Theresa Cheung - Planeta...Nós encontraremos a paz. Nós ouviremos os anjos. Nós veremos o céu...

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Theresa Cheung

Um Anjo Falou ComigoHistórias verídicas

sobre mensagens do Além

Ana Maria Pinto da SilvaTradução

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Nós encontraremos a paz.Nós ouviremos os anjos.

Nós veremos o céu cintilando com diamantes.

Anton Tchekhov

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Introdução

Palavras de fascínio

Quanto mais calado e calmo estiver, mais conseguirá escutar.

Ram Dass

Sim, eu acredito em anjos. Sei que eles velam por mim lá do alto e falam comigo na Terra de inúmeras maneiras diferentes. Penso que todos temos tendência para rejeitar uma série de coisas incríveis que acontecem nas nossas vidas por mero acaso, reduzindo‑as a uma mera coincidência ou a algo que se encontra no lugar certo à hora certa, mas, se alguma vez experimentou sentimentos inesperados de inspiração e de amor, acredito que isso seja a voz do seu anjo‑da‑guarda a chamar por si. Também acredito que os seres celestiais são capazes de falar consigo por intermédio dos seus sonhos ou através dos espíritos de entes queridos que já partiram deste mundo. E, por vezes, podem escolher expressar‑se na beleza e no fascínio do mundo natural ou através de outras pessoas que, consciente ou inconscientemente, são guiadas por aqueles que per‑tencem ao mundo do espírito.

Nem sempre as coisas foram assim tão claras para mim. Se bem que não consiga lembrar‑me de nenhum momento em que me tenha sentido intrigada e encantada pelos anjos – isto porque fui educada numa famí‑lia de médiuns e de espiritualistas, onde falar acerca de anjos e de espí‑ritos era um lugar‑comum –, admito com toda a franqueza que houve momentos na minha vida em que questionei a sério a sua existência. Estou certa de que não estou sozinha quanto a este aspecto. Talvez não ache que tenha escutado alguma vez o Céu falar. Talvez não descarte por completo a ideia da existência de anjos, mas é possível que não ache que tenha visto ou ouvido algo de milagroso. Ou talvez tenha experimentado

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algo que atribuiu a qualquer coisa fora deste mundo no momento em que aconteceu, mas depois duvidou de si mesmo e da sua experiência algum tempo mais tarde.

Como poderá ter de facto a certeza se ouviu ou não a voz de um anjo? Este livro é uma compilação de histórias acerca de pessoas normais que têm, sem qualquer sombra de dúvida, a certeza de que um anjo falou, de forma clara e eloquente, com elas. Todos os seus relatos demonstram com uma refrescante honestidade e clareza as inúmeras maneiras dife‑rentes de o Céu se imiscuir nas nossas vidas e transformá‑las para sem‑pre, sarando feridas, melhorando ou salvando vidas e preenchendo‑as com um sentido de finalidade, paz e amor. É meu desejo sincero que ler estes relatos profundamente pessoais e sentidos abra a sua mente para a possibilidade muito real de que os anjos existem e de que talvez, mesmo sem se ter apercebido, poderá já em algum momento da sua vida ter escutado sussurros divinos. Espero que o que ler aqui o ajude a lembrar‑‑se de que há muito mais nesta vida além daquilo que jamais pensou ou sonhou existir. Espero que a sua leitura possa tranquilizá‑lo para o facto de que, no nosso mundo muitas vezes conturbado e conflituoso, os anjos enviam‑nos mensagens constantes do Céu de que muito necessitamos: de conforto, de compaixão, de benevolência e de amor eterno.

Há já muitos anos que me dedico a pesquisar e a escrever sobre anjos e sobre experiências pós‑vida relativas a pessoas de todas as idades e estra‑tos sociais, religiões e modos de vida. Durante esse tempo, cheguei não só à firme conclusão de que os seres de luz existem, como também me apercebi de que todas as pessoas, sejam elas quem forem e venham de onde vierem, podem, se abrirem o seu coração e a sua mente, encontrar os seus próprios caminhos únicos e pessoais de modo a ver e a escutar o divino. Também percebi que, muito embora os encontros celestiais possam diferir bastante em termos de pormenor e em relação aos meios que os anjos escolhem para manifestar a sua presença afectuosa, todos eles estão unidos pelo tema de auxiliadores celestiais que transmitem mensagens, muito em especial mensagens de esperança, quando toda a esperança parece estar perdida.

Numa breve retrospectiva e olhando para trás, para a minha própria vida, posso ver que este tema da «mensagem de esperança quando toda

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a esperança parece ter desaparecido» foi muitas vezes o que me sucedeu e em especial naquele Inverno frio e desolador de 1990, em que a vida me pareceu, de facto, não fazer mais sentido ser vivida.

Completamente sozinha

Houve uma altura na minha vida, há já cerca de vinte anos mais ou menos, em que me senti absoluta e completamente sozinha. Já antes me sentira só e abandonada, mas nunca a um ponto de tamanha inten‑sidade e desolação como me sentia nesse momento. Ainda conservo o meu diário desse ano e as anotações de uma data em particular, o dia 25 de Dezembro de 1990, constituem, para mim, um lembrete perma‑nente de como as coisas estavam péssimas. Fiz uma selecção de grande parte desse texto, pois escrevi resmas infindáveis sobre o assunto, mas eis aqui parte dele. Julgo que captará o essencial...

