Texto 01 - Raciocínio Lógico
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RACIOCÍNIO LÓGICO
CONHECENDO OS AUTORES
CARMEN SUELY CAVALCANTI DE MIRANDA
Sou graduada em Serviço Social e Filosofia, Especialista em Serviço
Social e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Atuo como Assistente Social desde 1981 e atualmente exerço a
profissão de Assistente Social na Unidade de Saúde Familiar e Comunitária,
uma Unidade de atenção básica em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde
da cidade de Natal. Leciono desde 1996 na Universidade Potiguar as
disciplinas: Filosofia, Ética, Metodologia Científica, Cultura Brasileira, Filosofia
da Educação. Desde 2010 estou na Direção do Curso de Serviço Social desta
mesma Universidade.
IVICKSON RICARDO DE MIRANDA CAVALCANTI
Sou graduado em Filosofia e Especialista em Ética pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Sou professor de Filosofia desde o ano de
2004. Iniciei minhas atividades profissionais como professor substituto do
Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Lecionei no ensino médio na rede
pública da cidade de João Pessoa. Fui professor do Instituto Federal de
Alagoas. Atualmente sou professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte
atuando no campus de Apodi. Leciono as disciplinas de Lógica, Filosofia,
Epistemologia e Metodologia Científica.
CONHECENDO RACIOCÍNIO LÓGICO
A disciplina de Raciocínio Lógico, que você inicia agora, é de
fundamental importância para sua vida prática. Se você observar quando
queremos pensar, falar ou escrever corretamente, precisamos primeiro ordenar
no pensamento, isto é, precisamos utilizar a lógica. Nem sempre raciocinamos
da maneira correta, às vezes tomamos uma decisão ao invés de outra, agimos
diversas vezes de maneira ilógica. Através do Raciocínio Lógico nos
apropriamos de ferramentas que contribuem para aprimorar a arte de pensar
corretamente.
Qualquer profissional que utilize o raciocínio como ferramenta de
trabalho para resolver problemas de ordem administrativa ou financeira,
problemas matemáticos, de planejamento ou de estratégia, entre outros, utiliza
como matéria prima para o seu trabalho a arte de pensar. Utilizar o
pensamento exige cada vez mais o estudo de disciplinas voltadas ao
aprimoramento, treinamento e aplicabilidade do pensamento.
Convidamos você a percorrer conosco os vários momentos que
compõem esta disciplina percebendo gradativamente sua utilidade no seu dia-
a-dia.
1 O QUE É LÓGICA?
1.1 Contextualizando
O que é? Por que a lógica integra a estrutura curricular de um curso de
graduação? Seja qual for a pergunta, essas são questões que muitos
estudantes fazem quando têm que cursar uma disciplina de Raciocínio Lógico.
Para que você possa entender a importância dessa disciplina, é
fundamental que saiba, em primeiro lugar, o que é a lógica, conhecimento cuja
aplicabilidade se faz presente desde a Grécia quando os primeiros pensadores,
os filósofos, utilizavam a lógica para distinguir o argumento correto do incorreto,
até a nossa atualidade, com os computadores e toda tecnologia da informação
- a base do funcionamento de um computador está na eletrônica e na lógica. E
até mesmo para uma boa redação é indispensável coerência, clareza e coesão
no desenvolvimento das ideias. E nisto a lógica pode e vai ajudá-lo muito.
Por outro lado, desenvolver um pensamento que se preocupa com o
aspecto lógico torna-se um desafio para o aluno que está compreendendo e
exercitando operações mentais. Ou seja, a lógica possibilita ao aluno educar
sua forma de pensar, de estruturar suas ideias e concepções.
Assim, esperamos que as pistas para a resposta do que é a lógica e de
sua importância, você possa começar a encontrar neste nosso primeiro
capítulo que tem como objetivos:
situar os mecanismos do pensamento;
definir a lógica;
explicitar o raciocínio lógico;
evidenciar a importância desse conhecimento para o ser humano.
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 Os mecanismos da inteligência
Vivemos em uma realidade complexa e em constante transformação. Se
olharmos para um passado recente veremos como ocorreram transformações
na medicina, na educação, nas comunicações, nas tecnologias, enfim, nas
várias áreas do conhecimento e de sua aplicação.
Essas transformações foram possíveis porque o homem, elemento
desse conjunto infinito de seres que compõem a realidade, também se
transforma cotidianamente. Usa para isso sua razão e sua inteligência. Razão
e inteligência são, portanto, faculdades que possibilitam ao homem construir
conhecimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida no planeta.
