Testes Preditivos

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1 Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Testes Preditivos Sociedade Brasileira de Genética Clínica Elaboração Final: 14 de setembro de 2007 Autoria: Lopes-Cendes I, Rocha JCC, Jardim LB O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

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Projeto DiretrizesAssociação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Testes Preditivos

Sociedade Brasileira de Genética Clínica

Elaboração Final: 14 de setembro de 2007

Autoria: Lopes-Cendes I, Rocha JCC, Jardim LB

O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federalde Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar

condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informaçõescontidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável

pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

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DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIAS: Foram identificados 367 artigos na pesquisa de referências bibliográficasrealizada na base de dados PubMed (National Library of Medicine) usando osdescritores: Genetic Predictive test and Presymptomatic test. Nesta buscaforam usados os limites: humanos e língua inglesa. Foi realizada a busca dereferências cruzadas e artigos relacionados mais relevantes.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:A: Grandes ensaios clínicos aleatorizados e meta-análises.B: Estudos clínicos e observacionais bem desenhados.C: Relatos e séries de casos clínicos.D: Publicações baseadas em consensos e opiniões de especialistas.

OBJETIVOS: Definir parâmetros mínimos para a implantação de um protocolo de testespreditivos. Orientar a indicação, realização e interpretação de testesmoleculares preditivos que possam ter repercussões no prognóstico,acompanhamento, tratamento e aconselhamento de pacientes e familiares.

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JUSTIFICATIVA E D EFINIÇÕES :

A rápida evolução dos conhecimentos no domínio da análisedo genoma humano permite-nos hoje não só diagnosticar comenorme precisão um número cada vez maior de doençasgenéticas, como também detectar indivíduos saudáveis que, maistarde, apresentarão ou poderão apresentar uma doençahereditária ou uma suscetibilidade aumentada para certas doençascomuns da vida adulta. Tal fato tem trazido implicações éticas,psicológicas e sociais muito particulares1-3(D).

A detecção de indivíduos saudáveis que poderão desenvolver umadoença hereditária no futuro é o objetivo dos Testes Preditivos(TPs)2,3(D). O TP é realizado em indivíduos assintomáticos,familiares de indivíduos sintomáticos que tiveram o diagnósticomolecular confirmando a presença de uma mutação específica. Aquivale a pena fazer a distinção entre testes realizados para doençasmonogênicas com alta penetrância, nas quais o risco do indivíduoportador da mutação vir a desenvolver a doença é alto, e testesrealizados para a detecção de predisposição para o desenvolvimentode determinadas doenças complexas (poligênicas ou multifatoriais),nas quais a presença de mutação determina um risco aumentado emrelação à população geral, mas não necessariamente implicará nodesenvolvimento da doença no futuro (mutações que conferempredisposição à doença)4(B)1-3(D). A existência ou não de tratamentoespecífico ou medida preventiva também tem impacto nos aspectoséticos e psicossociais envolvidos no TP. Desse modo, nos deparamoscom três situações específicas no âmbito do TP:

doenças de início tardio para as quais não existe tratamento; doenças para as quais existe tratamento ou medidaspreventivas; doenças em que apenas a predisposição aumentada pode serdetectada.

RE C O M E N DAÇÕES G ERAIS:

A possibilidade da realização dos Testes Preditivos (TPs) paradoenças genéticas influencia diferentes aspectos da saúde, comconseqüências psicossociais, éticas e profissionais muitoespecíficas e complexas. Recomenda-se que o atendimento sejaadequado às famílias que procuram o serviço de genética eprocure enfocar suas necessidades específicas1-3(D).

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Trabalhos existentes em doenças neurode-generativas apresentam e discutem a necessi-dade de uma atuação multi e interprofissionalpara a avaliação e acompanhamento dessespacientes, assim como a necessidade de umpreparo adequado dos profissionais envolvidosno atendimento dessas famílias. Sendo assim,recomenda-se que profissionais treinadosespecificamente nessas tarefas sejam osresponsáveis pela requisição e interpretação dosresultados. Desse modo, assegura-se que oprofissional saberá reconhecer as peculiaridadese limitações dos testes e estará preparado paralidar com os conflitos éticos que possamsurgir5(B)6(C)2,3,7(D).

É hoje consenso mundial que, para arealização de qualquer TP, deve existir umprotocolo organizado e estruturado paraaconselhamento, avaliação e acompanhamentopsicossocial pré e pós-teste, realizado por umaequipe multiprofissional, na qual se incluampreferencialmente um geneticista clínico e umpsicólogo, oferecendo ao usuário o suportenecessário para que haja uma melhor adaptaçãoà sua condição pós-teste. Isso o levaria a tomaratitudes mais favoráveis e a uma conseqüentemelhora de qualidade de vida, se a opção for arealização do TP4, 6(B)8-10(D).

RE C O M E N DAÇÕES A DICIONAIS PA R A

SITUAÇÕES PARTICULARES

Doenças de início tardio e semperspectivas de tratamento.

Formam um quadro bastante complexo,pois acarretam ao paciente e sua famíliaconseqüências específicas de ordem física,social, emocional e mesmo econômica, para asquais existe no momento uma preocupaçãomundial. Como exemplo, temos várias doenças

neurodegenerativas do adulto que apresentamrecorrência familiar, entre elas: a doença deHuntington (DH); as ataxias espinocere-belares; doenças mitocondriais; doenças neuro-musculares de início adulto; e formas familiaisde demência, distonias, doenças priônicas,doença de Parkinson e neuropatias periféricas.A DH tem sido usada como o protótipo dasdoenças desse grupo, é condição autossômicadominante com alta penetrância que édependente da idade, ou seja, os indivíduosportadores da mutação têm alta probabilidadede vir a desenvolver a doença em algummomento de suas vidas, sendo, no entanto,impossível determinar com precisão a idade emque isso ocorrerá6(C)3, 9(D).

Considerando a inexistência de medidasterapêuticas e o peso imposto às famílias poressas doenças, fica evidente que há riscos dedanos ao usuários se não houver um adequadoaconselhamento, bem como suporte médico epsicossocial pré e pós-teste. Com o intuito deminimizar as reações negativas após a realizaçãodo TP para doenças neurodegenerativas,representantes de organizações internacionaisrecomendam que o TP seja realizado8-11(D):

somente em adultos; por procura espontânea; com avaliação psicológica eacompanhamento pré e pós-teste; com fornecimento de informações arespeito do TP e da doença; e com completo sigilo.

Doenças para as quais medidasterapêuticas ou de prevenção podem sertomadas para prevenir, retardar ou minimizaros sintomas da doença.

Neste grupo podemos incluir vários errosinatos do metabolismo, tais como: doença de

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Gaucher, homicistinúrias, deficiência demetilenotetrahidrofolato redutase e a deficiên-cia de α1 anti-tripsina, entre outras. Nessasdoenças, o TP ou o diagnóstico precocepermite a tomada de medidas profiláticas queatenuam o quadro clínico, ou mesmo evitam asua manifestação12-15(B). Nessas circunstân-cias, o impacto do benefício das medidaspreventivas justificam a realização do TP emindivíduos de qualquer idade. Porém, continuasendo necessário que o aconselhamentogenético e suporte psicossocial sejam fornecidosaos usuários. Tais medidas têm o objetivo deminimizar possíveis conflitos emocionais, taiscomo sentimento de culpa e negação diante dadoença. Além disso, uma orientação apropriadapode assegurar que todos os indivíduos em riscona família possam ter a oportunidade de sebeneficiar do TP1,10,11(D).

Doenças complexas para as quaissomente uma predisposição aumentada podeser detectada. Tais condições representam umaoutra situação específica, pois nem semprepodemos oferecer números precisos sobre esseaumento de risco, muitas vezes dependente decaracterísticas étnicas e ambientais de difícilmensuração. Neste grupo, podemos incluirvários tipos de predisposição ao câncer(assunto tratado no âmbito de outra diretriz),e a genotipagem para os alelos da apo-lipoproteína E na doença de Alzheimer. Dadosda literatura mostram um risco aumentadopara a doença em indivíduos portadores doalelo ε4. No entanto, tal informação só é útilquando utilizada em indivíduos já comsintomas da doença, ou seja para confirmaçãodiagnóstica e não tem valor como um examepreditivo4(B).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS