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TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DO SETOR CALÇADISTA: UMA ANÁLISE DAS BANCAS DE PESPONTO Matheus Rodrigues Corsi (Unifran ) [email protected] Silvana Salomao (Unifran ) [email protected] Luis Fernando Paulista Cotian (Unifran ) [email protected] Adriana Borges Souza (Unifran ) [email protected] Leocio Marquezini de Paula (Unifran ) [email protected] Este trabalho teve por objetivo analisar a terceirização das bancas de pesponto na indústria calçadista de Franca/SP. A atração pela terceirização é defendida pela redução de custos, aumento de eficiência, maior competitividade e maior quallidade para as organizações como um todo, no entanto, não se tem um estudo claro no qual são explorados os motivos e as formas com que as empresas do setor calçadista tomam a decisão de terceirizar a etapa do pesponto. Esse foi o questionamento que deu origem a este trabalho e junto a isso, o trabalho teve por objetivo apontar para essa etapa específica as vantagens e desvantagens da terceirização na prática. A opção metodológica foi a do estudo de 6 casos, escolhidos intencionalmente sem intenção de generalizações. Como resultados, destaca-se que duas das empresas entrevistadas alegam como vantagem a possibilidade de diversificação dos produtos, agilidade no processo produtivo e redução de custos; e duas apontam a redução de custos. Como desvantagens duas apontam custos gerados pela baixa qualidade dos produtos e atrasos na entrega; e 3 indicam problemas com a qualidade dos produtos. Palavras-chaves: Terceirização; Bancas de Pesponto; Indústria Calçadista XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DO

SETOR CALÇADISTA: UMA ANÁLISE

DAS BANCAS DE PESPONTO

Matheus Rodrigues Corsi (Unifran )

[email protected]

Silvana Salomao (Unifran )

[email protected]

Luis Fernando Paulista Cotian (Unifran )

[email protected]

Adriana Borges Souza (Unifran )

[email protected]

Leocio Marquezini de Paula (Unifran )

[email protected]

Este trabalho teve por objetivo analisar a terceirização das bancas de

pesponto na indústria calçadista de Franca/SP. A atração pela

terceirização é defendida pela redução de custos, aumento de

eficiência, maior competitividade e maior quallidade para as

organizações como um todo, no entanto, não se tem um estudo claro no

qual são explorados os motivos e as formas com que as empresas do

setor calçadista tomam a decisão de terceirizar a etapa do pesponto.

Esse foi o questionamento que deu origem a este trabalho e junto a

isso, o trabalho teve por objetivo apontar para essa etapa específica as

vantagens e desvantagens da terceirização na prática. A opção

metodológica foi a do estudo de 6 casos, escolhidos intencionalmente

sem intenção de generalizações. Como resultados, destaca-se que duas

das empresas entrevistadas alegam como vantagem a possibilidade de

diversificação dos produtos, agilidade no processo produtivo e

redução de custos; e duas apontam a redução de custos. Como

desvantagens duas apontam custos gerados pela baixa qualidade dos

produtos e atrasos na entrega; e 3 indicam problemas com a qualidade

dos produtos.

Palavras-chaves: Terceirização; Bancas de Pesponto; Indústria

Calçadista

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1. Introdução

Nas décadas de 1960 e 1970 os modelos econômicos começaram a mudar diante de novas

demandas do capitalismo. Os sindicatos começaram a se fortalecer e os funcionários a

reivindicar maiores benefícios. As empresas estavam preparadas para períodos de

crescimento, porém, para os períodos em recessão depararam-se com dificuldades. Empresas

dos países industrializados optaram pela diminuição, ou enxugamento, de suas estruturas

produtivas. Neste enxugamento houve redução dos níveis hierárquicos, redivisão de

departamentos, eliminação de atividades consideradas desnecessárias e externalização de

atividades, neste trabalho definida como terceirização.

No Brasil, esse processo de terceirização deu-se a partir da década de 1990, com empresas do

setor privado e público terceirizando etapas envolvendo desde os serviços gerais até as fases

mais importantes de produção e comercialização. No que tange à indústria calçadista, segundo

Instituto de Estudos e Marketing Industrial (2011), no polo de Franca-SP e região, a maior

incidência de terceirização é na atividade de pesponto, alcançando o índice de 65,5%.