Razão e inteligência são conceitos fundamentais no processo de produção do
conhecimento verdadeiro.
Vejamos cada um deles de forma detalhada.
a) O que é a razão?
A palavra razão no nosso cotidiano é empregada em vários sentidos.
Veja alguns dos usos mais comuns:
Uma razão de ser...
Qual a razão de tudo isso?
Você tinha razão
O homem é um animal racional
Ele ficou revoltado e com razão
É uma atitude irracional
Usamos “razão” com o sentido de certeza, lucidez, motivo, causa. Todos
esses sentidos constituem a nossa ideia de razão.
Podemos dizer que a razão “tem não só a função de perceber os fatos
que provocam as sensações, como também de avaliá-los, julgá-los e organizá-
los” (COTRIM, 1989, p. 20). Assim, por meio da razão tomamos conhecimento
da realidade.
Apesar das funções anteriormente descritas, o dia a dia evidencia fatos
que são incompreensíveis pela razão. Bem ilustrativo para o que acabamos de
dizer são as palavras de Pascal (apud CHAUÍ, 2001, p. 58), filósofo francês do
século XVII: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Esta frase traz a
compreensão de que muitas vezes agimos motivados pelas paixões ou
sentimentos deixando de lado a nossa atividade consciente, intelectual – isto é,
a razão.
Do que vimos acima, existem situações que a razão não consegue
compreender. Nesse momento, ela apela para outra faculdade de nossa
mente: a inteligência. Diante de uma dificuldade ou problema, nossa razão
aciona a inteligência.
b) O que é a inteligência?
Quando falamos em inteligência de imediato algumas questões vêm à
tona: existem pessoas mais inteligentes que outras? As mulheres são mais
inteligentes que os homens, porque possuem maior sensibilidade e guardam,
por maior tempo, informações na memória? Só os homens possuem
inteligência? Quem é mais inteligente: um cientista ou um índio? Um professor
universitário ou um pedreiro?
Se adotarmos o conceito clássico de Inteligência como a capacidade
mental de raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender, as respostas a
essas questões parecem lógicas. Ou seja, com certeza se julga que algumas
pessoas são mais inteligentes que outras e essa diferença tem um teor
ideológico, ou seja, considera o modelo social, o status quo das pessoas
comparadas, a classe social, entre outros.
No entanto, quando adotamos a visão de inteligência proposta pelo
psicólogo norte-americano Howard Gardner, tudo depende do que estamos
fazendo, onde e por que, ou seja, a simples comparação de um cientista com
um índio, de um universitário com um pedreiro, não significa nada a não ser
que se possa contextualizar esta abordagem. O que estamos dizendo, com
Gardner, é que se estamos no meio da selva e precisamos ir de um lugar a
outro sem qualquer instrumento específico, o índio nos será mais útil, pelo fato
de conhecer a região. Nesse caso sua inteligência será mais efetiva que a do
professor universitário. Se precisamos construir ou fazer algum reparo em
casa, provavelmente, o pedreiro terá uma inteligência mais efetiva.
Para Gardner (apud TRAVASSOS, 2011) “A inteligência [...] é a
capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes
em um determinado ambiente ou comunidade cultural”.
Durante muito tempo, baseado na concepção clássica de inteligência,
buscava-se mensurar a inteligência com bases em testes. Com estes
obtínhamos o QI (QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA). Como surgiram estes
testes? Com o intuito de tentar prever o sucesso das crianças nas escolas, os
liceus, as autoridades francesas, no início do século, solicitaram a Alfredo
Binet que criasse um instrumento que pudesse indicar em que nível tais
crianças deveriam ser inseridas. O instrumento criado por Binet buscava as
respostas das crianças nas áreas de linguística e matemática, pois os
currículos franceses privilegiavam tais disciplinas. Este instrumento deu origem
ao primeiro teste de inteligência, desenvolvido por Terman na Universidade de
Stanford, na Califórnia: a Escala de Inteligência de Stanford-Binet. Vários
outros testes de inteligência vieram à tona a partir de Binet, formando a ideia
de inteligência como algo capaz de ser mensurado.
A partir de seus estudos sobre inteligência humana, Gardner
desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas. Nos seus estudos, concluiu
que o cérebro do homem possui oito tipos de inteligência. Porém, a maioria das
pessoas possui uma ou duas inteligências desenvolvidas. Isto explica porque
um indivíduo é muito bom com cálculos matemáticos, porém não tem muita
habilidade com expressão artística.