25 de Dezembro de 1990 É dia de Natal e estou sozinha no mundo. A minha mãe morreu, o meu

irmão está a viajar e não tenho família, nem um companheiro, ninguém a quem chamar meu. Estou sozinha neste «dia feliz». Toda a gente acorda excitada com presentes e gargalhadas, mas não vejo sequer uma razão para eu sair da cama. Tudo está tão silencioso. Sou capaz de me ouvir respirar. É claro que tenho amigas, mas nunca seria capaz de admitir perante elas o quão só me sinto. Nunca me passaria pela cabeça sobre-carregá-las com isso. Alguém disse uma vez que a solidão é a pior forma de pobreza. E não é que têm razão, caramba! Não sei mais o que fazer. Não estou apaixonada de todo pela minha vida. Sinto-me deveras infeliz. Às vezes, só tenho vontade que tudo isto acabe de uma vez por todas. Tenho 25 anos e deveria encontrar-me no auge das minhas faculdades, mas sinto que a minha vida já não tem qualquer valor para ninguém, nem mesmo para mim mesma. A minha existência é pior do que a morte, porque a morte parece ser um alívio para a solidão. Se houver vida após a morte, vou ficar junto da minha mãe e, se não houver mais nada, bem, pelo menos vai ser um alívio para este infortúnio de solidão.

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Não tinha planeado passar o dia de Natal sozinha. As coisas limita‑ram‑se apenas a acontecer dessa maneira. Podia ter ido visitar o meu irmão, mas não me dava bem com os amigos dele. Podia ter passado o dia com uma amiga, mas não queria sentir‑me alvo de caridade alheia – além disso, vê‑la comemorar o dia de Natal com a mãe dela teria sido catastrófico para mim, pois ainda me sentia ferida devido à perda da minha. Podia ter realizado algum trabalho de voluntariado, mas não me sentia com motivação nenhuma. Podia ter feito muitas coisas nesse dia, mas, em vez disso, preferi não fazer nada porque sabia que, onde quer que fosse ou passasse o tempo com quem passasse, continuaria a sentir‑‑me absoluta e completamente sozinha.

Estava farta de nunca me sentir compreendida na totalidade; farta porque as pessoas nunca viam o meu verdadeiro eu – nem sequer pare‑ciam fazer um esforço para ver o meu verdadeiro eu. Por vezes, parecia que o meu verdadeiro «eu» não era sequer visível para ninguém e toda a gente tinha uma opinião diferente de quem eu era. Costumava passar algum tempo com as pessoas a tentar estabelecer uma ligação com elas, mas sentia que nunca chegavam, nem de perto nem de longe, a com‑ preender‑me. Sentia‑me muito longe de tudo e de todos. O tipo de soli‑dão que estou a descrever é ainda mais solitário do que passar o tempo sozinha. Pelo menos, quando estava sozinha, podia sentir‑me eu mesma, se é que isso faz algum sentido.

E ali estava eu, a chorar lágrimas de solidão e autocomiseração no dia de Natal. Foi uma das épocas mais deploráveis da minha vida. Quando não estava a chorar lágrimas físicas, estava a chorar lágrimas de espírito. Tenho vergonha de admitir que os meus pensamentos chegaram, de facto, a rondar a morte e a conjecturar se não teria sido mais fácil para mim abandonar este mundo e deixá‑lo para trás. Parecia demasiado cruel ter nascido num mundo abarrotado de pessoas e não sentir nenhuma liga‑ção, uma ligação profunda, a nenhum ser vivo. Tinha a impressão de não poder continuar assim por muito mais tempo e, se o espírito da minha mãe me tivesse aparecido e se tivesse oferecido para me levar com ela, penso que a teria seguido de bom grado.

E foi assim que percebi ter chegado ao fundo do poço. Encontrava‑me num inferno criado por mim mesma e não era capaz de ver uma saída.

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Quando era viva, a minha mãe dizia‑me muitas vezes que o Céu é um lugar que nunca queremos abandonar e que desejamos sentir durante toda a nossa vida e, por conseguinte, pensei que o Inferno deveria ser um lugar de onde queremos sempre sair, mas nunca conseguimos. É um local mais negro, sombrio e terrível do que o vazio da morte. E para mim, há tantos anos, a solidão com que fora amaldiçoada era um lugar como esse. Era como o Inferno, sempre a querer fugir mas sem nunca encon‑trar uma saída. Pior do que tudo, o meu inferno estava dentro de mim e, para onde quer que fosse, levá‑lo‑ia sempre comigo. Sentia‑me encur‑ralada para toda a eternidade.

Implorava com todas as fibras do meu ser por uma entidade celestial que viesse salvar‑me. Não sabia como salvar‑me a mim mesma. Con‑tudo, não veio nenhum ajudante celestial. Não apareceu ninguém. Nada veio salvar‑me. Não veio ninguém condoer‑se de mim nem oferecer‑me esperança. Tudo o que parecia haver ali era eu. Estava completamente sozinha. Sentia‑me aterrada. O que não percebi na época, mas com‑ preendo agora com o discernimento e a experiência que a idade traz, é que estar sozinho na vida é uma daquelas experiências – caso sobreviva‑mos a elas – que podem transportar‑nos até ao âmago do nosso próprio ser, conhecendo‑nos melhor do que jamais nos conhecemos antes até aí.

Com o mundo sinistro e silencioso no dia de Natal, chorei muitas vezes e gastei as longas horas escrevendo com fúria no meu diário. Às vezes, sen‑tia que a minha mão não era capaz de acompanhar a velocidade dos meus pensamentos. Havia algo de compulsivo, embora calmante, em relação ao contacto da caneta com o papel. Os meus pensamentos libertavam‑se e a minha mente tornava‑se mais clara e concentrada. Mais uma vez, não percebi isso na altura, mas, no meio da minha infelicidade, estava a ser por instinto arrastada para o centro silencioso do meu ser. Acho que, pela primeira vez na minha vida de escrita de diário, comecei a ser honesta comigo mesma. Senti que já não tinha nada a ganhar em mentir ou em fingir e, por isso, comecei a anotar o tipo de coisas desesperadas que leu mais atrás. Senti que me encontrava numa espécie de demanda espiri‑tual. A minha alma andava em busca da verdade. Eram tantos os senti‑mentos que precisava de extravasar. Estava em contacto comigo mesma. Era assustador enfrentar‑«me» assim desta maneira, mas era também de

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forma estranha inebriante. Era como se anotar os meus pensamentos por escrito tivesse dado início ao processo de superá‑los.

Mais cedo ou mais tarde, a fadiga acabou por apoderar‑se de mim e mergulhei no sono. Quando acordei, reparei em páginas e mais pági‑nas repletas com a minha letra desordenada espalhadas em toda a minha cama. Cada página estava preenchida com os meus pensamentos, gritos interiores e a minha dor. Tentei ler algumas delas e, muito embora a sua maioria fosse incompreensível, havia uma palavra que parecia destacar‑se com uma certa clareza e com alguma consistência, conferindo às minhas divagações uma ilusão de ordem. Era a palavra «anjo».

Não sei porquê, mas, à semelhança de uma canção que não consegui‑mos tirar da cabeça, continuava a repetir a palavra anjo na minha mente. Então, houve algo que me fez sentar e passar os meus pensamentos para o papel. Escrevi a palavra «anjo». Tornei a escrever a palavra. Assim que comecei, não era capaz de parar. Escrevi‑a muitas vezes e, de cada vez que a escrevia, era como se algo estivesse a iluminar‑se dentro de mim. Era como se estivesse a escrevê‑la pela primeira vez. Havia uma sensação tremenda nisso, algo de eterno e de irresistível e misterioso, mas também algo leve e familiar e importante na minha vida. Era como se estivesse a recordar‑me de um segredo incrível, um segredo que havia esquecido mas que não deveria tê‑lo feito.

Deviam ser mais ou menos umas cinco horas da tarde quando, por fim, parei de escrever. Sentia‑me capaz de continuar, mas as minhas mãos não me deixavam. Também sentia uma sede incrível, por isso saí do meu quarto para ir beber água. Desajeitada devido à fome e com os olhos inchados e doridos de tanto chorar, esbarrei na estante à saída e um livro caiu no chão, atingindo‑me num pé. Baixei‑me para o apanhar e reparei que se tratava de O Diário de Anne Frank. Na realidade, nunca o tinha lido até ao fim, mas guardara‑o por ter sido o último livro que a minha mãe lera antes de morrer. Ainda tinha o marcador de livro no sítio onde ela o deixara da última vez. Estava repleto das anotações características que a minha mãe costumava fazer à margem das páginas. Ela tinha por hábito sublinhar a lápis e destacar algumas passagens de livros impor‑tantes para ela. Peguei no livro e li que Anne chamava Kitty ao seu diá‑rio. Foi um presente, que ela descreveu como sendo «possivelmente o

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mais bonito de todos», pelo seu décimo terceiro aniversário. É provável que lhe tenha chegado às mãos numa altura em que mais precisava dele.

Ao folhear o livro, os meus olhos fixaram‑se em três passagens que a minha mãe sublinhara:

«Quero escrever, mas, mais do que isso, quero salientar todos os tipos de coisas que se encontram enraizados no... meu coração... a razão para eu... iniciar um diário: o facto é que não tenho nenhum amigo verdadeiro...

«Oh, há tantas coisas a fervilhar dentro de mim quando estou dei-tada na minha cama, tendo de aturar pessoas de quem estou farta, que sempre interpretam mal... as minhas intenções. É por isso que, no final, sempre acabo por voltar ao... meu diário. É aí que começo e acabo, por-que Kitty é sempre paciente.

«Quero continuar a viver depois da... minha morte! E, por conse-guinte, estou grata a Deus por me ter dado este presente, esta possibi-lidade de desenrolar os meus pensamentos e de escrever, de expressar tudo o que vai dentro de mim. Posso escapar de tudo se escrever... As minhas tristezas desaparecem... A minha coragem renasce.»

Quando li estas palavras de fascínio, o meu primeiro instinto foi de vergonha. Aqui estava eu, mergulhada em autocomiseração, preocupada com os meus próprios problemas, mas a minha situação não era nada comparada com o inferno que Anne Frank deve ter sofrido e suportado. Pelo menos, eu dispunha de escolhas. Podia fazer alguma coisa em rela‑ção ao meu inferno. Anne nunca teve qualquer escolha. E foi esta súbita e instantânea percepção de que eu tinha, de facto, escolha, que começou a dissipar a minha escuridão. Sem dúvida que não tinha tido um per‑curso fácil de vida até então, mas não era uma vítima indefesa tal como Anne havia sido. Eu tinha opções.

Depressa me senti inundada por uma recém‑descoberta sensação de coragem, de temor e de reverência. Era como se, através das pala‑vras de Anne Frank, a minha mãe estivesse a falar comigo do outro lado do túmulo, dando‑me uma sensação de esperança, de objectivo na vida e de orientação. Era como se alguém estivesse a dar‑me uma cotovelada do outro lado. Era uma coincidência demasiado forte, o livro que caiu aos

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meus pés e o facto de eu começar a ler aquelas passagens no momento exacto em que mais precisava de lê‑las. Tremendo de excitação, senti uma necessidade esmagadora de apanhar ar fresco. Agarrei numas peças de roupa, engoli uma boa quantidade de água e saí para a rua.

Aconchegando bem o meu casaco de lã, a fim de me manter quente, inspirando profundas golfadas de ar gélido, sentei‑me num banco junto ao rio Tamisa e, pela primeira vez desde a morte da minha mãe, não me senti assim tão só. É verdade, o meu dia e grande parte da minha vida até ao momento haviam sido agonizantemente solitários, mas eu não era tão fraca nem tão inútil quanto pensara ser. Hoje, arranjara a coragem para enfrentar os meus medos mais profundos e, no meio da escuridão, achara um vislumbre de luz. Eu era uma sobrevivente. No meu desespero, rezei por um milagre e, surgido do amor, o meu anjo‑da‑guarda falara comigo e dera‑me outra vez uma centelha de esperança e de optimismo. Eu havia descido até ao inferno, mas, com a ajuda dos meus anjos, des‑cobrira uma maneira de transformá‑lo no paraíso. Não tive um verda‑deiro e completo encontro angelical, nem um sinal seguro e inequívoco de que o espírito da minha mãe estava a velar por mim, apenas uma caneta, um papel e uma mente aberta, mas isso fora o suficiente para me ajudar a optar pela vida em detrimento da morte.

Este não foi, de forma alguma, o fim dos meus conflitos e das minhas inseguranças e houve muitos mais desafios no decurso da minha jornada espiritual, mas foi uma das minhas primeiras e mais importantes con‑quistas psíquicas. Ainda tinha muito mais coisas para aprender e preci‑sava de crescer mais ainda – e a completa libertação das preocupações mórbidas e dos sentimentos de isolamento e separação dos outros ainda estava muito longe de terminar – mas, pelo menos agora, era capaz de ver uma luz ao fundo do túnel. Era capaz de vislumbrar um fim para a minha solidão. Começava aos poucos a ficar mais claro para mim que os anjos podiam muito bem ser a solução, não apenas para a minha vida, como também para tudo o resto.

Neste momento, já estou bem entrada nos quarenta e às vezes tenho vontade de dar uma de Peggy Sue e voltar atrás no tempo a fim de revi‑sitar o meu eu mais jovem. Haveria imensas coisas que eu teria para lhe dizer. Dir‑lhe‑ia que, mesmo quando parece não haver uma saída, existem

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sempre opções. Dir‑lhe‑ia para cometer mais erros e correr mais riscos. Dir‑lhe‑ia para não ter medo de abrir o seu coração aos outros. Dir‑ ‑lhe‑ia para se rir mais. Dir‑lhe‑ia que a solidão não passa de um estado de espírito e, em espírito, nunca estamos sozinhos, mas, acima de tudo, dir‑lhe‑ia para não temer a solidão. Estar sozinho não é uma maldição – pode ser um dos maiores prazeres da vida. Não me interpretem mal, pas‑sar algum tempo entre os nossos entes queridos é uma das minhas coi‑sas favoritas no mundo, mas também sei que a solidão, a capacidade de passar com alegria e de boa vontade um certo tempo na nossa própria companhia é crucial para o crescimento espiritual, pois é apenas quando nos encontramos sozinhos que conseguimos comunicar, de facto, con‑nosco mesmos e descobrir a verdade, a beleza e a alma. É apenas quando estamos sozinhos que podemos falar com franqueza e intimidade com o anjo dentro de nós e é nessa altura que podemos encontrar as respos‑tas para as perguntas que pululam na nossa mente e que, se assim não fosse, nunca seríamos capazes de formular.

Encontrar momentos de paz interior, amor e alegria constitui um ponto de partida na estrada rumo ao divino e é muito frequente esses momen‑tos poderem ser descobertos apenas em alturas de solidão e de reflexão tranquila. Poderia ter‑me poupado a imensos dissabores se tivesse com‑preendido isto mais cedo, mas uma tal percepção tem tendência a sur‑gir com a idade e com a experiência de vida. No entanto, não tem de ser para todos uma aprendizagem à força na escola da vida. Existem cami‑nhos mais suaves rumo ao esclarecimento.

Por exemplo, todos nós, a dada altura das nossas vidas, teremos opor‑tunidade de ouvir ou ler palavras de uma incrível sabedoria, sejam elas na forma de poesia, de textos religiosos, de livros inspiradores ou da boca de um familiar, amigo ou professor sábio e compreensivo. Infelizmente, a azáfama turbulenta da vida quotidiana impede‑nos muitas vezes de absorver por completo essas palavras nas nossas almas. Contudo, não tem de ser assim, se pudermos pelo menos fazer uma pausa durante uns ins‑tantes para reflectir e deixar que as palavras penetrem nos nossos cora‑ções, porque os nossos corações irão reconhecê‑las como sendo palavras de fascínio que podem arrastar os dilemas das nossas vidas quotidianas até ao lugar onde os anjos habitam.

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Para mim, o famoso e sempre actual texto apresentado abaixo dá‑nos a sensação de uma porta aberta para o Céu. É provável que já o tenha ouvido antes, mas convido‑o a lê‑lo de novo, aqui e agora, de preferên‑cia quando estiver sozinho; dê uma hipótese ao seu coração de se delei‑tar com ele.

Desiderata

Vai suavemente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.

Sem seres subserviente, mantém-te em paz com todos. Diz a tua ver-dade, calma e com clareza; e escuta os outros com atenção, ainda que sejam menos dotados ou ignorantes, também eles têm a sua história. Evita as pessoas barulhentas e agressivas, pois são mortificações para o espírito.

Não te compares com os outros, podes tornar-te presunçoso ou melan-cólico pois haverá sempre alguém superior ou inferior a ti. Alegra-te com os teus projectos tanto quanto com as tuas realizações. Ama o teu tra-balho, mesmo que este seja humilde, pois é um verdadeiro tesouro na contínua mudança dos tempos. Sê prudente nos teus negócios, pois o mundo está cheio de estultícia, mas que isso não te cegue a ponto de não veres a virtude onde ela existe. Muita gente luta por altos ideais e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo. Sê tu mesmo e, sobretudo, não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor pois, perante a aridez e o desencanto, ele é perene como a relva.

Aceita os conselhos dos mais velhos e renuncia com graciosidade às ideias loucas da juventude. Cultiva a presença de espírito para que não sejas apanhado de surpresa nas ciladas inesperadas da vida. Não te afli-jas com perigos imaginários: muitas vezes, o medo é resultado do can-saço e da solidão.

Além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo. És um filho do Universo, tal como as árvores e as estrelas; tens o direito de es- tar aqui. E seja ou não claro para ti, sem dúvida o Universo gira como deve.

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Mantém-te em paz com Deus, seja qual for o conceito que d’Ele tive- res. Mantém-te em paz com a tua alma, apesar da ruidosa confusão da vida.

A despeito das suas falsidades, lutas e sonhos desfeitos, o Mundo é ainda maravilhoso.

Sê cuidadoso. Luta. Luta para seres feliz.Max Ehrmann, c. 1920

Tomei conhecimento pela primeira vez do poema Desiderata quando tinha dezasseis anos. Pediram‑me para lê‑lo em voz alta numa assem‑bleia de escola, mas, infelizmente, naquela altura ainda não estava pronta para compreender esta oportunidade enviada pelo Céu. O meu cora‑ção e a minha mente não estavam preparados para isso. Precisava de aprender a dominar os meus nervos e a criar confiança e autoconhe‑cimento primeiro. No entanto, depois do dia de Natal de 1990, dei por mim a retornar a este poema com bastante frequência. Sempre que o leio, encontro nele algo de novo que me inspira, que me orienta e que me recorda, mais uma vez, que quando nos mostramos «abertos» aos anjos, quando tiramos um momento a sós para fazer uma pausa, para reflectir e para optar pelo amor e pela alegria, todas as coisas boas aca‑bam por vir ter connosco.

Talvez tenha algumas palavras de fascínio que o ajudem a ver a luz, ou que o ajudem a sentir‑se protegido e guardado ou que lhe lembrem que as forças de luz sempre serão mais poderosas do que as forças das trevas. Se não pensar assim, talvez este livro seja uma espécie de indi‑cador que lhe aponta na direcção do Céu, um lembrete da contínua presença afectuosa dos anjos na sua vida. Use‑a como uma força, uma orientação e um incentivo e sempre que se sentir sozinho. O mundo é belo, mas também pode ser doloroso, assustador e, por vezes, muito solitário. Tal como as histórias que lerá aqui irão demonstrar‑lhe, pode ser bastante inspirador saber que, por mais dura que a sua vida possa ser, os seus anjos sempre falarão consigo e sempre lhe enviarão as suas mensagens de esperança e de amor. Eles sempre caminharão a seu lado, velando por si e aguardando que abra o seu coração e aceite o facto de que eles se encontram ao seu lado.

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Por conseguinte, limite‑se a aceitar que os seus anjos estão sempre dentro de si e à sua volta. Aceite o facto de que nunca se encontra sozi‑nho. Acredite que será sempre capaz de escutar as suas palavras de fascí‑nio. Permita que as suas mensagens de conforto e de esperança o ajudem a ver a luz. Deixe que os seus sussurros lhe despertem os sonhos. Deixe que as suas vozes lhe concedam asas ao espírito.

Sobre os anjos

Na qualidade de uma firmada autora sobre o tema dos anjos, pergun‑tam‑me muitas vezes o que é um anjo. Por norma, tenho alguma relutância em responder a esta questão tão profunda, porque nesta vida nunca con‑seguimos saber o que eles são e cada pessoa possui a sua maneira muito própria e única de definir os anjos, mas, para mim, um anjo é um ser espiritual que funciona como um mensageiro entre este mundo e o pró‑ximo. (A palavra anjo significa na realidade «mensageiro» em hebraico.) Os anjos existem tanto dentro de nós como à nossa volta, quer acredite‑mos neles quer não. Dão‑se a conhecer ao lado espiritual da nossa natu‑reza, ou então, como eu gosto de chamar, ao anjo aspirante no interior de cada um de nós, e a partir do momento em que nascemos, talvez mesmo antes disso, eles ficam ligados a nós de maneiras que nunca conseguire‑mos compreender. É possível que nos vejam como crianças necessitadas de apoio e de orientação, porém, seja qual for a verdade, é evidente que os anjos são capazes de falar connosco tanto directa como indirectamente e, por vezes, podem chegar até a intervir nas nossas vidas.

A imagem tradicional de um anjo é a de uma criatura alada com ves‑tes flutuantes, mas devo salientar que os encontros completos de anjos deste tipo são bastante raros. Pela minha experiência e pelas pesquisas que realizei, descobri que a forma assumida pelos anjos varia muito. Eles podem optar por ser visíveis ou invisíveis. As possibilidades de o bem e o amor eternos se manifestarem neste mundo são infindáveis. Para todos aqueles que possuem uma mente aberta, eles podem revelar a sua natu‑reza espiritual através de coincidências, de sonhos, de um súbito lampejo de intuição e da sensação de uma presença afectuosa e mágica em torno

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de si. Os anjos podem encontrar‑se na letra de uma canção, num abraço, num sorriso ou em qualquer coisa ou qualquer pessoa que o inspire ou o enalteça. Podem revelar‑se por intermédio de um qualquer número de sinais característicos – sendo as penas brancas, as nuvens, as moedas e os arcos‑íris alguns dos mais conhecidos. Consciente ou não, também podem revelar‑se através de outras pessoas, através do mundo natural e, por último, mas nem por isso menos importante, através dos espíritos dos entes queridos já falecidos.

Muitas pessoas pensam que nos transformamos em anjos quando mor‑remos. Em rigor, isto é um equívoco, porque os anjos são espécies distin‑tas de seres espirituais que nunca viveram na Terra, mas, pelas pesquisas, está claro que os anjos podem e chegam mesmo a optar por se manifes‑tar através dos espíritos dos entes queridos que já faleceram.

Estou ciente de que muitas pessoas encontram explicações lógicas ou psicológicas para as histórias de anjos, mas, para todos aqueles que pas‑saram por elas, não há nenhum grau de cepticismo nem nenhuma expli‑cação que tenha o poder da sua crença pessoal. (Afinal de contas, não será a definição de fé uma crença sem necessidade de explicação nem de provas?) E a todas as pessoas que duvidam ou que anseiam por provas ou por indícios, gostaria de realçar as centenas de milhar de relatos de anjos que têm sido compiladas ao longo dos séculos. A única conclusão lógica para mim, com tantos depoimentos fiáveis de testemunhas facil‑mente disponíveis, é a de que o reino angelical sempre existiu e sempre existirá à nossa volta. Existe um plano espiritual que se interliga com o mundo físico. Às pessoas não se lhes deparam anjos por causa da sua religião, das suas crenças ou até mesmo do seu desejo ou da sua necessi‑dade; elas encontram‑nos porque chegou o momento certo de os anjos se darem a conhecer a essas mesmas pessoas.

Se o desejo ou a necessidade, ou a denominada formação ou educação certas, fosse uma condição prévia para os encontros com os anjos, então não seria evidente que eu, com a minha educação espiritualista, já tivesse ouvido as vozes dos anjos desde tenra idade? Isto não podia estar mais longe da verdade. Quando me encontrava em fase de crescimento numa casa cheia de pessoas sensitivas, sentia‑me, muitas vezes, frustrada e deslocada por não ter herdado esse dom. Ansiava por ver anjos tal como a minha mãe era

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capaz de fazer. Frequentei muitos workshops e aulas de desenvolvimento psíquico, onde os meus colegas eram capazes de ouvir vozes divinas e ter visões de beleza celestial. Eu limitava‑me a ficar sentada no escuro, sem nada ver ou ouvir. Muito embora tenha havido vislumbres de esperança pelo caminho, foi apenas no fim dos meus trinta anos‑início dos quarenta que estes canais começaram, aos poucos, a abrir‑se para mim.

Realizei progressos gigantescos, mas, mesmo hoje em dia, mais do que eu gostaria de admitir, ainda não consigo ver nem ouvir os anjos da mesma maneira que um médium experiente consegue. Toda‑via, isso já não é, de certa forma, tão importante para mim, porque aprendi por fim que, tal como todas as outras pessoas, sou capaz de ouvir, e ouço de facto, os anjos de uma maneira muito própria. E olhando para trás, para o meu passado, também aprendi que sem‑pre falaram comigo, só que eu tinha demasiado medo e demasiada insegurança para conseguir escutar. O medo e a insegurança são pre‑dadores naturais dos anjos.

