TEXTO: 1 - Comum à questão: 1 Festas de casamento falsas ... · parentes dos noivos, ... o...

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TEXTO: 1 - Comum à questão: 1 Festas de casamento falsas viram moda na Argentina 01 Comida gostosa, música boa, bar liberado ____ 02 noite toda... quem nunca ______ até altas horas numa 03 boa festa de casamento? Esse ritual, que muitos já 04 presenciaram ao longo da vida, é, porém, desconhecido 05 para alguns representantes das gerações mais 06 jovens. 07 Mas há uma solução para elas: Casamento Falso 08 (ou Falsa Boda, no nome original em espanhol), uma 09 ideia de cinco amigos de La Plata, na Argentina. O 10 detalhe era que os convidados não eram amigos ou 11 parentes dos noivos, mas ilustres desconhecidos que 12 compraram entradas para o evento. 13 Martín Acerbi, um publicitário de 26 anos, estava 14 cansado de ir sempre ____ mesmas boates. “Queríamos 15 organizar uma festa diferente, original”, disse. E 16 assim pensaram em fazer esse evento “temático”, que 17 chamaram de Casamento Falso. 18 Pablo Boniface, um profissional de marketing de 19 32 anos que esteve em um Casamento Falso em 20 Buenos Aires em julho, disse que para ele foi a ocasião 21 perfeita para realizar algo que sempre quis fazer: 22 colocar uma gravata. 23 “Para mim essas festas são até melhores do que 24 um casamento real, _____ você não precisa se sentar 25 com estranhos e ficar entediado. Você passa bons 26 momentos com seus amigos e não se encontra com 27 todos os tios e avôs que normalmente frequentam 28 essas cerimônias”, disse Pablo. Adaptado de: http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/08/150831_ falsos_casamentos_tg. Acesso em 07 set. 2016. 01. (PUC RS/2017) Observe as expressões a seguir em seu contexto. “música boa” (Ref. 01) “ilustres desconhecidos” (Ref. 11) “ir sempre” (Ref. 14) “ocasião perfeita” (Refs. 20 e 21) “seus amigos” (Ref. 26) Quantas das expressões acima manteriam o sentido caso a ordem entre as palavras que as constituem fosse alterada? a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5 TEXTO: 2 - Comum à questão: 2 Leia o excerto abaixo, adaptado do ensaio Para que servem as humanidades?, de Leyla Perrone Moisés. As humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existência humana, para além do simples alongamento de sua duração ou do bem-estar baseado no consumo. Servem para estudar os problemas de nosso país e do mundo, para humanizar a globalização. Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade que este tem de entender, de imaginar e de criar, esses estudos servem à vida tanto quanto a pesquisa sobre o genoma. Num mundo informatizado, servem para preservar, de forma articulada, o saber acumulado por nossa cultura e por outras, estilhaçado no imediatismo da mídia e das redes. Em tempos de informação excessiva e superficial, servem para produzir conhecimento; para “agregar valorˮ, como se diz no jargão mercadológico. Os cursos de humanidades são um espaço de pensamento livre, de busca desinteressada do saber, de cultivo de valores, sem os quais a própria ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o apoio firme das autoridades universitárias e da sociedade, que eles estudam e à qual servem. (Adaptado de Leyla Perrone-Moisés, Para que servem as humanidades? Folha de São Paulo, São Paulo, 30 jun. 2002, Caderno Mais!.)

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TEXTO: 1 - Comum à questão: 1

Festas de casamento falsas viram moda na Argentina

01 Comida gostosa, música boa, bar liberado ____ 02 noite toda... quem nunca ______ até altas horas

numa 03 boa festa de casamento? Esse ritual, que muitos já 04 presenciaram ao longo da vida, é, porém, desconhecido 05 para alguns representantes das gerações mais 06 jovens.

07 Mas há uma solução para elas: Casamento Falso 08 (ou Falsa Boda, no nome original em espanhol), uma 09 ideia de cinco amigos de La Plata, na Argentina. O 10 detalhe era que os convidados não eram amigos ou 11 parentes dos noivos, mas ilustres desconhecidos que 12 compraram entradas para o evento.

13 Martín Acerbi, um publicitário de 26 anos, estava 14 cansado de ir sempre ____ mesmas boates. “Queríamos 15 organizar uma festa diferente, original”, disse. E 16 assim pensaram em fazer esse evento “temático”, que 17 chamaram de Casamento Falso.

18 Pablo Boniface, um profissional de marketing de 19 32 anos que esteve em um Casamento Falso em 20 Buenos Aires em julho, disse que para ele foi a ocasião 21 perfeita para realizar algo que sempre quis fazer: 22 colocar uma gravata.

23 “Para mim essas festas são até melhores do que 24 um casamento real, _____ você não precisa se sentar 25 com estranhos e ficar entediado. Você passa bons 26 momentos com seus amigos e não se encontra com 27 todos os tios e avôs que normalmente frequentam 28 essas cerimônias”, disse Pablo.

Adaptado de: http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/08/150831_ falsos_casamentos_tg. Acesso em 07 set. 2016.

01. (PUC RS/2017) Observe as expressões a seguir em seu contexto.

• “música boa” (Ref. 01) • “ilustres desconhecidos” (Ref. 11) • “ir sempre” (Ref. 14) • “ocasião perfeita” (Refs. 20 e 21) • “seus amigos” (Ref. 26) Quantas das expressões acima manteriam o sentido caso a ordem entre as palavras que as constituem fosse alterada? a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5

TEXTO: 2 - Comum à questão: 2 Leia o excerto abaixo, adaptado do ensaio Para que servem as humanidades?, de Leyla Perrone Moisés.

As humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existência humana, para além do simples alongamento de sua duração ou do bem-estar baseado no consumo. Servem para estudar os problemas de nosso país e do mundo, para humanizar a globalização. Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade que este tem de entender, de imaginar e de criar, esses estudos servem à vida tanto quanto a pesquisa sobre o genoma. Num mundo informatizado, servem para preservar, de forma articulada, o saber acumulado por nossa cultura e por outras, estilhaçado no imediatismo da mídia e das redes. Em tempos de informação excessiva e superficial, servem para produzir conhecimento; para “agregar valorˮ, como se diz no jargão mercadológico. Os cursos de humanidades são um espaço de pensamento livre, de busca desinteressada do saber, de cultivo de valores, sem os quais a própria ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o apoio firme das autoridades universitárias e da sociedade, que eles estudam e à qual servem.

(Adaptado de Leyla Perrone-Moisés, Para que servem as humanidades? Folha de São Paulo, São Paulo, 30 jun. 2002, Caderno Mais!.)

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02. (UNICAMP SP/2017) As expressões “agregar valorˮ e “cultivo de valoresˮ, embora aparentemente próximas pelo uso da mesma palavra, produzem efeitos de sentido distintos. Explique-os.

TEXTO: 3 - Comum à questão: 3 Leia o seguinte texto, extraído de uma matéria jornalística sobre supercomputadores:

Supercomputadores são usados para cálculos de simulação pesada.Umexemplo recorrente do uso desse tipo de equipamento é a de simulação climática: com quatrilhões por segundo de processamento, torna-se possível que um computador tenha capacidade de calcular as oscilações meteorológicas. Isso ajuda a prevenir desastres, ou a preparar políticas de apoio à agricultura, se antecipando a cenários os mais variados.

Evidentemente, há outros usos, como pesquisas científicas que precisam também simular cenários, com uma ampla gama de variáveis. Estudos militares e de desenvolvimento de tecnologia também se beneficiam do poder computacional desse tipo de equipamento.

www.techtudo.com.br, 24.06.2016. 03. (FUVEST SP/2017) A palavra “cenários” (sublinhada no texto) foi empregada com o mesmo sentido em

suas duas ocorrências? Justifique sua resposta. TEXTO: 4 - Comum à questão: 4

Passe livre?

Os turistas que chegam a Boston, nos Estados Unidos, têm uma agradável surpresa: uma viagem na Silver Line, o corredor de ônibus que liga o aeroporto ao centro da cidade, sai de graça. Mas a tarifa zero só vale para quem embarca no próprio aeroporto: passageiros regulares pagam US$ 2,65. A ideia é dar uma espécie de "boas vindas" aos visitantes. A 7,5 mil quilômetros de Boston, a cidade de Agudos, no interior de São Paulo, tem passe livre integral. Todo mês o prefeito aplica R$ 120 mil na rede de 16 ônibus da cidade e só isso já garante o deslocamento de toda a população.

"Considero possível a tarifa zero em qualquer cidade. Mas trata-se de uma medida que demanda reestruturação tributária nos municípios", diz Paulo Cesar Marques da Silva, especialista em mobilidade da Universidade de Brasília. A aplicação de impostos progressivos, cuja alíquota aumenta conforme a renda do contribuinte é uma possibilidade. Outra, segundo Paulo, é "a taxação pelo uso do automóvel, seja em estacionamentos públicos, seja pela circulação". O pedágio urbano se tornou famoso após sua implantação em Londres: em dez anos, reduziu em 21% a presença de carros no centro da cidade.

"Precisamos de modelos de arrecadação. Caso contrário, a tarifa vai sempre subir e, no fim, muita gente deixa de usar o transporte", afirma João Cucci Neto, professor de engenharia de tráfego da universidade Mackenzie. Além desses subsídios, a taxação da gasolina, a contribuição da indústria e outros empreendimentos que se beneficiem de um bom sistema de transporte são alguns modelos possíveis.

Adaptado de: Galileu, mar/2016, ed. 296, p. 30. 04. (UEPG PR/2017) Sobre a palavra aplica no primeiro parágrafo e aplicação no segundo parágrafo, assinale

o que for correto. 01. No primeiro parágrafo, o sentido da palavra recai sobre o governo e, no segundo parágrafo, recai

sobre a população. 02. Em ambos os casos a palavra é um verbo. 04. Em ambos os casos a palavra é um substantivo. 08. No primeiro parágrafo, o sentido da palavra é de investir/empregar, já no segundo, o sentido é de

decretar/impor. 16. No primeiro parágrafo, indica a ação praticada e, no segundo parágrafo, é o sujeito de uma sentença

cujo predicado é nominal. TEXTO: 5 - Comum à questão: 5

1 Há alguns meses fui convidado a visitar o Museu da Ciência de La Coruña, na Galícia. Ao final da 2 visita, o curador1 anunciou que tinha uma surpresa para mim e me conduziu ao planetário2. Um 3 planetário sempre é um lugar sugestivo, porque, quando se apagam as luzes, temos a impressão 4 de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas naquela noite algo especial me aguardava.

5 De repente a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo acalanto de Manuel de Falla. 6 Lentamente (embora um pouco mais depressa do que na realidade, já que a apresentação durou 7 ao todo quinze minutos) o céu sobre minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu que aparecera 8 sobre minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na noite de 5 para 6 de janeiro de 1932, 9 quando nasci. Quase hiper-realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida.

10 Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira noite. Provavelmente nem minha 11 mãe a viu, exausta como estava depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto, 12 ao sair para o terraço, um pouco agitado com o fato maravilhoso (pelo menos para ele) que 13 testemunhara e ajudara a produzir.

14 O planetário usava um artifício mecânico que se pode encontrar em muitos lugares. Outras 15 pessoas talvez tenham passado por uma experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar 16 se durante aqueles

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Exercícios Complementares

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quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde o início dos 17 tempos que havia tido o privilégio de se encontrar com seu próprio começo. Eu estava tão feliz 18 que tive a sensação – quase o desejo – de que podia, deveria morrer naquele exato momento 19 e que qualquer outro momento teria sido inadequado. Teria morrido alegremente, pois vivera a 20 mais bela história que li em toda a minha vida.

21 Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas 22 telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. Era ficção 23 porque a história fora reinventada pelo curador; era História porque recontava o que acontecera 24 no cosmos num momento do passado; era vida real porque eu era real e não uma personagem 25 de romance.

UMBERTO ECO Adaptado de Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

1 curador − responsável pelo museu 2 planetário − local onde é possível reproduzir o movimento dos astros 05. (UERJ/2017) Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos

livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. (Refs. 21-22)

Na frase acima, o autor procura delimitar um sentido para a palavra história por meio dos trechos destacados. Esses trechos apresentam uma formulação do seguinte tipo: a) exemplificação b) particularização c) modalização d) dedução

TEXTO: 6 - Comum à questão: 6

1 Resisti a entrar para o Facebook e, mesmo quando já fazia parte de sua rede, minha opinião 2 sobre ela não era das melhores: fragmentação da percepção, e portanto da capacidade 3 cognitiva; intensificação do narcisismo exibicionista da cultura contemporânea; império do 4 senso comum; indistinção entre o público e o privado. Não sei se fui eu quem mudou, se foram 5 meus “amigos” ou se foi a própria rede, mas, hoje, sem que os traços acima tenham deixado 6 de existir, nenhum deles, nem mesmo todos eles em conjunto me parecem decisivos, ao menos 7 na minha experiência: agora compreendo e utilizo a rede social como a televisão do século XXI, 8 com diferenças e vantagens sobre a TV tradicional.

9 A internet, as tecnologias wiki de interação e as redes sociais têm uma dimensão, para usar 10 a expressão do escritor Andrew Keen, de “culto do amador”, mas tal dimensão convive com 11 o seu oposto, que é essa crítica da mídia tradicional pela nova mídia, cujos agentes muitas 12 vezes nada têm de amadores. Assim, a metatelevisão do Facebook opera tanto selecionando 13 conteúdo da TV tradicional como submetendo-o à crítica. E faz circular ainda informações que 14 a TV, por motivos diversos, suprime. Alguns acontecimentos recentes, no Brasil e no mundo, 15 tiveram coberturas nas redes sociais melhores que nos canais tradicionais. A divergência é uma 16 virtude democrática, e as redes sociais têm contribuído para isso (e para derrubar ditaduras 17 onde não há democracia).

18 A publicização da intimidade, sem nenhuma transfiguração que lhe confira o estatuto de interesse 19 público, é muito presente na rede. Deve-se lembrar, entretanto, que redes sociais não são 20 exatamente um espaço público, mas um espaço privado ampliado ou uma espécie nova e híbrida 21 de espaço público-privado. Seja como for, aqui também é o usuário que decide sobre o registro 22 em que prevalecerá sua experiência. E não se deve exagerar no tom crítico a essa dimensão; o 23 registro imaginário, narcisista, de promoção do eu é humano, demasiadamente humano, e até 24 certo ponto necessário. Deve-se apenas relativizá-lo; ora, essa relativização vigora igualmente 25 nas redes sociais. Além disso, a publicização da intimidade não significa necessariamente 26 autopromoção do eu. Ela pode ativar uma dimensão importante da comunicação humana.

27 Roland Barthes, escritor francês, costumava dizer que a linguagem sempre diz o que diz e ainda28 diz o que não diz. Por exemplo, ao citar o nome de Barthes, estou, além de dizer o que ele 29 disse, dizendo que eu o li, que sou um leitor culto. Esse tema do que passa por meio de, 30 indiretamente, era importante para Barthes. Ele adorava o caso da brincadeira de passar o anel, 31 onde o que está em jogo é tanto o roçar das mãos quanto o destino do objeto. Pois bem, fui 32 percebendo que a escrita nas redes sociais é uma forma de roçar as mãos, tanto quanto de 33 saber, afinal, onde foi parar o anel. O indireto dessa escrita, o que por meio dela se diz, é uma 34 pura abertura ao outro.

FRANCISCO BOSCO Adaptado de Alta ajuda. Rio de Janeiro: Foz, 2012.

06. (UERJ/2017) Esse tema do que passa por meio de, indiretamente, era importante para Barthes. (Refs. 29-30) Com base na compreensão do último parágrafo, a expressão que pode substituir o trecho sublinhado é: a) das sugestões implícitas b) das negações assumidas c) das metáforas cristalizadas d) dos eufemismos recorrentes

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TEXTO: 7 - Comum à questão: 7 Editorial Folha de S.Paulo, 13 set. 2016

Poucas vezes a posse de um presidente do Supremo Tribunal Federal se revestiu de tanto simbolismo

quanto a de Cármen Lúcia, cuja chegada ao comando do órgão de cúpula do Judiciário se consumou nesta segunda-feira (12).

Em uma cerimônia simples, a ministra quebrou o protocolo já no início de seu discurso. Em vez de cumprimentar primeiro o presidente da República, Michel Temer (PMDB), Cármen Lúcia considerou que a maior autoridade presente era "Sua Excelência, o povo" – e, por isso, saudou antes de todos o "cidadão brasileiro".

Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse ser considerado mero populismo; vindo da nova presidente do STF, guarda coerência com outras iniciativas de valor simbólico semelhante, como abrir mão de carro oficial com motorista ou dispensar a festa em sua própria posse.

Como se pudesse haver dúvidas a respeito disso, Cármen Lúcia deixa clara a intenção de, no próximo biênio, conduzir o STF com a mesma austeridade que pauta sua conduta pessoal. "Privilégios são incompatíveis com a República", disse a esta Folha no ano passado.

É de imaginar, assim, que a nova presidente de fato reveja uma das principais bandeiras da agenda corporativista de seu antecessor, Ricardo Lewandowski: o indefensável aumento salarial para os ministros do Supremo.

Não há de ser esse o único contraste entre as gestões. Espera-se que Cármen Lúcia moralize os gastos com diárias de viagens oficiais no STF, amplie a transparência e a previsibilidade das decisões do Judiciário e, acima de tudo, resgate o papel disciplinar do Conselho Nacional de Justiça, esvaziado sob a batuta de Lewandowski.

Desfrutando de sólida reputação no meio jurídico, a ministra suscita altas expectativas ainda por outro motivo: ela relatou o processo do ex-deputado federal Natan Donadon, condenado por desvio de dinheiro público e primeiro político a ter sua prisão determinada pelo STF desde a promulgação da Constituição de 1988.

Daí por que o ministro Celso de Mello se sentiu à vontade para, antes do discurso de Cármen Lúcia, proferir palavras duríssimas contra "os marginais da República, cuja atuação criminosa tem o efeito deletério de subverter a dignidade da função política e da própria atividade governamental".

No plenário do Supremo, diversos figurões da política investigados ou processados por crimes contra o patrimônio público apenas ouviam, constrangidos. Que o recado da gestão Cármen Lúcia possa ir além do plano simbólico. 07. (PUC SP/2017) Pela leitura do texto, infere-se que a expressão "mero populismo”, empregada no terceiro

parágrafo, significa a) prática de quem simula defender interesses das pessoas com menos recursos econômicos, de modo a

conquistar-lhes aceitação e simpatia. b) comportamento subserviente daqueles que se propõem a exercer influência sobre as atitudes de

pessoas de todas as classes sociais. c) modo de os partidos políticos estabelecerem relação direta com a população carente, a fim de obterem

mais apoio. d) forma como as massas populares se sentem diante do autoritarismo exercido pelas classes mais

favorecidas. TEXTO: 8 - Comum à questão: 8

O MITO DO TEMPO REAL O descompasso entre a velocidade das máquinas e a capacidade de compreensão de seus usuários leva a

um quadro de ansiedade social sem precedentes. Em blogs, redes sociais, podcasts e mensagens eletrônicas diversas todos pedem desculpas pela demora em responder às demandas de seus interlocutores, impacientes como nunca. E-mails que não sejam atendidos em algumas horas acabam encaminhados para outras redes, em um apelo público por uma resposta.

No desespero por contato instantâneo, telefones chamam repetidamente em horas impróprias, mensagens de texto são trocadas madrugada adentro, conversas multiplicam- se por comunicadores instantâneos e toda ocasião – do trânsito ao banheiro, do elevador à cama, da hora do almoço ao fim de semana – parece uma lacuna propícia para se resolver uma pendência.

[...] A resposta imediata a uma requisição é chamada tecnicamente de “tempo real”, mesmo que não haja nada

verdadeiramente real nem humano nessa velocidade. O tempo imediato, sem pausas nem espera, em que tudo acontece num estalar de dedos é uma ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência. Pelo contrário, pode ser extremamente prejudicial.

Muitos combatem a superficialidade nas relações digitais pelos motivos errados, questionando a validade dos “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter ao compará-los com seus equivalentes analógicos. O problema não está na tecnologia, mas na intensidade dispensada em cada interação. Seja qual for o meio em que ele se dê, o contato entre indivíduos demanda tempo, e nesse tempo não é só a informação pura e simples que se troca. Festas, conversas, leituras, relacionamentos, músicas e filmes de qualidade não podem ser acelerados ou resumidos a sinopses. Conversas, ao vivo ou mediadas por qualquer tecnologia, perdem boa parte de sua intensidade com a segmentação. O tempo empenhado em cada uma delas é muito valioso; não

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faz sentido economizá-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo humano (que talvez seja irreal, se o “outro” for provado real) é bem mais lento. Nossas vidas são marcadas tanto pela velocidade quanto pela lentidão.

[...] Essa quebra da sequência histórica faz com que muitos processos pareçam herméticos ou misteriosos

demais. Quando não há uma compreensão das etapas componentes de um processo, não há como intervir nelas, propondocorreções, adaptações ou melhorias. Tal impotência leva a uma apatia, em que as condições impostas são aceitas por falta de alternativa. Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à procura do último aparelho eletrônico que se proponha a preencher o vazio que sentem.

Incapazes de propor alternativas ou sugerir mudanças, os consumidores são estimulados pela publicidade a um gigantesco hedonismo e pragmatismo. A facilidade de acesso à abundância leva a uma passividade e a um pensamento pragmático que defende a ideia de “vamos aproveitar agora, pois quando acontecer um problema alguém terá descoberto a solução”, visível na forma com que se abordam problemas de saúde, obesidade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento de recursos e poluição ambiental. Em alta velocidade há pouco espaço para a reflexão. Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o risco de deixar para trás tudo aquilo que nos diferencia das outras espécies.

(Luli Radfahrer. Disponível em: http:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ luliradfahrer/ 1191007-o-mito-do-tempo-real.shtml.)

08. (CEFET PR/2017) Assinale a alternativa que apresenta a palavra que pode substituir pragmático (sexto

parágrafo), sem prejudicar o sentido. a) Prazeroso. b) Pictórico. c) Prático. d) Profissional. e) Previsível.

TEXTO: 9 - Comum à questão: 9 Leia o texto de John Gray.

Atualmente, a maior parte das pessoas pensa que pertence a uma espécie que pode ser senhora de seu destino. Isso é fé, não ciência. Não falamos de um tempo em que as baleias ou os gorilas serão senhores de seus destinos. Por que então os humanos?

Não precisamos de Darwin para perceber que nos parecemos com os outros animais. Basta observar um pouco nossas vidas para sermos levados à mesma conclusão. No entanto, como a ciência tem hoje uma autoridade com a qual a experiência comum não pode rivalizar, observemos o ensinamento de Darwin de que as espécies são apenas aglomerados de genes interagindo aleatoriamente uns com os outros e com seus ambientes em permanente mudança. Espécies não podem controlar seus destinos. Isso se aplica igualmente aos humanos. No entanto, é esquecido sempre que as pessoas falam sobre “o progresso da humanidade”. Elas depositaram sua fé numa abstração que ninguém pensaria em levar a sério se não fosse formada por restos de esperanças cristãs descartadas.

Se a descoberta de Darwin tivesse sido feita numa cultura taoísta ou xintoísta, hinduísta ou animista, muito provavelmente teria se tornado apenas um fio a mais no entrelaçado de suas mitologias. Nessas crenças, os humanos e os outros animais são afins.

Humanismo pode significar muitas coisas, mas para nós significa crença no progresso. Acreditar no progresso é acreditar que, usando os novos poderes que nos são propiciados pelo crescente conhecimento científico, os humanos podem se libertar dos limites que constrangem a vida de outros animais. Essa é a esperança de praticamente todo mundo hoje em dia, mas não tem fundamento. Pois, embora o conhecimento humano muito provavelmente continue a crescer e com ele o poder humano, o animal humano permanecerá o mesmo: uma espécie altamente inventiva que também é uma das mais predadoras e destrutivas.

Darwin mostrou que os humanos são como os outros animais, e os humanistas afirmam que não. (Cachorros de palha, 2006. Adaptado.)

09. (UEFS BA/2017) Em “Acreditar no progresso é acreditar que, usando os novos poderes que nos são

propiciados pelo crescente conhecimento científico, os humanos podem se libertar dos limites que constrangem a vida de outros animais.” (4o parágrafo), o termo destacado pode ser substituído, sem prejuízo de sentido para o texto, por a) desprezam. b) envergonham. c) restringem. d) anulam. e) ignoram.

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TEXTO: 10 - Comum à questão: 10

01 A estreia de Chico Buarque na literatura foi marcada 02 pela acusação mais infamante que um escritor pode 03 receber: o plágio. No coro de elogios e apreciação que, 04 merecidamente, acompanhou o lançamento de Estorvo 05 (1991), foi possível ouvir poucas vozes dissonantes.

06 Mas a teoria do plágio estava apenas no início de 07 sua formulação e, em breve, voltou a ser reproposta. O 08 paladino mais aguerrido da cruzada a favor da justiça literária 09 foi, sem dúvida, o professor e crítico Wilson Martins, 10 que das páginas de importantes jornais e revistas moveu 11 repetidos ataques com tons cada vez mais irreverentes. 12 Todas as acusações lançadas por Martins decorrem da 13 ideia de que haja uma prática do plágio já consolidada 14 na obra musical e teatral de Chico Buarque. Uma vez 15 posta essa premissa, consequentemente a literatura 16 seria apenas um novo campo expressivo no qual o compositor 17 saqueador continuaria a sua atividade habitual.

18 Mas, apesar de suas intenções deslegitimadoras, 19 cabe reconhecer ao crítico o mérito de destacar em 20 Chico Buarque a capacidade de tecer um intenso diálogo 21 com as obras de outros autores. Obviamente, 22 dependendo da perspectiva, tal característica pode ser 23 estigmatizada como desdenhável propensão ao plágio 24 ou, pelo contrário, enaltecida como admirável vocação 25 à intertextualidade.

Fragmento adaptado de: BACCHINI, Luca. Se Chico Buarque numa noite de inverno… Apologia do plágio em Budapeste. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 63, abr. 2016.

10. (PUC RS/2017) Todas as alternativas apresentam um sinônimo adequado para a palavra em destaque no

contexto em que ela é empregada, EXCETO: a) “acusação mais infamante que um escritor pode receber” (Refs. 02 e 03) – desonrosa b) “foi possível ouvir poucas vozes dissonantes” (Ref. 05) – discordantes c) “O paladino mais aguerrido da cruzada a favor da justiça literária” (Refs. 07 a 09) – combativo d) “tal característica pode ser estigmatizada como desdenhável propensão ao plágio” (Refs. 22 e 23) –

intratável e) “ou, pelo contrário, enaltecida como admirável vocação à intertextualidade” (Refs. 24 e 25) – exaltada

TEXTO: 11 - Comum à questão: 11

1 Ciência é uma das formas de busca de conhecimento desenvolvida 2 pelo homem moderno. Sob seu escopo inserem-se as mais diferentes 3 realidades físicas, sociais e psíquicas, entre outras. A linguagem, 4 manifestação presente em todos os momentos de nossas vidas e em 5 todas as nossas atividades, podendo até ser tomada como definidora 6 da própria natureza humana, passou a ser tratada sob a perspectiva 7 dessa forma de conhecimento, ou seja, passou a ser objeto de 8 investigação científica, a partir do início do século XX.

9 Por ter um papel central na vida dos seres humanos, a linguagem 10 tem como sua característica primordial ser multifacetada. Tal 11 característica exige que, ao submeter-se ao tratamento científico, 12 essa realidade multifacetada sofra cortes e abstrações, tendo como 13 consequência o fato de que ela só pode ser entendida a partir de 14 diferentes perspectivas, gerando uma pluralidade de teorias que 15 buscam compreendê-la e explicá-la.

Esmeralda Vailati Negrão, “A cartografia sintática”, em Novos caminhos da linguística 11. (Mackenzie SP/2017) Assinale a alternativa com relação correta entre sinônimos, tendo em vista o

emprego das palavras no texto. a) inserem-se (Ref. 02) = concluem-se b) psíquicas (Ref. 03) = mentais c) primordial (Ref. 10) = única d) submeter-se (Ref. 11) = desenvolver-se e) abstrações (Ref. 12) = afirmações

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Exercícios Complementares

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TEXTO: 12 - Comum à questão: 12

O MAIS GRATIFICANTE é ver que a leitura…

Disponível em: <http://www.institutogrpcom.org.br/noticia>. Acesso em: 12 ago. 2016.

12. (Fac. Baiana de Direito BA/2017) Na fala da professora Telma, “O mais gratificante é ver que a leitura

continua além da sala de aula”, a expressão “além da sala de aula” denota a) a extrapolação de um lugar previsto. b) uma informação dispensável nessa frase. c) a comparação entre dois espaços distintos. d) a noção de um local contrário ao do enunciador. e) a concessão de um contexto não previsto inicialmente.

TEXTO: 13 - Comum à questão: 13

PÉ FRIO, CABEÇA QUENTE

§1 Durante anos, Pedro Nava deixava seu apartamento, no velho prédio onde viveu metade da vida, no

bairro da Glória, cruzava o hall e, no mesmo andar, assumia a condição de médico reumatologista, um dos mais reputados do Rio de Janeiro. Quando ali estive pela primeira vez, sem reumatismo algum, o dr. Nava já não exercia a profissão. Fazia pouco mais de uma década que ele, à beira dos 70, irrompera na paisagem literária como caudaloso memorialista, o maior que já tivemos, assumindo, assim, em regime de monogamia, um talento praticamente desmobilizado desde o fecho da primeira juventude.

§2 Certa manhã de maio de 1983, às vésperas de completar 80 anos, Pedro Nava me levou ao antigo consultório, instalado num salão com pé-direito altíssimo. Sentou-se por detrás de um vetusto birô, como em outros tempos se dizia, e indicou uma cadeira de braços em frente a ele. Quando, em vão, tentei puxá-la para perto da mesa, Nava riu, como quem tivesse pregado uma peça: tinha mandado aparafusar a cadeira no assoalho, para evitar, justificou, que pacientes mais carentes acabassem no seu colo.

§3 Pela primeira vez, parei para pensar no desamparo que, em doses variáveis, bate em mim, quem sabe em você também, durante uma consulta médica. Desamparo que, às vezes, vem misturado a uma inconfessável satisfação por nos sentirmos numa súbita berlinda, já que o assunto único, ali, somos nós. Nossa coqueluche, nossa catapora, nosso prontuário cirúrgico e hospitalar. Mais: a incidência de determinada doença que desfolhou boa parte de nossa árvore genealógica. As tias que, para além talvez das coincidências, morreram todas do mesmo mal. A intrigante insistência da pancada seca dos enfartes, a reprise de determinado tipo de tumor. O pai que por pouco não virou caso médico, tão rara é a doença que nos levou à orfandade.

§4 Vá me dizer que também você não sente alguma excitação, a palavra é esta, quando o médico se põe a escarafunchar o histórico de sua saúde. E também, mesclada ao alívio, uma ponta de decepção, diante da notícia de que não se achou problema algum. Do outro lado da mesa, o doutor pode estar atento a essa eventualidade. Quem nunca ouviu falar de médicos - Pedro Nava era um deles - que, para não desapontar o impaciente, inventam uma anormalidade qualquer, benigna, à qual irá corresponder uma receita, algum placebo, para que a criatura não saia com as mãos vazias?

§ 5 Escrevi, faz tempo, sobre um camarada que chamei de “hipocondríaco sem remédio”. Pois bem, faltou coragem para admitir que também sou um pouco assim, hipocondríaco, incurável mas com muito remédio, cada vez mais. Gosto muito, confesso, de uma boa anamnese, aquele interrogatório sobre a saúde atual e pregressa, quase sempre extensivo aos familiares. A sabatina mais esmiuçadora pela qual passei aconteceu na primeira vez que fui ao consultório de um homeopata, de onde sairia, mais de hora depois, levando um verdadeiro buquê de florais. Que perguntas mais inesperadas ouvi ali! Estava vendo o momento em que o doutor iria perguntar se eu tinha tomado chuva, e, ante a negativa, receitar: “Então tome. Dois copos”.

§ 6 Numa ocasião me consultei com um médico, alopata, esse, que me virou pelo avesso, na indisfarçável esperança de que eu fosse o seu primeiro paciente a padecer da doença de Crohn - insidiosa inflamação do

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trato gastrointestinal, traduziu, à beira da euforia de uma estreia. E se for?, consegui indagar. Pausa terrível, nublada pelos mais negros presságios. “Você tem um bom psicoterapeuta?”, desembuchou ele, sílaba por sílaba, e pôs-se a explicar que eu precisaria me armar para padecimentos vitalícios. Não conteve a frustração quando reiterados exames eliminaram a hipótese na qual investira. “Ainda não”, terá ruminado o doutor, “ainda não...”

