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    TECNOLOGIAS NA WEB 2.0: O EMPODERAMENTO NA

    EDUCAO ABERTA

    Lucila Maria Costi Santarosa, Debora Conforto, Fernanda Chagas Schneider

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

    [email protected], [email protected]; [email protected]

    Resumo: Esse artigo problematiza a utilizao de recursos educacionais abertos, na perspectiva da web 2.0, como tecnologias impulsionadoras de movimentos educativos formais e no formais. Por meio de experincias na formao de educadores em cursos de ps-graduao, discutimos o conceito de empoderamento e os princpios que estruturam a Educao Aberta, para referendar a importncia de aproximar sujeitos em processo de formao de sistemas Web abertos instituindo e ampliando os tempos-espaos da aprendizagem no formal, efetivos movimentos que promovem a equidade sociocultural, poltica e econmica.

    Palavras-chaves: Tecnologias Digitais, Web 2.0, Empoderamento - Educao Aberta - Recursos Educacionais Abertos

    Abstract: This article proposes the use of open educational resources, on the perspective of Web 2.0, as technologies that propel of formal and non-formal educational movements. Through the experiences related to the teacher formation in post-graduation courses, we discuss the concept of empowerment and the principals that structure Open Education. To emphasize the importance of allowing the individuals to get closer during the Open Web System formation process, we want to establish and expand the notions of time/space of formal and non-formal learning, characterizing them as effective movements to promote socio-cultural, political and economic equity.

    Key-Words: digital technologies, Web 2.0, Empower - Open Education - Open Education resources

    1. WEB 2.0: partilha, cooperao e recursos de empoderamento

    O cenrio sociocultural, em especial o educacional, vem sendo

    redesenhado por meio de uma nova configurao tecnolgica, instituindo

    modelos de interao projetados pela ruptura com a recepo passiva da

    informao. A evoluo da prpria tecnologia computacional ilustra esse

    processo, dos mainframes para os dispositivos mveis, explicita-se a

    minituarizao e a transparncia para a tecnologia, ressignificando o conceito

    de tempo e de espao, anteriormente reconfigurados com a emergncia das

    redes digitais de comunicao e de informao.

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    A primeira gerao, a Web 1.0, a grande biblioteca digital, permitiu o

    acesso a uma grande quantidade de contedo, porm colocou os usurios

    como meros expectadores, sem a possibilidade de modificar a informao

    disponibilizada. Espaos de participao e colaborao emergiram na Web

    com a implementao de servidores streaming de udio e vdeo, forjando uma

    nova gerao da internet, nomeada de Web 2.0.

    O perfil do usurio da Web foi alterado com a conquista de novos

    instrumentos para gerar conhecimento, criar e interagir em comunidades

    digitais. Inaugura-se a Era do Usurio, a da Gerao Interativa, produzida sob

    o conceito da inteligncia coletiva e explicitada pelas mltiplas possibilidades

    de partilha e cooperao. Os atuais sistemas web projetam a personalizao

    da navegao na Web, com programas que percebem especificidades e

    preferncias do usurio, otimizando a capacidade de organizar e analisar

    informao (Figura 1).

    Figura 1. A evoluo da Web

    As inmeras possibilidades de acesso e de produo de informao e de

    conhecimento institudas no rastro de Web 2.0, possibilitaram a construo de

    novas prticas de ensino e aprendizagem sob um novo paradigma educacional,

    o da Educao Aberta. O engessado modelo educativo tradicional tem

    experienciado significativas fissuras com a insero das primeiras prticas de

    Educao a Distncia. Entretanto, o avano das redes de alta velocidade, a

    fluidez da computao nas nuvens e a mobilidade dos dispositivos mveis tm

    fortalecido prticas que no necessitam estar vinculadas s tradicionais

    plataformas digitais de aprendizagem.

    Espaos no formais de aprendizagem tm sido ampliados, valendo-se

    dos repositrios de udio, vdeo, apresentaes e textos, colocando essa

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    possibilidade nas mos at mesmo de usurios poucos experientes. Explicita-

    se com isso, um processo de empoderamento do usurio. Por meio da

    facilidade e popularizao do acesso aos recursos de informao e

    comunicao da internet, as tecnologias digitais vm exponencialmente

    ampliando as condies e possibilidades da conscientizao e participao em

    diferentes dimenses da vida social.

    Perskind e Zimmerman (1995) definem o empoderamento como um

    construto que liga foras e competncias individuais, sistemas de ajuda e

    comportamentos proativos em relao poltica e as mudanas sociais. Para

    Horochovski e Meirelle (2007) empoderamento refere-se capacidade dos

    indivduos e grupos poderem inferir e propor aes alternativas em mltiplas

    esferas. Para esses pesquisadores, esse conceito aproxima-se da noo de

    autonomia, uma vez que aponta para o poder dado aos indivduos para

    interferir em temas que afetam a vida social, como tambm da perspectiva

    emancipatria, pois, empoderar o processo pelo qual indivduos,

    comunidades e organizaes obteriam recursos que lhe permitam ter voz,

    visibilidade, influncia, capacidade de ao e de tomada de deciso.

    Empoderamento, conceito presente nas agendas empresariais, foi

    trazido para o cenrio educacional por Paulo Freire, colocada em discusso

    como uma possibilidade de transformao humana. Os recursos da Web 2.0,

    em especial os sistemas digitais, ao disponibilizarem instrumentos de

    cooperao e de participao, tm projetado efetivas prticas de

    empoderamento, instituindo tempos-espaos privilegiados de conscincia de

    direitos sociais. Essas aes no formais de aprendizagem podem

    efetivamente superar a condio de excluso sociocultural de parcelas menos

    favorecidas da populao ou em condio vulnerabilidade social.

    O acesso aos instrumentos que permitem impulsionar prticas de

    empoderamento no ocorrem de forma automtica, em particular para os

    sujeitos que se encontram em desvantagens sociocultural e econmica. Nesse

    sentido, sistemas externos aos indivduos devem criar estratgias para que as

    prticas de apropriao de recursos de empoderamento se efetivem. Parcelas

    da populao brasileira, em funo de um restrito capital cultural, tm sido

    impossibilitadas de usufruir dos direitos de cidadania. Nesse sentido,

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    reafirmamos essa importante face dos processos de empoderamento, em sua

    relao direta com aes de equidade sociocultural, poltica e econmica.

    Ao trazermos para discusso do conceito de empoderamento, buscamos

    ampliar as possibilidades de aes educativas estruturadas na modalidade a

    distncia, para que efetivamente extrapolem os limites impostos pelos

    dispositivos tecnolgicos. A evoluo da modalidade da Educao a Distncia

    revela sua relao direta com diferentes suportes correio, rdio, televiso,

    material impresso, softwares, plataformas digitais de aprendizagem - recursos

    de mediao que configuraram processos distintos para a relao aluno-

    professor: posicionam o aluno como mero receptor de informao; ou

    redefinem o perfil do aluno, estimulando o desenvolvimento de habilidade de

    pesquisa, de autoformao, de cooresponsabilidade pela criao e qualificao

    de aes socioculturais. Esse deslocamento central para que a modalidade

    da Educao a Distncia se institua na perspectiva de uma Educao Aberta,

    em especial, de recursos educacionais abertos, tecnologias livres, com

    capacidade de personalizao e com possibilidade de distribuio sem

    restries.

    2. EDUCAO ABERTA: conceitos e princpios estruturantes

    O termo Educao Aberta no recente, mas sim uma discusso que

    remonta a poca de Scrates. Entretanto, quando a fora do modelo tradicional

    de formao humana que a Escola Fbrica projetou comeou a ser

    questionada, a partir da dcada de 70, temos nos Estados Unidos e na

    Inglaterra, uma maior visibilidade e entendimento de uma configurao de

    escolarizao nessa perspectiva.

    A Educao Aberta emerge no conjunto dos movimentos que

    questionavam a lgica disciplinar do processo educacional, particularmente, na

    autoridade do professor como detentor do conhecimento e no cerceamento do

    saber por uma rgida estrutura curricular. Inspirados em Santos (2012, p.72)

    apontamos para um conjunto de princpios que estruturam a Educao Aberta:

    (1) a liberdade de escolha do aprendiz para estabelecer o tempo e o espao

    para o aprender; (2) o respeito ao ritmo e ao estilo de aprendizagem dos

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    estudantes; (3) a necessidade de desenvolver a autoinstruo; (4) a eliminao

    de requisitos prvios para acesso aos espaos educativos; (5) a possibilidade

    de acesso a alunos com deficincia ou em desvantagem social; (6) a

    disponibilizao de recursos educacionais abertos, livres e acessveis.

    No h como no associar os princpios da Educao Aberta com os

    que organizam a Educao a Distncia (EAD). Mesmo valendo-se de recursos

    disponveis nas plataformas digitais de Educao a Distncia, essa modalidade

    de ensino se estruturou no Brasil replicando a lgica de educao presencial.

    Os elementos de uma sala de aula tradicional se fazem presentes na

    configurao da EAD. A relao de poder hierarquizada do professor foi

    ampliada pela presena do tutor e potencializada pelas ferramentas de

    controle: do nmero de acessos e monitoramento de postagens e interaes.

    Os cursos, mesmo estruturados em mdulos, ainda esto amarrados a uma

    dinmica curricular. Embora muitas das experincias em EAD coloquem em

    destaque a autonomia do aluno, ainda o professor quem determina o

    contedo a ser trabalhado, tarefas e ferramentas a serem utilizadas.

    A autonomia e a flexibilidade do tempo-espao educacional seriam os

    principais definidores para o sucesso da EAD. Popularizada erroneamente

    como uma modalidade de ensino de fcil execuo, a EAD vem se mostrando

    um desafio a quem se inscreve em cursos on-line com o objetivo de realizar

    formaes com pouca dedicao. As dificuldades desse desafio so reveladas

    ao exigir do aluno virtual tanto as caractersticas habituais do estudante

    tradicional, como tambm a capacidade de gerenciamento de tempo e de auto-

    regulao. A imperiosa capacidade de leitura, escrita e de interpretao exigida

    na modalidade EAD vem sendo fortemente apontada como um dos aspectos

    que contribuem para o processo de evaso dos estudantes.

    Entretanto, o crescimento do nmero de matrculas na modalidade EAD,

    no pode ser desconsiderado com uma efetiva resposta ao histrico desafio

    brasileiro quanto ao limitado acesso educao. Programas de distribuio de

    renda, como o Bolsa Famlia1, colocam em evidncia o quanto pode ser

    negativo o valor dado educao para as parcelas mais pobres da populao

    1 Programa de transferncia direta de renda que beneficia famlias em situao de pobreza e

    de extrema pobreza no Brasil.

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    brasileira. Soma-se a isso, um modelo de educao vigente no pas - universal

    e compulsria que tem afetado a sua qualidade. Esse contexto social,

    econmico e poltico adverso e desfavorvel, indiscutivelmente afeta os

    programas de formao na modalidade EAD, fazendo com que a ampliao de

    acesso no necessariamente configure em uma maior qualidade dos

    programas de formao humana.

    A Educao Aberta emerge como uma possibilidade de minimizar as

    dificuldades de acesso a uma educao de qualidade. Mesmo no sendo

    determinante, a relao formao e tecnologias educacionais, o conceito de

    Educao Aberta tem, nos contemporneos sistemas da Web 2.0, uma real

    possibilidade de forjar novas configuraes de ensino e de aprendizagem

    que reconheam a diversidade de contextos socioculturais brasileiros

    capazes de provar aes de aprendizagem ao longo da vida.

    A Educao Aberta no prega uma independncia das instituies

    formais - escolas e universidades - pois o incremento dessa modalidade de

    educao, como observa Amiel (2012, p.19), est na sinergia entre o ensino

    presencial e o a distncia. A instituio de processos efetivos de Educao

    Aberta encontra no ensino presencial, especialmente na Educao Bsica,

    etapa sustentada pelos princpios de universalidade e compulsoriedade, a

    possibilidade de aquisio de competncias bsicas para a contempornea

    sociedade da informao descritas por Assumann (1998) no mbito da lecto-

    escritura (saber ler e escrever), no sociocultural (preparar-se para viver em

    sociedade) e no tecnolgico (saber operar com mquinas complexas). A

    modalidade a distncia, por meio da discutvel ampliao das possibilidades de

    acesso a espaos de formao, opera para o disciplinamento do aluno,

    preparando-o para a autoinstruo.

    desse embricamento entre modalidades de educao tradicionais e

    emergentes que o conceito da Educao Aberta conquista sua maior fora de

    realizao. no interstcio do ensino presencial e a distncia que os sistemas

    Web 2.0 revelam sua importncia, no para suplantar um ou outro modelo de

    educao, mas pela capacidade de oportunizar tempos e espaos de

    aprendizagem formal e no formal, para que possa vir ao encontro da

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    diversidade sociocultural brasileira, como tambm saciar as especificidades e

    necessidades de estudantes e educadores.

    A proximidade e afinidade de princpios entre os sistemas Web 2.0 e a

    Educao Aberta - partilha, cooperao e recursos de empoderamento - incita

    prticas marcadas pela interatividade e o colaborao, potencializando

    adensamento da Cultura da Participao. A cooperao e a transparncia que

    sustentam as tecnologias da Web 2.0 quando inseridas no ensino presencial e

    a distncia, podem romper com a ubiquidade do modelo da Escola do

    Hardware para instituir tempos e espaos de aprendizagem desejados e

    conduzidos pelos indivduos por e para suas comunidades. A real possibilidade

    de empoderamento social dada pelas tecnologias digitais pode levar a

    equidade de acesso a uma educao de qualidade para uma parcela mais

    ampla da sociedade brasileira.

    A Educao Aberta alicera-se, portanto, em uma metodologia

    educacional no mais cristalizada pelos limites impostos pelo desenho

    organizacional da escola tradicional/fbrica. A efetiva possibilidade dos

    recursos educacionais em operar potencialmente na ao de estudantes e

    educadores passa a ser o seu maior diferencial, pois ao colocar nas mos de

    seus principais autores, tecnologias para criar, moldar e desenvolver

    conhecimento de forma conjunta, em paralelo institui um conjunto de novos

    saberes e competncias para promoo de tempos/espaos diversificados de

    aprendizagem formal e no-fomal.

    Modalidades de educao apoiadas em recursos educativos abertos

    ratificam a cultura da participao, buscando na conectividade, na

    interatividade e na cooperao dos sistemas Web 2.0 efetivos instrumentos

    para concretizar trs estratgias desenhadas na Cidade do Cabo2, em 2007,

    para ampliar o alcance e os reflexos da Educao Aberta, em especial dos

    recursos educacionais abertos: (1) Educadores e estudantes: encorajados a

    criar, utilizar, adaptar e melhorar dos recursos educacionais abertos; promover

    prticas educativas colaborativas para a descoberta e a criao de

    conhecimento. (2) Recursos Educacionais Abertos: encorajar educadores,

    2 Declarao de Cidade do Cabo para Educao Aberta - Disponvel em: . Acesso: Junho de 2013.

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    autores, editores e instituies para disponibilizao e socializao dos

    recursos educacionais, para que sejam livremente compartilhados para o uso,

    reviso, traduo, melhoria e compartilhamento. Por isso, devem ser

    publicados em formatos que facilitem tanto a utilizao e edio, e adaptveis a

    diferentes plataformas tecnolgicas e em respeito s especificidades de

    pessoas com deficincia e sem acesso aos benefcios das redes digitais. (3)

    Poltica Publica de Educao Aberta: recursos educacionais financiados pelo

    poder pblico devem ser abertos, ofertando-os em repositrios que facilitem

    sua divulgao e circulao.

    A possibilidade de concretizao das estratgias anteriormente

    elencadas movem as aes das autoras quando em atuao em prticas de

    docentes no mbito presencial e a distncia, propondo aes que ao consorciar

    recursos educacionais abertos qualificam o processo de aprendizagem formal,

    mas especialmente, excitam movimentos de aprendizagem no-formal.

    Historicamente, a educao no formal tem sido voltada para aqueles

    que ficam a margem dos processos educativos, por situaes de

    vulnerabilidade ou pobreza e, por isso, relacionados aos movimentos

    socioculturais vinculados em grande parte a programas assistencialistas. No

    entanto, considerando os adventos tecnolgicos, percebemos uma mudana

    do pblico-alvo que recorre a tais recursos. Da necessidade de aprender esse

    ou aquele saber, sujeitos que antes se inscreveriam em cursos de capacitao,

    presenciais e formais, hoje optam por buscar na web, especialmente em vdeos

    e repositrios, informaes sobre uma temtica desejada.

    Desta forma, a via da educao institucionalizada deixou de ser a nica

    possibilidade para aqueles que desejavam construir conhecimentos na busca

    de projeo de carreiras bem sucedidas. Hoje podemos perceber que

    subjetivados pelo exemplo de grandes personalidades que no recorreram

    educao formal em seu processo de capacitao profissional e que mesmo

    assim ocupam lugares de destaque na sociedade, fez crescente o nmero de

    sujeitos que questionam a validade de diplomas, uma vez que somente sua

    conquista no lhes garante acesso e permanecia no mercado de trabalho.

    Assistirmos a ascenso de inmeros exemplos internacionais, como,

    Mark Zuckerberg, Steve Jobs, Bill Gates, Michael Dell, todos sem concluir uma

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    formao acadmica clssica, criando uma forte vinculao com muitos jovens

    do sculo XXI, desafiando-os a buscar processos de aprendizagem no

    formais.

    As possibilidades de compartilhamento e de cooperao disponibilizadas

    pelos Sistemas Web 2.0 comeam a contabilizar prticas de educao aberta

    e, na medida em que tais tecnologias passam a exploradas e apropriadas por

    um nmero cada vez maior de usurios, passamos a vivenciar uma expanso

    exponencial de tempos e espaos de aprendizagem no formal. O papel das

    instituies de ensino formais foi central para impulsionar esse processo, uma

    vez que para garantir a fora inicial de propagao um conjunto inicial de

    usurios teve que conhecer e explorar as possibilidades de tais recursos.

    3. SISTEMAS WEB 2.0: tecnologias para o empoderamento

    A Web 2.0 vem revelando um novo paradigma para a modelagem de

    interfaces para as tecnologias digitais de informao e de comunicao, um

    processo que mais do que aperfeioar a usabilidade de interfaces para Web,

    objetiva o desenvolvimento de uma Arquitetura de Participao, ou seja,

    sistemas computacionais que incorporam recursos de interconexo e

    compartilhamento de tecnologias e de saberes. Para que as possibilidades que

    essa mudana de paradigma projetam para a Web sejam efetivamente

    concretizadas, um princpio deve ser assumido em todo o seu potencial - as

    funcionalidades da Web tornar-se-o melhores quanto maior for o nmero

    de pessoas que passarem a utilizar seus recursos e benefcios (O'Reilly,

    2005). A densidade que a rede de interconexo e de compartilhamento deve

    conquistar na configurao da Web 2.0 somente ser possvel quando a

    positividade de seus recursos se configurarem como possibilidade para um

    nmero cada vez maior de participantes.

    Para ilustrar a possibilidades que os Sistemas Web 2.0 disponibilizam ao

    apoiar processos de aprendizagem formal e no formal, colocamos em

    destaque duas ferramentas, ambas projetos de responsabilidade da Google,

    caracterizadas por sua facilidade de acesso e de interao. Ao problematizar

    essas tecnologias buscamos afirmar o potencial desses recursos no processo

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    de empoderamento de estudantes e alunos para a criao de materiais

    educacionais de autoria individual e coletiva, para a reconfigurao e abertura

    dos programas de ensino, pela efetiva possibilidade de compartilhamento de

    saberes tericos e metodolgicos para diferentes reas de conhecimento

    historicamente construdo pela humanidade.

    3.1 YouTube repositrio de vdeo na trilha da Educao Aberta

    Criado em 2005, o servio de carregamento e compartilhamento de

    vdeos, foi inaugurado quando seu co-fundador, Jawed Karim, postou seu

    primeiro vdeo, em meados do ms de abril daquele ano. Rapidamente

    adquirida pela Google, a ferramenta cresceu muito nesses 8 anos e hoje, esse

    mesmo vdeo, de contedo irrelevante, contabiliza mais de 11 milhes de

    visualizaes, dado que pode servir como termmetro para o sucesso

    inquestionvel do servio.

    Baseado na simples postagem de vdeos digitais e na subsequente

    disseminao de links para acesso, o youtube serve como repositrio de

    diversos filmes que vo desde o entretenimento at contedos educativos.

    Recentemente, a pesquisa "Brazil Digital Future in Focus", coordenada

    pela empresa de anlises ComScore, apontou que no pas, as visualizaes de

    vdeos na web registraram um crescimento de 18%, sendo a plataforma

    YouTube a lder de audincia. Contribuindo com essa anlise, a empresa WSJ

    estima que o brasileiro gasta, em mdia, 140 minutos mensais acessando esse

    tipo de contedo, fazendo com que os vdeos on-line sejam parte importante do

    cenrio virtual brasileiro.

    Especificamente no contexto educacional, o servio vem

    disponibilizando um suporte para que professores e alunos abasteam e sejam

    abastecidos de contedos vinculados s diferentes temticas de interesse. A

    possibilidade de acessar vdeos j produzidos ou de hospedar suas prprias

    edies contribui para que a educao se valha desse ambiente como uma

    alternativa didtica.

    Neste sentido, podemos destacar o uso da ferramenta feito por Salman

    Khan, fundador da internacionalmente reconhecida Khan Academy, que com o

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    intuito de fornecer educao de alta qualidade para qualquer um, em qualquer

    lugar, produziu e compartilhou mais de 3.574 vdeos atravs de seu canal no

    YouTube, o qual j foi acessado por mais de 279.640.113 visualizadores. A

    experincia de sucesso na Web vem despertando o interesse em observar

    como tal metodologia funciona na escola e com o intuito de melhorar o

    desempenho dos alunos em cincias exatas, 6.000 alunos esto utilizando a

    ferramenta em salas de aula de escolas pblicas do Estado de So Paulo.

    Seja em canais declaradamente estruturados para fins educativos ou

    mesmo em vdeos aleatrios que so postados para o compartilhamento de

    informaes, o YouTube, por contar com um sistema de busca refinado,

    permite que o usurio possa acessar contedos sobre temas especficos. Ao

    serem vinculados ao repositrio, so nomeados e posteriormente rastreados

    por suas nomenclaturas, por meio de tags atreladas a sua hospedagem. Como

    resultados desse processo, temos a gerao de um banco de vdeos para a

    busca de uma infinidade de temas. Para a pesquisa do termo educao, por

    exemplo, atualmente cerca de 1.200.000 vdeos so apresentados como

    resultados. J para o termo tutorial, o nmero cresce para cerca de 79.100.000

    de resultados.

    Os tutoriais em vdeo so um dos movimentos mais efetivos de

    aprendizagem no formal. O grande nmero de vdeos que seguem a lgica

    passo a passo demonstra uma das utilizaes que os usurios deram para a

    ferramenta a de um repositrio de contedos instrucionais que ensinam aos

    outros como podem solucionar problemas, concluir tarefas, construir recursos e

    amplificar suas possibilidades. Os temas para tais tutoriais que respondem a

    pergunta Como fazer? compreendem as mais variadas demandas da vida

    contempornea. No entanto, so mais recorrentes aqueles voltados

    apropriao da funcionalidade de recursos tecnolgicos.

    Sobre a possibilidade de autoformao associado ao YouTube, Gustavo

    Horn, conhecido videomaker brasileiro que j contabiliza cerca de

    17.660.735 de acessos aos contedos do seu canal3, responde ao ser

    3 http://www.youtube.com/user/GuguHorn

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    perguntado por qual faculdade cursou para produzir vdeos de tamanha

    qualidade:

    No fao faculdade, jamais farei faculdade! Pelo menos no no Brasil e no to cedo. Esse um assunto um tanto polemico, pois quando digo isso, as pessoas me perguntam se no penso no meu futuro... A internet est ai para voc aprender coisas novas. Eu nunca fiz um curso, tudo o que aprendi foi baseado na vontade de aprender, vendo a internet como um grande livro em que voc pode dar play e pode dar pause. [Verso nossa]

    Alm de promover processos de autoformao, o YouTube possibilita

    que espaos virtuais na modalidade presencial e a distncia se valham desse

    recurso para organizar repositrios de vdeos. A criao de canais qualifica o

    material didtico a ser disponibilizado para seus programas de ensino e permite

    sua adequao s especificidades de pessoas com deficincia.

    Ilustram essas possibilidades, o Canal Tecacessveis (Figura 2), criado

    com repositrio das palestras vinculadas s temticas do Curso de Formao

    de Professores em Tecnologias da Informao e Comunicao Acessveis, sob

    a responsabilidade do Ministrio de Educao brasileiro, como tambm, para a

    adequao do material aos professores cursistas surdos matriculados nesse

    mesmo processo de capacitao docente. As agendas e todas as atividades do

    curso tem sua verso em Libras, disponibilizadas nesse canal, valendo-se de

    sua facilidade de transmisso (Figura 3).

    Figura 2 Canal YouTube do Curso Tecnologias Digitais Acessveis.

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    Figura 3 YouTube Verso em Libras, para estudantes surdos.

    3.2 Hangout Webconferncia para Educao Aberta

    Experincias brasileiras na realizao de encontros sncronos com vdeo

    na EAD ocorriam por meio de satlites, recurso que ainda hoje inviabilizado

    devido ao elevado custo envolvido. Em 2012, ocorreu a apresentao oficial da

    ferramenta de webconferncia da Google, Hangout, realizada com um grupo de

    estudantes de diferentes localidades e o presidente norte-americano, Barack

    Obama (Figura 4). As repercusses do encontro e das possibilidades de

    utilizao da ferramenta em diferentes contextos foram enormes, fazendo com

    que esse recurso, at aquele momento exclusivo para personalidades mais

    influentes, passasse a se constituir uma possibilidade tambm para os demais

    cidados do mundo.

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    Figura 4 Hangout com o presidente norte-americano Barack Obama.

    Um computador ou dispositivo mvel, com acesso web e uma webcam

    so os requisitos para utilizar a ferramenta de comunicao sncrona gratuita

    Hangout. O usurio com uma conta Google Plus pode organizar um encontro

    na Web para um grupo de 10 pessoas que ser transmitida pelo YouTube,

    permitindo ampliar o nmero de espectadores conectados webconferncia.

    Toda a interao do Hangout pode ser gravada para posterior

    visualizao no YouTube, com a possibilidade de compartilhamento pblico ou

    privado. Soma-se a essa facilidade a vantagem de colocar nas mos do

    usurio comum a criao de uma webconferncia.

    A ferramanta Hangout disponibiliza um conjunto de aplicativos (Figura 5)

    que otimiza o gerenciamento do encontro sncrono: abertura de um espao de

    bate-papo textual, o compartilhamento e a captura de tela, a socializao de

    vdeos postados, entre outros tantos efeitos.

    Figura 5 Aplicativo Hangout e suas ferramentas

    As possibilidades do Hangout na instituio de tempos e espaos de

    aprendizagem no formal so comprovados pelo nmero de webconferncias

    disponibilizadas e pela variedade de temticas discutidas.

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    Em contexto educacional, como estratgias para superar as limitaes

    dos encontros sncronos por meio de chat textual, o Curso de Formao de

    Professores em Tecnologias da Informao e Comunicao Acessveis, vem

    utilizando as possibilidades tcnicas do Hangout para a organizao de

    reunies virtuais entre a coordenao e equipe de formadores e tutores, uma

    resposta prtica e eficaz para resolver os problemas gerados pelo

    deslocamento fsico desses profissionais. A equipe de formadores e de tutores

    busca nos recursos da ferramenta a construo de uma interface mais

    dinmica e interativa para a resoluo das dificuldades dos professores

    cursistas.

    Figura 6 Webconferncia pelo Hangout no Curso de Formao de Professores em

    Tecnologias da Informao e Comunicao Acessveis.

    Nesse mesmo espao de formao de educadores em um pas

    continental como o Brasil, os encontros sncronos entre os participantes so

    qualificados e valorizados pelos educadores em processo de formao e, em

    especial, destaca-se a motivao para a utilizao dos recursos para alm do

    espao formal do curso:

    Adorei participar do bate-papo pelo Hangout, a conversa ficou

    mais interativa, podemos conhecer alguns colegas e estreitarmos

    o nosso vinculo. uma ferramenta fcil de usar e pode ser

    incorporada facilmente pelos demais integrantes do curso.

    [Professora cursistaA Edio 2013/1]

  • 16

    4. Consideraes finais

    Tecnologias na perspectiva da Web 2.0, tm disponibilizado recursos

    que colocam nas mos de usurios comuns um conjunto de recursos

    educacionais para impulsionar e incrementar prticas de Educao Aberta,

    uma real possibilidade para qualificao do processo educativo na modalidade

    presencial e a distncia. Os recursos computacionais abertos permitem que os

    principais atores do processo educativo estudantes e educadores -, possam

    se distanciar dos engessados currculos sistematizados pela instituies

    formais de ensino.

    Recursos educacionais abertos colocam nas mos de estudantes e de

    professores poderosos recursos para a partilha de informaes, para a

    construo coletiva e a socializao de conhecimento. Ao operarem com

    dispositivos tecnolgicos no formato de udio, vdeo e texto, valorizam estilos

    diferenciados de aprendizagem, como tambm permitem a construo de

    respostas para as especificidades da diversidade humana. Essas reais prticas

    de empoderamento no tempo-espao educacional do a seus interagentes a

    possibilidade de construo de currculos de interesse, motivao central para

    a consolidao do processo de aprendizagem.

    A possibilidade: vermos que somos reais! A possibilidade a de

    estar conversando com mais de uma pessoa ao mesmo tempo por

    imagem e udio. [Professora cursistaB Edio 2013/1]

    Desenvolvimento de trabalhos relacionados ao Dirio de Classe

    Eletrnico do Distrito Federal [Professora cursistaA Edio

    2013/1]

    Depois que a tutora do curso sugeriu o Hangout, fui pesquisar a

    ferramenta e testei no ambiente familiar com o meu marido e filha.

    [Professora cursistaB Edio 2013/1]

  • 17

    Prticas de aprendizagens no formais conquistam um maior grau de

    eficincia quando partem da cultura dos indivduos de seus participantes. O

    flexvel currculo deve ser projetado a partir dos desafios que emergem do

    cotidiano, das necessidades, dos desafios colocados pela complexidade da

    Sociedade da Informao e do Conhecimento. Os programas oficiais devem

    buscar linhas de fuga para os cristalizados currculos subordinados s

    estruturas burocratizadas das instituies e do modelo educacional vigente.

    A Cultura da Participao, impulsionada fortemente pelo incremento dos

    recursos da internet, tem nos sistemas Web 2.0 a possibilidade de fazer o

    chamamento dos autores educacionais e das coletividades para o dinamismo

    que o processo educacional necessita conquistar. Flexibilidade, mobilidade,

    conectividade, protagonismo, cooperao e autoria individual e coletiva. A

    apropriao de recursos educacionais abertos, em seus diferentes formatos, ao

    mesmo tempo em que possibilitam uma maior disponibilidade e circulao de

    materiais didticos, respondem de forma efetiva para sua qualificao.

    A uniformidade tecnolgica e o conjunto restritivo dos recursos das

    plataformas digitais utilizadas nos cursos presenciais e a distncia devem ser

    rompidas para que o potencial de empoderamento dos recursos educacionais

    abertos ampliem e conduzam essas modalidades de ensino para a perspectiva

    da Educao Aberta. As tecnologias apresentadas neste artigo ilustram uma

    das possibilidades de participao dos movimentos em prol de recursos

    educacionais abertos na medida em que permitem: (1) garantir uma maior

    dinamicidade no processo de autoria, uma vez que estimula e possibilita a

    interao com um conjunto maior de interagentes; (2) impulsionar a autoria

    individual e coletiva em diferentes mdias; (3) impulsionar a utilizao de

    diferentes formas simblicas de construo e comunicao, o que se ajusta

    variedade de estilos de aprendizagem e s especificidades sensoriais e fsicas

    dos interagentes; (4) projetar espaos de edio de materiais didticos com

    maior flexibilidade e em diferentes linguagens; (5) promover a

    interconectividade entre recursos tecnolgicos; (6) disponibilizar uma interface

    de comunicao sncrona acessvel para o exerccio da tomada de deciso em

    tempo real.

  • 18

    O escopo desse artigo reside em problematizar as possibilidades de

    recursos educacionais abertos, um exemplo que materializa o conceito de

    Paulo Freire, indito-vivel (1992), ao tornar possvel a superao do limite

    imposto pelo conhecimento tcnico-cientfico, institui novas estratgias de

    empoderamento para o campo educacional por meio de tecnologias digitais

    centradas na participao, na colaborao e na a possibilidade de

    transformao humana.

    5. Referncias:

    AMIEL, T.; HERRGINTON, J. (2012) Authentic tasks online: Two experiences. In: OLOFSSON, A. D. e LINDBERG, O. (Ed.). Informed Design of Educational Technologies in Higher Education: enhanced learning and teaching. Hershey, PA: IGI Global

    ASSMANN, H. (1998) Reencantar a educao; rumo sociedade aprendente.

    Petrpolis, RJ: Editora Vozes, FREIRE, P. (1992) Pedagogia da Esperana. Rio de Janeiro: Paz e Terra. HOROCHOVSKI, Rodrigo R; MEIRELLES, G. (2007). Problematizando o

    conceito de empoderamento. In: Seminrio Nacional Movimentos Sociais, Participao e Democracia. Florianpolis.

    PERKINS, D.D.; ZIMMERMAN, M.A. (1995)Empowerment meets narrative: listening to stories and creating settings. American Journal of Community Psicology. Oct. v. 23. n. 5.

    O'REILLY, T. (2005). What Is Web 2.0 - Design Patterns and Business Models

    for the Next Generation of Software. O'Reilly Publishing. 2005. SANTOS, A. I. (2012). Educao aberta: histrico, prticas e o contexto dos

    recursos educacionais abertos. In N. Pretto, C. Rossini, & B. Santana (Eds.), Recursos Educacionais Abertos: prticas colaborativas e polticas pblicas. Casa da Cultura Digital e Comit Gestor da Internet no Brasil,