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    Ttano Acidental

    TTANO ACIDENTALCID 10: A35

    Caractersticas gerais

    Descrio Doena infecciosa aguda no contagiosa, causada pela ao de exotoxinas produzidas pelo

    Clostridium tetani, as quais provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso cen-tral. Clinicamente, a doena manifesta-se com febre baixa ou ausente, hipertonia muscular man-tida, hiperreexia e espasmos ou contraturas paroxsticas. Em geral, o paciente mantm-se cons-ciente e lcido.

    Agente etiolgicoC. tetani um bacilo gram-positivo esporulado, anaerbico, semelhante a um alnete de

    cabea, com 4 a 10 de comprimento. Produz esporos que lhe permitem sobreviver no meio am-biente, por vrios anos.

    Reservatrio O C. tetani normalmente encontrado na natureza, sob a forma de esporo, podendo ser iden-

    ticado em: pele, fezes, terra, galhos, arbustos, guas putrefatas, poeira das ruas, trato intestinal dos animais (especialmente do cavalo e do homem, sem causar doena).

    Modo de transmisso A infeco ocorre pela introduo de esporos em soluo de continuidade da pele e mucosas

    (ferimentos superciais ou profundos de qualquer natureza). Em condies favorveis de anae-robiose, os esporos se transformam em formas vegetativas, que so responsveis pela produo de tetanopasminas. A presena de tecidos desvitalizados, corpos estranhos, isquemia e infeco contribuem para diminuir o potencial de oxirreduo e, assim, estabelecer as condies favorveis ao desenvolvimento do bacilo.

    Perodo de incubao o perodo que o esporo requer para germinar, elaborar as toxinas que vo atingir o sistema

    nervoso central (SNC), gerando alteraes funcionais com aumento da excitabilidade. Varia de 1 dia a alguns meses, mas geralmente de 3 a 21 dias. Quanto menor for o tempo de incubao, maior a gravidade e pior o prognstico.

    Perodo de transmissibilidade No h transmisso direta de um indivduo para outro.

    Suscetibilidade e imunidadeA suscetibilidade universal, independendo de sexo ou idade. A imunidade permanente

    conferida pela vacina, desde que sejam observadas as condies ideais inerentes ao imunobiolgi-co e ao indivduo. Recomendam-se 3 doses e 1 reforo a cada 10 anos, ou a cada 5 anos, se gestante. A doena no confere imunidade. Os lhos de mes imunes apresentam imunidade passiva e tran-sitria at 4 meses. A imunidade conferida pelo soro antitetnico (SAT) dura cerca de 2 semanas. A conferida pela imunoglobulina humana antitetnica (IGHAT) dura cerca de 3 semanas.

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    Aspectos clnicos

    Manifestaes clnicasO ttano uma toxiinfeco causada pela toxina do bacilo tetnico, introduzido no organis-

    mo atravs de ferimentos ou leses de pele (traumtico, cirrgico, dentrio, queimaduras, inje-es, etc.). A doena apresenta-se sob a forma generalizada ou localizada. Clinicamente, o ttano acidental se manifesta por:

    Febre baixa ou ausente hipertonia muscular mantida, hiperreexia, espasmos, contratu-ras paroxsticas espontneas ou provocadas por estmulos tcteis, sonoro, luminosos ou alta temperatura ambiente. O quadro clnico varia de acordo com o tipo de foco infeccioso. Em geral, o paciente mantm-se consciente e lcido.

    Hipertonia dos msculos masseteres (trismo e riso sardnico), pescoo (rigidez de nuca), faringe ocasionando diculdade de deglutio (disfagia), contratura muscular progressiva e generalizada dos membros superiores e inferiores (hiperextenso de membros), reto-abdo-minais (abdmen em tbua), paravertebrais (opisttono) e diafragma levando insucin-cia respiratria. Os espasmos so desencadeados espontaneamente ou aos estmulos.

    Perodo de infeco dura, em mdia, de 2 a 5 dias. Remisso no apresenta perodo de remisso. Perodo toxmico ocorre sudorese pronunciada e pode haver reteno urinria por bexi-

    ga neurognica. Inicialmente, as contraes tnico-clnicas ocorrem sob estmulos exter-nos e, com a evoluo da doena, passam a ocorrer espontaneamente. uma caracterstica da doena a lucidez do paciente, ausncia de febre ou febre baixa. A presena de febre acima de 38C indicativa de infeco secundria, ou de maior gravidade do ttano.