É um sinal encorajador que, hoje, haja cada vez mais pessoas a ultra‑passar os seus medos e inseguranças e a acolher os anjos nos seus cora‑ções e nas suas vidas. Parece que os nossos auxiliadores divinos estão a revelar‑se como nunca antes até aqui. Parece que os anjos estão mesmo por toda a parte. Existem inúmeros sítios na Internet dedicados a eles e um número infindável de livros e de revistas, boletins informativos e registos sobre eles. O simples facto de eu estar a escrever este livro já constitui um sinal fantástico, isto porque, há cinco ou dez anos, as edi‑toras nunca poderiam imaginar que haveria leitores para este tema; com vários dos meus livros nas tabelas dos dez best-sellers mais lidos do jor‑nal Sunday Times no decurso dos últimos anos, porém, é evidente que os anjos estão a ser acolhidos nos lares e nos corações das pessoas de todo o mundo. Apesar de parecer que, hoje, os anjos estão a emergir de todos os lados, é uma triste realidade que a pobreza, a violência, a injustiça, a dor, o infortúnio, o sofrimento e as catástrofes naturais, além das cau‑sadas pelo homem, pareçam existir por todo o lado. As pessoas estão sempre a perguntar‑me por que razão os anjos, se é que estes existem mesmo, permitem que tudo isto continue. Como é possível que permitam que uma criança inocente morra de fome e um assassino escape impune

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à justiça? Por que razão salvam uma determinada vida e não outra? Onde estavam os nossos anjos no 11 de Setembro e no 7 de Julho?

Esse tipo de injustiças cruéis é‑me tão difícil de entender e aceitar como a qualquer outra pessoa, mas aprendi a aceitar que existem algumas coisas nesta vida que nunca conseguiremos entender a não ser quando passarmos para o outro lado e pudermos ver o quadro a nível global. Não tenho pretensões de afirmar saber as respostas para essas grandes «inter‑rogações», mas uma coisa sei: precisamos, mais do que nunca, dos nossos ajudantes celestiais. Vivemos, hoje, um momento crítico para acreditar no amor e na bondade dentro de nós e à nossa volta e é difícil para nós crer que esse amor e essa bondade sempre serão mais fortes do que as forças das trevas, do que a dor e o desamparo que existem no mundo. É por isso que não poderá haver altura melhor para este livro ser publi‑cado, para que, assim, mais uma voz possa juntar‑se ao coro cada vez maior das vozes daqueles que acreditam em anjos.

Sobre este livro

A partir do momento em que comecei a escrever pela primeira vez sobre o mundo psíquico – coisa que aconteceu há já vinte anos, mais ou menos – fiquei atónita e encantada com o vasto número de comunicações que recebi sobre anjos e espíritos através de cartas, e agora mais especi‑ficamente através de e-mails, de pessoas de todo o mundo. É um privi‑légio e uma honra para mim poder compilar estas histórias, reuni‑las e partilhá‑las com um vasto número de leitores. Reforçada com as minhas próprias experiências e percepções, irá encontrar uma selecção destas histó‑rias fantásticas e surpreendentes aqui neste livro. Nalguns casos, os nomes e os pormenores foram alterados de modo a proteger a identidade indivi‑dual ou então foram revistos e acrescentados para se obter uma maior cla‑reza, mas todas as pessoas que foram generosas o suficiente contribuindo com as suas histórias tocaram‑me muito fundo com a sua verdade e hones‑tidade e não tenho razão nenhuma para duvidar da sua integridade.

Tal como eu, as pessoas cujas histórias irá ler não são médiuns, espí‑ritas nem seguidoras da doutrina da Nova Era, mas sim pessoas comuns

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que levam vidas comuns. Algumas delas acreditavam em anjos antes da sua experiência, mas outras não acreditavam e poderiam chegar mesmo a escarnecer dessa mera ideia antes de o Céu ter mergulhado nas suas vidas e transformado tudo. Algumas delas eram religiosas, mas muitas outras não o eram. À semelhança de cada vez mais pessoas dos dias de hoje, acreditavam nalguma coisa, mas não sabiam ao certo no quê. Tudo isto veio confirmar a minha convicção de que, num mundo cada vez mais dividido, os anjos são uma força de união muito necessária capaz de aproximar todos os credos, todas as religiões, todas as culturas e todos os sistemas de crença.

O foco deste livro vai para a maneira como os anjos falam connosco a partir do Céu. Devido a limitações de espaço, não tive oportunidade de incluir todas as histórias que gostaria – por esse facto, as minhas des‑culpas, caso me tenha enviado uma história e esta não estiver incluída aqui; talvez da próxima vez – mas espero que os relatos que encontrar aqui lhe concedam uma imagem plena e clara sobre as inúmeras manei‑ras diferentes de as mensagens poderem ser enviadas do Céu. Espero que ache as histórias tão profundas e inspiradoras como sempre o foram para mim. Antes de partilhar estas histórias verídicas, como sempre faço nos meus livros, gostaria de partilhar um pouco mais da minha jornada espiritual no capítulo 1. É meu desejo que isso possa ajudá‑‑lo a conhecer‑me melhor e também a sublinhar com mais veemência o meu ponto de vista de que, tal como a maioria das pessoas que con‑tribuíram com as suas histórias para este livro, não passo de uma pes‑soa comum, sem quaisquer poderes psíquicos ou mediúnicos especiais, mas isso não impediu que certas coisas mágicas acontecessem comigo.