§ 7 No consultório high tech de um mago da medicina ortomolecular, em frente a enorme tela que amplificava imagens de um microscópio de última geração, ao qual fora submetida uma gota de sangue meu, tive o dissabor de presenciar o espetáculo de hemácias, leucócitos e neutrófilos a nadar de lá pra cá, qual tubarões e garoupas num aquário. Como me senti? Como a lagartixa que contempla, a um palmo de distância, a ponta saltitante de seu rabinho recém-amputado.

§ 8 Outra gota, essa de sangue coagulado, encheu a tela com o que parecia ser o chão gretado de um açude nordestino reduzido a nada. Em busca de consolo na literatura, concluí que havia em mim, na falta de um Graciliano, ao menos o solo estorricado sobre o qual perambula a pobre gente de Vidas Secas.

§ 9 Não precisou de tão afiada tecnologia o velho acupunturista chinês com o qual me consultei por aquela mesma época. Antes de dardejar agulhas certeiras, o sábio chim esquadrinhou minha carcaça com mãozinhas secas e percuciente olhar amendoado, antes de proferir o mais preciso e sintético parecer a respeito do que comigo se passava, ou passa ainda:

§ 10 - Pé frio, cabeça quente! (Humberto Werneck. http://cultura.estadao.com.br/noticias/

geral,pe-frio-cabeca-quente,10000092718. Acessado em: 06/12/2016.) 13. (FCM MG/2017) O vocábulo grifado foi INCORRETAMENTE explicitado em:

a) “caudaloso memorialista” torrencial, copioso b) “Irrompera na paisagem literária” interromper, cessar c) “percuciente olhar amendoado” profundo, penetrante d) “numa súbita berlinda” em lugar de destaque, alvo de atenção

TEXTO: 14 - Comum à questão: 14

TRABALHO ESCRAVO É AINDA UMA REALIDADE NO BRASIL

Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o

mantém submisso a uma situação de exploração.

(1) O trabalho escravo ainda é uma violação de direitos humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que fez com que se tornasse uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea em seu território. Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana.

(2) Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O trabalho escravo não é somente uma violação trabalhista, tampouco se trata daquela escravidão dos períodos colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos humanos não prende mais o indivíduo a correntes, mas compreende outros mecanismos, que acometem a dignidade e a liberdade do trabalhador e o mantêm submisso a uma situação extrema de exploração.

(3) Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficiente para configurar uma situação de trabalho escravo:

TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica.

JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar.

SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece sempre devendo ao empregador.

CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é submetido, atentando contra a sua dignidade.

(4) Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores condições de vida e de sustento para as suas famílias. Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de aliciadores ou migram forçadamente por uma série de motivos, que podem incluir a falta de opção econômica, guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos – como a Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além do Haiti e do Oriente Médio. Essas pessoas podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho.

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Exercícios Complementares

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(5) Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação também é verificada em centros urbanos, principalmente na construção civil e na confecção têxtil.

(6) No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens. Em geral, as atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens e jovens. Os dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre os trabalhadores libertados, 72,1% são analfabetos ou não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental.

(7) Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho escravo consegue fugir da situação de exploração, colocando a sua vida em risco. Quando tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos governamentais ou organizações da sociedade civil para denunciar a violação que sofreu. Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o combate desse crime, especialmente na fiscalização de propriedades e na repressão por meio da punição administrativa e econômica de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava.

(8) Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retornar à sua cidade de origem, onde as condições que o levaram a migrar permanecem as mesmas. Diante dessa situação, o indivíduo pode novamente ser aliciado para outro trabalho em que será explorado, perpetuando uma dinâmica que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”.

(9) Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são necessárias ações que incidam na vida do trabalhador para além do âmbito da repressão do crime. Por isso, a erradicação do problema passa também pela adoção de políticas públicas de assistência à vítima e prevenção para reverter a situação de pobreza e de vulnerabilidade de comunidades.

Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/trabalho-escravo-e-ainda-uma-realidade-no-

brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017.

14. (IFPE/2017) Considere os seguintes excertos:

I. “Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do

trabalhador [...]”. (subtítulo) II. “[…] mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão [...]”. (1º

parágrafo) Assinale a alternativa na qual todas as palavras substituem respectivamente os termos grifados sem que haja mudança de sentido. a) Crime, submete, parecidas. b) Delito, ataca, semelhantes. c) Atitude, diminui, diversas. d) Trabalho, atinge, distintas. e) Situação, amplia, comparáveis.

TEXTO: 15 - Comum à questão: 15

DIREITO DE IR E VIR (1) - Outro dia fui ao médico e ele me perguntou se eu ando bastante a pé. (2) - Muito - respondi. (3) - Pois então ande mais ainda. (4) O conselho é saudável, mas não sei como se possa andar com as calçadas e o leito das ruas cheios de veículos, sem uma beiradinha para o infortunado pedestre. Fomos definitivamente banidos da cidade. E não temos para onde ir, pois o progresso chega ao interior, com seu cortejo de máquinas, desde o automóvel até a carreta, passando pela moto, a escavadeira, a britadeira e demais bichos mecânicos incumbidos de obstar o alegre movimento das pernas. Estava pensando na impraticabilidade da prescrição médica, e em pedir de volta o dinheiro da consulta, quando meus olhos se abriram à notícia de que vai ser criada a Associação de Pedestres do Rio de Janeiro, a exemplo da existente em São Paulo. (5) Aleluia! Se me dessem licença, gostaria de ser o primeiro associado inscrito, mas receio que, ao se instalar a entidade, não tenha condições de chegar à sede, pelas dificuldades do trânsito. Serei talvez associado telefônico ou postal, caso não me seja negado o direito de ir da minha residência até a agência de correio mais próxima. (6) A associação, dizem-me, editará uma cartilha do pedestre, que me habilite a desfrutar os direitos da minha condição. Talvez fosse pertinente editar simultaneamente a cartilha do motorizado, para que esta faça a revisão de conceitos até agora norteadores de seu comportamento. Assim, pelo menos reivindicaremos nossos direitos específicos brandindo cartilhas em lugar de palavrões ou argumentos frágeis. Vencerá quem melhor usar sua cartilha. (7) Apenas, temo que nós, pedestres, não tenhamos chance de tirar do bolso o folheto, pois a experiência comprova que o motorizado não dá tempo para o confronto de princípios. Os princípios em geral são nossos, e a rua é deles, senão a cidade inteira.

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(8) Sou ainda forçado a meditar na precariedade de uma associação que, como todas as outras, reúne indivíduos e não santos de altar. A maioria esmagadora dos indivíduos, como se sabe, aspira a ser qualquer coisa além do que é. Falamos mal do carro ou do ônibus se ele ameaça atropelar-nos, mas bem que gostaríamos de ser donos de um calhambeque ou de uma empresa de transportes. Evidentemente, é diverso o ponto de vista de quem está dentro do veículo, com relação ao ponto de vista de quem está fora - e a propriedade cultiva seus valores éticos distintos. (9) Imagina se eu, segundo secretário da Associação, me cansar da posição desconfortável de pedestre e disputar o sorteio de um Chevette. E ganhar. Serei um traidor da classe ou apenas um fraco mental exausto de pleitear uma vaga de transeunte, sempre recusada? (10) O pedestre é, afinal, uma espécie que tende a desaparecer, se é que já não desapareceu de todo, e eu estou aqui escrevendo nestas teclas sem me dar conta de que também sumi do mapa e sou apenas um fantasma do Segundo Reinado, que monopolizava o espaço infinito de um Brasil sem desenvolvimento, quando o único veículo era o cavalinho maneiro. (11) Já estava conformado com a etiqueta social de fantasma, quando leio que a Associação de Pedestres de São Paulo é constituída de arquitetos, engenheiros, economistas, pessoas indubitavelmente vivas e atuantes na vida brasileira de hoje, e que a futura entidade carioca vem sendo organizada por um sociólogo. Então, nem tudo está perdido, não sou o “perdedor” que supunha ser, e devo admitir que ainda existem pedestres, por sinal qualificados, e dispostos a defender seus direitos, de maneira organizada e eficiente. (12) Fora de brincadeira: é criar e tocar pra frente, com ânimo e perseverança. Assim como as associações de moradores de bairro vão conseguindo formar uma consciência comunitária, sensibilizando as autoridades, pois se trata de uma força ascendente, capaz de exercer pressão e comprovar a eficácia do apelo coletivo, uma associação de pedestres, formando em comunhão de vistas com aquelas, cuidará daquilo que interessa a todo o complexo urbano e pede tratamento especial. (13) Vamos trabalhar pela afirmação (ou reafirmação) da existência do pedestre, a mais antiga qualificação humana do mundo. Da existência e dos direitos que lhe são próprios, tão simples, tão naturais, e que se condensam num só: o direito de andar, de ir e vir, previsto em todas as constituições... O mais humilde e o mais desprezado de todos os direitos do homem. Com licença: queremos passar.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Direito de ir e vir . Disponível em: http://www.pedestre.org.br/downloads/Cronica%20do%20Drummond%

20de%20Andrade.pdf. Acesso: 17 jun. de 2017 adaptado. 15. (IFPE/2017) A compreensão de textos depende da interpretação que fazemos dos vocábulos neles

contidos. Às vezes, quando não identificamos o sentido de uma palavra, somos capazes de interpretá-la recorrendo ao contexto de uso e relacionando com sinônimos que conhecemos. Sinônimos são palavras de som e grafia diferentes, mas de significados semelhantes. Considerando que uma palavra pode estar em lugar da outra em determinado contexto, assinale a alternativa que substituiria adequadamente o termo “indubitavelmente”, presente no texto, sem provocar alteração de sentido. a) Incontestavelmente. b) Majoritariamente. c) Fortemente. d) Seriamente. e) Justamente.

TEXTO: 16 - Comum à questão: 16

É hora de proclamar: a internet deixou de ser divertida. Vivemos sob espionagem, incapazes de manter a concentração, não estamos presentes, não conseguimos dormir – não podemos sequer atravessar mais a rua, porque estamos sempre olhando para o celular. Muito embora (assim como em tantos relacionamentos abusivos), ela nos deixe exauridos, não conseguimos largá-la. O pior é que sabemos disso tudo. Já diagnosticamos o problema, mas, para uma geração que se orgulha de ser “antenada”, estamos confusos para apresentar uma solução à questão mais universalmente disseminada de nosso tempo. Mas a continuidade dessa decadência não é inevitável. Afinal, os smartphones têm apenas uma década, e a rede mundial, apenas 25. A tecnologia, é claro, molda o futuro, mas é também totalmente concebível que haja uma luta para redefinir o papel que ela desempenha em nossa vida.

“Não estou no Facebook” costumava ser coisa de hipster — mas torna-se, cada vez mais, uma preocupação geral. Em 2013, o número de adultos que disseram ter se afastado do Facebook, ao menos temporariamente, chegou a 61%. É totalmente plausível, se não lógico, imaginar que o abandono das mídias sociais pode se transformar numa contracultura. Há algo transgressor em ser uma pessoa jovem em 2017 e voltar as costas ao celular. Isso remete a um debate longo e urgente que ainda não tivemos, adequadamente, em nossa sociedade – para a qual cultivar um relacionamento saudável com seu celular é tão importante quanto usar camisinha ou comer verduras. Para isso, é necessário que as pessoas comecem a pensar sobre o uso da tecnologia como questão de saúde pública. Em alguns países, já há campanhas para tornar saúde mental um tema obrigatório nas escolas; o controle do uso compulsivo das mídias sociais é uma extensão lógica disso. Richard Graham é um psiquiatra de crianças e adolescentes. Há cerca de doze anos, começou a lidar com casos sem precedentes de jovens sofrendo de problemas de saúde mental em razão do uso excessivo de tecnologia. Em 2010, lançou o primeiro serviço especializado do Reino Unido para adição em tecnologia, e desde então se tornou uma referência em dependência e reabilitação. Diz concordar que nossa relação com a tecnologia é problemática,

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Exercícios Complementares

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mas tem menos certeza de que estamos chegando ao ponto de virada. “Não acho que saibamos quais os nossos limites, ainda”, explica. “O momento em que vivemos é mais ou menos aquele em que o vegetarianismo encontrava-se há uma ou duas gerações”. Especialistas começavam a nos dizer que carne faz mal à saúde e ao ambiente, mas éramos tão carnívoros que se tornava difícil enxergar a vida sem proteína animal. Aos poucos, com cada produto feito de tofu, e a cada documentário revelador, o vegetarianismo tornou-se uma contracultura. Ou então, veja o que ocorreu com o tabaco. Há apenas uma geração, era possível fumar num restaurante. Agora, é improvável que muita gente fume em seus próprios carros. Passamos por um lento processo de educação e persuasão, mas finalmente nossa cultura mudou. Não se trata de pensar que pessoas irão um dia levantar-se da cama e jogar fora seus celulares. A reação provavelmente não se expressará na depredação de lojas da Apple por estudantes politizados, ou por cultos livres de tecnologia estabelecendo-se fora das cidades. Na verdade, ela pode simplesmente não acontecer. Apesar disso, parece razoável acreditar que, quanto mais essas ideias crescem no consciente coletivo – quanto mais pessoas se dão conta do quanto sacrificam em troca de conveniência –, mais provavelmente se entregarão aos ecos de uma revolta popular para assumir o controle novamente.

HARRISON, A. Tradução de Inês Castilho. Disponível em: http://outraspalavras. net/destaques/e-hora-de-sair-do-facebook-e-da-internet/.

Acesso em maio de 2017. Adaptado. 16. (UNITAU SP/2017) Leia o trecho e observe a palavra em destaque:

“Muito embora (assim como em tantos relacionamentos abusivos), ela nos deixe exauridos, não conseguimos largá-la”.

O termo em destaque pode ser substituído, sem prejuízo ao sentido proposto no texto, por a) confusos. b) desesperados. c) desanimados. d) impacientes. e) esgotados.

TEXTO: 17 - Comum à questão: 17

Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira.

“Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização.

Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).

Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”.

O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.

Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana.

Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matéria.

Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s).

Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar.

Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década.

Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra.

Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos do conhecimento.

(Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.)

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17. (UNESP SP/2017) Em “A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).” (2o parágrafo), o termo destacado pode ser substituído de modo mais adequado, tendo em vista o contexto, por: a) proeza. b) ousadia. c) concretude. d) debilidade. e) petulância.

TEXTO: 18 - Comum à questão: 18

ESTIMATIVA É QUE ATÉ 1000 TELEFONES FORAM GRAMPEADOS, DIZ JUIZ

Segundo Marcos Faleiros, objetivo era espionagem política; ele determinou prisão de PM’s

“O juiz de Direito Marcos Faleiros, da 11ª Vara de Crimes Militares da Comarca de Cuiabá, afirmou que entre 80 e 1000 terminais telefônicos podem ter sido grampeados no esquema de escutas clandestinas realizado pela Polícia Militar de Mato Grosso (PM-MT)

(...) ‘Conforme documentos apresentados na imprensa, ocorriam interceptações militares ilegais utilizando-se

de técnica conhecida como barriga de aluguel, consistindo na obtenção de ordem judicial de interceptação telefônica induzindo o Ministério Público e o Poder Judiciário a erro mediante criação de uma ‘estória’ escondida em investigações de delinquentes verídicos, inserindo, no rol de alvos criminosos, civis e servidores ocupantes de postos estratégicos para fins exclusivos de obtenção de informação ao arrepio da lei’, disse”.

Disponível em: www.midianews.com.br/politica Acesso em maio 2017.

18. (UNEMAT MT/2017) A palavra estimativa e o trecho “podem ter sido grampeados” indicam uma modalização de sentidos que implica a) certeza quanto ao número de telefones grampeados. b) falta de clareza quanto ao conteúdo das escutas clandestinas. c) incerteza quanto à quantidade de terminais telefônicos grampeados. d) dúvida quanto ao conteúdo da espionagem política. e) certeza quanto ao conteúdo da espionagem política.

19. (UNEMAT MT/2017)

OLIVEIRA, Lucio. Disponível em

http://3.bp.blogspot.com. Acesso em nov. 2015.

Em relação à Tirinha do Edibar, o autor, Lucio Oliveira, faz um jogo de palavras para a formação do nome das personagens: Ana Conda e Edibar. Assinale a alternativa cujo sentido traz a equivalência entre o nome das personagens e aspectos culturais brasileiros. a) Ana Conda: processo de derivação cuja raiz está na sigla ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e

“onda” (porção de água do mar, rio ou lago que se eleva). b) Ana Conda equivale ao desmembramento da palavra anaconda, sucuri (réptil das regiões de rios e

pântanos do Brasil), atribuído pelo autor à sogra, ampliando os sentidos de cobra. c) Ana Conda: aglutinação entre “Ana” (do grego an-a, prefixo que significa ação ou movimento contrário

como anterior, anarquia) e “onda” (porção de água do mar, rio ou lago que se eleva). d) Edibar: justaposição entre “edil” (antigo magistrado romano que inspecionava prédios públicos) e “bar” (do

grego, unidade de medida de pressão atmosférica). e) Edibar: derivação prefixal cuja palavra-base está no grego aér, “ar” (camada gasosa que envolve a terra,

atmosfera).

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Exercícios Complementares

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TEXTO: 19 - Comum à questão: 20

Leia o texto de Jacques Fux. Literatura e Matemática

Letras e números costumam ser vistos como símbolos opostos, correspondentes a sistemas de

pensamento e linguagens completamente diferentes e, muitas vezes, incomunicáveis. Essa perspectiva, no entanto, foi muitas vezes recusada pela própria literatura, que em diversas ocasiões valeu-se de elementos e pensamentos matemáticos como forma de melhor explorar sua potencialidade e de amplificar suas possibilidades criativas.

A utilização da matemática no campo literário se dá por meio das diversas estruturas e rigores, mas também através da apresentação, reflexão e transformação em matéria narrativa de problemas de ordem lógica. Nenhuma leitura é única: o texto, por si só, não diz nada; ele só vai produzir sentido no momento em que há a recepção por parte do leitor. A matemática pode, também, potencializar o texto, tornando ainda mais amplo o seu campo de leituras possíveis a partir de regras ou restrições.

Muitas passagens de Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho, de Lewis Carroll, estão repletas de enigmas e problemas que até os dias de hoje permitem aos leitores múltiplas interpretações. Edgar Allan Poe é outro escritor a construir personagens que utilizam exaustivamente a lógica matemática como instrumento para a resolução dos enigmas propostos.

Explorar as relações entre literatura e matemática é resgatar o romantismo grego da possibilidade do encontro de todas as ciências. É fazer uma viagem pelo mundo das letras e dos números, da literatura comparada e das ficções e romances de diversos autores que beberam (e continuarão bebendo) de diversas e potenciais fontes científicas, poéticas e matemáticas.

<http://tinyurl.com/h9z7jot > Acesso em: 17.08.2016. Adaptado. 20. (FATEC SP/2017) No texto, entende-se que

a) o substantivo literatura, no primeiro parágrafo, está utilizado no sentido denotativo, pois se refere à produção escrita informal.

b) o verbo dizer, no segundo parágrafo, está utilizado no sentido denotativo, pois há um substantivo que possui voz ativa.

c) o substantivo matemática, no segundo parágrafo, está utilizado no sentido denotativo, pois as incógnitas são representadas por letras gregas.

d) o advérbio exaustivamente, no terceiro parágrafo, está utilizado no sentido conotativo, pois está relacionado ao cansaço dos escritores.

e) o verbo beber, no quarto parágrafo, está utilizado no sentido conotativo, pois remete ao sentido de absorver intelectualmente.

TEXTO: 20 - Comum à questão: 21 Considere o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector.

21. (UERJ/2018) Estrela é uma palavra que faz parte do título do romance, além de ser o símbolo do carro

da marca Mercedes, decisivo para o final da história. Considerando esse final, o título do livro expressa o sentido de: a) elogio b) ironia c) negação d) louvação

TEXTO: 21 - Comum à questão: 22

Lembrando e pensando a TV

1 Houve um tempo em que a TV − acreditem, ó jovens! 2 − ainda não existia. Ouvia-se rádio, ia-se ao

cinema. 3 Mas um dia chegou às casas das pessoas um aparelho 4 com o som vivo do rádio acoplado a vivas imagens, 5 diferentes das do cinema, imagens chegadas de 6 algum lugar do presente, “ao vivo”. Logo saberíamos 7 que todas as imagens do mundo, inclusive os filmes do 8 cinema, poderiam estar ao nosso alcance, naquela 9 telinha da sala. Modificaram-se os hábitos das famílias, 10 seus horários, sua disponibilidade, seus valores. A TV 11 chegou para reinar.

12 A variedade da programação já indicava o amplo 13 alcance do novo veículo: notícias, reportagens, musicais, 14 desenhos animados, filmes, propagandas, seriados, 15 esportes, programas humorísticos, peças de teatro 16 − tudo desfilava ali, diante dos nossos olhos, ainda no 17 tubo comandado por grandes válvulas e com

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imagem 18 em preto e branco. Boa parte dos primeiros aparelhos 19 de TV tinham telas de 16 a 21 polegadas, acondicionadas 20 numa enorme e pesada caixa de madeira. Havia 21 uns três ou quatro canais, com alcance bastante limitado 22 e programação restrita a cinco ou seis horas por dia. 23 Mais tarde as transmissões passariam a ser via satélite 24 e ocupariam as 24 horas do dia.

25 Os custos da programação eram pagos pela publicidade, 26 que tomava boa parte do tempo de transmissão. 27 Vendia-se de tudo, de automóveis a margarina, de xaropes 28 para tosse a apartamentos. Filmetes gravados e 29 propagandas ao vivo sucediam-se e misturavam-se a 30 notícias sobre exploração espacial, enquanto documentários 31 estrangeiros falavam da revolução russa, da 32 II Guerra, do nazismo e do fascismo, das convicções 33 pacifistas de Ghandi, das ideias do físico Einstein sobre 34 a criação e a legitimação da ONU etc. etc. Já as incursões 35 históricas propiciadas pelos filmes nos levavam ao 36 tempo de Moisés e do Egito Antigo, ao Império Romano 37 e advento do Cristianismo, tudo entremeando-se ao 38 humor de Chaplin, às caretas de Jerry Lewis e às trapalhadas 39 das primeiras comédias nacionais do gênero 40 chanchada. Houve também o tempo em que as famílias 41 se agrupariam diante dos festivais da canção, torcendo 42 por músicas de protesto, baladas românticas ou de 43 ritmos populares “de raiz”. Enfim, a TV oferecia a um público 44 extasiado um espetáculo variadíssimo, tudo nas 45 poucas polegadas do aparelho, que não tardou a incorporar 46 outras medidas, outros sistemas de funcionamento, 47 projeção em cores e controle remoto.

48 As telas de plasma, o processo digital e a interface 49 com a informática foram dotando a TV de muitos outros 50 recursos, até que, bem mais tarde, tivesse que enfrentar 51 a concorrência de outras telas, muito menores, portáteis, 52 disponíveis nos celulares, carregados de aplicativos e 53 serviços. Apesar disso, nada indica que a curto prazo 54 desapareçam da casa os aparelhos de TV, enriquecidos 55 agora por incontáveis dispositivos.

56 No plano da cultura e da educação, a televisão 57 teve e tem papel importante. Os telecursos propiciam 58 informação escolar específica nas áreas de Matemática, 59 Física, História, Química, Língua e Literatura, fazendo 60 as vezes da educação formal por meio de incontáveis 61 dispositivos pedagógicos, inclusive a dramatização de 62 conteúdos. Aqui e ali há entrevistas com artistas, políticos, 63 pensadores e personalidades várias, atualizando 64 ideias e promovendo seu debate. No campo da política, 65 é relevante, às vezes decisivo, o papel que a TV tem na 66 formação da opinião pública. A ecologia conta, também, 67 com razoável cobertura, informando, por exemplo, sobre 68 os benefícios da reciclagem de lixo, da cultura de produtos 69 orgânicos e da energia solar.

70 Seja como forma de entretenimento, veículo de 71 informação, indução aos debates e repercussão atualizada 72 dos grandes temas de interesse social, a TV vem 73 garantindo seu espaço junto a bilhões de pessoas no 74 mundo todo. Por meio dela, acompanhamos ao vivo momentos 75 agudos da política internacional, a divulgação 76 de um novo plano econômico do governo, a escalada da 77 violência urbana. Ao toque de uma tecla do controle remoto, 78 você pode se transferir, aleatoriamente, do palco 79 de um ataque terrorista para o final meloso de uma comédia 80 romântica.

81 Numa espécie de espelhamento multiplicativo e 82 fragmentário da nossa vida e dos poderes da nossa 83 imaginação, a TV vem acompanhando os passos da 84 vida moderna e ditando, mesmo, alguns deles, sem dar 85 sinal de que deixará tão cedo de nos fazer companhia.

(Percival de Lima e Souto, inédito) 22. (PUCCamp SP/2018) O segmento do texto que está traduzido sem que o sentido original seja

prejudicado é: a) fazendo as vezes da educação formal / substituindo, em algumas circunstâncias, o papel das escolas

tradicionais. b) por meio de incontáveis dispositivos pedagógicos / pela aquisição de aparelhos pedagógicos numerosos

demais. c) Aqui e ali há entrevistas / entrevistas alcançam desde as áreas mais próximas até as mais longínquas. d) é relevante, às vezes decisivo, o papel que a TV tem na formação da opinião pública / nem sempre o

papel da TV na formação da opinião pública se sobressai ou se torna decisivo. e) A ecologia conta, também, com razoável cobertura / É boa a participação de reportagens, também, no

campo da ecologia. TEXTO: 22 - Comum à questão: 23 Examine a transcrição do depoimento de Eduardo Koge, líder indígena de Tadarimana, MT. Nós vivemos aqui que nem gado. Tem a cerca e nós não podemos sair dessa cerca. Tem que viver só do que tem dentro da cerca. É, nós vivemos que nem boi no curral.

Paulo A. M. Isaac, Drama da educação escolar indígena Bóe-Bororo.

23. (FUVEST SP/2018) Nos trechos “Tem a cerca...” e “Tem que viver...”, o verbo “ter” assume sentidos

diferentes? Justifique.

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Exercícios Complementares

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24. (ACAFE SC/2017) Assinale a alternativa em que os vocábulos equivalem, respectivamente, às expressões: governo dos nobres - inflamação da boca - chefe de facções populares - medo de animais. a) aristocracia - estomatite - demagogo - zoofobia b) democracia - ortodontia - antropófago - nosofobia c) plutocracia - cefalgia - demográfico - cinofobia d) oligarquia - endofagia – democrático – hidrofobia

TEXTO: 23 - Comum à questão: 25

A situação favorável, do ponto de vista das oportunidades de trabalho, que existia na região cafeeira, valeu aos antigos escravos liberados salários relativamente elevados. Com efeito, tudo indica que na região do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda em favor da mão-de-obra. Sem embargo, essa melhora na remuneração real do trabalho parece haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. (...) O homem formado desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza lhe é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas “necessidades”. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades – que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo – determina de imediato um forte preferência pelo ócio. Dessa forma, uma das consequências diretas da abolição, nas regiões em mais rápido desenvolvimento, foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho.

(Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil) 25. (ESPM SP/2017) No trecho: “Sem embargo, essa melhora na remuneração real do trabalho...”, o termo

em destaque pode ser substituído, sem prejuízo semântico, por: a) pressa b) demora c) empecilho d) precedente e) paralelo

TEXTO: 24 - Comum à questão: 26

PESSOAS E NUVENS

1º§ Existe gente que carrega no semblante, nos gestos e nas palavras um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós. Molham de afeto a nossa convivência. Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes. Incitam o lado bom da vida, a criação, a amizade, o companheirismo. Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades. É o tipo que ameniza o calor e nos protege do frio. Inteligentes e interessantes, logo bonitos. Chegam e partem sorrindo. A simples presença contagia e o perfume fica quando se vão.

2º§ Outros carregam tempestade e raios, trovões, reclamações e ódio. Gastam todo o seu tempo para maquinar maldades e desejar que o pior aconteça com os seus desafetos. São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo e, na humanidade, um exército de adversários e inimigos que devem ser eliminados.

3º§ Seria bom que só existisse gente chuva prazenteira, mas viver em sociedade é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos. São estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças. Confesso que não consigo compreender a razão de alguém somente agir para prejudicar, torcer pela derrota e infelicidade, trabalhar pelo caos. Na cabeça desses eu não entro e nem quero entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para que não sejamos contaminados.

4º§ Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha; Quem não se conforma com o sucesso de alguém, e reclama, odeia, xinga e vitupera, perdeu a chance de aproveitar o que a existência tem de bom.

5º§ O mundo não caminha nem nunca caminhou de maneira justa, mas a vida, ah! a vida, é uma aventura deslumbrante que vale a pena ser degustada, em todos os sentidos. Meus olhos se concentram nesse território bendito habitado e irrigado pelos que amo.

(BRANT, Fernando. Casa aberta. Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012, p.215-216. Texto adaptado.)

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26. (FCM MG/2017) O vocabulário foi explicado INCORRETAMENTE em: a) irrigado (5º §): regado, molhado. b) incitam (1º§): instigam, impelem. c) vitupera (4º §): estertora, arqueja. d) maquinar (2º§): tramar, conspirar.

TEXTO: 25 - Comum à questão: 27 Leia o poema “Ilusões da vida”, de Francisco Otaviano.

Quem passou pela vida em branca nuvem E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu, Foi espectro de homem - não foi homem, Só passou pela vida - não viveu.

(http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/francisco_ otaviano.html. Acesso em 07/07/2016.)

27. (FCM MG/2017) O termo “espectro”, no dicionário, tem várias acepções. A que condiz com seu sentido

no poema é: a) visão, fantasma. b) coisa vazia, falsa. c) evocação obsedante. d) suposta aparição de um defunto.

TEXTO: 26 - Comum à questão: 28

Pobres precisam de banheiro, não de celular, diz BM

1 As famílias mais pobres do mundo estão mais propensas a terem telefones 2 celulares do que banheiros

ou água limpa. 3 Segundo relatório do Banco Mundial, intitulado ”Dividendos Digitais”, o número 4 de usuários de internet

mais que triplicou em uma década, para 3,2 bilhões no final 5 do ano passado, representando mais de 40 por cento da população mundial.

6 Embora a expansão da internet e de outras tecnologias digitais tenha facilitado 7 a comunicação e promovido um senso de comunidade global, ela não ofereceu o 8 enorme aumento de produtividade que muitos esperavam, disse o Banco. Ela também 9 não melhorou as oportunidades para as pessoas mais pobres do mundo, nem ajudou 10 a propagar a “governança responsável”.

11 “Os benefícios totais da transformação da informação e comunicação somente se 12 tornarão realidade se os países continuarem a melhorar seu clima de negócios, 13 investirem na educação e saúde de sua população e proverem a boa governança. Nos 14 países em que esses fundamentos são fracos, as tecnologias digitais não impulsionam 15 a produtividade nem reduzem a desigualdade”, afirmou o relatório.

16 A visão do Banco Mundial contrasta com o otimismo dos empreendedores da 17 tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, que têm argumentado que o acesso 18 universal à internet é essencial para eliminar a pobreza extrema.

19 “Quando as pessoas têm acesso às ferramentas e ao conhecimento da internet, 20 elas têm acesso a oportunidades que tornam a vida melhor para todos nós”, diz uma 21 declaração do ano passado assinada, entre outros, por Zuckerberg e Gates.

22 Segundo o Banco Mundial, conectar o mundo “é essencial, mas está longe de ser 23 suficiente” para eliminar a pobreza.

http://exame.abril.com.br 14//01/2016. Adaptado. 28. (FGV /2017) Consideradas no contexto, as palavras “propensas” (Ref. 1) e “Dividendos” (Ref. 3) podem

ser substituídas, sem prejuízo para o sentido, por: a) inclinadas; Ganhos. b) dispostas; Insumos. c) decididas; Partilhas. d) necessitadas; Descontos. e) obrigadas; Acordos.

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Exercícios Complementares

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TEXTO: 27 - Comum à questão: 29

Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Turismo.

29. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP/2017) Leia o trecho:

“Café, Patrimônio Cultural do Brasil: Ciência, História e Arte”... Qual das frases, a seguir, tem o mesmo significado dos termos grifados? a) A preocupação naquela família, é sempre aumentar o patrimônio. b) Aquele notável patrimônio de joias era fortemente guardado. c) Eu tinha meu patrimônio e cuidava bem dele. d) Aquele povo preservava com extremo carinho o seu patrimônio histórico. e) Todo o seu patrimônio estava penhorado.

TEXTO: 28 - Comum à questão: 30

Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Mercado.

30. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP/2017) Na charge lida, a palavra mercado pode ser

entendida como: a) mercado negro, ou seja, de práticas clandestinas. b) local onde se vendem produtos alimentícios de todas as espécies. c) mercado de trabalho para oferta e procura de emprego. d) estabelecimento comercial onde se tem pessoa interesseira que trabalha por dinheiro. e) ambiente econômico de bens e serviços na sociedade.

TEXTO: 29 - Comuns às questões: 31, 32

Médicos e Medicina

Decidi dividir com você, leitor, uma visão muito pessoal a respeito da prática médica. Como eu vejo a

Medicina, seu passado, seu presente e futuro. Procuro dividir também minha visão acerca do muito que já foi feito e do que podemos fazer para nos sairmos cada vez melhor na “arte de curar”. Divido com você, leitor, minhas dúvidas, angústias e dificuldades, ao longo desses trinta anos em que procuro entender o adoecimento e seus múltiplos vieses. Isto porque é com eles que lidamos todos os dias.

Não existe “a receita do bolo”. Quando nós, médicos, nos graduamos, acreditamos que, se fizermos tudo “de acordo com a cartilha”, estaremos sempre acertando. Não perderíamos nunca um diagnóstico. Todos os pacientes ficariam curados, nada sairia do controle. No entanto, não é assim que acontece. Felizmente, para

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acertamos, ou ao menos para estarmos cada vez mais próximos de melhor ajudar nossos pacientes, é preciso manter a perspectiva do melhor. É preciso estudar sempre, convencidos de que nunca saberemos tudo o que devemos saber. Sempre existirá o que aprender. Mas, ainda assim, mesmo sabendo que estaremos sempre fazendo o possível e dando o melhor de nós, várias vezes, nos sentimos impotentes. Gostaríamos de poder fazer mais e nunca ter um insucesso a reportar.

Somos lembrados, às vezes, do quanto somos falíveis. Afinal, somos todos humanos, pacientes e médicos. Mais do que isso, não existe mágica para resolver a doença. O indivíduo aposta no médico como única solução para seus problemas e esquece que ele também deve participar do processo de cura. O médico apenas pode ajudá-lo a retomar o caminho ideal. O médico não faz milagres. Não somos deuses. Ou seja, é equivocada a relação de distanciamento que sempre existiu entre médico e paciente. O assistencialismo (em todas as áreas) ainda é necessário, mas, sozinho, não atende à necessidade de devolver ao assistido a responsabilidade sobre sua vida, sobre sua sustentabilidade e cidadania.

Da mesma forma, em relação à medicina, sobretudo em relação à medicina preventiva, o indivíduo deve assumir também as rédeas de sua saúde. (...) As escolhas que fazemos a cada momento são determinantes. A vida de cada um de nós é feita de escolhas, mudanças de rotas e reorganizações em busca da retomada do melhor caminho em direção ao objetivo desejado. A saúde é dinâmica e é uma conquista diária e global. Definitivamente, não está nas mãos dos médicos, apenas.

Atualmente, a facilitação da informação é uma das tarefas do médico. Tenho a convicção de que a educação em saúde é a forma ideal de se contrapor à doença. A prevenção só é eficaz quando paralelamente se promovea saúde através da educação. Informar é educar! Ou seja, uma das primeiras providências no sentido de devolvermos ao indivíduo a responsabilidade pela sua saúde passa necessariamente pela informação. Pela educação em saúde.

(https://saudeelongevidade.com/322-2/. Adaptado.) 31. (FPS PE/2017) Analise os sentidos das expressões entre aspas no seguinte trecho: Não existe “a receita

do bolo”. Quando nós, médicos, nos graduamos, acreditamos que sim, se fizermos tudo “de acordo com a cartilha”... Com essas expressões, o autor quer se referir: 1. à suposta infalibilidade de prescrições, diagnósticos e procedimentos médicos. 2. aos conteúdos acadêmicos, que priorizam a relação entre saúde e alimentação. 3. aos programas de saúde, pouco significativos, que persistem nos cursos de graduação. 4. à crença na consistência e estabilidade imutáveis das teorias divulgadas pelas ciências médicas. Estão corretas: a) 1, 2, 3 e 4 b) 1, 2 e 3 apenas c) 1, 2 e 4 apenas d) 3 e 4 apenas e) 1, 3 e 4 apenas

32. (FPS PE/2017) Qualquer expressão somente ocorre em um texto com um determinado propósito e,

assim, produz certo efeito de sentido, como é mostrado a seguir. 1. Em “O indivíduo aposta no médico como única solução para seus problemas e esquece que ele

também deve participar do processo de cura”, o pronome destacado se refere a ‘médico’. 2. Em: “Tenho a convicção de que a educação em saúde é a forma ideal de se contrapor à doença”, o

segmento destacado deixa a afirmação mais contundente. 3. Em: “O médico não faz milagres. Não somos deuses.”, os dois termos em destaque pertencem a

campos semânticos afins. São, por isso, coesivos. 4. Em: “A saúde é dinâmica e é uma conquista diária e global”, pelas palavras em realce, podemos

entender que a saúde é um exercício ativo, diligente e coletivo. Estão corretas: a) 1, 2, 3 e 4 b) 1, 2 e 3 apenas c) 1, 2 e 4 apenas d) 2, 3 e 4 apenas e) 1, 3 e 4 apenas

TEXTO: 30 - Comuns às questões: 33, 34

O homem que degusta sons

1. Ketchup, presunto, elástico e torta de amêndoa são apenas quatro dos vários sabores que James

Wannerton degustou durante nossa entrevista. Ele concordou em conceder a palavra porque meu nome, Kate, tem gosto de chocolate e, segundo ele, suas papilas gustativas o distrairiam durante boa parte de nossa conversa.

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Exercícios Complementares

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2. Wannerton tem um tipo raro de sinestesia conhecida como sinestesia léxico-gustativa, o que significa que sua audição e seu paladar não funcionam separados um do outro. Para Wannerton, cada palavra falada tem um sabor distinto. Embora esses sons não tenham uma ligação clara com seus respectivos gostos, os sabores são sempre os mesmos; a palavra "falar", por exemplo, tem gosto de bacon desde que Wannerton se entende por gente.

3. "Palavras e sons fazem 'ping, ping, ping' na minha boca o tempo todo, como uma lâmpada piscando sem parar", explicou. "Alguns sabores vão embora rápido, mas outros podem durar por horas e me fazem desejar aquela comida específica; fico meio distraído até satisfazer a vontade."

4. Wannerton disse que a sinestesia lhe dá "poderes especiais" - como se guiar pelo metrô de Londres seguindo os sabores das estações. De acordo com Wannerton, a parada de Oxford Circus tem gosto de bolo. A Linha Bakerloo tem gosto de rocambole, a Linha Victoria de cera de vela. Mas claro que a benção da sinestesia tem suas desvantagens [...] como Wannerton desassocia o gosto dos alimentos, ele raramente tem fome. "Não ligo para o gosto da comida – o que me interessa é a textura", disse. "Gosto de comidas crocantes, como salgadinhos, e alimentos mornos. O sabor não importa."

5. Wannerton também afirma que fica "insuportavelmente incomodado" quando uma palavra desperta um sabor que ele não consegue identificar. Wannerton passou anos encucado com o sabor da palavra "esperar". "Eu não conseguia descobrir o que era esse gosto forte e amargo", disse. Seu cérebro só fez a conexão quando finalmente comeu uma torrada com Marmite (um extrato de levedura que os britânicos curtem passar no pão). "Lembrei que quando eu estava no jardim-de-infância, havia uma barraquinha onde podíamos comprar torradas com Marmite - e é esse o gosto que 'esperar' tem para mim."

6. Apesar dos pesares, Wannerton não gostaria de viver sem sua sinestesia. "Pode até ser bizarro pensar que o nome Jackie tem gosto de alcaçuz; Blackpool, de jujuba; e a palavra vodka, de grãos minúsculos de terra; mas a minha sinestesia é tão natural que sem ela eu perderia minha identidade", declarou.

SAMUELSON, Kate. Trad. Amanda Pieratti. 10 jul. 2015. O homem que degusta sons. Disponível.em:<http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/07/1653490-o-homem-quedegusta- sons.shtml>.

Acesso: 11 out. 2016. [Adaptado] 33. (UNIRG TO/2017) Qual das substituições de vocábulos propostas modifica o sentido original no texto?

a) “amargo” (5º §) pela palavra acre. b) “embora” (2º §) pela expressão não obstante. c) “desperta” (5º §) pela palavra desentorpece. d) “encucado” (5º §) pela palavra atemorizado.

34. (UNIRG TO/2017) No trecho “mas claro que a benção da sinestesia tem suas desvantagens” (4º §), a

palavra “benção” a) expressa um juízo de valor do enunciador do texto. b) permite ao leitor reconhecer a religião professada pelo entrevistado. c) segue a mesma direção argumentativa de “desvantagens”. d) é uma intertextualidade produzida pela jornalista.

TEXTO: 31 - Comum à questão: 35

1 A produção em série, em escala gigantesca, impõe 2 em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. 3 Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais 4 devastadora que qualquer ditadura do partido único: 5 impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz 6 os seres humanos como fotocópias do consumidor 7 exemplar.

8 O sistema fala em nome de todos, dirige a todos 9 suas ordens imperiosas de consumo, difunde, entre todos 10 a febre compradora. A maioria, que se endivida para ter 11 coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar 12 dívidas, as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir 13 fantasias que, por vezes, materializa delinquindo.

14 Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as 15 galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são 16 submetidas à luz contínua, para que cresçam mais 17 depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também 18 estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão 19 condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela 20 angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom 21 para as pessoas, mas é muito bom para a indústria 22 farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos 23 sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que 24 se vendem legalmente no mundo, e mais da metade 25 das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que 26 não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm 27 apenas cinco por cento da população mundial.

28 Invisível violência do mercado: a diversidade é 29 inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. O 30 consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, 31 que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a 32 gordura com a boa alimentação. O país que inventou as 33 comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat 34 free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O 35 consumidor exemplar só sai do automóvel para trabalhar 36 e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, 37 passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.

38 As massas consumidoras recebem ordens num 39 idioma universal: a publicidade conseguiu o que o 40 esperanto quis e não pôde. Tempo livre, tempo prisioneiro: 41 as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor 42 e o televisor tem a palavra. Comprado a prazo, esse 43 animalejo prova a vocação democrática do

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progresso: 44 não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos 45 conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último 46 modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas 47 taxas de juros que este ou aquele banco oferece.

48 Os peritos sabem converter as mercadorias em 49 conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm 50 atributos humanos: acariciam, acompanham, 51 compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel 52 é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da 53 solidão o mais lucrativo dos mercados. A publicidade 54 não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes 55 o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial 56 consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. 57 Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, 58 mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de 59 sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão 60 parecido que a diferença é assunto para especialistas.

61 O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas 62 as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As 63 multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior 64 das massas do consumo. A maioria dos devotos 65 contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos 66 não podem pagar, enquanto a minoria compradora 67 submete-se ao bombardeio da oferta incessante e 68 extenuante.

69 A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena 70 tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo 71 vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade 72 de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, 73 para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. 74 Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos do fugaz, 75 oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. 76 Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, 77 sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do 78 espaço, para além das turbulências da perigosa 79 realidade do mundo.

80 A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um 81 defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há 82 natureza capaz de alimentar um shopping center do 83 tamanho do planeta.

GALEANO, Eduardo. O império do consumo. Disponível em: <http:// www.cartacapital.com.br/economia/o-imperio-do-consumo>.

Acesso em: 20 out. 2016 (passim). 35. (UEFS BA/2017) São expressões que podem ser associadas ao conceito de “consumidor exemplar” (Ref. 6-7):

01. “produção em série” (Ref. 1) e “diversidade” (Ref. 28). 02. “rentabilidade” (Ref. 29) e “vida fugaz” (Ref. 73). 03. “quieto” (Ref. 30) e “devotos” (Ref. 64). 04. “animalejo” (Ref. 43) e “efêmero” (Ref. 69). 05. “amigo” (Reg. 52) e “sem raiz” (Ref. 76).

TEXTO: 32 - Comum à questão: 36

Texto I

01 Quando se pensa em traçar um histórico sobre o aprendizado 02 de línguas estrangeiras, poderia se retroceder aos primórdios dos 03 tempos globalizantes, com os acadianos tentando se comunicar 04 com os sumérios na antiga Mesopotâmia, por volta de 3.000 a.C., 05 ou às conquistas do antigo império egípcio, ou ainda do império dos 06 romanos, eles mesmos aprendendo o grego como segunda língua, em 07 reconhecimento ao prestígio daquela civilização. É possível afirmar 08 que, desde os primeiros intercâmbios entre sociedades, quando 09 civilizações descobriram e dominaram outros povos, a necessidade de 10 entendimento entre falantes de línguas distintas levava interessados a 11 aprender novos idiomas com o propósito mais natural, o de comunicarse; 12 buscava-se, como hoje, a oralidade numa língua estrangeira em 13 situações comunicativas.

14 À parte o estudo do grego e do latim (este, detentor, por longo 15 período, do título de língua franca), que se restringira à gramática e 16 à tradução para fins culturais, políticos ou religiosos, é a partir de 17 meados do século XVII [...] que a necessidade de aprender um novo 18 idioma, com o intento genuíno de comunicação, se intensificou.

Vera Hanna, Línguas estrangeiras: o ensino em um contexto cultural

Texto II 01 O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês, 02 é uma exigência cada vez mais frequente

nas empresas. A maior 03 parte dos candidatos às vagas, por sua vez, atesta no currículo que 04 fez cursos – o que em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos 05 os que sustentam uma entrevista mais detalhada em outro idioma 06 ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para 07 muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o 08 pior é que a insegurança quanto à gramática e o medo de cometer 09 equívocos terminam por comprometer as possibilidades de acerto. 10 Em muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação.

Jan Dönges, Revista Mente e Cérebro 36. (Mackenzie SP/2017) Assinale a alternativa que indica INCORRETAMENTE a relação sinonímica entre

palavras, tal como empregadas no texto I. a) primórdios (Ref. 02): início b) detentor (Ref. 14): possuidor c) restringira (Ref. 15): limitara d) intento (Ref. 18): finalidade e) genuíno (Ref. 18): geral

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Exercícios Complementares

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TEXTO: 33 - Comum à questão: 37

Quem é o Grande Irmão? Keila Grinberg

01 Li recentemente que, depois de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência 02 Central de Inteligência

dos Estados Unidos (CIA, sigla em inglês), ter vazado 03 informações sobre programas de inteligência do país, a venda de exemplares do 04 livro 1984, de George Orwell, cresceu mais de 7.000% no site da Amazon.

05 Achei curioso. Não pela relação, algo óbvia, entre o best-seller escrito em 06 1948 e publicado pela primeira vez, coincidentemente, no mesmo dia 8 de junho, 07 quando estourava o escândalo, e o evento do mês. Afinal, 1984 é justamente a 08 história de uma sociedade na qual o controle total é exercido pelo Grande Irmão, 09 o Big Brother.

10 Embora inspirado diretamente nos regimes totalitários das décadas de 1930 e 11 1940, no livro, a história se passa em uma sociedade liberal-democrática, na qual 12 Winstom Smith, o personagem principal, representa o cidadão comum vigiado o 13 dia inteiro pelas teletelas e pelo Partido.

14 No romance, Smith sabe que toda atitude suspeita é passível de denúncia à 15 Polícia do Pensamento e que qualquer ato considerado dissidente pode originar 16 uma denúncia. O que Snowden está mostrando é que, ao usar serviços de 17 empresas como o Skype, o Google (“don’t be evil”), o Facebook e a Verizon (esta 18 última, empresa de telefonia norte-americana), nossas conversas podem ser 19 ouvidas em tempo real, nossos e-mails podem ser lidos, nossas ligações 20 telefônicas podem ser rastreadas. A diferença é que ninguém precisa denunciar. 21 Nós mesmos alegremente abrimos mão da nossa privacidade, continuando a 22 usar os serviços dos gigantes da internet. Ou você viu por aí alguém protestando 23 contra o uso do Gmail?