    Diagnstico diferencialEm relao s formas generalizadas do ttano, incluem-se os seguintes diagnsticos diferenciais: Intoxicao pela estricnina h ausncia de trismos e de hipertonia generalizada, durante

    os intervalos dos espasmos. Meningites h febre alta desde o incio, ausncia de trismos, presena dos sinais de Ker-

    ning e Brudzinsky, cefaleia e vmito. Tetania os espasmos so, principalmente, nas extremidades, sinais de Trousseau e Chvos-

    tek presentes, hipocalcemia e relaxamento muscular entre os paroxismos. Raiva histria de mordedura, arranhadura ou lambedura por animais, convulso, ausn-

    cia de trismos, hipersensibilidade cutnea e alteraes de comportamento. Histeria ausncia de ferimentos e de espasmos intensos. Quando o paciente se distrai,

    desaparecem os sintomas. Intoxicao pela metoclopramida e intoxicao por neurolpticos podem levar ao tris-

    mo e hipertonia muscular. Processos inamatrios da boca e da faringe, acompanhados de trismo dentre as prin-

    cipais entidades que podem causar o trismo, citam-se: abscesso dentrio, periostite al-volo-dentria, erupo viciosa do dente siso, fratura e/ou osteomielite de mandbula, abscesso amigdalino e/ou retro farngeo.

    Doena do soro pode cursar com trismo, que decorrente da artrite tmporo-mandibu-lar, que se instala aps uso de soro heterlogo. Ficam evidenciadas leses maculopapulares cutneas, hipertroa ganglionar, comprometimento renal e outras artrites.

    importante chamar a ateno para as condies que, mesmo excepcionalmente, podem gurar no diagnstico diferencial do ttano, tais como:

    osteoartrite cervical aguda com rigidez de nuca; espondilite septicmica; hemorragia retroperitonial;

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    lcera pptica perfurada; outras causas de abdome agudo; epilepsia; outras causas de convulses.

    Diagnstico laboratorial e exames complementaresO diagnstico do ttano eminentemente clnico-epidemiolgico, no dependendo de con-

    rmao laboratorial. O laboratrio auxilia no controle das complicaes e tratamento do pacien-te. O hemograma habitualmente normal, exceto quando h infeco secundria associada. As transaminases e ureia podem elevar-se nas formas graves. A gasometria e a dosagem de eletrlitos so importantes nos casos de insucincia respiratria. As radiograas de trax e da coluna ver-tebral devem ser realizadas para o diagnstico de infeces pulmonares e fraturas de vrtebras. Hemoculturas, culturas de secrees e de urina so indicadas nos casos de infeco secundria.

    Tratamento O doente deve ser internado em unidade assistencial apropriada, com mnimo de rudo, de

    luminosidade, com temperatura estvel e agradvel. Casos graves tm indicao de terapia inten-siva, onde existe suporte tcnico necessrio para manejo de complicaes e consequente reduo das sequelas e da letalidade. So de fundamental importncia os cuidados dispensados pela equipe mdica e de enfermagem experientes no atendimento a esse tipo de enfermidade.

    Os princpios bsicos do tratamento do ttano so: sedao do paciente; neutralizao da toxi-na tetnica; erradicao do paciente; debridamento do foco infeccioso e medidas gerais de suporte.

    Sedao do paciente recomenda-se a administrao de benzodiazepnicos e miorrelaxantes (Quadro 1). Checar as doses.

    Quadro 1. Recomendao para uso sedativos/miorrelaxantesa

    Sedativos/miorrelaxantes Doses

    Via de administrao Esquema Durao

    Diazepam

    Adultos 0,1 a 0,2mg/ Kg/dose (at 20mg)a

    Crianas0,1 a 0,2mg/

    Kg/dose

    EV

    12/12 horasEm adultos, se necessrio, essa dose poder ser repetida at 4

    vezes, em 24 horas

    Em crianas, no exceder 0,25mg/Kg/dose, que poder ser repetida at 3 vezes, com intervalo de 15 a 30 minutos

    At controlaras contraturas. Ateno quanto

    ao risco de depresso

    respiratria

    Midazolan (em substituio ao Diazepam)

    Adultos0,07 a 0,1mg/Kg/dia

    Crianas0,15 a 0,20mg/

    Kg/dia

    IM 1 hora ou maisUsar em bomba

    de infuso

    Clorpromazina (indicada quando no houver resposta satisfatria com o Diazepan)

    Adultos25mg a 50mg/Kg/

    dia (at 1g/dia)

    Crianas acima de 6 meses

    0,55mg/Kg/dia

    EV 8/8 ou at 6/6horasAt controlar as crises de contraturas

    a) A posologia deve ser individualizada e a critrio mdico.

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    Neutralizao da toxina tetnica utiliza-se a imunoglobulina humana antitetnica (IGHAT) ou, na indisponibilidade, o soro antitetnico (SAT). A imunoglobulina humana antite-tnica disponvel, no Brasil, apenas para uso intramuscular (IM), devendo ser administrada em massas musculares diferentes. A dose teraputica recomendada depende do quadro clnico e do critrio mdico. O SAT administrado via IM, distribudo em duas massas musculares diferentes ou via endovenosa (Quadro 2).

    Quadro 2. Recomendao para uso soro antitetnicoa

    Soro Antitetnico Dosagem Via de administrao Observaes

    IGHAT 1.000 a 3.000UIb Somente IM, por conter conservanteAdministrar em duas massas musculares diferentes

    SAT 10.000 a 20.000UI IM ou EV

    Se IM, administrar em duas massas musculares diferentes

    Se EV, diluir em soro glicosado a 5%, com gotejamento lento

    a) A posologia deve ser individualizada e a critrio mdico. b) At 6.000 UI.

    Erradicao do C. tetani a penicilina G cristalina a medicao de escolha ou o metroni-dazol, usado como alternativa (Quadro 3).

    Quadro 3. Recomendao para uso do antibiticoa

    Antibioticoterapia

    Penicilina G Cristalina

    Adultos200.000 UI/dose

    Crianas50.000 a 100.000UI/Kg/dia

    EV 4/4 horas 7 a 10 dias

    Metronidazol

    Adultos 500mg

    Crianas 7,5mg

    EV 8/8 horas 7 a 10 dias

    a) A posologia deve ser individualizada e a critrio mdico.

    Debridamento do foco limpar o ferimento suspeito com soro siolgico ou gua e sabo.

    Realizar o debridamento, retirando todo o tecido desvitalizado e corpos estranhos. Aps a remo-o das condies suspeitas, fazer limpeza com gua oxigenada ou soluo de permanganato de potssio a 1:5.000. Ferimentos puntiformes e profundos devem ser abertos em cruz e lavados ge-nerosamente com solues oxidantes. No h comprovao de eccia do uso de penicilina ben-zatina, na prolaxia do ttano acidental, nas infeces cutneas. Alm do tratamento sintomtico, caso haja indicao para o uso de antibiticos, proceder de acordo com o esquema teraputico indicado pela situao clnica, a critrio mdico.

    Medidas gerais Internar o paciente, preferencialmente, em quarto individual com reduo acstica, de

    luminosidade e temperatura adequada (semelhante temperatura corporal). Instalar oxignio, aparelhos de aspirao e de suporte ventilatrio. Manipular o paciente somente o necessrio. Garantir a assistncia por equipe multiprossional e especializada. Realizar puno venosa (profunda ou disseco de veia). Sedar o paciente antes de qualquer procedimento. Manter as vias areas permeveis (se necessrio, entubar, para facilitar a aspirao de

    secrees). Realizar a hidratao adequada.

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    Utilizar analgsico para aliviar a dor ocasionada pela contratura muscular. Administrar anti-histamnico antes do SAT (caso haja opo por esse procedimento). Utilizar heparina de baixo peso molecular (5.000UI, 12 em 12 horas, subcutnea), em pa-

    cientes com risco de trombose venosa profunda e em idosos. Prevenir escaras, mudando o paciente de decbito de 2 em 2 horas. Noticar o caso ao servio de vigilncia epidemiolgica da secretaria municipal de sade.

    Aspectos epidemiolgicos

    No Brasil, o coeciente de incidncia do ttano acidental na dcada de 80 foi de 1,8 chegando a 0,44 por 100 mil habitantes em 1998. No perodo de 1998 a 2007 houve um declnio progressivo, e o nmero absoluto de casos por ano passou de 705 para 334, representando uma reduo de 52,6% no nmero de casos. A incidncia por 100 mil habitantes no mesmo perodo passou de 0,44 para 0,17, representando uma reduo de 73%. Neste mesmo perodo a regio Sudeste apresentou a maior reduo do nmero absoluto de casos (66,28%), seguida da Norte (54,29%%), Nordeste (52,94%), Centro-oeste (50%) e Sul (27,72%).

