguagem conotativa;

        linguagem mais pessoal, emotiva;

        recriação da realidade;

        ambigüidade – recurso criativo.

Page 8: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Texto não-literário:

 

•ênfase no conteúdo;

•linguagem denotativa;

•linguagem mais impessoal;

•realidade apenas traduzida;

•Normalmente sem ambigüidade ou duplas interpretações.

Page 9: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Texto 1:

 

“Uma nuvem colossal em forma de cogumelo sobre a cidade japonesa de Hiroxima assinala a morte de 80 mil de seus habitantes – vítimas do primeiro ataque nuclear do mundo, em 6 de agosto de 1945. O lançamento da bomba, uma das duas únicas do arsenal americano, foi feito para forçar os japoneses à rendição. Como não houve resposta imediata, os americanos lançaram outro “artefato” remanescente sobre Nagasaqui e os russos empreenderam a prometida invasão à Manchúria. Uma semana depois, o governo japonês concordou com os termos da rendição e a capitulação formal foi assinada em 2 de setembro.” (“A sombra dos ditadores”, História dos ditadores, 1993, p.88)

 

Page 10: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Texto 2

A ROSA DE HIROXIMA

(Vinícius de Moraes) 

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

como rosas cálidas

 

Page 11: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

mas oh não se esqueçam

Da rosa, da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada.

Page 12: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Quanto à disposição gráfica, um texto literário pode ser:

Prosa: em linhas “corridas”.

Poesia (verso): a cada linha dá-se o nome de verso e ao conjunto deles, estrofe.

 

Estilo individual: é o estilo único de determinado escritor, ou seja, sua visão única e modo próprio de criação literária.

 

Estilo de época: características comuns em obras de autores diferentes,mas contemporâneos. Ex. embora Bernardo Guimarães e José de Alencar tenham estilos diferentes, ambos pertencem ao Romantismo.

Page 13: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Escolas literárias: (ou estilos de época)

•Quinhentismo – (1500 – 1601)

•Barroco – (1601 – 1768)

•Arcadismo – (1768 – 1836)

•Romantismo – (1836 – 1881)

•Realismo/Naturalismo/Parnasianismo – ( 1881 – 1922)

•Simbolismo – (1893 – 1922)

•Pré-modernismo – (1902 – 1922)

•1ª ger. Modernista – (1922 – 1930)

•2ª ger. Modernista – (1930 – 1945)

•3ª ger. Modernista – (1945 – 1960)

•Literatura contemporânea – (1960 – até nossos dias)

Page 14: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

GÊNEROS LITERÁRIOS:

 

Conjuntos de elementos semânticos, estilísticos e formais utilizados pelos autores em suas obras, para caracteriza-las de acordo com a sua visão da realidade e o público a que se destinam.

 

Lírico: sentimental, poético.

Épico: narrativo.

Dramático: teatro.

 

Page 15: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

AULA 2 – TEORIA LTERÁRIA 

Profª: Fabíola Araújo

 

GÊNERO LÍRICO: é a manifestação literária em que predominam os aspectos subjetivos do autor. É, em geral, a maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um interlocutor particular (amigo, amante, fantasia, elemento da natureza, Deus...)

 

Não confundir “eu-lírico” com o autor. O “eu-lírico” ou “eu-poético” é uma espécie de personalidade poética criada pelo autor que dá vazão a sensações e/ou impressões.

Page 16: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

ELEMENTOS DA VERSIFICAÇÃO: Elementos técnicos que auxiliam a leitura, a interpretação e a análise de textos poéticos.

1. Verso e Estrofe:

Cada linha = verso Conjunto de versos = estrofe

Page 17: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Classificação das estrofes:

•Dísticos = 2 versos

Ex. Canção do exílio (José Paulo Paes) 

Um dia segui viagem

Sem olhar sobre o meu ombro

 

Não vi terras de passagem

Não vi glórias nem escombros.

 

Guardei no fundo da mala

Um raminho de alecrim.

 

(...)

Page 18: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Tercetos = estrofes com 3 versos

Ex. Os Lírios (Henriqueta Lisboa)

 

Certa madrugada fria

Irei de cabelos soltos

Ver como nascem os lírios.

 

Quero saber como crescem

Simples e belos – perfeitos! –

Ao abandono dos campos.

(...)

Page 19: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Quartetos = 4 versos

Ex. Infinito presente (Helena Kolody)

No movimento veloz

De nossa viagem,

Embala-nos a ilusão

Da fuga do tempo.