Segundo Gardner (apud TRAVASSOS, 2011), as inteligências são:
· Lógica – voltada para conclusões baseadas em dados numéricos e na razão. As pessoas com esta inteligência possuem facilidade em explicar as coisas utilizando-se de fórmulas e números. Costumam fazer contas de cabeça rapidamente. · Linguística – capacidade elevada de utilizar a língua para comunicação e expressão. Os indivíduos com esta inteligência desenvolvida são ótimos oradores e comunicadores, além de possuírem grande capacidade de aprendizado de idiomas. · Corporal – grande capacidade de utilizar o corpo para se expressar ou em atividades artísticas e esportivas. Um campeão de ginástica olímpica ou um dançarino famoso, com certeza, possuem esta inteligência bem desenvolvida. · Naturalista – voltada para a análise e compreensão dos fenômenos da natureza (físicos, climáticos, astronômicos, químicos).
· Intrapessoal – pessoas com esta inteligência possuem a capacidade de se autoconhecerem, tomando atitudes capazes de melhorar a vida com base nestes conhecimentos. · Interpessoal – facilidade em estabelecer relacionamentos com outras pessoas. Indivíduos com esta inteligência conseguem facilmente identificar a personalidade das outras pessoas. Costumam ser ótimos líderes e atuam com facilidade em trabalhos em equipe. · Espacial – habilidade na interpretação e reconhecimento de fenômenos que envolvem movimentos e posicionamento de objetos. Um jogador de futebol habilidoso possui esta inteligência, pois consegue facilmente observar, analisar e atuar com relação ao movimento da bola. · Musical – inteligência voltada para a interpretação e produção de sons com a utilização de instrumentos musicais.
Figura 1 – A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner Fonte: A Teoria das Inteligências Múltiplas (GARDNER, 1985).
Como funciona a nossa inteligência no processo de apreensão da
realidade? O primeiro passo da inteligência é a apreensão do fato novo; nessa
etapa não chegamos a nenhuma conclusão acerca do problema que se
apresenta. Logo após a apreensão, estabelecemos ideias sobre o fato
apresentado. A comparação das ideias nos leva a formular juízos a respeito do
problema investigado. Nesse momento, nossa inteligência ordena os juízos
buscando uma conclusão final para solucionar o problema.
A operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo é o que
chamamos de raciocínio. Todo profissional que possui como ferramenta de
trabalho o raciocínio, seja para resolver problemas de ordem administrativa ou
financeira, problemas matemáticos, de planejamento ou de estratégia, entre
outros, utiliza como matéria prima para o seu trabalho a arte de pensar.
Mas afinal o que é um juízo?
Podemos definir um juízo como um ato pelo qual o espírito afirma alguma
coisa de outra, por exemplo: "Deus é bom", ou "o homem não é imortal" são
juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a
imortalidade.
[INICIO DE CAIXA DE TEXTO]
Um juízo necessariamente apresenta três elementos:
1- Um sujeito: é o ser de que se afirma ou nega alguma coisa
2- Um atributo ou predicado: é o que se afirma ou nega do sujeito
3- Uma afirmação ou uma negação
[FIM DE CAIXA DE TEXTO]
Assim, podemos dizer que o juízo é a forma central de todo pensamento.
A expressão verbal de um juízo é a proposição.
Podemos dizer que uma proposição pode ser definida como uma frase
que admite dois valores lógicos: verdadeiro (V) ou falso (F).
[INICIO DE CAIXA DE TEXTO]
A proposição se compõe dos seguintes termos:
1 - Sujeito
2 - Predicado
3 – Verbo. Chamado cópula (isto é, elo), pois liga ou desliga os dois termos
– sujeito e predicado
[FIM DE CAIXA DE TEXTO]
Para ser uma proposição uma frase deve, necessariamente, apresentar
estes termos.
[INICIO DE CAIXA DE TEXTO]
Exemplo de frases que não são proposições:
Silêncio!
Quer jogar futebol?
Eu não estou bem certo se este quarto me agrada.
[FIM DE CAIXA DE TEXTO]
[INICIO DE CAIXA DE TEXTO]
Exemplos de frases que são proposições:
A lua é o único satélite do planeta terra. (V)
A cidade de Natal é a capital do estado da Paraíba. (F)
O numero 10 é ímpar. (F)
[FIM DE CAIXA DE TEXTO]
Um estudo mais aprofundado sobre proposições será feito nos próximos
capítulos.
Agora vamos voltar à discussão sobre a inteligência. Como você viu
acima, o interesse para medir a inteligência determinou uma série de estudos
entre psicólogos. O resultado foi a elaboração de TESTES DE INTELIGÊNCIA.
Veja como funciona um teste de inteligência a partir do exemplo a seguir
(COTRIM, 1989, p. 32-4). Via de regra os testes de inteligência giram em torno
de questões que devem ser respondidas em tempo estipulado e ao final
somam-se os acertos para obter um resultado.
1. Qual o objeto não pertinente a esse grupo? a. Panela b. caneta c. prato d. faca e. metal 2. Uma caneta sempre tem a. Tinta b. tampa c. tamanho d. pena e. metal 3. Que número vem a seguir nesta série?
4; 4; 8; 13; 18; 24; 30; 37; 44; 52; ...
4. Ordene estas palavras de modo a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verdade escreva V e se exprimir falsidade exprima F.
POSSUI PESSOA AMOR NENHUMA _______________________________ ( ) 5. O amor está para alegria, assim como o ódio está para a ... a. Angústia b. solidão c. saudade d. tristeza e. lágrima 6. Qual o objeto não pertinente a este grupo? a. Lápis b. panela c. caderno d. livro e. caneta 7. Uma cadeira sempre tem a. Quatro pés b. madeira c. estofamento d. assento e. apoio para os braços
TEMPO 10 MINUTOS
8. Que número vem a seguir nets série? 1/2; 1/4; 1/8; 1/16; ... 9. O sol está para a sensação visual, assim como o alimento está para a a. Sensação olfativa b. sensação auditiva c. sensação tátil d. sensação cinestésica e. sensação gustativa
10. Ordene as palavras de maneira a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verdade escreva V e se exprimir falsidade escreva F. PONTOS FRANÇA PISA. AS TORRES SÃO TURÍSTICOS E DA EIFFEL. _____________________________ ( ) 11. Qual o objeto não pertinente a este grupo? a. Pneu b. volante c. rédeas d. faróis e. para-choques 12. Um livro sempre tem a . capa b. ilustrações c. massa d. dedicatória e. ensinamentos escolares
13. Que número vem a seguir nesta série? 6; 8; 10; 12; 14; 11; 8; 5; ...
14. Sócrates está para a Filosofia, assim como Freud está para a
a. química b. biologia c. psiquiatria d.parapsicologia e. reflexologia
15. Ordene estas palavras de maneira a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verdade escreva V e se exprimir falsidade escreva F. BRASIL DA AUQRELA DO BARROSO COMPOSITOR É ARI O. ________________________________ ( ) 16. Na palavra involuntariamente, qual é a penúltima letra, imediatamente anterior ao 3º n? ( ) 17. Que número vem a seguir nesta série? 4; A; 10; B; 8; C; 14; D; ... 18. Somente os homens possuem razão. Assim sendo, qual destas alternativas logicamente encadeadas é correta? a. Os homens perdem a razão com a idade b. A razão é uma faculdade maravilhosa c. O peixe não possui razão 19. Qual a letra errada nesta série? B; D; L; N; P; O; Z; Q; M; ( ) 20. Qual o número errado nesta série? 1; 12; 25; 33; 207.
Veja a classificação a partir dos acertos.
CLASSIFICAÇÃO NÚMERO DE RESPOSTAS CORRETAS
Superior 20
Ótimo 15 a 19
Bom 10 a 14
Regular 5 a 9
Inferior 0 a 4
Caso você tenha curiosidade seguem as respostas esperadas para que possa
testar a sua inteligência. Vamos vê-las?!
1 – d (faca) 2 – c (tamanho) 3 - 60 4 – Nenhuma pessoa
possui amor (F)
5 – d (tristeza) 6 – b (panela) 7 – d (assento) 8 – 1/32
9 – e (sensação
gustativa)
10 – As torres
Eiffel e Pisa
são pontos
turísticos da
França (F)
11 – c (rédeas) 12 – c (massa)
13 - 2 14 – c
(Psiquiatria)
15 – O
compositor da
Aquarela do
Brasil é Ari
Barroso (V)
16 - M
17 – 12; F 18 – c (O peixe
não possui
razão)
19 - O 20 - 207
É como se pudéssemos, a partir desses testes, identificar nossa
capacidade de inteligência. A questão a se considerar é que estes instrumentos
não levam em conta nosso momento atual, nossa história. Supõem um homem
universal.
1.2.2 Definindo a lógica
Até aqui você foi apresentado às duas faculdades da mente humana
responsáveis pelo conhecimento da realidade – razão e inteligência. Uma vez
que o conhecimento produzido por estas duas faculdades busca a verdade e
tem como manifestação o pensamento, é preciso estabelecer algumas regras
para que essa meta possa ser atingida.
Entra em cena a lógica enquanto ramo da filosofia que cuida das regras
do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do
pensamento.
É LÓGICO!
Quantas vezes você já utilizou essa expressão? Será que nas situações
utilizadas era realmente lógico? Em que você se baseou para fazer tal
afirmação?
De uma maneira geral, quando usamos a expressão É LÓGICO, quase
sempre estamos nos referindo a algo que nos parece evidente, ou quando
temos uma opinião muito fácil de justificar (MACHADO, 2000).
Portanto, podemos iniciar essa tentativa de definir a lógica afirmando
que ela representa o aperfeiçoamento do pensamento, a arte de pensar
corretamente. O ato de pensar corretamente antes de executar qualquer ação
é, comprovadamente, um ponto positivo para que tal tarefa seja executada com
total sucesso. Criar estratégias, relacionar informações e levantar hipóteses
são habilidades essenciais não apenas para a prática escolar, mas para
diversas situações do cotidiano.
Mas afinal, o que é lógica?
Lógica, do grego λογική, logos, significa palavra, pensamento, ideia,
argumento, relato. Apesar de ser um ramo da Filosofia, não é de propriedade
exclusiva do filósofo. Todo aquele que deseja entender e desenvolver
raciocínios matemáticos e científicos deveria estudá-la.
Segundo o filósofo Régis Jolivet (apud COTRIM, 1989, p. 199) “a lógica
é a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente
na procura e demonstração da verdade”.
Não há consenso quanto à definição da lógica. Registra-se uma
pluralidade de definições que evidenciam a diversidade de estudos que são
abrangidos pela Lógica. Destacamos algumas definições que servem para
iniciar a nossa reflexão.
[INICIO DE CAIXA DE TEXTO]
"O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio
correto do incorreto."
Irving Coppi
"A lógica trata de argumentos e inferências. Um de seus propósitos básicos é apresentar
métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que
não são logicamente válidos."
Wesley Salmon
"A tarefa da lógica sempre foi a de classificar e organizar as inferências válidas, separando-as
daquelas que não o são. A importância desta organização não deve ser subestimada, pois
usam-se as inferências (de preferência válidas) tanto na vida comum como nas ciências
formais, sendo um exemplo a matemática."
Jesus Eugênio de Paula Assis
"Para Aristóteles, a lógica é a ciência da demonstração; (...) para Lyard é a „ciência das regras
do pensamento‟. Poderíamos ainda acrescentar: (...) é a ciência das leis ideais do
pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e demonstração da verdade."
Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires
FONTE: Strecker, 2011.
[FIM DE CAIXA DE TEXTO]
E por que estudar Lógica? Há inúmeras razões! Uma delas liga-se ao
nosso tempo. Vivemos a era pós-industrial, na qual os principais produtos da
mente humana são as ideias. Neste novo ambiente, terão vantagens aqueles
que têm raciocínio lógico e sabem conferir concretude ao processo criativo.
Para desenvolver um raciocínio correto nos deparamos com dois
problemas:
Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele possua validade;
Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele corresponda a algum fato da realidade (COTRIM, 1989, p. 199).
É exatamente com o objetivo de responder esses dois problemas que a
lógica se divide em duas grandes partes: a lógica formal e a lógica material. A
lógica formal se preocupa com os caminhos que devem ser seguidos pelo
pensamento para este ser correto, ao passo que a lógica material volta-se para
a garantia da correspondência verdadeira entre nosso pensamento e a
realidade. Sobre estas duas grandes divisões da lógica você irá saber mais no
capítulo III.
1.2.3 A importância da lógica
Acreditamos que agora que você já tem uma compreensão inicial do que
seja a lógica, fica mais fácil entender a sua importância para um curso de nível
superior, principalmente sua importância para o exercício profissional. Senão
vejamos: o que mais esperamos dos alunos, profissionais, enfim, dos seres
humanos é que possam pensar de forma cada vez mais crítica e com
argumentos, com base e critérios logicamente válidos. Por outro lado, quando
fazemos afirmações sem argumentos não oferecemos ao nosso interlocutor
motivo para aceitar nosso ponto de vista.
Quando apresentamos argumentos, iniciamos um diálogo em que
estaremos abertos a rever nossos argumentos em função de argumentos mais
sólidos e válidos. Todo esse exercício de argumentação exige critérios válidos
e é nesse momento que entra a lógica.
Sobre a importância da lógica Lewis Carol (apud SOARES; DORNELAS,
2011) afirma que
ela [a Lógica] lhe dará clareza de pensamento, a habilidade de ver seu caminho através de um quebra-cabeça, o hábito de arranjar suas idéias numa forma acessível e ordenada e, mais valioso que tudo, o poder de detectar falácias e despedaçar os argumentos ilógicos e inconsistentes que você encontrará tão facilmente nos livros, jornais, na linguagem cotidiana e mesmo nos sermões e que tão facilmente enganam aqueles que nunca tiveram o trabalho de instruir-se nesta fascinante arte.
Como você pode observar, este conhecimento é uma exigência
cada vez maior no nosso cotidiano, no sistema escolar e na vida em sociedade,
na medida em que nestes contextos é necessário o desenvolvimento da
capacidade de distinguir entre um discurso correto e um incorreto, a
identificação de falácias, o desenvolvimento da capacidade de argumentação,
compreensão e crítica de argumentações e textos.
Ao lado de sua importância no nosso cotidiano, a lógica é hoje presença
constante em concursos para ingresso no mundo do trabalho. As questões de
lógica se apresentam como problemas que exigem um caminho com
possibilidades que levem a uma solução – até aqui estamos no campo do
raciocínio. Uma vez encontrada a solução é preciso que seja validada – aqui
está o espaço da lógica.
1.2.4 Desenvolvendo o raciocínio lógico
Como você viu até aqui, ter raciocínio lógico significa raciocinar bem.
Mas, o que fazer para aprender a raciocinar bem? Sabemos que algumas
decisões na nossa vida são intuitivas, mas existe uma fórmula de aprimorar a
nossa capacidade de raciocinar. E a lógica é essa ferramenta que lhe capacita
a aprimorar seus argumentos, garantido cada vez mais sua validade.
O raciocínio lógico hoje é uma exigência em provas de concurso, bem
como em psicotestes de empresas para seleção de funcionários para cargos
específicos. O conhecimento de alguns mecanismos de análise das questões,
bem como a realização de exercícios, é um treino efetivo para desenvolver um
bom raciocínio.
Nesse sentido, vamos destacar três tópicos que vêm sempre sendo
explorados nas questões apresentadas em concursos, são eles: o raciocínio
verbal, o raciocínio numérico e o raciocínio visuo-espacial.
[INÍCIO DO ÍCONE SAIBA QUE]
Antes de situar esses tipos de raciocínios é importante que você saiba que
para responder qualquer tipo de questão envolvendo raciocínio lógico é
necessário ter claro que, nestas questões, o raciocínio pode seguir um caminho
lógico ou um caminho ilógico (BOTELHO, 2011).
O caminho lógico se efetiva no contexto da lógica matemática.
Apresenta uma ordem que pode ser crescente, decrescente ou constante. O
caminho ilógico envolve outros raciocínios fora da lógica matemática. São
questões que utilizam os meses do ano, os dias da semana, as fases da lua, as
letras do alfabeto.
[FINAL DO ÍCONE SAIBA QUE]
Retomando a explicação anterior, veja o quadro a seguir:
RACIOCÍNIO LÓGICO RACIOCÍNIO ILÓGICO
Crescente Semana/ Meses
Decrescente Fases da lua
Constante Letras do alfabeto
Voltemos aos três tipos de raciocínio citados anteriormente: o verbal, o
numérico e o visuo-espacial.
Comecemos por exemplificar o raciocínio verbal.
Considere a sequência. Qual a próxima letra?
B, D, G, K, _____
O primeiro ponto a considerar é que estamos diante de um raciocínio
lógico sequencial verbal crescente.
B D G K P
Pula 1 pula 2 pula 3 pula 4
Vamos entender:
1. É uma sequência de letras (por isso sequencial verbal)
2. A distância entre elas é crescente
3. Portanto o caminho é lógico
4. Assim a próxima letra da sequência será a letra P
Agora vejamos uma questão desenvolvida com base no raciocínio
numérico.
Considere a sequência. Qual o próximo número?
77; 49; 36; 18; _______
Estamos diante de um raciocínio lógico sequencial numérico
decrescente.
[INÍCIO DO ÍCONE SAIBA QUE]
É importante lembrar que as questões envolvendo raciocínio lógico trabalham
com as operações: adição, subtração, multiplicação, divisão, radiciação e
potenciação.
[FINAL DO ÍCONE SAIBA QUE]
Veja a resolução da questão:
77 49 36 18 8
7x7 4x9 3x6 1x8
Vamos traduzir:
1. É uma sequência de números (por isso sequencial numérica)
2. A sequência está em ordem decrescente
3. Portanto o caminho é lógico
4. A operação utilizada foi a multiplicação
5. Assim o próximo número da sequência é 8
Quando falamos dos caminhos que um raciocínio pode seguir na
resolução das questões de raciocínio lógico, destacamos o caminho lógico –
exemplificado nas questões acima – e o caminho ilógico. Vamos agora
exemplificar uma questão que seguiu o caminho ilógico.
Considere a sequência. Qual a próxima letra?
JJASOND_____
Veja que, diferente das questões anteriores, não há uma sequência
previsível. Ora é crescente, ora decrescente – não há continuidade. Estamos
diante de um caminho ilógico.
Sabendo que este tipo de raciocínio trabalha com meses do ano,
identificamos aí a resposta a nossa questão. Veja que as letras correspondem
à inicial dos meses do ano começando com o mês de junho - (junho, julho,
agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro). Neste caso a próxima letra
da sequência será a letra J, referente ao mês de JANEIRO.
Vamos a um exemplo de um raciocínio numérico que seguiu o caminho ilógico:
Considere a sequência. Qual o próximo número?
2; 12; 16; 17; 19 _________
Primeiro ponto a considerar: o caminho do raciocínio é lógico ou ilógico?
Vamos considerar o intervalo entre os números.
2 12 16 17 19 200
10 4 1 2
Veja que, entre os números da sequência apresentada, não há nem uma
ordem crescente, nem uma ordem decrescente, nem mesmo uma constância.
Nesse caso o caminho a seguir será o ilógico. E neste caso recorremos às
letras do alfabeto. Veja que a sequência de números apresentados começa
com a letra D. No caso o próximo número depois de dezenove a iniciar com a
letra D será 200.
Passemos agora a exemplos de raciocínios visuo-espaciais.
Questões de raciocínio visuo-espacial apresentam uma quantidade de
figuras em linhas e a última figura vem em branco para que você identifique o
desenho.
O primeiro passo é analisar linha por linha. Cada linha segue uma lei de
formação. O passo seguinte é identificar a lei de formação da primeira linha
que se repete na segunda. Assim é razoável que esta mesma lei de formação
se repita na terceira linha.
No caso das figuras, você identifica que existem orelhas para fora e
orelhas para dentro. As orelhas para fora serão positivas e as orelhas para
dentro serão negativas.
Assim vejamos, na primeira linha temos:
+2 -1 = 1
Na segunda linha temos:
-2 +3 =1
A terceira linha necessariamente seguirá a lei de formação das duas
primeiras. Assim vejamos:
1 -1 =0
Em todas as questões apresentadas você pode perceber que é
necessário um constante treinamento para que cada vez mais você possa se
apropriar de mecanismos que darão maior capacidade de raciocínio.
1.3 Aplicando a teoria na prática
Agora é hora de articular a discussão teórica até aqui desenvolvida com
a vida prática. Entre outros temas, discutimos a razão humana. Vamos pensar
um pouco sobre essa faculdade que possibilita ao homem estabelecer uma
articulação entre pensamento e realidade. Um olhar atento e reflexivo sobre
nosso cotidiano deixa evidente como por vezes, e sem nenhum esforço,
mudamos de ideia; ao mesmo tempo, é possível por meio desse exercício,
perceber como, algumas vezes, nos apegamos a alguma ideia sem saber de
onde veio, principalmente, se percebemos que alguém quer se apropriar
assumindo sua autoria, ou mesmo querendo nos fazer mudar de ideia.
Por que isso acontece? São as ideias que nos são caras? Ou será
nosso amor próprio que está em jogo? Dito de outra maneira: por que é tão
difícil mudarmos nosso ponto de vista e aceitar o ponto de vista do outro?
Na verdade poucos de nós param e refletem sobre a origem das nossas
convicções. Acreditamos, grande parte das vezes, naquilo que nos
acostumamos a aceitar como verdade. E nesse caso, usamos nossa razão
para encontrar argumentos capazes de justificar nossas convicções. Você sabe
como os cientistas modernos designam esse apego incondicional (no sentido
de que muitas vezes nem sabemos a origem daquilo que defendemos) as
nossas crenças e aos nossos (pré)conceitos fazendo com que busquemos
razões para justificá-los?