    Em 2008 foram 331 casos absolutos em todo territrio nacional, sendo: 39 na regio Nor-te (12%); 110 no Nordeste (33%); 74 no Sudeste (22%); 72 no Sul (22%) e 36 no Centro-oeste (11%). O coeciente de incidncia se manteve igual ao de 2007, ou seja, 1,8 (Grco 1); portanto, a reduo no nmero de casos de 2007 para 2008 no foi signicativa, abaixo de 1%. No perodo de 2000 a 2008, 51% dos casos esto concentrados no grupo com a faixa etria entre 25 a 54 anos de idade. Em segundo lugar os casos se concentraram na faixa etria de 55 a 64 anos, somando 17%. No mesmo perodo, a ocorrncia da doena em menores de 5 anos em 2008 diminuiu para 1,4%, incluindo casos em menores de 1 ano. O ttano acidental acomete todas as faixas etrias e, tanto no ano de 2008 como em todo o perodo citado, a maioria dos casos ocorreu com pessoas entre 25 e 64 anos de idade, sendo o sexo masculino o mais acometido pela doena. A maioria dos casos de ttano acidental ocorreu em agricultores, seguida pelos grupos de aposentados e donas de casa.

    Grco 1. Nmero de casos e coeciente de incidncia de ttano acidental. Brasil, 2000-2008

    Fonte: SVS/MSN de casos absolutos Coeciente de incidncia

    N

    de c

    asos

    20000

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    Ano

    0,00

    0,05

    0,10

    0,15

    0,20

    0,25

    0,40

    0,35

    0,30

    2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Coe

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    Ttano Acidental

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    Outras caractersticas da situao epidemiolgica do ttano acidental no Brasil que a partir da dcada de 90, observa-se aumento da ocorrncia de casos na zona urbana. Esta modicao pode ser atribuda ao xodo rural. A letalidade contnua est acima de 30%, sendo mais represen-tativa nos idosos. Em 2008, esta letalidade foi de 34%, sendo considerada elevada, quando compa-rada com os pases desenvolvidos, onde se apresenta entre 10 a 17%.

    Vigilncia epidemiolgica

    Objetivos Reduzir a incidncia dos casos de ttano acidental. Implementar aes de vigilncia epidemiolgica. Conhecer todos os casos suspeitos e investigar oportunamente 100% deles, com objetivo de

    assegurar diagnstico e tratamento precoces. Adotar medidas de controle, oportunamente. Conhecer o perl e o comportamento epidemiolgico. Identicar e caracterizar a populao de risco. Recomendar a vacinao da populao de risco. Avaliar o impacto das medidas de controle. Promover educao continuada em sade, incentivando o uso de equipamentos e objetos

    de proteo, a m de evitar ocorrncia de ferimentos ou leses.

    Denio de caso

    SuspeitoTodo paciente acima de 28 dias de vida que apresenta um ou mais dos seguintes sinais/sinto-

    mas: disfagia, trismo, riso sardnico, opisttono, contraturas musculares localizadas ou generali-zadas, com ou sem espasmos, independente da situao vacinal, da histria de ttano e de deteco ou no de soluo de continuidade de pele ou mucosas.

    ConrmadoTodo caso suspeito cujos sinais/sintomas no se justiquem por outras etiologias e apresen-

    te hipertonia dos massteres (trismo), disfagia, contratura dos msculos da mmica facial (riso sardnico, acentuao dos sulcos naturais da face, pregueamento frontal, diminuio da fenda palpebral), rigidez abdominal (abdome em tbua), contratura da musculatura paravertebral (opis-ttono), da cervical (rigidez de nuca), de membros (diculdade para deambular), independente da situao vacinal, da histria prvia de ttano e de deteco de soluo de continuidade da pele ou mucosas. A lucidez do paciente refora o diagnstico.

    DescartadoTodo caso suspeito, que aps investigao epidemiolgica, no preencher os critrios de

    conrmao.

    NoticaoA noticao de casos suspeitos de ttano acidental dever ser feita por prossionais da sade

    ou por qualquer pessoa da comunidade equipe de vigilncia epidemiolgica do municpio, que a encaminhar s equipes de vigilncia epidemiolgica regional ou estadual e esse nvel ao Minist-rio da Sade. Aps a noticao, dever proceder-se investigao imediatamente.

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    Primeiras medidas a serem adotadas

    Assistncia mdica ao paciente A hospitalizao dever ser imediata.

    Qualidade da assistnciaA internao dever ser o mais precoce possvel em unidades especcas de maior comple-

    xidade ou unidades de terapia intensiva (UTI). Os pacientes devem ser assistidos por prossio-nais mdicos e de enfermagem qualicados e com experincia na assistncia, visando diminuir as complicaes, as sequelas e a letalidade. Alguns cuidados so necessrios com a internao, como: ambientes com pouca luminosidade, poucos rudos, temperaturas estveis. A manipulao deve-r ser restrita apenas ao necessrio para no desencadear as crises de contraturas. O isolamento feito pela necessidade de cuidados especiais e no pela infeco, uma vez que a doena no transmissvel.

    Proteo individualNo necessria proteo especial, pois no h transmisso direta.

    Conrmao diagnsticaO diagnstico clnico e epidemiolgico.

    Proteo da populaoO ttano acidental uma doena imunoprevenvel e para a qual existe um meio ecaz de

    proteo, que a vacina antitetnica. Frente ao conhecimento de um caso, deve-se avaliar a si-tuao das aes preventivas da doena na rea e implementar medidas que as reforcem. Alm da vacinao de rotina, de acordo com os calendrios de vacinao da criana, do adolescente, do adulto e do idoso destaca-se, em particular, a identicao e vacinao de grupos de risco, tais como, trabalhadores da construo civil, da agricultura, catadores de lixo, trabalhadores de ocinas mecnicas, etc. Destaca-se, ainda, a importncia da atualizao tcnica dos prossionais de sade quanto ao tratamento adequado dos ferimentos e esquemas vacinais recomendados para preveno da doena.

    InvestigaoImediatamente aps a noticao de um caso suspeito, iniciar a investigao epidemiolgica

    para permitir que as medidas de controle sejam adotadas em tempo oportuno. O instrumento de coleta de dados a cha epidemiolgica, do Sinan, que contm as variveis de interesse a serem analisadas em uma investigao de rotina. Todos os campos dessa cha devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informao for negativa. Outros itens e observaes podem ser includos, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situao. importante a reviso do preenchimento das variveis da cha de investigao, para vericar a completitude e consistncia das informaes antes da digitalizao no Sinan. Observar o prazo mximo para o encerramento oportuno do caso (mximo de 60 dias).

    Roteiro da investigao epidemiolgica

    Identicao do pacientePreencher todos os campos dos itens da cha de investigao epidemiolgica (FIE), do Sinan,

    relativos aos dados gerais, noticao individual e dados de residncia.

    Ttano Acidental

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    Coleta de dados clnicos e epidemiolgicosPara conrmar a suspeita diagnsticaAnotar, na FIE, dados da histria clnica (consultar a cha de atendimento e/ou pronturio,

    entrevistar o mdico assistente ou algum da famlia ou acompanhante e realizar visita domiciliar e/ou no local de trabalho, para completar as informaes sobre a manifestao da doena e poss-veis fatores de risco no meio ambiente). Acompanhar a evoluo do caso e as medidas implemen-tadas no curso da doena e encerrar a investigao epidemiolgica no Sistema de Informao.

    Para identicao da rea de risco Vericar a ocorrncia de outros casos no municpio, levantar os fatores determinantes, identi-

    car a populao de risco e traar estratgias de implementao das aes de preveno do ttano.

    ObservaoCasos de ttano em consequncia de aborto, s vezes, podem ser mascarados quanto ao diagnstico nal.

    Anlise de dadosA qualidade da investigao fundamental para a anlise dos dados coletados, permitindo a

    caracterizao do problema, segundo pessoa, tempo e lugar, e o levantamento de hipteses e/ou explicaes que vo subsidiar o planejamento das aes para solucionar ou minimizar os proble-mas detectados. Permite, tambm, maior conhecimento da magnitude do problema e a adoo oportuna das medidas de preveno e controle.