24 Orwell imaginou um mundo de vigilância total, mas ele mesmo viveu uma 25 realidade totalmente diferente desta. Ao mesmo tempo em que publicava 1984, 26 Orwell mandava sua própria lista de suspeitos de comunismo a sua amiga Celia 27 Kirwan, que trabalhava no Information Research Department (IRD) do Foreign 28 Office inglês. A lista contém 38 nomes de jornalistas e escritores que, segundo 29 sua opinião, “eram criptocomunistas” ou simpatizantes.

30 Claro que, como todo texto tem seu contexto de produção, a lista de Orwell 31 também tem sua época. Ele era um importante liberal antissoviético e, em 1949, 32 muito doente, quatro anos depois da publicação de seu libelo A revolução dos 33 bichos, estava convencido de que a Inglaterra e os demais países ocidentais 34 perderiam a guerra ideológica contra a União Soviética. O que, evidentemente, 35 não o desculpa. Ainda mais ao sabermos que seu caderninho de anotações 36 continha várias outras observações, como as variações pejorativas do termo 37 “judeu” (“judeu polonês”, “judeu inglês”), chegando mesmo a se perguntar se 38 Charlie Chaplin seria um deles (não era).

39 A lista e o caderninho de Orwell só tornam mais irônico o fato de ter se 40 tornado, post mortem – ele faleceria no início de 1950 –, o símbolo da 41 independência política e da defesa da liberdade de pensamento contra os 42 excessos de qualquer Estado. Quem lê 1984 hoje, “um livro péssimo”, segundo o 43 já bastante deprimido Orwell, procura essa reflexão.

44 Mas irônico mesmo é saber que Orwell foi genial ao imaginar e descrever uma 45 sociedade que ele de fato não chegaria a conhecer, mas não teria como antever 46 que seu caderno de anotações e suas listas de suspeitos seriam hoje 47 desnecessários: na era da conexão total, nós nos tornamos informantes de nós 48 mesmos.

Fonte: Ciência Hoje On-line, 21 jun. 13. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/emtempo/ quem-e-o-grande-irmao>.

Acesso em: 18 ago. 15. (Adaptado.) 37. (ESPM SP/2017) Sobre a expressão “Torre de Marfim”, o analista literário Massaud Moisés afirma:

Difundida largamente pelo século XIX, a expressão acabou por avizinhar-se da “arte pela arte” e a sinalizar a recusa do escritor em participar das controvérsias de vária ordem que agitam o ambiente social à sua volta.

(Dicionário de Termos Literários, Editora Cultrix, 6.ª edição, 1992) Dos excertos a seguir, assinale aquele que não traz em seu conteúdo o princípio acima mencionado: a) Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! Não verás nenhum país como este! Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta! A Natureza, aqui, perpetuamente em festa (...)

(Olavo Bilac) b) Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

(Olavo Bilac)

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Português – Vanessa

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c) Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada...

(Raimundo Correia) d) Esta, de áureos relevos, trabalhada

De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

(Alberto de Oliveira) e) Vai, branca e fugidia,

A nuvem pelo ar: Roça de leve a lua, Embebe-se em luar.

(Vicente de Carvalho) 38. (ESPM SP/2017) Entende-se por felonia:

a) A tendência a sujeitar os interesses pessoais às decisões do poder político. b) A capacidade de arregimentação conseguida pelos responsáveis para a direção do partido. c) A recusa em submeter o interesse individual à determinação de uma organização coletiva. d) A ideia de deslealdade e traição aos vínculos partidários, vividos como se fossem relações pessoais. e) A rebelião do vassalo contra o senhor, motivada por razões simbólicas e institucionais.

TEXTO: 34 - Comuns às questões: 39, 40

Muitas vezes, quando pensamos em ritual, duas ideias nos vêm à mente: por um lado, a noção de que um ritual é algo formal e arcaico, quase que desprovido de conteúdo, algo feito para celebrar momentos especiais e nada mais; por outro lado, podemos pensar que os rituais estão ligados apenas à esfera religiosa, a um culto ou a uma missa.

Segundo alguns autores, nossa vida de todos os dias – a vida social – é marcada por um eterno conflito entre dois opostos: ou o caos total, onde ninguém segue nenhuma regra ou lei, ou uma ordem absoluta, quando todos cumpririam à risca todas as regras e leis já estabelecidas. A visão desses opostos não deixa de ser engraçada: alguém consegue imaginar nossa sociedade funcionando de uma dessas maneiras? É evidente que não.

Dizemos que os rituais emprestam formas convencionais e estilizadas para organizar certos aspectos da vida social, mas por que esta formalidade?

Ora, as formas estabelecidas para os diferentes rituais têm uma marca comum: a repetição. Os rituais, executados repetidamente, conhecidos ou identificáveis pelas pessoas, concedem certa segurança. Pela familiaridade com a(s) sequência(s) ritual(is), sabemos o que vai acontecer, celebramos nossa solidariedade, partilhamos sentimentos, enfim, temos uma sensação de coesão social. É assim que entendemos: “cada ritual é um manifesto contra a indeterminação”. Através da repetição e da formalidade, elaboradas e determinadas pelos grupos sociais, os rituais demonstram a ordem e a promessa de continuidade desses mesmos grupos.

Adaptado de RODOLPHO, Adriane Luísa. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão da bibliografia antropológica. In: Estudos Teológicos, v. 44, n. 2, p. 138-146, 2004

39. (PUC RS/2017) Os verbos “emprestam” (Ref. 17), “concedem” (Ref. 23) e “demonstram” (Ref. 30)

poderiam ser substituídos, respectivamente, por a) se valem de, conferem, evidenciam. b) se inspiram em, consideram, explicam. c) se aliam a, facilitam, revelam. d) se assemelham a, permitem, comprovam. e) recorrem a, inserem, simulam.

40. (PUC RS/2017) Analise as substituições sugeridas para as palavras ou expressões indicadas,

preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) “quase que” (Ref. 03) por “quase” ( ) “identificáveis” (Ref. 22) por “identificados” ( ) “certa” (Ref. 23) por “alguma” ( ) “enfim” (Ref. 26) por “finalmente” ( ) “É assim que” (Ref. 27) por “Consequentemente” A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – V – F – F – F b) V – F – V – F – F c) V – F – F – V – V d) F – V – V – F – V e) F – F – V – V – F

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Exercícios Complementares

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TEXTO: 35 - Comuns às questões: 41, 42

Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908).

A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.

O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.

Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.

Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: “gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.

Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.

(Contos: uma antologia, 1998.) 41. (UNESP SP/2018) Em “Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.” (4º parágrafo),

o termo destacado pode ser substituído, sem prejuízo de sentido para o texto, por: a) escondesse. b) denunciasse. c) agredisse. d) incentivasse. e) ignorasse.

42. (UNESP SP/2018) No último parágrafo, “pôr ordem à desordem” significa

a) estimular os proprietários a tratarem seus escravos com menos rigor. b) conceder a liberdade aos escravos fugidos. c) conceder aos proprietários de escravos fugidos alguma compensação. d) abolir a tortura imposta aos escravos fugidos. e) restituir os escravos fugidos a seus proprietários.

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TEXTO: 36 - Comuns às questões: 43, 44

Redução da maioridade penal

BELLO. Redução da maioridade penal. In: CHARGES mostram que o Brasil atual é coisa do passado. UFJF Notícias. Juiz de Fora, 18 jan. 2017, Cultura e Arte. Disponível em: <http://www.ufjf. br/noticias/2017/01/18/10-charges-mostram-que-o-

brasil-atual-e-coisa-do-passado/>. Acesso em: 18 out. 2017. 43. (UNIRG TO/2018) Considerando-se o diálogo entre os dois interlocutores, pode-se afirmar que:

a) A palavra “dimenó” possui a mesma acepção nas duas falas. b) A palavra “dimenó” foi empregada com acepções diferentes nas falas de ambos os personagens. c) A palavra “dimenó” na fala do personagem foi empregada no contexto socioeconômico. d) A palavra “dimenó” na fala do segundo personagem foi empregada no campo do direito penal.

44. (UNIRG TO/2018) Analise os significados que as palavras “agora”, “também” e “só”, respectivamente,

expressam na charge e marque a alternativa correta: a) designação - exclusão - inclusão. b) explicação - modo -companhia. c) tempo - inclusão - restrição. d) situação - finalidade -referência.

TEXTO: 37 - Comum à questão: 45

Refeição em família Anna Veronica Mautner

Conversar é preciso, assim como é também bater papo, palpitar. Precisamos de conversa fiada – é

conversando que construímos as imagens que temos uns dos outros. Não conheço melhor lugar que a mesa de refeição para esse tipo de conversa à toa. Mas como a mesa de

refeição está sendo cada vez menos usada, e como são poucos os que reclamam – esse espaço foi encolhendo devagar.

É em volta da mesa que se relata o cotidiano de cada um e também é compartilhado. E, dentro do clima de “sem-cerimônia”, nos reconhecemos. É no “à toa” mesmo. Quando falta ou é rara essa rotina caseira, passamos a viver como se a vida se tornasse um texto que não foi relido. A conversa na mesa é reler, rever o dia que passou.

A partir deste bate-papo inconsequente, podemos testar escolhas e até nos corrigir. É nesse clima que os indivíduos se avaliam e são avaliados, gerando a família – entidade única e original.

Quando uma pessoa não tem este espaço, ela terá que fazer a tarefa de se avaliar, sozinha. Na sociedade em que vivemos, estamos imersos numa trama exigente e paradoxal. É tão diferente do clima em torno da mesa.

Aí captamos o significado de olhares, gestos, entonações que conhecemos bem, mas os detalhes mudam dia a dia. Se tivermos interpretado erroneamente o ocorrido, não tem importância – hoje ou amanhã a família estará junta de novo e tudo poderá ser esclarecido. É, pois, no “um dia depois do outro”, que são lançadas as sementes do respeito e do conhecimento mútuo.

Este mesmo mundo em que se pede pessoas conscientes, flexíveis e tolerantes inviabiliza, ou pelo menos dificulta, os rituais de família, em que se encontra a melhor e a maior probabilidade de vivê-las.

A agenda escolar de cada um dos filhos, as exigências do trabalho, os cursos extras, os hábitos de entretenimento fazem concorrência aberta à possibilidade de interação familiar. Cada um tem seu horário de ir e vir ou de aparecer, mas ninguém se ausenta eternamente. Faltar muito dá saudade.

Evocando aqui e agora o meu dia a dia dos meus tempos de criança, vejo-me na minha casa – a gente se conhecia bem, nas profundezas da alma e nas coisas mais corriqueiras. Nas nossas conversas, qualquer um de nós era capaz de prever o rumo da conversa. A nossa escala de valores valorizava o bem pensar e o bem sentir.

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Exercícios Complementares

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Éramos tolerantes para quase tudo, menos para o uso do pensamento. Lá na minha casa, na casa de minha infância, o empenhar-se, o esforçar-se sempre foi mais valorizado que o sucesso. E eu, até hoje, julgo assim.

Não tenho dúvida alguma: é de famílias conversadeiras, afetivas, tolerantes, prolixas que saem as pessoas que sabem escolher bem – pessoas aptas a fugir da dominação cega que os fortes podem exercer – é esse o maior e mais importante legado das refeições em família.

Folha de S. Paulo. 14/9/2015. p. A3, opinião. 45. (Fac. Santo Agostinho BA/2018) “... estamos imersos numa trama exigente e paradoxal”.

Os sentidos das palavras destacadas são, respectivamente a) predestinados, obrigatória. b) afogados, compulsória. c) mergulhados, contraditória. d) orientados, exploratória.

TEXTO: 38 - Comum à questão: 46 Leia os poemas a seguir, de Carlos Drummond de Andrade.

Sentimental Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão. No prato, a sopa esfria, cheia de escamas e debruçados na mesa todos contemplam esse romântico trabalho. Desgraçadamente falta uma letra, uma letra somente para acabar teu nome! – Está sonhando? Olhe que a sopa esfria! Eu estava sonhando... E há em todas as consciências um cartaz amarelo: “Neste país é proibido sonhar”. Poema do jornal O fato ainda não acabou de acontecer e já a mão nervosa do repórter o transforma em notícia. O marido está matando a mulher. A mulher ensanguentada grita. Ladrões arrombam o cofre. A polícia dissolve o meeting. A pena escreve. Vem da sala de linotipos a doce música mecânica. Poesia Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 35; 41; 45).

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46. (UEL PR/2018) O termo “pena”, utilizado no segundo verso de “Poesia”, tem o significado de peça que se adapta à caneta, ou é a própria caneta, ou ainda corresponde ao instrumento com que se escreve. A palavra, porém, tem outros sentidos dicionarizados. Assinale a alternativa em que se estabelece a correta correlação entre a palavra empregada no poema e os demais sentidos. a) O sentido de “sanção aplicada como punição ou como reparação por uma ação julgada repreensível” é

válido, pois o sujeito lírico lastima ter gasto muito tempo com a elaboração de um verso. b) O significado de “sofrimento; aflição” é inviável, pois a euforia com o êxito da concretização do poema

está desvinculada de um estado de espírito perturbado do sujeito lírico. c) O uso do termo com o sentido de “tristeza, amargura, pesar” cabe, pois este estado de espírito se

sobrepõe à expressão da satisfação fugaz que acomete o sujeito lírico. d) O sentido de “castigo, condenação, penitência” deve ser descartado, pois é superado pela carga de

emoção confessada pelo sujeito lírico em seu processo de reflexão sobre a composição poética. e) O significado de “compaixão, piedade, comiseração” é cabível, pois o apego à ironia é preterido pela

adesão ao sentimentalismo, como estratégia do sujeito lírico para se afastar das práticas românticas. TEXTO: 39 - Comuns às questões: 47, 48, 49

1 Um filme nacional de 2003 − Os narradores de 2 Javé, de Eliane Caffé − mostra um vilarejo fictício 3 ameaçado de ser inundado por uma grande represa. 4 Pobres e esquecidos por todos, seus habitantes não 5 sabem como se defender, até que uma voz parece 6 encontrar a solução: Javé precisa ser reconhecida 7 como “patrimônio”, pois assim não se tornaria uma 8 cidade submersa. Duas dimensões dessa fala 9 merecem ser assinaladas: “patrimônio” aparece como 10 um recurso e uma reivindicação; a palavra, 11 enuncia da naquela específica cena, evidencia o quanto 12 deixou há muito de ser um termo técnico, 13 especializado, vinculado a um saber e a uma política formal, 14 para se tornar um lugar-comum; em uma metáfora 15 poderosa, submersão equivale a esquecimento e a 16 não reconhecimento: a reivindicação de posse de um 17 patrimônio é uma demanda de visibilidade. 18 Desprovidos de recursos materiais que pudessem ser 19 considerados de valor histórico, os narradores de 20 Javé só podem recordar e reinventar suas histórias, 21 seu mito de fundação, um patrimônio que hoje 22 chamamos imaterial, ou intangível.

23 O termo “patrimônio”, do latim pater, pai, 24 tornou-se corriqueiro e sua adjetivação se espraiou: 25 patrimônio pode ser histórico, ambiental, 26 arqueológico, artístico, material, imaterial etc., 27 qualificações comumente subsumidas sob o guarda-chuva 28 “cultural”. A remissão a pai, patriarca, nos conduz 29 a legado, herança − e não por acaso o termo em 30 inglês é exatamente este: heritage.

31 No filme citado não bastava reconhecer algo 32 importante: era preciso escrever, anotar, identificar 33 – e passar adiante. Esse conjunto de práticas é o que 34 pode transmutar os relatos, as estórias passadas em 35 conversas informais e os costumes em “patrimônio” 36 − da cidade, de um grupo, região ou nação. 37 Patrimônio não é uma representação coletiva como outra 38 qualquer, e sim uma prática constituída por um pro - 39 cesso de atribuição de um valor, que deve ser 40 reconhecido por um grupo disposto a conservá-lo. Em 41 outras palavras, patrimônio histórico remete a 42 políticas públicas ou a ações que têm lugar na esfera 43 pública.

44 Os grupos sociais atribuem valores distintos 45 aos seus bens materiais, suas memórias, suas marcas 46 territoriais; nomeiam − e desse modo distinguem, 47 classificam − o ambiente que os rodeia, destacam 48 passagens de sua história comum, de um passado 49 coletivo, elegem paisagens. Por isso, quando fala - 50 mos em patrimônio (histórico, cultural etc.), é disso 51 que se trata: de um conjunto de bens materiais ou 52 imateriais fruto de uma decisão que partiu da 53 identificação de algo que merecia ser destacado, 54 retirado de certo fluxo corriqueiro das coisas, da 55 rotina cotidiana: um bem tido como especial. A esse 56 bem chama-se bem patrimonial.

57 O termo é hoje lugar-comum, em duplo sentido: é 58 corriqueiro, parece estar no discurso de todos, mas 59 pode ser também um lugar compartilhado, um ponto 60 de encontro de saberes, disciplinas e políticas. 61 Contudo, não estamos diante de um fenômeno universal, 62 tampouco permanente. Na França, preocupações 63 com patrimônio ou, para usar um termo então 64 utilizado, com monumentos tiveram início após a 65 Revolução Francesa; na Inglaterra, em meio à Revolução 66 Industrial, vitorianos que denunciavam uma 67 civilização moderna percebida como sem raízes se voltavam 68 para um passado préindustrial, localizado na 69 arquitetura. No Brasil, a descoberta de um 70 patrimônio na iminência de ser perdido não se vinculou 71 a revolução de qualquer tipo: foi um debate que teve 72 início na nada revolucionária Primeira República 73 (1889-1930), quando cidades passavam por 74 reformas urbanas pautadas por um “bota abaixo” 75 − como ocorreu no Rio de Janeiro e no Recife no 76 começo do século XX −, e consolidou-se no Estado 77 Novo.

(Adaptado de: RUBINO, Silvana. Patrimônio: história e memória como reivindicação e recurso. In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. Orgs. André Botelho, Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras,

2011, p. 392 e 393)

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Exercícios Complementares

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47. (FMABC SP/2018) Consideradas as linhas iniciais do texto, afirma-se com correção: a) (Refs. 9 e 10) Compreender que a palavra “patrimônio” aparece como um recurso está ligado ao fato

de que a população de Javé a entendeu como meio para evitar a iminente inundação da cidade. b) (Refs. 10, 11 e 12) Ao ter-se tornado vocábulo comum numa população simples de um vilarejo, a

palavra “patrimônio” deixou de ser empregada em textos especializados, de estudiosos e técnicos de várias áreas do saber.

c) (Refs. 1 e 2) Os travessões isolam informações consideradas, no contexto, de menor relevância, pois constituem meros detalhes, que, por isso, não contribuem para a coesão textual.

d) (Refs. 4 e 5) Em seus habitantes não sabem como se defender, o pronome destacado indica reciprocidade, como se tem em “Avô e neto se abraçaram emocionados”.

e) (Refs. 5 e 6) Em até que uma voz parece encontrar a solução, a preposição destacada expressa um limite espacial.

48. (FMABC SP/2018) No parágrafo 2, o segmento qualificações comumente subsumidas sob o guarda-chuva

“cultural” explica um tipo de relação que se estabelece entre palavras do texto. Observe-se o fenômeno de “qualificação subsumida sob um guarda-chuva”. Ele é reconhecível, na devida ordem, na relação entre a) guaraná zero e refrigerante. b) doce e chocolate diet. c) cereal e trigo. d) doença e gripe espanhola. e) arbusto e papoula.

49. (FMABC SP/2018) Considerado o contexto, o segmento que está correta mente traduzido é:

a) (Ref. 41 e 42) remete a políticas públicas / implica ações de governos para assegurar o direito da coletividade.

b) (Ref. 67 e 69) se voltavam para um passado préindustrial, localizado na arquitetura / atribuíam os danos a patrimônios arquitetônicos à época préindustrial.

c) (Refs. 33 e 34) o que pode transmutar os relatos / o que pode falsear as narrativas. d) (Refs. 63e 64) ou, para usar um termo então utilizado / dito de outra maneira, em termo hoje arcaico. e) (Ref. 74) reformas urbanas pautadas por um “bota abaixo” / projetos de aprimoramento das cidades

por gradativa implosão de edificações degradadas. TEXTO: 40 - Comum à questão: 50

Gestos amorosos Rubem Alves

33 Dei-me conta de que estava velho 34 cerca de 25 anos atrás. Já contei o ocorrido 35 várias vezes, mas

vou contá-lo novamente. 36 Era uma tarde em São Paulo. Tomei um 37 metrô. Estava cheio. Segurei-me num 38 balaústre sem problemas. Eu não tinha 39 dificuldades de locomoção. Comecei a fazer 40 algo que me dá prazer: ler o rosto das 41 pessoas.

42 Os rostos são objetos oníricos: fazem 43 sonhar. Muitas crônicas já foram escritas 44 provocadas por um rosto - até mesmo o 45 nosso - refletido no espelho. Estava eu 46 entregue a esse exercício literário quando, ao 47 passar de um livro para outro, isto é, de um 48 rosto para outro, defrontei-me com uma 49 jovem assentada que estava fazendo comigo 50 aquilo que eu estava fazendo com os outros. 51 Ela me olhava com um rosto calmo e não 52 desviou o olhar quando os seus olhos se 53 encontraram com os meus. Prova de que ela 54 me achava bonito. Sorri para ela, ela sorriu 55 para mim... Logo o sonho sugeriu uma 56 crônica: "Professor da Unicamp se encontra, 57 num vagão de metrô, com uma jovem que 58 seria o amor de sua vida..."

59 Foi então que ela me fez um gesto 60 amoroso: ela se levantou e me ofereceu o 61 seu lugar... Maldita delicadeza! O seu gesto 62 amoroso me humilhou e perfurou o meu 63 coração... E eu não tive alternativas. Como 64 rejeitar gesto tão delicado! Remoendo-me de 65 raiva e sorrindo, assentei-me no lugar que 66 ela deixara para mim. Sim, sim, ela me 67 achara bonito. Tão bonito quanto o seu avô... 68 Aconteceu faz mais ou menos um mês. Era a 69 festa de aniversário de minha nora. Muitos 70 amigos, casais jovens, segundo minha 71 maneira de avaliar a idade. Eu estava 72 assentado numa cadeira num jardim 73 observando de longe. Nesse momento 74 chegou um jovem casal amigo. Quando a 75 mulher jovem e bonita me viu, veio em 76 minha direção para me cumprimentar. Fiz um 77 gesto de levantar-me. Mas ela, delicadíssima, 78 me disse: "Não, fique assentadinho aí..." Se 79 ela me tivesse dito simplesmente "Não é 80 preciso levantar", eu não teria me 81 perturbado. Mas o fio da navalha estava 82 precisamente na palavra "assentadinho". Se 83 eu fosse moço, ela não teria dito 84 "assentadinho". Foi justamente essa palavra 85 que me obrigou a levantar para provar que 86 eu era ainda capaz de levantar-me e 87 assentar-me. Fiquei com dó dela porque eu, 88 no meio de uma risada, disse-lhe que ela 89 acabava de dar-me uma punhalada...

90 Contei esse acontecido para uma 91 amiga, mais ou menos da minha idade. E ela 92 me disse: "Estou só esperando que alguém 93 venha até mim e, com a mão em concha, 94 bata na minha bochecha, dizendo: "Mas que 95 bonitinha..." Acho que vou lhe dar um murro 96 no nariz..."

97 Vem depois as grosserias a que nós, 98 os velhos, somos submetidos nas salas de 99 espera dos aeroportos. Pra começar, não 100 entendo por que "velho" é politicamente 101 incorreto. "Idoso" é palavra de fila de banco 102 e de fila de supermercado; "velho", ao 103 contrário, pertence ao universo da poesia. Já 104

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imaginaram se o Hemingway tivesse dado ao 105 seu livro clássico o nome de "O idoso e o 106 mar"? Já imaginaram um casal de cabelos 107 brancos, o marido chamando a mulher de 108 "minha idosa querida"?

109 Os alto-falantes nos aeroportos 110 convocam as crianças, as gestantes, as 111 pessoas com dificuldades de locomoção e a 112 "melhor idade"... Alguém acredita nisso? Os 113 velhos não acreditam. Então essa expressão 114 "melhor idade" só pode ser gozação.

Disponível em: http://www1.folha.uol. com.br/fsp/cotidian/ff2705200804. h tm. Acesso em: 22/9/17 50. (UECE/2018) A presença, no texto, das formas diminutivas “assentadinho” (Ref. 78) e “bonitinha” (Ref.

95) expressa para quem as emprega a) pequenez. b) deboche. c) ironia. d) amabilidade.

TEXTO: 41 - Comum à questão: 51

A crise final da escravidão, no Brasil, deu lugar ao aparecimento de um modelo novo de resistência, a que podemos chamar quilombo abolicionista. No modelo tradicional de resistência à escravidão, o quilombo-rompimento, a tendência dominante era a política do esconderijo e do segredo de guerra. Por isso, esforçavam-se os quilombolas exatamente para proteger seu dia a dia, sua organização interna e suas lideranças de todo tipo de inimigo, curioso ou forasteiro, inclusive, depois, os historiadores.

Já no modelo novo de resistência, o quilombo abolicionista, as lideranças são muito bem conhecidas, cidadãos prestantes, com documentação civil em dia e, principalmente, muito bem articulados politicamente. Não mais os grandes guerreiros do modelo anterior, mas um tipo novo de liderança, uma espécie de instância de intermediação entre a comunidade de fugitivos e a sociedade envolvente. Sabemos hoje que a existência de um quilombo inteiramente isolado foi coisa rara. Mas, no caso dos quilombos abolicionistas, os contatos com a sociedade são tantos e tão essenciais que o quilombo encontra-se já internalizado, parte do jogo político da sociedade mais ampla.

(Quilombo abolicionista – cap. 1; p. 11. SILVA, Eduardo: As Camélias do Leblon e a abolição da escravatura: uma investigação de história cultural. SP: Cia das Letras, 2003.)

51. (UFPR/2018) As expressões ‘cidadãos prestantes’ e ‘instância de intermediação’, no segundo parágrafo,

podem ser interpretadas, segundo o contexto de ocorrência, respectivamente, como: a) ‘pessoas que têm crenças religiosas’ e ‘foro oficial’. b) ‘indivíduos que prestam serviços’ e ‘lugar de recurso’. c) ‘cidadãos que se distinguem na sociedade’ e ‘nível de mediação’. d) ‘cidadãos que são prestativos’ e ‘intermediários eventuais’. e) ‘pessoas que protestam contra injustiças’ e ‘nível intermediário’.

52. (ESPM SP/2018) De tão repetida, a verdade insofismável de que a história não se repete transforma-se

no seu contrário, em sofisma. Agora mesmo, venais¹ travestidos de vestais² repisam que o Terror curitibano esconde uma guilhotina no porão e estamos todos com a cabeça a prêmio. 1venal : que pode ser vendido; exposto à venda. 2vestal: honesto; casto; virgem.

(Mário Sérgio Conti, Folha de S.Paulo, 01/07/2017) O termo em negrito “sofisma” significa: a) um argumento que parte de premissas verdadeiras, ou tidas como verdadeiras, e chega a uma

conclusão lógica verdadeira; o mesmo que silogismo. b) um procedimento que consiste em generalizar a partir da observação de casos particulares. c) uma linguagem persuasiva com a finalidade de convencer; o mesmo que retórica. d) uma análise feita de forma acurada para se chegar a uma decisão ponderada. e) um argumento falso, formulado de propósito para induzir outrem a erro; o mesmo que falácia.

TEXTO: 42 - Comum à questão: 53

Era digital desafia exercício profissional

“A medicina não sobreviverá ao velho método do médico de família, mas terá que se adaptar”. A afirmação é do desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Diaulas Costa Ribeiro, proferida durante a mesaredonda “Panorama atual das mídias sociais e aplicativos na medicina contemporânea”. Para ele, as novas tecnologias trazem desafios que precisam ser colocados em perspectiva para garantir a ética e o sigilo.

“Possivelmente vamos chegar a uma medicina sem gosto, distanciada, mas que também funciona. Talvez este não seja o fim, mas um recomeço”, ponderou Ribeiro. Segundo ele, antes de gerar um novo modelo de atendimento médico, o “dr. Google” – termo que utilizou para indicar as buscas por informações médicas na

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internet – gerou um novo tipo de paciente, que passou a conhecer mais sobre as doenças e, por isso, exige um novo relacionamento com seu médico.

O desembargador ainda reforçou a necessidade de se rediscutir questões como o uso da internet nessa relação médico-paciente e a segurança do sigilo médico neste cenário. “Precisamos refletir sobre algumas questões importantes. Quem guardará o sigilo? Ou não haverá sigilo? O sigilo médico será mantido ou valerá o direito público à informação? Os conflitos serão reinventados ou serão os mesmos? A solução para os problemas será a de sempre?”, indagou. Ética – Na perspectiva do médico legista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Malthus Galvão, embora acredite que algumas mudanças serão inevitáveis e necessárias, é preciso defender os princípios fundamentais instituídos pelo Código de ética médica (CEM).

“As novas mídias devem ser entendidas como um sistema de interação social, de compartilhamento e criação colaborativa de informação nos mais diversos formatos e não podemos perder essa oportunidade”, destacou. Ele lembra, por exemplo, que desde a Resolução CFM 1.643/2002, que define e disciplina a prestação de serviços através da telemedicina, alguns avanços colaborativos já foram possíveis.

Galvão apresentou ainda preceitos da Resolução CFM 1.974/2011 e também da Lei do Ato Médico (12.842/2013), chamando a atenção para alguns cuidados que o médico deve ter ao divulgar conteúdo de forma sensacionalista. “Segundo o CEM, é vedada a divulgação de informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico. A internet deve ser usada como um instrumento de promoção da saúde e orientação à população”, reforçou. Editorial do Jornal Medicina – Publicação oficial do Conselho

Federal de Medicina (CFM). Brasília, jul. 2017, p. 7. 53. (Fac. Israelita de Ciênc. da S. Albert Einstein SP/2018) Diaulas Costa Ribeiro, desembargador do

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), refere-se ao “dr. Google” para explicar o tipo de paciente da atualidade, ou seja, a) um sujeito mais bem informado sobre doenças, o que demanda uma relação diferente entre ele e seu

médico. b) um indivíduo atualizado sobre tratamentos médicos e, por isso, de postura intransigente sobre as

condutas médicas. c) uma pessoa mais predisposta a interferir nos tratamentos médicos, por ter acesso a tudo que se

publica sobre doenças. d) um médico virtual que se propõe a atender com presteza as demandas dos pacientes mais bem

informados em relação a questões de saúde. TEXTO: 43 - Comuns às questões: 54, 55

O ato de escrever nos modifica, e é por essa razão que ele faz sentido

Cristovão Tezza

1 Há muitos anos, ouvi o escritor português Augusto Abelaira (1926-2003) classificar toda a literatura 2 do mundo em apenas duas famílias: “Grandes Esperanças” e “Ilusões Perdidas”. A brincadeira com as 3 obras-primas de Dickens e Balzac poderia ser estendida ao temperamento dos escritores, os soturnos e os 4 solares.

5 Como classificar e coçar é só começar, e a ficção – o nome já o diz – não é uma ciência, pensei 6 em separar os escritores em função de como eles ____ o mundo que pretendem “revelar”. As aspas se 7 explicam adiante.

8 A primeira vertente seria a conspiratória. Segundo ela, somos naturalmente seres negativos que se 9 dirigem à morte. Infelizmente, não há nada que se possa fazer a respeito, porque a natureza é soberana, 10 e a subjetividade, uma mentira. Pela escrita, fomos arrancados do aqui e agora do mundo natural, ao qual 11 não podemos voltar.

12 Assim, escrever será sempre um processo insidioso de ocultação, e são impressionantes os meios de 13 que ____ a escrita para nos enganar, criando fantasmas paralelos e arbitrários que asfixiam o real tentando 14 simular um impossível retorno à suposta paz primitiva.

15 É falsa, portanto, a distinção entre ficção e não ficção – tudo é ficção; ou, pior, tudo é uma mentira, e a 16 penosa ética da escrita seria torná-la límpida, trazer a mentira à luz do sol, denunciando perpetuamente o 17 fracasso, que, queiramos ou não, se volta sobre si mesmo. Não há escape ou segurança, exceto no próprio 18 ato de escrever, que é, necessariamente, um ato de desespero.

19 A segunda vertente é a encantatória. Vivemos em uma rede maravilhosa – não necessariamente 20 otimista, alegre ou feliz, mas no sentido atávico das mil e uma noites, o maravilhoso como suspensão do 21 tempo e das regras sensoriais.

22 Essa rede fantástica de sentidos, causas e efeitos existe segundo essências inatingíveis pela lógica 23 humana e revela sinais milagrosos em toda parte. O artista é a antena com poderes de captação de um 24 saber que, apesar da intransponível opacidade da natureza, está sempre pulsando no entorno à espera de 25 um intérprete. O escritor seria esse arauto das forças misteriosas do mundo.

26 Nessa visão, de um apelo instintivamente escapista, escrever também é tirar o manto que oculta a 27 realidade e revelá-la tal qual ela é. Para o poeta Ezra Pound, havia mesmo uma raça pulsando em alguma 28 parte, que o poeta, “antena da raça”, deve farejar. A expressão é historicamente grotesca, mas o seu 29 espírito tem uma atração perene, uma espécie de “alma do mundo”, o comando romântico irresistível.

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30 O fato é que, tanto para os encantatórios como para os conspiratórios, a realidade é um dado prévio 31 que se deixa ver apenas por enigmas e só pode ser pressentido; escrever é revelar, ou, mais precisamente, 32 deixar o mundo revelar-se pelas mãos do escritor.

33 São visões com o charme do irracionalismo poético – e certamente obras-primas se escreveram e 34 continuarão se escrevendo sob o sopro dessa natureza regressiva.

35 Para colocar essa teoria capenga em minha própria medida, gosto de pensar em mim mesmo como 36 escritor de uma realidade encantatória, mas o espírito da conspiração vive me puxando o tapete. A ideia de 37 que os escritores “revelam” alguma coisa é enganosa – eu aqui, cristalino; e o mundo lá, turvo e misterioso.

38 Escrever é uma ação sobre o mundo, e sou parte dele. O ato de escrever nos modifica, e é por essa 39 razão que ele faz sentido. É possível que o primeiro impulso seja o da “revelação” – o que é isso que estou 40 vendo ou sentindo? –, mas já no instante seguinte a redução da vida real ____ letras, a reapresentação e 41 o fechamento do mundo pela gramática, pelo funil das sentenças, cria uma terceira realidade, um desejo 42 que se desenha, um objeto espelhado, uma hipótese, que, por sua própria natureza, surge não “revelando” 43 o mundo, que nada diz por si mesmo, mas fazendo concorrência a ele, como queriam os verdadeiros 44 realistas.

45 Levando-se adiante ____ conversa solta, pode-se extrair daí uma ética laica do ato de escrever ficção, 46 ou seja, o seu princípio inegociável, desde os diálogos socráticos e seu sabor romanesco: o fato de que 47 somos seres inacabados. Fico por aqui: para salvação deste escriba, e alegria do leitor, acabou o espaço.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/cristovao-tezza/2017/07/1897639-o-ato-de-escrever-nos-modifica-e-e-por-essa-razao-que-ele-faz-sentido.shtml>. Acesso em: 3 set. 17. (Adaptado.)

54. (UCS RS/2018) Sobre as relações semânticas estabelecidas no texto, é correto afirmar que

a) Como (Ref. 5) tem, no contexto, sentido de causalidade. b) Segundo (Ref. 8) encerra ideia de enumeração, dando sequência ao fragmento A primeira (Ref. 8). c) Assim (Ref. 12) estabelece relação de conformidade com o ato da escrita. d) criando fantasmas paralelos e arbitrários (Ref.13) apresenta sentido de comparação. e) tanto... como (Ref. 30) estabelece sentido de concessão entre as ideias que relaciona.

55. (UCS RS/2018) Assinale a alternativa em que o termo presente na COLUNA B melhor substitui, no texto,

o da COLUNA A, mantendo-se a sinonímia a mais aproximada possível.

enganosa 35) (Ref. )e suave 29) (Ref.)d trágica 28) (Ref. )c

mensageiro 25) (Ref.)b ciatransparên 24) (Ref.)a

capenga perene

grotesca arauto

opacidadeB COLUNAA COLUNA

TEXTO: 44 - Comum à questão: 56

A arqueologia não pode ser desvencilhada de seu caráter aventureiro e romântico, cuja melhor imagem talvez seja, desde há alguns anos, as saborosas aventuras do arqueólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do auge do sucesso de Indiana Jones, o arqueólogo brasileiro Paulo Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde, de São Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, assim como para outros arqueólogos profissionais, envolvidos com um trabalho árduo, sério e distante das peripécias das telas, essa imagem aventureira é incômoda.

O fato é que o arqueólogo, à diferença do historiador, do geógrafo ou de outros estudiosos, possui uma imagem muito mais atraente, inspiradora não só de filmes, mas também de romances e livros os mais variados.

Bem, para usar uma expressão de Eça de Queiroz, “sob o manto diáfano da fantasia” escondem-se as histórias reais que fundamentaram tais percepções. A arqueologia surgiu no bojo do Imperialismo do século XIX, como um subproduto da expansão das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos, que procuravam enriquecer explorando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos de fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena medida, pela fama que se propagou em torno da profissão.

Adaptado de Pedro Paulo Funari, Arqueologia 56. (Mackenzie SP/2018) Assinale a alternativa correta que representa a melhor correspondência

sinonímica, considerando o emprego das palavras no texto. a) desvencilhada (Ref. 01): desvinculada b) árduo (Ref. 08): brando c) peripécias (Ref. 08): mentiras d) diáfano (Ref. 15): diário e) bojo (Ref. 16): contraponto

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TEXTO: 45 - Comum à questão: 57

Escrever é um ato não natural. A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar numa escola. Mas a palavra escrita é uma invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante esforço ao longo da infância e depois.

A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o teclado requer prática. Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado. Falar e escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que diz respeito à fala nos chega naturalmente. A conversação falada é instintiva porque a interação social é instintiva: falamos às pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos interlocutores, temos uma suposição do que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender, e durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes. Se eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar.

Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são invisíveis e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas reações. No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa imaginação. Escrever é, antes de tudo, um ato de faz de conta. Temos de nos imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência, ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo simulado.

Adaptado de Steven Pinker, Guia de Escrita 57. (Mackenzie SP/2018) Assinale a alternativa que indica a relação sinonímica INCORRETA, considerando

o emprego das palavras no texto. a) genoma (Ref. 05) = conjunto de genes de uma espécie de ser vivo b) mediante (Ref. 05) = por intermédio de c) requer (Ref. 09) = prescinde de d) instintiva (Ref. 15) = natural e) imperscrutáveis (Ref. 23) = que não se pode examinar

TEXTO: 46 - Comuns às questões: 58, 59

AO CRESPÚSCULO, A MULHER

Ao crepúsculo, a mulher bela estava quieta, e me detive a examinar sua cabeça com atenção e o

extremado carinho de quem fixa uma flor. Sobre a haste do colo fino estava apenas trêmula: talvez a leve brisa do mar; talvez o estremecimento de seu próprio crepúsculo. Era tão linda assim, entardecendo, que me perguntei se já estávamos preparados, nós, os rudes homens destes tempos, para testemunhar a sua fugaz presença sobre a terra. Foram precisos milênios de luta contra a animalidade, milênios de milênios de sonho para se obter esse desenho delicado e firme. Depois os ombros são subitamente fortes, para suster os braços longos; mas os seios são pequenos, e o corpo esgalgo foge para a cintura breve; logo as ancas readquirem o direito de ser graves, e as coxas são longas, as pernas desse escorço de corça, os tornozelos de raça, os pés repetindo em outro ritmo a exata melodia das mãos.

Ela e o mar entardeciam, mas, a um leve movimento que fez, seus olhos tomaram o brilho doce da adolescência, sua voz era um pouco rouca. Não teve filhos. Talvez pense na filha que não teve... A forma do vaso sagrado não se repetirá nestas gerações turbulentas e talvez desapareça para sempre no crepúsculo que avança. Que fizemos desse sonho de deusa? De tudo o que lhe fizemos só lhe ficou o olhar triste, como diria o pobre Antônio, poeta português. O desejo de alguns a seguiu e a possuiu; outros ainda se erguerão como torvas chamas rubras, e virão crestá-la, eis ali um homem que avança na eterna marcha banal.

Contemplo-a... Não, Deus não tem facilidade para desenhar. Ele faz e refaz sem cessar Suas figuras, porque o erro e a desídia dos homens entorpecem Sua mão: de geração em geração, que longa paciência Ele não teve para juntar a essa linha do queixo essa orelha breve, para firmar bem a polpa da panturrilha. Sim, foi a própria mão divina em um momento difícil e feliz. Depois Ele disse: anda... E ela começou a andar entre os humanos. Agora está aqui entardecendo; a brisa em seus cabelos pensa melancolias. As unhas são rubras; os cabelos também ela os pintou; é uma mulher de nosso tempo; mas neste momento, perto do mar, é menos uma pessoa que um sonho de onda, fantasia de luz entre nuvens, avideusa trêmula, evanescente e eterna.

Mas para que despetalar palavras tolas sobre sua cabeça? Na verdade não há o que dizer; apenas olhar, olhar como quem reza, e depois, antes que a noite desça de uma vez, partir.

(Rubem Braga. A traição das elegantes. R.J.: Editora Sabiá, 1967, pp.61-63.)

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58. (FCM MG/2018) O cronista faz alusão ao poeta português António Nobre (1867-1900), que escreveu os seguintes versos: “Ó grandes olhos outonais! Místicas luzes! Mais tristes do que o amor, solenes como as cruzes!”

O adjetivo “outonais” corresponde, na crônica, ao termo “crepúsculo” porque a) aborda, ironicamente, a transitoriedade das coisas. b) trata, metaforicamente, do envelhecimento da mulher. c) remete, liricamente, ao passado romântico das mulheres. d) recorre, hiperbolicamente, ao poder do tempo sobre as pessoas.

59. (FCM MG/2018) Assinale a alternativa em que NÃO há explicação correta do vocábulo grifado. a) “o erro e a desídia dos homens” - negligência b) “as pernas desse escorço de corça” - tipo c) “como torvas chamas rubras” - sinistras d) “evanescente e eterna.” – efêmera

TEXTO: 47 - Comum à questão: 60

UM NOVO JEITO DE FAZER POLÍTICA

Um país que confie em seus políticos e políticos que representem seus eleitores. Esse é o pensamento que perpassa a origem de todos os novos movimentos políticos que surgiram no Brasil no último ano. Eles têm como objetivo reduzir a distância entre a população e a política e são formados por jovens engajados, que fazem parte de uma geração que estudou para batalhar por uma nova democracia.

Os novos grupos propõem mudanças, desenvolvem mecanismos para recuperar a ética, incentivam o surgimento de novos nomes para ocupar cargos públicos e pressionam o Congresso para aprovar as transformações que desejam colocar em prática. “O que há de novo nisso tudo é que o desejo por uma maior participação nas tomadas de decisão vem acompanhado por novas ferramentas que nos permitem ultrapassar as velhas barreiras da ação coletiva”, afirma Ricardo Borges Martins, cientista social, articulador de diversos movimentos e coordenador do grupo Reforma Que Queremos. “A revolução digital é um marco de repercussões profundas para a democracia”, diz. (...)

Nos últimos anos, os escândalos de corrupção desencadearam uma forte crise de representatividade que abalou políticos e partidos. Segundo uma pesquisa que acaba de ser divulgada pela Transparência Internacional, 78% dos brasileiros acreditam que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses. “Há um desencantamento com a política institucional e uma percepção de que todos os partidos agem de forma ilícita”, afirma Esther Solano, doutora em Ciências Sociais e pesquisadora da Unifesp. Mudar esse quadro exige novas formas de atuação, capazes de vencer a inércia e o ceticismo que abala parte da sociedade. Um levantamento do Instituto Update mapeou 700 iniciativas que reduzem a distância entre a sociedade e o poder público em toda a América Latina. O grande diferencial desses novos grupos é que eles se estruturam sem as inclinações político-partidárias de antes. Preocupados em transformar temas complexos em assuntos palatáveis, se empenham em facilitar o acesso da população às instâncias políticas. “Eles desejam reconstruir a cultura política de uma forma inovadora e têm a missão pedagógica de mostrar que o cidadão é parte desse processo”, diz Esther. Ao mesmo tempo em que nunca houve tantos meios de cobrar transparência da classe política, a dúvida sobre “quem nos representa” é cada vez mais evidente. “Entre o prometido e o executado há um trajeto de quatro anos e uma falta de capacidade para monitorar as ações dos governantes”, afirma Wagner de Melo Romão, cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Participação, Movimentos Sociais e Ação Coletiva da Unicamp. “Existe uma clara tendência de que o Estado deve se abrir”, diz. (...)

Modificar a cultura política de forma suprapartidária e ainda mais participativa é a ambição desses novos militantes, que enxergam a tecnologia como aliada para exercer a cidadania. “Esses movimentos ganham força em uma sociedade cada vez mais conectada, com dinâmicas menos dependentes de estruturas tradicionais de poder e com uma demanda universal por abertura e transparência”, diz Martins. São coletivos com menos coesão ideológica e mais pragmatismo e autonomia. Em julho, um grupo de amigos de diferentes vertentes ideológicas lançou um manifesto na internet convocando uma nova geração para renovar a política. “Percebemos que existe uma demanda reprimida na população, sobretudo, nos jovens”, afirma José Frederico Lyra Netto, 33 anos, consultor, engenheiro e co-fundador do movimento Acredito. (...).

Ainda que a tecnologia seja o grande diferencial desses novos coletivos para ampliar o alcance e as formas de exercer a cidadania, nada substitui a troca de ideias em campo. (...)

Agora, esses movimentos reúnem todos os esforços para tornar o debate mais qualificado em 2018, mas, ainda assim, as dificuldades a serem enfrentadas não são poucas. “Será um período interessante para verificar o posicionamento de cada um deles em um ambiente extremamente polarizado”, diz Romão, da Unicamp. “O grande desafio, porém, será ir além do temporário e construir uma atuação contínua.” Na prática, segundo o especialista, mudanças políticas requerem tempo para se consolidar. Além disso, esses coletivos terão de enfrentar representantes já bem instalados em suas bases de eleitores e grupos políticos com recursos econômicos – o que lhes impõe o desafio de ultrapassar a efemeridade. No que depender dos novos movimentos, disposição e planejamento não vão faltar. “Precisamos, com urgência, superar a onda de intolerância que vem se intensificando no País desde 2014”, diz Martins. “E o que os movimentos têm mostrado é que problemas da democracia só serão resolvidos com mais democracia. A solução para a política é mais política, e não o contrário.”

(PEREZ, Fabíola. Um novo jeito de fazer política. Isto é. Edição Nº 2497 de 12.10.2017)

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Exercícios Complementares

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60. (FCM PB/2018) Nos fragmentos: “Preocupados em transformar temas complexos em assuntos mais palatáveis [...]” “[...] formas de atuação, capazes de vencer a inércia e o ceticismo que abala parte da sociedade [...]”, as palavras destacadas podem ser substituídas respectivamente, sem prejuízo do sentido do trecho em que se encontram inseridas, por a) inaceitáveis, incredulidade. b) agradáveis, descrença. c) intoleráveis, aguçada capacidade crítica. d) aprazíveis ao paladar, rejeição às novas ideias. e) atraentes, crença excessiva.

Gabarito 01. D 02. A expressão “agregar valor” pode ser entendida no sentido mais material e quantitativo, de acumulação de

sabres, como no jargão mercadológico. A expressão “cultivo de valores”, por sua vez, nos remete a um sentido mais qualitativo e menos pragmático dos saberes adquiridos, que vai além do mero acúmulo e requer um pensamento crítico e livre.

03. Não. Na primeira ocorrência, a palavra “cenários” refere-se a simulações de situações climáticas, por

exemplo, de seca prolongada ou de excesso de chuva. Na segunda ocorrência, a palavra “cenários” tem sentido mais genérico que a anterior, referindo-se à capacidade de os supercomputadores criarem situações simuladas para estudos científicos das mais variadas áreas do conhecimento.

04. 25 05. B 06. A 07. A 08. C 09. C 10. D 11. B 12. A 13. B 14. B 15. A 16. E 17. A 18. C 19. B 20. E 21. B 22. E 23. O verbo “ter” assume significados diferentes em cada uma das ocorrências. Em “tem a cerca”, assume o

sentido de “haver, existir”; e em “tem que viver”, “é preciso, é necessário”. 24. A 25. C 26. C 27. B 28. A 29. D 30. E 31. E 32. D 33. D 34. A 35. 03 36. E 37. A 38. D 39. A 40. B 41. A 42. E 43. B 44. C 45. C 46. D 47. A 48. A 49. A 50. D 51. C 52. E 53. A 54. A 55. B 56. A 57. C 58. B 59. B 60. B