Dentro deste universo este trabalho tem como objetivo analisar a terceirização da etapa do

pesponto em 6 empresas produtoras de calçados de Franca-SP, buscando conhecer os motivos

da adesão destas empresas ao processo de terceirização, bem como as suas principais

vantagens e desvantagens.

Como hipótese acredita-se que essas empresas adquirem vantagens como redução de custos e

melhoria da qualidade de seus produtos elaborados pelas empresas terceirizadas.

Esta pesquisa é de cunho bibliográfico dedutivo e utilizará como método de pesquisa o estudo

de multi caso com abordagem combinada. Os métodos de coleta de dados utilizados serão

observações em visitas nas empresas e um questionário aplicado junto aos responsáveis pela

contratação das empresas terceirizadas.

O trabalho está estruturado em cinco seções. A primeira destaca a origem da terceirização; os

aspectos determinantes para a adoção da terceirização pelas empresas nacionais; e o setor

calçadista brasileiro, com ênfase nas bancas de pesponto do polo francano, objeto deste

estudo. A segunda seção apresenta a metodologia utilizada para a realização do estudo e

caracteriza as empresas entrevistadas. Na seção 3 são apresentadas as análises, bem como o

confronto dos dados levantados com a literatura. Por fim, apresenta as conclusões e

referências.

Como contribuição científica, espera-se viabilizar o confronto de aspectos teóricos

relacionados à temática terceirização com a realidade enfrentada pelas seis empresas

estudadas.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Terceirização

No Brasil, a partir dos anos 2000 a economia do país iniciou um lento processo de

recuperação com taxas de crescimento positivas. Nos últimos anos a terceirização tem tomado

proporções gigantescas no Brasil e sua abrangência se expande constantemente por novos

setores e serviços. (DIEESE, 2007).

Amado Neto (1995) define terceirização como o processo pelo qual uma determinada

empresa deixa de realizar uma ou várias etapas produtivas e as repassa para trabalhadores

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diretamente contratados em outras empresas. Nesse processo a empresa que contrata é

chamada empresa-mãe ou contratante e a que realiza a etapa proposta, empresa terceira ou

contratada.

A terceirização constitui-se de um processo de transferência de funções de uma empresa para

outras terceiras, sendo que estas funções podem incluir desde etapas do próprio processo

produtivo daquela até atividades de apoio, tais como serviços de limpeza e manutenção

predial, preparação e distribuição de alimentos para os funcionários da empresa, telefonia,

vigilância, movimentação de materiais e expedição de produtos finais, dentre outras. A

empresa contratante pode também deixar de produzir alguns produtos e comprá-los de outra

empresa. Todo esse processo que abrange a tomada de decisão, por parte da empresa

contratante, de desativar uma ou um conjunto de atividades até a realização de contrato com

terceiros, é compreendido como terceirização. (DIEESE, 2012; RACHID, 2000).

Para SEBRAE (2004), terceirização dá-se pela contratação de uma empresa de serviços

realizados por pessoa física (profissionais autônomos) ou jurídica (empresas especializadas),

para realizar determinados serviços de que necessite, desde que não relacionados às suas

atividades-fim, isto é, suas principais atividades, descritas na cláusula objeto do contrato

social das empresas. Entretanto, é notório casos de empresas que só se ocupam com o

desenvolvimento dos produtos ou sua comercialização, deixando a cargo das empresas

terceiras todas as etapas produtivas.

Além disso, SEBRAE (2003, 2004) também destaca que a terceirização não pode conter

elementos caracterizadores da relação de emprego, ou seja, não apresentar entre empresa

contratante e contratada relação de subordinação, habitualidade, horário, pessoalidade e

salário.