    Encerramento de casosAps a coleta e anlise de todas as informaes necessrias investigao do caso, conrmar o

    diagnstico denitivo e atualizar, se necessrio, os sistemas de informao (Sinan, SIH-SUS e SIM).

    Algumas estratgias recomendadas Divulgar a importncia e necessidade de preveno da doena por meio da vacinao dos

    grupos de risco. Sensibilizar os gestores e a comunidade em geral sobre a magnitude do problema (custo/

    benefcio do ttano, que uma doena imunoprevenvel e tem altas taxas de letalidade em idades produtivas, custo social gerado pelas altas taxas de morbimortalidade, etc.).

    Buscar parcerias com outros rgos que possam contribuir para intensicao das medidas preventivas (Ministrio do Trabalho, Sociedades de Infectologia, Ateno Bsica, Sade do Trabalhador, ONG, Sade Indgena, Escolas Tcnicas e comunidade em geral, etc.).

    Implementar todas as aes em parceria com os diversos atores envolvidos, atentando para as questes poltico-gerenciais pertinentes situao.

    Garantir o funcionamento das salas da vacina nos horrios comerciais. Aplicar as medidas teraputicas e prolticas indicadas, de acordo com a classicao do

    ferimento, assegurando as doses subsequentes aps a alta hospitalar.

    Meios disponveis para preveno

    VacinaoA principal forma de preveno do ttano vacinar a populao desde a infncia com a

    vacina antitetnica, composta por toxide tetnico, associado a outros antgenos (DTP, DTPa, Tetravalente Hib, DT ou dT). O esquema completo recomendado pelo Ministrio da Sade de 3 doses administradas no primeiro ano de vida, com reforos aos 15 meses e de 4 a 6 anos de idade.

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    A partir dessa idade, um reforo a cada 10 anos aps a ltima dose administrada ou 5 anos se for gestante, (Quadros 4 e 5).

    Atualmente no Brasil, recomenda-se a vacina Tetravalente (difteria, ttano, coqueluche e Hae-mophilus inuenzae tipo b) para menores de 12 meses e a partir dessa idade utilizada a DTP e dT. As vacinas DTPa (difteria e coqueluche) e DT (difteria e ttano), conhecida como dupla infantil, so indicadas para uso especial e esto disponveis nos Centros de Referncia de Imunobiolgicos Especiais (CRIE). A vacina dT (conhecida como dupla adulto, composta por associao de toxide diftrico e tetnico) tem uma eccia de quase 100%, se observada as condies ideais de conserva-o e administrao inerentes vacina e ao indivduo (Manual de Normas de Vacinao, do PNI).

    Quadro 4. Esquemas e orientaes para vacinao

    Vacina Protege contra Eccia Incio da vacinao (idade)Dose/Dosagem/

    Via de Administrao/Intervalo

    Reforo

    DTP ouDTPaa

    Difteria, ttano e coqueluche

    Difteria - 80%Ttano - 99%Coqueluche - 75 a 80%

    2 meses de idade at 6 anos, 11 meses e 29 dias

    3 doses / 0,5ml / IM / 60 dias entre as doses,

    mnimo de 30 dias

    6 a 12 meses aps a 3 dose, de preferncia aos 15 meses

    de idade

    DTP/HibbDifteria, ttano,

    coqueluche e H. inuenzae

    Ttano - 99% 2 meses de idade3 doses / 0,5ml / IM /

    60 dias entre as doses, mnimo de 30 dias

    12 meses aps a 3 dose, de preferncia aos 15 meses de

    idade, com DTP

    DTa Difteria e ttano (infantil)Difteria - 80%Ttano - 99%

    Crianas at 6 anos e 11 meses, que apresentaram contraindicao

    da DTP

    3 doses / 0,5ml / IM / 60 dias entre as doses,

    mnimo de 30 dias

    1 dose a cada 10 anos. Em caso de ferimento, antecipar o reforo se a ltima dose foi

    h mais de 5 anos

    dT Difteria e ttano (adulto)Difteria - 80%Ttano - 99%

    A partir de 7 anos de idade e MIF. Pessoas que no tenham recebido

    DTP ou DT, ou esquema incompleto dessas vacinas ou reforo do

    esquema bsico

    3 doses / 0,5ml / IM / 60 dias entre as doses,

    mnimo de 30 dias

    1 dose a cada 10 anos, exceto em caso de gravidez e ferimento, antecipar o reforo se a ltima dose foi h mais

    de 5 anos

    a) Indicao especial, est disponvel nos CRIE.b) Indicada no primeiro ano de vida.

