Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

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UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE APRENDIZAGEM POR MODELAÇÃO COM SUJEITOS Rattus novergicus i Ana Cristina Costa França 1 José Ricardo dos Santos 2 Vivian Anijar Fragoso Rei 3 Resumo O objetivo do presente estudo foi verificar se ratos (Rattus novergicus) demonstravam aprendizagem por modelação. Foram realizados três experimentos, utilizando ratos condicionados a pressionar a barra como modelos para ratos ingênuos, a fim de verificar se este segundo grupo aprenderia por imitação a resposta de pressão à barra. No experimento 1, as Caixas de Condicionamento Operante (CCO) estavam distantes 30 cm uma da outra. No Experimento 2, as CCOs estavam dispostas uma na frente da outra, com as portas encostadas. No experimento 3, os sujeitos eram colocados juntos em uma mesma CCO. Não se verificou aprendizagem por modelação em nenhum dos experimentos, sugerindo que estes sujeitos não aprenderam por imitação. Outros estudos devem ser realizados, com maior número de sujeitos e com alterações procedimentais. Palavras-chave: análise do comportamento; aprendizagem; modelação; ratos. Responder à pergunta qual é o objeto de estudo da Psicologia não é tarefa fácil, devido à multiplicidade de psicologias ainda vigentes nos dias atuais. A psicologia não é uma disciplina única e bem delimitada. Na verdade, não existe uma Psicologia; poder-se-ia dizer até que existem as Psicologias. (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2002). Diferentes correntes, com diferentes definições de Psicologia, com objetos de estudo e métodos muitas vezes, não somente diferentes, mas até divergentes entre si, buscando um status de científico. De uma maneira genérica, pode-se afirmar que o objeto de estudo da Psicologia 1 Mestre em Psicologia, Professora da disciplina Psicologia Geral e Experimental, curso de Psicologia, UNAMA 2 Pedagogo e Mestre em Psicologia 3 Aluna do 2° ano do curso de Psicologia, Monitora da disciplina Psicologia Geral e Experimental, curso de Psicologia, UNAMA.

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Bandura

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UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE APRENDIZAGEM POR

MODELAÇÃO COM SUJEITOS Rattus novergicusi

Ana Cristina Costa França1

José Ricardo dos Santos2

Vivian Anijar Fragoso Rei3

Resumo

O objetivo do presente estudo foi verificar se ratos (Rattus novergicus)demonstravam aprendizagem por modelação. Foram realizados três experimentos,utilizando ratos condicionados a pressionar a barra como modelos para ratos ingênuos, afim de verificar se este segundo grupo aprenderia por imitação a resposta de pressão àbarra. No experimento 1, as Caixas de Condicionamento Operante (CCO) estavam distantes30 cm uma da outra. No Experimento 2, as CCOs estavam dispostas uma na frente da outra,com as portas encostadas. No experimento 3, os sujeitos eram colocados juntos em umamesma CCO. Não se verificou aprendizagem por modelação em nenhum dos experimentos,sugerindo que estes sujeitos não aprenderam por imitação. Outros estudos devem serrealizados, com maior número de sujeitos e com alterações procedimentais.Palavras-chave: análise do comportamento; aprendizagem; modelação; ratos.

Responder à pergunta qual é o objeto de estudo da Psicologia não é tarefa fácil,

devido à multiplicidade de psicologias ainda vigentes nos dias atuais. A psicologia não é

uma disciplina única e bem delimitada. Na verdade, não existe uma Psicologia; poder-se-ia

dizer até que existem as Psicologias. (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2002). Diferentes

correntes, com diferentes definições de Psicologia, com objetos de estudo e métodos muitas

vezes, não somente diferentes, mas até divergentes entre si, buscando um status de

científico. De uma maneira genérica, pode-se afirmar que o objeto de estudo da Psicologia

1 Mestre em Psicologia, Professora da disciplina Psicologia Geral e Experimental, curso de Psicologia,UNAMA2 Pedagogo e Mestre em Psicologia3 Aluna do 2° ano do curso de Psicologia, Monitora da disciplina Psicologia Geral e Experimental, curso dePsicologia, UNAMA.

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é o homem no aspecto de sua subjetividade, sua individualidade, ou seja, no que ele difere e

se assemelha dos demais. Especificar mais do que isto será papel de cada uma das

Psicologias.

A Análise Experimental do Comportamento (AEC) é uma dentre tantas áreas da

Psicologia. O objeto de estudo dessa abordagem é o comportamento operante (tanto de não-

humanos quanto de humanos). Como métodos, a AEC utiliza-se de observação do

comportamento e experimentação (manipulação de variáveis). Possui como base filosófica

o Behaviorismo Radical, de B. F. Skinner (1904-1990). Como objetivo final, a AEC

pretende descrever, prever e controlar o comportamento.

Comportamento operante é entendido como a interação do organismo (indivíduo)

com o ambiente no qual está inserido. É chamado de operante, no sentido de operar, de

modificar aspectos no ambiente e, principalmente de ser modificado por ele. A explicação

para o comportamento encontra-se nas relações estabelecidas entre situações ambientais

antecedentes, respostas do organismo e situações ambientais conseqüentes. A estas

relações, dá-se o nome de contingências.

Cada indivíduo possui uma forma única de se relacionar com o mundo, e isto

ocorre porque cada indivíduo estabelece relações de contingências diferenciadas no

decorrer da sua história de vida. A história de vida do indivíduo é constituída de um imenso

conjunto de contingências, ou seja, de interações com o ambiente.

Pode-se dizer que o indivíduo aprende através da sua interação com o mundo, ou

seja, interagindo com o ambiente. A análise desta interação deve levar sempre em conta (1)

a condição na qual foi emitida uma resposta, (2) a própria resposta e (3) as conseqüências

desta resposta. (SKINNER, 1980; SÉRIO, ANDERY, GIOIA e MICHELETO, 2002).

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Matos (1993) afirma que em Análise do Comportamento, o conceito básico é o de

conseqüenciação. A preocupação de um analista do comportamento deve ser com o fato de

como uma conseqüência que se segue após um comportamento pode afetá-lo de modo que

aumente ou diminua a probabilidade desse voltar a ocorrer no futuro. Assim, esta

conseqüência pode ser reforçadora ou punitiva. Será reforçadora caso aumente a

probabilidade do comportamento voltar a ocorrer em circunstâncias semelhantes. Será

punitiva caso diminua a probabilidade do comportamento voltar a ocorrer em tais

circunstâncias.

O conceito é estritamente funcional: não se pode dizer que uma conseqüência é

reforçadora ou aversiva a priori. Só se pode afirmar isto na situação em vigor, e sempre em

relação a contingência como um todo. O mesmo vale para os demais elos da contingência.

Desse modo, o comportamento do indivíduo deve ser analisado em termos funcionais, seja

no ambiente imediato, seja na sua história de interação com o ambiente.

O comportamento é definido como a própria interação organismo-ambiente, ou

seja, o comportamento não é uma simples reação ao meio, mas a própria interação com o

meio. Esta é uma visão pouco compreendida, e daí decorrem muitos mal entendidos acerca

da visão de Homem que o Behaviorismo Radical propõe.

A Análise Comportamental estuda a relação do indivíduo com o ambiente no qual

está inserido. O indivíduo aprende através do contato com o mundo, ou seja, através de sua

interação com o ambiente.

Quando se deseja ensinar um comportamento novo a um indivíduo (algo que ele

não sabe fazer), freqüentemente recorre-se ao procedimento de Modelagem. Como o termo

sugere, “molda-se” um novo comportamento: “O condicionamento operante modela o

comportamento como o escultor modela a argila...” (SKINNER, 1998, p. 101). Através de

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reforçamento diferencial de respostas sucessivas, instalam-se novas respostas ainda não

existentes no repertório comportamental de um organismo, facilitando a aprendizagem

destas respostas. É a variabilidade comportamental que permite que o comportamento seja

modelado: nunca fazemos uma coisa exatamente da mesma maneira duas vezes; sempre há

pequenas variações no modo como agimos. É através dessas pequenas variações que se

pode ir reforçando apenas as respostas mais adequadas e não reforçando as inadequadas.

Entretanto, modelar o comportamento pode ser às vezes tedioso; neste caso, pode-

se fazer uso da imitação e das regras que funcionam como dicas para o comportamento que

se deseja instalar. As regras ou instruções são passíveis de uso apenas com humanos, pois

necessitam do uso da linguagem, mas a imitação está presente em diversas espécies não

humanas, por exemplo, a fala de algumas espécies de papagaio.

O procedimento de ensinar por imitação é denominado de modelação. Na

modelação, ocorre a imitação (vicariante) do comportamento observado. A modelação é

freqüentemente mais eficiente do que a modelagem, além de oferecer menores riscos

(imagine ensinar alguém a dirigir através de modelagem e não de modelação!). Às vezes é

mais fácil ensinar uma criança a amarrar o cadarço de seu tênis, demonstrando como é feito

e deixando que ela o imite do que modelar através de reforçamento diferencial as respostas

adequadas.

Uma forma comum pela qual as pessoas adquirem comportamentos é através daobservação e imitação de outras pessoas. Uma mudança no comportamento, emdecorrência da observação é chamada de modelação, ou ainda, imitação,identificação, aprendizagem vicariante. ... (MIKULAS, 1977, p.111)Um dos modos fundamentais pelos quais novos tipos de comportamento sãoadquiridos e padrões existentes são modificados envolve modelação e processosvicários. (BANDURA, 1979, p. 69)

Bandura (1979) apresenta aprendizagem por imitação da mesma maneira como

aprendizagem por observação. Segundo o autor são sinônimos: modelação, imitação,

aprendizagem vicária, aprendizagem por observação, identificação, cópia, facilitação

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social, contágio, desempenho e papel. A aprendizagem por observação seria o aprendizado

através do qual o observador adquire novos padrões de resposta que não faziam parte de

seu repertório comportamental. Segundo Catania (1999), aprendizagem por observação ou

vicariante é a aprendizagem baseada na observação de outro comportamento.

De qualquer modo, é importante salientar que imitação (do mesmo modo que as

regras) funciona apenas como dica: o que instala, mantém e fortalece o comportamento é a

conseqüenciação.

Mostrar e dizer são maneiras de "incitar" comportamentos, de levar as pessoas ase comportarem de uma dada maneira pela primeira vez, de modo que se possareforçar seu comportamento. No entanto, não aprendemos por imitação nemporque nos dizem o que fazer. Devem ocorrer conseqüências após ocomportamento. Considere como a maioria de nós aprendeu a dirigir umautomóvel. No início, acionávamos a chave de partida quando víamos oinstrutor fazê-lo, apertávamos o pedal do freio quando ele ou ela diziam “freie”,e assim por diante. Porém nossos movimentos tinham conseqüências. Quandoligávamos a chave, o motor dava partida; quando pressionávamos o pedal dofreio, o carro andava mais devagar ou parava. (...) Eventualmente elasmodelavam um comportamento de dirigir com mais habilidade. À medida queíamos respondendo à instrução, o automóvel movimentava-se, sem que porém oestivéssemos dirigindo. Aprendemos “como dirigir”, no sentido de dirigir bem,somente quando as contingências de reforçamento mantidas pelo carroassumiram seu papel. Não aprendemos fazendo, como dizia Aristóteles;aprendemos quando o que fazemos tem conseqüências reforçadoras. Ensinar éarranjar tais conseqüências. (SKINNER, 1991, p. 135-136)

A Análise do Comportamento estuda freqüentemente o comportamento de

animais como uma estratégia de investigar (em não humanos) fenômenos que também

possam ser aplicados ao comportamento de seres humanos.

Compreender o comportamento humano é o objetivo principal da AEC.

Entretanto, por questões éticas ou metodológicas, nem sempre é possível realizar

experimentos com pessoas. Do mesmo modo como ocorre em outras áreas de

conhecimento (a farmacologia, por exemplo), freqüentemente estuda-se o comportamento

de não humanos como referência ao comportamento humano. É importante ressaltar que

nem todos os comportamentos são comuns às espécies, e que as generalizações devem ser

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feitas com devida comprovação empírica. (MATOS e TOMANARI, 2002; DINSMOOR,

1995).

Existem estudos que somente podem ser realizados com humanos. São por

exemplo, os que se relacionam à aprendizagem por regras. Entretanto, existem outros tipos

de investigação que podem ser realizados com organismos não humanos. Na disciplina

Psicologia Geral e Experimental (P.G.E.), investiga-se em laboratório o comportamento de

ratos.

Ratos são muito usados em estudos de comportamento em laboratórios por

apresentar vantagens no que se refere a controle experimental, como possibilidade de um

maior controle das variáveis ambientais, de controle genético, fácil manuseio, cuidado,

manutenção e reprodução; além da possibilidade de ter acesso à história experimental.

(MATOS e TOMANARI, 2002; LOMBARD-PLATET, WATANABE e CASSETARI,

1998).

O objetivo do presente estudo foi verificar se ratos (Rattus novergicus)

demonstravam aprendizagem por modelação. Para tal, foram utilizados ratos modelados a

pressionar a barra (através do método de aproximações sucessivas) como modelos para

ratos ingênuos, a fim de verificar se este segundo grupo aprenderia por imitação a resposta

de pressão à barra. Foram realizados três experimentos, com pequenas variações

procedimentais que serão apresentadas a seguir.

EXPERIMENTO 1

MÉTODO

Sujeitos:

Foram utilizados seis ratos albinos, machos, da espécie Rattus novergicus, da

linhagem Wistar, nascidos em cativeiro, provenientes do Museu Paraense Emilio Goeldi,

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mantidos sob privação de água de 24 horas. Os sujeitos foram divididos em dois grupos:

Experimental (GE) e Controle (GC).

O grupo experimental (GE) era constituído por quatro sujeitos: dois (S1e e S3e)

com história de treino de modelagem e manutenção da resposta de pressão à barra em CRF

(esquema de reforçamento contínuo), extinção desta resposta e posterior

recondicionamento; e dois (S2i e S4i) experimentalmente ingênuos. S1e foi modelo para

s2i e S3e foi modelo para S4i. Os sujeitos ímpares eram “modelos” e os pares eram os

“vicariantes”.

Os sujeitos S1e e S3e haviam sido treinados a pressionar a barra e

conseqüenciados com a liberação de água em uma concha (Reforçamento positivo).

Através de aproximações sucessivas, foram modelados (individualmente) a aproximar-se da

barra, tocar a barra e pressiona-la. Uma vez instalada a resposta de pressão à barra, foram

submetidos a um esquema de CRF, onde cada pressão à barra era reforçada com água. Em

uma sessão seguinte, foram submetidos ao procedimento de extinção de resposta, onde não

havia mais reforçamento planejado para a resposta de pressão à barra. Por último, foram

submetidos a uma sessão de recondicionamento, onde a relação funcional pressão à barra –

liberação de água foi restabelecida.

Os sujeitos S2i e S4i eram experimentalmente ingênuos, ou seja, não possuíam

história experimental.

O grupo controle (GC) era constituído por dois sujeitos: S5i (modelo) e S6i

(“vicariante”); ambos experimentalmente ingênuos.

Tabela 1. Relação dos sujeitos do grupo experimental (GE) e do grupo controle(GC), no experimento 1. Os sujeitos ímpares eram modelo e os pares “vicariante”. A letra

Page 8: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

“e” após o número do sujeito indica que o mesmo possuía história de treino (experiente) e aletra “i” indica que o mesmo não possuía história de treino anterior (ingênuo).

GRUPO EXPERIMENTAL (GE) GRUPO CONTROLE (GC)

Modelo “Vicariante” Modelo “Vicariante”

S1e (experiente) S2i (ingênuo) S5i (ingênuo) S6i (ingênuo)

S3e (experiente) S4i (ingênuo)

Equipamento:

Utilizaram-se duas caixas de condicionamento operante (CCO), idealizadas por B.

F. Skinner. O modelo utilizado foi desenvolvido pela FUNBEC (Fundação Brasileira para o

Desenvolvimento do Ensino da Ciência).

A CCO consiste de uma câmara de condicionamento operante, confeccionada em

acrílico transparente na parte superior e frontal, esta móvel (utilizada para a entrada e saída

do sujeito) e alumínio. O piso da câmara é confeccionado de grades metálicas paralelas e há

abaixo uma bandeja metálica destinada a reter detritos. Uma caixa de controle (manual/

automático e desligado), caixa de controle de intensidade de luz e lâmpada de 5W situada

acima da câmara experimental e um contador automático de pressões à barra.

As CCOs eram dispostas uma de frente para a outra, com uma distância de 30 cm

entre as portas.

Procedimento

Verificavam-se se as CCOs estavam funcionando corretamente, se o nível de água

da cuba era suficiente para a concha alcançá-la. Em ambas as CCOs, as chaves de comando

ficavam na posição Automático, para que todas as respostas de pressão à barra fossem

imediatamente reforçadas.

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Inicialmente, colocava-se um sujeito modelo em uma CCO e um sujeito

“vicariante” na CCO que se encontrava a 30 cm de distância. Registrava-se a freqüência de

pressões à barra por minuto, de cada sujeito, durante 30 minutos.

Retirava-se o sujeito modelo da CCO e transferia-se o sujeito “vicariante” para

esta. Registrava-se a freqüência de pressões à barra por minuto, do sujeito “vicariante”,

durante 15 minutos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se que no Experimento 1, os sujeitos “vicariantes” do GE não

demonstraram aprendizagem por modelação.

Como pode ser visualizado na Figura 1, S1e (o modelo) apresentou um total de

125 respostas de pressão à barra em 30 minutos. Esse resultado condiz com sua situação,

uma vez que havia sido modelado a pressionar a barra através de aproximações sucessivas.

O “vicariante” correspondente, S2i, não pressionou a barra nos 30 minutos em que estava

na CCO distante 30 cm. Quando transferido para a CCO que estava S1e, também não

apresentou respostas de pressão à barra em 15 minutos. Considerou-se que qualquer

pressão à barra que ocorresse após este tempo, já não poderia mais ser considerada como

imitação, o sujeito foi retirado da CCO.

020406080

100120140

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia A

cum

ulad

a (P

B)

S1eS2iS2i'

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Figura 1. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S1e (modelo); S2i(“vicariante”) e S2i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 1,Grupo Experimental.

Resultados semelhantes foram apresentados com a dupla S3e – S4i. Como pode

ser visualizado na Figura 2, S3e (o modelo) pressionou a barra 135 vezes em 30 minutos. Já

S4i (o “vicariante”) pressionou a barra uma vez no 12° minuto. Essa pressão foi

considerada acidental (sua topografia foi com as patas traseiras, subindo na barra e o sujeito

não bebeu a água liberada após a pressão). Quando transferido para a CCO que estava S3e,

não apresentou respostas de pressão à barra em 15 minutos. Os resultados encontram-se

demonstrados na Figura 2.

020406080

100120140160

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia A

cum

ulad

a (P

B) S3e

S4i

S4i'

Figura 2. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S3e (modelo); S4i(“vicariante”) e S4i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 1,Grupo Experimental.

Os sujeitos do GC também não demonstraram aprendizagem por imitação. Os

resultados encontram-se demonstrados na Figura 3. O sujeito S5i apresentou 89 pressões à

barra. Vale lembrar que esse sujeito nunca havia sido submetido àquela situação

experimental, e que “aprendeu por acaso”, uma vez que não foi modelado. No 2° minuto,

pressionou a barra ocasionalmente e bebeu a água em seguida. A partir de então, passou a

pressionar a barra nos minutos seguintes. Já o sujeito S6i pressionou a barra uma vez no

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15° minuto, mas não voltou a faze-lo nos minutos subseqüentes. Quando colocado na outra

CCO, S6i não pressionou a barra.

0

20

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1001 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Tempo (min.)

Freq

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ia A

cum

ulad

a (P

B)

S5i

S6i

S6i'

Figura 3. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S5i (modelo); S6i(“vicariante”) e S6i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 1,Grupo Controle.

Os resultados obtidos sugeriram que o procedimento não foi eficaz na instalação

de aprendizagem vicariante. No GE, os sujeitos “vicariantes” (S2i e S4i) não apresentaram

a resposta de pressão à barra nem na primeira situação, onde as CCOs estavam distantes 30

cm, nem quando foram transferidos para a CCO onde se encontrava o modelo. No GC, o

sujeito S5i aprendeu acidentalmente (sem modelagem ou modelação) e S6i não aprendeu

por imitação.

A partir desses resultados, planejou-se um segundo experimento com o objetivo

de verificar se a distância de 30 cm havia sido inadequada. No Experimento 2, as CCOs

passaram a ser colocadas uma na frente da outra, com as portas de acrílico encostadas uma

na outra.

EXPERIMENTO 2

MÉTODO

Sujeitos:

Page 12: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

Foram utilizados seis ratos albinos, machos, da espécie Rattus novergicus, da

linhagem Wistar, nas mesmas condições dos utilizados no Experimento 1. Os sujeitos

foram divididos em dois grupos: Experimental (GE) e Controle (GC).

O grupo experimental (GE) era constituído por quatro sujeitos: dois (S7e, S9e)

com história de treino de modelagem e manutenção da resposta de pressão à barra em CRF

(esquema de reforçamento contínuo), extinção desta resposta e posterior

recondicionamento; e dois (S8i, S10i) experimentalmente ingênuos.

Os sujeitos S7e e S9e foram treinados como foi descrito no Experimento 1, para

os sujeitos S1e e S3e.

O grupo controle (GC) era constituído por dois sujeitos, experimentalmente

ingênuos (S11i; S12i).

Tanto no GE quanto no GC, os sujeitos de números ímpares eram os modelos e

os pares eram os “vicariantes”;

Tabela 2. Relação dos sujeitos do grupo experimental (GE) e do grupo controle(GC), no experimento 2. Os sujeitos ímpares eram modelo e os pares “vicariante”. A letra“e” após o número do sujeito indica que o mesmo possuía história de treino (experiente) e aletra “i” indica que o mesmo não possuía história de treino anterior (ingênuo).

GRUPO EXPERIMENTAL (GE) GRUPO CONTROLE (GC)

Modelo “Vicariante” Modelo “Vicariante”

S7e (experiente) S8i (ingênuo) S11i (ingênuo) S12i (ingênuo)

S9e (experiente) S10i (ingênuo)

Equipamento:

O mesmo equipamento descrito no Experimento 1.

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As CCOs eram dispostas uma de frente para a outra, com as portas encostadas

uma na outra.

Procedimento

Em ambas as CCOs, as chaves de comando ficavam na posição Automático, para

que todas as respostas de pressão à barra fossem imediatamente reforçadas. Colocava-se o

sujeito modelo em uma CCO e o sujeito “vicariante” na outra CCO. Juntavam-se as CCO,

de modo que a porta acrílica de uma CCO ficasse encostada na porta da outra. Registrava-

se a freqüência de pressões à barra por minuto, de cada sujeito, durante 30 minutos.

Retirava-se o sujeito modelo da CCO e transferia-se o sujeito “vicariante” para

esta. Registrava-se a freqüência de pressões à barra por minuto, do sujeito “vicariante”,

durante 15 minutos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como pode ser visualizado na Figura 4, S7e (o modelo) apresentou um total de 98

respostas de pressão à barra em 30 minutos. O “vicariante” correspondente, S8i, pressionou

a barra 05 (cinco) vezes nos 30 minutos em que estava na CCO. Quando transferido para a

CCO que estava S7e, não apresentou respostas de pressão à barra em 15 minutos. O sujeito

foi retirado da CCO, pelos motivos expostos no Experimento I. Não é possível afirmar se as

cinco pressões tenham sido por imitação ou ocasionais, mas a resposta de pressão à barra

não se estabeleceu.

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0

20

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100

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

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a (P

B) S7e

S8iS8i'

Figura 4. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S7e (modelo); S8i(“vicariante”) e S8i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 2,Grupo Experimental.

Como pode ser visualizado na Figura 5, S9e (o modelo) pressionou a barra 254

vezes em 30 minutos. Já S10i (o “vicariante”) pressionou a barra seis vezes em 30 minutos.

Não é possível afirmar se essas pressões tenham sido aprendidas por imitação ou

ocasionais, mas a resposta de pressão à barra não se estabeleceu. Quando transferido para a

CCO que estava S9e, apresentou uma resposta de pressão à barra no 13° minuto.

0

50

100

150

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300

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

cum

ulad

a (P

B) S9e

S10i

S10i'

Figura 5. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S9e (modelo); S10i(“vicariante”) e S10i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 2,Grupo Experimental.

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Os resultados referentes aos sujeitos do CG estão demonstrados na Figura 6. O

sujeito S11i apresentou 08 pressões à barra. Vale lembrar que esse sujeito era ingênuo. Já o

sujeito S12i pressionou a barra 15 vezes em 30 minutos na primeira CCO. Quando

colocado na outra CCO, S6i pressionou a barra 04 vezes em 15 minutos. É interessante

ressaltar que o “modelo” apresentou um número menor de respostas do que o “vicariante”.

0

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15

20

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

cum

ulad

a (P

B) S11i

S12i

S12i'

Figura 6. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S11i (modelo); S12i(“vicariante”) e S12i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 2,Grupo Controle.

Os resultados obtidos no Experimento 2 não são conclusivos. Apesar de sugerirem

que o procedimento não foi eficaz na instalação da resposta de pressão à barra, não é

possível afirmar que não tenha havido algum tipo de imitação. No GE, os sujeitos

“vicariantes” (S8i e S10i) pressionaram a barra (05 e 06 vezes respectivamente) quando as

CCOs em que eles se encontravam estavam encostadas nas CCOs que continham os

modelos (S7e e S9e respectivamente). Quando transferido para a CCO onde se encontrava

o modelo, S8i não pressionou a barra e S9i pressionou a barra uma vez. Não é possível

afirmar que tenha havido aprendizagem por imitação, principalmente quando se comparam

os resultados dos “vicariantes” aos resultados dos sujeitos do GC. O sujeito S11i

pressionou a barra 08 vezes e o S12i pressionou 15 vezes na primeira CCO e 04 vezes na

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segunda. Pode-se supor que S11i e S12i (ou pelo menos um deles) aprenderam

ocasionalmente, uma vez que eles não haviam sido submetidos à situação de aprendizagem

nem por modelagem nem por modelação.

A partir desses resultados, planejou-se um terceiro experimento com o objetivo de

verificar se a interação dos sujeitos na mesma caixa poderia facilitar a aprendizagem por

imitação. No Experimento 3, os sujeitos foram colocados em uma única CCO. Os dados

são relatados a seguir.

EXPERIMENTO 3

MÉTODO

Sujeitos:

Foram utilizados seis ratos albinos, machos, da espécie Rattus novergicus, da

linhagem Wistar, nas mesmas condições dos utilizados no Experimento 2. Os sujeitos

foram divididos em dois grupos: Experimental (GE) e Controle (GC).

O grupo experimental (GE) era constituído por quatro sujeitos: dois (S13e, S15e)

com história de treino de modelagem e manutenção da resposta de pressão à barra em CRF

(esquema de reforçamento contínuo), extinção desta resposta e posterior

recondicionamento; e dois (S14i, S16i) experimentalmente ingênuos.

Os sujeitos S13e e S15e foram treinados do mesmo modo que os sujeitos S1e e

S3e do Experimento 1.

O grupo controle (GC) era constituído por dois sujeitos experimentalmente

ingênuos (S17i; S18i).

Tanto no GE quanto no GC, os sujeitos de números ímpares eram os modelos e

os pares eram os “vicariantes”;

Page 17: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

Tabela 3. Relação dos sujeitos do grupo experimental (GE) e do grupo controle(GC), no experimento 3. Os sujeitos ímpares eram modelo e os pares “vicariante”. A letra“e” após o número do sujeito indica que o mesmo possuía história de treino (experiente) e aletra “i” indica que o mesmo não possuía história de treino anterior (ingênuo).

GRUPO EXPERIMENTAL (GE) GRUPO CONTROLE (GC)

Modelo “Vicariante” Modelo “Vicariante”

S13e (experiente) S14i (ingênuo) S17i (ingênuo) S18i (ingênuo)

S15e (experiente) S16i (ingênuo)

Equipamento:

Uma CCO (descrita no Experimento 1).

Procedimento

Inicialmente, os sujeitos foram colocados em gaiola viveiro por três horas. O

sujeito modelo foi marcado com violeta genciana na cabeça.

Em ambas as CCOs, as chaves de comando ficavam na posição Automático, para

que todas as respostas de pressão à barra fossem imediatamente reforçadas.

Os sujeitos eram colocados juntos na CCO. Registrava-se a freqüência de pressões

à barra por minuto, de cada sujeito, durante 15 minutos.

O sujeito modelo era retirado da CCO, enquanto que o sujeito “vicariante”

permanecia nesta. Registrava-se a freqüência de pressões à barra por minuto, do sujeito

“vicariante”, durante 15 minutos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se que no Experimento 3, os sujeitos “vicariantes” do GE não

demonstraram aprendizagem por modelação.

Page 18: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

Como pode ser visualizado na Figura 7, S13e (o modelo) apresentou um total de

75 respostas de pressão à barra em 15 minutos. O “vicariante” correspondente, S14i, não

pressionou a barra durante os 15 minutos em que permaneceram juntos na CCO. Quando

S13e foi retirado da CCO, S14i não apresentou respostas de pressão à barra em 15 minutos.

Enquanto S13e pressionava a barra, S14i ficava próximo ao bebedouro, com acesso às

gotas de água que eram liberadas pelas pressões à barra de S13e.

01020304050607080

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

cum

ulad

a (P

B)

S13eS14iS14i'

Figura 7. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S13e (modelo); S14i(“vicariante”) e S14i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 3,Grupo Experimental.

Como pode ser visualizado na Figura 8, S15e (o modelo) pressionou a barra 207

vezes em 15 minutos. Já S16i (o “vicariante”) não pressionou a barra durante os 15 minutos

em que permaneceram juntos. Enquanto S15e pressionava a barra, S16i ficava próximo ao

bebedouro, bebendo a água que era liberada. Quando S15e foi retirado da CCO, S16i

apresentou 63 respostas de pressão à barra durante 15 minutos. Esses dados sugerem que

S16i pode ter aprendido por imitação, uma vez que começou a pressionar a barra já no 3°

minuto que ficou sozinho na CCO.

Page 19: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

0

50

100

150

200

250

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

cum

ulad

a (P

B)

S15eS16iS16i'

Figura 8. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S15e (modelo); S16i(“vicariante”) e S16i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 3,Grupo Experimental.

Os resultados referentes aos sujeitos do CG estão demonstrados na Figura 9. O

sujeito S17i não pressionou a barra durante os 15 minutos em que ficaram juntos. Já o

sujeito S18i pressionou a barra 03 vezes neste mesmo período. Quando S17i foi retirado da

CCO, S6i pressionou a barra 01 vez durante os 15 minutos.

0

1

2

3

4

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Tempo (min.)

Freq

uênc

ia a

cum

ulad

a (P

B)

S17iS18iS18i'

Figura 9. Freqüência acumulada da resposta de pressão à barra de S17i (modelo); S18i(“vicariante”) e S6i’ (“vicariante” transferido para a CCO do modelo), no Experimento 3,Grupo Controle.

DISCUSSÃO GERAL

Page 20: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

Os dados obtidos nos três experimentos realizados não são conclusivos. De

qualquer modo, a maioria dos dados sugere que não tenha ocorrido aprendizagem por

modelação.

No Experimento 1, os sujeitos “vicariantes” do GE não aprenderam a pressionar a

barra. Os sujeitos “modelo” (com história de modelagem), pressionaram a barra 125 vezes

(S1e) e 135 vezes (S3e). Seus “vicariantes”, entretanto, não demonstraram aquisição desta

resposta por modelação: S2i não pressionou a barra em nenhuma das CCOs; S4i

pressionou a barra somente uma vez (na primeira CCO), mas este resultado pode ser

considerado acidental, devido à topografia da resposta .

Com relação ao GC, um dado parece interessante: S5i (o “modelo”) aprendeu

acidentalmente a pressionar a barra. Pode-se supor que esta aprendizagem foi acidental,

uma vez que o sujeito era ingênuo, não havia sido modelado a pressionar a barra, nem havia

observado um outro sujeito pressionando a barra. Já seu “vicariante”, S6i respondeu apenas

uma vez à barra na primeira CCO, não demonstrando assim, aprendizagem.

Os resultados do Experimento 1 demonstraram que os sujeitos não aprenderam

por modelação. Como esses resultados negativos poderiam ser devido a algum tipo de erro

procedimental, planejou-se o Experimento 2, com o objetivo de resolver um possível

problema que a distância entre as CCOs pudesse ter ocasionado. No Experimento 2, as

CCOs passaram a ser colocadas uma na frente da outra, com as portas de acrílico

encostadas uma na outra.

Os dados dos “vicariantes” do GE (S8i e S10i) sugerem que pode ter havido um

controle diferente do que ocorrera no Experimento 1.

Não foi possível identificar se os resultados de S8i e S10i foram ocasionais ou por

imitação, mas pode-se afirmar que a resposta de pressão à barra não foi instalada. A taxa de

Page 21: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

resposta foi baixa (S8i pressionou a barra cinco vezes na primeira CCO e nenhuma na

segunda CCO; já S10i pressionou a barra seis vezes na primeira CCO e uma na segunda).

Essa baixa taxa de resposta sugere que é possível que tenha ocorrido imitação, mas ela não

foi suficiente para estabelecer a resposta de pressionar a barra. Muito embora a liberação da

água fosse contingente à pressão à barra em todas as situações, os sujeitos “vicariantes” não

bebiam a água logo após a pressão a barra. Esse resultado parece ratificar a importância da

conseqüenciação para o estabelecimento da resposta. Skinner (1972; 1991, por exemplo)

ressalta que não aprendemos “fazendo”, por imitação ou por regras; estas podem servir

apenas como dicas. O que realmente ensina é a exposição às contingências.

Os resultados referentes aos sujeitos do CG aumentam as dúvidas sobre uma

possível aprendizagem por modelação. Um dado interessante foi o fato de que o sujeito

sorteado para “modelo” apresentou um número menor de respostas do que o sorteado para

ser “vicariante”.

Os resultados obtidos no Experimento 2 não são conclusivos. Apesar de sugerirem

que o procedimento não foi eficaz na instalação da resposta de pressão à barra, não é

possível afirmar que não tenha havido algum tipo de imitação. Uma possibilidade de

investigação seria a de realizar um número maior de sessões, expondo assim os sujeitos a

uma maior história de treino.

Um último experimento foi conduzido com o objetivo de verificar se a interação

dos sujeitos na mesma caixa poderia facilitar a aprendizagem por imitação. No

Experimento 3, os sujeitos foram colocados em uma única CCO. O sujeito modelo foi

marcado com violeta de genciana e as respostas de pressão à barra de ambos os sujeitos

foram registradas separadamente.

Page 22: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

O procedimento utilizado no Experimento 3 pode não ter facilitado a

aprendizagem por modelação. Parece que nesse caso, outro tipo de interação social surgiu:

enquanto o rato modelo (experiente), pressionava a barra, o sujeito “vicariante” (ingênuo)

permanecia próximo ao bebedouro, bebendo as gotas de água que eram liberadas pela

pressão à barra do sujeito modelo.

Nesse experimento, os resultados das duas duplas do GE foram divergentes. O

sujeito S14i não demonstrou aprendizagem por modelação (não pressionou a barra em

nenhuma das situações – juntos ou sozinho). Já os resultados de S16i sugerem algum tipo

de imitação: quando S15e foi retirado da CCO, S16i passou a pressionar a barra logo no

terceiro minuto, demonstrando aprendizagem da resposta de pressão à barra (total de 63

respostas em 15 minutos).

Os sujeitos do CG não demonstraram aprendizagem da resposta de pressão à

barra.

Os resultados dos três experimentos não são conclusivos. Novos estudos devem

ser realizados com um número maior de sujeitos, e possivelmente com algumas alterações

no procedimento, como, por exemplo, utilizando apenas um sujeito como modelo para

todos os sujeitos “vicariantes” do grupo experimental. Alguns casos de imitação parecem

ter ocorrido, no Experimento 2 e 3, mas ajustes ainda precisam ser feitos para que se possa

saber mais sobre a aprendizagem vicariante em sujeitos humanos e não humanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDURA, A. Modificação do comportamento. Rio de Janeiro: Interamericana. 1979.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologia: uma introdução aoestudo de psicologia. 13ª ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva. 2002.

CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4 ª ed. PortoAlegre: Artes Médicas Sul, 1999.

Page 23: Texto Sobre Aprendizagem Vicariante Bandura e Mikulas

DINSMOOR, J. A. Stimulus Control: part I (tutorial). Behavior Annalist, 18, 51-68. 1995

LOMBARD-PLATET, V. L. V; WATANABE, O. M.; CASSETARI, L. Psicologiaexperimental: manual teórico e prático de análise do comportamento. 2 ª ed. São Paulo:Edicon. 1998.

MATOS, M. A. M. Análise de contingências no aprender e no ensinar. In: ALENCAR,E.S. (org.). Novas contribuições aos processos de ensino e aprendizagem. 2ª ed. São Paulo:Cortez. p. 141-166. 1993.

________________; TOMANARI, G. Y. A análise do comportamento no laboratóriodidático. São Paulo: Manole. 2002.

MIKULAS, W. L. Técnicas de modificação do comportamento. São Paulo: Harper & Rowdo Brasil, 1977.

SÉRIO, T. M. A. P.; ANDERY, M. A.; GIOIA, P. S.; MICHELETO, N. Controle deestímulos e comportamento operante: uma introdução. São Paulo: Educ. 2002

SKINNER, B. F. Tecnologia do ensino. São Paulo: E.P.U. 1972.

_____________. Contingências de reforço: uma análise teórica. São Paulo: Abril Cultural.1980

_____________. Questões recentes na análise comportamental. Campinas: Papirus, 1991

_____________. Ciência e comportamento humano. 10ª ed. São Paulo: Martins Fontes.1998. i Os autores agradecem ao bioterista Paulo D. F. Nascimento, pela manutenção dos equipamentos e cuidadosdispensados aos sujeitos.