O processo de terceirização tem suas características padrão e se apresenta usual em diversas

áreas, tanto da produção de bens quanto de serviços. Como exemplos DIEESE (2012) destaca

o setor público, o setor financeiro, o setor elétrico, o setor químico, o setor de construção civil

e as atividades de logística nas organizações. (DIEESE, 2012). No que tange à indústria

calçadista, o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (2011) aponta que no polo de Franca-

SP e região, a terceirização é usada em várias etapas, destacando-se na atividade de pesponto,

com o índice de 65,5% realizado pelas empresas terceiras.

2.2. Fatores determinantes para a terceirização pelas indústrias nacionais

Cerutti et al. (2003), DIEESE (2007) e SEBRAE (2004) apontam que um dos fatores

motivadores para a terceirização é a forte pressão para o aumento das margens de lucro e a

diminuição dos custos da empresa. Os autores lembram que atualmente existem muitos

recursos humanos especializados, aptos e com baixo custo, disponíveis no mercado, o que

proporciona redução nos custos, aumento na qualidade, redução no tempo de produção e

possibilidade de lançamentos de novos produtos, pois com a mão de obra especializada sendo

terceirizada, a flexibilidade de produzir novos produtos aumenta. Além disso, os autores

lembram que com a terceirização há uma economia em se tratando dos custos fixos para a

empresa.

Outros pontos de destaque por empresários, descrito na pesquisa de DIEESE (2007), são o

aumento da eficiência; a facilidade de gestão, com a redução de etapas a serem gerenciadas

dentro da empresa-mãe; a maleabilidade em momentos de crise, pois é mais fácil cancelar a

atividade terceirizada do que realizar dimensionamentos na produção; a redução de custos; o

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maior controle da qualidade; maior participação dos dirigentes nas atividades-fim da empresa

e concentração dos talentos no negócio principal da empresa.

Segundo a CNI (2009), na terceirização, busca-se a melhoria da qualidade, maior acesso à

tecnologia e a redução de custos. A Figura 1 apresenta o percentual dos fatores que mais

motivam a terceirização.

Figura 1 – Grau de importância para a decisão de terceirizar

Fonte: Criada pelos autores a partir de CNI (2009)

A partir desta pesquisa, observa-se que a redução dos custos por meio da terceirização é mais

relevante para os setores de material eletrônico (90%) e de comunicação e borracha (71%).

Com relação ao aumento da qualidade de serviços, os setores que mais a percebem são os de

equipamentos hospitalares e de precisão (50%) e de equipamentos de transporte (50%). No

uso de novas tecnologias, os setores em destaque são os farmacêuticos (38%) e equipamentos

hospitalares (36%).

CNI (2009) propõe nove categorias de problemas em potencial com a utilização de serviços

terceirizados. A maior incidência de problemas recai sobre 3 questões, a saber, a qualidade

menor que a esperada (58%), custos maiores que o esperado (48%) e insegurança jurídica

com possíveis passivos trabalhistas (47%).

Diante deste levantamento, CNI (2009) aponta que para os próximos anos pode-se esperar

uma pequena redução no uso da terceirização de serviços, contudo, 17% dos setores

pretendem aumentar o uso de serviços terceirizados.

Nesta direção Luna (2006) afirma que cada vez mais um maior número de aspectos é

necessário para a tomada de decisão do processo de terceirização, principalmente nos casos

em que se justificam uma análise estruturada e mais acurada do seu impacto sobre a

organização.

2.3. O Setor Calçadista Brasileiro

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No Brasil, em 2010, foram produzidos 893,9 milhões de pares de calçados, representando

12,34 bilhões de dólares. Para essa produção foram empregadas 348,7 mil pessoas de forma

direta ou indireta, caracterizando um dos setores que mais gerou trabalho e renda no Brasil.

(ABICALÇADOS, 2011). A justificativa para esse expressivo número é observada em

Prochnik et al. (2005) que destaca este setor com predominância da atividade artesanal e,

portanto, uso intensivo de mão de obra. Somada a esta característica, ABICALÇADOS (2011)

aponta que o consumo nacional de calçados, no mesmo período, correspondeu a 4,1

pares/habitante, maior que no ano de 2009 com consumo de 3,7 pares/habitante.

O setor calçadista brasileiro apresenta-se altamente diversificado. Sua composição contempla

calçados esportivos, em couro, em plástico e borracha, além de outros materiais. Em 2010,

suas exportações corresponderam a 1,487 bilhões de dólares, colocando o Brasil como o

terceiro maior produtor mundial de calçados e o oitavo maior exportador. Regionalmente, os

maiores destaques nacionais são o Vale do Sino-RS, Franca-SP, Nova Serana-MG, Jaú-SP,

Birigui-SP e a regição Nordeste. (ABICALÇADOS, 2011).

Apesar destes números animadores ABICALÇADOS (2012) mostra que o Brasil importou

40,4% a mais de calçados em 2011 em relação a 2010. Os baixos custos dos calçados

asiáticos justificam este dado. Nesse sentido, Prochnik et al. (2005) afirma que é mister

analisar os desafios deste setor, que em uma tentativa de adotar estratégias competitivas

apostam na terceirização de etapas produtivas, bem como na transferência de suas plantas

industriais para estados nacionais onde é abundante a mão de obra e os custos mais baixos.

A indústria calçadista de Franca-SP apresenta estrutura produtiva de um cluster e suas

empresas são divididas em produtoras de calçados, artefatos de couro, artigos de viajem e

prestadoras de serviços. Para Carloni et al. (2007) os segmentos produtivos de maior acuidade

nesta indústria é o processamento do couro e a confecção do calçado.

Yoshino (2008) mostra que o processo de confecção do calçado normalmente é dividido em

cinco grandes fases, a saber: corte, preparação, pesponto, montagem e acabamento. Em

concordância com Prochnik et al. (2005) o autor ressalta que a produção é, em sua maioria

artesanal, o que agrega maior valor ao produto. A Figura 2 mostra as etapas principais para a

fabricação de calçados.

Figura 2 – Etapas da produção de calçados

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Fonte: Autores

Segundo Gorini; Correa; Silva (2000), nas empresas produtoras de Franca, a terceirização da

etapa de pesponto, caracterizada pela presença das chamadas bancas de pesponto, está ligada

aos baixos investimentos em capital fixo necessários para o estabelecimento dos pequenos

produtores. A etapa do pesponto possui um forte caráter artesanal e exige a disponibilidade de

poucas máquinas, que podem ser encontradas, já usadas, a um preço reduzido no mercado.

Como resultado, tem-se uma estrutura em que praticamente inexistem barreiras à entrada,

permitindo que alguns ex-operários da indústria calçadista estabeleçam uma atividade

autônoma, vendendo seus serviços para as empresas de maior porte.

3. Método de Pesquisa

O estudo multicasos foi realizado no período de Abril de 2012 a Setembro de 2012 o qual

abordou seis empresas do setor calçadista de Franca-SP, escolhidas intencionalmente devido

ao seu posicionamento no mercado. Neste trabalho são denominadas como empresa A, B, C,

D, E e F.

Após a seleção das empresas, elaborou-se um questionário (anexo) contendo questões

referentes à caracterização das empresas, quanto à capacidade produtiva, mercado interno e

externo; perfil dos clientes; existência de terceirização das etapas produtivas; caracterização

da terceirização da etapa de pesponto; bancas de pesponto; vantagens e desvantagens

alcançadas com a terceirização; ações para correção dos erros vinculados à terceirização; e

intenções e barreiras de interromper a terceirização da referida etapa.

Em 4 empresas o questionário foi respondido, durante uma entrevista com os responsáveis

pela produção. Nas duas outras empresas o questionário foi encaminhamento via email,

respondido pelo responsável e devolvido também por email.

Na análise dos dados, o artigo usou como variáveis de análise as questões aplicadas nas

empresas e, em seguida, sua verificação percentual.

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4. Análise dos dados

Este tópico apresenta análises referentes às questões da pesquisa. O quadro 1, em

anexo,apresenta uma síntese dos questionários aplicados às 6 empresas entrevistadas.

A tabela 1 destaca as principais características das empresas entrevistadas.

Tabela 1: Caracterização da empresa e seu mercado

Fonte: Autores

No início das entrevistas uma das questões aborda a opinião das empresas questionando quais

são as maiores exigências dos clientes atualmente. Cinco empresas (A, C, D, E e F),

totalizando 83% da amostra, apontam o custo como maior exigência dos clientes; quatro

empresas (B, C, E e F), 66%, apontam a qualidade; e duas delas (C e E), 33%, apontam a

pontualidade nas entregas.

Com relação à terceirização de serviços, 83% das empresas responderam que terceirizam os

processos de pesponto, string (montagem), viés e chanfração (ambos na preparação). As

empresas B, C, D, E e F responderam que terceirizam todo processo de pesponto ou parte

dele, o que significa que 83% tem seu processo de pesponto terceirizado. Quanto aos

processos de string e viés, é terceirizado apenas pela empresa B (16%); e o processo de

chanfração, terceirizado apenas pela empresa C (16%).

A empresa A possui o pesponto todo interno, o que representa 16% da amostra desta pesquisa.

Das 5 empresas que terceirizam a etapa do pesponto, 4 delas (B, C, D e E) o fazem desde a

fundação da empresa, o que representa 80%; já a empresa F, 20%, iniciou a terceirização 10

anos após a sua fundação, visto que a capacidade física da mesma se tornara pequena

mediante ao aumento da demanda.

Dentre as empresas entrevistadas notam-se vários fatores relacionados às vantagens da

terceirização. Para as empresas C e D, 40%, que possuem grande variedade de modelos,

existem na terceirização do pesponto agilidade na adoção de novos modelos; a empresa D

(20%) mostra que as bancas são mais ágeis e possuem custos menores. Já as empresas E e F

(40%) mostram que o custo é uma das principais vantagens com a terceirização do pesponto e

Nome da Empresa A B C D E F

Entrevistados Gerente de produção Gerente de Produção

Diretor Geral

(Proprietário) e

Gerente de Produção

Gerente de ProduçãoGerente de Produção e

EstagiárioPlanejador da Produção

Ano da Fundação 1977 1977 1992 1997 1986 1995

Capacidade Instalada 8000 pares 1800 pares 4000 pares 1000 pares 6000 pares 2500

Produção Atual 2800 pares 1200 pares 3000 pares 1000 pares 2700 pares 1300

N° de Funcionários 450 114 510 75 460 150

Portfólio de Produtos Calçados em SintéticoCalçados Masculinos e

Femininos

Calçados Adventure

(Couro)

Calçados infantis

masculinos e femininos

Calçados esportivos e

sapato masculino

Calçados Masculinos

(20%) e Femininos (80%)

Exportação Não 10% para Europa NãoEUA, países do Mercosul

e EuropaEUA (30%)

Vietnan e América do

Sul

Mercado Interno 100% 90% 100% Sim 70% 90%

Maiores Exigências dos Clientes Custo QualidadePontualidade, Custo e

QualidadeCusto

Custo, qualidade e

Pontualidade nas

entregas

Qualidade e Custo

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a empresa F ainda reforça que não existe a necessidade de investimentos com maquinários e

instalações físicas.

As desvantagens e problemas existentes com a terceirização também foram abordados, 40%

das empresas apontam o custo como a principal desvantagem, 60% destacam a qualidade

como principal desvantagem do processo de terceirização e 20% mostram que existem atrasos

no retorno dos produtos para a empresa-mãe.

A empresa A internalizou o pesponto pela necessidade de redução de custos. Segundo esta

empresa, com a terceirização é necessário oferecer lucro às bancas, o que corresponde a

aumentos de até 60%; além disso, a empresa mostra que com a terceirização há um aumento

no lead time mesmo com datas impostas para entrega, podendo assim as bancas não cumprir

os contratos de entrega. A empresa B, apesar de terceirizar, não vê vantagens com a

terceirização do pesponto alegando que o custo mínimo empata com o custo interno e que os

problemas relacionados à qualidade dos produtos terceirizados acarretam aumento dos custos.

A falta de segurança e de confiabilidade também são pontos de desvantagem além de

existirem perdas com retrabalho. A empresa B alega que não há como controlar o trabalho das

bancas e ainda aponta que elas fazem uso de mão de obra infantil. A empresa C alega ter

responsabilidade sobre a gestão dos recursos humanos utilizados nas bancas, portanto,

responsável pelos casos de demissões e contratações.

Quanto à localização das prestadoras de serviços, as empresas B, D, E e F, 80%, apontam que

as empresas terceiras são apenas da cidade de Franca; a empresa C, 20%, apresenta 60% das

empresas prestadoras na cidade de Franca e 40% na região do sul de Minas Gerais.

Com relação à existência de pesponto interno nas empresas que terceirizam, 80%

responderam que possuem. A empresa B, 20%, utiliza o pesponto interno para consertos e

confecção de amostras. A empresa C e F, 40%, produzem 60% do seu pesponto internamente.

A empresa E, 20%, utiliza o pesponto interno para elaboração de custos de mão de obra.

Quando questionadas sobre a possibilidade de internalizar todo o processo de pesponto as

empresas B e F, 40%, destacaram que já existe o projeto de internalizar todo pesponto visando

aumento da qualidade. As empresas C, D e E, 60%, destacam a necessidade de grandes

investimentos em layout, instalações, maquinários e qualificação dos recursos humanos,

inviabilizando o projeto.

5. Conclusão

A partir da elaboração desta pesquisa, percebeu-se que o processo de terceirização é fruto de

uma demanda de reestruturação produtiva ocorrida a partir da década de 1970 nos países

desenvolvidos e desde 1990 no Brasil. Com relação aos casos estudados, a terceirização da

etapa de pesponto é utilizada por 83% da amostra estudada desde o final da década de 1980.

Percebeu-se a partir da revisão bibliográfica que a maior intenção das empresas na adoção do

processo de terceirização é a diminuição de custos. Neste sentido, pode-se observar que esta

redução baseia-se no perfil das bancas de pesponto, com jornadas de trabalho maiores do que

o estipulado pelas leis trabalhistas, quadro de funcionários familiar e, na maioria das vezes,

sem direitos trabalhistas.

O perfil do mercado de trabalho de Franca tem uma predisposição para terceirização, como

relata Gorini, Correa e Silva (2000), o qual mostra que a etapa do pesponto possui um forte

caráter artesanal e exige a disponibilidade de poucas máquinas, que podem ser encontradas a

um preço extremamente reduzido no mercado de segunda mão.

Com relação ao estudo dos casos, alguns aspectos levantados por DIEESE (2007), Cerutti et

al. (2003) e SEBRAE (2004) referentes aos fatores motivacionais na busca de processos de

terceirização não foram percebidos. Com relação ao aumento na qualidade do produto, este

não foi percebido pelas empresas B, C e F (60%). A redução no tempo de produção não foi

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percebida pelas empresas B e F (40%). Os autores evidenciam o aumento da eficiência

relacionada à produtividade, sendo que esta não foi percebida pelas empresas B e F (40%); e a

redução de custos que é um dos maiores alvos da terceirização não foi percebida pelas

empresas B e E (40%).

Quanto aos aspectos relacionados às vantagens, a amostra da pesquisa aponta 40% das

empresas (C e D) destacando a variedade de produtos e 60% (C, D e E) a economia de custos

fixos como instalações, maquinários e afins.

A CNI (2009) apresenta problemas em potencial com a utilização de serviços terceirizados. A

qualidade menor que a esperada (58%) foi percebida pelas empresas B, C e F (60%) entre

empresas estudadas que terceirizam a etapa de pesponto; o custo maior que o esperado (48%)

foi diagnosticado pelas empresas B e E (40%); já a insegurança jurídica com possíveis

passivos trabalhistas (47%), só foi percebida pela empresa C, 16%, que se sente responsável

pelos funcionários das bancas de forma indireta.

Com relação à hipótese proposta, é importante pontuar que esta foi comprovada parcialmente,

pois, 58% das empresas questionadas não atingem suas metas com relação à qualidade

estipulada; e 48% têm seus custos com a terceirização maiores que o planejado.

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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

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ANEXO

Quadro 1: Síntese dos questionários respondidos pelas 6 empresas entrevistadas

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