    Conduta frente a ferimentos suspeitos

    Quadro 5. Esquema de condutas prolticas de acordo com o tipo de ferimento e situao vacinal

    Histria de vacinao prvia contra ttano

    Ferimentos com risco mnimo de ttanoa Ferimentos com alto risco de ttanob

    Vacina SAT/IGHAT Outras condutas Vacina SAT/IGHAT Outras condutas

    Incerta ou menos de 3 doses Sima No

    Limpeza e desinfeco, lavar com soro

    siolgico e substncias oxidantes ou

    antisspticas e debridar o foco de infeco

    Simc NoDesinfeco, lavar

    com soro siolgico e substncias oxidantes

    ou antisspticas e remover corpos

    estranhos e tecidos desvitalizados

    Debridamento do ferimento e lavar com

    gua oxigenada

    3 doses ou mais, sendo a ltima dose h menos de 5 anos No No No No

    3 ou mais doses, sendo a ltima dose h mais de 5 anos e menos de 10 anos

    No No Sim(1 reforo) Nod

    3 ou mais doses, sendo a ltima dose h 10 ou mais anos Sim No

    Sim(1 reforo) No

    d

    3 ou mais doses, sendo a ltima dose h 10 ou mais anos Sim No

    Sim(1 reforo) Sim

    e

    a) Ferimentos superciais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados.b) Ferimentos profundos ou superciais sujos; com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feridas puntiformes ou por armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas.c) Vacinar e ?ferimentos futuros. Se o prossional, que presta o atendimento, suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento no sero adequados, deve co?devem ser aplicados em locais diferentes.d) Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, alm do reforo com a vacina, est tambm indicada IGHAT ou SAT.e) Se o prossional, que presta o atendimento, suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento no sero adequados, deve considerar a indicao de imunizao passiva com SAT ou IGHAT. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicadas em locais diferentes.

    Ver recomendaes para uso proltico do SAT no Quadro 6.

    Ttano Acidental

  • Guia de Vigilncia Epidemiolgica | Caderno 4

    26 Secretaria de Vigilncia em Sade /MS

    Quadro 6. Recomendao para uso proltico do soro antitetnico

    Soro antitetnico Dosagem Via de administrao Observaes

    IGHAT 250UI Somente IM, por conter conservanteAdministrar em duas massas musculares

    diferentes

    SAT (em alternativa a IGHAT) 5.000UI IM

    Administrar em duas massas musculares diferentes

    Aes de educao em sadeA educao em sade uma prtica que tem como objetivo promover a formao e/ou mu-

    dana de hbito e atitudes. Estimula a luta por melhoria da qualidade de vida, da conquista sade, da responsabilidade comunitria, da aquisio, apreenso, socializao de conhecimentos e a opo por um estilo de vida saudvel. Preconiza-se a utilizao de mtodos pedaggicos par-ticipativos (criatividade, problematizao e criticidade) e dilogo, respeitando as especicidades locais, universo cultural da comunidade e suas formas de organizao.

    As aes de educao em sade junto populao so fundamentais para a preveno do ttano, principalmente, buscando parcerias com as reas ans do Ministrio da Sade, ONG, en-tidades de classe, Ministrio da Educao, Comisses Internas de Preveno de Acidentes (CIPA), Sociedade de Infectologia, Conselhos de Enfermagem, Medicina, Odontologia, etc.

    Os processos de educao continuada, tambm, devem ser estimulados a m de promover atualizao e/ou aperfeioamento dos prossionais de sade e educao, para melhorar a prtica das aes assistenciais e preventivas.

    Os empresrios, gestores e professores devem ser sensibilizados sobre a necessidade da pre-veno do ttano e contribuir para manter atualizado o esquema vacinal dos trabalhadores, in-cluindo o grupo das gestantes, pela importncia na preveno do ttano neonatal. Lembrar que a vacinao e conservao do carto de gvacinao no importante apenas para crianas.

    Aes de comunicao importante a parceria com os diversos meios de comunicao, principalmente quanto

    adequao da linguagem a ser utilizada para a populao, referente divulgao da doena e sua preveno, necessidade de tratamento precoce e adequado, noticao de casos e demais medi-das, que podem contribuir para sensibilizar a comunidade, alcanando o controle da doena.