Terra Livre 35
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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL
BOLETIM Nº 35 AGOSTO DE 2011
Crise Terminal do Capitalismo
Touradas artísticas. Tortura é arte?
João Anglin e a Protecção dos animais
AÇORES LIVRES DE TRANGÉNICOS
2
Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia
na direcção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o
que está ocorrendo. A capacidade de o capitalismo adaptar-se a qualquer circunstância chegou
ao fim.
Leonardo Boff
Tenho sustentado que a crise atual do
capitalismo é mais que conjuntural e
estrutural. É terminal. Chegou ao fim o
gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a
qualquer circunstância. Estou consciente de
que são poucos que representam esta tese.
No entanto, duas razões me levam a esta
interpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal
porque todos nós, mas particularmente, o
capitalismo, encostamos nos limites da
Terra. Ocupamos, depredando, todo o
planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e
exaurindo excessivamente seus bens e
serviços a ponto de ele não conseguir,
sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já
nos meados do século XIX Karl Marx
escreveu profeticamente que a tendência do
capital ia na direção de destruir as duas
fontes de sua riqueza e reprodução: a
natureza e o trabalho. É o que está
ocorrendo.
A natureza, efetivamente, se encontra sob
grave estresse, como nunca esteve antes,
pelo menos no último século, abstraindo
das 15 grandes dizimações que conheceu
em sua história de mais de quatro bilhões de
anos. Os eventos extremos verificáveis em
todas as regiões e as mudanças climáticas
tendendo a um crescente aquecimento
global falam em favor da tese de Marx.
Como o capitalismo vai se reproduzir sem a
natureza? Deu com a cara num limite
intransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado
ou prescindido. Há grande desenvolvimento
sem trabalho. O aparelho produtivo
informatizado e robotizado produz mais e
melhor, com quase nenhum trabalho. A
consequência directa é o desemprego
estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no
mundo do trabalho, sequer no exército de
reserva. O trabalho, da dependência do
capital, passou à prescindência. Na Espanha
o desemprego atinge 20% no geral e 40% e
entre os jovens. Em Portugal 12% no país e
30% entre os jovens. Isso significa grave
crise social, assolando neste momento a
Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em
nome de uma economia, feita não para
atender as demandas humanas, mas para
pagar a dívida com bancos e com o sistema
financeiro. Marx tem razão: o trabalho
explorado já não é mais fonte de riqueza. É
a máquina.
A segunda razão está ligada à crise
humanitária que o capitalismo está gerando.
CRISE TERMINAL DO CAPITALISMO
3
Antes se restringia aos países periféricos.
Hoje é global e atingiu os países centrais.
Não se pode resolver a questão econômica
desmontando a sociedade. As vítimas,
entrelaças por novas avenidas de
comunicação, resistem, se rebelam e
ameaçam a ordem vigente. Mais e mais
pessoas, especialmente jovens, não estão
aceitando a lógica perversa da economia
política capitalista: a ditadura das finanças
que via mercado submete os Estados aos
seus interesses e o rentismo dos capitais
especulativos que circulam de bolsas em
bolsas, auferindo ganhos sem produzir
absolutamente nada a não ser mais dinheiro
para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que
criou o veneno que o pode matar: ao exigir
dos trabalhadores uma formação técnica
cada vez mais aprimorada para estar à
altura do crescimento acelerado e de maior
competitividade, involuntariamente criou
pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão
descobrindo a perversidade do sistema que
esfola as pessoas em nome da acumulação
meramente material, que se mostra sem
coração ao exigir mais e mais eficiência a
ponto de levar os trabalhadores ao estresse
profundo, ao desespero e, não raro, ao
suicídio, como ocorre em vários países e
também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes,
os “indignados” que enchem as praças de
Espanha e da Grécia são manifestação de
revolta contra o sistema político vigente a
reboque do mercado e da lógica do capital.
Os jovens espanhóis gritam: “não é crise, é
ladroagem”. Os ladrões estão refastelados
em Wall Street, no FMI e no Banco Central
Europeu, quer dizer, são os
sumossacerdotes do capital globalizado e
explorador.
Ao agravar-se a crise, crescerão as
multidões, pelo mundo afora, que não
aguentam mais as consequências da
superexploracão de suas vidas e da vida da
Terra e se rebelam contra este sistema
econômico que faz o que bem entende e que
agora agoniza, não por envelhecimento,
mas por força do veneno e das contradições
que criou, castigando a Mãe Terra e
penalizando a vida de seus filhos e filhas.
Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/co
lunaMostrar.cfm?coluna_id=5104&boletim
_id=949&componente_id=15346
4
Não, nunca deveria ser, se é que nos
considerámos evoluídos.
Que evolução existe, se na prática não se
aprende com os conhecimentos que se vão
adquirindo?
No caso do uso dos animais para nosso
usufruto já sabemos que são seres
sencientes, o que se traduz em possuírem
sistemas nervosos muito semelhantes ao do
ser humano, que possuem os mesmos cinco
sentidos e que alguns desses sentidos até
serão mais desenvolvidos. Significa que
tem capacidade de sentir tudo o que o ser
humano sentiria exposto as mesmas
condições. Cientistas dizem que a
senciência animal poder-se-á comparar à de
uma criança pequena relativamente a de um
adulto. Portanto, é em grau, não em género.
Este é o nosso conhecimento actual. E o
que fazemos com ele? Não o aplicamos. Ou
melhor, aplicamos somente nos casos que
nos interessam. Aplicamos, por exemplo, e
dependendo da evolução da pessoa, aos
animais de estimação. Aos outros, os
animais que exploramos para nosso
usufruto, é como se não existissem estes
estudos, este conhecimento. Onde esta a
coerência?
Uma sociedade incoerente não se aplica a
uma sociedade que se diz evoluída. Em toda
a nossa história de evolução, foi sempre
necessário que alguns de nós nos
obrigassem a ver a tal incoerência. Em
exemplos muito simples, foi o caso das
pessoas de raça negra não serem
consideradas seres humanos e por isso
automaticamente serem escravizados, das
mulheres serem propriedade dos homens,
dos homossexuais serem considerados
doentes mentais e muitos mais exemplos
poderiam se dar. Todos estes seres, foram
considerados inferiores não há muito
tempo.
Em todos estes casos, para evoluirmos e
nos tornarmos mais "humanos", foi
necessário fazer-se uso do conhecimento,
pensamento e empatia para chegarmos
aonde estamos. Sobre este ponto de vista,
existem ainda países em que essa evolução
A PROPÓSITO DE TOURADAS ARTÍSTICAS. TORTURA É ARTE?
5
não chegou. São considerados bárbaros,
selvagens e atrasados, por nós, as
sociedades desenvolvidas.
Será que o grau de desenvolvimento se
traduz só em tecnologia?
Quanto ao texto "A natureza artística das
touradas", em primeira análise vemos que o
que é considerado artístico se mede em
dinheiro empregue e multiplicado. Tudo o
que é popular, neste caso, não é artístico. A
quem estas denominações e adjectivos
interessam?
Com certeza que não é a maioria do povo e
aqui está outra incongruência, para não se
falar em total falta de democracia.
E o povo tem que saber o desprezo que lhe
é votado por interesses e leis que só
beneficiam quem possui riqueza. Em que a
importância das pessoas se mede através do
seu grau de riqueza.
E é aqui que reside a "arte" que é
apregoada.
A violência, a tortura, o derramamento de
sangue, não deveria caber numa sociedade
que se diz evoluída, como é lógico.
Tudo isto contribui, de grande maneira,
para que se continue a perpetuar a injustiça
e barbaridade entre toda a vida deste
planeta.
É por isto, que ainda estamos onde estamos,
é por isto, que ainda existem guerras onde
os milhões que morrem são os mais
"pequenos".
Está tudo interligado...
Ana Teresa
6
Na segunda década do século passado,
surgiram, nos Açores, as primeiras
associações de protecção dos animais. Com
efeito, em Maio de 1911, foi criada, na ilha
Terceira, a SPAAH - Sociedade Protectora
dos Animais de Angra do Heroísmo,
instituição que tinha por fim “proteger dos
maus tratos todos os animais não
considerados daninhos… e animar o
exercício da caridade para com os animais,
estabelecendo para isso prémios e
recompensas sempre que permitam os
recursos da sociedade” e, em Setembro de
1911, foi legalizada a Sociedade
Micaelense Protectora dos Animais.
No que diz respeito à Sociedade Micaelense
Protectora dos Animais, sabe-se que os seus
estatutos foram elaborados por Maria
Evelina de Sousa e que a sua grande
dinamizadora foi, entre 1914 e 1945, Alice
Moderno.
O que é quase desconhecido foi o papel
desempenhado pelo Jornal Vida Nova,
“órgão do operariado micaelense”,
periódico que se publicou em Ponta
Delgada, entre 1908 e 1912, através do seu
jovem colaborador João H. Anglin.