Por fim, antes de mergulhar na leitura, gostaria apenas de lhe agra‑decer por ter escolhido este livro e por se ter juntado ao número cada vez maior de pessoas em todo o mundo que anseia por ouvir as vozes dos anjos nas suas vidas quotidianas. À medida que for lendo, é possível que se identifique e se reconheça nessas histórias muitas, muitas, vezes.

Que possa acordar um dia e ouvir os anjos a chamar pelo seu nome.

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Capítulo 1

Anjos que chamam pelo meu nome

Conhecer-se a si mesmo é o princípio de toda a sabedoria.

Aristóteles

«És demasiado sensível e isso só te prejudica.»«Precisas mesmo de endurecer.»«Não sejas assim tão bebé chorão.»«Medricas.»Ouvi chamarem‑me qualquer uma destas expressões com muita fre‑

quência quando era pequena. Sempre me fizeram sentir como se hou‑vesse algo de fraco e de inadequado comigo. Sempre estive convencida de possuir qualquer defeito fatal e de precisar de o ocultar o melhor pos‑sível. Acreditava que havia algo de errado comigo.

Existe uma recordação que se destaca em particular. Devia ter cerca de nove anos na altura e encontrava‑me no autocarro a caminho da escola. Sentia‑me muito satisfeita comigo mesma por ter, por fim, conseguido reunir coragem para subir as escadas e arranjar um lugar no andar de cima; mas não era apenas um lugar qualquer, conseguira achar lugar num banco da frente. Era uma sensação maravilhosa ver o mundo de tal altura. Sentia‑me invencível. Logo depois, num instante, a minha exal‑tação e sensação de liberdade transformaram‑se em trauma quando um pássaro foi embater na janela, deslizando depois pela vidraça e indo cair debaixo das rodas do autocarro.

Dois rapazes que iam sentados no banco ao lado do meu acharam todo aquele episódio muito empolgante, mas o fim violento daquele pás‑saro pareceu penetrar bem fundo no meu ser. As lágrimas marejaram os meus olhos e as gargalhadas e a tagarelice dos rapazes eram intoleráveis.

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Ouvi um deles dizer que era provável que o pássaro tivesse ficado preso nas rodas do autocarro e andasse ali às voltas. O outro disse que era pro‑vável que o pássaro andasse por ali a vaguear na margem da estrada com a cabeça virada ao contrário. O resto da viagem até à escola foi puro tor‑mento para mim quando, ao ver a minha aflição, os rapazes começaram a deliciar‑se a discutir todas as possibilidades mais repulsivas. Tentando engolir as lágrimas, não era capaz de me concentrar nas aulas só de pen‑sar no que poderia ter acontecido com o pássaro.

Depois das aulas e no caminho de volta para casa, sentei‑me no andar inferior do autocarro, mal me atrevendo a olhar pela janela, mas inca‑paz de resistir a fazê‑lo. Quando o autocarro se aproximou do local onde o pássaro havia embatido no vidro, olhei lá para fora e vi‑o jazendo numa pilha de penas vermelhas na berma da estrada. Foi como uma flecha no meu coração. As lágrimas escorreram pela minha cara. Durante os dias seguintes, semanas até, não fui capaz de desviar os meus pensamentos do sofrimento e da morte solitária daquele pássaro. No decurso do ano seguinte, não tornei a viajar no piso superior de um autocarro.

Este incidente não foi um caso isolado. Na escola, gozavam muitas vezes comigo por chorar ou empolar as coisas. Se não entendia alguma coisa que a professora estava a tentar explicar‑me, os olhos enchiam‑se de água. Se as amigas não queriam brincar comigo, debulhava‑me em lágri‑mas. Costumava tirar conclusões precipitadas de tudo o que me diziam. Não é, pois, de admirar não ter tido muitas amigas na infância. Para elas, lidar comigo devia ser muito difícil, mais ou menos como pisar ovos. À noite, a minha mãe costumava tomar‑me nos braços enquanto eu solu‑çava, desabafando as minhas mágoas. Ela costumava dizer‑me vezes sem conta que eu tinha de parar de levar tudo tão a peito. Tentou ensinar‑me alguns exercícios simples e calmantes de meditação, como, por exemplo, imaginar uma bolha protectora em torno de mim, mas nada resultava. Não era capaz de me distanciar de nada nem de ninguém.

Não é de surpreender, portanto, que, dada a minha predisposição ner‑vosa, enturmar‑me e fazer amigas fosse um imenso problema nos meus anos de crescimento no decurso da turbulenta, espalhafatosa e pitoresca década de 1970. Era penosamente tímida. Lembro‑me de me agarrar mui‑tas vezes ao meu tabuleiro de plástico azul na cantina da escola, durante

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