Saiba que esse mecanismo recebe o nome de RACIONALIZAÇÃO.
Apesar de ser uma palavra pouco compreendida é um mecanismo presente na
vida de cada um de nós. Apegamo-nos aos nossos (pré)conceitos, as nossas
convicções e buscamos boas razões para justificá-las. Difícil é admitir a ideia
de estarmos errados e reconstruir nossos conceitos e convicções.
1.4 Para saber mais
LIVRO
Título: O cérebro nosso de cada dia
Autor: Suzana Herculano-Houzel
Editora: Vieira e Lente
Ano: 2002
Uma boa indicação para aprofundar seus conhecimentos na área da
neurociência você pode encontrar neste livro de Suzana Herculano-Houzel, O
Cérebro Nosso de Cada Dia. Nesta obra, ela fala de maneira clara para leigos
como funciona nosso cérebro e como tudo acontece dentro dele. Conta o fato
que ocorreu quando o fantástico físico Albert Einstein faleceu. Com permissão
da família, seu cérebro foi retirado e estudado. Conclusões: o cérebro de
Einstein era do tamanho do cérebro médio das mulheres, ou seja, tinha um
cérebro pequeno.
1.5 Relembrando
Neste capítulo você aprendeu que:
O homem usa suas faculdades da razão e da inteligência para construir
conhecimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida no
planeta.
A razão tem não só a função de perceber os fatos que provocam as
sensações, mas também de avaliá-los, julgá-los e organizá-los. Por meio
da razão tomamos conhecimento da realidade.
Inteligência, no seu conceito clássico, é a capacidade mental de
raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender.
Gardner amplia este conceito no que denomina Teoria das Inteligências
múltiplas. São as seguintes as inteligências: lógica, linguística, corporal,
naturalista, intrapessoal, interpessoal, espacial e musical.
Um juízo é um ato pelo qual o espírito afirma alguma coisa de outra, por
exemplo: "Deus é bom", ou "o homem não é imortal" são juízos,
enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a
imortalidade.
A operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo
chamamos de raciocínio.
Lógica, do grego λογική, logos, significa palavra, pensamento, ideia,
argumento, relato. É o ramo da filosofia que cuida das regras do bem
pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do
pensar.
Tópicos, dentro do conteúdo de raciocínio lógico, que vêm sempre
sendo explorados nas questões apresentadas em concursos: raciocínio
verbal, raciocínio numérico e raciocínio visuo-espacial.
1.6 Testando os seus conhecimentos
Questão 1: 2, 4, 8,16, ... o número que vem a seguir nesta série é:
a) 20
b) 24
c) 32
d) 64
e) 128
Questão 2: A, C, F, J, ... a letra que vem a seguir série é:
a) O
b) R
c) S
d) M
e) U
Questão 3: É possível afirmar que os japoneses são mais inteligentes que os
africanos? Responda considerando o conceito clássico de inteligência e a
seguir utilize a teoria das inteligências múltiplas de Gardner.
Onde encontrar
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
COPI, I. M. Introdução à Lógica. 2ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. Para uma geração consciente. São
Paulo: Saraiva, 1989.
MACHADO, N. J. Lógica? É Lógico! São Paulo: Scipione, 2000.
TRAVASSOS, L. C. P. Inteligências múltiplas. Disponível em: <http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/inteligencias_multiplas.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011. SCOLARI, A. T.; BERNARDI, G. O Desenvolvimento do Raciocínio Lógico através de Objetos de Aprendizagem. Disponível em: <http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo10/artigos/4eGiliane.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.
SSOOAARREESS,, FF..;; DDOORRNNEELLAASS,, GG.. NN.. AA lógica no cotidiano e a lógica na matemática. Disponível em: <hhttttpp::////wwwwww..ssbbeemm..ccoomm..bbrr//ffiilleess//vviiiiii//ppddff//0055//MMCC0033552266667777770000..ppddff..>>.. AAcceessssoo eemm::
1100 mmaarr.. 22001111.. STRECKER, H. Lógica – Introdução. Uma porta ao mundo da filosofia e da
ciência. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u4.jhtm>.
Acesso em: 25 fev. 2011.
TOGATLIAN, M. A. Teoria das inteligências múltiplas. Disponível em: <http://togatlian.pro.br/docs/pos/unesa/inteligencias.pdf.>. Acesso em: 10 mar. 2011.