 

Poeira esparsa no vento,

Apenas passamos nós.

O tempo é mar que se alarga

Num infinito presente.

Page 20: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Oitavas = 8 versos

Ex. Os Lusíadas (Canto primeiro) - Camões

 

As armas e os barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca dantes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo reino, que tanto sublimaram.

 

Page 21: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Décimas = 10 versos

Ex. As duas ilhas (Castro Alves) 

São eles – os dois gigantes

No século de pigmeus.

São eles que a majestade

Arrancam da mão de Deus.

-         Este concentra na fronte

Mais astros – que o horizonte

Mais luz – do que o sol lançou!...

-         Aquele – na destra alçada

Traz segura sua espada

-         Cometa, que ao céu roubou!...

Page 22: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Soneto: composição poética de 14 versos = 2 quartetos e 2 tercetos

 

Ex. Soneto de Fidelidade (Vinícius de Moraes)

 

Page 23: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

1. Rimas: coincidência de sons (total ou parcial) entre palavras no final ou no meio dos versos.

Classificação das rimas:

• Quanto à categoria gramatical:

 

POBRES: as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical.

 

Exemplo: ........................situado (adjetivo)

........................cresce (verbo)

........................parece (verbo)

........................quebrado (adjetivo)

Page 24: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

RICAS: as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais distintas.

 

Exemplo: .....................arde (verbo)

.....................distante (advérbio)

.....................diamante (substantivo)

.....................tarde (substantivo)

Page 25: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

•Quanto à disposição ao longo do poema:

 

ALTERNADAS ou CRUZADAS:

 

Incendeia A

Coração B

Passeia A

Canção B

Page 26: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

PARALELAS ou EMPARELHADAS

 

Aniquilar A

Olhar A

Montanhas B

Entranhas B

Page 27: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

INTERPOLADAS ou OPOSTAS

 

Espelho A

Disfarce

Disfarçar-se

Conselho? A

 

Versos brancos são os que não apresentam rima.

 

Page 28: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

1. Métrica: É o número de sílabas poéticas do verso. 

Na contagem das sílabas métricas (escansão), observam-se, geralmente, as seguintes normas:

• A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo;

• Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última palavra;

• Acomodar as sílabas seguindo a entonação. Elisão = supressão de sons ou a sinalefa = acomodação de vários sons a uma única sílaba métrica).

• Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica;

• Normalmente, quando uma palavra termina em vogal e a outra começa por vogal, unem-se esses fonemas numa única sílaba métrica.

Page 29: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Exemplos:

 

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

 

Ou – vi – ram – do – I – pi – ran – ga – as – mar – gens – plá – ci – das = 14 sílabas gramaticais

 

Ou – vi – ram – doI – pi – ran – gaAs – mar – gens – plá = 10 sílabas poéticas

Page 30: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

De um povo heróico o brado retumbante

 

De – um – po – vo – he – rói – co – o - bra – do – re – tum – ban – te = 14 sil. gramaticais

 

Deum – po – vohe – rói – coo- bra – do – re – tum – ban = 10 sil. Poéticas

 

Tais versos são “decassilábicos” = 10 versos

Page 31: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Pentassílabos ou redondilha menor (5 sílabas)

 

E agora, José?

A festa acabou,

A luz apagou,

O povo sumiu.

(...)

Page 32: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Heptassílabos ou redondilha maior (7 sílabas)

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência

(...)

 

Eneassílabos = 9 sílabas

 

Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

(...)

Page 33: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas

 

Olhai! O sol descamba...A tarde harmoniosa

Envolve luminosa a Grécia em frouxo véu,

Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento,

De um marco poeirento um velho então se ergueu.

Page 34: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

Versos livres são os que não apresentam métrica regular.

 

Ritmo: a musicalidade implícita ou explícita no poema.

A Banda (Chico Buarque)

Estava à toa na vida,

O meu amor me chamou,

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor. (...)

Page 35: Teoria LiteráRia Ensino MéDio

 

GÊNERO DRAMÁTICO: textos para serem representados no palco.

• Tragédia: fato trágico que provoca reação de medo ou compaixão. Ex. “Édipo Rei”, de Sófocles.

• Comédia: satirização dos costumes sociais. Ex. “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade.

• Drama: envolve a tragédia e a comédia. Ex. “Eles não usam black-tie”, de G. Guarnieri.

• Farsa: pequena peça que critica a sociedade e seus costumes. Ex. A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente.

• Auto: peça breve, de tema religioso ou profano, de aspecto moralista. Ex. Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente.