Terapia Familiar Breve

93
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Piszezman, Maria Luiza R. Meijome Terapia familiar breve : uma nova abordagem terapêutica em instituições / Maria Luiza R. Meijome Piszezman. São Paulo : Casa do Psicólogo, 1999. Bibliografia. ISBN 85 - 7396- 1. Família - Aspectos psicológicos 2. Psicoterapia de família I. Título. CDD-616.89156 99-3024 NLM-WM 430 índices para catálogo sistemático: 1. Família : Técnicas de psicoterapia 616.89156 2. Terapia familiar breve 616.89156 Editor Anna Elisa de Villemor Amaral Günthrt Editor-assistente Sergio Poato Revisão Sandra Rodrigues Garcia Capa Yvoty Macambira Diagramação e composição Arte Graphic MARIA LUIZA R. MEIJOME PISZEZMAN TERAPIA FAMILIAR BREVE UMA NOVA ABORDAGEM TERAPÊUTICA EM INSTITUIÇÕES Casa do Psicólogo® Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Piszezman, Maria Luiza R. Meijome Terapia familiar breve : uma nova abordagem terapêutica em instituições / Maria Luiza R. Meijome Piszezman. São Paulo : Casa do Psicólogo, 1999. Bibliografia. ISBN 85 - 7396- 1. Família - Aspectos psicológicos 2. Psicoterapia de família I. Título. CDD-616.89156 99-3024 NLM-WM 430 índices para catálogo sistemático: 1. Família : Técnicas de psicoterapia 616.89156 2. Terapia familiar breve 616.89156 Editor Anna Elisa de Villemor Amaral Güntert Editor-assistente Sergio Poato RevisAo Sandra Rodrigues Garcia Capa Yvoty Macambira DlAGRAMAÇÃO e COMPOSIÇÃO Arte Graphic MARIA LUIZA R. MEIJOME PISZEZMAN TERAPIA FAMILIAR BREVE UMA NOVA ABORDAGEM TERAPÊUTICA EM INSTITUIÇÕES

description

familia

Transcript of Terapia Familiar Breve

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Piszezman, Maria Luiza R. Meijome

    Terapia familiar breve : uma nova abordagem teraputica em instituies / Maria Luiza R. Meijome Piszezman. So Paulo : Casa do Psiclogo, 1999. Bibliografia. ISBN 85 - 7396-

    1. Famlia - Aspectos psicolgicos 2. Psicoterapia de famlia I. Ttulo.

    CDD-616.89156 99-3024 NLM-WM 430

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Famlia : Tcnicas de psicoterapia 616.89156

    2. Terapia familiar breve 616.89156

    Editor

    Anna Elisa de Villemor Amaral Gnthrt

    Editor-assistente Sergio Poato

    Reviso Sandra Rodrigues Garcia

    Capa Yvoty Macambira

    Diagramao e composio Arte Graphic

    MARIA LUIZA R. MEIJOME

    PISZEZMAN

    TERAPIA FAMILIAR BREVE

    UMA NOVA ABORDAGEM TERAPUTICA EM INSTITUIES

    Casa do Psiclogo

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Piszezman, Maria Luiza R. Meijome

    Terapia familiar breve : uma nova abordagem teraputica em instituies / Maria Luiza R. Meijome Piszezman. So Paulo : Casa do Psiclogo, 1999. Bibliografia. ISBN 85 - 7396-

    1. Famlia - Aspectos psicolgicos 2. Psicoterapia de famlia I. Ttulo.

    CDD-616.89156 99-3024 NLM-WM 430

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Famlia : Tcnicas de psicoterapia 616.89156

    2. Terapia familiar breve 616.89156

    Editor

    Anna Elisa de Villemor Amaral Gntert

    Editor-assistente Sergio Poato

    RevisAo Sandra Rodrigues Garcia

    Capa Yvoty Macambira

    DlAGRAMAO e COMPOSIO

    Arte Graphic

    MARIA LUIZA R. MEIJOME PISZEZMAN

    TERAPIA FAMILIAR BREVE

    UMA NOVA ABORDAGEM TERAPUTICA EM INSTITUIES

  • Casa do Psiclogo'

    Todos os direitos de publicao em lngua portuguesa reservados Casa do Psiclogo Livraria e Editora Ltda. Proibida a reproduo de qualquer parte desta obra sem

    autorizao por escrito do Editor.

    Casa do Psiclogo Livraria e Editora Ltda.

    Rua Alves Guimares, 436 - Pinheiros 05410-000 So Paulo SP Tel.: (011) 852-4633/fax: (011) 3064-5392

    e-mail: [email protected] home-page: http://www.casapsicologo.com.br

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Aos meus pais Raul e Virtude, pelo grande amor e dedicao que tiveram ao introduzir-me em seu prprio mundo.

    Ao Isaac, homem muito especial com quem tenho o privilgio de construir uma nova vida.

    Aos meus filhos Laila e Wolf, que com sua existncia iluminaram o meu caminho.

    Agradecimentos

    Aos meus colegas do Instituto de Psicologia Aplicada Senador Flquer, Santo Andr, pelo apoio a este trabalho,

    Aos estagirios de ICP perodo, em especial aos do ano de 1995, pela dedicao e empenho devotados s famlias e pela ateno a mim dedicada.

    s famlias que, anonimamente, participaram do trabalho.

    Professora Doutora Rosa Maria S. de Macedo, mo amiga, afvel e segura, que me orientou.

    s amigas Cludia Beatriz Bruscagin, Nizha Francis Soriano, Clara Brochztaim e Rosa Eugnia de Freitas Pinto, pelo incentivo e encorajamento.

    Ao professor e amigo Jos Aranha Filho, que cuidou dos aspectos formais do texto, dando-me a confiana de que este seria em breve uma realizao.

    Aos meus irmos Alberto, Carlos e Eliete e cunhados Antnio Carlos, Nice e Ldia, pelo apoio e incentivo.

    minha sogra, Gitla, pela confiana e apoio ao meu trabalho.

    Ao meu sogro Zelman (em memria) que sempre admirou meu trabalho,

    s minhas sobrinhas Natalia, Mariana, Giovana e Daniele, que com sua presena e carinho me transmitiram muito conforto.

    Aos meus alunos e pacientes, com quem tenho o prazer de compartilhar os muitos momentos, em que sempre aprendo e creso.

    Lucileine que muito mais que uma secretria uma amiga que me ajuda a contornar muitas dificuldades que aparecem em nosso dia-a-dia.

    A todos, muita gratido.

    NDICE

    APRESENTAO:..............................................................13

    INTRODUO:....................................................................15

    CAPTULO I:

    PRESSUPOSTOS TERICOS...........................................21

    1. HISTRICO.......................................................................21

    2. ABORDAGEM ESTRATGICA.......................................25

    3. ABORDAGEM ESTRUTURAL........................................28

    4. CONCEITOS TERICOS BSICOS...............................31

    4.1. A Teoria da Comunicao...........................................31

    4.2. O Conceito de Disfuno.............................................34

    4.2.1. O ciclo de desenvolvimento familiar................35

  • 4.2.2. Funo e disfuno............................................36

    4.3. A Formao do Sintoma..............................................41

    4.4. A Funo do Dignstico..............................................43

    4.5. Como Ocorre a Mudana............................................46

    4.6. Como Pensado o Papel do Terapeuta.......................47

    5. QUADRO COMPARATIVO..............................................52

    CAPTULO H:

    PROCEDIMENTOS TCNICOS.......................................55

    1. TCNICAS.........................................................................56

    2. SUPERVISO....................................................................64

    CAPTULO III: A PREPARAO PARA O ATENDIMENTO..................................................................69

    1. A INSTITUIO................................................................69

    2. COMPOSIO DO SISTEMA TERAPUTICO............71

    3. AS BASES DO ATENDIMENTO......................................73

    3.1. Co-terapia....................................................................73

    3.2. Tarefa...........................................................................75

    3.3. Mapa Estrutural..........................................................76

    3.4. Genograma..................................................................77

    4. A ATUAO DAS EQUIPES TERAPUTICAS............78

    5. AS AES DA SUPERVISO........................................79

    5.1. Preparao dos Terapeutas........................................79

    5.2. Avaliao do Trabalho Realizado..............................80

    CAPTULO IV: DESCRIO E ANLISE DE FAMLIAS ATENDIDAS.....................................................81

    01. Famlia na 01: "Cardoso".................................................84

    02. Famlia n2 02: "Miranda"...............................................125

    03. Famlia na 03: "Rondon"................................................156

    CONCLUSO......................................................207

    BIBLIOGRAFIA................................................................213

    APRESENTAO

    Este livro apresenta o resultado de uma empreitada muito bem-sucedida, tanto na rea do ensino da Psicologia, como na rea da Terapia Familiar.

    Partindo da necessidade de ampliao das prticas psicote-rpicas na formao do psiclogo, a autora, especialista em Terapia Familiar pelo Programa de Psicologia Clnica

    da PUC-SP, constri um modelo de atendimento psicoteraputico s famlias na Clnica-Escola do Curso de Psicologia da PUC-SP.

    Esse modelo, como mostra o livro, em detalhes e de maneira muito bem fundamentada, ajusta os princpios da Terapia Breve Terapia Familiar, segundo os cnones da

    Teoria Sistmica, tendo como finalidade o atendimento da demanda das famlias (de baixa renda) que buscavam a Clnica-Escola para solues dos problemas com seus

    filhos.

    A necessidade desse modelo, que fornece um roteiro seguro para o trabalho psicoteraputico supervisionado, deve-se ao fato de que a Terapia Familiar tarefa complexa e os

    alunos, no ltimo ano de Psicologia, s teriam condio de realiz-la com . respaldo terico e tcnico muito bem definido em todos os seus passos.

  • Esse o grande mrito da autora: ela conseguiu organizar uma srie de conceitos congruentes e consistentes, que tornam acessvel ao psiclogo principiante a compreenso

    do funciona- Pro" mento familiar, dentro de uma viso Sistmica, inter-relacional, 'no.' de causalidade circular que desfaz a viso de "bode expiatrio", ' Pn~

    "causas", do problema da famlia. Ao contrrio, pela articulao dos conceitos apresentados com as tcnicas adequadas e a super- Paci-viso competente do terapeuta mais

    experiente, a famlia vai am- t0 pliando sua viso do "problema", percebendo as implicaes mtuas de todos os membros que so parte do sistema, e, livre da busca de

    culpados, torna-se capaz de encontrar novas alternativas para resolver suas dificuldades, seus impasses.

    A autora apresenta um esquema simplificado ao alcance do terapeuta iniciante; no se trata, no entanto, de um esquema simplista, superficial e insuficiente para atingir as

    mudanas passveis de favorecer as solues buscadas pelas famlias.

    Por essa razo, considero este livro de extrema utilidade para professores e alunos dos cursos de Psicologia, bem como para todos os profissionais interessados em Terapia

    Familiar, alm de ser tambm muito indicado para o trabalho com famlias em instituies tanto de sade, como educacionais e de justia, entre outras, pela eficincia,

    eficcia e rapidez com que produz seus efeitos benficos.

    Profa. Dra. Rosa Maria S. Macedo

    Coordenadora do Ncleo de Famlia e Comunidade Programa de Psicologia Clnica da PUC-SP.

    INTRODUO

    "H uma tendncia das coisas vivas a se unirem, a estabelecerem vnculos, a viverem umas dentro das outras, a retornarem a arranjos anteriores, a coexistirem enquanto

    possvel. Este o caminho do mundo."

    Lewis Thomas

    Da ateno dedicada demanda da comunidade pelos servios prestados pelas diversas instituies no campo da sade mental; da busca de clareza e definio dos servios

    oferecidos; do anseio pela melhoria da qualidade desses servios e da necessidade de encontrar alternativas de atendimento que resultassem no melhor aproveitamento do

    tempo e do empenho das equipes teraputicas dessas instituies traduzidos em resultados positivos e duradouros, obtidos de maneira rpida e eficaz, resultaram na

    experincia que nos propomos descrever nas pginas que se seguem.

    O contedo central dessa experincia repousa na maneira de atender famlias. Trata-se de um modelo simplificado de terapia familiar que facilita tanto a assimilao do

    embasamento terico-tcnico quanto sua aplicao e que apresenta resultados cuja abrangncia, no tempo e no espao, considervel, uma vez que evita a cristalizao de

    comportamentos motivada por diagnsticos mais fechados.

    Alm disso, oferece famlia do paciente "portador de problema" a oportunidade de conhecer seu prprio funcionamento. Em vez de ficar fora do tratamento, este torna-se o

    elemento primordial na eliminao do sintoma.

    A Terapia Familiar Breve trabalha com o conceito de Paciente Identificado (P.I.), segundo o qual, o sintoma produto de uma falha de interao no interior da prpria

    famlia.

    16

    Este modelo de atendimento familiar e breve, l familiar: seu objetivo provocar mudanas positivas na maneira como a famlia interage de forma a eliminar o sintoma,

    ou seja, aquilo que a famlia julga ser o problema. Busca, portan-lo, na prpria famlia, os recursos para lidar com o sintoma.

    breve: no momento em que a equipe teraputica, bem como a famlia, tm, conjuntamente, a percepo de que o sintoma foi eliminado ou significativamente minimizado e

    que a famlia evoluiu a ponto de resolver, por si mesma, seus prprios problemas, a terapia est terminada.

    Um investimento na preparao das equipes teraputicas, geralmente multidisciplinares, que compem as instituies, seria muito vantajoso, no s para as comunidades

    como para as

    prprias instituies.

    Se pblicas, os resultados positivos em termos de eficcia e economia de tempo lhes permitiria suportar com menos desgaste as tremendas presses exercidas pela volumosa

    demanda.

  • Se privadas, esses mesmos resultados positivos contribuiriam significativamente para melhorar a imagem da instituio

    perante sua clientela.

    Num e noutro caso, o retorno compensaria, amplamente, o investimento, pois o aprendizado pode abranger toda a equipe das instituies que, dependendo de seu campo de

    atuao, inclui profissionais como psiclogos, mdicos, enfermeiras, assistentes sociais, religiosos, educadores e pode ser realizado em curto espao de tempo, o que

    contribui para minimizar o custo.

    Para as comunidades, seu valor inconteste. A prpria compreenso do funcionamento familiar pela equipe da instituio j um fator muito vantajoso para a famlia mesmo

    quando se trata de outros tipos de tratamento, tais como neurologia, psiquiatria, fonoaudiologia e outros, porque passa a interagir com a famlia de maneira mais positiva e

    objetiva, evitando os sentimentos protecionistas ou acusatrios para com um ou mais membros desta, uma vez que compreende que a famlia como um todo necessita de

    orientao quanto maneira de compreender o problema e de lidar com ele.

    Por outro lado, a compreenso que a famlia passa a ter de seu prprio modo de interagir faz com que ela se sinta mais valo

    17

    rizada c apta a enfrentar os problemas que porventura o futuro lhe reserve, com cada membro assumindo as responsabilidades compatveis com sua posio no seio da

    famlia.

    Sendo a famlia a clula bsica da sociedade, um programa de terapia familiar pode vir a ser uma verdadeira poltica de sade pblica. Ele pode ter lugar nos centros de

    sade, hospitais, frum, igrejas, escolas, fbricas, associaes de bairro, creches e outras.

    J h algum tempo vnhamos acompanhando o atendimento que as instituies costumam prestar s comunidades com o propsito de encontrarmos meios adequados para um

    atendimento mais efetivo clientela que as procura.

    Essa preocupao nos levou a realizar um estudo na instituio onde atuamos como docente e como supervisor de estgios, com o objetivo de estabelecer um suporte terico-

    tcnico que pudesse contribuir para a implantao de um novo procedimento clnico para o atendimento s crianas e suas famlias, nessa e em outras instituies

    semelhantes.

    Vrios terapeutas tm se preocupado com a melhoria dos servios oferecidos pelas clnicas-escola dentre os quais podemos citar os trabalhos de Ancona-Lopez (1981),

    Larrabure (1982), Macedo [Coord.] (1986).

    Optamos pela Terapia Familiar Breve, uma modalidade de terapia familiar sistmica, cuja principal caracterstica a soluo do problema apresentado por meio de mudanas

    no processo de interao da famlia, porque acreditvamos ser ela um instrumento capaz de minimizar o fenmeno, j apontado por Ancona-Lopez com relao s clnicas-

    escola em geral, de que, em virtude de um atendimento insatisfatrio, "grande parte da populao que procura a clnica desiste do atendimento com freqncia e

    silenciosamente". (Psicodiagnstico: Processo de Interveno, 1995, pg. 66).

    Nosso trabalho foi desenvolvido com estagirios do lO^se-mestre do Curso de Psicologia das Faculdades Integradas Senador Flquer, em Santo Andr, So Paulo, o qual, em

    seu Instituto de Psicologia Aplicada, oferece atendimento gratuito comunidade, por intermdio dos estudantes do 9a e do 10a semestres.

    Planejamos cada ao levando em conta o acompanhamento

    18

    da evoluo da famlia, ou seja, como as mudanas ocorridas contribuiriam para resolver a queixa apresentada.

    Como a terapia familiar sistmica relativamente nova no Brasil, a deciso de realizarmos essa experincia exigiu de nossa parte uma anlise cuidadosa e criteriosa,

    especialmente, de possveis implicaes negativas, tais como a resistncia dos alunos e das prprias famlias e o uso que os futuros terapeutas pudessem fazer das tcnicas

    aprendidas.

    Justificamos nossa proposta por entendermos que a Terapia Familiar Breve adequada ao tipo de atendimento oferecido pelas clnicas-escola, porque, alm de possibilitar

    um atendimento efetivo s famlias, requer, em mdia, dez sesses para a soluo da queixa, cabendo, portanto, perfeitamente, em um semestre letivo.

    As outras demandas tpicas podem ser expressas por: Ia) "Eu no tinha uma idia real, o Dr. A quis que ns vissemos". 2a) "Ns queramos ouvir o que vocs tm a dizer,

    ns queremos sua opinio sobre o que est errado com ela/ele/ns". 3a) "Ns queramos que vocs nos dessem algum conselho sobre o que devemos fazer ou como devemos

  • agir com este problema". 4a) "Ns queremos saber qual a razo de ele/ela estar se comportando desta maneira, ns pensamos que vocs conversariam com ela/ele, encon-

    trassem a razo e nos dissessem". 5a) "Ns espervamos que na conversa com vocs encontraramos o melhor caminho para resolver este problema."

    nesse contexto que nos propusemos apresentar uma forma de responder necessidade de melhorar as condies que afetam a prtica profissional no servio de atendimento

    Sade Mental oferecido por essa entidade, tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo, em benefcio dos estagirios e das famlias.

    No aspecto quantitativo podemos facilmente verificar as vantagens da Terapia Familiar Breve. A entrevista familiar j um diagnstico e uma interveno. Pela interao

    com a famlia o estudante pode trabalhar o problema, trabalhando a queixa, eliminando, assim, a necessidade de passar por um processo para precisar a queixa, para a

    fundamentao da queixa. Diante de um caso, oriundo da triagem com uma queixa explicitada, seja de distrbio de comportamento, de aprendizagem, de conduta, seja outro

    tipo de distrbio, em vez de passar por todo um processo de

    19

    testagem, passa, j, por um processo de terapia. Desse modo, no fim do semestre letivo, essa famlia ter sado da fila de espera. Ter deixado de ser um cliente inscrito para

    se tornar um cliente atendido.

    Por outro lado, a Terapia Familiar Breve admite que o atendimento seja realizado por uma equipe teraputica. Permite, portanto, a mobilizao de vrios estagirios no

    atendimento, conseqentemente, um maior nmero de pessoas atendidas.

    Quanto qualidade h tambm um ganho em ambos os subsistemas: a famlia recebe um atendimento efetivo enquanto o estudante tem a oportunidade de praticar

    intervenes teraputicas em vez de Umitar-se observao.

    A literatura sobre terapia sistmica nos d conta dos excelentes resultados no tratamento de problemas especficos em tempo extremamente curto, se comparados com outras

    abordagens.

    CAPTULO I PRESSUPOSTOS TERICOS

    1. HISTRICO

    A terapia sistmica nasceu de uma nova concepo sobre a doena mental em oposio, hoje bastante atenuada, s chamadas psicologias psicodinmicas baseadas no

    intrapsquico e, rapidamente, se tornou uma forma de psicoterapia que apresentava resultados satisfatrios em curto espao de tempo, porm sem que houvesse um programa

    especfico nesse sentido. A Terapia Familiar Breve fruto de um esforo consciente para encontrar uma forma de terapia possvel de ser realizada em curtssimo tempo. O

    Instituto de Pesquisa Mental, um departamento da Palo Alto Medicai Research Foundation conhecido pela sigla MRI (Mental Research Institute), criou um programa com o

    objetivo de realizar tratamentos em dez sesses.

    A grande maioria da procura pelos servios da clnica se enquadra na situao tpica da famlia que traz suas crianas para que sejam "tratadas", porm, de acordo com a

    abordagem sistmica, o "distrbio" apresentado pela criana encaminhada visto como reflexo da estrutura do desenvolvimento de sistema familiar.

    Casabianca e Hirsch (1979) apresentam as premissas do modelo sistmico em cinco pontos essenciais:

    "1. A conduta de todo indivduo funo da conduta de outros indivduos com os quais mantm relaes. Por conseguinte, se o comportamento de um deles se altera,

    tambm se alterar o [comportamento] do primeiro (sempre dentro dos limites de seu potencial pessoal).

    2. Os indivduos que mantm relaes mais ou menos estveis podem ser vistos como membros de um sistema.

    3. Os membros de um sistema significam suas condutas.

    4. As condutas em um sistema se organizam em torno de dois eixos: interdependncia e hierarquia.

    22

    5.Todo sistema pode ser visto sob a tica do inter jogo de duas tendncias opostas: uma que favorece a mudana e uma que favorece a estabilidade."

    A interao e o comportamento so elementos determinados pelos significados que os membros da famlia do aos acontecimentos. A descrio do processo familiar nos

    mostra que a famlia interage segundo um padro nico prprio (Maturana e Varella, 1980; Leyland, 1988).

    As escolas de terapia familiar sistmica encorajam o terapeuta a reunir-se com a famlia e trabalhar com seus membros diretamente sobre as disfunes evidenciadas. Esse

    procedimento propicia resultados efetivos em curto espao de tempo.

  • Tendo em vista nossa realidade e o tipo de populao a ser atendida julgamos oportuno aproveitar certos aspectos da abordagem estratgica e da estrutural. Da abordagem

    estrutural julgamos importante o mapa familiar, no sentido de ajud-la a perceber, por exemplo, a inexistncia de regras ou problemas de comunicao. O trabalho concreto

    com estes aspectos j oferece uma possibilidade de progresso para a relao familiar. Da abordagem estratgica aproveitamos, sobretudo, os procedimentos do foco centrado

    no problema e da diretividade.

    Em outras palavras, a postura mais interventiva, a preocupao com o foco, com a soluo do problema uma preocupao mais ligada abordagem estratgica. A mudana,

    a ordem, ou seja, o estabelecimento de fronteiras, de hierarquia, de regras dizem respeito abordagem estrutural e constituem um instrumento muito valioso para a

    organizao da estrutura familiar e se faz necessrio, sobretudo, para famlias de baixa renda ou famlias que tm um estilo de vida muito promscuo, com muitas pessoas

    morando na mesma casa, muitos membros da famlia procurando afirmar sua autoridade, ou deixando-se dominar por um ou mais membros dessa famlia.

    Assim, embora esses modelos tenham suas diferenas e apresentem-se como modelos distintos em funo da predominncia de determinados aspectos na maneira de atender

    famlia e nas tcnicas utilizadas, tm tambm muito em comum, muitas semelhanas. Do ponto de vista epistemolgico no diferem: ambos so sistmicos. Cada terapeuta,

    afinal, constri seu pr

    23

    prio modelo em funo de sua formao, das condies de trabalho e da populao que atende.

    No nosso propsito propor uma integrao dos dois modelos. Nossa busca vai em direo da construo de um modelo mais simples, prtico e adequado ao nvel dos

    alunos e clientela a que se destina.

    A Terapia Familiar Estrutural, conforme proposta por Salvador Minuchin, uma abordagem teraputica naturalista no sentido de que tende a ver como essencial que o

    terapeuta, ao praticar o diagnstico e a interveno, tenha em vista o ecossistema no qual o problema existe. A Terapia Familiar Estratgica tem em Jay Haley um de seus

    maiores expoentes. Haley prope uma terapia voltada para a soluo do problema apresentado pela famlia. Pensando em aproveitar essas duas caractersticas bsicas dessas

    abordagens, optamos por nos apoiar em seus pressupostos tericos, especialmente no trabalho de Haley e de Minuchin, visto ambos considerarem que o comportamento

    emana do contexto no qual ocorre, ou seja, no sistema de relaes familiares e sua interao com outros sistemas.

    Minuchin (1974) e Haley (1979) fazem referncia ao fato de que as famlias no trazem as suas disfunes, mas sim de que h um pedido para que o terapeuta comprometa-

    se com um membro em particular da famlia, o paciente identificado (PI), que acreditam ser o portador de problema e, conseqentemente, pensam que seja o nico que deve

    receber ajuda, a ser "tratado ".

    Para Minuchin (1980), a famlia um sistema governado por regras compreendendo subsistemas que interagem mutuamente e afetam uns aos outros. Assim h o subsistema

    parental, ou seja, do casal enquanto pais; subsistema do casal, isto , a interao entre os esposos; o subsistema dos filhos, subsistema constitudo por pessoas do mesmo sexo

    (no s da mesma gerao, mas incluindo duas ou mais geraes); subsistema constitudo por um nico indivduo. Em suma, os subsistemas se formam em consonncia com

    a maneira como as interaes se processam no interior da famlia.

    Haley (1979) diz que "a primeira obrigao de um terapeuta mudar o problema apresentado pelo cliente" {Psicoterapia Familiar, pg. 126). Para ele o problema pertence

    famlia e

  • 8

    no apenas ao paciente identificado porm intil tentar convencer a famlia. Prope duas opes: que o terapeuta induza uma crise de modo que todo o sistema tenha que se

    reorganizar ou que inicie uma pequena mudana e v impulsionando persistentemente a famlia em direo a essa mudana at que ela esteja to ampliada que o sistema

    tenha que mudar para adaptar-se a ela.

    E nesse contexto que se insere a Terapia Familiar Breve. Ela tem sua origem em uma seo do MRI, o Brief Therapy Center (BTC), fundado em 1967, nos EUA, com a

    finalidade de verificar as possibilidades oferecidas por uma terapia breve, sistmica e pragmaticamente orientada, estabelecida para dez sesses a serem realizadas

    semanalmente, com durao de cerca de dois meses e meio.

    Igualmente a abordagem estrutural, em sua origem, destinava-se a ser uma terapia breve. Na dcada de 60 Minuchin e outros trabalhavam com garotos negros e porto-

    riquenhos dos guetos de Nova York na Wiltwyick School for Boys. As necessidades que esses adolescentes traziam requeriam uma terapia que apresentasse resultados

    prticos e imediatos. A soluo encontrada foi fazer um atendimento que levasse em conta as famlias deles e o seu meio ambiente.

    Nas pginas seguintes, situaremos, em linhas gerais, histrica e conceitualmente, a Terapia Familiar Breve no contexto da terapia sistmica e das duas abordagens que mais

    se ocuparam dela, a Terapia Familiar Estratgica e a Terapia Familiar Estrutural.

    Os diversos autores que se propuseram organizar a histria, os conceitos bsicos, os procedimentos e as tcnicas da terapia familiar sistmica tm utilizado os mais diferentes

    critrios, deixando a impresso, ora de que esto tratando de coisas muito distintas, ora de que tratam do mesmo assunto diferindo apenas na abordagem e na terminologia.

    Cerveny (1992) diz que, sendo um "campo novo na rea do conhecimento", natural que a terapia familiar sistmica esteja "se descobrindo e reformulando conceitos,

    valendo-se de talentos pessoais, o que dificulta a universalidade e o consenso". Assim, Bodin (1981) descreve as atividades do MRI (Mental Research Institute) sob a gide

    da Viso Interacional sem distin

    25

    guir entre Abordagem Estratgica e Abordagem Estrutural, enquanto Stanton sugere uma integrao entre essas duas abordagens sugerindo uma ligao mais prxima entre a

    Abordagem Estratgica e o MRI.

    A abordagem Estrutural sempre ligada ao nome de Minuchin pelos vrios autores.

    Guerin (1976) d a dcada de 50 como aquela em que a terapia familiar comea a ser estruturada. Ela toma impulso na dcada seguinte, estende suas razes mais

    profundamente no passado, teoria dos tipos lgicos de Whitehead e Russel (1910-13), fonte na qual Gregory Bateson embasou sua pesquisa, iniciada em 1952, sobre os

    paradoxos da abstrao na comunicao humana. Outra influncia foi o trabalho de Norbert Weiner (1948) sobre ciberntica enfocando o desenvolvimento da cincia da co-

    municao e o controle no interior dos sistemas.

    2. ABORDAGEM ESTRATGICA

    A Terapia Familiar Estratgica est ligada ao MRI. Bodin (1981) descreve as atividades do MRI nas dcadas de 60 e 70 reunindo as principais influncias desse perodo para

    a terapia familiar. Divide seu relato em pr-histria, os primeiros dez anos e os segundos dez anos do MRI. Segundo ele, imprprio falar de uma escola MRI, visto seus

    membros serem pensadores independentes e vrias abordagens familiares terem sido desenvolvidas por seus membros, assim como imprprio associar o MRI ao grupo de

    Palo Alto. Essa mesma atitude assumida por Jay Haley (1976) que enfatiza a existncia de dois grupos de Palo Alto com idias bastante diferentes: um composto por

    membros que se dedicaram em tempo integral ao projeto dirigido por Gregory Bateson, que desenvolveu a teoria do duplo vnculo do qual participaram o prprio Haley e

    John Weakland; o outro, formado pela equipe de Don Jackson, que, como consultor psiquitrico, dedicava tempo parcial ao projeto.

    Bodin remonta a histria do MRI ao ano de 1950 quando o antroplogo Gregory Bateson estudava os diferentes nveis e diferentes canais da comunicao bem como a

    maneira como

    8

    uma mensagem modifica o outro e significante na compreenso do outro. Junto com Jay Haley, William Fray e John Weakland, Bateson desenvolveu um projeto de

    comunicao no VeteransAdministration Hospital, em Menlo Park, Califrnia. O grupo escolheu as "comunicaes esquisitas " que havia no hospital e a linguagem "ilgica"

    dos esquizofrnicos.

  • Em 1954 Bateson assistiu a uma palestra de Don D. Jackson sobre "homeostase familiar". Entusiasmado, Bateson entrou em contato com Jackson e passaram a trabalhar em

    colaborao.

    Em 1959 surgiu o grupo do MRI, um departamento da Palo Alto Medicai Research Foundation (PAMRF) em Palo Alto, Califrnia. Seus objetos de estudo eram a

    esquizofrenia e a famlia. A ele se juntaram Virgnia Satir e Jules Riskin e no mesmo ano o projeto de Bateson foi admitido no National Institute of Mental Health. Esse

    projeto, separado do MRI, foi desenvolvido, tambm atravs da fundao de Palo Alto (PAMRF)

    Compreendendo a famlia como um sistema em evoluo no qual os princpios da teoria geral de sistemas operam mais plena e poderosamente o MRI centraliza-se no

    comportamento, porm, os princpios de modificao do comportamento e a teoria da aprendizagem social no so prioritrios para sua abordagem. Aconselhar um pai de

    famlia desesperado porque seu filho gasta dinheiro excessivamente a dar-lhe, de boa vontade, mais dinheiro, seria considerado um reforo pelos behavioristas, mas os

    terapeutas familiares praticam intervenes desse tipo com o propsito paradoxal de causar perplexidade no adolescente e interromper o padro de comportamento.

    O MRI ocupou-se inicialmente com a esquizofrenia. Weakland interessou-se pelo paralelismo entre esquizofrenia e hipnose. Bateson, Jackson, Haley e Weakland (1956)

    produziram escritos que culminaram na reviso da teoria do duplo vnculo baseados na anlise das comunicaes, derivada da Teoria das Categorias Lgicas (Whitehead e

    Russel, 1910-13). Para eles o comportamento esquizofrnico seria uma resposta do indivduo a uma situao atual existente na famlia.

    Na dcada de 60, houve uma expanso no atendimento da terapia familiar que passou do tratamento das famlias esquizofrnicas para famlias com outros tipos de problemas:

    de

    27

    linqncia, fracasso escolar, ansiedade neurtica, asma, borderline, colite ulcerativa e conflito de casais.

    Selecionamos alguns dados que demonstram os avanos da terapia familiar no tocante a pesquisas, publicaes, desenvolvimento de tcnicas e treinamento de terapeutas,

    graas ao trabalho do MRI:

    a. Em 1960 Haley experimentava meios de medir as comunicaes em famlia.

    b. Em 1961 Paul Watzlawick e Janet Beavin elaboraram uma antologia gravada de comunicao verbal tirada de tapes das sesses de terapia familiar.

    c. Em 1963 o MRI, em seu conjunto, conceitualizou a famlia como um sistema de interao social. Do enfoque inicial sobre a esquizofrenia houve uma expanso para a

    maneira como as interaes da famlia afetava diversos fenmenos tais como colite infantil, asma e potencial acadmico de crianas pr-escolares.

    d. Em 1966 Satir e Elaine Sorenson envolveram-se no treinamento de terapeutas de famlia.

    e. Em 1967 foi fundado o Brief Therapy Center (BTC) do MRI com o objetivo de verificar o aproveitamento teraputico em um tempo breve aplicado a um problema

    especfico. O tratamento durava dez sesses.

    f. Nos anos 60 Weakland estudou filmes da China Comunista para compreender os padres sociais das famlias chinesas.

    O incio dos anos 70 foi marcado por duas grandes perdas: o carisma do diretor Don Jackson, em virtude de seu falecimento, e a limitao das verbas federais forando o

    MRI a buscar subsdios de fundaes privadas.

    O MRI obteve um patrocnio da Administration on Aging (governamental) e criou o Family Futures Center, destinado ao aconselhamento de idosos e suas famlias./7

    Outro programa desenvolvido nessa poca foi o projeto para reintegrar na famlia os pacientes internados com doenas fsicas na Stanford University School of Medicine.

    Na dcada de 70 surge a concepo de que a esquizofrenia derivava de uma crise de desenvolvimento em vez de ser "doena mental". Esse conceito se coadunava com as

    teorias da interao familiar desenvolvidas pelo MRI. Os trabalhos do MRI sobre as

    28

    dimenses da comunicao, sistemas familiares e sistemas sociais foram intensificados e ampliados, sendo, o MRI, segundo Bodin, o nico a combinar pesquisa, clnica e

    atividades educacionais. Outra iniciativa dessa poca foi a criao da Soteria House, onde se estabeleceu o sistema de residncia para o tratamento da esquizofrenia (sem uso

    de drogas). Comparado com as internaes, este procedimento apresentava os mesmos resultados, porm, com um custo bem menor.

    Em 1978 o MRI iniciou um programa de clnica teraputica de pacientes internados. Alm disso mantinha um programa regular trimestral de treinamento sob a forma de

    workshops. Workshops e seminrios eram apresentados constantemente nas Amricas e na Europa. Carlos Sluski e Watzlawick deram incio a programas de treinamento em

    terapia familiar e programas intensivos para falantes de lngua espanhola em visita aos EUA.

  • A partir de 1979 novas direes foram concebidas tais como a Soteria Alternatives for Education (SAFE) destinada a facilitar a transio do esquizofrnico de volta

    comunidade. Sob a direo de Carlos E. Sluzki o MRI ampliou suas atividades de treinamento e enfatizou as mltiplas linhas de interveno do paradigma de sistemas

    interacionais pela explorao das relaes conceituais entre os modelos desenvolvidos no MRI e outros centros de pesquisa e treinamento.

    O MRI foi um pioneiro na pesquisa e treinamento sobre famlia e comunicao e no desenvolvimento da terapia familiar, terapia familiar breve e tratamento de emergncia.

    Da diversidade de procedimentos do MRI brotou o conceito de estrutura e uma nova forma de terapia sistmica, a abordagem estrutural, que examinaremos a seguir.

    3. ABORDAGEM ESTRUTURAL

    Segundo Aponte (1981) a primeira tentativa de exposio de terapia familiar estrutural foi Famlias dos guetos (Minuchin, Montalvo, Guerney, Rosman e Schumer, 1967).

    Nos anos 60 havia uma revoluo social em andamento nos EUA e a terapia familiar estava comeando a ganhar larga aceitao. Nessa ocasio, Minuchin e seus

    colaboradores estavam trabalhando na Wiltwyck

    10

    School for Boys, uma instituio dedicada principalmente aos negros e porto-riquenhos jovens dos guetos de Nova York. Era uma instituio para rapazes, que se

    transformou em instituio para tratamento de famlia.

    Tratava-se de famlias pobres, cuja preocupao bsica era a sobrevivncia diria, a busca de solues reais para os problemas reais em suas vidas. A urgncia gerada pela

    pobreza na obteno das coisas necessrias vida fazia com que essas pessoas encarassem a abordagem psicoteraputica como um meio prtico para vencer suas

    dificuldades, procurando ver se o que estava sendo oferecido guardava alguma relao com seus problemas e que resultados poderiam ser colhidos de seus esforos.

    Minuchin e sua equipe perceberam que as terapias, centradas no discurso direcionado para o insight em vez de ser direcionado para a ao, que buscam a expresso dos

    sentimentos em vez da integrao dos sentimentos com o comportamento e a mudana de atitudes sobre a vida e no sobre as condies da vida, estavam to afastadas das

    presses cotidianas das pessoas pobres que no se mostravam teis para elas. Desenvolveu, ento, uma abordagem teraputica fundada no imediatismo da realidade presente,

    orientada para a soluo de problemas e sobretudo contextual, tendo como referncia o desenvolvimento social, que tanto uma parte do setting quanto um evento. A prpria

    orientao estrutural foi lapidada pelas exigncias das condies sociais dos adolescentes da Wiltwyck School.

    Foi muito importante para o desenvolvimento da terapia estrutural a contribuio de Haley que, em 1965, associou-se a Minuchin e trabalhou com ele por vrios anos na

    Philadelphia Child Guidance Clinic, para a qual Minuchin e alguns colaboradores tinham se transferido nesse mesmo ano. Embora Haley seja visto como um terapeuta

    estratgico, contribuiu signicativamente para o desenvolvimento de ambas as teorias (a estratgica e a estrutural) e para o repertrio das tcnicas estruturais. Sua abordagem

    de soluo de problemas e tcnicas estratgicas evidente na terapia familiar estrutural.

    Durante os anos 70 e continuando nos anos 80, algumas das escolas estruturais mantiveram a ateno sobre os pobres e expandiram a abordagem para incrementar a incluso

    da comuni

    10

    dade nos diagnsticos e intervenes familiares com estas famlias. Durante esse tempo, um nmero de terapeutas estruturais envolveu-se com o tratamento e a pesquisa das

    chamadas famlias psicossomticas. Segundo Aponte, enquanto muitas terapias atuantes na classe mdia foram adaptadas para trabalhar com pacientes das classes pobres, a

    terapia familiar estrutural fez o caminho inverso: originou-se do trabalho com os pobres e subseqentemente expandiu-se para outros estratos sociais e econmicos como uma

    resposta teraputica oportuna para a populao, pois apresentava uma perspectiva prtica e se firmava como uma teoria teraputica com aplicao universal.

    Segundo James e Mackinnon (1981) foi a partir do exame da estrutura e dinmica da produo delinqente, das inconvenincias e desordens familiares e do desenvolvimento

    de abordagens tericas que chegassem a essas famlias que se elaborou a construo terica da Terapia Familiar Estrutural. Durante a dcada de 70 Jay Haley, Brulio

    Montalvo, Harry Aponte e outros trabalharam com Minuchin desenvolvendo sua concepo do funcionamento familiar usando conceitos de organizao, de regras e de

    estruturas.

    Na passagem da dcada de 60 para 70, Minuchin comeou a focar as famlias de anorxicos. Essas famlias diferiam daquelas de Wiltwyck porque eram de condio

    socioeconmica elevada, estruturadas e com extremo superenvolvimento. Com esse estudo, os conceitos organizacionais se tornaram mais claros e permitiram a distino

    entre famlias funcionais e disfuncionais.

  • Os problemas estruturais so mantidos pelas interaes correntes no sistema e freqentemente emergem quando a famlia se defronta com um importante estgio de transio

    que requer a reorganizao da famlia. As abordagens tendem a ser breves, comumente menos de dez sesses, e buscam criar uma pequena unidade de mudana que se

    espalha pelo sistema familiar levando sua transformao e reorganizao. A Terapia Familiar Estrutural foi um dos primeiros modelos de terapia familiar a incrementar a

    demanda pelo rigor terico e pela competncia clnica. Minuchin (1974) em Families and Family Therapy delineou este contexto associando os conceitos tericos com as

    tcnicas prticas.

    A Terapia Familiar Estrutural tem em comum com as abordagens estratgicas a viso de que o comportamento emana do

    31

    contexto no qual ocorre, ou seja, o sistema de relaes familiares e sua interao com outros sistemas.

    4. CONCEITOS TERICOS BSICOS

    Os terapeutas ligados ao MRJ desenvolveram os principais conceitos bsicos utilizados pela terapia familiar sistmica. Bodin (1981) nos oferece uma sntese dos principais

    conceitos desenvolvidos pelos pioneiros:

    ^ Segundo Bodin, os primeiros desenvolvimentos tericos e teraputicos foram publicados por Jackson ou com sua participao e essas publicaes foram examinadas e

    descritas por Greenberg1 em 1977 podendo ser resumidas da seguinte maneira:

    a. Homeostase familiar.

    b. Feedback negativo e positivo.

    c. Hiptese de regras (na famlia).

    d. Regras descritivas e prescritivas.

    e. Desenvolvimento de um novo ou mais abrangente conjunto de regras que impliquem em mudana efetiva nos relacionamentos.

    f. O quidpro quo (tomar uma coisa pela outra) como uma regra familiar consciente ou inconsciente.

    g. Pontuao como estratagema de resgate para casais em conflito por terem diferentes perspectivas da realidade. h. Causalidade circular (versus causalidade linear) ou negao do paradigma S-R do comportamento.

    4.1. A Teoria da Comunicao

    A hiptese do duplo vnculo foi desenvolvida por pesquisadores que mais tarde se agregaram ao MRI. Trata-se de uma redefinio da situao teraputica, baseada na

    comunicao: considera as interaes entre 'outros significantes' em vez de faz-lo em termos de transferncia e contratransferncia.

    As contribuies da Teoria da Comunicao para a patognese foram organizadas por Watzlawick, Beavin e Jackson

    1Greenberg, G. S. The Family Interaction perspective. A study and examination of the work of Don Jakson. FAMILY PROCESS, 1977, 16, 385-412

  • 12

    (1967). Os autores emitem conceitos tais como: a negao da comunicao, a rejeio da comunicao, a desqualificao da comunicao. Tudo isto subscrito pelo axioma:

    a impossibilidade de no se comunicar.

    Ao todo so cinco axiomas:

    1.0 indivduo no consegue no se comunicar.

    2. Toda comunicao tem um contedo e um aspecto relacional. O aspecto relacional caracteriza a forma e uma meta-comunicao.

    3. A natureza da relao diz respeito pontuao das seqncias entre os comunicantes.

    4. Os seres humanos se comunicam pelas formas digital e analgica.

    5. Qualquer comunicao pode ser simtrica ou complementar dependendo de ser baseada na igualdade ou na diferena.

    Quanto ao primeiro axioma, os autores argumentam que todo comportamento uma comunicao: tanto a atividade como a inati-vidade, as palavras ou o silncio

    influenciam os outros; o comportamento no tem oposto, ou seja, no existe um no comportamento. Conseqentemente, por mais que o indivduo se esforce, -lhe im-

    possvel no comunicar, assim como impossvel ao outro no responder a essa comunicao.

    O segundo axioma, aspectos de contedo e de relao, implica que uma comunicao, ao mesmo tempo que transmite uma informao, impe um comportamento. A

    produo de disfuno derivada desse axioma consistem em:

    a) a confuso dos nveis: o interlocutor no distingue se a mensagem prende-se ao contedo ou relao;

    b) discordncia em cada um dos dois nveis;

    c) uma rejeio da definio dada pelo outro;

    d) um no confirma ou ignora a mensagem;

    e) imprevidncia em reorientar o feedback por ignor-lo ou por interpret-lo erroneamente e, no segundo nvel, falhando na percepo de que o feedback no foi recebido e

    compreendido e por isso falha em no repeti-lo.

    Terceiro axioma: a pontuao de seqncias de eventos diz respeito interao entre comunicantes. A melhor maneira que encontramos para expor a pontuao foi

    reproduzir o grfico fornecido pelos autores pgina 52.

    33

  • O grfico mostra a interao de um casal com um problema marital em que o marido reage com um retraimento passivo, enquanto a esposa o critica e censura irritantemente.

    O marido dir que o retraimento sua nica arma contra a censura dela enquanto a esposa dir que o critica por causa de sua passividade.

    Ele percebe apenas as trades 2-3-4,4-5-6, 6-7-8, etc, em que o seu comportamento (setas contnuas) 'meramente' uma resposta ao comportamento dela (setas tracejadas).

    Ela pontua a seqncia de eventos nas trades 1-2-3,3-4-5,5-6-7, etc. No suspeita que determina o comportamento do marido. Pensa que apenas reage a esse comportamento.

    Quarto axioma: A linguagem analgica guarda uma estreita relao entre o smbolo e a coisa simbolizada. Por exemplo, o desenho uma linguagem analgica. O desenho de

    um gato representar, para um receptor, um gato, independentemente da lngua que ele fale. A linguagem digital, por sua vez, depende da conveno lingustica. A palavra

    gato evocar a imagem desse animal somente para um falante da lngua portuguesa. No ter nenhum significado para um chins (que no tenha aprendido seu

    13

    significado na lngua portuguesa, evidentemente). A comunicao analgica seria, ento, virtualmente, toda comunicao no verbal, incluindo postura, gestos, expresso

    facial, inflexo de voz, seqncia, ritmo e cadncia das prprias palavras. Isso nos leva a concluir que o aspecto de contedo da comunicao (segundo axioma) expresso

    pela comunicao digital enquanto o aspecto relacional expresso pela comunicao analgica.

    As disfunes relacionadas com este axioma derivam do fato de essas duas linguagens coexistirem e se complementarem na comunicao e da dificuldade que sentem, tanto

    o emissor, quanto o receptor, de combin-las e de traduzir uma para a outra.

    A linguagem digital apresenta uma sintaxe altamente complexa e lgica poderosa mas falha semanticamente no campo das relaes. A linguagem analgica

    semanticamente adequada, mas falha na sintaxe que no apropriada para eliminar a ambigidade da natureza da relao. Quando algum diz, por exemplo, concordo, esse

    termo dever vir acompanhado de todos os aspectos noverbais da comunicao que confirmem sua emisso, como mover a cabea para cima e para baixo, por exemplo.

    Cabe ao receptor decodificar esses elementos.

    As disfunes relativas ao quinto axioma podem ser descritas da seguinte maneira:

    Simetria e complementaridade:

    a) escalada simtrica ocorre a competitividade em que cada um deseja, pelo menos, colocar-se em p de igualdade com o outro;

  • b) complementaridade rgida ambos seguem regras no verbalizadas diferentes, tais como tradies culturais; c) relaes metacomplementares no resolvidas cada um dos participantes permite ou tenta forar o outro a proteg-lo, a tomar conta ou a ser simtrico. 4.2. O Conceito de Disfuno

    Em O mito da normalidade, Jackson (1967) expressa seu ceticismo sobre o conceito de famlia normal. Para ele no h um modelo nico de normalidade nas famlias ou nos

    casamentos e

    35

    qualquer tentativa de encontrar tal padro esbarra em problemas etnopolticos que a conduzem idia do 'convencional'.

    No entanto, o conceito de funcionalidade e disfuncionalidade mostra-se bastante til para as finalidades teraputicas porque permite a incluso da noo de problemas e

    dificuldades.

    O MRI ope-se noo de que a famlia normal resolve seus problemas. Para os terapeutas do MRI, numa famlia de bom funcionamento, os problemas persistem, mas no

    paralisam. Os problemas podem ser solucionados em famlias que usam 'bons argumentos', ou seja, argumentos que congregam os membros, em vez de afast-los uns dos

    outros.

    O Brief Therapy Center do MRI trabalha com o conceito de que problemas derivam de dificuldades como resultado da persistncia em desenvolver esforos com as mesmas

    abordagens que provaram ser inadequadas para tais dificuldades. Esses problemas so a negao das dificuldades, nfase excessiva e esforos bem intencionados (tentar

    animar o depressivo, por exemplo).

    4.2.1. O ciclo de desenvolvimento familiar.

    Famlias disfuncionais desenvolvem problemas porque no so capazes de ajustar-se s transies que ocorrem no ciclo vital familiar. Tornam-se rgidas em determinados

    pontos. Por exemplo, a dificuldade das famlias de jovens esquizofrnicos em permitir que eles deixem o lar. Pode-se falar, ento, em topologia familiar ou sintomatologia

    familiar: o problema no o jovem, mas a maneira como a famlia reage, interage e tenta adaptar-se ao perodo de crise.

    O ciclo de desenvolvimento familiar (Haley, 1973) pode ser: Previsvel: a) Esperado casamento, nascimento de filho, incio na escola, abandono do ninho, casamento do jovem, divrcio, tornar-se av, aposentadoria, doenas, morte.

    b) No esperado divrcio, morte (incluem-se em ambos). Imprevisvel: a) Esperado retorno da mulher ao trabalho aps os filhos estarem crescidos. b) No esperado 1) doena grave, acidente grave, fracasso ou sucesso muito grandes; 2) roubo, rapto, assassinato. 36

    4.2.2. Funo e disfuno

    As categorias de famlias disfuncionais so designadas pelo nome da queixa apresentada. Por razes semnticas temos: famlias esquizofrnicas, famlias psicossomticas,

    famlias asmticas, famlias com colite ulcerativa, famlias delinqentes, etc. Segundo Bodin (1981), esta nomenclatura causa certo embarao porque presume que a famlia

    que apresenta determinada queixa agir de acordo com certos padres de interao sem levar em conta os princpios de equifmalidade (muitas origens diferentes podem

    conduzir aos mesmos resultados) e equipotencialidade (a mesma origem pode conduzir a resultados diferentes).

    Bodin (1981) rene os estudos das relaes interpessoais realizados por vrios autores:

    a) Os conceitos de simetria e complementaridade proposto por Bateson em 1936, segundo o qual pessoas assertivas interagindo com pessoas submissas tenderiam a polarizar-

    se uma na outra, processo que ele chamou esquismognese complementar. No caso de pessoas assertivas interagindo com outras pessoas assertivas a tendncia manter uma

    igualdade uma com a outra, processo que ele denominou esquismognese simtrica.

    b) As noes de meta-complementaridade (A fora B a tomar conta dele) e metasimetria (A fora B a ser igual a ele) de Watzlawick, Beavin e Jackson em 1967.

    c) Conceito de relaes paralelas, de Lederer e Jackson em 1968, nas quais os esposos, de maneira suave, alternam entre relaes simtricas e complementares enquanto se

    adaptam s mudanas de situao.

    d) A tipologia didica de Sluzki e Beavin em 1965, descrita a seguir: I. Simetria estvel cada um dos discursos sucessivos de A e B define as relaes simtricas. II. Complementaridade estvel os discursos sucessivos de A e B concorrem para definir um deles como dominante e o outro como submisso. III. Competio simtrica pela supremacia os discursos sucessivos de A e B entram em conflito, cada qual querendo sobrepujar o outro.

  • IV. Competio simtrica pela dependncia os discur 37

    sos sucessivos de A e B entram em conflito, cada qual querendo ser dependente do outro.

    V. Competio assimtrica pela supremacia e simetria os discursos sucessivos de A e B entram em conflito, um querendo a supremacia e o outro querendo a simetria. VI. Competio assimtrica pela dependncia e simetria -os discursos sucessivos de A e B entram em conflito, um querendo ser dependente e o outro querendo a simetria.

    VIL Fluidez os discursos sucessivos de A e B no so predominantes em nenhuma das seis configuraes, mas flutuam por elas todas. A fluidez e o paralelismo se assemelham, porm no paralelismo o par alterna as configuraes para adaptar-se s mudanas das circunstncias.

    Para a abordagem estrutural, os nveis funcional e disfuncional so determinados pela adequao da adaptao organizao estrutural do sistema, s solicitaes de uma

    operao e um conjunto de circunstncias. A organizao estrutural de famlias refere-se aos padres de relao comuns a todas as famlias. Funo designa as reas de

    atividade social humana. As circunstncias dizem respeito ao contexto (tempo, lugar e parmetros sociais em que a famlia realiza uma funo).

    Aponte (1981) diz que a abordagem estrutural construda sobre a concepo de Lane (1970) de que "h no homem um mecanismo inato, transmitido geneticamente, que age

    como uma fora estruturante" (ditese). Assim a natureza do ser humano e da sociedade seriam vistas como contendo em si certas dinmicas predeterminadas que

    influenciam fortemente as direes e as extenses de regras que governam as relaes humanas; a explicao dessas regras permaneceria no campo das crenas e dos valores

    tais como representados na religio, filosofia e ideologia poltica, inclusive nas vrias abordagens psicolgicas, com seus valores implcitos e no implcitos sobre

    normalidade e anormalidade.

    A famlia um sistema governado por regras compreendendo subsistemas que interagem mutuamente e afetam uns aos outros. H um subsistema composto pelos pais, outro

    pelos filhos, pelo sexo feminino, pelo sexo masculino, por um indivduo, etc. As mudanas ocorridas em um subsistema afetaro a famlia

    15

    toda. O funcionamento de cada membro determinado pela organizao familiar e depende da posio desse mesmo membro na estrutura familiar (Minuchin, 1980).

    O sistema familiar considerado funcional ou disfuncional dentro de seu contexto social. 'Bom' e 'mau' funcionamento podem ser descritos como realizao social mais

    estrutura familiar. A estrutura psicolgica do indivduo vista como interdependente com a estrutura social da pessoa e a estrutura social tratada como um meio pelo qual o

    indivduo funciona e se expressa. consenso geral que a famlia o sistema social que mais concorre para formar as bases da socializao individual.

    Os cdigos reguladores do sistema so conhecidos pelos seus padres manifestos. Podemos saber o que disfuncional quando compreendemos o que funcional. Minuchin

    (1980) diz que no a ausncia de problemas que distingue uma famlia normal de uma famlia anormal e que por esse motivo o terapeuta necessita de um "esquema

    conceituai do funcionamento familiar para analisar uma famlia". Ele prope que a famlia seja compreendida como uma estrutura que passa por um desenvolvimento e por

    um processo de adaptao.

    A considerao de dois aspectos fundamentais sustentam a discusso sobre funcionalidade e disfuncionalidade:

    1. As estruturas no so deterministas. Elas viabilizam o funcionamento com maiores ou menores possibilidades. A habilidade de uma famlia de funcionar adequadamente

    depende do grau em que a estrutura familiar bem definida, elaborada, flexvel e coesa.

    2. Estruturas disfuncionais no so o mesmo que o sintoma, pois o que determina a presena ou ausncia de problema a maneira pela qual a famlia se adapta s solicitaes

    da funo em certas circunstncias. Por exemplo, se um garoto cabula aula, a constatao de que ele e sua me formaram uma coalizo contra o pai no explica a cabulao.

    preciso compreender os padres estruturais vigentes bem como as funes destes para a famlia e para os contextos sociais. Quando dizemos que um padro relacional

    uma disfuno estamos atendendo a uma finalidade prtica de comunicao, pois na verdade tanto a famlia quanto o indivduo so constitudos de muitas estruturas

    complexamente

    39

    inter-relacionadas. Da mesma maneira no apropriado dizer que uma estrutura , por si mesma, funcional ou disfuncional. O emaranhamento de uma famlia que,

    estruturalmente, serve de base para o comportamento sintomtico da famlia. Com essa compreenso podemos falar de estruturas disfuncionais, de sintomas e tipos de

    problemas relacionados com os padres.

  • Por estrutura entendemos os padres de comportamento atravs dos quais as pessoas remetem umas s outras com a finalidade de levar a cabo determinadas funes. Estas

    funes so modos de ao pelos quais o sistema preenche seu propsito e as operaes so aquelas funes realizadas em operaes especficas. Os membros do sistema

    estruturam seus relacionamentos de acordo com os imperativos de cada operao. A funo parental de estabelecer a disciplina realizada, por exemplo, em operaes

    especficas tais como a me dizer filha a que horas deve voltar para casa.

    A estrutura de uma famlia nica, assim como a personalidade de cada indivduo. Podemos distinguir entre estruturas dominantes e estruturas subordinadas. Estruturas

    dominantes so aquelas sob as quais a maioria das operaes familiares se baseiam. Estruturas subordinadas so menos solicitadas embora sejam o suporte das dominantes. O

    pai, que solicita a opinio de sua esposa para tomar uma deciso com relao aos filhos, est formando uma estrutura subordinada com relao ao cuidado dos filhos, sendo

    que a me, se assumiu a educao dos filhos, forma uma estrutura dominante.

    A estrutura compreende trs principais dimenses: fronteira, alinhamento e poder. Por exemplo, se me atribudo o papel de ditar as regras para seus filhos, isso diz

    respeito a fronteiras; se o pai concorda ou discorda, diz respeito ao alinhamento. As fronteiras determinam quem est dentro e quem est fora de um subsistema e definem o

    papel de cada um dentro dele. Os pais, por exemplo, assumem, perante seus filhos, papis escolhidos por eles mesmos e tambm definidos pela sociedade. O alinhamento diz

    respeito possibilidade de membros de um sistema se unirem ou se oporem para levar a cabo uma operao (Aponte, 1976). Nesse processo se incluem os conceitos de

    coalizo e de aliana. A coalizo se d quando dois membros se unem contra

    16

    um terceiro. Na aliana dois membros se unem para alcanar um objetivo comum. Poder se refere influncia de cada membro no resultado de uma atividade. O poder

    relativo. Primeiro porque, estruturalmente, se restringe operao. (A me pode exercer forte influncia sobre os filhos em casa, mas quase nada quando eles esto fora) e

    segundo porque gerado pelo modo como a famlia interage. (A autoridade da me depende do apoio do pai e da aquiescncia dos filhos).

    Umbarger (1983) define os conceitos de fronteira, alinhamento e poder proposto por Minuchin:

    Fronteira. Uma fronteira pode ser experimentada como interaes governadas por regras produzidas regularmente pelas pessoas durante largos perodos de tempo. Nos

    grupos familiares as fronteiras so fenmenos interativos que acontecem no tempo. Elas concorrem para consumar e definir a separao entre os subsistemas e podem ser

    observadas atravs das condutas verbais e no verbais que permitem ou que probem a discusso de assuntos vitais. As fronteiras podem ser abertas ou fechadas. Por exem-

    plo, o casal pode interditar seus filhos de tomar conhecimento de certas particularidades a respeito de seu casamento. Por outro lado, pode ocorrer que uma famlia,

    rotineiramente, admita seus parentes e amigos na discusso de seus problemas.

    Nas famlias disfuncionais, as fronteiras tanto podem apresentar uma tal rigidez que torna fcil sua identificao como serem completamente frouxas (difusas). As interaes

    so marcadas pelo emaranhamento e pelo desligamento. No emaranhamento no se distinguem os espaos prprios de cada indivduo. As pessoas so de tal modo envolvidas

    que uma parece ser parte da outra. No desligamento, ao contrrio, as fronteiras so to rigidamente delimitadas que um membro da famlia parece nada ter a ver com o outro.

    Um terceiro tipo de disfuno relacionado com fronteiras a violao das Junes das fronteiras, que consiste na intruso de membros da famlia nas funes de outro

    membro. (Um filho que dita regras ao irmo, em lugar do pai, por exemplo).

    Alinhamento. Por alinhamento compreendemos as condutas de coalizo, que pode ser estvel ou circular, e aliana (Minuchin, Rosman e Baker, 1978). Na coalizo estvel os

    membros de uma famlia se unem com um terceiro membro. A coalizo circular ,

    41

    na verdade, uma coalizo estvel, com a particularidade de alguns membros da famlia procurarem distribuir a tenso entre si designando um terceiro como fonte de seus

    problemas e dando origem triangulao (cada uma das partes em oposio elege um terceiro como aliado, de modo que este se v na contingncia de cooperar ora com uma

    das partes, ora com a outra).

    Poder. Os problemas estruturais relacionadas com poder so definidos em termos de quem tem poder em relao a quem e sobre o qu. Nas relaes de poder entram em jogo

    a atividade ou passividade, a concordncia ou discordncia adaptadas a quem tenta exercer sua influncia na rea em que o funcionamento est envolvido. Por exemplo, a

    me pode ser capaz de impedir o filho de brincar com seus amigos, mas no consegue impedi-lo de ver televiso at tarde.

  • O problema estrutural bsico na relao de poder a falta de poder funcional no sistema. Duas situaes comuns nesse tipo de problema so o funcionamento executivo fraco

    e a inibio do desenvolvimento potencial. No funcionamento executivo fraco, os pais no tm a autoridade suficiente para dirigir seus filhos. Na inibio do

    desenvolvimento potencial, o indivduo no consegue ter atitudes prprias de sua idade (em virtude da organizao familiar ser deficiente).

    Os problemas clnicos relacionam-se com esses trs princpios. H, ainda, um outro problema estrutural que as perpassa. E a suborganizao, mais comum nas famlias

    pobres. A sub-or-ganizao um termo aplicado s famlias cujo repertrio de formas de organizao muito limitado. So famlias rgidas e inconsistentes no emprego de

    suas estruturas.

    4.3. A Formao do Sintoma

    Weakland, Fisch, Watzlawick e Bodin (1974) expressaram o conceito de que a formao do problema deriva do exagero ou da negao dos problemas cotidianos

    transformados em Problema com "P" maisculo. A principal causa da formao do problema decorre de os participantes continuarem tentando uma determinada soluo a

    despeito da evidncia de que esta no funciona. Essa conduta de mais da mesma coisa transforma a soluo no

    17

    prprio problema, pois cria um emaranhado sobre o que a princpio era uma simples dificuldade. Essa impercia em lidar com a dificuldade apresenta-se de trs maneiras:

    1. A ao necessria, mas no efetivada. H negao da dificuldade.

    2. Aes so efetivadas quando no deviam. H negao ou exagero da dificuldade.

    3. A ao efetivada em nvel errado.

    Sem entrar no mrito da ditese (teoria da hereditariedade), o fato que os indivduos apresentam graus diferentes de predisposio ao stress, tanto qualitativa quanto

    quantitativamente. Embora todos os membros da famlia sejam afetados pela sintomatologia de qualquer um dos membros, de acordo com a teoria geral de sistemas cada um

    afetado em graus diferentes e em diferentes direes. Um membro da famlia pode ser identificado como paciente por um desses motivos:

    a. utilidade a criana o nico elo de um casamento fracassado, b. semelhana resultado de sano de script ou profecia auto-realizadora, c. bode expiatrio a famlia responsabiliza um de seus membros pela confuso ou mau funcionamento do sistema familiar em sua totalidade. A terapia familiar estrutural v os sintomas ou os problemas como resultado de um problema na estrutura familiar. Os subsistemas so inadequadamente desarticulados ou

    vinculados enquanto as hierarquias no interior dos subsistemas ou entre eles so difusas. Segundo James e Mackinnon, os sintomas so sistemas mantidos mais do que

    sistemas mantenedores, ou seja, sua funo (aparente) no relevante.

    Na terapia familiar estrutural o terapeuta concentra-se na definio do problema a ser resolvido e, tendo em mente que este provm das estruturas de sua base sistmica,

    provoca mudanas nessas estruturas.

    O impacto da terapia pode ser maximizado pelo seu comportamento que refora continuamente as metas estruturais. Cada operao em torno da qual o terapeuta e as pessoas

    em tratamento se envolvem constitui uma nova oportunidade de afetar as estruturas geradoras de problemas ou outros padres estruturais relacionados com as estruturas

    visadas.

    43

    Sintoma o ato de comunicao com mensagens qualitativas que desempenham o papel de um contrato entre dois ou mais membros da famlia e tem uma funo no interior

    da rede interpessoal. Quando uma pessoa est "em uma situao insustentvel e tenta sair dela" (Haley, 1973), no encontrando o meio apropriado, desenvolve um sintoma. A

    famlia um sistema interpessoal de tipo no-linear com complexos mecanismos de feedbacks padres de comportamento que se repetem em seqncia. Por exemplo, pai,

    me e filho esto viajando de carro. A esposa manifesta pressa em chegar. O marido acelera em um sinal amarelo. A esposa o critica. Ele acelera ainda mais. Ela protesta

    mais alto. Ele grita com ela. A criana comea a chorar. A esposa se ocupa da criana e ele desacelera. O comportamento da criana tornou-se um elemento em um processo

    de feedback. H toda probabilidade de que esse padro tenha ocorrido no passado e que reaparea no futuro. Provavelmente o garoto seja encaminhado terapia porque

    'chora demais'. Ele tornou-se, ento, o paciente identificado da famlia.

    4.4. A Funo do Diagnstico

  • Os membros do MRI fazem uma distino entre o diagnstico dos sistemas familiares conduzido no contexto da pesquisa e o da terapia. Enquanto na pesquisa o interesse se

    volta para os aspectos funcionais ou disfuncionais do sistema familiar, na terapia familiar importante conhecer o funcionamento da famlia 'normal' para obter

    esclarecimento sobre a resistncia como encobridora de disfunes especficas. Portanto, o diagnstico do funcionamento da famlia separado do tratamento somente quan-

    do o objetivo a pesquisa.

    O objetivo conduzir o diagnstico at o ponto de equilbrio entre o indivduo e os fatores interacionais. O diagnstico em terapia estratgica feito por meio de uma

    interveno e observao da resposta. Por exemplo, o terapeuta pode solicitar que pai e filho discutam um assunto qualquer para saber at que ponto eles se sentem vontade

    na presena da me. Assim, cada

    44

    ato teraputico vale como diagnstico e cada diagnstico uma interveno teraputica em potencial, pois a meta fundamental mudar a seqncia disfuncional de

    comportamentos da famlia. A entrevista diagnostica se d em vrias etapas. O primeiro passo consiste em estabelecer um contato 'social' em que o terapeuta questiona sobre

    o problema tal qual ele definido pela famlia, mesmo que o foco recaia sobre o paciente identificado, pois a nfase no problema apresentado aumenta a motivao da famlia

    para mudar e, ao mesmo tempo, permite o controle da situao. Outro motivo para essa conduta manter a famlia em tratamento. Os primeiros terapeutas tinham como

    preceito 'distribuir o problema', isto , assumir que todos os filhos tinham problema (e no apenas o PI). Essa conduta piorava a situao dos pais que se sentiam acusados de

    prejudicar cada um de seus filhos, abandonando a terapia.

    Na terapia estrutural o diagnstico e a atividade teraputica constituem facetas de um mesmo ato: a interveno teraputica. Tendo em mente que o problema sustentado

    pela estrutura familiar e pelo seu ecossistema, compete ao terapeuta compreend-la, examin-la e experiment-la em ao na sesso, investigando o que ela pode e o que no

    pode produzir. A maneira de levar a cabo essas metas intervir diretamente nas transaes da famlia com vistas a provocar mudanas nos padres estruturais de suas seqn-

    cias. Trata-se, portanto, de identificar o problema, determinar o seu locus no ecossistema e definir as estruturas do sistema que sustentam o problema.

    Identificar o problema significa localizar onde a estrutura do sistema falha em realizar sua funo, bem como verificar sua relao com outros problemas. Para os propsitos

    teraputicos, o problema no a insegurana de uma mulher, mas o fato de ela evitar pessoas. Um problema , ao mesmo tempo, autnomo, ou seja, permanece livre de

    outros problemas e dependente, isto , mantm com outro problema uma relao de reforo mtuo, embora tenham bases estruturais diferentes, ou quando deriva de outro,

    sendo que tambm neste caso ambos se influenciam mutuamente.

    Determinar o locus implica em saber para quem o problema uma preocupao no presente. No se busca identificar sua origem. A terapia familiar estrutural distingue um

    locus prim

    18

    rio, um locus secundrio e um locus tercirio. O Locus primrio originado nos sistemas cuja relao gera um problema que envolve a todos ou somente alguns dos

    subsistemas. Locus secundrio o envolvimento ativo do problema. Refere-se estrutura de sistemas que d origem e mantm o problema, porm no essencial para o

    problema. Locus tercirio o envolvimento passivo do problema. Tomemos como exemplo uma famlia composta de pai, me e filho, em que o pai e a me mantm um con-

    flito crnico. Se o filho costumeiramente se alia me contra o pai, ele faz parte do locus primrio. Se ele sempre toma parte nas discusses, contribuindo para elevar o nvel

    do conflito, porm de maneira incidental, ele estar no locus secundrio (envolvimento ativo). Se ele ficar margem das discusses far parte do locus tercirio

    (envolvimento passivo).

    Definir as estruturas implica na investigao das conexes das estruturas relacionais entre os membros da famlia em termos de fronteiras, alinhamento e poder e distingue

    entre estruturas dominantes e estruturas subordinadas. As estruturas sero consideradas em termos de riqueza/pobreza, flexibilidade/rigidez, coerncia/incoerncia,

    entendendo-se por riqueza as variedades de estruturas que o sistema leva em conta para realizar suas funes, por flexibilidade a habilidade do sistema em alterar sua or-

    ganizao para conseguir seus objetivos e criar novas estruturas e por coerncia a consistncia e a continuidade relativas da identidade e relacionamento do sistema com seu

    ecossistema j que sua estrutura envolve a mudana de circunstncias e a passagem do tempo, modificando-se por meio deles.

    As aes do terapeuta so orientadas pela construo de hipteses sobre o problema e suas solues. Aponte (1979) descreve as vrias etapas de uma sesso:

    1. Problema.

    2. Coleta de dados.

  • 3. Hiptese.

    4. Metas.

    5. Interveno:

    a. para promover mudana,

    b. para controlar as variveis na transao.

    6. Feedback. O processo de identificar o problema, levan-

    46

    tar dados, formular hipteses, estabelecer metas e intervenes inerente s aes como um todo e a cada ao em particular na terapia familiar estrutural durante o

    tratamento.

    O terapeuta estrutural baseia seu diagnstico da famlia na maneira como os membros da famlia respondem s perguntas, estabelecem regras e nas informaes obtidas a

    respeito do problema apresentado. Por exemplo, se o filho mais velho tenta responder a todas as perguntas do terapeuta, este pode comear a formular um mapa estrutural no

    qual esta criana aparece ocupando uma posio elevada na hierarquia. Isso mais tarde ser verificado pela observao da reao da criana quando o terapeuta contesta as

    regras no permitindo que a criana responda.

    4.5. Como Ocorre a Mudana

    A abordagem estratgica leva em considerao a teoria da mudana, cujas principais caractersticas levantadas por Stanton (1981) so as seguintes:

    a. A mudana teraputica se d por intermdio do processo interacional quando o terapeuta intervm ativamente e diretivamente.

    b. O terapeuta trabalha para incrementar novos padres de comportamento desestruturando o sistema familiar vicioso.

    c. O tratamento no ser considerado bem-sucedido se no houver mudana benfica no problema apresentado.

    O Grupo MRI contribuiu com o conceito de nveis e natureza da mudana. Ele identifica dois tipos de mudana.

    1. Mudana de primeira ordem o PI muda, mas o sistema no se altera. Ex.: O filho melhora na escola, mas uma filha comea a apresentar problemas escolares (em seu lugar). O sistema familiar no mudou (mudana isomrfica).

    2. Mudana de segunda ordem a mudana de um comportamento altera todo o sistema. Para (Haley, 1976) mais eficaz obter mudana iniciando-se o trabalho com o sintoma expresso pela famlia e estabelecen-do-se metas intermedirias, cuidando-se de "uma

    coisa de cada vez", ou seja, mantendo-se o foco no PI. Problemas de outros membros podem ser objeto de um segundo contrato, aps terminar a terapia do primeiro.

    19

    Para a terapia familiar estrutural, as mudanas na estrutura produzem mudanas no funcionamento. Esta concepo bsica repousa sobre a premissa de que todo

    funcionamento produto da estrutura do sistema no qual se origina, portanto, a expectativa de que o terapeuta intervenha nas transaes que se apresentam como

    manifestaes da estrutura geradora de problema, de tal maneira que o sistema internalize as mudanas estruturais e, em conseqncia, passe a funcionar diferentemente. A

    operao deve trazer consigo investimento suficiente por parte das pessoas do sistema ou tornar-se to investida por meio da aplicao tcnica que uma alterao na estrutura

    das transaes na operao reverbere profundamente nas estruturas geradoras de problema.

    4.6. Como Pensado o Papel do Terapeuta

    Para a terapia familiar sistmica, qualquer que seja sua abordagem, compete ao terapeuta controlar a sesso, de maneira suave e discreta. A terapia se desenvolve em fases

    com procedimentos especficos. Na fase inicial o terapeuta introduz o formato da terapia, coleta informaes que definam o problema, aventa hipteses sobre quais

    comportamentos o sustentam, toma conhecimento acerca dos desejos dos participantes e estabelece as metas do tratamento. Na fase intermediria, basicamente, concebe e

    conduz intervenes comportamentais especficas, especialmente aquelas destinadas a produzir mudana de segunda ordem (i.e., a mudana de um comportamento altera

    todo o sistema). Na fase final, o terapeuta lembra aos pacientes que o objetivo do tratamento era a mudana de comportamento que, espera-se, continue sendo ampliada. Para

    pacientes mais negativistas expressa pessimismo quanto a qualquer progresso futuro e ceticismo quanto permanncia do progresso j alcanado.

  • Os terapeutas estratgicos so pragmticos. Sua abordagem dirigida para provocar mudanas de comportamento, isto , alterar as seqncias repetitivas apresentadas,

    atravs de uma interveno e no provocando insight ou tomada de conscincia, pois estes, por um lado, no so necessrios para que as mudanas ocorram e, por outro,

    incrementam a resistncia. Para alterar as seqncias repetitivas apresentadas pela famlia no presente

    48

    necessrio uma interveno. Tornar a famlia consciente disso resulta no incremento de sua resistncia.

    Para obter a alterao das seqncias repetitivas que sustentam o sintoma utilizam-se a tarefa e a diretividade, porm tomando o cuidado de evitar o confronto, tratando o

    problema como a famlia o define para evitar a resistncia. O Grupo de Milo minimiza a resistncia pedindo a um membro da famlia que descreva a interao de outros

    dois. Desse modo estes no tm que defender suas aes. Quando h desacordo sobre o que um problema , a tendncia enfatizar o ponto de vista de um parente.

    A abordagem estratgica preconiza o envolvimento de todo o sistema afim (avs, escola, colegas de trabalho, etc.) de interesse para o tratamento, e no apenas da famlia

    imediata. Se julgar oportuno, o terapeuta pode decidir entrevistar indivduos, pais ou casais, porm, envolvendo no mnimo duas pessoas.

    Na entrevista so considerados os processos de unio, concorrncia e seqncia. Com os envolvidos no problema reunidos em uma sala, cria-se a oportunidade para que todos

    se unam no trabalho de seus relacionamentos com mtua conscincia, consentimento e esforo. A primeira sesso comea com um processo de unio.

    A prtica da terapia familiar estrutural caracterizada por uma ateno sobre o processo e pela atuao durante a sesso. A ateno no se volta necessariamente para o

    problema apontado pela famlia, mas para a seqncia comportamental. O importante identificar o subsistema que concorre mais fortemente para a manuteno do

    problema.

    O terapeuta estrutural observa os processos de transao isomrficos na estrutura familiar. Uma interao na sesso em que o pai admoesta o filho e recriminado pela

    esposa, que o critica por sua severidade, pode constituir um isomorfismo para a estrutura familiar na qual o pai desligado e a me envolvida com a criana. As informaes

    obtidas pelo terapeuta por meio do discurso da famlia so restringidas ao necessrio para recolocar o problema de maneira a facilitar a mudana de comportamento e soluo

    do problema. Superatividade descrita como desobedincia, depresso como preguia, enurese como comportamento infantil so algumas das recolocaes mais freqentes.

    Isso cria

    20

    uma 'realidade funcional' semelhante 'reestruturao' do problema da abordagem estratgica. Isso tanto muda o ponto de vista da famlia quanto indica as direes possveis

    para a ao.

    O objetivo dos terapeutas estruturais mudar o funcionamento dos subsistemas alterando as fronteiras e as hierarquias no interior da famlia. A mudana se d de duas

    maneiras: primeiro o terapeuta altera a composio dos subsistemas clarificando e refazendo as fronteiras. Em seguida, altera a hierarquia nos subsistemas mudando a posio

    dos membros. Isso alivia o indivduo de restries severas ao seu funcionamento. As mudanas ocorridas na sesso podem ser reforadas por tarefas no intervalo entre as

    sesses.

    O terapeuta estrutural deve ser capaz de manter um delicado equilbrio nos movimentos de unir-se e afastar-se da famlia enquanto desafia e muda seu modo de interao: ter

    a habilidade de criar intensidade, promover conflito, tomar o partido de uma pessoa contra outra e usar sua posio privilegiada para influenciar outras pessoas em direo a

    mudanas e manter uma certa distncia para evitar ser envolvido nas regras disfuncionais da famlia.

    Deve, ainda, ser capaz de dirigir a famlia para certas tarefas, ser atuante dentro e fora das coalizes, observar o processo das interaes espontneas ocorridas na sesso e

    direcionar a famlia para interaes mais 'funcionais', produzindo mudanas na famlia atravs da aliana, da avaliao da organizao estrutural do sistema familiar e do

    tratamento das disfunes.

    Ao estabelecer aliana com os membros da famlia no comeo de cada sesso o terapeuta tem o objetivo de estabelecer uma relao eficiente na famlia no menor espao de

    tempo possvel. Pode aliar-se com cada uma das pessoas ou manter uma atitude fechada, conversando mais tempo com um membro que parea estar diminudo na sesso.

    Para empregar esta habilidade com eficincia, o terapeuta deve contar com suas qualidades pessoais, tais como honra, empatia e espontaneidade.

    Durante o processo o terapeuta usa a linguagem da famlia e fica atento s oportunidades de criar uma 'realidade funcionar, uma nova maneira de ver o problema que permita

    a emergncia de novas solues. O sucesso em conseguir uma realidade funcional crucial, pois sem uma mudana na maneira como os mem-

  • 50

    bros da famlia vem o problema eles continuaro a acreditar que este imutvel.

    Ao apresentar uma maneira diferente de compreender o problema o terapeuta facilita aos membros da famlia manejarem com eficincia os problemas apresentados ou um

    problema afim surgido na sesso. Por exemplo, se o problema apresentado o molhar a cama por uma criana de 8 anos, a constelao de comportamentos 'infantis' pode

    incluir chupar o dedo. Para mobilizar a mudana o terapeuta ter mais facilidade em focar o chupar o dedo quando ele ocorre na sesso do que sobre o molhar a cama.

    Primeiro o terapeuta reafirma a responsabilidade usual da famlia sobre o comportamento. Depois intervm, introduzindo uma nova realidade e dirigindo os membros da

    famlia a responder de uma maneira diferente. Por exemplo, o comportamento de uma criana pode ser recolocado como 'desrespeitoso', e o terapeuta pode solicitar ao pai

    (ou me) desligado que lide com a criana durante a sesso. Os atos iniciais so desajeitados, mas melhoram medida que o terapeuta aumenta a intensidade da interao

    pai/criana, mantendo o foco sobre o comportamento 'desrespeitoso' da criana e apoiando a demanda por respeito que o pai manifesta.

    O terapeuta no permite que outros subsistemas intervenham. Isso se chama 'estabelecer fronteiras'.

    Para alterar a hierarquia de um subsistema, o terapeuta o desequilibra, aliando-se com uma pessoa e desafiando as regras que do sustentao ordem hierrquica.

    Consideremos, por exemplo, um casal assimtrico sendo que o marido detm a supremacia.

    Ambos acreditam que ela seja incompetente e necessite da proteo do marido. O terapeuta alia-se a ela conversando sobre algo em que ela competente. Esta aliana leva a esposa a colocar-se perante o marido de uma maneira mais igualitria. Isso coloca em cheque as regras de suas relaes. Tendo como guia as metas estruturais, o terapeuta encadeia as sesses de modo que haja uma continuidade do trabalho. A realidade funcional criada pela recolocao do

    comportamento mantida em cada sesso. Tarefas diretivas podem ser usadas

    21

    para manter as mudanas ocorridas na sesso.

    Se, por exemplo, uma sesso se desenvolveu em torno do envolvimento de um pai desligado do filho, pode-se incumbi-lo de tomar todas as decises relativas ao

    comportamento da criana durante a semana seguinte.

    Ao aproximar-se mais do filho, a comunicao entre eles certamente melhora.

    A terapia considerada concluda quando as metas forem alcanadas.

  • 52

    5. QUADRO COMPARATIVO

    Transcrevemos a seguir um quadro comparativo entre os procedimentos da abordagem estratgica (Palo Alto) e a abordagem estrutural elaborado por Casabianca e Hirsch

    (1979) p.27.

    QUADRO COMPARATIVO

    Palo Alto Estrutura)

    Foco de anlise Processo de interao Como se organizam:

    interdependncia e

    hierarquia

    Objeto de

    mudana

    Seqncias que

    mantm

    o problema

    Estrutura

    Foco de

    interveno

    Seguimento mais

    motivado para a

    mudana

    Subsistemas

    Local da mudana Fora da sesso Na sesso

    Intervenes

    Redefinies Diretivas

    Prescries (diretas ou

    paradoxais)

    Redefinies Aes

    Desequilbrio Diretivas

    ou prescries (diretas)

    Tipo de

    comunicao

    Verbal No-verbal (espao e

    movimento)

    Distribuio das

    sesses

    Dez no mximo

    (Geralmente uma por

    semana ou ou

    quinzena)

    Quantidade no

    especificada; espaadas

    entre si (trs ou mais

    semanas)

    22

    Foco de anlise. Diz respeito ao objetivo de cada um dos modelos. Ao Grupo de Palo Alto interessam os processos, as seqncias repetitivas de condutas que contem a

    disfuno. Busca localizar o comportamento que desencadeia a conduta-problema e quem a manifesta, bem como os comportamentos de quem a acompanha na tentativa de

    solucion-la. Trata-se de identificar o ciclo perpetuante.

  • Ao modelo estrutural interessa saber como esses processos se organizam em relao interdependncia e hierarquia: quem faz o que com quem e quem decide o que no

    sistema. O terapeuta procura conhecer as regras do sistema para construir o mapa estrutural.

    Objetivo da mudana. Diz respeito ao funcionamento do sistema que se quer modificar. Relaciona-se com a hiptese formulada pelo terapeuta sobre qual o 'verdadeiro'

    problema.

    O modelo de Palo Alto busca solucionar o problema modificando a seqncia de condutas que se reforam mutuamente, com a compreenso de que uma interao especfica

    deve ser mudada, no porque haja alguma maneira de determinar que seja disfuncional em si mesma, mas porque mantm o problema.

    Para o modelo estrutural o que importa modificar a organizao do sistema, o que implica modificar a relao dos diversos subsistemas, as regras que regem a

    interdependncia e a hierarquia.

    Foco de interveno. A quais membros do sistema o terapeuta dirigir suas intervenes.

    O Grupo de Palo Alto dirige-se aos membros que paream estar mais motivados para resolver o problema, baseando-se no pressuposto de que a mudana em um dos

    membros provocar mudanas nos demais com relao ao problema.

    O modelo estrutural procura mudar aspectos da organizao do sistema com cada um dos subsistemas.

    Local da mudana. Refere-se expectativa do terapeuta do lugar em que as mudanas ocorram. A abordagem estrutural preconiza mudanas na prpria sesso pressupondo

    que essas mudanas sero transferidas para o cotidiano da famlia.

    Intervenes. So as condutas do terapeuta planejadas especificamente para a obteno da mudana. Embora muitas intervenes sejam comuns aos vrios modelos, h

    algumas que so enfatizadas ou adequadas aos objetivos de cada modelo. Assim as

    54

    redefinies, para o Grupo de Palo Alto, so recursos que possibilitam extinguir condutas inoperantes com relao ao problema e, se for o caso, estimulam-se novas condutas

    por meio das prescries diretivas ou paradoxais, enquanto a abordagem estrutural intensifica as redefinies atravs da vivncia e experincia de diferentes condutas

    manifestas includas pelo terapeuta, tais como o desequilbrio e sugestes ou prescries de novas pautas

    organizacionais.

    Tipo de comunicao. Os terapeutas de Palo Alto privilegiam a comunicao verbal, tanto no sentido de centrar sua ateno quase exclusivamente no discurso da famlia,

    quanto no cuidado sobre o que e como dizer, ao fazer uma interveno enquanto os estruturais observam a maneira como a famlia se compe e como se movimenta (espacial

    e corporalmente) e utilizam suas prprias atitudes nas intervenes.

    Distribuio das sesses. Baseado na premissa do 'mnimo esforo para um mximo de mudana' em que o mximo significa o mnimo indispensvel para pr em ao uma

    seqncia benfica de novas interaes, o modelo de Palo Alto realiza no mximo dez sesses, distribudas semanalmente ou quinzenalmente, dependendo do tipo de

    prescrio que o terapeuta deseja usar e da flexibilidade dos pacientes. O conceito de Terapia Familiar Breve prende-se mais a este modelo. A abordagem estrutural no

    especifica limite no nmero de sesses. Este depende da capacidade do terapeuta e da famlia em obter progresso na interao mtua concreta. As mudanas no problema

    devem aparecer no contexto teraputico e ser reconfirmadas nos contextos habituais da famlia.

    CAPTULO II PROCEDIMENTOS TCNICOS

    Nesta seo apresentamos as bases tericas que nortearam a preparao dos estagirios para o atendimento s famlias, pois a preparao do terapeuta pressupe

    conhecimento terico, prtica e o domnio de tcnicas. O aprendizado se d pela prtica sob a superviso de um terapeuta experiente.

    Com relao teoria e prtica diz Haley (1976), em Psicoterapia Familiar, p.169: "O tipo de terapia enfatizado neste livro no pode ser aprendido apenas lendo-se sobre ela,

    ou ou-vindo-se conferncias, ou ainda, discutindo-se a seu respeito. Ela no pode nem mesmo ser aprendida observando-se outras pessoas faz-la, ainda que a observao

    seja valiosa em certos momentos de treinamento. A terapia encontro pessoal, e o terapeuta somente pode aprender a faz-la, fazendo-a. Todas as outras atividades de

    treinamento so perifricas, se no irrelevantes. Idealmente, ele aprende a fazer terapia fazendo-a enquanto ao mesmo tempo orientado, por um supervisor, no momento em

    que a terapia est tendo lugar ".

    Portanto, os terapeutas devem ser estimulados a adquirir conhecimentos tericos e tcnicos, ficando claro que o mero conhecimento das tcnicas no faz de ningum um bom

    terapeuta; necessrio que ele desenvolva certas habilidades. A teoria versa sobre as estruturas dos sistemas sociais e as formas pelas quais essas estruturas operam no

  • indivduo,