João Anglin, que durante muitos anos
exerceu o cargo de reitor do Liceu Antero
de Quental, foi um dos pioneiros, nos
Açores, na chamada de atenção para os
maus tratos infligidos aos animais
domésticos, nomeadamente aos animais de
tiro (bois, cavalos e burros). Na época,
como se pode ver através dos estatutos da
SPAAH, eram considerados maus tratos os
seguintes:
1- Ferir, espancar, aguilhoar
violentamente e usar de
violências reprovadas para com
os animais;
2- Oprimi-los com trabalho ou
cargas superiores às suas forças;
3- Privá-los de alimentação e dos
cuidados ordinários quer na
saúde quer na doença;
4- Expô-los ao frio ou ao calor
excessivo, sem reconhecida
necessidade;
5- Fazer trabalhar os animais
feridos, estropiados ou aleijados
e pôr os arreios sobre as feridas;
6- Obrigá-los a uma fadiga
excessiva sem o indispensável
descanso;
7- Fazê-los levantar do chão à força
de pancadas, quando caem
extenuados pelo peso da carga;
JOÃO ANGLIN E A PROTECÇÃO DOS ANIMAIS
7
8- Abandoná-los quando
estropiados ou doentes;
9- Abatê-los por meios que não
produzem a morte instantânea.
Dada a actualidade do teor de um texto de
João Anglin, datado de 15 de Agosto de
1910, abaixo transcrevemos um longo
excerto:
Uma das mais manifestas provas da
ignorância do nosso povo é a feroz
brutalidade que usa com os pobres
animais que na maioria dos casos lhe
são um valioso auxílio na luta
quotidiana pela vida.
Esses repugnantes espectáculos que
diariamente se repetem nas ruas desta
cidade nada atestam a favor da nossa
boa terra, antes a desconceituam aos
olhos dos estrangeiros que nos visitam
os quais nos terão na conta de brutos a
julgar por estas cenas bárbaras de que
são vitimas os pobres animais indefesos.
Com isto não queremos dizer que o povo
seja mau, porque de há muito está
provado que não há homens maus. O
que há apenas é a crassa ignorância,
por cuja perpétua conservação tanto se
empenham os políticos e governantes”.
Os apelos de João Anglin, que eram
simultaneamente denúncias, pelo facto das
palavras não se traduzirem em actos, foram
importantes, ou mesmo decisivos, no
sentido da criação da Sociedade Micaelense
Protectora dos Animais.
Com a mecanização de toda a vida,
desaparecidos os problemas associados ao
transporte de cargas, hoje a atenção deverá
recair sobre o abandono de animais
domésticos, o tratamento dos animais de
produção e o retrocesso civilizacional que
se está a assistir com a tentativa de
introduzir touradas onde não são tradição e
de agravar a tortura dos touros bravos, com
a legalização da sorte de varas e touros de
morte.
Hoje como ontem, como escrevia João
Angkin, são os políticos e governantes (e
algumas instituições que vivem à custa do
orçamento regional ou da boa fé e crença
religiosa dos cidadãos) que fomentam a
deseducação, sabendo que as pessoas
menos esclarecidas preferem o facilitismo
ao rigor e dão primazia ao circo e à esmola
em vez de valorizar o trabalho honesto e a
justa recompensa por este.
Teófilo Braga
8
Depois da petição em curso, vamos
continuar a sensibilizar as autoridades
para a necessidade de Declarar os
Açores como Zona Livre de
Transgénicos. Se concordar com a
iniciativa poderá enviar o texto abaixo
com ou sem alterações ou outro texto
original para os seguintes endereços
(basta copiar os endereços e colar em
“para”:
[email protected],apascoal@alr
a.pt, [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected], jsan-
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected],
amigosdosaç[email protected],
Exmo. Senhor Presidente da
Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores (ALRAA)
Exmo. Senhor Presidente do Governo
Regional dos Açores
Exmos. Senhores Deputados
Como é do conhecimento público, 60% dos
europeus sentem que precisam de mais
informações antes que seja autorizada a
plantação de Organismos Geneticamente
Modificados (OGM), que actualmente é
feita pois os decisores têm dado mais
importância ao lobby dos produtores do que
ao interesse público.
Considerando que não são suficientemente
conhecidos os efeitos dos OGM na saúde e
no ambiente, e até que a ciência garanta que
os mesmos não têm efeitos negativos,
venho solicitar que a Assembleia
Legislativa Regional dos Açores declare,
imediatamente, a Região Autónoma dos
Açores como Zona Livre de cultivo de
OGM.
(Nome)
E se achar por bem
(Nº de identificação)
(Local)
AÇORES LIVRES DE TRANGÉNICOS